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ESTUDO DE CAMPO
Área temática: Gestão de Segurança no Trabalho e Ergonomia
Adriana Faganello
faganello@utfpr.edu.br
1. INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil está em desenvolvimento continuamente, e o mercado
cada vez é mais exigente com a qualidade e rapidez na execução, fazendo com que este setor
almeje realizar adequações em seus processos para aumento da produtividade e redução de
custos.
O maior desafio é superar dificuldades técnicas e administrativas, pois a direção de
operários mal remunerados e deficientemente capacitados exigem mais do que apenas técnica,
é necessário resolver questões de ordem técnica, ambiental e social. Todos esses fatores fazem
com que as atividades nessa área sejam potencialmente geradoras de acidentes.
Os acidentes de trabalho frequentemente têm sido associados por empresas que não
oferecem condições seguras para o trabalho ou por atos inseguros provocados pelos
empregados, porém, muitas causas dos acidentes de trabalho correspondem a um conjunto de
condições próprias do serviço executado, associado aos aspectos sociais envolvendo os
operários e também aos sinistros que ocorrem no decorrer do trabalho.
Segundo Torner e Pousette (2009), a abordagem da engenharia muitas vezes aplicada à
gestão de segurança na indústria da construção civil, precisa ser complementada por medidas
de organização levando em consideração como as pessoas concebem e reagem ao seu
ambiente social durante o trabalho.
Nesse contexto discute-se com elevado interesse, o investimento em segurança, que tem
resultado em demandas por readequação na forma de trabalhar, e também a necessidade de
definirem as atividades e funções dos profissionais para que a análise de risco e as técnicas de
segurança possam ser aplicadas adequadamente.
De acordo com o Sindicato do Trabalhador da Construção Civil do Paraná -
SINTRACON/PR, são cinco as categorias profissionais: mestre de obras, contramestre,
profissional (ou oficial, especializado no ofício), meio profissional (ou meio oficial) e o
servente (não possui nenhuma qualificação) (SINTRACON, 2014).
Este estudo pretende verificar se a qualificação técnica do profissional para a execução
de trabalhos específicos e a grande variedade de riscos de acidente a que o trabalhador está
exposto influi na probabilidade de ocorrência desses acidentes.
O objetivo geral desta pesquisa foi identificar os perigos e analisar os riscos de cada
uma das frentes de trabalho: construção de barracão comercial (construção civil) e execução
de barreira New Jersey em rodovia (obra complementar de pavimentação) para geração de
recomendações de segurança do trabalho.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Embora o setor da construção civil absorva grande quantidade de mão de obra de baixa
instrução, esta não tem sido considerada uma influência significativa como causa dos
acidentes de trabalho. Estudos aprofundados têm demonstrado que as características
individuais são superadas por outros fatores desfavoráveis, entre os quais o fator ambiental
(CATAI, 2014).
Catai (2014) também observa que o ambiente físico exerce grande influência sobre os
acidentes, pode ser uma fonte permanente de estresse dos trabalhadores como um ruído
indesejado ou um ofuscamento visual, esses fatores podem modificar o comportamento do
trabalhador e isto pode favorecer a ocorrência de acidentes.
O Ministério de Trabalho e Emprego – MTE, criou normas regulamentadoras (NR)
referentes à Segurança e Medicina do Trabalho, entre as quais se pode destacar a NR-18 –
Obras de construção, demolição e reparos, dirigidos exclusivamente aos empregadores da
construção civil. Esta norma tem como objetivo e campo de aplicação “a implementação de
medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no
meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção” (BRASIL, 2014).
O trabalho na construção civil é considerado perigoso, devido as suas características, o
trabalhador é exposto a variados riscos, Rinaldi (2007) define como riscos do trabalho ou
riscos profissionais, isto é, os agentes presentes nos locais de trabalho decorrentes de precárias
condições que afetam a saúde, segurança e o bem-estar do trabalhador, podendo ser relativos
ao processo operacional (riscos operacionais) ou ao local de trabalho (riscos ambientais).
Devido às especificidades de cada trabalho na construção civil, a atuação preventiva é
de primordial importância, com a antecipação e reconhecimentos dos riscos podem-se
diminuir as possibilidades de acidentes de trabalho.
Pesquisa realizada pelo Sintracon-SP (2007), evidencia que dentre os profissionais que
trabalham na construção, o maior índice de acidentes ocorre com o pedreiro com quase 35%
de índice de vítimas, em segundo lugar com 30% de índice de vítima o servente ou ajudante.
De acordo Aguiar (2014) a Análise Preliminar de Perigo (APP) é uma metodologia
indutiva estruturada para identificar os potenciais perigos de um determinado local de
trabalho. Essa metodologia procura avaliar de forma qualitativa os riscos associados aos
perigos, identificando aqueles que requerem prioridade de intervenção, a fim de eliminar ou
reduzir as consequências dos cenários de acidente.
Para visualizar os perigos presentes em um ambiente o primeiro passo é conhecer o
processo do trabalho. Deve-se obter o maior número possível de informações circulando pelo
local de trabalho e consultando os trabalhadores sobre problemas já ocorridos ou
vislumbrados por eles. Identificados os perigos, é necessário elencar os riscos a eles
relacionados, bem como determinar a gravidade dos mesmos e a probabilidade de que
venham ocorrer.
Segundo Aguiar (2014) a análise pode ser realizada com o uso da planilha apresentada
no Quadro 1.
Quadro 1 – Exemplo de Planilha utilizada na APP
ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGO
Faria (2010) explica que no contexto da APP, um cenário de acidente é definido como
sendo o conjunto formado pelo perigo identificado, suas causas e seus efeitos. De acordo com
a metodologia da APP, os cenários de acidente devem ser classificados em categorias de
frequência, as quais fornecem uma indicação qualitativa da frequência esperada de ocorrência
para cada cenário identificado como mostra o Quadro 2.
Faria (2010) menciona que essa avaliação de frequência poderá ser determinada pela
experiência dos componentes do grupo ou por banco de dados de acidentes. A possibilidade
leva em consideração o número de pessoas expostas, a frequência e duração da exposição ao
perigo, falhas de componentes e dispositivos de segurança, proteção proporcionada por
equipamento de proteção individual (EPI) e equipamento de proteção coletiva (EPC), e
também erros não intencionais ou violações de procedimentos cometidos por pessoas.
Faria (2010) destaca que os cenários de acidente também devem ser classificados em
categorias de severidade, as quais fornecem uma indicação qualitativa da severidade esperada
de ocorrência para cada um dos cenários identificados como mostra o Quadro 3.
Quadro 3 – Categorias de Severidade dos Perigos Identificados
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizado um estudo de campo em uma
empresa de engenharia civil com atuação em duas frentes de trabalho. Foram identificados os
perigos existentes para o profissional pedreiro em várias etapas do processo de execução de
um barracão industrial e em uma barreira New Jersey em rodovia.
Para identificação dos perigos foi realizado um levantamento fotográfico de diferentes
momentos do processo construtivo, com indicação das situações que inspiram cuidados
quanto à segurança. A partir dos perigos identificados foram levantados os riscos
correspondentes a cada um, e então classificados quanto ao grau de risco a partir da análise da
severidade e probabilidade de ocorrência. Os resultados dessa avaliação foram comparados
para indicação de critérios orientadores para aplicação das normas de segurança do trabalho.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos perigos fotografados e identificados nas etapas do processo foram
levantados os riscos, causas e consequências, e sistematizados na planilha de Análise
Preliminar de Risco (APR). Por se tratar de uma APR de obra de construção, a análise possui
um tempo de execução diferenciado para cada situação, foi utilizado, portanto, para
determinação da frequência de ocorrência o período de execução da obra.
4.1 APR na construção do barracão comercial
Tendo como referência as informações que constam nos quadros 2, 3 e 4, foi
determinado o grau de risco em função da frequência e severidade da ocorrência. Para cada
perigo levantado foi criada uma APR que passam a serem descritas na sequência.
Quadro 5 – APR Construção do Barracão Comercial (Perigos 1, 2 e 3)
PERIGO RISCOS CAUSA CONSEQUÊNCIA F S R
QUEIMADURA 5 1 5
CONDIÇÃO
CLIMÁTICA - CALOR
DESIDRATAÇÃO 4 1 4
TRABALHO A CÉU
1 ABERTO
FÍSICO
ULCERAÇÃO 2 1 2
CONDIÇÃO
CLIMÁTICA – FRIO DOENÇAS
3 2 6
RESPIRATÓRIAS
LESÃO: PROJEÇÃO DE
5 1 5
PARTÍCULAS
MANUSEIO DA
CORTE 4 2 8
TRABALHO DE POLICORTE
2 CARPINTARIA AMPUTAÇÃO DE
ACIDENTE 2 4 8
MEMBRO
MANUSEIO DE PERFURAÇÃO 5 1 5
PREGO
MANUSEIO DE ESMAGAMENTO 4 1 4
MARTELO
CHOQUE LEVE 5 1 5
CHOQUE POR
TRABALHO COM
3 ELETRICIDADE
ACIDENTE CONTATO COM PARADA CARDÍACA 2 4 8
CORRENTE ELÉTRICA
MORTE 1 5 5
QUEDA DE
ACIDENTE FRATURA 3 3 9
FERRAMENTA
ARMAZENAMENTO
4 ESMAGAMENTO 3 1 3
DE FERRAMENTAS
DORES MUSCULARES 4 1 4
LEVANTAMENTO DE
ERGONÔMICO
CARGA LOMBALGIA/ENTORSE/
4 2 8
TORCICOLOS
ACÚMULO DE
PICADA POR ANIMAIS 4 2 8
ENTULHO
POÇO ABERTO NÃO
QUEDA COM TRAUMA 2 2 4
SINALIZADO
ORGANIZAÇÃO E CHOQUE ELÉTRICO 4 3 12
ASSEIO DO FIAÇÃO ELÉTRICA
5 ACIDENTE
CANTEIRO DE DESPROTEGIDA
OBRAS INCÊNDIO 2 4 8
PISO IRREGULAR E
QUEDA COM TRAUMA 4 2 8
OU OBSTRUÍDO
CIRCULAÇÃO DE ATROPELAMENTO 2 3 6
VEÍCULO
ESCORAMENTO DE DESMORONAMENTO
7 ACIDENTE FRATURA 2 3 6
LAJE DE LAJE
SOTERRAMENTO 1 4 4
DISTURBIO
2 2 4
OSTEOMUSCULAR
VIBRAÇÃO
FÍSICO LABIRINTITE 2 2 4
CONCRETAGEM
COM CONCRETO
8 RUÍDO PERDA AUDITIVA 2 3 6
USINADO -
MANGOTE
LESÃO PROJEÇÃO DE
2 2 4
ESTOURO DO PARTÍCULAS
ACIDENTE
MANGOTE
LESÃO OCULAR 2 2 4
DORES MUSCULARES 5 1 5
LEVANTAMENTO
DE CARGA E LOMBALGIA/ENTORSE/
10 USO DA CARRIOLA ERGONÔMICO 3 2 6
POSTURA TORCICOLOS
INADEQUADA
HÉRNIA 2 3 6
DORES MUSCULARES 4 1 4
LEVANTAMENTO
DE CARGA E LOMBALGIA/ENTORSE/
ERGONÔMICO 3 2 6
POSTURA TORCICOLOS
INADEQUADA
HÉRNIA 2 3 6
MANUSEIO E
11 ASSENTAMENTO DE CORTES 4 2 8
TIJOLOS QUEDA DE
TIJOLOS
ACIDENTE TRAUMAS 3 2 6
PROJEÇÃO DE
LESÃO OCULAR 4 2 8
PARTÍCULAS
CONTATO COM
QUÍMICOS DERMATITE 4 2 8
CIMENTO E CAL
CONTATO COM
QUÍMICO DERMATITE 4 2 8
CIMENTO E CAL
EXECUÇÃO DE PROJEÇÃO DE
12 ACIDENTE LESÃO OCULAR 4 2 8
REBOCO PARTÍCULAS
POSTURA
ERGONÔMICO DORES MUSCULARES 4 1 4
INADEQUADA
Fonte: Os Autores (2016).
DORES MUSCULARES 4 1 4
LEVANTAMENTO
DE CARGA E LOMBALGIA/ENTORSE/
ERGONÔMICO 4 2 8
POSTURA TORCICOLOS
INADEQUADA
HERNIA 2 3 6
MONTAGEM DE
13
ANDAIMES
PRENSAGEM 4 1 4
TRANSPORTE E
ACIDENTE MONTAGEM DE TRAUMA 3 2 6
PEÇAS
FRATURA 2 3 6
TRAUMA 4 1 4
QUEDA POR PISO
IRREGULAR E OU
ACIDENTE FALTA DE FRATURA 2 3 6
PROTEÇÃO NA
EXECUÇÃO DE LAJE
MORTE 1 5 5
TRAUMA 4 2 8
TRABALHO EM
14
ALTURA QUEDA DE
ACIDENTE FRATURA 4 3 12
ANDAIME
MORTE 3 5 15
QUEDA DE TRAUMA 4 1 4
ACIDENTE FERRAMENTA DO
ANDAIME FRATURA 3 3 9
POSTURA DORES
ERGONÔMICO 4 1 4
INADEQUADA MUSCULARES
LESÃO OCULAR 3 2 6
RECORTE DE PEÇAS PROJEÇÃO DE
16
CERÂMICAS PARTÍICULAS
ESCORIAÇÕES 4 1 4
ACIDENTE
CORTE 4 2 8
MANUSEIO DA
POLICORTE
AMPUTAÇÃO 2 4 8
CONTATO COM
QUÍMICO DERMATITE 4 2 8
ASSENTAMENTO DE ARGAMASSA
17
PISOS E AZULEJOS ESFORÇO POSTURA DORES
ERGONÔMICO 4 1 4
INADEQUADA MUSCULARES
Fonte: Os Autores (2016).
CONDIÇÃO QUEIMADURA 5 1 5
CLIMÁTICA -
CALOR DESIDRATAÇÃO 4 1 4
TRABALHO A CÉU
1 FÍSICO
ABERTO
ULCERAÇÃO 2 1 2
CONDIÇÃO
CLIMÁTICA - FRIO DOENÇAS
3 2 6
RESPIRATÓRIAS
PROBLEMAS
QUÍMICO POEIRA E FUMAÇA 3 2 6
RESPIRATÓRIOS
ATROPELAMENTO COM
3 2 6
ESCORIAÇÕES
ATROPELAMENTO COM
3 3 9
TRÁFEGO DE TRAUMAS
VEÍCULOS ATROPELAMENTO COM
2 4 8
AMPUTAÇÕES
TRABALHO EM ATROPELAMENTO COM
2 ACIDENTE 1 5 5
RODOVIA MORTE
TRABALHO EM PISO ENTORSE 4 2 8
IRREGULAR E COM
VARIAÇÃO DE
NÍVEL QUEDA COM FRATURA 3 3 9
ANIMAIS
PICADAS 4 2 8
PEÇONHENTOS
LEVANTAMENTO DORES MUSCULARES 4 1 4
DE CARGA E
ERGONÔMICO
POSTURA LOMBALGIA/ENTORSE/
INADEQUADA 4 2 8
TORCICOLOS
Fonte: Os Autores (2016).
CONTATO COM
QUÍMICO DERMATITE 4 2 8
NIVELAMENTO DE CONCRETO
3 BASE EM CONCRETO
DORES MUSCULARES 5 1 5
POSTURA
ERGONÔMICO
INADEQUADA LOMBALGIA/ENTORSE/TOR
4 2 8
CICOLOS
TRABALHO SOBRE
LESÃO POR QUEDA 3 3 9
MÁQUINA
DORES MUSCULARES 5 1 5
POSTURA
ERGONÔMICO
INADEQUADA LOMBALGIA/ENTORSE/TOR
4 2 8
CICOLOS
O perigo 4 (Quadro 12) trata dos riscos relativos a atividade executada ao lado de
caminhão betoneira em movimento. O risco físico é relativo ao ruído gerado pelo caminhão e
pode ser minimizado com o uso de protetores auriculares. Os riscos de acidentes possuem
moderada probabilidade de ocorrência enquadrando-se entre os graus tolerável até moderado.
No perigo 5 (Quadro 12) foi analisado o uso do maquinário específico para extrusão de
concreto, os riscos relativos ao uso deste maquinário são de natureza física, ergonômica e de
acidente. A máquina produz um ruído elevado gerando um risco físico tolerável, uma vez que
a perda auditiva é uma consequência que pode ser evitada com o uso de EPI adequado. O
risco que apresenta maior possibilidade de ocorrência é de natureza ergonômica tendo como
causa a postura inadequada, gerando lesões osteomusculares com graus que variam de
tolerável a moderados. Os riscos de acidente tem como principal causa a própria extrusora.
Uma adequação da máquina com equipamentos de proteção coletiva poderia minimizar os
riscos de acidente retratados no quadro.
Nota-se que o percentual de ocorrência na distribuição por tipo e grau de risco é muito
semelhante nas duas frentes de trabalho analisadas. Cabe observar que a maior concentração
dos riscos está na classificação de grau 2 (tolerável) e grau 3 (moderado) em ambas as frentes
de trabalho. Outra análise realizada tem por base o percentual de responsabilidade pela
ocorrência dos acidentes conforme o Quadro 14.
Quadro 14 – Percentual da Responsabilidade pela Ocorrência.
CONSTRUÇÃO CIVIL NEW JERSEY
TOTAL 13 16 41 51 26 33 12 44 9 33 6 22
Fonte: Os Autores (2016).
AGUIAR, Laís Alencar de. Metodologias de Análise de Riscos APP & HAZOP, 2014.
Disponível em:
<http://professor.ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/13179/material/APP_e_HAZOP.
pdf>. Acessado em 28/10/2014.
SINTRACON, SP. Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Estudos sobre acidentes
do trabalho no setor da construção civil de São Paulo. Disponível em:
<http://www.sintraconsp.org.br/NoticiasZoom.asp?RecId=1905&RowId=71070000&Tipo>.
Acessado em 04/10/2014.