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2 Embriologia do aparelho genital

feminino

Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação   © Permanyer Portugal 2011
Isabel Torgal e Maria João Carvalho

1. INTRODUÇÃO 2. EMBRIOLOGIA DO OVÁRIO

O desenvolvimento gonádico nos mamífe- A gónada inicia o seu desenvolvimento


ros tem lugar numa etapa precoce da vida na altura em que as células germinativas
fetal. Durante o estádio indiferenciado da primordiais e diferentes tipos de células
embriogénese, da 3ª à 6ª semana, o desen- somáticas migram e se instalam na crista
volvimento do aparelho urogenital e goná- genital localizada num espessamento me-
dico é idêntico em ambos os sexos1. senquimatoso da região ventro-craniana
A diferenciação sexual do embrião decorre em do mesonefros. A crista genital é constitu-
três etapas: a primeira durante a fecundação, ída por células germinativas primordiais e
quando se determina o sexo cromossómico, células somáticas de três tipos de tecidos
que depende do cromossoma sexual do esper- diferentes: epitélio celómico, mesênquima
matozóide; posteriormente o aparelho genital e mesonefros1-3. É a partir de uma interac-
passa por um período indiferenciado no qual a ção bem controlada entre estas diferentes
morfologia dos embriões é idêntica em ambos células somáticas que se irá desenvolver e
os sexos; a diferenciação morfológica inicia-se diferenciar a gónada.
entre as seis e as oito semanas, consoante o As células germinativas e primordiais têm a
sexo cromossómico sendo os genitais internos mesma origem extra-gonadal e extra-em-
os primeiros a diferenciarem-se2. brionária em ambos os sexos e são morfolo-
Embora a embriogénese ovárica e do apa- gicamente idênticas apesar das suas diferen-
relho genital sejam independentes uma da ças citogenéticas. São observadas a partir da
outra, é indispensável a influência gonádica 3ª semana da embriogénese na endoderme
para que a diferenciação dos genitais inter- da vesícula vitelina próximo da evaginação
nos se realize de forma correcta. alantoideia 2 (Fig. 1).

Cavidade amniótica
Ectoderme

Atlantóide Mesonefros
Células germinativas Intestino primitivo
Saco vitelino Crista genital

Figura 1. Migração das células germinativas primordiais através do intestino primitivo até à crista genital.

29
O mecanismo que desencadeia a migração inicia-se às seis semanas da embriogénese,
das células germinativas para a área da futu- enquanto que a do ovário só se verifica no
ra gónada não é conhecido, mas é provavel- final da 8ª semana5. A partir das oito sema-

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mente orientado por influências quimiotác- nas da embriogénese, o ovário vai iniciar
ticas através de substâncias produzidas pela a sua diferenciação com a regressão dos
crista genital em desenvolvimento4,5. canais de Wolff, simultaneamente com o
O desenvolvimento gonádico inicia-se desenvolvimento das vias genitais femi-
na 5ª semana de vida fetal. Entre as três e ninas a partir dos canais de Müller, que se
cinco semanas, por um processo de dupla desenvolvem externa e paralelamente aos
migração, as células germinativas vão che- canais de Wolff.
gar à sua localização definitiva por migra- A gónada indiferenciada é idêntica em am-
ção passiva ligada ao enrolamento ventral bos os sexos e a masculinização terá que se
do embrião durante a 4ª semana e depois, impôr para escapar ao desenvolvimento no
durante a 5ª semana, por movimentos ami- sentido feminino5. Nem as gonadotrofinas,
bóides através do mesentério dorsal do in- nem as hormonas esteróides vão actuar na
testino posterior3. Localizam-se finalmente diferenciação sexual da gónada. A gónada
de cada lado na crista genital, sob o epitélio será um testículo ou um ovário consoante
celómico que reveste uma condensação do o sexo genético do indivíduo e irá criar um
tecido mesenquimatoso. ambiente hormonal adequado para o nor-
Durante a migração as células germinativas mal funcionamento dos mecanismos de re-
dividem-se mitoticamente até às 28 semanas trocontrolo responsáveis pelo seu correcto
da embriogénese 4. O seu número aumenta, funcionamento5,6. A diferenciação em testí-
por vezes exponencialmente, atingindo um culo ou ovário vai ser acompanhada da ma-
pico de actividade às 20 semanas. Nesta fase turação das células germinativas primordiais
a crista genital já está completamente colo- em células germinativas com características
nizada por seis a sete milhões de células ger- sexuais dimórficas.
minativas primordiais, morfologicamente O mesênquima da futura gónada vai ser in-
idênticas em ambos os sexos, que irão ficar vadido por células germinativas primordiais,
incorporadas em folículos em diferentes eta- células de origem mesonéfrica e células do
pas da foliculogénese. É neste momento da epitélio celómico, todas elas indispensáveis
diferenciação ovárica que se vai encontrar o para uma correcta diferenciação7.
maior número de ovogónias durante toda a A diferenciação da gónada é caracterizada
vida da mulher1,4. pela compartimentalização do tecido go-
Às seis semanas da embriogénese o está- nádico: algumas das células somáticas e as
dio indiferenciado da gónada primitiva está células germinativas irão deslocar-se con-
completo. A diferenciação inicia-se através juntamente para formar um compartimento
de uma delicada interacção entre os compo- específico para as células germinativas: no
nentes somáticos da crista genital: epitélio homem, o tubo seminífero e na mulher o
celómico, mesênquima subjacente e meso- folículo constituído por um ovócito rodeado
nefros5. Nesta fase inicial da diferenciação da por células da granulosa e externamente por
gónada não há qualquer interacção com as uma membrana basal5,7.
células germinativas primordiais, que apenas Às oito semanas a região central do ovário
parecem ter influência numa etapa posterior é invadida pelo mesonefros, que empurra
do desenvolvimento, de forma a assegurar as células germinativas para a periferia fi-
um correcto funcionamento da gónada. cando o córtex ovárico ricamente povoado
O início da diferenciação ovárica é mais tar- por ovogónias e a parte medular por célu-
dio que o da diferenciação testicular. Esta las mesonéfricas. Entre as 6 e as 13 semanas

30 Capítulo 2
os vasos sanguíneos provenientes da par- ferenciação sexual feminina é passiva, pois
te medular do ovário vão irrigar o córtex e se não existir cromossoma Y nem um factor
penetrar nas células epiteliais que rodeiam determinante testicular a diferenciação go-

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as ovogónias e no mesênquima7. As célu- nádica é feminina. Tudo parece indicar que
las diferenciadas a partir dos precursores a determinação sexual da gónada depende
mesonéfricos vão dar origem às células da constituição cromossómica sexual e que,
pré-granulosas e as de origem mesenqui- anomalias cromossómicas afectando os cro-
matosa vão constituir a matriz das células mossomas X e Y durante a meiose, nas cé-
pré-tecais e estroma ovárico5. lulas germinativas, podem interferir com a
Às 12 semamas da embriogénese, antes da diferenciação sexual. O que é certo é que a
completa diferenciação do ovário, já se po- diferenciação testicular é desencadeada por
dem observar figuras pré-meioticas em al- um estímulo masculino e que, na ausência
gumas células germinativas. Às 15 semanas deste, a gónada indiferenciada diferencia-se
5% das ovogónias já iniciaram o processo em ovário8.
meiótico. Às 20 semanas observa-se activi- É indispensável a presença de dois cromos-
dade meiótica máxima nas células germina- somas X activos desde o início da meiose
tivas que é coincidente com o pico de acti- para assegurar a sobrevivência e funciona-
vidade mitótica das mesmas e o número de lidade do ovócito, pois a depleção ovárica
ovócitos é de cerca de 4-5 milhões8. antenatal é regulada por genes localizados
O processo de foliculogénese é contempo- nos braços longos e curtos dos cromosso-
râneo com o início da meiose, decorrendo mas X, cuja integridade é indispensável
desde as 15 semanas, após a diferenciação para a normalidade do processo6. A perda
do ovário, até seis meses após o nascimen- de material genético destas zonas conduz a
to. Os restantes ovócitos ficam com o pro- uma rápida depleção antenatal das células
cesso meiótico interrompido em diploteno germinativas, levando a uma rápida desca-
até à ovulação5. pitalização folicular, como acontece no sín-
Às 28 semanas quase todas as ovogónias ini- droma de Turner, em que as células germi-
ciaram o processo meiótico, existindo nessa nativas degeneram a partir das 12 semanas
fase uma relativa heterogeneidade na matu- de vida fetal.
ração meiótica. No momento do nascimen- Em conclusão, a correcta diferenciação da
to, apenas 5% estão em fase pré-meiótica. gónada depende da interacção entre os seus
Nas restantes ovogónias, apenas 40% estão componentes somáticos às seis semanas e o
em diploteno, estando completa a primeira correcto funcionamento do ovário vai de-
parte do processo meiótico de toda a popu- pender duma interacção entre os compo-
lação germinativa, que passa a ser constituí- nentes somáticos a partir das 15 semanas 8. É
da por ovócitos com a meiose bloqueada em de supor que a diferenciação sexual humana
diploteno8. Na altura do nascimento, o nú- dependa de genes localizados no braço cur-
mero de ovogónias é apenas de 1-2 milhões, to do cromossoma Y, em loci homólogos no
em consequência da deplecção ovocitária cromossoma X e de outros genes localizados
pré-natal que ocorreu num curto espaço de em autossomas. A diferenciação é sempre
tempo às 20 semanas7,8. desencadeada por um estímulo masculino,
Os mecanismos de diferenciação ovárica per- sob controlo genético numa etapa precoce
manecem desconhecidos. Embora a nature- do desenvolvimento embrionário.
za produza muitas excepções um indivíduo A foliculogénese é um processo que per-
portador de um cromossoma Y desenvolve- mite que os folículos ováricos possam ser
rá, normalmente, testículos e características estimulados para evoluir até às etapas
masculinas. Por este motivo se diz que a di- finais do desenvolvimento. Até à fase de

Embriologia do aparelho genital feminino 31


folículo primário a evolução é independen- volvimento do aparelho urogenital é idên-
te do funcionamento do eixo-hipotálamo- tico em ambos os sexos.
hipófise-ovário, ou seja, é independente da Os genitais internos têm pois uma tendên-

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acção das gonadotrofinas. A partir desta cia intrínseca para feminizar. A ausência do
etapa, estas são indispensáveis à formação cromossoma Y, de um testículo funcional e
do folículo pré-antral, embora sem necessi- da hormona anti-Mülleriana (AMH) permite
dade da sua acção cíclica. Por este motivo a manutenção do sistema Mülleriano e o
é que se encontra no ovário fetal o mesmo desenvolvimento das trompas de Falópio,
tipo de folículos do ovário adulto, com ex- do útero e de parte da vagina. Na ausência
cepção dos folículos pré-ovulatórios. Para de testosterona, os canais de Wolff regridem
que o processo de foliculogénese progrida e, na presença de um ovário normal ou na
até esta etapa é necessária a acção cíclica ausência de gónadas, ocorrerá o desenvolvi-
das gonadotrofinas. mento Mülleriano11.
As vias genitais diferenciam-se a partir de
dois sistemas de canais pares: os canais de
3. EMBROLOGIA DAS ESTRUTURAS Wolff no sentido masculino e os canais de
MÜLLERIANAS Müller no sentido feminino9.
Entre a 3ª e a 4ª semana desenvolvem-se
3.1. ESTADO INDIFERENCIADO pequenos tubos, no bordo antero-exter-
no do mesonefros, local da futura gónada.
O testículo fetal tem um papel crucial Estes sistemas tubulares constituem o pro-
na diferenciação masculina dos genitais nefros, que desemboca num canal (o canal
externos e na manutenção dos canais de Wolff ), que se estende do mesonefros
de Wolff através da produção de andro- até à cloaca, onde vai terminar à 5ª semana
génios pelas células de Leydig, mas tem (Fig. 2), ficando incorporado na parte mé-
também um papel igualmente importan- dia da face posterior à 7ª semana11,12. O
te na regressão dos canais de Müller atra- pronefros não é funcional e os seus tubos
vés da hormona anti-Mülleriana (AMH), desaparecem quase inteiramente à quinta
produzida exclusivamente pelas células semana podendo restar, como vestígios, as
de Sertoli9. hidátides de Morgagni9.
Na ausência de hormona anti-Mülleriana, Os canais de Müller diferenciam-se a partir
o feto desenvolverá trompas de Falópio, da 6ª semana, paralela e externamente aos
útero e parte da vagina a partir dos canais canais de Wolff9 e resultam de uma invagi-
paramesonéfricos (canais de Müller). A nação longitudinal do espitélio celómico na
sensibilidade dos canais de Müller a esta face antero-externa do mesonefros.
hormona testicular é um fenómeno tran- Este par de canais persiste até às oito sema-
sitório9,10. A AMH tem que actuar num pe- nas durante o estádio ambissexual do desen-
ríodo crítico da embriogénese, até às oito volvimento. Depois, apenas um par destes
semanas na espécie humana. Este perío- canais persiste e origina um tipo particular
do, programado na etapa final do estádio de canais e glândulas, enquanto que o ou-
ambissexual do embrião, é definido como tro desaparece durante o 3ºmês de vida fetal
a etapa do desenvolvimento em que os deixando apenas vestígios não funcionais11.
canais de Wolff masculinos degeneram Grande parte do desenvolvimento em-
irreversivelmente e os canais de Müller brionário do aparelho genital e urinário
femininos ficarão resistentes à acção inibi- são também simultâneos e interferem um
tória9. Durante o estadio indiferenciado da com o outro nos planos embriológico e
embriogénese, da 3ª à 8ª semana, o desen- anatómico.

32 Capítulo 2
Pronefros Pronefros

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Canal de Wolf Mesonefros
Mesonefros
Conecções urogenitais
Crista genital
Ligamento inguinal
Canal de Wolf
Mesonefros
Botão uretral Esboço uréter
Cloaca Seio urogenital

4.a semana 5.a semana

Canal de Müller
Gónada
Canal de Wolf
Ligamento inguinal

Esboço renal

Seio urogenital

6.a semana

Figura 2. Embriologia. Estado indiferenciado.

Neste estádio os canais mesonéfricos são termine às nove semanas com a migração
chamados canais de Wolff. Os canais para- do rim9.
mesonéfricos pares são chamados canais de Também entre a 4ª e a 7ª semana a cloaca vai
Müller12. septar-se, ficando dividida em duas partes: a
O ureter tem uma origem embriológica di- posterior ou canal ano-rectal e a anterior ou
ferente da do rim. Enquanto que a diferen- seio uro-genital13.
ciação do primeiro se faz a partir do botão
ureteral, emitido à 4ªsemana pelo canal de 3.2. ESTADO DIFERENCIADO
Wolff, próximo da desembocadura na cloa-
ca, a embriogénese do rim é iniciada à 5ª se- O aparelho genital feminino inicia a sua dife-
mana a partir do sistema tubular metanefros renciação a partir dos canais de Müller, que
após ter passado pelos estadios pronéfrico e vão dar origem às trompas, fundindo-se para
mesonéfrico12,13. formar o útero e porção superior da vagina, ao
O botão ureteral continua o seu desenvolvi- mesmo tempo que se inicia a regressão dos
mento normal dado origem ao esboço ure- canais de Wolff9. Este processo começa às oito
teral que só se liga ao esboço renal às seis semanas e termina perto do final da gestação
semanas, embora a embriogénese renal só segundo a seguinte cronologia9,11 (Fig. 3):

Embriologia do aparelho genital feminino 33


Gónada Vestígios
Canal de Wolf

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Canal de Müller

Esboço renal
Canal de Müller

Seio urogenital: Tubérculo de Müller


porção Wolffiana
Seio urogenital Seio urogenital

8.a semana 9.a semana

Figura 3. Embriologia. Estado indiferenciado.

— 8ª semana - os canais de Müller dirigem- pelo afastamento progressivo dos seg-


-se um para o outro, na linha média; mentos proximais das trompas e pelo
— 9ª semana - os canais de Müller estão desenvolvimento do miométrio. Dese-
encostados, mas ainda não iniciaram a nha-se o esboço do colo;
fusão. A extremidade distal encosta, sem — 11ª semana - reabsorção progressiva
abrir, à parede do seio uro-genital, que do septo inter-Mülleriano que separa as
se espessa e dá origem ao tubérculo de duas cavidades, iniciando-se no local do
Müller; futuro istmo, progredindo para cima e
— 10ª semana - dá-se a fusão dos canais para baixo simultaneamente.
de Müller (Fig. 4) segundo um gradien- — 12ª semana - desaparecimento completo
te crânio-caudal, formando-se o canal do septo em condições normais; a partir
útero-vaginal. Os dois tubérculos de desta data inicia-se uma progressiva di-
Müller fundem-se num só. O esboço ferenciação anatómica e estrutural do
uterino começa a perder a forma em V útero até às 40 semanas:

Vestígios
Vestígios Canal de Wolf
Canal de Wolf

Canal de Müller
Canal uterovaginal
Canal de Gartner
Tubérculo de Müller Tubérculo de Müller

Seio urogenital Seio urogenital

10.a semana 11.a semana

Figura 4. Embriologia. Estado indiferenciado.

34 Capítulo 2
— 15ª semana - glândulas cervicais; esboço 4.1. TEORIAS
do orifício externo do colo;
— 16ª semana - desenvolvimento do endo- 4.1.1. TEORIA PURAMENTE SINUSAL

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métrio;
— 17ª semana - diferenciação da produção Exclui a participação Mülleriana na embrio-
cervical do útero; individualização do ist- génese da vagina. A vagina tem origem uni-
mo; diferenciação e organização da pare- camente no seio uro-genital.
de uterina;
— 18ª semana - multiplicação das células 4.1.2. PARTICIPAÇÃO DOS CANAIS DE WOLFF
musculares parietais;
— 19ª semana - diferenciação das glându- Pensa-se actualmente ser possível propôr
las do corpo uterino; um modelo que admita a participação dos
— 20ª semana - identificação da junção ute- canais de Wollf na embriogenése.
ro-tubar e da musculatura uterina; mio- Está definido que a extremidade distal dos
métrio quase definitivo; canais de Wolff se incorpora na parede dorsal
— 22ª semana - o colo atinge os 10 mm; do seio urogenital no decurso da 7ª semana14.
— 24ª semana - diferenciação completa das A participação da incorporação dos canais de
camadas musculares do útero; Wolff na formação dos bolbos seio-vaginais foi
— 25ª semana - o fundo uterino perde a for- estudada por numerosos autores e evoca uma
ma em V; participação wolffiana directa ou indutora no
— 34ª semana - o colo atinge os 35 mm; seu desenvolvimento (Fig. 5). Os bolbos seio-
Às 40 semanas o útero inicia a anteversão e o vaginais vão proliferar e fundir-se entre eles
esboço da anteflexão e as relações peritoneais e com a porção caudal dos canais de Müller
e anatómicas já são idênticas às do adulto. após a sua fusão, formando a placa vaginal9,
cujo crescimento orientado de cima para bai-
xo, afasta o esboço uterino do seio uro-genital.
4. EMBRIOLOGIA DA VAGINA O tubérculo de Müller (espessamento do seio
uro-genital induzido pelos canais de Müller
A origem embriológica da vagina tem sido quando entram em contacto com o seio uro-
objecto de numerosas controvérsias, existin- genital às (nove semanas) vai desaparecer ou
do várias teorias para a explicar. vai ser incorporado na placa vaginal9.

Canal de Müller

Fusão dos canais de Müller


Útero

Formação dos bolbos


seiovaginais Fusão dos bolbos
Seio urogenital do seiovaginais
placa vaginal
Botão da glândula
vestibular Glândula de Bartholin
Seio urogenital

Figura 5. Embriologia da vagina. Participação Wolffiana I.

Embriologia do aparelho genital feminino 35


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Útero

Colo

Canalização da Vagina
placa vaginal

Híman
Vestíbulo

Figura 6. Embriologia da vagina. Participação Wolffiana II.

A cavitação da placa vaginal é iniciada às 11 se- 4.1.3. TEORIA MISTA


manas até ao fim do quinto mês segundo um
gradiente caudo-cefálico. O epitélio de origem Admite que a vagina tem uma origem dupla,
sinusal recobre inicialmente toda a parede va- Mülleriana e sinusal. O terço superior pro-
ginal e depois da 17ª semana recobre inicial- vém da parte distal dos canais de Müller e os
mente o exocolo14 (Fig. 6). A linha de junção dois terços inferiores são de origem sinusal.
dos epitélios sinusal e mülleriana localiza-se Segundo a teoria mista, a lâmina epitelial é
provavelmente no orifício interno do colo9. o primum movens da embriogénese vaginal9.

Espessamento dos Canais de Müller


Canal uterovaginal Lâmina epitelial
Proliferação sínusal Transformação malpiguiana das
paredes da vagina
Seio urogenital
Seio urogenital
14.a semana 15.a semana

Cavitação da lâmina epitelial


Tubérculo de Müller
Seio urogenital

16. semana
a

Figura 7. Embriogénese vaginal. Teoria mista.

36 Capítulo 2
Esta lâmina é constituída pela fusão dos dois 3. Roura LC. - Tratado de Ginecologia, Obstetricia e Medi-
cina de la Reproduction (2003)
tubérculos de Müller, que são as prolifera- 4. Byscov AG. (1981). Production of germ cells and re-
ções de origem sinusal induzidas pelo canal gulation of meiosis. Bioregulators of Reproduction.

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109-116.
de Müller quando este entra em contacto 5. Byscov AG. (1978). Regulation of initiation of meiosis
com o seio urogenital às 10 semanas (Fig. 7). in fetal gonads. Intern. Journ. of Andrology. Supplem
2: 29-37
A lâmina epitelial vaginal sobe progressiva- 6. Ohno S. (1979). Testis organizing H-Y antigen and the
mente e ocupa o lúmen do canal útero-vagi- primary sex determining mechanisms of mammals.
Recent progress in hormone research.35: 449-476.
nal14 . Na parte superior alarga, formando os 7. Zamboni L. (1990). Overview of Embryological and Fe-
bolbos seio-vaginais, futuros fundos de saco tal development of the ovary and the testis. Plenum
Press. Cap. 2. 15-22.
vaginais. Em seguida produz-se a cavitação, 8. Torgal I. (1991). Meiose ovocitária humana. Factores
de cima para baixo, descobrindo o relevo reguladores (estudo experimental). Tese de Doutora-
mento: 22-50.
cervical intra-vaginal e os fundos de saco e a 9. Berek J (2006) Berek & Novak´s Gynecology. Lippin-
parte média e inferior da vagina14,15. cott Williams & Wilkins; Fourteenth Edition edition,
Cap.I.
Todas as teorias têm bases de suporte, mas 10. Buttram, VC. Jr and Gibbons, W.E. (1979) Müllerian
não é possível aceitar a exclusividade de anomalies: a proposed classification (an analysis of 144
cases). Fertil. Steril., 32, 40–45.
uma delas, pois não conseguem explicar 11. Acién P (1992) Embryological observations on the
cabalmente determinadas malformações female genital tract, Human Reproduction 7(4):
437-445
vaginais que se associam a malformações 12. Gidwani G, Falcone T (1999) Congenital Malformations
uterinas, como se verá noutro capítulo. of the female genital tract: Diagnosis and Manage-
ment. Lippincott Williams & Wilkins 1st edition.
13. Edmonds D Congenital malformations of the geni-
tal tract (2000) Obstet Gynecol Clin North Am. 27(1):
49-62.
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Embriologia do aparelho genital feminino 37


38
Capítulo 2
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