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GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


Procuradoria Judicial

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DOS


FEITOS DAS FAZENDAS E REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DE
PALMAS - TOCANTINS.

Cumprimento de Sentença
Autos nº: 5001947-94-2007-827.2729
EXECUTADO: Estado do Tocantins
EXEQUENTE: Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual do Tocantins

O ESTADO DO TOCANTINS, neste ato representado pela Procuradora


do Estado que esta subscreve, conforme Lei Complementar Estadual nº. 20/99, sediada à
Praça dos Girassóis, Palmas-TO, vem, mui respeitosamente, à digna presença de V. Exa.,
apresentar IMPUGNAÇÃO AO LAUDO DO PERITO JUDICIAL, conforme lhe
faculta o art. 477, §1º, do NCPC, nos autos epigrafados em que contende com o
SINDICATO DOS AUDITORES FISCAIS DA RECEITA ESTADUAL DO
TOCANTINS, já devidamente qualificados, pelas razões de fato e de direito que passa a
aduzir.

1) BREVE HISTÓRICO.

Trata-se de execução de título judicial que condenou o Estado do


Tocantins nos autos do processo nº 5001947-94-2007-827.2729, ao pagamento de diárias e
horas extras, cuja decisão estabeleceu os critérios para referida liquidação nos seguintes
termos:
“(...)
A avaliação pericial
. .deverá ter como base as informações funcionais,
escalas e ordens de serviços anexadas nos 103 volumes arquivado s no
Cartório, restringida aos filiados do exequente mencionados no rol da
inicial, excluindo, assim, aqueles constantes na relação de fls.12
·Também, os cálculos devem obedecer aos limites do pedido (fls. 09 e
1.293) e sentença (fls. 1.344), a incidir, assim, os valores devidos a
partir de janeiro de 1995 até a data do ajuizamento da ação, qual seja,
17/11/99, sem cômputo dos reflexos das horas-extras e diárias, devendo-

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se aplicar os juros de mora de 0,5%. ao mês, tomando-se como base o


dispositivo da Medida Provisória 2.180-35, de 24 de agosto de 2001,
que acrescentou o artigo 1° F à Lei 9.494/97. (Art. 10-E – Os juros de
mora, nas condenações impostas a Fazenda Publica para pagamento de
verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não
poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano. (NR) (Incluído
pela Medida provisória no 2.180- 3 5, de 2001). A correção monetária
deve ser calculada a partir do ajuizamento da ação (artigo l°, da Lei
6.899, de 09/04/1981 – Art. 1° a - A correção monetária incide sobre
qualquer débito resultante de decisão judicial, inclusive sobre custas e
honorários advocatícios. § 2°- Nos demais casos, o calculo far-se-á a
partir do ajuizamento da ação) (...)”

Os honorários sucumbências foram fixados no valor de R$ 25.000,00


(vinte e cinco mil reais).

A empresa nomeada para a realização da perícia judicial (Controller


Consultoria e Assessoria), arrolou o laudo pericial e planilhas de cálculos conforme se
observa no evento 56.

Tais cálculos apontam, em relação ao valor principal, a divida de R$


109.714.610,17 (cento e nove milhões setecentos e quatorze mil seiscentos e dez reais e
dezessete centavos), a ser suportada pela Fazenda Estadual, bem como apresentou os
valores de honorários sucumbências no importe de R$ 149.207,26 (cento e quarenta e nove
mil duzentos e sete reais e vinte de seis centavos).

Todavia, conforme analise feita pelo Departamento Contabilidade da


Procuradoria do Estado do Tocantins, foram verificadas inconsistências quanto à correção
monetária e juros de mora adotado pela Empresa Perita, bem como aos respectivos
indexadores utilizados em seus cálculos, como será devidamente demonstrado a seguir.

2) DAS INCONSISTÊNCIAS DOS CÁLCULOS DO PERITO.

A liquidação levada a efeito pela Empresa Perita provocou um grande


excesso do crédito a ser executado, tendo apurado o montante de R$ 109.714.610,17
(cento e nove milhões setecentos e quatorze mil seiscentos e dez reais e dezessete
centavos), sendo que a Diretoria Financeira da Procuradoria Geral do Estado liquidou em
R$ 79.819.979,92 (setenta e nove milhões oitocentos e dezenove mil novecentos e
setenta e nove reais e noventa e dois centavos).

Isso representa uma diferença de R$ 29.894.630,25 (vinte e nove


milhões, oitocentos e noventa e quatro mil, seiscentos e trinta reais e vinte e cinco
centavos).

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A Empresa responsável pela perícia adotou a seguinte metodologia de


cálculo para correção monetária e aplicação de juros:

a) Utilizou-se do indexador INPC - (IBGE) a partir de novembro/1999


até janeiro/2016, obtendo o coeficiente de correção monetária
3,0123177, em conformidade com a Tabela Uniforme para a Justiça
Estadual (Débitos em Geral que a mesma para Justiça Comum)
do Autor Gilberto Melo e juros de 0,5% a.m. para o período acima
com o percentual de 97,20%.

Todavia no Parecer Técnico n° 818/2016 (doc. anexo) realizado pela


Diretoria Administrativa e Financeira da Procuradoria Geral do Estado foi explanado que a
metodologia correta dos respectivos cálculos contra a Fazenda Pública são:

a) Metodologia de cálculo para correção monetária: Para elaboração do


cálculo utilizou-se os indexadores INPC - (IBGE) a partir de
novembro/1999 até 29/junho/2009 e TR (BACEN) a partir de
30/junho/2009 até 25/março/2015 e IPCA-E (IBGE) de 26/março/2015
até janeiro/2016 obtendo o coeficiente de correção monetária 2,1950081
(data final de atualização monetária de cálculo apresentado pelo
requerente, para fins de comparativos entre os cálculos), Tabela Uniforme
para a Justiça Estadual (Débitos da Fazenda Pública) Autor Gilberto
Melo;
b) Metodologia de cálculo para juros: Aplicação de juros simples de 0,5%
a.m. a partir de novembro/1999 até maio/2012, CONFORME Art. 1º, F,
da Lei nº 9.494 de 10 de setembro de 1997 (antiga redação), e com
redação dada pela Lei nº 11.960 de 29 de junho de 2009, e juros variáveis
da Poupança Bacen a partir de junho/2012, nos termos da resolução
115/2010 do CNJ, C/C o Despacho nº 11530/2013 -
PRESIDENCIA/ASJURPRE e nos moldes da MP 567/2012 e Lei
12.703/2012, apurados até janeiro/2016 (data final de atualização
monetária de cálculo apresentado pelo requerente, para fins de
comparativos entre os cálculos);”

Como se observa os juros devem obedecer as disposições legais


aplicáveis ao caso, qual seja, o art. 1º-F da Lei 9494/97, que é específica para a Fazenda
Pública. Tais regramentos devem prevalecer sobre qualquer outra, visto que trata sobre
questão específica, o que gera a inaplicabilidade de qualquer outra regra à espécie.

Atualmente, os juros de mora contra a Fazenda Pública são os mesmos


aplicados para a poupança, independentemente da natureza da dívida, conforme apregoa o
art. 1º-F da lei nº 9494/97 pela lei nº 11.960/2009, nos seguintes termos:

Art. 1o-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública,


independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária,
remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma

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única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração


básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei
nº 11.960, de 2009).

O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico de que os


juros de mora e a correção monetária são obrigação de trato sucessivo, renovando-se mês a
mês, devendo ser aplicada no mês de regência a legislação vigente.

No que diz respeito ao índice de correção monetária, a Empresa utilizou


o INPC, quando o permitido legalmente para débitos da Fazenda Pública é o IPCA, o que
também importa em excesso de execução.

2.1 – Adoção do índice oficial para a correção monetária dos débitos da Fazenda
Pública: IPCA.

O Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.357/DF, em 14.3.2013, declarou a


inconstitucionalidade, por arrasto, das expressões "independentemente de sua natureza"
(para efeito de correção monetária) e "índices oficiais de remuneração básica", contidos
no art. 1º F da Lei 9.494/97, com a redação da Lei 11.960/2009.

Não houve modulação, ou seja, a inconstitucionalidade foi ex nunc (do


julgamento em diante). Logo, a adoção da TR (BACEN) pelo período que antecedeu à este
julgamento é plenamente correto.

O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.270.439/PR,


submetido ao rito do art. 543-C do CPC, adequou seu entendimento ao decidido na ADIn
4.357/DF, julgada pelo STF, que declarou a inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei
11.960/09.

Assim, os juros de mora nas ações contra a Fazenda Pública devem ser
calculados com base no índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta
de poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação da Lei
11.960/09. Já a correção monetária, por força da declaração de inconstitucionalidade
parcial do art. 5º da Lei 11.960/09, deixou de utilizar a TR (BACEN) para adotar o IPCA,
índice que melhor reflete a inflação acumulada do período.

Sobre o tema, cito:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FUNDO DE
MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
FUNDAMENTAL E DE VALORIZAÇÃO DO
MAGISTÉRIO (FUNDEF). VALOR ANUAL MÍNIMO POR
ALUNO (VMAA). FIXAÇÃO. CRITÉRIO. MÉDIA
NACIONAL. ENTENDIMENTO FIRMADO EM SEDE DE

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RECURSO ESPECIAL JULGADO SOB O RITO DO ART.


543-C DO CPC. JUROS DE MORA E CORREÇÃO
MONETÁRIA. LEI 11.960/09. MATÉRIA PENDENTE DE
JULGAMENTO NO STF. ADI 4.357/DF.
SOBRESTAMENTO DO FEITO. DESCABIMENTO.
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A Primeira Seção do Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.101.015/BA, da
relatoria do Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe 2/6/10,
recurso submetido ao rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do
CPC), firmou entendimento no sentido de que, para fins de
complementação pela União ao Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental - FUNDEF (art. 60 do
ADCT, redação da EC 14/96), o Valor Mínimo Anual por Aluno -
VMAA, de que trata o art. 6º, § 1º, da Lei n. 9.424/96, deve ser
calculado levando em conta a média nacional. 2. O Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.270.439/PR,
submetido ao rito do art. 543-C do CPC, adequou seu
entendimento ao decidido na ADIn 4.357/DF, julgada pelo STF,
que declarou a inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei
11.960/09. Assim, os juros de mora nas ações contra a Fazenda
Pública devem ser calculados com base no índice oficial de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, nos
termos da regra do art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação da Lei
11.960/09. Já a correção monetária, por força da declaração de
inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei 11.960/09,
deverá ser calculada com base no IPCA, índice que melhor
reflete a inflação acumulada do período. 3. "Segundo a
jurisprudência desta Corte, a pendência de julgamento pelo STF,
de ação em que se discute a constitucionalidade de lei, não enseja
o sobrestamento dos recursos que tramitam no STJ" (AgRg no
REsp 1.359.965/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, Terceira Turma, DJe 31/05/2013). 4. Agravo regimental
não provido. (AgRg no AREsp 130.573/BA, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
18/02/2014, DJe 24/02/2014). – grifei.

Idêntica conclusão foi alcançada pelo STF no julgamento de 25/03/2015


(Questão de Ordem nas ADIs nºs 4.357 e 4.425).

Dessa forma, o valor devido corretamente atualizado aplicando-se ao


débito o método de atualização e juros legalmente previstos, conforme planilha de
cálculo em anexo, tal como exigido pelo art. 917, §3º, do NCPC, representa o montante de
R$ 79.819.979,92 (setenta e nove milhões oitocentos e dezenove mil novecentos e
setenta e nove reais e noventa e dois centavos).

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3) DO PEDIDO.

Ex positis, requer o Executado a procedência da impugnação,


reconhecendo-se o excesso da liquidação levada a efeito pela Empresa Perita, para
considerar devido o valor R$ 79.819.979,92 (setenta e nove milhões oitocentos e
dezenove mil novecentos e setenta e nove reais e noventa e dois centavos), conforme
planilha de cálculo em anexo, sendo este o valor a ser homologado judicialmente.

Já os honorários de sucumbência, utilizando-se da mesma metodologia


de atualização, o valor devido é de R$ 43.079,98 (quarenta e três mil, setenta e nove
reais e noventa e oito centavos), conforme planilha de cálculo em anexo, sendo este o
valor a ser homologado judicialmente.

Nestes termos, pede e espera deferimento.


Palmas/TO, 23 de setembro de 2016.

KLÉDON DE MOURA LIMA


Procurador do Estado
OAB/TO 4111-B

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