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Mecânica dos Sólidos II Prof.

Denis Rinaldi Petrucci

Capítulo 1 - TENSÕES
1.1 – Conceito de Tensão.

Os conceitos de tensão e deformação podem ser ilustrados, de modo elementar, considerando-


se o alongamento de uma barra prismática (barra de eixo reto e de seção constante em todo o
comprimento).
Considere-se uma barra prismática carregada nas extremidades por forças axiais F (forças que
atuam no eixo da barra), que produzem
alongamento uniforme ou tração na barra. Sob ação
dessas forças originam-se esforços internos no
interior da barra. Para o estudo desses esforços
internos, considere-se um corte imaginário na seção
m-m, normal a seu eixo. Removendo-se, por
exemplo, a parte direita do corpo, os esforços
internos na seção considerada (m-m) transformam-
se em esforços externos. Supõe-se que estes
esforços estejam distribuídos uniformemente sobre
toda a seção transversal.
Para que não se altere o equilíbrio, estes esforços devem ser equivalentes à resultante, também
axial, de intensidade F.

Força  unidade de força 


Tensão =  unidade de área 
Área  

1.2 – Tipos de Tensões.

1.2.1 – Tensão Normal (σ


σ).
É toda tensão que aparece perpendicularmente a uma seção qualquer.
N
σ
F
α
F
=
T

1.2.2 – Tensão Normal Simples (σ


σ).

É toda tensão que aparece F σ


perpendicularmente à seção transversal e é
eixo
originada pelas forças axiais.
F
σ = , onde: F é a força axial (T ou C); A é a área da seção;
A
σ é a tensão normal simples (T ou C).
N

1.2.3 – Tensão de Cisalhamento (ττ).

É toda tensão que aparece paralelamente a uma seção τ


qualquer. T

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1.2.4 – Tensão de Cisalhamento


Simples (ττ). F
F
São as tensões que aparecem em elementos de
conexão (pinos, parafusos, rebites, soldas). τ

F
τ= , onde F é a força paralela a seção
A
considerada; A é a área da seção; τ é a tensão de
cisalhamento simples.

1.2.5 – Tensão de Esmagamento (ττ).

É a tensão provocada
por elementos de conexão nas
chapas de ligações ou de apoio. α
F t×d
F
σ esm = ,
t×d t
onde F é a força aplicada no σesm σesm
furo; t é a espessura da chapa;
d é o diâmetro do conector.

1.2.6 – Tensão de Admissíveis - Fator de Segurança.

Tensão admissível é aquela que utilizamos para projetar ou analisar uma estrutura. Essa
tensão é calculada como sendo a tensão considerada crítica dividida por um número adimensional
maior que a unidade chamado de Fator de Segurança.

σ critica ou calculada
σ adm =
Fator de Segurança

1.3 Tensões e Deformações para Cargas Axiais

1.3.1 – Tensões e Deformações para forças Axiais.


No capítulo anterior, analisamos as tensões que surgem pela aplicação de carregamentos em
estruturas simples, como barras, pinos e parafusos de modo que não viessem a falhar sob
especificadas condições de carregamento.
Outro aspecto importante na análise estrutural se refere às deformações, pois, os projetos de
maneira geral estabelecem limites para os valores de deformações. Uma outra razão do estudo de
deformações é que todos os sistemas hiperestáticos são resolvidos com base nas deformações.

1.3.2 – Deformação Linear Total (δ


δ) e Deformação Linear Específica (εε).

O alongamento total de uma barra submetida a uma A A


força axial é designado pela letra grega δ (delta), Dada pela
L0
diferença de comprimentos (δ = Ld – L0 ), onde L0 é o Ld
comprimento da barra antes de sofrer deformação, e Ld é o
comprimento da barra depois de sofrer deformação. B
δ
B’
F 2
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O alongamento por unidade de comprimento, denominado deformação específica,


representado pela letra grega, ε, é dado pela seguinte equação:

δ
ε= onde: ε = deformação específica (adimensional); δ = alongamento ou encurtamento;
L
L = comprimento total da barra.

1.3.3 – Corpos de prova.


O corpo de prova é uma amostra de certo lote que tem o objetivo de se determinar as
propriedades mecânicas do material. As dimensões e a forma do corpo de prova dependem do
material e da maneira com que se encontra manufaturado.

1.3.4 – Diagrama Tensão × Deformação Total (σ σ × δ).


Através de um ensaio de tração podemos obter o diagrama de tensão por deformação total.

F(N)

δ (mm)
1.3.5 – Diagrama Tensão × Deformação Específica (σ
σ × ε).

Dividindo-se no diagrama anterior, as ordenadas (F) pela área inicial e as abcissas pelo
comprimento inicial obtemos um diagrama (σ × ε) que fornece as propriedades mecânicas do
material ensaiado.

Onde : σe = tensão normal de escoamento; σm = tensão máxima do material; σR = tensão de ruptura

ε(%)

O comportamento do corpo de prova pode ser de diferentes formas, dependendo da


intensidade da carga aplicada e do seu grau de deformação.

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Região elástica: Quando o corpo de prova retorna à sua forma original quando a carga
aplicada é removida.
Região de escoamento: Um leve aumento na tensão, acima da região elástica, resultará numa
acomodação do material causando uma deformação permanente.
Região de recuperação: Se ao término da região de escoamento, uma carga adicional for
aplicada ao corpo de prova, a tensão continuará a aumentar com a deformação específica
continuamente até atingir um valor de tensão máxima, σm. Durante a execução do ensaio nesta
região, enquanto o corpo de prova é alongado, sua área da seção transversal diminui ao longo de seu
comprimento nominal, até o ponto que a deformação corresponda à tensão máxima.
Região de estricção: Ao atingir a tensão máxima, a área da seção transversal começa a
diminuir em uma região localizada do corpo de prova, e não mais ao longo do seu comprimento
nominal. Este fenômeno é causado pelo deslizamento de planos no interior do material e as
deformações reais produzidas pela tensão cisalhante. Uma vez que a área da seção transversal
diminui constantemente, esta área só pode sustentar uma carga menor. Assim, o diagrama tensão-
deformação tende a curvar-se para baixo até a ruptura do corpo de prova com uma tensão de ruptura,
σR.
1.3.6 – Propriedades Mecânicas.

Para os vários materiais existentes basicamente podemos obter dois tipos de diagramas:
a) Materiais Dúcteis: são materiais que possuem a propriedade de suportarem a tensão
aplicada sobre eles, passando por todas as regiões citadas acima. A ruptura se dá segundo
uma superfície em forma de cone, que forma um ângulo
aproximado de 45° com a superfície inicial do corpo de
prova, mostrando que a ruptura nos materiais dúcteis
ocorre sob tensão de cisalhamento.
σR R

b) Materiais Frágeis (εε < 5%): são caracterizados por uma


ruptura que ocorre sem nenhuma mudança sensível no
modo de deformação do material, logo não existe diferença
entre a tensão máxima e a tensão de ruptura. Além disso,
até a deformação de ruptura é muito menor nos
σ
materiais frágeis do que nos dúcteis. A ruptura se dá em
uma superfície perpendicular ao carregamento. Conclui-
se que a ruptura dos materiais frágeis se deve
σe
principalmente a tensões normais.
R
OBS.:Para materiais que não apresentam escoamento, define-se
tensão de escoamento convencional como sendo a tensão obtida à
0,2%.

ε
0,2% convencional
1.3.7 – Lei de Hooke – Módulo de Elasticidade (E).

A maioria dos projetos estruturais é feita de


maneira que as tensões e deformações fiquem no trecho
linear da diagrama de tensão-deformação.
Robert Hooke (1700), escreveu que:

σ = ε . E (Lei de Hooke),
σ = tgα
α.ε
tgα
α=E
onde: E = tgα α é o módulo de elasticidade longitudinal
do material, unidade é força por unidade de área (F/L2).

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O módulo de elasticidade longitudinal representa a capacidade de um material sofrer uma


deformação linear.

1.3.8 – Deformações para Forças Axiais.

Seja uma barra de comprimento L, área transversal A, módulo de


elasticidade E, sob uma força na extremidade, F. A, E
L
Temos que:
F δ
σ = ε . E (Lei de Hooke); σ = ; ε=
A L

F δ FL F
= .E Logo, δ=
A L EA

onde: F é a força na extremidade; L é o comprimento da barra, A é a área da seção transversal e E é o


módulo de elasticidade do material.

OBS.: EA é a rigidez para as forças axiais.

Para barras que não possuem área constante, mesmo material e mesma força em vários trechos
uniformes, devemos calcular a deformação por:

n F L
i i
δ= ∑
i =1
A i Ei

nas situações em que a força e/ou a área for variável de forma elementar, a deformação é obtida por:

F dx
δ=∫
L EA

1.3.9 – Sistemas Indeterminados Estaticamente (Forças Axiais).

Nos problemas estudados até o momento, foi possível calcular as forças externas e internas
através das equações da estática. Em muitos problemas, no entanto, existem sistemas que não podem
ser determinados apenas com as equações da estática. Esses sistemas serão resolvidos com base em
equações obtidas por relações entre as deformações.

Exemplo: 1 - Determinar as Tensões normais no tubo e no cilindro da figura:

Tubo (E1, A1) Cilindro (E2, A2)

Placa rígida
L

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1.3.10 – Influência da Variação de Temperatura.

Existem estruturas que trabalham sob variações de temperatura. Iremos determinar para essas
estruturas o nível das tensões devido à temperatura.

∆T
Ti Tf

Li Lf

δ = α ∆ T Li ε = α ∆T

onde: α = coeficiente de dilatação térmica linear; ∆T = Tf – Ti = variação de temperatura;


Li = comprimento inicial do corpo.

1.3.11 – Coeficiente de Poisson


Vimos que uma barra sob força axial sofre uma deformação (δ) no comprimento. No entanto,
todos os materiais que têm uma deformação axial também têm deformações na direção transversal.
Essas deformações transversais são calculadas em função de um coeficiente chamado Poisson (ν).
A figura abaixo, mostra que nas faces perpendiculares aos eixos Y e Z temos σY = σZ = 0.
Isto, de imediato pode levar-nos a imaginar que as deformações εY e εZ também são nulas, o que não
é verdade. O alongamento produzido pela força F é acompanhado por uma contração em qualquer
direção transversal.
Y

F
F

σY = 0

Z
σX = F/A σX = P/A

σZ = 0 σY = 0

O Coeficiente de Poisson é definido por:

deformação específica transversal ε


υ= = t [adimensional]
deformação específica longitudinal ε L
Partindo das hipóteses de que o material é homogêneo e isotrópico (propriedades físicas
idênticas, independentes da direção), a deformação específica deve ser a mesma para qualquer
direção transversal (εY = εZ).
ε ε
υ=− Y = − Z
εX εX

para as condições de carregamento da figura. Da Lei de Hooke (σX = εX E) e da Equação acima,


podemos tirar que:

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υσ X
εY = εZ = −
E

1.4 – Deformação de Cisalhamento - Distorção (γ).


A tensão normal provoca uma deformação linear (aumento ou diminuição do corpo), já a
tensão de cisalhamento não
provoca aumento ou Deformação linear
diminuição do corpo, mas σcompressão
sim uma deformação angular. δ
Observe as figuras:
σtração

δ

Deformação angular

τ γ

τ ⇒
γ

Da mesma forma que


obtivemos o diagrama de Tensão ×
Deformação específica (σ × ε),
τm
podemos por um ensaio de
cisalhamento obter um diagrama de τr
Tensão de Cisalhamento ×
τe
Deformação específica (τ × ε), que é
semelhante ao já conhecido:
β
γ

τ
tgβ = =G ⇒ τ = γG Lei de Hooke
γ
onde: G é o módulo de elasticidade transversal do material.
Então, módulo G mede a capacidade de um material sofrer uma deformação angular.

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