Você está na página 1de 25

ELETRÔNICA DE POTÊNCIA

CIRCUITOS COM FORMAS DE

ONDAS PERIÓDICAS

NÃO SENOIDAIS

APLICAÇÃO DA SÉRIE DE FOURIER

(REVISÃO)

PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005

1
CIRCUITOS COM FORMAS DE ONDA PERIÓDICAS NÃO SENOIDAIS

SÉRIE DE FOURIER
(REVISÃO)

1. FUNÇÕES PERIÓDICAS

Uma função f(t) é periódica se:

f(t+T) = f(t) para -∞< t < ∞. [1]

f(t) f(t) = f(t+T)


f(t)
T

t t+T t t+T
t T t

Figura 1- Funções Periódicas

O menor T que satisfaz a equação [1] é chamado de período de f(t).

A equação [1] implica que

f(t + n.T) = f(t); ∀ t no intervalo -∞< t < t; sendo n inteiro.

As funções periódicas são completamente especificadas por seus valores em qualquer


período.

Seja fT(t) = f(t).[u(t-t0) – u(t-t0-T)] [2]

Onde u(t) é o degrau unitário


Então f (t ) = ∑ f (t + n.T )
n = −∞
T [3]

A função fT(t) é chamada de gerador de f(t).

2
Funções periódicas possuem propriedades de simetria que facilitam sua análise.

Função par é uma função periódica que f(-t) = f(t).


f(ω
(ωt)
(ω A.cos(ω
ωt)

A
−ωt
−ω ωt
ωt

Figura 2 - Função par


Quando a função é par ela possui simetria com relação ao eixo das ordenadas (eixo y).

Função ímpar é uma função periódica que f(-t) = -f(t).


A.sen(ω
ωt)
f(ω
(ωt)

A1
A
−ωt
−ω
ωt
ωt

-A1

Figura 3 - Função ímpar


Quando a função é ímpar ela possui simetria com relação à origem.

Das figuras 2 e 3 acima verifica-se que:

A. cos[ω.(− t )] = A. cos(ω.t ) é uma função par

A. sen[ω.(− t )] = − A. sen (ω.t ) é uma função ímpar

Soma de funções pares resultam em uma função par:

h p (t ) = K 1 . f p (t ) + K 2 .g p (t ) , onde K1 e K2 são escalares, fp, gp e hp são funções pares.

3
Soma de funções ímpares resultam em uma função ímpar:

hi (t ) = K 1 . f i (t ) + K 2 .g i (t ) , onde K1 e K2 são escalares, fi, gi e hi são funções ímpares.

Produto de funções pares resultam em uma função par:

h p (t ) = [ K1. f p (t )] ⋅ [ K 2 .g p (t )] , onde K1 e K2 são escalares, fp, gp e hp são funções pares.

Produto de funções ímpares resultam em uma função ímpar:

hi (t ) = [ K1. f i (t )] ⋅ [ K 2 .g i (t )] , onde K1 e K2 são escalares, fi, gi e hi são funções ímpares.

Produto de funções pares por funções ímpares resultam em uma função ímpar:

hi (t ) = [ K1. f p (t )] ⋅ [ K 2 .g i (t )] , onde K1 e K2 são escalares, fi é uma função par, e gi e hi


são funções ímpares.

Qualquer função periódica f(t) pode ser expressa como sendo a soma de uma função par
com uma função ímpar.

f (t ) + f (− t )
f p (t ) = [4a]
2

f (t ) − f (− t )
f i (t ) = [4b]
2

f p (t ) + f i (t ) = f (t ) [4c]
Definições importantes:

Valor médio ou média de uma função periódica f(t):

1 t 0 +T
f médio =
T ∫
t0
f (t ).dt [5]

Valor médio quadrado de uma função periódica f(t) (é chamado de potência média em
f(t)):

2 1 t 0 +T 2
f médio =
T ∫ t0
f (t ) .dt [6]

Raiz quadrada do valor médio quadrado, ou valor rms de uma função periódica f(t):

2 1 t 0 +T 2
f rms = f médio =
T ∫ t0
f (t ) .dt [7]

4
2. SÉRIE TRIGONOMÉTRICA DE FOURIER

Se uma função periódica f(t) obedece às condições de Dirichlet, então a função pode ser
representada pela série trigonométrica de Fourier. É bom ressaltar que as condições de
Dirichlet são suficientes, mas não necessárias, pois existem funções periódicas que não
obedecem a estas condições, e, no entanto possuem série de Fourier.
As condições de Dirichlet são:

1. f(t) é contínua por partes


2. f(t) possui um número de máximos e mínimos finitos em qualquer intervalo
finito.
T
3. f(t) é absolutamente integrável sobre um período, isto é: ∫ f (t ).dt < ∞
0

A série trigonométrica de Fourier é dada por:

a0 ∞ 2π
f (t ) = + ∑ [an cos(nω .t ) + bn sen (nω .t )] onde ω = [rad/s] [8]
2 n =1 T

an e bn são os coeficientes da série de Fourier e dependem de f(t)

2 t 0 +T
T ∫t 0
an = ⋅ f (t ). cos(nω .t ).dt

2 t 0 +T
T ∫t 0
bn = ⋅ f (t ).sen (nω .t ).dt [9a]

n = 0, 1, 2, 3....

Outra forma de expressar an e bn em função da variável ωt e período 2π, que é muito


comum em engenharia elétrica, é dada abaixo:

1 2π
an = ⋅∫ f (t ). cos(nω .t ).d (ωt )
π 0

1 2π
bn = ⋅∫ f (t ).sen (nω .t ).d (ωt ) [9b]
π 0

n = 0, 1, 2, 3....

Podemos observar que o primeiro termo da série, a0/2 é o valor médio da função f(t).

Na análise de circuitos elétricos, é mais conveniente representar-se a série de Fourier


combinando-se os termos em seno e cosseno em um único termo em seno ou cosseno
(série de Fourier trigonométrica compacta).

5
Θn
a n . cos(nω.t ) + bn sen(nω.t ) cn
an
φn

bn

a n . cos(nω.t )
bn .sen(nω.t )

Figura 4


f (t ) = c 0 + ∑c
n =1
n . cos (n ω .t + θ n )

c 0 = a 0 / 2 = valor médio de f ( t ) [10]

 bn 
cn = a n2 + b n2 θ n = − arctan  
 an 

ou

f (t ) = c 0 + ∑ c n . sen (nω.t + φ n )
n =1

c 0 = a 0 / 2 = valor médio de f (t ) [11]

 an 
c n = a n2 + bn2 φ n = arctan 
 bn 

3. INFLUÊNCIA DA SIMETRIA SOBRE OS COEFICIENTES DE FOURIER


3.1. SIMETRIA PAR

Funções periódicas com simetria par são do tipo f (t ) = f (− t ) .

Para as funções periódicas com simetria par, as equações usadas para calcular os coefi-
cientes da série de Fourier se reduzem a:

6
2 T /2
a0 =
T ∫
0
f (t ).dt

4 T /2
ak =
T ∫
0
f (t ). cos(k .ω.t ).dt k = 1, 2, 3, ... [12]

bk = 0 k = 1, 2, 3, ...

Observe que as funções periódicas com simetria par, não possuem termos em seno.

3.2. SIMETRIA ÍMPAR

Funções periódicas com simetria ímpar são do tipo f (t ) = − f (− t ) .

Para as funções periódicas com simetria ímpar, as equações usadas para calcular os coe-
ficientes da série de Fourier se reduzem a:

a0 = 0

ak = 0 k = 1, 2, 3, ... [13]

4 T /2
bk =
T ∫
0
f (t ). sen (k .ω.t ).dt k = 1, 2, 3, ... k = 1, 2, 3, ...

Observe que as funções periódicas com simetria ímpar, não possuem termos em cosse-
no, e seu valor médio é nulo.

3.3. SIMETRIA DE MEIA ONDA

Funções periódicas com simetria de meia-onda são do tipo


( )
f (t ) = − f t + T = − f t − T .
2 2
( )
f(t)
T/2
A

t
t

-A t+(T/2)
T

Figura 5 - Simetria de meia onda

7
Para as funções periódicas com simetria de meia-onda, as equações usadas para calcular
os coeficientes da série de Fourier se reduzem a:

a0 = 0

ak = 0 k = 2, 4, 6, ... (k par)

4 T /2
ak =
T ∫
0
f (t ). cos(k .ω.t ).dt k = 1, 3, 5 ... (k ímpar) [14]

bk = 0 k = 2, 4, 6, ... (k par)

4 T /2
bk =
T ∫
0
f (t ). sen (k .ω.t ).dt k = 1, 3, 5 ... (k ímpar)

Observe que as funções periódicas com simetria de meia-onda, só possuem termos ím-
pares, e seu valor médio é nulo.

3.4. SIMETRIA DE QUARTO DE ONDA

Funções periódicas com simetria de quarto de onda são funções que possuem simetria
de meia-onda e, além disso, simetria em relação ao ponto médio dos semiciclos positivo
e negativo.
Quando uma função possui simetria de quarto de onda, sempre é possível torná-la com
simetria par ou ímpar.
f(t)

(a)
f(t)

(b)

Figura 6 - (a) simetria de quarto de onda par (b) simetria de quarto de onda ímpar

8
Para as funções periódicas com simetria de quarto de onda, com simetria par, as equa-
ções usadas para calcular os coeficientes da série de Fourier se reduzem a:

a0 = 0

ak = 0 k = 2, 4, 6 ... (k par )
[15]
8 T /4
ak =
T ∫
0
f (t ). cos(k .ω.t ).dt k = 1, 3, 5 ... (k ímpar)

bk = 0 k = 1, 2, 3, ... (qualquer k )

Observe que as funções periódicas com simetria de quarto de onda, com simetria par, só
possuem termos ímpares em cosseno, e seu valor médio é nulo.

Para as funções periódicas com simetria de quarto de onda, com simetria ímpar, as e-
quações usadas para calcular os coeficientes da série de Fourier se reduzem a:

a0 = 0

ak = 0 k = 1, 2, 3, ... (todo k )
[16]
bk = 0 k = 2, 4, 6 ... (k par )

8 T /4
bk =
T ∫
0
f (t ). sen (k .ω.t ).dt k = 1, 3, 5 ... (k ímpar)

Observe que as funções periódicas com simetria de quarto de onda, com simetria ímpar,
só possuem termos ímpares em seno, e seu valor médio é nulo.

Exemplo 1 Calcular os coeficientes a1 e b1 da série de Fourier da senóide recortada de


amplitude A como mostra a figura 7 abaixo.

f(ω
ωt)

A
seno
β
α
ωt

Figura 7

9
Solução: Das relações [9b] vem que:

2π β
1 1 A
a1 = ∫ f (ωt ) cos(ωt )d (ωt ) = ∫ A. sen(ωt ) cos(ωt )d (ωt ) = [sen 2 (β) − sen 2 (α )]
π 0
πα 2π

2π β
1 A A sen( 2α ) − sen( 2β) 
b1 =
π ∫ f (ωt ) sen(ωt )d (ωt ) = ∫ sen(ωt ) sen(ωt )d (ωt ) = (β − α ) +
πα 2π  2 

0

Exemplo 2 Calcular a série de Fourier do trem de pulsos de amplitude A e período T


da figura 8 a seguir.

f(t)

T1

T
t
Figura 8

Solução: Das relações [9a] vem que:

t 0 +T T1
2 2 2A
an =
T ∫ f (t ) cos(nωt )dt =
T ∫ A.cos(nωt )dt = n.T [sen(nωT1)]
t0 0

t 0 +T T1
a0 1 1 A.T 1
=
2 T ∫ f (t ).dt =
T ∫ A.dt = T
t0 0

t 0 +T T1
2 2 2A
bn =
T ∫ f (t ) sen(nωt )dt =
T ∫ A.sen(nωt )dt = n.T [1 − cos(nωT1)]
t0 0

Portanto, escrevendo f(t) em termos dos coeficientes an e bn vem que:

A.T 1 2 A ∞
f (t ) =
2
+ ∑ [sen(nωT1) cos(nωt ) + [1 − cos(nωT1)]sen(nωt )]
n.T n =1

10
4. A SÉRIE DE FOURIER, O PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO E O CÁLCU-
LO FASORIAL.

O principal conceito que se pode inferir da série de Fourier trigonométrica aplicada na


análise de circuitos lineares que possuem geradores de tensão e/ou corrente com formas
de ondas periódicas não senoidais, caracteriza-se pelos seguintes pontos:

a) O gerador de forma de onda não senoidal pode ser substituído por uma soma de
geradores senoidais com amplitudes e freqüências dos respectivos harmônicos
da série de Fourier de sua forma de onda periódica, além de um gerador constan-
te (corrente contínua) com amplitude correspondente ao valor médio da forma
de onda.
b) Se o circuito for linear pode-se aplicar o princípio da superposição, isto é, a res-
posta do circuito é a soma das respostas de cada termo (a cada gerador) da série
de Fourier.
c) Se estivermos interessados apenas na resposta no regime permanente, pode-se
utilizar a análise fasorial para se encontrar as respostas de cada termo (de cada
gerador) senoidal (e/ou cossenoidal) da série de Fourier. Neste caso, facilita-se o
trabalho se a série estiver escrita em sua forma compacta, isto é, ou somente em
termos de seno ou de cosseno (ver item 2).

Fonte Original Fontes Equivalentes Superposição

i0(t)
i(t)

REDE
ω0
i(t)
i1(t)

REDE REDE REDE


ω1


i(t) = ∑ in (t) in(t)
n=0
REDE
ωn

Figura 8 - Ilustração do Princípio da Superposição

11
Exemplo 3 Suponha um gerador de onda quadrada, de amplitude A e freqüência f
Hertz (ou ω=2π.f rad/s) alimentado uma carga RL, conforme a figura 9 abaixo. Deseja-
se determinar a corrente de regime permanente do circuito.

Vfonte = Vcarga
R VR
Vf(t) Figura 9 - Circuito RL série

L VL

A série de Fourier da função vf(t), com forma de onda quadrada, é dada por:

 4 A  ∞ sen (nω .t )
v f (t ) =  ⋅ ∑ n ímpar
 π  n =1 n

A solução será dada pela série de Fourier da corrente, onde cada harmônico de corrente
pode ser calculado a partir de cada harmônico de tensão, dividindo-se o fasor tensão
pela impedância calculada na freqüência do respectivo harmônico. O fasor corrente de
cada harmônico é dado por:

Vn θ n (4 A nπ ). 0 0
In ϕn = =
Z n φn R 2 + (nω .L )2 arctan nω .L ( R
)
Portanto a corrente do circuito é dada pela seguinte série de Fourier:

4A 1
i (t ) =
π
⋅∑
2 2
(
sen nω.t − arctan nω. L
R
( ))
n. R + (nω. L)

Exemplo 4 A onda de tensão da figura a seguir é aplicada a um circuito série RL com R


igual a 2000 Ω e L igual a 10 H. Achar a tensão no resistor empregando a série trigo-
nométrica de Fourier.
Cosseno
300
Figura 10 - Forma da tensão
produzida por um retificador de
meia onda.
0 π/2 π 2π
π
ωt

12
Solução: A onda aplicada possui simetria par, portanto, contém apenas termos em cos-
seno, cujo os coeficientes são obtidos pela integração:

π /2
1 600
an =
π
⋅ ∫ 300.cos(ωt ).cos(n.ωt ).d (ωt ) = π (1 − n 2 ) ⋅ cos(nπ / 2)
−π / 2

cos(nπ/2) é -1 quando n = 2, 6, 10, ... é +1 quando n = 4, 8, 12, ...


cos(nπ/2) é 0 quando n é ímpar

Para n igual a 1 a expressão é indeterminada e deve ser calculada separadamente.


π /2 π /2
1 2 300 ωt sen(2ωt )  300
a1 =
π
⋅ ∫ 300.cos (ωt ).d (ωt ) = ⋅ +
π 2 2 
 −π / 2
=
2
−π / 2
O valor de a0/2, que é o valor médio da função é dado por:

π/2
a0 1 300
= ⋅ ∫ 300. cos(ωt ).d (ωt ) = [sen(ωt )] π− π/ 2/ 2 = 300
2 2π − π / 2 2π π

Assim, a série de Fourier da onda de tensão aplicada ao circuito RL série é dada por:

300  π 2 2 2 
v= ⋅ 1 + cos(ωt ) + cos(2ωt ) − cos(4ωt ) + cos(6ωt ) − ...
π  2 3 15 35 
A impedância total do circuito série é Z = R + j(n.ωL) e deve ser calculada para cada
harmônico na expressão da tensão v. Os resultados são mostrados na tabela abaixo.

n n.ω R n.ωL |Z| θ


0 0 2k 0 2k 0o
1 377 2k 3,77k 4,26k 62o
2 754 2k 7,54k 7,78k 75,1o
4 1508 2k 15,08k 15,2k 82,45o
6 2262 2k 22,62k 22,6k 84,92o

Calculando-se os coeficientes para a série da corrente (observando os ângulos de atra-


so), temos:

300 / π
n=0 ⇒ I0 =
2k

300 / 2
n=1 ⇒ I1 = cos(ωt − 62 o )
4,26k

13
600 / 3π
n=2 ⇒ I2 =cos(2ωt − 75,1o ) etc
7,78k
A série da corrente é, então:

300 300 600 600


i= + cos(ωt − 62 o ) + cos(2ωt − 75,1o ) − cos(4ωt − 82,45o ) +
2kπ (2)4,26k 3π (7,78k ) 15π (15,2k )
600
+ cos(6ωt − 84,92 o ) − ...
35π (22,6k )

Fazendo-se o produto da corrente i pelo resistor de 2k vem que a tensão no resistor é:

v R = 95,5 + 70,4 cos(ωt − 62 o ) + 16,4 cos( 2ωt − 75,1o ) − 1,67 cos(4ωt − 82,45 o ) +
+ 0,483 cos(6ωt − 84,92 o ) − ...

VALOR MÉDIO E RMS DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA

4.1. VALOR MÉDIO

O valor médio de uma função periódica, conforme já visto, é dado pela equação abaixo:

1 t 0 +T
f médio = F0 =
T ∫t0
f (t ).dt [17]

Representando-se f(t) por sua expansão em série de Fourier, tem-se:

1 t 0 +T  ∞  a
F0 = ⋅∫
T t 0 
 c 0 + ∑ cn . sen (n.ω .t + θ n ).dt = c0 = 0
2
[18]
n =1 

4.2. VALOR RMS

O valor médio de uma função periódica, conforme já visto, é dado pela equação abaixo:

1 t 0 +T 2
f RMS = FR =
T ∫ t0
f (t ) .dt [19]

Representando-se f(t) por sua expansão em série de Fourier, tem-se:

2
1 t 0 +T  ∞ 
FR = ⋅∫  c0 + ∑ cn .sen (n.ω .t + θ n ) .dt [20]
T t 0  n =1 

A integração, em um período, de termos em seno, ou produtos de termos em seno com


freqüências distintas é nula. Portanto, a equação anterior se reduz a:

14
2
1 2 ∞ 
c n2 ∞
c 
FR =  c 0 .T + ∑ T .  = c 02 + ∑  n  [21]
T  n =1

2
 n =1  2
Observa-se, portanto, que o valor rms consiste na raiz quadrada da soma dos quadrados
dos valores rms dos harmônicos individuais mais o quadrado do valor médio da função
periódica.

5. ONDULAÇÃO E FATOR DE ONDULAÇÃO DE TENSÕES E CORRENTES


PERIÓDICAS NÃO SENOIDAIS.

Considere um dipolo de um circuito linear a parâmetros concentrados som uma tensão e


corrente periódicas não senoidais, descritas pelas séries de Fourier abaixo:


v = V DC + ∑ V pn sen (nω.t + θ vn )
n =1

[22]

i = I DC + ∑ I pn sen (nω.t + θ in )
n =1

onde: VDC – valor da componente contínua da tensão (valor médio da tensão)


Vpn – amplitude do harmônico de ordem n da tensão (valor de pico)
θvn – ângulo de fase do harmônico de ordem n da tensão
IDC – valor da componente contínua da corrente (valor médio da corrente)
Ipn – amplitude do harmônico de ordem n da corrente (valor de pico)
θin – ângulo de fase do harmônico de ordem n da corrente

A partir dos resultados do item 5.2, pode-se determinar os valores rms (eficazes) da ten-
são e da corrente através das equações abaixo:


2
V R = V DC + ∑ Vn2
n =1

[23]

2
I R = I DC + ∑ I n2
n =1

onde: Vn = V pn 2 é o valor rms (eficaz) do harmônico de ordem n da tensão


I n = I pn 2 é o valor rms (eficaz) do harmônico de ordem n da corrente

Os somatórios dentro das equações [23], referem-se à soma dos quadrados dos valores
rms (eficazes) dos componentes harmônicos da tensão e da corrente. Como os compo-
nentes harmônicos são senóides e, portanto possuem médias nulas, as somatórias refe-
rem-se, portanto, ao quadrado do valor rms da componente CA das formas de onda,

15
denominada de ondulação. As componentes CA (ou de ondulação) da tensão e da cor-
rente são, portanto, definidas pelas equações a seguir:


VCA = ∑V
n =1
n
2
= V R2 − V DC
2

[24]

I CA = ∑I n =1
2
n = I R2 − I DC
2

A partir das equações [24], define-se os fatores de ondulação da tensão e da corrente,


conforme as equações abaixo:

VCA
rv = ou, em valores percentuais rv % = rv • 100%
V DC
[25]
I CA
ri = ou, em valores percentuais ri % = ri • 100%
I DC

onde: rv é fator de ondulação de tensão, e ri é o fator de ondulação de corrente.

Observe que para uma tensão (ou corrente) com forma de onda puramente alternada, o
fator de ondulação é infinito, e para uma tensão (ou corrente) com forma de onda cons-
tante, o fator de ondulação é nulo.

6. POTÊNCIA E FATOR DE POTÊNCIA EM CIRCUITOS LINEARES COM


CORRENTES E TENSÕES PERIÓDICAS NÃO SENOIDAIS.

Considere um dipolo de um circuito linear a parâmetros concentrados som uma tensão e


corrente periódicas não senoidais, descritas pelas séries de Fourier das equações [22].

A potência instantânea nos terminais deste dipolo será dada pelo produto v.i. A potência
média (ou eficaz) deste dipolo será, portanto:

1 t 0 +T 1 t 0 +T
P=
T ∫
t0
p.dt =
T ∫
t0
v.i.dt

[26]
1 t 0 +T  ∞
 ∞

P= ∫  DC ∑ pn
V + V sen (n ω .t + θ ) . I
vn   DC + ∑ I pn sen (nω.t + θ in ) dt
T t0
 n =1  n =1 

Tendo em vista que os termos em seno e os termos com produto de senos de freqüências
distintas possuem integrações nulas em um período, tem-se o seguinte resultado para a
equação anterior:

16
∞ V pn .I pn ∞
P = V DC .I DC + ∑ cos(θ vn − θ in ) = V DC .I DC + ∑ Vn .I n cos(θ vn − θ in )
n =1 2 n =1

[27]

P = V DC .I DC + ∑ Vn .I n cos ϕ n onde ϕ n = θ vn − θ in
n =1
A equação [26] mostra que a potência média (eficaz) total é a soma das potências mé-
dias obtidas a partir da interação de correntes e tensões com a mesma freqüência; cor-
rentes e tensões com freqüências diferentes não interagem para produzir potência média
(eficaz).

Da mesma forma que é definida para circuitos com tensões e correntes senoidais, defi-
ne-se também a potência aparente para circuitos com tensões e correntes periódicas não
senoidais como sendo o produto da tensão rms (eficaz), com a corrente rms (eficaz),
conforme a equação abaixo:

∞ ∞
2
S = VR ⋅ I R = VDC + ∑Vn2 ⋅ I DC
2
+ ∑ I n2 [28]
n =1 n =1

Convém chamar atenção aqui que o termo potência eficaz, refere-se à potência média,
isto é, o valor médio da potência instantânea, ao passo que os termos tensão e corrente
eficazes referem-se aos valores rms da tensão e da corrente.

A partir das equações [27] e [28], determina-se o fator de potência, que é definido como
sendo a relação entre a potência média (eficaz) e a potência aparente, conforme a equa-
ção abaixo:

P P
fp = =
S V R .I R
[29]

VDC .I DC + ∑Vn .I n cos ϕ n
n =1
fp =
∞ ∞
2
VDC + ∑Vn2 ⋅ I DC
2
+ ∑ I n2
n =1 n =1

Observe da equação [29], que quando as formas de onda de corrente e tensão não são
senoidais, o fator de potência não pode ser igualado a cos(ϕ), onde ϕ é o ângulo da im-
pedância do circuito.

6.1. POTÊNCIA E FATOR DE POTÊNCIA QUANDO UMA DAS FORMAS DE


ONDA (TENSÃO OU CORRENTE) FOR SENOIDAL.

É muito comum em circuitos de eletrônica de potência ocorrer que uma da formas de


onda, geralmente a tensão, de um determinado dipolo seja senoidal, enquanto que a cor-
rente do mesmo é periódica, mas não senoidal. Neste caso, as equações dos itens anteri-
ores podem ser simplificadas conforme apresentado a seguir.

17
Seja um dipolo, cujas formas de onda de tensão e corrente possam ser representadas
pelas equações abaixo:
v = V p1 sen (ω.t + θ v1 )
[30]

i = I DC + ∑ I pn sen (nω.t + θ in )
n =1
Então, o cálculo da potência média (equações [26] e [27]) se reduz a:

P = V1 .I 1 cos ϕ1 [31]

Logo, pode-se observar que apenas o componente de primeiro harmônico da corrente é


responsável pela potência média (eficaz). Os demais componentes, tanto o DC, quanto
os harmônicos não produzem potência média.

A potência aparente do dipolo será dada então por:


S = V1 ⋅ I R = V1 ⋅ I 2DC + ∑ I n2 [32]
n =1

O fator de potência, neste caso, é determinado pela equação abaixo:

P V1.I1 cos(ϕ1 ) I1 cos ϕ1


fp = = = = δ ⋅ cos(ϕ1 )
S V1 ⋅ I R ∞
I 2DC + ∑ I n2
n =1
[33]
I1
δ= ≤1 ( δ = 1 para correntes senoidais )

I 2DC + ∑ I n2
n =1

Quando a forma de onda da corrente possuir componente DC (médio) nulo, as equações


da potência aparente e do fator de potência podem ser reescritas conforme a seguir:

S = V1 ⋅ I R = V1 ⋅ ∑ I n2
n =1

P V1.I1 ⋅ cos(ϕ1 ) I1 cos ϕ1


fp = = = = FDH ⋅ cos(ϕ1 ) [34]
S V1 ⋅ I R ∞
∑ In 2

n =1

I1
FDH = ≤1 FDH : Fator de Distorção Harmônico

∑ I n2
n =1

18
Pode-se, então, desenvolver-se a expressão da potência aparente.

 ∞

S 2 = (V1 .I 1 ) + V12 ⋅ ∑ I n2  = S 12 + D 2
2
[35]
 n=2 

onde: S1 é a potência aparente de primeiro harmônico


D é denominada de potência de distorção harmônico

A potência aparente S1 é a potência aparente para formas de onda senoidais e pode ser
escrita em termos da potência média (ativa ou eficaz) e da potência reativa, ambas de
primeiro harmônico.

S 12 = P12 + Q12

P1 = V1 .I 1 cos(ϕ 1 ) [36]

Q1 = V1 .I 1 sen (ϕ 1 )

Logo, a equação [35] pode ser reescrita conforme a equação [37], mostrando que a po-
tência aparente total é composta de um componente de potência ativa, devido ao primei-
ro harmônico, um componente de potência reativa devido ao primeiro harmônico, e um
componente de distorção harmônica, devidos aos demais harmônicos de corrente.

S 2 = P12 + Q12 + D 2 [37]

A equação [37] define um tetraedro de potências, ao invés de um triângulo de potências


como é o caso de circuitos com formas de onda puramente senoidais.
D

S1
Q1

P1

19
Série de Fourier de algumas formas de onda

0 π 2π
ωt

-A

4A  1 1 1 
f (ωt ) =  sen (ωt ) + sen ( 3ωt) + sen ( 5ωt) + sen ( 7ωt) + ...
π  3 5 7 
-------------------------------------------------------------------------

−π 0 π 2π
ωt

A 4A  1 1 1 
f (ωt ) = + cos(ωt ) + cos( 3ωt ) + cos(5ωt ) + cos(7ωt ) + ...
2 π2  ( 3) 2 ( 5) 2 (7) 2 

-------------------------------------------------------------------------

−π 0 π 2π
ωt

-A
2A  1 1 1 1 
f (ωt ) =  sen(ωt ) − sen( 2ωt ) + sen( 3ωt ) − sen(4ωt ) + sen(5ωt ) + ...
π  2 3 4 5 
-------------------------------------------------------------------------

20
meio ciclo
de senóide
A

−π 0 π 2π
ωt
A π 2 2 2 2 
f (ωt ) = 1 + sen(ωt ) − cos( 2ωt ) − cos(4ωt ) − cos(6ωt ) − cos(8ωt ) − ...
π 2 1⋅ 3 3⋅5 5⋅7 7⋅9 

-------------------------------------------------------------------------
meio ciclo
de senóide
A

−π 0 π 2π
ωt
2A  2 2 2 2 
f (ωt ) = 1 − cos( 2ω t ) − cos( 4ω t ) + cos( 6 ω t ) − cos(8ωt ) + ...
π  1⋅ 3 3⋅5 5⋅7 7⋅9 
-------------------------------------------------------------------------

A 2α
α

−2π −π 0 π 2π 3π
ωt
2 Aα 2 A  senα cosα sen 2α cos 2α sen 3α cos 3α sen 4α cos 4α 
f (ωt ) = −  − + − + ...
π π  1 2 3 4 

21
A

−2π 0 2π 4π
ωt

A A 1 1 1 1 
f (ωt ) = + sen(ωt ) + sen( 2ωt ) + sen( 3ωt ) + sen(4ωt ) + sen(5ωt )...
2 π  2 3 4 5 
-------------------------------------------------------------------------

−4π −2π 0 2π
ωt

A A 1 1 1 1 
f (ωt ) = − sen(ωt ) + sen( 2ωt ) + sen( 3ωt ) + sen(4ωt ) + sen(5ωt )...
2 π  2 3 4 5 
-------------------------------------------------------------------------

−2π −π π
0 2π
ωt

-A

4A  1 1 1 1 
f (ωt ) = cos(ωt ) + cos( 3ωt ) + cos(5ωt ) + cos(7ωt ) + sen(9ωt ) + ... +
π 2  ( 3) 2 ( 5) 2 (7) 2 ( 9) 2 
2A  1 1 1 1 1 
−  sen(ωt ) + cos( 3ωt ) + cos(5ωt ) + cos(7ωt ) + sen(9ωt ) + sen(11ωt )...
π  3 5 7 9 11 

22
senóide
A

−2π 2π
−π 0 α β π
ωt

-A

A  sen( 2α ) − sen( 2β) 


sen (β ) − sen ( α ) ⋅ cos( ωt ) +
A A  2 2
f ( ωt ) = [cos(α ) − cos(β)] + ( β − α ) +  ⋅ sen( ωt ) +
2π 2π   2π  2

A∞   cos[(1 − n )α ] − cos[(1 − n )β] cos[(1 + n )α ] − cos[(1 + n )β]  


+ ⋅ ∑  +  cos( n.ωt ) +
2π n = 2  (1 − n ) (1 + n )  
A ∞   sen[(1 − n )β] − sen[(1 − n )α ] sen[(1 + n )α ] − sen[(1 + n )β]  
+ ⋅ ∑  +  sen( n.ωt )
2π n = 2   (1 − n ) (1 + n )  
-------------------------------------------------------------------------

δ
A

−π 0 π 2π
ωt
(π−δ) / 2
-A
(π+δ) / 2

4A   δ   3δ   5δ   7δ  
f ( ωt ) = ⋅ sen  sen(ωt ) + sen  sen(3ωt ) + sen  sen(5ωt ) + sen  sen(7ωt ) + ...
nπ   2   2  2  2  

23
Forma de onda de um inversor trifásico
(Seis pulsos - 3 semicondutores em condução simultânea)

VAB

V
Série de Fourier
π 3π 4π

4V  nπ    π 

ωt VAB = ∑ nπ ⋅ cos  ⋅ sen  n ωt +  
6  6 
n =1  
-V ∞
4V  nπ 
VAC VAN = ∑ nπ 3
⋅ cos  ⋅ sen(nωt )
 6 
n =1

VCA

VAN
2V/3
V/3

-V/3
-2V/3
VBN

VCN

Forma de onda de um inversor trifásico


(Seis pulsos - 2 semicondutores em condução simultânea)

24
VAN
V/2

π 3π 4π Série de Fourier

ωt
-V/2 ∞
2V  nπ    π 
VBN VAN = ∑ nπ ⋅ cos 6 
 ⋅ sen  n ωt +  
6 
n =1  

4V 3  nπ    π 
VAB =∑ ⋅ cos  ⋅ sen  n ωt +  
n = 1 nπ  6    3 

VCN

VAB
V

-V

25

Você também pode gostar