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Continuada a Distância
CURSO DE PSICANÁLISE:
teoria e técnica
Aluno:
MÓDULO I
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mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na Bibliografia Consultada.
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SUMÁRIO
MÓDULO I
A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE
A História da Psicanálise
A unidade conta com os seguintes temas:
I Por que Freud?
II A invenção da psicanálise
- O caso Anna O.
- A sexualidade
- A teoria da sexualidade infantil
- O complexo de Édipo
- A interpretação dos sonhos
- A sexualidade infantil
- O caso Dora
- O homem dos lobos
- A evolução da técnica de Freud
III Glossário
MÓDULO II
Teoria Psicanalítica
I O determinismo psíquico e os processos mentais inconscientes
II Pulsão ou impulso
MÓDULO III
- Mecanismos de defesa
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- Teoria psicanalítica da ansiedade
III- Glossário
MÓDULO IV
A técnica psicanalítica
I- Os princípios fundamentais da técnica psicanalítica
III - A interpretação
IV - A dinâmica da transferência
MÓDULO V
O funcionamento mental.
I A relação entre o conflito psíquico e o funcionamento mental normal
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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MÓDULO I
A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE
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alma dado por Deus apenas ao homem.
A psicologia estava interessada na alma dos seres humanos. O interesse da
psicologia em fenômenos cognitivos como memória, inteligência e percepção é uma
herança desta perspectiva centrada na alma.
Ao criar a psicanálise no final do século XX, Freud modificou essa
perspectiva que existia até então. Uma disciplina que, antes, se interessava apenas
por um extrato seleto e relativamente puro da existência humana, se viu, de repente
diante do todo da vida humana. Os mais profundos sentimentos de homens e
mulheres, e acima de tudo seus impulsos sexuais, claramente excluídos da filosofia
por Platão, como forma de corrupção intelectual, foram então postos como tema
central desta nova ciência, a psicanálise.
O enorme apelo de uma forma de psicologia que coloca-nos de frente com
um dos assuntos mais fascinantes que há – nossa herança animal e, acima de tudo,
a natureza do desejo sexual humano, assim como a variedade de comportamentos
sexuais – não deve ser subestimado.
Provavelmente, seja por causa deste apelo que muitos não hesitaram em
alçar Freud à condição de verdadeiro revolucionário intelectual, tal como fora
Darwin.
A fim de podermos avaliar se as realizações de Freud merecem a posição
de excelência que desfruta em nossa cultura, faz-se necessário expor como a
psicanálise veio à luz e por que Freud colocou o sexo no centro da ciência por ele
criada.
II A invenção da psicanálise
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durante toda a sua vida. Em 1938, fugiu dos nazistas, mudando-se para a Inglaterra,
onde morreu no ano seguinte.
Freud foi, antes de tudo, um cientista empírico. Acreditava que a chave para
desvendar o segredo dos processos mentais seria encontrada no estudo da
fisiologia do cérebro.
A abordagem dominante da fisiologia humana na Europa durante os anos de
formação de Freud era a escola de fisiologia de Hermann Helmholtz. De acordo com
os princípios desta escola, os processos fisiológicos e mentais eram produto de leis
causais e sequências que poderiam ser reduzidas aos princípios da física, como o
princípio da inércia e da conservação de energia. Charles Darwin, que era muito
discutido nos círculos científicos da época, também influenciou Freud.
Em função da sua criação na tradição judaica, Freud tinha uma profunda
estima pela palavra. Manteve em sua vida, o fascínio pela literatura, particularmente
pelos escritos de Johan Wolfgang Von Goethe e William Shakespeare.
Por intermédio da sua familiaridade com a literatura e religião, Freud
familiarizou-se com os papéis do simbolismo e do significado para entender as
complexidades da mente humana. O pensamento de Freud sempre manifestou um
elemento romântico, e não foi ao acaso que tenha sido agraciado com o Prêmio
Goethe de literatura.
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Brücke, Meynert e Exner apoiavam a idéia de que o sistema nervoso opera
por meio da transmissão de excitações quantitativamente variáveis de terminações
nervosas aferentes para as eferentes. Como a base química da condução neural era
pouco entendida, supunha-se que a condução era de natureza elétrica. A noção
central do pensamento de Brücke era de que a mente e o corpo são organizados por
intermédio do paralelismo psicofísico. O arco reflexo era seu modelo de
funcionamento neural.
Em outras palavras, nenhuma atividade central
espontânea existe no sistema nervoso; ele meramente
funciona como um instrumento passivo que permanece
inativo até ser estimulado por energias exógenas. O
resultado final do estímulo é a redução da irritação que
ingressa a um mínimo. Essa fisiologia de forças e
energias, baseando-se fortemente na doutrina da conservação de energia, exerceria
um efeito de longo alcance sobre o pensamento de Freud.
Após a graduação na escola médica, Freud continuou a trabalhar no
laboratório de Brücke durante um ano. Foi lá que ele desenvolveu sua ambição
científica predominante. Sua idéia era aplicar os princípios de Brücke ao sistema
nervoso. Ele estava convencido que tanto manifestações psicopatológicas como o
funcionamento mental normal poderiam ser explicados em termos das forças e
energias que regulam o sistema nervoso.
A pesquisa de Freud foi interrompida quando ele se deu conta de que o
trabalho de laboratório não era suficiente para gerar a renda necessária para
sustentar a família. Ele havia se apaixonado por Martha Bernays e foi forçado a
iniciar a atividade clínica para prover um padrão de vida adequado à sua noiva.
Em 1882, começou a trabalhar como clínico geral no Hospital Geral de
Viena. Após uma passagem pelo serviço cirúrgico, começou a trabalhar na clínica
psiquiátrica de Theodore Meynert.
O contato de Freud com a neuroanatomia e a neuropatologia, sob a
carismática liderança de Meynert, levou-o a escolher a neurologia como
especialidade. O estudo de amentia de Meynert (psicose alucinatória aguda)
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exerceu um efeito duradouro sobre Freud e contribuiu para o conceito de satisfação
de desejos, que posteriormente viria tornar-se uma parte central da sua teoria do
inconsciente.
O primeiro embate mal-sucedido, com a fama ocorreu em 1885, quando
depois de realizar experimentos com cocaína. Ele buscou reconhecimento
acadêmico, publicando um artigo que descrevia a droga como uma terapia
miraculosa. No entanto, ao escrever tal artigo, deixou de observar as propriedades
cruciais da droga como anestésico local, ao mesmo tempo em que omitia a
necessidade de prevenção contra o vício. Mas, Freud não se deixou dissuadir por tal
episódio desafortunado.
Ainda em 1885, recebeu uma bolsa que lhe permitiu estudar de outubro de
1885 a fevereiro de 1886, na Salpetrière, em Paris. Lá sua carreira foi
poderosamente influenciada pelo grande neurologista francês Jean-Martin Charcot.
Charcot especializara-se no tratamento de pacientes que sofriam de uma
variedade de sintomas físicos não explicados, incluindo paralisia, contraturas
(músculos enrijecidos que não podiam ser relaxados) e ataques. Alguns destes
pacientes adotavam uma postura bizarra (chamada de arc-de-cercle) no qual se
jogavam ao chão e arqueavam o corpo para trás até ficarem apoiados apenas pela
cabeça e pelos calcanhares.
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Charcot em suas aulas em Salpetrière.
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monografia sobre paralisia infantil que recebeu grande reconhecimento.
Concentrado em ancorar a psicologia na neurofisiologia, Freud lutava para
aplicar os princípios da escola de Helmholtz aos mecanismos da mente. O resultado
foi seu trabalho intitulado Projeto para uma Psicologia Científica.
Freud ficou insatisfeito com o que escrevera e desejava destruí-lo. Este
trabalho foi publicado postumamente, em face do reconhecimento de que tivera uma
influência de grande alcance sobre as idéias posteriores de Freud.
A explicação de Freud era que a dor poderia estar associada a um excesso
de excitação nervosa e o prazer poderia ser visto como o resultado final da descarga
desta excitação. Na raiz da teoria, estava um modelo de sistema nervoso que se
apresentava como um recipiente passivo de estímulo de forças externas e um
conceito de motivação em termos de tensão ou redução de impulso.
Freud baseou-se no princípio da constância de Helmholtz. Esta teoria insistia
que a soma das forças deve permanecer constante em qualquer sistema isolado.
Em seu Projeto desenvolveu a idéia de que os processos mentais constantemente
se empenham em obter equilíbrio ou homeostasia.
Freud, quando escreveu o Projeto, acreditava que se uma pessoa
experimentasse uma impressão psíquica, algo em seu sistema nervoso, que ele
chamou na época, de a soma de excitação, aumentasse. Existiria em cada sujeito,
uma tendência constante a diminuir esta soma de excitação, a fim de preservar sua
saúde. Este princípio de constância serviu como a fundação econômica para a teoria
dos instintos de Freud.
Embora muitas das idéias de Freud em seu Projeto tenham sido confirmadas
por estudos neuropsicológicos mais sofisticados, ele não obteve sucesso na
tentativa de sintetizar o psicológico e o neurológico.
Em alguns de seus trabalhos, Comunicação Preliminar (1893) e Estudos
sobre a Histeria (1895), as noções da descarga de afeto e excitação cerebral
derivam das idéias geradas no Projeto para uma Psicologia Científica. Além disso, o
modelo da mente apresentado na obra principal de Freud, A interpretação dos
Sonhos (1900), também tinha claras raízes no Projeto. Finalmente, sua
compreensão do princípio do prazer-desprazer foi profundamente influenciada pelas
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teorias básica do Projeto. Inclusive bem mais tarde, em 1920, em Além do Princípio
do Prazer, os derivados do Projeto são claramente evidentes.
O interesse de Freud pela neurologia clínica diminui gradualmente, entre
1887 e 1897. Sua colaboração com Josef Breuer, um destacado colega mais velho
com quem ele trabalhara no instituto de fisiologia de Brücke, levou-o às regiões mais
profundas da mente inconsciente, um assunto que desviou seu interesse da
neurologia em direção à evolução da psicanálise.
Enquanto os dois clínicos lutavam juntos para entender os mistérios da
histeria, eles deram a luz à psicanálise como uma técnica terapêutica, como uma
disciplina científica e como um método de investigação.
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consciência alterada, Anna podia recordar fantasias nítidas e sentimentos poderosos
que ela experimentara enquanto seu pai estava morrendo.
Breuer ficou admirado ao observar que à recordação de sua paciente de
circunstâncias carregadas de afeto durante as quais seus sintomas haviam
aparecido levaram estes mesmos sintomas a desaparecer. A própria paciente
descreveu o tratamento como uma “limpeza de chaminé” e como sua “cura pela
fala”.
Ela ficou tão entusiasmada que continuou a discutir um sintoma após o
outro. Por exemplo, ela lembrava estar sentada ao lado do pai enquanto a mãe
estava ausente e ter uma fantasia ou devaneio sobre uma serpente. Em sua visão, a
serpente estava prestes a picar seu pai. Ela tentou afugentar a serpente, mas seu
braço ficara dormente em decorrência de ter ficado dobrado sobre o encosto de sua
cadeira. A paralisia permaneceu até que ela fosse capaz de recordar a cena sob
hipnose e recuperar o uso do braço.
Em determinado período de sua doença, durante algumas semanas, Anna
O. recusava-se a beber, e saciava sua sede com frutas. Certa noite, durante um
estado de hipnose autoinduzida, ela descreveu uma cena em que ficara enojada ao
ver um cachorro bebendo água de um copo. Logo depois, pediu água e, então,
acordou de sua hipnose com um copo nos lábios.
Em seu relato de caso, Breuer tratou o episódio narrado por Anna O. durante
o transe, como o relato verdadeiro do incidente responsável por sua aversão a
beber. E disse ter concluído que a maneira de curar um sintoma particular de
“histeria” era recriando a memória do incidente que o havia provocado originalmente,
desencadeando assim uma catarse emocional e induzindo o paciente a expressar
todo sentimento associado ao fato.
O desaparecimento repentino de um dos vários sintomas de Anna O.
forneceu, assim, a base do que Breuer chamou posteriormente de “procedimento
técnico terapêutico”. Segundo Freud e Breuer, esse método catártico*, aplicado
sistematicamente a cada um dos sintomas de Anna resultou na cura completa da
histeria.
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Breuer ficou encantado com esta extraordinária paciente. Ele despendia
tanto tempo com ela que sua esposa ficou enciumada e ressentida. Assustado pelas
conotações sexuais das reclamações da sua esposa, ele abruptamente terminou o
tratamento de Anna O..
Algumas horas após o término do tratamento, Breuer foi chamado à beira da
cama de Anna O., que estava em meio a uma crise. Ele encontrou-a em um estado
agitado, com fortes dores de um parto histérico. Embora não tivesse percebido
quaisquer sentimentos da paciente em relação a ele, a gravidez fantasma refletia os
anseios eróticos intensos de Anna O. por Breuer.
Este acalmou a paciente induzindo um transe hipnótico e, em um estado de
agitação extrema, organizou uma partida imediata para uma segunda lua de mel
com sua esposa em Veneza.
Embora Breuer tenha considerado a experiência com Anna O., muito
desconcertante, Freud ficou intrigado pelo poder das lembranças inconscientes e
dos afetos suprimidos de produzir sintomas histéricos. Breuer estava relutante em
publicar seu relato, mas Freud insistiu que ele o escrevesse de memória 13 ou 14
anos após sua ocorrência. A colaboração de Breuer e Freud resultou na publicação
de “Comunicação Preliminar”, em 1893. Neste artigo, eles articulam a ligação causal
entre traumas psíquicos e sintomas histéricos.
* ver glossário
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sintomáticas. O paciente experimenta um trauma na infância que provocara
sentimentos esmagadores de natureza intensamente desagradável. A experiência
traumática representava uma idéia incompatível ao paciente e foi, portanto,
intencionalmente dissociada ou reprimida da consciência. A excitação nervosa
associada à idéia incompatível foi transformada ou convertida em canais somáticos
que produziram sintomas histéricos.
Com isso, tudo o que restou na percepção consciente foi um símbolo
mnemônico apenas remotamente conectado ao evento traumático, frequentemente
por meio de ligações mascaradas. Freud supôs que, se a lembrança da experiência
traumática pudesse ser trazida de volta à percepção consciente do paciente, junto
com o afeto suprimido associado a ela, os sintomas desapareceriam quando o afeto
fosse descarregado.
O caso Anna O. desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento
do pensamento de Freud. Ela foi frequentemente descrita como a primeira paciente
psicanalítica, afirmação que o próprio endossou em uma conferência na Clark
University (Estados Unidos):
... declarei então que não havia sido eu quem criara a psicanálise: o mérito
cabia a Joseph Bruer, cuja obra tinha sido realizada numa época em que eu era apenas
um aluno preocupado em passar nos exames (1880-2) (Freud, 1914, pg.16).
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Por exemplo, a primeira paciente de Freud, Emmy Von N., sofria de
dificuldades de fala que ele descrevia como “interrupções espásticas que resultam
em gagueira”. Ela também reclamava de “movimentos convulsivos frequentes, com
tiques na face e nos músculos do pescoço” e costumava repetir compulsivamente
exclamações verbais e produzir sons de estalidos.
Outra paciente, Lucy R., uma governanta inglesa, sofria de estranhas
alucinações olfativas em que predominava o cheiro de pudim queimado.
Outra ainda, Elisabeth Von R., veio a Freud porque há mais de dois anos
sofria de dores nas pernas.
Em todos esses casos, Freud determinou que a doença de seus pacientes
era histeria e procurou trazer à tona o incidente traumático que supostamente teria
produzido os sintomas.
Nessa época, Freud acreditava que, no estágio final da terapia, seria
proveitoso descobrir de quais maneiras as coisas estão conectadas e dizer ao
paciente sua descoberta.
Quando, no entanto, ele apresentou suas conclusões a Elizabeth Von R.,
afirmando que sua doença havia sido produzida pela sua paixão por seu cunhado,
ela objetou dizendo que isso não era verdade. Freud, no entanto, persistiu em sua
explicação e declarou que sua paciente estava curada.
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desempenho sexual inadequado de seu marido.
Em 1888, Freud já postulava que aspectos vinculados à vida sexual
desempenham um papel crucial na etiologia da histeria.
Na verdade, tanto Breuer quanto Freud foram levados à idéia de que
experiências sexuais são uma causa potencial da histeria. Freud diferia de Breuer
em sua posição de tratar o fator sexual como à única fonte da histeria.
Freud foi levado a pensar desta maneira pela sua admiração pela teoria viral
das enfermidades, desenvolvida por Koch e Pasteur. Essa nova teoria afirmava que
toda a doença genuína tinha uma única causa, bem como que um dos principais
propósitos da pesquisa médica consistia em descobrir o micro-organismo ou outro
agente responsável por ela.
Se a histeria era uma doença genuína, como acreditava Freud, baseando-se
em Charcot, então ela deveria ser causada por um único agente patogênico. Na
visão de Freud, essa causa era sexual.
Se havia razões médicas para que Freud colocasse o sexo no centro da
psicanálise, devia haver também razões psicológicas. Certa vez ele observou que a
“a humanidade sempre nutriu o desejo de abrir todos os segredos com uma única
chave”.
Ele mesmo parece ter sido particularmente motivado por tal necessidade, de
modo que sua insistência em uma explicação sexual única para a histeria o levou,
por fim, a romper com Breuer. Este, em 1907, afirma que Freud era levado a
formulações absolutas e exclusivas, que o levava, em sua opinião, a generalizações
excessivas.
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Na segunda metade dos anos 90, começou a reconsiderar este ponto de
vista e finalmente fez uma mudança dramática em seu pensamento. Fantasias sobre
sedução sexual por figuras parentais começaram a deslocar a sedução real como
fator patogênico crucial nas neuroses.
Embora as razões do desvio não estejam inteiramente claras, diversas
razões foram sugeridas: (1) Trabalhando a partir da hipótese de que a sedução na
infância é a causa da neurose, Freud fora incapaz de levar um único caso analítico a
uma conclusão inteiramente satisfatória. (2) Ele sempre fora cético em relação aos
relatos de atos perversos por pais e a frequência da histeria tornou difícil para ele
acreditar que tantos pais sexualmente abusadores pudessem existir na Viena dos
seus dias. (3) Alguns dos relatos de seus pacientes soavam tão fantásticos que se
tornou difícil para Freud distinguir a diferença entre realidade e ficção em tais relatos.
Ema Eckstein, por exemplo, relatou uma “lembrança” de encontrar o demônio e ser
torturada enquanto ele inseria agulhas em seus dedos. Muitos outros pacientes
relataram histórias de tortura e possessão ligadas à bruxaria. (4) Tanto na sua
autoanálise como em investigações clínicas posteriores, Freud convenceu-se da
importância de processos psicológicos e do papel da fantasia em distorcer a
realidade para adaptar-se a desejos.
Embora os escritos subsequentes de Freud indicassem que ele jamais
abandonara inteiramente sua crença na existência de seduções sexuais
generalizada por pais, no final dos anos de 1890 ele claramente passara para uma
posição de enfatizar as fantasias sexuais infantis como o núcleo das neuroses.
Adotando uma teoria psicodinâmica da sexualidade infantil na qual a vida
psicossexual da criança ocupa o palco central, a psicanálise tomara uma nova
direção, tornando-se uma psicologia profunda.
A criança não era mais retratada como uma vítima inocente de adultos
maldosos, mas era vista como um ser sexual com poderosas fantasias e desejos.
- O complexo de Édipo - Em 1897, Freud embarcou em um processo de
autoanálise no qual procurava explorar seu próprio inconsciente, examinando seus
sonhos e lembranças. Com isso, como escreveu seu biógrafo Ernest Jones “ele
estava trilhando um caminho até então intocado por qualquer ser humano”.
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Freud descobriu esta pedra angular do desenvolvimento psíquico durante
sua própria autoanálise e em seu trabalho clínico com pacientes nos quais fantasias
de incesto com o genitor do sexo oposto emergiam com regularidade em associação
a sentimentos de inveja e fúria assassina em direção ao progenitor do mesmo sexo.
Estabelecendo uma analogia entre tais fantasias e o mito grego de Édipo
que, sem o saber matou seu pai e casou com sua mãe, Freud denominou a
constelação intrapsíquica de complexo de Édipo.
O complexo de Édipo apresenta um desafio ao desenvolvimento da criança
e a resolução do dilema que ele propõe difere de acordo com o gênero.
Freud colocou o complexo de Édipo como o núcleo das neuroses. Ainda que
suas aspirações a respeito de sua nova teoria fossem de início, modestas, elas
foram aumentando gradualmente, até que ele reconhece que a psicanálise pode se
vangloriar de ter realizado a descoberta do complexo de Édipo, e que só isso já
bastaria para incluí-la nas mais importantes aquisições da humanidade.
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Consultório de Freud em Viena
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Freud em seu consultório em Viena
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Dora procurou Freud em 1900 e o relato do seu caso foi publicado em 1905.
Dora era uma garota atraente de 18 anos que sofria de acessos de tosse.
Em certo momento, ela foi afetada por uma febre, diagnosticada como apendicite.
Na mesma ocasião, começou a arrastar o pé direito. Pouco depois Dora pareceu
desenvolver uma tendência suicida e chegou a sofrer um acesso convulsivo que a
fez perder a consciência. Também apresentava catarro e problemas estomacais. Foi
nessa situação que Freud começou a tratá-la.
Freud não hesitou em afirmar que se tratava de mais um caso de histeria.
Ele concluiu, que a tosse espasmódica de Dora, que, referia-se a um estímulo
excitante de cócegas na garganta, era de fato a representação somática de uma
cena na qual ela imaginava o Sr. K, um amigo de seu pai que a assediara
sexualmente, fazendo sexo oral com sua mulher. Quando relatou o caso, Freud
escreveu que pouco depois de Dora ter aceitado silenciosamente tal explicação, as
tosses cessaram. Ele acrescenta não querer insistir muito nesse ponto, até porque
suas tosses com frequência desapareceriam espontaneamente.
Em outro momento da análise, no entanto, Freud concluiu que, embora Dora
tivesse rejeitado o assédio do Sr. K. com repulsa, na verdade ela estava apaixonada
por ele. Freud então, como era de hábito, informou sua opinião à paciente. A
explicação foi negada por Dora, da maneira mais enfática possível.
Mas Freud entendeu, de que quando Dora disse “não” com insistência,
indicava que ela, na verdade, procurava dizer “sim”.
A análise freudiana de Dora acabou terminando quando ela “fugiu”, ou seja,
não voltou para o tratamento. Freud ficou claramente magoado com o final abrupto
da relação terapêutica. Mas concluiu dizendo, que alguém que evoca os piores
demônios que habitam o seio humano, na tentativa de combatê-lo, não pode querer
sair da batalha ileso.
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Um desses pacientes foi o nobre russo Serge Pankejeff, conhecido como o
homem dos lobos, um dos casos freudianos mais famosos Ele procurou Freud em
1910 e sua análise durou mais de quatro anos.
Ainda que sua doença inicial fosse gonorréia, ele acabou ficando deprimido,
sendo diagnosticado como portador de distúrbio maníaco-depressivo.
Em seu relato de caso, Freud enfatizou muito um sonho que o paciente
recordava ter tido aos quatro anos de idade. Ele, no sonho, se lembrava de que
estava dormindo em sua cama quando a janela se abriu de repente, vendo
horrorizado, aproximadamente sete lobos brancos sentados em uma árvore do
jardim. Os lobos eram muito brancos e tinham caudas grandes como as de raposas;
estavam calmos e olhavam para Serge atentamente. Aterrorizado pelo medo de ser
comido, acordou gritando.
De acordo com a análise de Freud, realizada ao
longo de alguns anos, o sonho era a versão mascarada de
uma cena primitiva traumática. Os seis ou sete lobos
representavam os pais do paciente (a diferença numérica
teria sido produzida pelo inconsciente para mascarar o
verdadeiro sentido do sonho). A tranquilidade dos lobos é
uma referência invertida aos movimentos violentos do ato
sexual. A brancura dos animais remete à brancura dos pais sem roupas.
Os lobos olhando para a criança representam outra inversão, cujo
verdadeiro sentido é a criança observando os pais. O tamanho de sua cauda
significa, da mesma forma invertida, uma cauda que foi cortada – a idéia que, por
sua vez, está associada ao medo de castração.
Estas e outras estratégias interpretativas permitem a Freud afirmar que o
sonho era, realmente, uma lembrança mascarada da ocasião em que, aos dezoito
meses de idade, o jovem Serge acordou de seu sono em uma tarde de verão no
mesmo quarto em que seus pais haviam se recolhido, seminus para uma sesta. O
garoto então testemunhou, por três vezes consecutivas, seu pai tendo relações
sexuais com sua mãe, que estava de quatro.
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Ao expor tal interpretação do sonho, Freud esperava ter descoberto o
incidente primitivo traumático que originara doença. No entanto, constatou que o
paciente não estava fazendo progressos. Em uma tentativa de quebrar esta
“resistência”, determinou uma data para o fim do tratamento.
Foi depois disso, segundo o relato do caso, que, após quatro anos de
análise, emergiu alguma lembrança de que, em idade muito precoce, o paciente
deve ter tido uma babá à qual era muito ligado.
Quando Serge tinha dois anos, ele a vira limpando o chão. Ele então urinou
e ela o ameaçou com a castração. No entender de Freud, quando Serge observou a
moça esfregando o chão, de joelhos, com as nádegas para cima, ele se viu mais
uma vez diante da postura que sua mãe assumira na cena da copulação.
Para ele, a babá transformara-se em sua mãe, e isso provocou uma
excitação sexual. Assim como seu pai, como sua ação ele interpretou como uma
micção se comportou do mesmo modo diante dela. Sua micção no chão foi uma
tentativa de sedução, e a garota reagiu a isso com uma ameaça de castração.
Freud relata que a data limite que ele havia estipulado para seu paciente
funcionou e, em um intervalo bastante curto, a análise produziu todo o material
necessário para remover as inibições do paciente e remover seus sintomas.
Parece então, pelo relato do caso, que não muito tempo depois da
reconstrução desta cena quase-edípica, seu paciente curou-se.
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Quando encontrou resultados desapontadores, ele mudou para o método catártico
em decorrência do relato de Breuer sobre Anna O.
Em 1889, no caso de Frau Emmy von N. pela primeira vez, Freud usou o
método catártico de Breuer, para o tratamento de uma multiplicidade de queixas
histéricas.
Tentou remover os sintomas da paciente por meio de um processo de
recuperação e verbalização dos sentimentos suprimidos, com os quais eles estavam
associados. O método veio a ser conhecido como ab-reação.
Freud logo ficou insatisfeito com a abordagem ab-reativa, ao observar que
os benefícios terapêuticos duravam apenas enquanto o paciente mantinha contato
com o médico. O relacionamento pessoal com o médico parecia ter maior
importância terapêutica do que a técnica hipnótica em si mesma. Sua compreensão
do relacionamento médico-paciente foi expandida por meio de um incidente no qual
uma de suas pacientes acordou de um transe hipnótico e lançou seus braços ao
redor do pescoço de Freud.
Experiências como estas aliadas ao relato de Breuer sobre Anna O., levaram
Freud a perceber que o apego do paciente ao médico apresentava um componente
erótico. No entanto, ao invés de fugir em pânico de tais circunstâncias, como Breuer
fizera, Freud investigou-as assim como o fez com quaisquer outros fenômenos que
identificava no tratamento.
Estes primeiros encontros levaram Freud a descobrir a transferência, um
conceito que veio a tornar-se a pedra angular da teoria e da técnica psicanalíticas. A
transferência significa o deslocamento para o analista de pensamentos, sentimentos
e comportamentos originalmente associados às figuras importantes do passado.
A descoberta de Freud da transferência contribuiu para o seu abandono da
hipnose. Percebeu, neste momento, que a hipnose ocultava aspectos da
transferência, de modo que eles não podiam ser investigados como parte do
processo, entendeu também, que a hipnose encorajava o paciente a agradar o
hipnotizador, ao invés de aprender sobre as origens dos sintomas. Freud ainda
observou que muitos pacientes eram simplesmente refratários à hipnose.
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O método da concentração e o desenvolvimento da livre associação - Uma
das pacientes particularmente resistente à técnica ab-reativa hipnótica era Elizabeth
von R. Freud desenvolveu seu método de concentração como um meio de lidar com
a natureza refratária desta paciente.
Recordou-se que Bernheim asseverara que todas as lembranças esquecidas
poderiam ser recordadas conscientemente se o médico fizesse perguntas indutoras
e instasse o paciente a lembrar.
Freud pediu à paciente que deitasse em um divã e fechasse os olhos.
Solicitou que ela se concentrasse em um sintoma particular e recordasse quaisquer
lembranças que pudessem ajudar a entender a origem do mesmo. Freud então
pressionava sua mão sobre a testa da paciente e tranquilizava de que ela de fato
recordaria lembranças relevantes quando ele indagasse sobre elas.
Um grande mérito de Freud é que ele se permitia aprender com seus
pacientes. Elizabeth von R., por exemplo, respondeu ao método da concentração
dizendo a Freud: “Eu poderia ter contado isso a você na primeira vez, mas eu achei
que era isso que você queria.” Freud então modificou sua técnica, sugerindo aos
pacientes que simplesmente ignorassem qualquer censura. Quando Elizabeth von R.
o repreendeu por interromper o fluxo de pensamentos com suas perguntas, Freud
modificou sua técnica novamente, reduzindo a frequência de suas perguntas de
modo a não interferir no fluxo natural das associações da paciente.
No final da década de 90, Freud já percebera que a técnica da concentração
era mais um impedimento do que um facilitador. Abandonara o procedimento de
dirigir a atenção do paciente, aplicar pressão sobre a testa, instruí-lo a fechar os
olhos e fazer perguntas exploratórias. Ao invés disso, fazia o paciente deitar sobre o
divã e dizer o que quer que lhe venha à mente, o método da livre associação que
permanece como uma parte central da técnica psicanalítica atual.
Aquilo que chamamos de teoria psicanalítica é, portanto, um corpo de
hipóteses a respeito do funcionamento e do desenvolvimento da mente no homem.
São, sem dúvida, as mais importantes contribuições que se realizaram até hoje em
relação à psicologia humana.
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III GLOSSÁRIO
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