Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Um violão possui seis cordas, numeradas da mais aguda para a mais grave. Cada corda possui
uma nota na qual é afinada, que foi o resultado de uma herança dos instrumentos
antecessores do violão, como o Alaúde Renascentista e a Guitarra Barroca. No processo
histórico de conseguir uma relação entre as cordas que propiciasse equilíbrio entre graves e
agudos, boa sonoridade, facilidade de tocar e que fosse possível num instrumento com as
dimensões do violão, chegamos à seguinte configuração:
Essa sequência é uma sequência consagrada e estabilizada há mais de dois séculos, fruto de
muitos séculos anteriores de experimentação.
Além disso, o violão possui um braço onde estão colados trastes de metal, posicionados para
variar cada uma dessas cordas de semitom em semitom, ou seja, dentro da escala musical
ocidental. Mas, como vimos, deve‐se definir que tipo de “ajuste” essa escala possui. E, no
violão, esse ajuste é o do temperamento igual.
Existem muitos equívocos que podem ser cometidos ao tentar afinar um violão. Por isso,
vamos listar algumas observações importantes:
Ao tocar um acorde de Mi Maior, e tentar afinar a terceira corda para o Sol sustenido soar
perfeitamente, isso vai geral maiores desafinações em outros acordes. A terça natural é 0,8%
mais grave que a temperada. Ou seja, a terceira corda vai ficar mais grave do que deveria.
Ao afinar cada corda com base na anterior, você corre o risco de propagar qualquer erro
cometido de uma corda para outra. E mesmo acumular erros a ponto de gerar uma grande
desafinação no final.
O ideal é usar uma única corda de referência, e comparar todas as demais a ela. Vamos
descrever dois métodos de afinação adequados, dentre diversos possíveis:
Corda 6: afinar a 6ª corda (Mi grave) presa na casa 5, comparando com a 5ª corda
solta.
Corda 4: afinar a 4ª corda solta, comparando com a 5ª corda presa na casa 5.
Corda 3: afinar a 3ª corda presa na casa 2, comparando com a 5ª corda solta (ou com
o seu harmônico oitavado da casa 12).
Corda 2: afinar a 2ª corda solta, comparando com a 5ª corda presa na casa 2 (ou com
o seu harmônico oitavado produzido na casa 14 mantendo a casa 2 apertada).
Corda 1: afinar a 1ª corda presa na casa 5, comparando com a 5ª corda solta (ou com
o seu harmônico oitavado produzido na casa 5).
Corda 2: afinar a 2ª corda pelo harmônico na casa 12, comparando com a 1ª corda
presa na casa 7.
Corda 3: afinar a 3ª corda pelo harmônico na casa 12, comparando com a 1ª corda
presa na casa 3.
Corda 4: afinar a 4ª corda pelo harmônico na casa 5, comparando com a 1ª corda
presa na casa 10.
Corda 5: afinar a 5ª corda pelo harmônico na casa 5, comparando com a 1ª corda
presa na casa 5.
Corda 6: afinar a 6ª corda pelo harmônico na casa 5, comparando com a 1ª corda
solta.
Dessa forma, temos uma afinação teoricamente correta, usando uma única corda de
referência. Além disso, são respeitados outros princípios importantes: utilizar somente
harmônicos de oitava e nunca comparar duas cordas presas. Mas talvez ainda seja necessário
fazer ajustes, devido à deformação das cordas.
Essa deformação gera desvios muitas vezes imprevisíveis, e exige que sejam analisados caso a
caso de acordo com a corda e o instrumento que se possui.
Reparem que, quando soltas, as cordas possuem comprimentos iguais delimitados pela
pestana e pelo rastilho do violão. Porém, ao apertarmos uma delas, a estamos esticando,
tornando‐a um pouquinho mais comprida. Algumas cordas, como a sexta, ficam a uma
distância maior do braço do violão do que outras. E, quando apertadas, esticam mais.
A primeira corda sofre menos deformação que a sexta, por esse mesmo motivo. Mas, cada
corda pode se comportar diferentemente na sua deformação também pelo fato de terem
espessuras, afinações e composições diferentes.
As cordas do violão são de espessuras e materiais diferentes. Algumas têm cobre, outras
somente nylon. Isso quando não se usa cordas de aço, carbono ou tripa. Mesmo os nylons
podem ter composições químicas um pouco diferentes. E isso faz com que cada corda tenha
um comportamento diferente ao ser apertada e consequentemente deformada.
A terceira corda (Sol), de nylon, é famosa por ser difícil de afinar. Se afinarmos a corda solta
exatamente no Sol temperado, as notas em posições mais agudas nessa corda podem soar com
afinação alta demais devido à deformação. Daí, pode‐se solucionar isso abaixando um pouco a
afinação da corda Sol. De certa forma, pra alguns acordes como o Mi Maior na primeira
posição, isso também vai aliviar a diferença da terça Mi‐Sol#, que é aguda demais na escala
temperada. Mas pode prejudicar outros que precisem da corda Sol solta.
Não seria adequado usar o harmônico da sétima casa, por exemplo. Esse harmônico gera uma
quinta que é 0,1% mais aguda que a quinta temperada. Assim, se afinamos comparando os
harmônicos da quinta e sétima casa, o que é uma pratica comum, temos um resultado
impreciso.
Porém, é necessário observar que alguns músicos, cientes desse fato, utilizam essa afinação
por harmônicos e quintas, reduzindo posteriormente os intervalos a fim de compensar esses
0,1% e voltar à afinação temperada. Seria uma forma de usar somente cordas soltas, evitando
o problema da deformação. Porém, para isso, necessita‐se de um ouvido refinado, pois o
ajuste é de somente 0,1%. É um procedimento muito delicado, portanto.
Quando dois sons operam em frequências iguais, ou múltiplas, eles soam muito bem juntos.
Porém, se existir algum pequeno desvio na afinação, você poderá ouvir uma espécie de
oscilação no som ao tocar as duas notas juntas. Como se fosse uma sirene bem suave. Essa
oscilação é chamada de batimento. Quando se ouvem batimentos, é sinal de que as notas estão
desafinadas entre si.
Os batimentos podem ser muito úteis, pois, em alguns casos, é mais fácil ouvi‐los do que
perceber a desafinação entre duas notas. Aí, eliminando o batimento, eliminamos a
desafinação.
No caso do violão, devido à escala temperada, só se pode usar os batimentos quando está se
comparando duas notas iguais, ou oitavadas, Se quisermos eliminar os batimentos de um
intervalo de quinta, por exemplo, estaremos desafinando os outros intervalos.
Ou seja, em todos os intervalos, menos nos uníssonos e nas oitavas, vão, e devem, haver
batimentos. Mas contente‐se que pelo menos nenhum vai uivar como um lobo!
Usar um afinador eletrônico para afinar as 6 cordas soltas seria teoricamente ideal. O afinador
já está regulado pela escala temperada, e garantiria uma afinação precisa. Porém, existem dois
problemas:
Se uma música tem uma característica especial de exigir certos intervalos, e não exigir
outros, pode ser teoricamente possível ajustar a afinação de alguns intervalos em
determinadas posições do braço do violão para soarem mais naturais. Aí, o afinador
não ajuda e é necessário usar somente o ouvido.
A deformação das cordas pode exigir que um pequeno ajuste seja feito a fim de alinhar
a afinação de forma geral. Aí, o afinador pode servir de base, mas será necessário fazer
esse ajuste pelo ouvido.
Considerações finais
# Em primeiro lugar, porque a escala temperada é uma escala com diversas desafinações na
sua própria concepção.
# Em segundo lugar, porque a deformação das cordas vai acabar fazendo algumas notas
saírem do ajuste ideal, mesmo temperado..
# Em terceiro lugar, o próprio instrumento pode ter problema de afinação. Para conferir se
existe esse problema, compare os harmônicos da casa 12 com as notas presas nessa mesma
casa. Se existir uma diferença consistentemente presente em todas as cordas, é sinal de que a
construção do instrumento não foi precisa, ou que o braço está empenado, torto.
Afinar é saber pesar beleza e utilidade. Muitas vezes, temos que abrir mão de um pouco da
primeira em prol da última. Ou seja, concordar em desafinar e tornar menos belos alguns
intervalos a fim de poder utilizar o instrumento em determinadas situações. É uma solução de
compromisso, que exige mais do que máquinas para se resolver, mas necessita de ponderação,
maturidade musical, um bom ouvido e saber o que se quer buscar como resultado sonoro em
cada situação.