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AS LUAS

Eugenio Carutti

CASA XI
Editorial

Cadernos de Astrologia, vol.2

Argentina, 1997

Tradução: Daniel Machado


INTRODUÇÃO

O sistema solar como paradigma funcional

Em astrologia, cada símbolo correlaciona diferentes tipos de realidade, desde as


mais abstratas até as mais concretas; ao mesmo tempo, denota espaços que, na
divisão sujeito-objeto, denominamos “internos” e “externos”.

No “interno” se incluem dimensões do inconsciente, tanto coletivas como


pessoais, assim como atribuições psíquicas específicas (intelecto, afetividade, sensação
de identidade, etc.) Por sua parte, no “externo” abarcamos pessoas e vínculos,
objetos, acontecimentos, aspectos da paisagem e da natureza, animais, metais e
pedras. Finalmente, sabemos que cada símbolo se relaciona com uma parte do corpo
humano.

Desde um ponto de vista mais geral, cada planeta do sistema solar pode ser
compreendido como parte de um sistema, tendo uma função específica nele.

Para a astrologia, o sistema solar é um paradigma funcional presente em toda


realidade, tanto “interna” (psíquica) como “externa” (mundo). Como uma matriz
holográfica, o sistema solar em sua totalidade se encontra em cada fragmento de si
mesmo. Dessa maneira, toda função de um sistema particular-biológico, mecânico,
psíquico, social – tem sua correspondência com as do sistema solar.

A partir desta perspectiva, cada corpo do sistema solar ocupa um lugar funcional nele
e tem sua correspondência com certas funções de toda estrutura particular possível.
Cada sistema – corpo, psique, família, sociedade e instituições, organismos vivos –
possuem sua Lua, seu Sol, seu Saturno, seu Júpiter. Ou seja, aquilo que mais tarde a
percepção habitual captará dissociadamente, como elementos separados da realidade
ou como constituintes autônomos em relação à própria consciência, surge de uma
matriz comum – o sistema solar – que se reproduz em todos os níveis e formas de
nossa realidade cotidiana.

Em conseqüência, podemos conceber cada planeta como a função de um


sistema. No que concerne à Lua, esta significará no mundo “externo”: mãe, casa, lar,
ovo, útero, cova, parto, prata, etc. No “interno” ela será associada com a afetividade,
a memória, a imagem psíquica materna, ou o arquétipo da Grande Mãe e aqueles que
se associam com ela. Mas, todos esses elementos podem, por sua vez, serem
sintetizados por um denominador comum em um nível mais abstrato; este
denominador é a função da lua, dentro do sistema.

Função

Mundo “interno” Mundo “externo”

Compreender a função sistêmica de um símbolo nos permite superar a


dicotomia entre “subjetivo” e “objetivo”, possibilitando uma síntese entre as
características psicológicas e as significações mundanas.

Qual é, então, a função correspondente à Lua em um sistema qualquer?

Uma crença não questionada

Antes de querer responder esta pergunta, é preciso que nos detenhamos em


um ponto importante. Ao tratar de delimitar o significado dos diferentes símbolos da
astrologia, sejam estes espaços zodiacais, proporções angulares – aspectos, áreas de
experiência – casas, ou corpos do sistema solar, devemos previamente ter claro uma
hipótese inconsciente próprio da linguagem convencional, que se projeta sobre a
estrutura do simbolismo astrológico produzindo nele uma forte distorção.

Refiro-me a crença de que cada símbolo pode ser definido independentemente


dos demais e que tem, por outro lado, existência autônoma. Em conseqüência, se
assim fosse, se poderia identificá-los por si mesmos, atribuindo-lhes significados
excludentes do tipo: “o guerreiro corresponde a Marte”, “a rosa a Vênus” ou “as
religiões são jupterianas”, independente de todo contexto em que apareçam estes
aspectos da realidade. Esta crença supõe que existe um significado “em-si” para
Touro, o Sol, a Casa três ou o Quincunce.

Se o pressuposto básico da astrologia nos diz que a totalidade está em cada


uma das partes em proporções diferentes – ou como variáveis particulares de um
padrão geral – a crença anterior não pode ser válida. Dito de outra maneira: se em
cada carta natal estão presentes todos os signos, aspectos, planetas, etc., em uma
distribuição particular (proporção-padrão), é uma abstração afirmar que existe alguém
puramente mercuriano ou taurino.

Na realidade, ninguém viu Mercúrio separado do sistema solar, ou a Touro


independentemente da totalidade do Zodíaco, ou a uma quadratura em uma situação
na qual não existam ao mesmo tempo trígonos, sêxtils ou oposições. Em um dado
instante, podemos dizer que uma configuração particular é superior em relação a
outras; mas estas estarão sempre presentes, embora sua proporção não seja
particularmente significativa.

No que diz respeito à Lua, não há situação possível em que ela apareça sem o
Sol ou Mercúrio ou Saturno ou qualquer dos outros planetas. É provável que uma
intensidade particular da Lua relegue a um segundo plano a consideração dos demais
corpos do sistema. Mas isto é sempre relativo e somente justificável como uma
simplificação operativa.

Indagar acera destas crenças é fundamental. Ao não questioná-las supomos


que é possível definir a Lua – ou a Júpiter ou a Aquário – com total independência dos
demais elementos da matriz a que pertencem. A crença que considera possível pensar
o simbolismo astrológico – ou o céu que nos envolve – separando-o em elementos
autônomos, é próprio da linguagem não astrológica; mas é incompatível com a
astrologia a menos que nos limitemos a mover-nos no campo das classificações e das
tipologias, renunciando a toda síntese. De fato, aprender astrologia implica um modo
de organizar a percepção da realidade baseado em palavras da linguagem cotidiana, a
uma ordem articulada em símbolos de maior complexidade. A linguagem cotidiana
manifesta uma captação do mundo em entidades autônomas, enquanto o simbolismo
astrológico expressa outra muito diferente, na qual aparece unido aquilo que na
percepção anterior estava escondido. A própria estrutura de ambas linguagens reflete
o abismo que separa estas posições existenciais radicalmente diferentes.

Nossas linguagens habituais (castelhano, inglês, alemão, etc.) se baseiam na


existência dos fenômenos: a, s, v, z... Estas são partículas elementares irredutíveis às
demais e as relações que estabelecem são externas umas em relação às outras. Mas o
i é o i; não tem significado, não está associada a uma cor – a menos que alguém seja
Rimbaud – ou a outros aspectos da realidade e é impensável que possamos encontrar
“dentro” dela às demais letras. Cada letra aparece perfeitamente discriminada das
outras e do mundo.

Nossa linguagem cotidiana não é em sua estrutura um sistema de caixas


chinesas, nem é holográfico ou mandálico. Oferece a possibilidade de distinções
absolutas e quiçá aqui irradie sua maior efetividade e razão de ser, em relação ao
mundo que temos concordado socialmente em definir como “objetivo”. Mas para nós,
que aprendemos astrologia, é esta precisamente sua limitação, embora seja operativa
e necessária em um nível, já que dá sustento à percepção de um mundo de entidades
absolutamente separadas e cujas únicas relações possíveis entre seus elementos são
“externas” aos mesmos.

A astrologia como linguagem sagrada

Inversamente, em toda linguagem mandálica ou holográfica cada um de seus


elementos recria a matriz global. Cada elemento contém dentro de si todos os demais
e suas relações com as outras partes do sistema são as vezes “internas” e “externas”,
como corresponde a uma linguagem cuja função é a de comunicar a profunda unidade
na diferença do “dentro” e do “fora”. Estas são linguagens sagradas – como a Cabala,
o I-Ching ou a Astrologia – e em sua própria natureza reside a possibilidade de chegar
a totalidade através de cada uma de suas partes, como em um jogo de caixas
chinesas. Daí que, ao ser função da astrologia significar a ressonância mútua das
entidades do sistema solar em seus planos distintos, cada um de seus símbolos deve
evocar aos demais em uma gama de ressonâncias, infinita e as vezes extremamente
precisa.

Por isso, a astrologia exige o desenvolvimento harmônico de duas funções


aparentemente contraditórias: a capacidade de permanecer em contato com
totalidades sem dividi-las em formas separadas e, as vezes, a capacidade de
discriminação que permite estabelecer distinções e diferenciais. De um modo geral,
uma função se desenvolve em meio a outra e o hábito de apoiar-se somente na
primeira, inibe a participação da função complementar no processo perceptivo. O
vínculo certo entre contato e discriminação – ou, mais profundamente, entre
identificação e diferenciação – é as vezes um requisito fundamental para a
compreensão da astrologia e a dádiva que oferece a quem se adentra nela.

Este é um movimento no fio da navalha, aonde um excesso da função


discriminadora – ou melhor, da necessidade de afirmar-se nela para não cair em
confusão – converte a astrologia em um mero instrumento da consciência identificada
com as linguagens separadoras. Isto a empobrece, reduzindo-a a um sistema de
classificações, tipologias e determinismos pretensamente científicos, que nos separam
do mistério que lhe é inerente e impede que sua contemplação nos transforme. A
inibição da função discriminadora e a hipertrofia da identificação nos levam, pelo
contrário, à contaminação de todos os significados e finalmente desemboca na
confusão, no delírio ou na mera repetição. Uma linguagem holográfica operando em
uma psique na qual não se efetuou um profundo trabalho de discriminação a respeito
das identificações primárias, e de individuação das estruturas arquetípicas, é
sumamente perigoso. Tolera a possibilidade de projetar massivamente conteúdos
indiscriminados sobre o mundo, com a conseqüente desordem e confusão. Dado que
esta projeção, cedo ou tarde, provém de estratos que estão mais além do pessoal, e
como os conteúdos do inconsciente coletivo, ainda que contaminados, são capazes de
expressar em seu nível o isomorfismo e a sincronicidade entre o “dentro” e o “fora”,
esta atitude expressa uma grande “sabedoria” e uma intuição certeira. Sem dúvida, na
maioria das vezes se trata de um conjunto de associações totalmente subjetivas e
fantásticas.

Na realidade, a primeira posição – o excesso de discriminação – tem a segunda


– a identificação – na sombra. Uma vez em contato com a linguagem astrológica, se
ativam inevitavelmente os potentes conteúdos sintéticos que lhe são próprios e
produzem um efeito comovente sobre a psique não preparada. Aqui, a ênfase na
discriminação é resultado da resistência e em última instância da autoproteção. Sem
dúvida, como este movimento não é consciente, inevitavelmente enrijece e reforça os
aspectos obsessivos e controladores em quem toma esta posição.

É inocultável que adentrar-se na astrologia é entrar em um terreno anterior às


modernas diferenciações entre ciência, arte, magia, medicina, religião, psicologia ou
cosmologia. Não é fácil não se perder nela, por isso oscilamos entre cientificismos e
misticismos, psicologismos e determinismos. Sem dúvida é possível – e este é o
desafio – avançar prudentemente, guardando fidelidade às premissas que fazem que a
astrologia seja efetiva. Isto é, movermo-nos em um nível de aprendizagem no qual se
manifeste a correspondência estrutural entre o “dentro” e o “fora”, a psique e o
cosmos, o Céu e a Terra.

O sistema Lua-Sol-Saturno

Se bem estamos intentando delimitar os significados da Lua em um texto


relativamente introdutório, um excesso de simplificação distorceria perigosamente
aquilo que se intenciona transmitir. Velaria-se o essencial, ou seja, a presença da
estrutura do sistema em cada uma de suas partes e, neste caso, a relação intrínseca
entre a Lua e a totalidade da matriz planetária.

Convenhamos, então, que esclarecer os significados simbolizados por um


planeta independentemente dos demais é uma abstração válida nos trâmites iniciais de
uma pedagogia; mas incorreta fora deste contexto.

Por exemplo: dizemos que o útero está simbolizado pela Lua, mas devemos ter
presente que o útero não existe independentemente do resto do organismo e que, em
particular, aparece associado a determinadas características da pélvis. Sem pélvis não
há útero e a pélvis dos corpos femininos está determinada pela presença deste e suas
funções associadas. Ambos constituem uma estrutura. Não existem um sem o outro;
não se manifestam independentemente. Sua correlação astrológica expressa que a
manifestação do lunar se corresponde sempre com uma determinada presença do
saturnino. Saturno e Lua constituem uma relação entre opostos mutuamente
necessários. A vulnerabilidade e indiferenciação lunar “necessitam” a presença de
estruturas saturninas e estas ganham sentido como o complemento daquela; dão-se
com ela. Por outro lado, a manifestação física da Lua é o contrário de suas qualidades
astrológicas. Neste corpo específico que gira em torno de nosso planeta, têm lugar a
máxima mineralização e cristalização de uma entidade sem vida, desligada de todo
processo oxidante ou radioativo.

Do mesmo modo, pode-se dizer que um ovo é “Lua”, mas a casca é seu
Saturno. Ao mesmo tempo, leva dentro de si o Sol da vida nascente que ainda não
pode manifestar-se e necessita ser protegida; ou seja, que tampouco há Lua sem Sol.
Inversamente, não é possível para nós a presença do Sol sem a Lua, no sentido da
proteção necessária com relação à radiação solar. Isto pode estar representado pela
camada de ozônio, pela atmosfera que nos circunda, pelas casas e refúgios ou,
basicamente, pela noite que nos protege do excesso do fogo solar e que se manifesta
ritmicamente de acordo com um tempo e uma medida. A Lua, Saturno e o Sol são uma
estrutura e sempre aparecem unidos ainda que em proporções diferentes. A dinâmica
cíclica destas proporções é aquilo que percebemos como “processo”.

O sistema solar completo apresenta, a rigor, este funcionamento; em


conseqüência, todas as funções são mutuamente necessárias. Toda manifestação é a
emergência de um equilíbrio relativo das mesmas, isto é, de uma proporção
holográfica. Esta temática não será aprofundada aqui, já que é necessário tematizar
uma lógica mais complexa que a do habitual pensamento causal e seqüencial para
poder dar conta destas estruturas e lograr captar a presença da totalidade do sistema
em cada situação. Para os propósitos do presente texto, nos limitaremos a
contextualizar as descrições da função lunar dentro da relação estrutural entre a Lua, o
Sol e Saturno, a fim de alcançar uma maior precisão, postergando uma discussão mais
completa e rigorosa para o momento em que abordaremos o estudo das polaridades
planetárias.

A função lunar

Tomando como pano de fundo, então, a presença do triângulo Lua-Sol-Saturno


para toda manifestação lunar, aparecem dois aspectos essenciais da realidade,
significados pela Lua, que delimitam sua função no sistema. Por um lado, ministrar
substância para que esta tome uma forma determinada. Por outro – e ao mesmo
tempo – constituir um espaço protetor para que dentro dele, protegida e nutrida, se
desenvolva uma diferença que sería destruída sem a ajuda de dito espaço.

Podemos exemplificar este duplo processo referindo-nos à substância básica


que constitui um ovo. Esta inclui tanto as células indiferenciadas que contém o futuro
frango, como os nutrientes destinados ao seu crescimento, o receptáculo corporal no
qual ele se aninha até sua fecundação, o ovo mesmo como estrutura total, e incluído o
futuro ninho e a posterior tarefa de chocar. Tudo isto é Lua, o que nos mostra a
característica básica de sua dinâmica: ela sempre aparece me um processo aonde
cumpre múltiplas funções, simultânea e seqüencialmente.

Atentando-nos a isto, definiremos primeiro separadamente as distintas funções


da Lua para poder encontrar-nos depois com o dinamismo de seu significado completo.
Então poderemos, ao mesmo tempo, registrar nossa dificuldade para sintetizar
aspectos da realidade que habitualmente mantemos separados.

a – A substância

A Lua refere sempre a substância de um certo nível de existência – físico,


biológico, psíquico, social, mental – isto é, ao substrato indiferenciado do qual surgirão
as formas desse nível de realidade. É a matéria prima, amorfa e disponível para adotar
as formas necessárias que expressam uma determinada dimensão. Em tamanha
substância vital e anseio de reprodução de si mesma, entregando-se às estruturações
e princípios formativos que atuam sobre ela, expressa sua analogia com Touro; dali
sua exaltação nesse espaço zodiacal.
Podemos exemplificar com maior clareza este conceito e suas ramificações
descrevendo o desenvolvimento de um embrião, dado que ali onde começa a vida está
particularmente presente o acionar da Lua.

Na união entre mamíferos, uma vez reunidos os gametas em um útero, começa


uma segmentação de células praticamente indiferenciadas. Estas possuem uma
enorme vitalidade e proliferam até dar lugar a uma primeira diferenciação entre elas,
com a emergência de três folhas de tecidos distinguíveis entre si: ectoderma,
endoderma e mesoderma. As células de cada uma destas folhas terá como destino um
específico tipo de órgãos, ao final de uma série de transformações que partem de uma
origem comum. O aparato respiratório e o digestivo surgirão do endoderma através de
sucessivos passos; o sistema nervoso se constitui a partir do mesoderma e, assim, o
resto de maneira semelhante. O importante para nós é ver como as futuras formas
finais (órgãos) são transformações progressivas de tecidos básicos que ministram
(fornecem) substância, primeiramente a sistemas inteiros (respiratório, digestivo,
nervoso, estrutura óssea, etc.) e mais tarde se diferenciam em órgãos particulares
(pulmões, traquéia, estômago, fígado, pâncreas, etc.)

DIGESTIVO
SISTEMA
RESPIRATÓRIO

SISTEMA NERVOSO

ESTRUTURA ÓSSEA
E MUSCULAR

Neste sentido, aqui a Lua é a proliferação de tecido (relativamente)


indiferenciado na qual se enfatiza a tendência a repetir-se a si mesma, até o momento
em que uma nova informação altera a substância (o tecido) a fim de produzir uma
posterior diferenciação.

Um replicar-se de tal intensidade e velocidade – podemos falar de um “frenesi


de auto-reprodução” – responde à necessidade do sistema global de dispor de
substância, de contar com materiais primários em abundância para sua posterior maior
complexidade, até alcançar as formas finais.

b – A forma

A segunda tendência fundamental da Lua que aqui podemos distinguir em sua


enorme plasticidade – dada por sua indiferenciação – e sua docilidade para responder
a uma ordem impressa na substância, a fim de tomar determinada forma e não outra.
Neste caso, a inteligência do código genético que acabou constituído a partir da união
dos gametas, irá determinando as características específicas que a massa celular
deverá tomar – através de “instruções” – até transformar-se em órgãos definitivos:
fígado, rins, unhas, pernas, olhos... A partir daí, a vitalidade celular já não responderá
a novos impulsos formativos e só se renovará periodicamente, replicando-se dentro de
um padrão estável e definitivo.

Neste exemplo de nível biológico podemos visualizar várias características


lunares que mais tarde reconheceremos em outros planos: sociais, psíquicos, mentais,
etc. Estas são:

1) A relativa indiferenciação que possibilita as sucessivas transformações, até


dar lugar a uma forma final.
2) A plasticidade e relatividade às forças formativas com as que incorpora a
forma, para logo ater-se a ela.
3) A alta vitalidade do lunar, que faz com que se reproduza continuamente a si
mesma, replicando a forma incorporada.
4) A capacidade de renovação em resposta a uma ordem determinada, que a
leva a incorporar uma diferença sobre a base do padrão anterior. No
exemplo, isto ocorre ao passar do endoderma para as células do futuro
sistema digestivo e, mais tarde, destas para cada um dos órgãos
específicos.

Espelho e reflexo

Como sabemos, a Lua não possui luz própria senão que esta é gerada por um
processo de reflexão. Todavia, sua presença ilumina a noite refletindo a luz solar, ao
tempo que modera os efeitos desta última a fim de aliviar o excesso de radiação. O
espelho, que devolve uma imagem que não é a realidade do refletido, é um clássico
símbolo lunar. Pertence ao mundo de objetos simbolizados pela Lua, mas possui, por
sua vez, uma significação paradigmática em relação à sua função. Com efeito, é
construído a partir de uma fina lâmina de nitrato de prata que recobre a parte
posterior do vidro, sobre o qual se produz a imagem. Esta rede de associações entre
reflexo, espelho, prata e imagem, resulta muito relevante na hora de discriminar uma
das ambivalências fundamentais da Lua: possui esta vitalidade própria ou é inerte? É
criativa ou somente repetitiva?
Em primeiro lugar, a Lua sempre depende de um impulso externo a ela para a
realização de sua função. Sua indiferenciação básica ou sua qualidade reflexo/passiva
não lhe permitem tomar iniciativa nem ter autonomia, pelo menos no início dos
processos em que participa. Ao contrário, não existe processo sem a influência da Lua,
onde quer que haja substância.

Sua criatividade é própria do receptivo, repetindo-se a si mesma até


desenvolver a totalidade da forma com a qual foi informada ou que foi ativada por um
impulso. Isto indica uma enorme vitalidade, fecundidade e capacidade de reprodução
mas sempre como repetição da estrutura adquirida, carecendo da capacidade de
alterar por si mesma o padrão ao qual ficou fixada. Seguindo com o exemplo biológico,
depois da união e determinado a combinação genética, a estrutura “óvulo fecundado –
útero – mãe” (Lua) prossegue por si mesma o crescimento do embrião, mas não se
conta entre suas funções a de modificar a pauta genética estabelecida.

Uma vez desencadeada, a inteligência lunar se repete a si mesma, inibida de


desenvolver variáveis. Nesta limitação reside a potência de sua função, sua vitalidade
e fecundidade específicas, complementares do Sol. A repetição é imprescindível e isso
é visível no biológico, por exemplo, com a réplica incessante do ADN no nível celular
básico, atividade essencial para que a totalidade do sistema se mantenha viva e
retenha sua forma. Contudo, quando se tenta compreender a Lua em relação com o
resto do sistema, especificamente no plano psicológico, sua tendência à repetição
representa uma das dificuldades mais grandes.

A Lua e a memória

Vejamos isto com mais detalhe. Sua enorme sensibilidade e plasticidade fazem
com que o lunar fique marcado por outras funções: radiação solar, impulso marciano,
estrutura saturnina, força formativa jupiteriana, informação mercuriana ou criatividade
uraniana. Mas, sua função específica é, precisamente, proporcionar a substância capaz
de reter a marca, repetindo-a até que fique estabelecida uma forma ou padrão. Isto
ocorre, por exemplo, na pele onde, superado certo limite de estímulo externo, fica a
cicatriz; ou na ostra, suave e vulnerável, recoberta por uma carapaça quase de pedra,
que ao ser ferida secreta automaticamente sua própria substância sobre a laceração e
a partícula agressiva, dando origem à pérola.

A Lua acumula tudo aquilo que se imprime nela e se configura ao seu redor,
seguindo a pauta marcada. É memória no sentido mais extenso da palavra porque
retém todos os impactos externos que a afetam e toma progressivamente a forma dos
sulcos que se abrem nela, alimentando-os com sua vitalidade. Neste sentido, aquilo
que aparece no princípio como o primário, virginal e indiferenciado, se converte com o
tempo em constante acumulação de marcas e incansável repetição do passado,
rechaçando em sua inércia os estímulos do presente. Então, se fecha sobre si mesma e
o crescimento se detém na réplica indefinida do nível alcançado.

A Lua é o bebê, o intocado e também a identificação plena com as experiências


anteriores e a incapacidade para dar respostas novas por excesso de acumulação: é ao
mesmo tempo o envelhecimento e a senilidade. Sua relação estrutural com Saturno
nos mostra que a Lua é simultaneamente jovem e velha, virginal e cristalizada. Aqui
aparece novamente sua dinâmica profunda: desenvolver-se em fases; isto é, percorrer
um processo no qual nasce, cresce e adquire sua plenitude até finalmente cristalizar-se
e extinguir-se necessariamente, para voltar a nascer.

Toda reflexão acerca da Lua está inevitavelmente atravessada pelo arquétipo de


suas duas caras: uma luminosa e visível, a outra obscura e invisível. Nada que se diga
acerca dela pode escapar a esta tensão, pela qual uma qualidade se transforma
subitamente em seu oposto, ou uma limitação ou carência se revela como potência ou
vitalidade. De fato, referir-se à Lua leva-nos a observar um conjunto de atribuições
carregadas de ambivalência, nas quais é impossível decidir acerca de sua intrínseca
qualidade criativa ou destrutiva, independentemente do entorno em que se manifesta.
Na realidade, recortar um fragmento de seu contexto, tornando-o autônomo e
convertendo-o totalmente para a consciência que ficou absorvida por ele, é um
comportamento lunar ao qual nos referiremos mais adiante e que tem enormes
conseqüências psicológicas. Constatemos por hora, que a dinâmica própria da Lua
mostra os opostos como fases necessárias de um processo: da Lua nova, abismal e
obscura, à Lua cheia, (pletórica e) luminosa e viceversa. É a consciência, incapaz de
abarcá-lo, quem divide o processo e experimenta como tensão a coexistência do “bom”
e do “mau” em um mesmo “objeto”. Isto é uma determinação psicológica, uma fixação
que se projeta em tudo aquilo que se absolutiza e não algo inerente ao próprio
processo. No plano psíquico, a articulação da Lua ao resto do sistema dependerá da
capacidade da consciência para realizar esta distinção.

Menina e anciã

Como dissemos antes, a Lua jamais existe independente dos outros corpos do
sistema solar. A natureza global do processo fará intervir outras funções e estas, no
seu devido tempo, limitarão os excessos ou complementarão as limitações dos
primeiros passos.
Porém, para a consciência que não compreende ainda a ordem profunda dos
ciclos, a Lua se apresenta às vezes como menina e como ansiã. Recém nascida e
mesmo assim carregada pelos sulcos do tempo. Por um lado fresca, vulnerável, vital e
inocente, cheia de potencialidades e aberta a todas as possibilidades; por esse lado, o
arquétipo reflete a incompletude e a disponibilidade inerentes à sua natureza primária
e indiferenciada. Mas, por outro, a sombra desta mesma qualidade faz com que se
acumule marca sobre marca, acabando sua vitalidade atrapalhada nelas até perder-se
em uma incessante reprodução de formas que drenam toda sua energia. Assim,
sepultada debaixo de uma crosta de construções que impedem toda renovação, se
converte em estéril. Esta anciã, por um lado exibe toda a sabedoria da experiência e
os tesouros da memória, mas ao mesmo tempo leva consigo a rigidez do passado e
suas cristalizações, perdendo toda a capacidade de resposta aos estímulos do
presente. Neste caso, a função lunar tem se identificado por completo com a de seu
complementar, Saturno, em uma esclerose que repete de forma incessante os mesmos
padrões. As regressões que padecem os anciões afetados pela sedimentação de seu
sistema circulatório, expressam a outra cara desta polaridade na anciã/ão que se
converte em menina/o.

Virgem e prostituta

Este par arquetípico – menina/anciã – se vê complementado por outra oposição


entre a virgem e a prostituta.

Aqui, o antigo simbolismo da virgem não expressa a negativa a ser fecundada


senão, pelo contrário, a profunda quietude da substância que aguarda, em sua
entrega, ser impregnada pelo outro pólo da união. A plasticidade e inocência se
reúnem com o silêncio e a confiança – a sabedoria da função lunar – renunciando a
reproduzir as velhas marcas, entregando-se por completo às forças formativas. O
arquétipo virginal contém, assim, a possibilidade de renovar-se a si mesmo, apagando
as pegadas do passado, mas não a partir de uma atividade positiva, senão inibindo e
demorando seu anseio reprodutivo, a fim de que a nova fecundação seja tão profunda
como para cancelar todas as pegadas anteriores.

O oposto a isto se simboliza tradicionalmente com a prostituta, em quem se


arquetipiza a ânsia da atividade lunar por entregar-se à forma, respondendo voraz e
mecanicamente a qualquer estímulo para construir de imediato sobre ele, com frenesi.
Para repetir - em resposta a impulsos superficiais – o mesmo padrão de crescimento
pelo crescimento em si.
Esta hiperatividade a arrastará em desordem destrutiva, como no caso dos
tumores cancerosos nos quais a atividade celular se independiza por completo dos
limites da forma que lhe corresponde.

Em planos psíquicos, por outro lado, esta dimensão aparece na excessiva


excitabilidade da imaginação, quando não pode reter suas construções e invade
desmedidamente a percepção do mundo. Também se relaciona com o
desencadeamento de pensamentos incontinentes, que recorrem uma e outra vez aos
mesmos circuitos quando o temor invade, obstruindo toda possibilidade criativa.

Esta exacerbação da qualidade de entrega, em um ritmo que anula a existência


do outro pólo e se fecha sobre si em uma auto-suficiência destrutiva, é uma tendência
possível da função lunar, em seus múltiplos planos de manifestação.

A função protetora

A segunda função da Lua, a de criar espaços protegidos, é a mais conhecida


dada sua analogia com o signo de Câncer. Todavia, nos deteremos um pouco mais
nela para que emerjam aspectos que habitualmente permanecem velados.

Muitos sistemas apresentam uma vitalidade excessiva que eventualmente


impossibilita a aparição de variáveis capazes de renová-los. Nesses casos, toda a
estrutura entra em uma zona de perigo já que se estabiliza em uma circulação que a
leva a repetir-se indefinidamente a si mesma. Desta maneira, o êxito inicial destrói as
novas possibilidades, que não conseguem amadurecer nela como para transformá-la.
Assim, todo sistema relativamente aberto deverá fechar-se sobre si em alguns pontos
a fim de gerar espaços que o protejam de si mesmo e possam dar lugar a variações
que, de outra maneira, sucumbiriam no aberto.

Para que algo se manifeste realmente como novo, deve ter alguma
incompatibilidade com o estado normal do sistema, como ocorre por exemplo em uma
mutação biológica. A alta vulnerabilidade do novo faz com que não possa sobreviver
sem a existência de uma forma que o proteja, e esta deverá ser fornecida pela própria
inteligência do sistema.
A necessidade de proteção das crias, no processo biológico, expressa o exemplo
mais óbvio do que foi descrito anteriormente. Em níveis muito básicos de evolução,
como em muitas espécies de peixes, o processo de reprodução ainda não é
completamente lunar, pelo menos no sentido que estamos defendendo. Nestes casos,
a fecundação não se produz no interior do corpo da mãe, mas fora do mesmo, ficando
expostas as ovas e os alevinos à voracidade do meio. A única proteção para a espécie
reside na enorme quantidade de crias, das quais somente uma ínfima parte
sobreviverá. Ao passar a fecundação para o interior do corpo da mãe – e ao agregar-se
junto o período de gestação, como nos mamíferos – o número de crias possível
decresce enormemente diante dos limites da forma fechada, mas aumenta em sentido
inverso sua segurança. Ovo, ninho, incubação; óvulo, útero, gravidez, amamentação,
cuidado dos progenitores e do grupo social sobre a cria, etc., são todas manifestações
lunares que se estendem logo à educação e preparação da criatura para que esta
possa enfrentar o mundo aberto.

A criação de todo interior protetor e delicado, apto para atender as


necessidades do novo, deve por sua vez ser capaz de excluir decididamente as forças
hostis do meio. Aqui novamente aparece o par Lua-Saturno indissoluvelmente ligado,
como face interna e externa da forma protetora. Não existe proteção sem um lado
suficientemente duro e excludente como para isolar o protegido do meio hostil. A face
dura e isolante da Lua, fechada sobre si e impenetrável, pode permanecer dissociada
de seus componentes cálidos e ternos. Contudo, é impossível compreender o processo
e a função lunar, especialmente no plano psicológico, se não se valoriza
adequadamente a necessidade absoluta de ambas faces no cumprimento de dita
função. Pouco importa se essa “dureza” lunar é a fúria da leoa quando os cachorros
mostram os dentes, ou sua capacidade para manter-se unida a um macho que a
proteja e a complemente nessa função. Aonde houver Lua, ao lado de sua esquisita
ternura e calidez, haverá necessariamente capacidade para excluir – proteger – com
toda a dureza e inclusive com toda a agressividade que seja necessária.
Proteção implica exclusão e limite; crescimento e diferenciação implicam
isolamento e tempo.

A função singularizante (Sol), no sistema Lua-Saturno

Agora, seguindo com a função protetora, aprofundaremos a análise do vínculo


entre a Lua e Saturno, atendendo à sua relação estrutural com o Sol.

A nova vida que cresce no interior do espaço protetor vai desenvolvendo sua
identidade singular – Sol – na medida em que a forma que lhe corresponde se imprime
sobre – ou se manifesta na – substância lunar que, por um lado, lhe constitui em
quantidade de substância e, por outro, lhe nutre e protege.

A auto-divisão da gema do ovo fecundado em citoplasma ativo (embrião), vitelo


(reserva de nutrientes para o mesmo) e clara (meio líquido protetor e comunicador),
manifesta sua analogia nos mamíferos nas sucessivas transformações do óvulo, até
que aparece o embrião. Este cresce logo no líquido amniótico rodeado pela placenta,
através da qual se estabelece com a mãe o intercâmbio orgânico alimentício,
respiratório, circulatório, excretor, etc.

Quando toda a substância tomou forma e foi incorporada – de fato, foi


singularizada, quer dizer, “solarizada” – o corpo desenvolvido chega ao lado duro do
limite protetor: a casca do ovo ou a máxima dilatação do ventre materno, que sua
estrutura óssea permite.
Completou uma fase de sua existência e alcançou a forma final de um ciclo. Agora
deve ir mais além do limite no qual estava necessariamente confinado e dentro do qual
elaborou a substância que tinha à disposição. Chegou o momento de expor-se ao
aberto, de emergir do sistema protetor e entrar no sistema maior.

No parto ou na ruptura da casca de ovo, o Sol da nova vida se manifesta como


uma transformação de todo o processo anterior, na qual desapareceram os
componentes iniciais, sintetizados em uma singularidade: o bebê, o cachorro, o pinto.

Aqui começa um novo ciclo. Cachorro, pinto e bebê deverão aprender a viver
em um meio muito mais vasto e radicalmente diferente daquele de seu estado
embrionário, ao qual se haviam adaptado à perfeição. Agora experimentam uma
vulnerabilidade máxima em relação ao espaço de suas novas experiências, por isso
necessitam da proteção adequada até desenvolver-se em plenitude. Será necessária
uma nova Lua que os alimente, lhes dê contato, calor e afeto, lhes ensine e os prepare
no interior do novo círculo protetor – o novo limite – que neste caso serão o ninho, a
gruta ou o lar.

O importante para nós é constatar que sempre existirá uma borda – um círculo
inquebrantável – que possibilitará o desenvolvimento de uma identidade que precisa
ser protegida e nutrida até completar as experiências dentro do círculo, para logo
atravessá-lo ingressando num sistema mais inclusivo. Este será o mundo do curral
para o frango, ou os sucessivos espaços educativos para o menino. Em todas estas
passagens se manifesta o mesmo padrão:

Diferenciações
orgânicas

Substância constituinte Nutrientes

Lua fecundada Elementos


protetores

Espaço de crescimento

Aqui se desenvolve o complementar da Lua – ou seja, Saturno – como o limite


que a nova vida não deve transcender até haver esgotado o trabalho na substância
lunar. Quando este ciclo tiver terminado, começará o seguinte em outros planos, a
partir de novas substância ( emocionais, mentais, espirituais, etc.). Este é um padrão
universal de desdobramento, fácil de reconhecer na natureza mas muito mais difícil de
distinguir em planos mais sutis como os psíquicos, ou nas manifestações do destino ao
longo de nossa vida.

A tensão com o passado

Vejamos este mesmo processo, mas agora do ponto de vista do Sol, a função
singularizante. Esta se encontra latente na substância fecundada (Lua) e confinada
dentro do limite protetor – Saturno – até tanto não se realiza o trabalho necessário
que dá sentido a esse limite.

Células indiferenciadas

Nutrientes
Lua Forma final Identidade Sol
Proteção

Limite (Saturno)

A manifestação da função solar depende da entrega da Lua assim como da


potência da energia de singularização. Esta energia deve ser capaz de transformar os
materiais indiferenciados carregados de marcas e padrões ancestrais, que arrastam
tanto a torrente genética no nível biológico, como o psiquismo e o inconsciente coletivo
na constituição do ser humano; padrões que inevitavelmente tendem a fragmentar e a
reter em suas marcas tudo aquilo que luta por singularizar-se.

Para o novo indivíduo, tudo aquilo que vem da mãe e do pai – e, através deles,
de toda a humanidade, com suas tensões internas biológicas e psíquicas – são
materiais não elaborados e fragmentários. Esta tensão dos caminhos do passado
constitui o novo ser, o nutre, o protege, e o limita. Mas, ao mesmo tempo, ele deve
ser capaz de imprimir sua marca particular para não desaparecer na torrente das
repetições.

O êxito da função solar reside em poder manifestar plenamente a forma que o


distingue em tal indivíduo, superando a inércia da substância atravessada por
memórias e sulcos que podem sufocar sua singularidade e convertê-lo em um clone da
substância mãe.

Este ciclo se repetirá uma vez ou outra, desenvolvendo-se em círculos


concêntricos ao passar de um sistema menor para outro maior, que por sua vez, se
constituirá automaticamente na Lua da fase seguinte de onde serão elaboradas as
modalidades afetivas de nosso meio ambiente natal ou as idéias, crenças e
identificações familiares. Mais tarde, em outra volta da espiral, se
reiterará o mesmo processo a fim de singularizar a substância desordenada do coletivo
– que nos constitui, nutre, protege e limita – com seus arquétipos e padrões
inconscientes.

Terminada a tarefa do primeiro triÂngulo Lua-Sol-Saturno no pessoal, surge de


imediato um novo círculo inquebrantável de experiências que deverão ser agora
elaboradas e transfiguradas no nível transpessoal ou do Si-mesmo.
Por outro lado, a universalidade deste padrão no qual a Lua, o Sol e Saturno se
transformam um no outro ciclicamente, nos permite compreender o desenvolvimento
de um novo processo possível, que transcende inclusive o âmbito dos arquétipos do
inconsciente coletivo. Nosso movimento cerebral fragmentário em relação à
inteligência da ordem cósmica, constitui uma nova substância lunar e um novo círculo
inquebrantável em que se desenvolve o seguinte trabalho de síntese e transfiguração.
Desta perspectiva, se compreende melhor por que a astrologia hindu atribui à Lua a
significação da mente; dessa forma, porque a Lua está profundamente ligada ao signo
de Virgem, no plano mental e no da inteligência dos sistemas viventes dos quais
fazemos parte.

1º. Nível Elaboração e singularização da substÂncia biológica

2º. Nível Elaboração e singularização da substÂncia psíquica familiar

3º. Nível Elaboração e singularização da substÂncia do Inconsciente


Coletivo

4º. Nível Elaboração e singularização dos padrões mentais da espécie


em relação à ordem da vida

A autolimitação do sistema inclusivo

Finalmente, se adotamos agora o ponto de vista complementar, isto é, o do


sistema maior, a necessidade de gerara variantes criativas para não repetir-se
eternamente no mesmo nível, exigirá um ato de auto-limitação. Quer dizer: aparecerá
a necessidade de isolar certa quantidade de energia da dinâmica global, para construir
com ela uma zona que resulte inquebrável para o mesmo sistema. Dito em outras
palavras: gerar – em alguma etapa do processo – um espaço de menor intensidade
capaz de filtrar ou excluir às demais forças do sistema, é uma necessidade criativa.
Em geral, não consideramos a auto-limitação como uma atividade criativa
ligada a Saturno, já que este manifesta seu lado brando no interior da lei protetora. A
energia que uma família destina ao cuidado e educação dos filhos, por exemplo, se
inclui dentro deste conceito. Assim, quando na organização de uma sociedade se fala
de pressuposto educativo se está fazendo referência à necessidade de incrementar a
quantidade de energia de cuidado e proteção - Lua – do sistema. A possibilidade de
compreender como eminentemente criativo este desvio dos projetos e expansões em
curso, dependerá do sentido de responsabilidade e maturidade de dita sociedade, isto
é, Saturno.

É evidente que este padrão universal de crescimento se faz muito mais difícil de
compreender quando se manifesta nos níveis psíquicos e na trama do destino. Neste
caso nos indica que necessariamente deveremos elaborar e esgotar – consumar –
certo tipo de experiências que nos constituem, nutrem, protegem e limitam, antes de
poder abrir-nos a outros níveis do desenvolvimento da estrutura de nossa casa natal.

Esta auto-limitação, vista a partir da totalidade de nossa vida, aparentemente


nos fecha em um círculo intransponível, impossível de perceber como tal enquanto nos
desenvolvemos em seu interior. Este círculo é o tempo que demoramos em
singularizar a substância da rede vincular na qual nascemos – dar-lhe nossa própria
forma e qualidade – e os sucessivos espaços pelos quais “o destino” nos leva em nosso
crescimento, passando de círculo em círculo.

O possibilitante e o condicionante

Esta dialética Lua-Sol-Saturno que de fato inclui as funções restantes


planetárias e que aqui simplificamos necessariamente, manifesta múltiplos pontos de
tensão, nos que reaparece o que temos chamado ambivalência da função lunar.
Aquilo que é natural e bom em um momento dado do processo, passa a ser
perigoso em um momento posterior, e se uma fase não dá lugar à seguinte chega
inclusive a revelar-se como fatal. A mesma dureza da casca do ovo que protege o
pintinho, pode resultar-lhe mortal se não tem energia suficiente para rompê-la. Por
isso, no momento de máximo crescimento do corpo no interior do ovo, este aparecerá
como uma estrutura sufocante e perigosa que deve ser destruída: se trata de uma
questão de vida e morte. A ambivalência entre proteção e perigo aqui é máxima e, por
um momento, absolutamente real e inevitável; intrínseca ao processo.

A pergunta que podemos fazer-nos é: a Lua possibilita ou condiciona? E em seu


extremo, é então destrutiva?

Depende da inteligência da totalidade do sistema – isto é, de sua capacidade


para relacionar as distintas funções em cada momento do processo – que a Lua seja
toda possibilidade ou, por outro lado, toda condicionamento. Se somente uma das
funções predomina por demasiado tempo inibindo a participação das demais, o sistema
se desequilibra perigosamente e põe em risco seu desenvolvimento posterior. Isto é
evidentemente aplicável ao excesso de qualquer função, seja esta solar, marciana,
mercuriana ou jupiteriana. Não obstante, a Lua – com seu complementar Saturno – ao
ter como uma de suas funções a de excluir a intervenção das demais até que se haja
completado um processo, é quem conta com mais possibilidades de interferir. Isto faz
particularmente dual sua função e é o que gera em nosso inconsciente o arquétipo de
suas duas caras.

De alguma maneira, a distinção entre o possibilitante e o condicionante


atravessará tudo o que falemos acerca da Lua ao longo dos seguintes capítulos, como
uma tensão intrínseca à sua função em relação à força da função singularizante – solar
– do sistema.

No plano biológico, se por alguma razão não houve energia suficiente para
imprimir a forma requerida à substância, a criatura que terá que nascer será
deformada. Na realidade, será relativamente amorfa; isto é, sem forma suficiente para
como que governar as tendências indiferenciantes da função lunar e sua tendência à
repetição cega das questões do passado.

Em linhas gerais, o desenvolvimento do embrião repete fases da evolução da


vida que o precedeu (a ontogenia repete a filogenia). Nisto se evidencia como todo o
passado está na substância lunar e como, para poder manifestar-se, toda forma deve
recapitular o essencial das anteriores ainda que se trate de uma mutação.
É propriedade da Lua – da substância básica – levar dentro de si toda a
memória e entregá-la à nova identidade para que esta a reelabore. Ao fazê-lo, deverá
enfrentar toda essa carga de tendências, sulcos e padrões pré-existentes cuja inércia é
impossível de iludir.

Cada nova forma deve emergir destes sulcos e padrões, renovando-os


criativamente. A inevitabilidade deste processo é mais fácil de perceber no plano
biológico mas deverá realizar-se de forma análoga nos diferentes níveis: afetivos, das
idéias e crenças, arquetípicos, dos processos mentais, etc.

A trama das formas anteriores pode possibilitar a nova ou, pelo contrário, pode
condicioná-la tanto para impedir sua manifestação: esta é uma tensão inevitável. A
singularidade deve fazer-se carga do passado da vida para manifestar-se como uma de
suas variantes criativas. Esta parecia ser, em definitivo, uma lei que opera em todos os
processos nos quais a Lua participa. Todavia, a insuficiência de vitalidade solar em
relação a vitalidade lunar pode também fazer que a atividade celular não receba a
ordem – em termos de código genético – de seguir diferenciando-se. Logo após adotar
a forma de brânquias, por exemplo, os tecidos do embrião devem seguir configurando-
se até sua forma final de pulmões, as incipientes asinhas devem continuar sua
transformação até converterem-se em mãos, e assim com o resto do corpo até
desembocar em sua forma definitiva. Seguramente existe o risco de que a criatura
estanque em alguma fase de seu desenvolvimento embrionário, em todo ou em
alguma parte de seu corpo, morrendo ou apresentando malformações mais ou menos
graves.

As analogias destes fenômenos com os do plano psíquico são bastante


evidentes e sobre elas nos centraremos mais adiante, ao falar dos mecanismos lunares
em cada signo zodiacal. Aqui nos interessa pontuar que estas tensões parecem
inevitáveis e expressam uma relação de funções que em qualquer momento pode
desequilibrar-se. A criatividade da substância mãe pode não ser capaz de entregar-se
a toda a potencialidade do filho – o singular e novo – deixando-o conseqüentemente
preso na inércia da memória da qual é portadora, deformando-o. Isto, a partir do
ponto de vista arquetípico, pode-se observar em todos os relatos em que a Mãe se
transforma em Bruxa.

Temor e intimidade

Outra forma em que a qualidade protetora da Lua se manifesta é por meio de


sua capacidade para criar um espaço de intimidade e afeto, aonde não é necessário
apelar aos sistemas de defesa e agressão próprios de todo organismo. Cada sistema
possui qualidades agressivas e defensivas que impedem uma abertura total a outro
ser, ante o potencial de ver-se atacado. Todo animal ou qualquer um de nós possui um
umbral mais além do qual se ativa um sinal de perigo. Este é o registro da própria
vulnerabilidade, manifestado como temor, e isto também é Lua. Alguém ou algo se
aproximou demais e surge a ordem de fechar-se sobre si, de defender-se ou buscar
refúgio, de não deixar entrar aquilo que atravessou esse umbral.

Ao mesmo tempo, como dizíamos, uma das qualidades vinculares fundamentais


da Lua é sua capacidade para estabelecer um contato que gera intimidade, inibindo
esses mesmos sistemas agressivos que impedem a aproximação. A intimidade é um
círculo em que se podem depor todas as defesas e expor aquilo que está conotado
como o mais vulnerável e necessitado de proteção; aquilo que não pode mostrar-se se
não aparece essa atmosfera e essa afetividade que garantissem que não haverá
violência de nenhum tipo. Tanto o reconhecimento de que é necessário fechar-se,
como o feito de permanecer fechado, e a capacidade de manifesta as qualidades que
permitem a intimidade, são funções da Lua.

De que maneira opera esta qualidade? Basicamente, mediante o registro do


conhecido. A Lua reage de imediato às formas que percebe, com uma velocidade muito
maior que a dos registros conscientes mas, em tamanha memória, necessita
reconhecer para manifestar-se, tanto para abrir-se como para fechar-se.

Por sua própria natureza, este núcleo de extrema sensibilidade que configura a
Lua não consegue ser compartilhado com outros, no sentido de estranhos ou
diferentes. A calma do animal em meio a sua manada, o pássaro no ninho e o menino
abraçado em sua mãe, são exemplos desse círculo exclusivo. Então, essa sensibilidade
está disponível; só é possível permanecer em contato com outros se estes são
conhecidos. Ao inverso, a rapidez para registrar o perigo e reagir a ele, é
consubstancial (da mesma natureza) da função lunar.

A modalidade do afeto, que lhe é própria, se relaciona com o cuidado daquilo


que pode ser mais afetado. A proximidade entre estas duas palavras – afeto / afetado
– revela a identidade do lunar com o extremadamente vulnerável e exigente de
proteção, e sua natureza necessariamente reativa a tudo aquilo que o ameace. Ao
fechar-se no temor e abrir-se na intimidade, opera como uma verdadeira válvula de
segurança em um nível não consciente, disparada pelas formas e sensações
previamente associadas ao perigo ou à segurança. Por outro lado, a possibilidade de
abrir-se ao desconhecido não forma parte da função lunar.
Os momentos quiçá mais exigentes para esta – e, conseqüentemente, para a
dinâmica do conjunto do sistema – se produzem quando ciclicamente se deve
abandonar o conhecido inaugurando-se um novo espaço de experiência, como no
momento do nascimento e em todos os novos nascimentos ou passagens a outros
níveis de realidade. Como no pânico e na angústia do bebê ante a dramática mudança
de situação de nascimento, o qual só recupera sua calma em contato com o corpo da
mãe (o conhecido na situação desconhecida), a Lua buscará os registros que ressoem
em sua memória para poder recuperar seu sentido de segurança.

Liberada a si mesma, a Lua não saberá reconhecer a proteção que existe


naturalmente no novo círculo de experiência, e tenderá a fechar-se buscando os
remanescentes da experiência anterior. Somente se existe uma real integração às
funções de abertura ante o novo, próprias do resto do sistema – Vênus e Júpiter
fundamentalmente – poderá haver verdadeira entrega à nova situação e o conjunto
inaugurará a seguinte fase de sua vida.

Mas, ao contrário, não pode existir uma real abertura ao desconhecido que não
inclua a Lua. Caso contrário, os níveis mais vulneráveis buscarão segurança e proteção
e, até não encontrá-los, obrigarão o sistema a dissociar-se para inibir os sinais de
alarme da Lua. Isto poderá durar um tempo mais ou menos prolongado mas, cedo ou
tarde, todo sistema dissociado deverá retornar sobre o relegado para conservar sua
unidade.

O feitiço da Lua

Temos visto que a função lunar é o canal do sistema que cria um espaço
temporariamente fechado dentro de si. Para aquilo que cresce em seu interior,
provisoriamente separado do que que contém, se gera uma ilusão inevitável: que esse
mundo fechado que conhece, é a totalidade da existência.

Para a consciência em desenvolvimento, nessa fase do processo não existe


nada mais além do imediato, que é o espaço constituído pela Lua. Então, é possível
experimentar a completude, no sentido de um estado no qual estão satisfeitas todas as
necessidades.

O bebê no útero e nos braços da mãe, ou a criança jogando em seu lugar


podem – e devem – experimentar a sensação de totalidade e de absoluta segurança.
Não podem imaginar as limitações e necessidades às quais estão submetidos os pais,
por exemplo. Provisoriamente estão excluídos – protegidos – da verdadeira dinâmica
do sistema maior.
Ali, a proteção lunar, aonde é possível visualizar os limites do campo da própria
experiência no tempo e no espaço, é possível imaginar a permanência indefinida desse
estado e a existência daquilo que não tem limite algum. A fantasia acerca da existência
do que é completo em si mesmo, do absoluto que não tem necessidades e que não
requer articular-se com o que é diferente a ele, se produz naturalmente no interior da
Lua.

Esta fase de máxima segurança, com seus imaginários, é imprescindível para o


correto desenvolvimento daquilo que cresce assim protegido e isto é bom para o
conjunto do sistema. Como temos dito, este se auto-exclui desse interior para não
fracassar o processo, mas ciclicamente, esta fase deve terminar. Em determinado
momento se produzirá a ruptura do limite e o protegido até ali deverá entrar num
espaço de complexidade inesperada para ele.

No reino animal, a mãe expulsa naturalmente a cria quando a amamentação


terminou – que, em condições naturais, pode coincidir com uma nova gravidez – e
automaticamente outras funções entram em jogo para que continue a experiência do
cachorro. Mas esta conduta natural pode não se produzir no plano da consciência. A
identificação com o estado anterior e a fixação com os imaginários que este gerou,
podem fazer que o incipiente indivíduo não seja capaz de abrir-se às novas
experiências que sua estrutura lhe propõe, em seu anseio por reter a completude
perdida. Isto aumenta seu temor e sua sensação de insegurança e, em conseqüência,
o leva a dar respostas incorretas aos novos desafios, embora persiga aquela totalidade
à qual já não poderá retornar.

Neste ponto podemos nos perguntar: a Lua entrega toda sua potência àquilo
que cresceu nela, para que continue exitosamente seu destino? Ou o encanta,
privando-o de sua força e incapacitando-o para crescer em seus novos estados?
Novamente, estamos diante da ambivalência da função lunar que, certamente, não
permite uma resposta linear à interrogação que estabelece. Esta tenção forma parte da
dinâmica global do sistema e não é atribuível a nenhuma de suas partes
separadamente, senão a articulação do conjunto.

Sem
LUA EM CANCER

Como podemos caracterizar, neste caso, a qualidade que envolve a criança no


momento de nascer, nisso que denominamos “casulo energético” ? Câncer –
manifestando-se através da Lua – reforça as afinidades entre signo e planeta,
constituindo-se em uma energia extremamente sensível, terna, frágil e suave, que
marca uma margem muito nítida com o exterior, diante do que permanece fechada,
outorgando uma sensação de segurança. É pura interioridade e não há aqui nenhum
acesso ao mundo exterior. Dentro deste capítulo não se o exterior e a criança
permanece totalmente envolto nesta energia suave e macia, aonde reina a calma mais
profunda. Podemos imaginá-la como um oásis interior, completamente
fechado...Apenas algo lhe toca, se fecha sobre si, enovelando-se; ou se encolhe como
um caracol, retirando-se para dentro. Ao contrário da Lua em Áries, quanto mais se
interioriza, mais segurança experimenta; somente mais tarde, quando haja
desaparecido o perigo eventual, voltará a dilatar-se e a retomar sua forma natural.
A modalidade de proteção dessa pessoa, antão, se manifesta como uma
retirada geradora de uma forte interioridade na qual se sente muito cômoda e segura,
abastecida e cheia de afeto.

Constituição do campo afetivo

A energia básica desta criança corresponde, sem intervenção alguma –


diferentemente de outras luas que vimos – com aquela que definimos como o
arquetipicamente maternal. Aqui, proteção, afeto e segurança provem diretamente da
ternura, da calidez e de uma forte energia de simbiose, capaz de ministrar tudo o que
necessita um ser vulnerável em crescimento.

Tudo isso, que é próprio da criança ao nascer, se manifestará ao seu redor


configurando as características em torno aonde se estabelecem as primeiras relações
afetivas. Evidentemente, o vínculo com a “mãe” é neste caso muito estreito, íntimo e
sem intermediações. Podemos imaginar um bebê gozando das formas macias e do
calor do abraço materno, fundido em seu regaço. Contudo, não ressaltam aqui os
estímulos sensoriais e nutricionais, como no caso da Lua em Touro; sim, mas bem, a
sensação de proteção suave e de alguma maneira a sonolência à qual a criança se
abandona, ao ter garantida a segurança. Esta não representa perigo, como no caso de
Áries, nem está associada à distância, como em Gêmeos, obrigando a buscar uma
aproximação através do movimento ou da palavra. A sensação arquetípica de máximo
bem-estar infantil aqui se vê confirmada, fazendo com que inevitavelmente a criança
prefira permanecer com os olhos fechados, fantasiando e imaginando o mundo
externo. Possivelmente pense: “que bom que está aqui! Que será que está
acontecendo com o mundo, o que farei nele quando for grande? Seguramente correrei
o Amazonas e realizarei grandes façanhas, serei importante e criador. Mas isso eu farei
quando for grande. Por enquanto vou ficar aqui, nos braços de minha mãe...”.
O problema é que, provavelmente, alguém com Lua em Câncer siga pensando
isto ainda aos quarenta anos...

Os mundos inacessíveis das Luas em signos de água

Toda lua em um signo de água, em geral, constrói um lugar interno ao qual


nada chegará jamais, um mundo interior inacessível para os outros. Mas nesse âmbito,
não se sente solidão, só se experimenta um mundo cheio de sensações, nas quais está
presente a “mãe” em um contato direto e pré-verbal. A possibilidade que alguém
possa entrar nesse espaço psíquico sem corresponder-se absolutamente com a “mãe”
é insuportável, e por isso, é necessário fechar-se quase hermeticamente ao mundo
“externo”.

Assim, uma característica típica das Luas em água é uma grande introversão
amocional e uma marcada renúncia a revelar seu mundo interno. A segurança se
associa ao interior; exteriorizar é perigoso e deixar entrar aquilo que não tem a mesma
qualidade, aterroriza. Nesta primazia avassalante da emoção não há ação, nem
tangibilidade, nem palavra possível que garnatisse o afeto. Os registros “objetivos” são
inseguros e por isso este interior não deve ser entendido – sería quase profaná-lo – e
tampouco tem sentido expressá-lo; é uma substância íntima e intransferível. Como
veremos logo, na Lua em Escorpião este mundo interno apresenta traços defensivo-
agressivo-fusionantes e, por isso, estas pessoas se refugiam em “uma ilha rodeada de
tubarões”. A Lua em Câncer, ao contrário, nos diz: “aqui não entra ninguém, porque só
há lugar para mim e minha mamãe...”, e à mãe não é necessário dizer nada porque
ela já o sabe, mamãe adivinha sem que lhe fale. Esta plenitude do silêncio interno na
qual se conhece pela mãe, é um traço característico da Lua em Câncer que, por sua
vez, na relação posterior com os demais, enlaçará o afeto com a condição de ser
compreendido intuitivamente.
A “mãe”

A partir do ponto de vista dos feitos concretos, o cenário que corresponde a


essa Lua – como nas restantes – deve ministrar necessariamente os elementos que
expressem seus traços. Haverá, dessa forma, uma mãe muito presente, carinhosa e
terna, muito protetora, mas que não será vivida como requerente e de modo algum
aparecerá como asfixiante, como ocorrerá com a Lua em Escorpião. Esta mãe se
complementa com uma forte presença familiar na qual está muito enfatizada a
pertença e a tradição. Não se trata de que a família seja portadora de um poder ou de
algo em especial, senão tão somente de uma identidade que se sustenta na unidade
de todos os seus membros. Se lavra

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