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1. INTRODUÇÃO
A pirólise convencional ou carbonização da biomassa é caracterizada pela decomposição
térmica de matrizes vegetais, na ausência ou presença em quantidade controlada de oxigênio que
impossibilite o processo de gaseificação. Três são os produtos provenientes da pirólise da biomassa:
carvão vegetal, gases não condensáveis e fração líquida, dividida em parte aquosa e outra oleosa, a
qual é designada de licor pirolenhoso. O processo de pirólise ocorre em geral na faixa de temperatura
de 300 a 500ºC, promovendo alterações na constituição das matérias-primas visando elevar o teor de
carbono na massa resultante do processo (Kimura, 2009; Carneiro et al., 2013).
O carvão vegetal, produto sólido da pirólise da biomassa, apresenta vantagens em relação ao
coque mineral, visto o baixo teor de cinzas, minimizando a redução do seu poder calorífico e
posterior desgaste de fornos de modo a proporcionar a otimização no processamento de ferro-gusa. O
carvão também pode ser aplicado no refino do açúcar, ser utilizado como meio absorvente, na
adubação e como matéria-prima no processo de gaseificação, levando a produção de gás de síntese
com baixo teor de alcatrão (Pelaez- Samaniego, 2007; Carneiro et al., 2013).
A torta de dendê (Elaeis guineensis Jacq.) é caracterizada como o produto resultante da polpa
seca do dendê oriunda da extração do seu óleo. Esta biomassa, assim como o cacho de dendê,
apresenta-se como meio de refugo para geração de energia em caldeiras, no processamento de
biocombustíveis e alimentação de ruminantes. Em alguns casos esta biomassa é simplesmente
descartada sem qualquer tratamento gerando um passivo ambiental. Em virtude da elevada produção
de óleo de dendê no estado do Pará, maior produtor brasileiro, tem–se a necessidade do
reaproveitamento dos resíduos gerados a fim de agregar valor aos produtos residuais da cadeia
produtiva do dendê (Brasil,2009; Radomski, 2009; Ramalho Filho, 2009).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Matéria-prima
Os cachos e torta de dendê utilizados no estudo foram gentilmente cedidos pela empresa
Biopalma da Amazônia, vinculada ao grupo Vale, localizada no município de Moju, estado do Pará.
As análises físico-químicas e o processo de pirólise foram realizados no Laboratório de Operações de
Separação da Universidade Federal do Pará.
2.2 Pirólise
Os cadinhos e tampas de cerâmica foram previamente preparados em mufla à temperatura de
500ºC durante 1 hora. Após este tempo, os cadinhos foram colocados em dessecador para
resfriamento até temperatura ambiente. Passada esta etapa, 5 g de cacho e 5g de torta foram pesadas
nos cadinhos e depois de tampados, ambos os materiais foram levados a mufla. A pirólise foi
realizada nas temperaturas de 400 e 450ºC onde cada temperatura foi mantida até peso constante das
amostras. A taxa de aquecimento foi de 15ºC/ min. A cada 30 minutos, as amostras foram retiradas
para resfriamento e posterior pesagem para a formação da curva de pirólise (% de massa residual
versus tempo). Ressalta-se que a cinética de pirólise foi executada em triplicata.
O percentual de massa residual (%mr) foi calculado multiplicando-se a massa residual final
(mrf) por 100 e este resultado dividiu-se pela massa inicial da amostra (mi) como mostrado na
Equação 1. O tempo total do processo de pirólise foi de 3 horas para cada temperatura.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
% MR
Tempo (min) Cacho Torta
0 100,00 100,00
30 29,87 ± 0,10 42,51 ± 0,10
60 22,36 ± 0,07 33,66 ± 0,13
90 15,90 ± 0,07 26,27 ± 0,20
120 11,38 ± 0,07 20,07 ± 0,26
150 7,52 ± 0,05 13,73 ± 0,23
180 7,05 ± 0,03 11,35 ± 0,21
% MR
Tempo (min) Cacho Torta
0 100,00 100,00
30 32,21 ± 0,02 40,49 ± 0,27
60 24,75 ± 0,04 31,35 ± 0,38
90 17,23 ± 0,08 23,06 ± 0,43
120 11,22 ± 0,07 17,03 ± 0,47
150 9,11 ± 0,04 12,79 ± 0,45
180 8,98 ± 0,04 10,54 ± 0,46
A perda de massa no cacho nas temperaturas de 400 e 450ºC foi semelhante ao apresentado por
(Oliveira et al., 2012) cujo trabalho mostrou massa residual de 30% para a torta de dendê sob
temperatura de 400ºC à taxa de aquecimento de 10ºC/ min. Os percentuais de massa residual
encontrado no cacho à 400 e 450ºC são inferiores ao apresentado por (Kimura, 2009) que analisou
palha de cana de açúcar e serragem, os quais apresentaram 35 e 35,43% respectivamente quando
submetidos a aquecimento até temperatura de 400ºC.
Os valores encontrados na torta foram semelhantes aos apresentados por (Oliveira et al., 2013)
que analisou resíduos da bananicultura cujos valores foram de 40% de massa residual no pseudocaule
à 400ºC.
Os resultados mostram que a perda de massa no cacho foi maior à temperatura de 400ºC. Esta
ocorrência pode ser explicada em virtude da não homogeneidade do tamanho das partículas
submetidas a pirólise. Aos 120 minutos de processo as massas residuais foram aproximadamente
iguais a 11% para ambas temperaturas.
A perda de massa na torta foi maior à temperatura de 450ºC. Entretanto esta perda não foi
discrepante mostrando que as curvas foram quase semelhantes. No tempo de 150 minutos, a
diferença percentual nas massas residuais foi inferior a 1%.
4. CONCLUSÃO
A avaliação do rendimento da produção de carvão no presente estudo mostra que a perda de
massa foi mais acentuada no cacho em comparação à torta. A perda de massa foi maior em
temperatura de 400ºC mostrando que o acréscimo da temperatura no tratamento do cacho durante o
processo de pirólise não permitiu aumento expressivo na degradação desta biomassa. Este fenômeno
é explicado em virtude da não homogeneidade da granulometria das fibras do cacho, visto que a
pirólise foi realizada sem distinção no tamanho de partícula. O carvão gerado pelo cacho foi
produzido em no máximo de 2,5 horas de pirólise, enquanto que o carvão proveniente da torta
somente em 3 horas do processo. Do ponto de vista econômico, o cacho pode ser melhor
reaproveitado em relação a torta em virtude de possibilitar maior perda de massa em menor tempo
exigindo menor temperatura para degradação dos componentes.
5. REFERÊNCIAS
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