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OBSERVANDO AS FASES DA LUA, AS ESTAÇÕES DO ANO E OS ECLIPSES DE OUTRO PONTO

DE VISTA

Autores : Edson KARSTEN; Irene WEHRMEISTER.


Identificação autores: Acadêmico do curso Física – Licenciatura, IFC-Campus Rio do Sul/Professor da Escola de Educação
Básica João Custódio da Luz; Acadêmica do curso Física – Licenciatura, IFC-Campus Rio do Sul.

Introdução
O presente trabalho descreve a experiência de ministrar um minicurso de física para
alunos do ensino médio. O trabalho é parte das disciplinas de Instrumentação para o Ensino
de Física do curso de Física-Licenciatura do IFC Rio do Sul. O minicurso elaborado foi na
área de astronomia e aplicado a estudantes da instituição, professores e pessoas da
comunidade. Diferentemente do conhecimento científico, as concepções alternativas, como
quando olhamos para o céu e prevemos se choverá ou se fará sol, não obtivemos estudo algum
para essa afirmação. Mas a ciência tem explicações para tais fenômenos. A Astronomia
desperta curiosidade e fascínio nas crianças e também nos adultos. As pessoas querem
compreender melhor os fenômenos astronômicos, e frequentemente, numa tentativa de
explicar determinados fenômenos da natureza, formulam ideias que nem sempre estão de
acordo com o conhecimento científico. Estas ideias são conhecidas como concepções
alternativas, ou espontâneas. Segundo os PCNs: “os estudantes possuem um repertório de
representações, conhecimentos intuitivos, adquiridos pela vivência, pela cultura e senso
comum, acerca dos conceitos que serão ensinados na escola” (BRASIL, 1999). Dentre os
termos utilizados na literatura, pode-se citar: “conceitos intuitivos”, “concepções
espontâneas”, “ideias ingênuas”, “concepções prévias”, “pré-conceitos”, “ideias de senso
comum” e “concepções alternativas”. No nosso trabalho usaremos o termo concepções
alternativas.
Atualmente, já se reconhece que a aprendizagem escolar ocorre, fundamentalmente, a
partir de uma interação entre o que o professor ensina (e/ou se estuda nos livros textos) e os
conceitos pré-existentes na mente do estudante. Dessa forma, para que o aluno adquira um
conhecimento mais próximo do conhecimento científico, é fundamental que o professor
conheça suas chamadas concepções alternativas antes de planejar e iniciar o ensino.
O interesse pela área e a habilidade prática dos autores em idealizar e construir
equipamentos é que motivou a elaboração do minicurso. Este trabalho tem por objetivo
divulgar a aplicação do minicurso e concepções alternativas relacionadas às fases da lua e
eclipses.
A questão de pesquisa que estamos investigando é “A utilização de equipamento de
demonstração permite aos alunos superar as concepções alternativas acerca dos movimentos
dos astros?” Durante a elaboração do projeto tivemos a preocupação de preparar um
minicurso com uma atrativa parte experimental, inclusive construímos um planetário para
demonstrações das fases da lua, estações de ano e eclipses.
Para fundamentar e elaborar o minicurso, buscamos compreender como os conceitos
científicos são construídos na mente dos sujeitos. A aprendizagem é um processo através do
qual o educando se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o
seu grupo social conhece. Desta forma, o papel do educador é fundamental, ele deve
estruturar condições para ocorrência de interações professor-educando-objeto de estudo, que
levem à apropriação do conhecimento. Na concepção vygotskyana o pensamento verbal não é
uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-
cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas
naturais de pensamento e fala. Uma vez admitido o caráter histórico do pensamento verbal,
devemos considerá-lo sujeito a todas as premissas do materialismo histórico, que são válidas
para qualquer fenômeno histórico na sociedade humana (Vygotsky, 1993 p. 44). Na
construção de conceitos, Vigotski estabelece diferenças entre os conceitos cotidianos ou
espontâneos e os não espontâneos ou científicos. Espontâneos surgem e se formam na
experiência pessoal da criança. Os científicos se constituem no processo de aprendizagem
escolar, são exigidas relações mais complexas entre o ensino e o desenvolvimento destes
conceitos. O conhecimento científico leva o sujeito a ter pensamentos críticos, olhar os
acontecimentos ao nosso redor.
Analisando as inúmeras pesquisas já realizadas, as concepções alternativas mais
comuns que aparecem entre alunos na área da astronomia são noções sobre o campo
gravitacional, ciclos dia/noite, estações do ano, eclipses e fases da Lua. Por isso
desenvolvemos este trabalho que além de levantar/confirmar concepções alternativas de um
grupo de alunos do IFC – Campus Rio do Sul do ensino médio, ministrar um minicurso
introdutório à astronomia, com auxílio de experimentos para a exemplificação das fases da
lua, estações do ano, marés e eclipses.
Segundo Langhi e Nardi (2004), o estudo de Astronomia, pode auxiliar muito na
formação geral do aluno, pois além de possibilitar o desenvolvimento de habilidades
essenciais para o aprendizado de outras disciplinas, tem um grande potencial educativo, pois
envolve Física, Matemática, Química, Computação, Geografia, História e Antropologia.
Entretanto, no Brasil, apesar de sua importância, os conteúdos de Astronomia deixaram de ser
disciplina específica desde o decreto de 1942, do Estado Novo. Atualmente, a Astronomia
está presente essencialmente na disciplina de Ciências, conforme indicam os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1999). Os alunos do Ensino Médio deveriam
possuir a concepção correta do fenômeno da formação das fases lunares, das estações do ano
e dos eclipses. Estes conceitos devem ser compreendidos durante o terceiro ciclo do Ensino
Fundamental, conforme sinalizam os Parâmetros Curriculares Nacionais (Ciências da
Natureza), vejamos uma sugestão dos PCN para se trabalhar fases da lua:
Uma primeira aproximação à compreensão das fases da Lua pode se realizar neste ciclo por
meio de observações diretas durante um mês, em vários horários, com registro em tabela e
interpretando observações. O primeiro referencial nesses estudos, assim como na construção de
maquetes representando o Sol, a Lua e a Terra, e o lugar de onde o estudante observa a Lua, o
que favorece o deslocamento imaginário posterior para uma referência a partir do Sol ou mesmo
fora do Sistema Solar, por experimentos com luz e sombra (BRASIL, 1997).
Com base nesta sugestão, idealizamos e construímos um planetário.

Material e Métodos
Para levantamentos sobre a aplicação do minicurso utilizamos a observação direta e
aplicação de questionários. Um deles (Q1) foi aplicado no início do minicurso e visava
levantar as concepções dos participantes acerca dos movimentos relativos dos astros. A
elaboração foi baseada em alguns artigos que identificaram as principais concepções
alternativas sobre conteúdos de Astronomia apresentadas pelos alunos como Canalle (2003) e
Langhi (2004).
Outro (Q2) foi aplicado no final para avaliar a participação dos alunos no minicurso e
o desempenho dos professores (em formação).
Participaram do minicurso alunos, professores e pessoas da comunidade, totalizando
28 indivíduos. Relatamos neste trabalho os resultados de uma das questões que visa
identificar a relação que os alunos fazem entre fases da lua e os eclipses. A questão continha
um enunciado principal e um desenho (figura 1).
Selecionamos do Q2 a questão relativa à auto-avaliação dos participantes buscando
relacionar as respostas com a superação das concepções alternativas levantadas.

Resultados e discussão
O experimento utilizado no minicurso foi idealizado pelos acadêmicos e construído
com materiais que frequentemente são descartados para sucata. Um sistema mecânico com
uma luz simbolizando o sol, um aro de bicicleta para apoio da órbita da Terra, peça de
ventilador e eixo de bicicleta para o sistema Terra-Lua. Como o sistema é móvel, ele simula
os movimentos de translação e rotação da Terra, com a inclinação do eixo da Terra e a Lua
móvel, este experimento pode ser usado com extrema facilidade para a demonstração das
fases da lua, a inclinação da terra, os equinócios, a eclíptica, as estações do ano e o eclipse
lunar e solar.
Quatro alunos acertaram a questão que mencionamos. Dezenove alunos pintaram a lua
da esquerda (correspondente à Lua Cheia) e dois pintaram a lua de baixo, o que mostra que
não associam as fases da Lua à posição relativa entre ela, a Terra e o Sol.

Fig. 1: questão retirada do questionário Q1 aplicado no minicurso


Pinte de preto (preencha) a Lua que representa a Lua Nova.

Segundo Langhi (2004) os alunos têm muita dificuldade em compreender as causas


das diferentes fases da lua. A grande quantidade de alunos que assinalaram a lua da esquerda
como correta, nos mostra a grande confusão entre fases da lua e eclipses. Para a grande
maioria a Lua Nova estaria coberta pela sombra da Terra. Após termos aplicado o
questionario de concepções previas demos inicio ao minicurso com demonstrações práticas
com o sistema planetário.
Fig. 2: gráfico construído com as respostas da questão 1.

Após o levantamento das concepções alternativas o conteúdo foi explicado com a


intenção de quebrar tais concepções e construir e consolidar as concepções científicas. As
várias possibilidades de utilização do equipamento foram exploradas através de
demonstrações interativas (fig. 3).

Fig. 3: Registro fotográfico da aplicação do minicurso.

O equipamento que constitui-se em um modelo físico sem preocupação com escala,


foi utilizado para explicar os movimentos dos astros, onde os alunos puderam tocar, mexer e
entender as explicações científicas dos fenômenos que são vistos aqui, do referencial da terra.
Após a aplicação do minicurso o Q2 foi respondido. O grafico (fig. 4) mostra a
autoavaliação dos alunos em relação a participação do minicurso.

Fig. 4: Gráfico relativo a auto-avaliação dos alunos.


Vemos que 96,5% afirmaram que compreenderam o assunto e tinham interesse no
tema, 90% declararam que interagiram com os demais participantes e participaram no
decorrer da oficina Também foram sugeridos outros temas para próximos minicursos:
ufologia, funcionamento de motores, Leis de Kepler, eletromagnetismo, a física do terremoto
e magnetismo.
Podemos inferir que 96,5% dos participantes que responderam o questionário
assumiram que compreenderam o assunto apresentado construindo os conceitos científicos, o
que inclui o entendimento do modelo para as fases da lua.

Conclusão
As questões relacionadas às fases da Lua mostram que os alunos não têm o hábito de
observar o céu criticamente. Apesar disso, a concepção de que as fases da Lua acontecem
porque a Terra faz sombra na Lua, foi frequente entre os alunos, o que concorda com os
resultados de Langhi (2004). O minicurso idealizado e aplicado possibilitou a transposição
didática de conteúdos para a educação básica, a inclusão dos fundamentos teóricos e práticos
sobre o tema, e na avaliação do grupo, forneceu condições para a iniciação à docência, uma
vez que foi a primeira vez que os acadêmicos exerceram a docência.
O equipamento utilizado, apesar de ser um modelo permitiu uma aproximação com o
conteúdo e a superação de várias concepções alternativas.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros Curriculares Nacionais:


ciências naturais. Brasília. MEC/SEMTEC. 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Ciências Naturais. Brasília, DF: MEC/ SEF, 1999.
CANALLE, J. B. G. O Problema do Ensino da Órbita da Terra. Física na Escola. v.4, n.2,
p.12-16, 2003.
LANGHI, R. Um estudo exploratório para a inserção da Astronomia na formação de
professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Dissertação (Mestrado em Educação
para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2004.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

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