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FUNDAMENTOS DA PESQUISA SOCIAL

Significados e perspectivas no processo de pesquisa

Michael Crotty

INTRODUÇÃO:

O PROCESSO DE PESQUISA

O que costuma ser chamado de “scaffolded1 learning” é de uma abordagem de ensino


e aprendizagem que, cuidadosamente fornece uma moldura ou estrutura inicial para o
aprendiz e, posteriormente permite que o aluno estabeleça suas próprias estruturas de
aprendizado permanentes. Desta forma, vale ressaltar que o que for apresentado neste texto,
não deve ser visto como uma construção permanente do processo em pesquisa social, mas
como uma mera moldura que serve como guia para aqueles que desejam explorar este campo
da pesquisa.

Estudantes de pesquisa, pesquisadores principiantes e certamente os mais


experientes, costumam ficar perplexos com a variedade de metodologias e métodos de
pesquisa disponíveis. Tais métodos e metodologias não costumam ser apresentados de uma
maneira organizada, fazendo com que pareçam mais labirintos do que caminhos para uma
pesquisa sistemática. Há uma base filosófica extensa disponível nessa área, no entanto não há
clareza sobre quais métodos são vinculados a este extenso conhecimento filosófico. Além
disso, a terminologia também costuma se apresentar inconsistente nos textos que compõem a
literatura sobre pesquisa e Ciências Sociais. Por fim, os mesmos termos são utilizados de
maneiras distintas e muitas vezes contraditórias.

Em resposta a este predicamento, apresento aqui uma maneira transparente e


plausível para utilizar estes termos e compreender o que está envolvido no processo de
pesquisa social. Não se trata da única maneira correta nas quais tais termos são utilizados, pois
é apenas uma “moldura”, um scaffolding, e não uma construção finalizada, como um edifício
por exemplo. Seu objetivo principal é prover aos pesquisadores um guia estável para
compreender o processo de pesquisa e para poder aplicá-lo em seus próprios propósitos de
pesquisa.

QUATRO ELEMENTOS

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Scaffolding é um termo em inglês de engenharia civil, que denota a colocação de andaimes e outras estruturas para
suportar temporariamente trabalhadores de maquinário enquanto a construção definitiva não está pronta. Esse mesmo
termo é usado em programação para indicar que o código a que se refere é apenas um esqueleto usado para tornar a
aplicação funcional, e se espera que seja substituído por algoritmos mais complexos à medida que o desenvolvimento
da aplicação progride.

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Como ponto inicial, sugere-se que, ao desenvolver uma proposta de pesquisa, um
esforço considerável seja aplicado a fim de que possamos responder duas perguntas
primordiais. Primeiramente, quais métodos e metodologias serão aplicados na proposta que
pretendemos desenvolver? Em segundo lugar, como podemos justificar a escolha e uso destes
mesmos métodos e metodologias escolhidos? A resposta para a segunda pergunta se
assemelha com o propósito da nossa pesquisa, em outras palavras, com a pergunta que nossa
pesquisa busca responder. Com isso, precisamos utilizar um processo que seja capaz de
cumprir com estes propósitos e obviamente responder a questão da pesquisa.Porém a
pesquisa não se resume à somente isso. Uma justificativa para nossa escolha e, em particular
ao uso da metodologia e métodos escolhidos, é algo que atinge o pressuposto sobre a
realidade que se traz ao nosso trabalho, pois investigar esses pressupostos é também
investigar sobre nossas perspectivas teóricas na pesquisa.

A pesquisa também atinge nossa própria percepção do que é o conhecimento


humano, quais são suas implicações, e o status que pode ser atribuído a ele. Que tipo de
conhecimento vamos atingir com nossa pesquisa? Quais são as características que acreditamos
que o conhecimento tem? Podemos também tocar em um ponto crucial ao questionar como
os observadores de nossa pesquisa, por exemplo, leitores de nossas teses e relatórios de
pesquisa, devem considerar os resultados que colocamos diante deles. Por fim discutimos a
razão pela qual nossos leitores deveriam considerar nossos resultados seriamente. Estas e
outras perguntas compõem algumas das questões epistemológicas presentes em uma
pesquisa.

Até agora, nossos dois primeiros questionamentos já se expandiram, desenvolvendo


então as quatro perguntas a seguir:

 Quais são os métodos que nos propomos a utilizar?


 Qual metodologia governa nossa escolha e utilização desses métodos?
 Qual perspectiva teórica está por traz da metodologia em questão?
 Qual epistemologia informa esta perspectiva teórica?

Juntamente com essas quatro questões, há elementos básicos de qualquer processo


de pesquisa cuja assimilação correta é vital (para o sucesso do mesmo).

 Métodos: Técnicas ou procedimentos utilizados para reunir e analisar dados


relacionados à questão de pesquisa ou hipótese.
 Metodologia: Estratégia, plano de ação, processo ou design que está por traz
da escolha e utilização de métodos específicos para atingir os resultados
desejados.
 Perspectiva Teórica: Postura filosófica que preenche a metodologia, provendo
um contexto ao processo e fundamentos ao seu critério e lógica.
 Epistemologia: Teoria do conhecimento embutida na perspectiva teórica e
consequentemente na metodologia da pesquisa.

Em textos sobre pesquisa social, grande parte da discussão e terminologia se relaciona


de alguma forma com esses quatro elementos. O que ocorre, todavia, é que diferentes partes
destes processos são dispostos juntos de forma aleatória, mas como se fossem passiveis de

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comparações. É comum encontrarmos, por exemplo, interacionismo simbólico, etnografia e
construcionismo, dispostos juntos como “metodologias”, “abordagens”, “perspectivas” ou algo
do gênero. A comparação/ agrupamento de tais termos não é recomendável uma vez que
agrupar tais termos seria como combinar molho de tomate, condimentos e mercadorias em
uma mesma sacola de mercado. Certamente há quem diga que molho de tomate é uma forma
de condimento e condimentos são considerados mercadorias, como também há quem se sinta
encorajado a classificar os elementos quanto se depara com itens como interacionismo
simbólico, etnografia e construcionismo dispostos juntos em um texto.

Em resumo, Etnografia é uma metodologia. É um dos muitos designs de pesquisa que


guia um pesquisador a escolher seus métodos e modelá-los. Interacionismo Simbólico é uma
perspectiva teórica que se relaciona com uma série de metodologias, incluindo alguns tipos de
etnografia. Como perspectiva teórica, trata-se de uma abordagem para compreender e
explicar a sociedade e o mundo humano que também sedimenta uma série de suposições que
os pesquisadores do interacionismo simbólico costumam trazer para suas metodologias
escolhidas. Construcionismo é uma epistemologia incorporada em muitas perspectivas
teóricas, incluindo o interacionismo simbólico como é comumente compreendido. E como
visto anteriormente, epistemologia é uma maneira de compreender e explicar como sabemos
o que sabemos. Em suma, o que todas essas definições nos sugerem é que interacionismo
simbólico, etnografia e construcionismo precisam estar relacionados, mas não somente
dispostos um ao lado do outro como passiveis de meras comparações ou ainda competindo
como abordagens ou perspectivas.

Até então temos epistemologias, perspectivas teóricas e metodologias. Se


adicionarmos estes termos em métodos, temos então quatro elementos que se definem e se
preenchem como ilustrados na Figura 1.

Figura 1

epistemologia

perspectiva teórica

metodologia

métodos

Uma forma de construcionismo é a O tipo de epistemologia encontrada, ou pelo


menos alegada, em muitas perspectivas que não são aquelas que representam paradigmas
positivistas e pós-positivas. Como visto anteriormente, a epistemologia geralmente
encontrada no interacionismo simbólico tem caráter construcionista. Desta forma, para
resumir os quatro itens discutidos, teríamos que desenhar uma seta que se inicia no

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construcionismo e vai até o interacionismo simbólico para indicar esta relação. A etnografia,
uma metodologia que nasceu inicialmente da antropologia e da teoria antropológica, tem sido
adotada pelo interacionismo simbólico e adaptada à suas necessidades. Por essa razão, nossa
próxima seta se inicia no interacionismo simbólico e vai até etnografia. A etnografia também
apresenta seis métodos de preferência, mas a observação tem sido escolhida em primeira
instância. Com isso desenhamos mais uma seta, formando um exemplo específico de uma
epistemologia, de uma perspectiva teórica, de uma metodologia e um método, cada um
especificando e complementando o próximo item como sugerido na Figura 2.

Os livros textos descrevem várias posições epistemológicas, um número significativo


de posições teóricas, muitas metodologias e inúmeros métodos. Como uma tentativa de listar
uma amostra representativa de cada categoria, crio nossa Tabela de número 1, incluindo assim
diversos “etceteras” na tabela para não evitar uma listagem exaustiva de termos.

Figura 2

Construcionismo

Interacionismo simbólico

Etnografia

Observação do participante

A fim de denotar uma possível sequência na tabela, uma seta que inicia em
“objetivismo” poderia ser desenhada. Trata-se de uma visão epistemológica onde as coisas
existem como entidades significativas independente da experiência e consciência, e que
possuem significado e veracidade que residem nela como objetos (“objetivo”, verdade e
significado), e podem como pesquisa minuciosa (científica?) conquistar seu verdadeiro
objetivo e significado apresentando assim a epistemologia que sustenta a posição positiva.

Tabela 1

Epistemologia Perspectiva Teórica Metodologia Métodos


Objetivismo Positivismo (e pós-positivismo) Pesquisa Amostra
Construcionismo Interpretivismo Experimental Medição e escalas
Subjetivismo  Interacionismo simbólico Pesquisa de opinião Questionário
(e suas variantes)  Fenomenologia Etnografia Observação
 Hermenêutica Pesquisa  Participante
 Investigação Crítica Fenomenológica  Não-participante
 Feminismo Teoria fundamentada Entrevista
 Pós-modernismo Investigação Grupo de foco
etc Heurística Estudo de caso
Pesquisa-ação História de vida
Análise do discurso Narrativa
Pesquisa do ponto de Métodos visuais etnográficos
vista feminista Análise estatística
etc Redução de dados
Identificação do tema
Análise comparativa
Mapeamento cognitivo
Métodos interpretativos

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Análise de documentos
Análise de conteúdo
Análise de conversação
etc

Pesquisas desenvolvidas em espírito positivista podem se engajar em pesquisa de


opinião e aplicar o método quantitativo de análise estatística (Fig. 3). E novamente as setas
atravessam as colunas iniciando-se do primeiro item ao ultimo.

Figura 3

Objetivismo

Positivismo

Pesquisa de Opinião

Análise Estatística

Qual é o propósito destes quatro elementos?

Eles podem nos auxiliar a verificar a validade da nossa pesquisa fazendo com que
nossos resultados se tornem mais convincentes. E como visto anteriormente sobre a
necessidade de se justificar as metodologias e métodos aplicados em nossa pesquisa; e
apresentar nosso processo de pesquisa através desses quatro elementos nos permite fazer
isso, pois se trata de uma análise sagaz do processo e aponta para as suposições teóricas
determinando o status de nossas descobertas.

Como podemos então esquematizar nossa proposta de pesquisa nesses termos?

MÉTODOS DE PESQUISA

Primeiramente descrevemos as técnicas concretas ou procedimento que planejamos


utilizar, e para agrupar e analisar nossos dados precisamos nos engajar em certas atividades e
estas atividades são chamadas de Métodos de Pesquisa.

Dado nosso objetivo de identificar e justificar nosso processo de pesquisa; é


importante que descrevamos tais métodos minuciosamente. Não falemos apenas sobre
“conduzir entrevistas”, mas indiquemos, em mínimos detalhes, quais tipos de pesquisa vamos
utilizar, que técnicas de entrevista vamos utilizar e em que tipo de ambiente as entrevistas
serão conduzidas. Não falemos apenas sobre a “observação do participante”, mas
descrevamos que tipo de observação irá ocorrer e que grau de participação ocorrerá. Que não
apenas “identifiquemos temas em nosso banco de dados”, mas que mostremos o que
compreendemos por temas, como nossos temas emergem, como são identificados, e o que
faremos com eles quando os identificamos.

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Agora descreveremos nossas estratégias e planos de ação. Trata-se do design de
pesquisa que modela nossas escolhas e uso de métodos em particular, que se ligam aos
resultados desejados. Tais estratégias não se resumem apenas em uma descrição da
metodologia, mas também em um raciocínio de nossas escolhas de métodos e das formas em
que os métodos serão aplicados. A investigação etnográfica, por exemplo, na luz do
interacionismo simbólico, busca descobrir significados e percepções no que diz respeito às
pessoas que participam da pesquisa, analisando tais percepções, como pano de fundo da
compreensão geral das pessoas sobre o mundo ou sobre “cultura”. Nesta mesma linha de
abordagem, o pesquisador se esforça para ver as coisas através da perspectiva dos
participantes, e isto é o que por fim dá sentido na intenção de um pesquisador em conduzir
entrevistas não estruturadas e utilizar formas não diretivas para questionar seus participantes.

PERSPECTIVA TEÓRICA

É neste momento que descrevemos nossa posição filosófica que está por traz de nossa
metodologia escolhida, explicando como ela provê contexto para todo o processo e
fundamenta seu critério e sua lógica.

Inevitavelmente, incluímos diversas suposições em nossos métodos escolhidos, e com


isso precisamos estabelecer que suposições são essas. Fazemos isso quando elaboramos
nossas perspectivas teóricas, trazendo nossas suposições em função da pesquisa e refletidas
na metodologia, como a compreendemos e a aplicamos. Por exemplo, se nos engajamos em
uma forma de investigação etnográfica e agrupamos dados através da observação de
participantes, que suposições estão embutidas nesse procedimento? Pela natureza da
observação de participantes, algumas suposições estão relacionadas à questões de linguagem,
inter-subjetividade e comunicação. Como é possível, então perceber tais suposições e justificá-
las? Desta forma, quando expomos nossas perspectivas teóricas, ou seja, nossas visões do
mundo humano e da vida social dentro deste mundo, tais suposições são fundamentadas.

Interacionismo simbólico é uma perspectiva teórica que fundamenta tais suposições


de uma maneira mais explicita, lidando diretamente com questões como linguagem,
comunicação, inter-relações e a comunidade. Iremos aprender mais profundamente, no
capítulo 4, que o interacionismo simbólico trata das interações sócias básicas através do qual
nós classificamos as percepções, atitudes e valores de uma comunidade, tornando-nos pessoas
neste processo. Trata-se da noção/capacidade de compreendermos a realidade dos outros (de
nos colocarmos no lugar de outra pessoa); noção essa que já expressamos quando detalhamos
nossa metodologia e fornecemos a escolha e forma dos nossos métodos.

EPISTEMOLOGIA

Por fim, precisamos descrever a epistemologia inerente na perspectiva teórica e


consequentemente na metodologia que escolhemos. A perspectiva teórica que descrevemos é
uma maneira de olhar para o mundo de atribuir sentido a ele. Isto envolve conhecimento e
como conseqüência incorpora uma certa compreensão do que é conferido saber ou seja de
como sabemos o que sabemos. A epistemologia lida com a “natureza do conhecimento”, suas
possibilidades, bases gerais e escopo (Hamlyn 1995, pg.242). Maynard (1994, p.10) explica a
relevância da epistemologia para que somos aqui: “A Epistemologia se preocupa em prover

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uma fundamentação teórica para decidir quais tipos de conhecimento são possíveis e como
podemos assegurar que sejam adequados e legítimos”. Percebe-se ai então a necessidade de
identificar, explicar e justificar a postura epistemológica que decidimos adotar.

Há obviamente uma série de epistemologias distintas. Para iniciar há o Objetivismo


(epistemologia objetivista) que mantém o significado, e consequentmente a realidade do
significado que existe aparte da operação de consciência. Por exemplo, uma árvore na floresta
é uma árvore independente de qualquer pessoa estar consciente de sua existência, e como um
objeto de um tipo/categoria (“objetivamente”) carrega o significado intrínseco de “ser árvore”.
E quando os humanos começam a reconhecer tal objeto com uma árvore, eles estão apenas
descobrindo um significado que já estava disponível. Desta forma poderíamos abordar nossa
pesquisa etnográfica desta maneira, pois muitas das pesquisas desta natureza são conduzidas
desta forma. Por fim, com esta visão objetivista de “o que significa saber”, compreensões e
valores são considerados “objetivados” nas pessoas que estudamos e se conduzirmos tal idéia
da maneira correta, podemos descobrir sua verdade objetiva.

Outro tipo de epitemologia, o Construcionismo rejeita a visão do conhecimento


humano, ou seja: Não há verdade objetiva esperando ser descoberta. A verdade ou significado
passam a existir dentro e fora de nosso engajamento com as realidades em nosso mundo. Não
há significado sem uma mente. O significado não é descoberto e sim construído. Através dessa
compreensão do que é conhecimento, fica claro compreender como pessoas diferentes
podem construir significados de maneiras diferentes sobre um mesmo fenômeno. Não se
trata do mesmo fenômeno quando passamos a viver em uma nova era ou sob uma nova
perspectiva cultural? Através desse pensamento, sujeito e objeto emergem como parceiros na
geração do significado.

Iremos discutir o objetivismo no contexto do positivismo e pós-positivismo, e,


trataremos de construcionismo no capítulo 3, uma vez que se trata de uma epistemologia que
pesquisadores qualitativos costumam executar. Uma terceira postura epistemológica, o
subjetivismo vem à frente de formas de pensamentos estruturalistas, pós-estruturalistas e
pós-modernistas (e costuma ser o que as pessoas descrevem quando falam de construtivismo).
No subjetivismo, o significado não é gerado a partir da relação entre sujeito e objeto, mas é
imposto ao objeto pelo sujeito, e o objeto não traz nenhuma contribuição para a geração do
significado. Torna-se, então, tentador afirmar que no construcionismo, o significado é
construído por algo (o objeto), enquanto que no subjetivismo o significado é criado a partir do
nada. No entanto, nós humanos, não somos tão criativos assim, pois, mesmo no subjetivismo,
nós criamos significado a partir de algo, e importamos significado de outros lugares. O
significado que relacionamos ao objeto pode ser proveniente dos nossos sonhos, ou de
arquétipos que localizamos dentro de nosso inconsciente coletivo, ou também de uma junção
e aspectos dos planetas, de crenças religiosas ou de...., em outras palavras, significado vem de
qualquer origem que não seja de uma interação entre sujeito e objeto no qual está
relacionado.

Espero que o que já foi dito aqui nos ajude a perceber que a epistemologia sustenta
poderosamente nossa abordagem de pesquisa. Todavia, as três maneiras das quais nos
referimos até agora não devem ser vistas como completas e suficientes, pois muito mais pode

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ser dito sobre as posições epistemológicas. Há verdade objetiva que precisa e pode ser
identificada com precisão e certeza? Ou, há apenas maneiras organizadas pelos humanos de
ver coisas cujos processos precisamos explorar e podemos apenas compreender através de um
processo similar de produção de significado? Esta produção de significado é um ato
essencialmente subjetivo independente do seu objeto, ou ambos sujeitos e objetos
contribuem para a construção do significado? Embutidos em tais questões, está uma gama de
posições epistemológicas e cada uma delas implica uma diferença profunda em como fazemos
nossas pesquisas e como apresentamos nossos resultados de pesquisa.

E A ONTOLOGIA?

Na literatura sobre pesquisa, há freqüente menção sobre a ontologia e você deve estar
se perguntando por que a ontologia não está incluída no esquema que desenvolvemos até
agora. A Ontologia é o estudo do ser, que se preocupa com “o que é”, com a natureza da
existência, com a estrutura da realidade como é. Se introduzíssemos ontologia em nosso
esquema, estaria presente ao lado de epistemologia e informaria a perspectiva teórica, uma
vez que cada perspectiva teórica incorporaria uma maneira de compreender O que é
(Ontologia) assim como uma maneira de compreender O que significa saber (Epistemologia).

Assuntos ontológicos e epistemológicos costumam surgir juntos. Baseando-se no que


nossa terminologia já nos indicou; falar sobre a construção do sentido é o mesmo que falar
sobre construção de uma realidade significativa. Devido à afluência de ambas as idéias;
escritores da literatura de pesquisa têm dificuldades em distinguir os dois termos e seus
conceitos. O realismo, por exemplo, (noção ontológica que afirma que as realidades existem
fora da mente) costuma lembrar objetivismo (noção epistemológica que afirma que o
significado existe nos objetos, independente de alguma consciência), e em alguns casos até
vemos realismo identificado com subjetivismo. Guba e Lincoln (1994, p. 108) certamente
apresentam um link necessário entre os dois quando afirmam que, por exemplo, se uma
realidade “real” é suposta, a postura do “conhecedor (da realidade)” deve ser a de alguém
com desprendimento objetivo ou liberdade de valores para que ele seja capaz de descobrir
“como as coisas realmente são” e “como as coisas realmente funcionam”. No capítulo a seguir,
vamos conhecer um grupo vasto de especialistas no assunto que discordam com tal posição.
Heidegger e Merleau-Ponty, por exemplo, costumam afirmar que “o mundo já existe”, no
entanto não são considerados objetivistas.

A verdade seja dita, o mundo já existe independente dos humanos estarem


conscientes disso ou não. Como afirma Macquarrie (1973, p.57): Se não houvessem seres
humanos, ainda haveria galáxias, arvores, pedras etc...e certamente tudo isso existiu durante
os longos períodos anteriores à evolução do Homo Sapiens, ou de qualquer outra espécie
humana que pode já ter existido na terra”. Mas então, que mundo existia antes do
engajamento dos seres conscientes? Muitos poderiam afirmar que não se tratava de um
mundo inteligível, muito menos de um mundo de significado, pois o mundo só se torna um
mundo de sentido quando seres capazes de produzir sentido, criam sentido ao mundo.

Através desse ponto de vista, aceitar que o mundo e que as coisas no mundo existem
independentes de nossa consciência, não significa que o significado existe independente da
consciência, como afirmam Guba e Lincoln. A existência de um mundo sem uma mente é

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concebível, todavia significado sem uma mente não é. O realismo na ontologia assim como o
construcionismo na epistemologia são muito compatíveis, desta forma temos um exemplo de
como assuntos ontológicos e epistemológicos surgem juntos. Partindo dessa idéia, o que me
parece é que podemos lidar com assuntos ontológicos assim que eles surgem sem ter a
necessidade de expandir nosso esquema e ter de incluir ontologia em nossa tabela.

Confirmamos tal fato quando analisamos a literatura que enfatiza a importância da


dimensão ontológica na pesquisa. Blaikies (1993, p.6), por exemplo, reconhece que a origem
da definição de ontologia é a de que é “a ciência ou estudo do ser”, no entanto, para fins de
nossa discussão atual, o autor associa ontologia como sendo “a declaração ou suposição que
uma dada abordagem, à investigação social, faz sobre a natureza da realidade” (p.6), definição
essa que parece adequável ao contexto. No entanto, precisamos reconhecer que não se trata
mais da ontologia no sentido filosófico. O termo que Blaikie usa, corresponde vagamente ao
que eu e você chamamos de “perspectiva teórica”, pois se refere à como o mundo é visto por
alguém. Blaikie afirma que positivismo “exige uma ontologia de um universo ordenado feita de
eventos atomísticos discretos e observáveis” (p. 94). Ele também afirma que, na ontologia do
racionalismo crítico (abordagem lançada por Karl Popper), natureza e vida social “são
consideradas como compostas de uniformidades essenciais” (p. 95). Por fim, o autor também
afirma que interpretivismo “implica uma ontologia onde realidade social é compreendida
como o produto dos processos pelos quais atores sociais, juntos, negociam os significados das
ações e situações” (p.96), e isso faz com que o significado de ontologia seja mais alongado e vá
além de suas fronteiras.

Seria mais apropriado manter o uso de “perspectiva teórica” e reservar o termo


“ontologia” para aquelas ocasiões em que precisamos falar do “ser”, pois isso é algo que não
podemos evitar fazer quando lidamos com, digamos, a filosofia de Martin Heidegger, pois se
trata de uma ontologia radical que precisa ser manipulada utilizando termos estritamente
ontológicos.

Na Idade Média, o grande debate ontológico se dava entre realistas e nominalistas


envolvendo a realidade extramental, ou irrealidade das “idéias universais”. Será que há apenas
seres humanos (indivíduos) ou, será que a “humanidade” possui existência também? A
humanidade por si denota uma realidade no mundo ou é algo que existe apenas na mente?
Em séculos mais recentes, o principal debate ontológico se dá entre realistas e idealistas, e se
preocupa com a realidade extramental, ou irrealidade de qualquer coisa, seja o que for.
Mesmo que nenhum desses debates seja irrelevantes para uma análise do processo de
pesquisam, ainda parece que os assuntos ontológicos podem ser adereçados sem que
alteremos nosso “esquema de quatro colunas” e que sejamos capazes de abordar ontologia.

EM TODAS AS DIREÇÕES

Bom, agora podemos retornar às nossas setas. Já desenhamos setas da esquerda para
a direita, de um item em uma coluna apontando para outro item em outra coluna à direita,
podendo assim nos sentir livres para seguir em muitas direções. No entanto, há algumas
restrições sobre onde essas setas que vão da esquerda para a direita devem ser posicionadas,
e qualquer limitação existente parece sempre se relacionar com as primeiras duas colunas.
Precisamos primeiramente rejeitar o desenho de uma seta que vai do construcionismo ou

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subjetivismo até o positivismo (ou pós-positivismo), uma vez que positivismo é objetivista por
definição. Sem uma epistemologia objetivista detalhada, positivismo não seria positivismo
como o compreendemos, e nós nem gostaríamos de desenhar uma seta partindo do
objetivismo ou subjetivismo até a fenomenologia. Construcionismo e fenomenologia estão tão
entrelaçados que um mal poderia ser fenomenológico enquanto sustenta uma epistemologia
objetivista ou subjetivista. Além disso, o pós-modernismo descarta muito bem quaisquer
vestígios de uma visão objetivista do conhecimento de significado. Ao desenharmos setas de
coluna em coluna podemos pensar que tudo é possível, pois qualquer uma das perspectivas
teóricas poderia fazer uso de qualquer metodologia, formando sequências típicas, como se
pode ver nas Figuras 2 e 3, todavia, vale lembrar que típico não é o mesmo que obrigatório.

Posteriormente podemos desenhar setas que partem de um item em particular até um


ou mais itens da coluna à direita. Historicamente, objetivismo, construcionismo e subjetivismo
costumavam apresentar um número expressivo de diferentes perspectivas separadamente.
Mas, com o tempo, perspectivas teóricas são incorporadas a uma série de metodologias. Um
exemplo disso é o interacionismo simbólico, que define ambas teoria etnográfica (etnografia) e
teoria fundamentada (Grounded Theory/ GT), permitindo-nos assim desenhar setas
interligando tal perspectiva teórica com cada uma de suas metodologias.

Mais uma vez, vale ressaltar que enquanto a investigação crítica certamente se
interliga com a pesquisa-ação, nós podemos também desenhar uma seta que vai da
investigação crítica até a etnografia. Sim, a forma crítica de investigação também acabou se
incorporando à etnografia transformando-a no processo/durante o processo), e com isso passa
a não ser mais uma forma de pesquisa tipicamente acrítica que busca meramente entender
uma cultura. Resumindo, etnografia crítica é uma forma de pesquisa que se esforça para
desmascarar a hegemonia e adereçar forças opressivas, e desta mesma forma pode haver
tipos de etnografia feminista e etnografia pós-modernista também.

Mesmo assim, não devemos exagerar fazendo uso dessa nossa liberdade de desenhar
setas da esquerda para a direita ao ponto de nos esquecer de desenhar setas em outras
direções também, uma vez que nossas setas podem se mover da direita para a esquerda
também. Na tentativa de saber o que define o que; o processo se inicia da esquerda para a
direita e para descrever nossa pesquisa podemos começar em métodos e metodologia,
sugerindo por fim que, para marcar a sucessão cronológica dos eventos em nossa pesquisa, as
setas devem ser desenhadas da direita para a esquerda.

Não são muitos os que embarcam em um projeto de pesquisa social com


epistemologia como ponto de partida. “Eu sou um construcionista, por isso investigarei”
arduamente. Tipicamente começamos com uma questão de vida real que precisa ser
adereçada, um problema que precisa ser solucionado ou uma pergunta que precisa ser
respondida. Planejamos nossa pesquisa em volta desta questão, problema ou pergunta e o
que procuramos descobrir são: Que questões, problemas ou perguntas estão implícitos nas
perguntas iniciais que buscamos responder? Quais são então, a principal meta e os objetivos
da nossa pesquisa? Quais estratégias são mais prováveis de nos prover o que estamos
procurando? Como tal estratégia nos direciona para alcançar nossa meta e objetivos? Dessa

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maneira, nossa questão de pesquisa que incorpora os propósitos da nossa pesquisa nos
conduz até a parte de metodologia e métodos.

Obviamente precisamos justificar nossos métodos e metodologias escolhidos, pois no


fim queremos que nossos resultados sejam dignos de respeito, bem como queremos que os
observadores de nossa pesquisa a classifiquem como profunda, confiável e que suas
conclusões se sobressaiam. Em alguns aspectos da pesquisa (e da verdade), pode parecer que
buscamos objetivos e conclusões válidas e generalizáveis como produto de nossa pesquisa,
mas em outros aspectos isso não é possível, uma vez que o conhecimento humano não
funciona assim. Nossos resultados serão mais sugestivos do que conclusivos, podem ser
plausíveis e até apresentar maneiras convencíveis e úteis de ver as coisas; mas certamente,
não apresentará a única e a primeira maneira de ver as coisas. Podemos ser positivistas ou
não-positivistas, mas de qualquer maneira, precisamos nos preocupar com o processo que nos
engajamos; precisamos apresentar o processo para o escrutínio do observador e, defender tal
processo como uma forma de investigação humana que deve ser levada a sério. Isso faz com
que nos aproximemos de nossas perspectivas teóricas e epistemológicas, expondo-as
incisivamente. Para concluir, lembremos que partimos de métodos e metodologias chegando
em perspectivas teóricas e epistemologia, fazendo com que nossas setas se dirijam agora da
direita para a esquerda em nosso esquema.

Falando nesse sentido como se criássemos uma metodologia para nós mesmos e como
se o foco de nossa pesquisa nos levasse a inventar nossas próprias maneiras de proceder que
nos permitiria alcançar nossos objetivos. Cada projeto de pesquisa é único e requer uma
metodologia única e cabe a nós pesquisadores desenvolvê-las. Mas se esse for o caso, porque
nos preocupamos com o excesso de metodologias e métodos disponibilizados
abundantemente e que parecem mais como a “grande, exuberante e vibrante confusão” de
William James? Não seria mais viável nos concentrarmos em nossos próprios métodos e
projetos? Certamente seria, mas é sempre importante lembrar que um estudo sobre a
maneira como outras pessoas reagem a uma tarefa sobre a investigação humana, será sempre
útil e muitas vezes indispensável. Além disso, pesquisar sobre designs de pesquisas
reconhecidas e suas diversas sustentações teóricas cria uma influencia formativa sobre nós,
nos desperta para maneiras de pesquisa que nunca iríamos ter concebido previamente, e nos
torna mais alertas e sabedores sobre o que é possível se fazer em pesquisa. Ainda assim, não
significa que devemos retirar uma metodologia da prateleira. Devemos nos ambientar com
vários tipos de metodologias, avaliar seus pressupostos, pesar suas virtudes e fraquezas e
depois de fazer tudo isso, ainda temos que moldar/ forjar uma metodologia que irá atender
nossos propósitos específicos de pesquisa. Talvez uma das metodologias já estabelecidas
possa servir para a tarefa que nos confronta; ou talvez nenhuma delas nos sirva e acabaremos
tendo que projetar diversas metodologias e moldando-as de uma maneira que alcance os
resultados que buscamos. Talvez precisaríamos ser mais criativos e criar uma metodologia que
seja considerada nova em diversos aspectos, e mesmo se trilharmos esse caminho de inovação
e invenção, nosso engajamento com as varias metodologias em uso irá ter tido uma função
educacional neste processo.

Até agora temos setas da direita para a esquerda e setas da esquerda para a direita, e
setas debaixo para cima? Sim, são possíveis também. O crítico renomado Jürgen Habermas

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conduziu um debate com o hermenêutico Hans-Georg Gadamer por muitos anos e com esse
debate desenvolveu uma “crítica hermenêutica”; uma teoria crítica que vem para informar
sobre a hermenêutica. Em nosso modelo de quatro colunas, uma seta iria subir na mesma
coluna (“Perspectiva Teórica”), vindo de investigação crítica até hermenêutica, e dessa mesma
maneira poderíamos falar de feminismo crítico ou investigação sobre o feminismo crítico; de
feminismo pós-modernista ou da investigação sobre o pós-modernismo crítico, pois há escopo
suficiente para que as setas subam e desçam em nosso modelo.

A GRANDE DIVISÃO

No modelo que seguimos aqui, você irá perceber que a distinção entre pesquisa
qualitativa e pesquisa quantitativa ocorre em métodos, e não ocorre nos níveis de
epistemologia ou perspectivas teóricas. O que ocorre nesses níveis elevados é uma distinção
entre a pesquisa objetivista/positivista de um lado, e entre pesquisa construcionista ou
subjetivista de outro. Mesmo assim, na maioria dos livros didáticos o que se apresenta são
pesquisa qualitativa e quantitativa em extremos, lados opostos. Assim como, o estudante de
latim aprende desde o principio através das primeiras linhas de “As Guerras Gálicas de César”
que “All Gaul é dividido em três partes”; todo pesquisador principiante aprende que a
pesquisa em si é dividida em duas partes e essas partes são “qualitativa” e “quantitativa”
respectivamente.

Nosso modelo sugere que essa divisão - pesquisa objetivista associada com métodos
quantitativos em oposição à pesquisa construcionista ou subjetivista associada com métodos
qualitativos está longe de ser justificada. Muitas metodologias conhecidas hoje como formas
de “pesquisa qualitativa” foram conduzidas, no passado, de uma maneira totalmente empírica
e positivista, fato esse que se confirma ao percebermos a história remota da etnografia. Por
outro lado, a quantificação não é de forma alguma descartada da pesquisa não-positivista.
Podemos nos considerar devotos dos métodos de pesquisa qualitativos, mas quando
pensamos em investigações conduzidas no curso regular de nossas vidas diárias, com que
freqüência “medir” e “contar” se tornam essenciais aos nossos objetivos? A habilidade de
medir e conta é uma conquista humana preciosa e cabe a nós não desprezá-la. Devemos
aceitar que, para qualquer pesquisa que nos engajamos; é possível que utilizemos tanto
métodos qualitativos ou quantitativos para servir aos nossos propósitos, em outras palavras,
nossa pesquisa pode ser qualitativa ou quantitativa, ou ainda qualitativa e quantitativa, sem
que seja problemática.

O que poderia ser problemático é uma tentativa de ser, de uma vez só, objetivista e
construcionista (ou subjetivista), uma vez que afirmar que há um sentindo objetivo e, na
mesma instância, dizer que não tem, certamente parece contraditório. E, para ter certeza, o
mundo pós-modernista que cresce e nos cerca, questiona todas as nossas estimadas
antinomias, e assim somos convidados a adotar uma lógica mais difusa do que adotar a lógica
que conhecemos no passado com seus princípios de contradições. Apesar disso, mesmo no
inicio do século 21, não são muitos de nós que nos sentimos confortáveis com toda essa
contradição ostensiva e grosseira.

Para evitar tal desconforto, precisaremos ser consistentemente objetivistas ou


consistentemente construcionistas (ou subjetivistas). E se buscamos ser consistentemente

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objetivistas, iremos então distinguir significados objetivos cientificamente estabelecidos de
significados subjetivos que as pessoas crêem todos os dias e que da melhor maneira “reflete”
ou “espelha” ou “se aproxima” dos significados objetivos. Aceitamos, certamente que, esses
significados subjetivos sejam importantes na vida das pessoas e que podemos adotar os
métodos qualitativos para verificar o que esses significados são, tornando tal processo
epistemologicamente consistente. Mas também há uma desvantagem nisso, pois torna a
compreensão diária das pessoas inferior, epistemologicamente e para compreensões mais
científicas. Nesta maneira de ver coisas, um não pode pressupor através dos entendimentos
diários das pessoas, as declarações verdadeiras que alguém faz do que é cientificamente
estabelecido.

Se buscarmos ser consistentemente construcionistas, colocaremos toda a


compreensão científica ou não-científica similar no mesmo grupo; são todos construcionistas,
nenhum é objetivo ou absoluto ou verdadeiramente generalisável. O conhecimento científico
é apenas uma maneira distinta de conhecimento construído projetado para servir os
propósitos específicos e, certamente os serve muito bem. Os construcionistas podem, sem
dúvidas, fazer uso dos métodos quantitativos, mas seu “construcionismo” faz a diferença.
Desta forma, precisamos nos perguntar, na verdade, como aparenta ser uma pesquisa
quantitativa quando composta por uma epistemologia construcionista. Que diferença isso faz?
Bom, para começar, isso faz uma grande diferença às declarações verdadeiras proferidas em
seu nome e de forma crescente enquanto segue em direção ao subjetivismo e não ao
construcionismo. E não se fala mais em objetividade, validade ou generalizabilidade e para
tudo isso, há um amplo reconhecimento de que, com sua própria maneira, a pesquisa
quantitativa tem contribuições valiosas a fazer, mesmo para um estudo dos confins do ser
humano.

O scaffoling apresentado foi útil? Se sim, vamos examinar os itens em algumas das
colunas de nossas figuras. Vamos nos confinar nas primeiras duas colunas e olhar para as
questões epistemológicas e questões relacionadas às perspectivas teóricas.

Como já mencionamos, a postura epistemológica do objetivismo será considerada no


contexto do positivismo com o qual está interligado. O construcionismo, como afirma a
epistemologia em muitas abordagens qualitativas, merece um tratamento extensivo. Nossa
discussão sobre a teorização construcionista do conhecimento, ficará oposta ao subjetivismo
apenas quando for frequentemente articulada pela orientação do construcionismo e
encontrada declaradamente no pensamento estruturalista, pós - estruturalista e pós-
modernista.

Depois da nossa discussão sobre o positivismo, as perspectivas teóricas que


continuamos a estudar são o interpretivismo, a investigação crítica, o feminismo e pós-
modernismo e, pensar em pós-modernismo fará com que seja necessário que nos
aprofundemos no estruturalismo e pós- estruturalismo.

Ao discutirmos essas perspectivas e posturas, devemos nos lembrar muitas vezes que
não estamos explorando-os meramente com fins especulativos. Eu e você nos permitiremos
nos deixar levar, muitas vezes, para um plano de caráter bem teórico. No entanto, nos
recusaremos a carregar o peso de sermos intelectuais abstratos, divorciados de experiência e

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ação. Trata-se de nossa principal investigação dentro da experiência humana e com uma ação
que nos leva para longe. Esta longa jornada que embarcamos, surge de uma consciência de
nossa parte que, em cada ponto de nossa pesquisa, de nossas observações, interpretações,
relatos e tudo mais o que fazemos como pesquisadores, possui uma injeção de nossas
suposições. Suposições essas sobre o conhecimento humano e suposições sobre as realidades
encontradas em nosso mundo humano. Tais suposições modelam o significado das questões
de pesquisa, os propósitos das metodologias de pesquisa, e a interpretabilidade das
descobertas de pesquisa. Sem que desmembremos tais suposições e as clarifiquemos,
ninguém (incluindo nós mesmos) poderá adivinhar o que nossa pesquisa está dizendo.
Desenvolver a tarefa de explicar e explanar é exatamente o que devemos e estamos nos
propondo a fazer. Longe de ser uma teorização que afasta os pesquisadores de suas pesquisas,
é uma teorização embutida no ato da pesquisa em si, pois sem isso a pesquisa não é pesquisa.

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