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FLOR-CAATINGUEIRA
CAICÓ
2016
CATARINA ARAÚJO DE MEDEIROS
FLOR-CAATINGUEIRA
CAICÓ
2016
CATARINA ARAÚJO DE MEDEIROS
FLOR-CAATINGUEIRA
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Professor Dr. Fernando Bomfim Mariana – Orientador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
____________________________________________________
Professor Me. Alessandro Augusto de Barros Façanha– Examinador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
____________________________________________________
Professora Drª Maria Alexandra Miltão Rodrigues – Examinadora
Universidade de Brasília – UnB
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino
Superior do Seridó - CERES Caicó
RN/UF/BS-CAICÓ
CDU 37
Às traças, ao pó das bibliotecas
e as árvores que viraram folhas, dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
Gratidão.
SUMÁRIO
1. FLOR-CAATINGUEIRA ...........................................................................................9
REFERÊNCIAS................................................. ...........................................................26
ANEXOS .......................................................................................................................27
Nota de ocupação
Somos o cupim nas fôrmas do capital e estamos aqui para ocupar os espaços que
nos foram negados e usar os entulhos fétidos do que nos é oferecido hoje como adubo
para plantar novas sementes. Negamos os padrões técnicos e normativos da "Ditadura
Gramatical" e 'Academicista' e no lugar delas plantamos poesia.
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Flor-Caatingueira
Sob as terras férteis anunciadas por Paulo Freire, plantamos as sementes das
flores escritas por Feyerbend em "Contra o Método" que propõe a quebra dos grilhões
metodológicos e normatividades como a "ABNT" que sufocam a criação e no lugar elas
cantamos as letras de Hampâté escritas sobre a tradição oral, pois nos recusamos a
abaixar nossas cabeças ao que Lydia chama de "Ditadura Gramatical" que nos cega e
nos joga em um quarto escuro cheio de facas afiadas onde repetimos hinos sobre o "A,
B, C" que rima com sei lá o quê do "V" do vovô que viu a uva da língua do "V" nas
horrendas marchas alfabéticas. Dizemos não aos associados normatizados e
normatizadores das normas técnicas e aos seus aparatos ideológicos regulamentadores
insanos e indiscutivelmente pequenos diante da grandeza da visão cósmica metafórica
humana e sobre todos os sentidos e sentimentos das constelações e dos nossos buracos
negros. Portanto, decidimos escrever esse texto poeticamente não só por uma questão de
estilo de escrita, mas por tratar-se de Lydia que traz consigo encanto, sensibilidade e
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inspira pela sua busca harmoniosa, de com todos os seres viver a poesia da existência. O
corpo da pesquisa é um universo inteiro com todas as constelações que podermos
imaginar que foram filmadas e o mais importante disso tudo, foram sentidas. Também
fomos agraciados com as apostilas "No Espaço das Caatingas o Relicário Das Caaporas,
Uma Cultura Esquecida", "Em Abril, Quinhentos e Quinze Anos de Nau De Cabral,
Ancorada No Meu Brasil De Portugal" e uma outra que foi construída por Lydia
registrando os saberes tapuias do seu amigo Francisco Reis ou simplesmente Reis e sua
família em "Raízi Qatimgêras", o livro "O Boneco Mamulengo Na Escola de 1º Grau", a
revista "Nova Escola" que contém uma matéria sobre o trabalho de Lydia com
mamulengos e a matéria "Lydia Brasileira: Uma mulher que rompeu com o luxo por
uma vida sustentável" da revista "Collecione" e todo esse material reúne escritos sobre
diversos assuntos que vão desde o mito da criação até uma crítica a ostentação e
consumismo das festas tradicionais de Caicó.
Dentro das várias Lydias que surgiram ao longo desse trabalho, iremos falar da
Lydia Pedagoga que chamou a sua Lydia Artista Popular que transformou tudo em
mamulengo como um meio dialógico de compartilhamento de saberes. E quem é Lydia?
"Eu não sei nem explicar, eu sou tão infinita, e a gente é tão infinito, que a gente não diz
“eu sou fulano”, eu estou sendo!” (BRASILEIRA, 2016). E nos caminhos que seguiu
deixou rastros de identidade em seus escritos que nos ajudam a identificar e conhecer
suas vivências:
"Eu, Lydia Brasileira, nasci nas terras do Nordeste, mas não sou nordestina,
porque não falo os idiomas Tupis ou Tapuias e nem sequer o dialeto dos
nativos do sertão; não tenho identidade racial, porque não tenho cor, nem
sequer a da mestiça... Minha pele é branca, cheia de manchas da nobreza
descontextualizada do sol do interior, não tenho nacionalidade, porque sou
produto da cultura europeia da Família Real que orientou minha vida na
cidade de Caicó". ( BÁRBARA, 2016, p. 1)
"Por volta dos 6/7anos, fui iniciada no processo capitalista da Escola do sítio,
onde aprendi a cantar letras que jamais esqueci. “Brava gente brasileira,
longe vá temor servil, ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”. O Brasil
era Portugal e esse hino cantado na Escola teve forte influência em meu
pensamento de criança, que aprendia a amar a pátria portuguesa, idolatrada
em seu idioma e adorada em seus valores europeus." ( BÁRBARA, 2016,
p.44)
O desejo de verter-se que percorre as seivas que alimentam o corpo de Lydia que
buscou novas proximidades ao reconhecer seus distanciamentos ou os distanciamentos
que nos induziram a ser, pois como ela mesma diz "distanciamento é a cultura da gente,
a gente se criou pra obedecer a uma cultura estrangeira portuguesa-europeia, que só não
é brasileira, só não é a nossa cultura indígena, a nossa cultura Tapuia, a nossa cultura
Tupi." (BRASILEIRA, 2016)
Ao reconhecer seus distanciamentos na busca pelas suas proximidades, surge
uma Lydia que sente dor por essa herança familiar dos intitulados reis da Terra, essa
herança de ostentação e conceituada riqueza que não lhe trouxeram beleza.
Mas estamos falando de uma índia que veio contar sua história e resgatar nossa
memória natural. Ela é Lydia Brasileira Tapuia Bárbara nascida no dia que o Capital
reservou para os professores para que ela não esquecesse sua missão de educação vivida
e vida em comunhão. A Tapuia de que falamos dispensa títulos e ornamentos, rasgou
diplomas, devolveu suas joias a Terra, é arteira de nascença e saúda sua avó Caramucá,
índia Tapuia, plantando sementes em muitos corações e transmitindo muita paixão em
sua vidarte que nega a herança alegórica da vaidade conquistadora humana:
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educação que nos prende na baia da meritocracia e nos faz correr através de suas
esporas sociais. Sendo assim, vale pensar sobre a que 'deus' andam servindo nossas
ideologias ou a que ideologias andam servindo nossos 'deuses' pois “Minha dor chama-
se Colonização e Capital, e me foi confiada pelo grupo familiar e social. Sua validade
educacional somente é possível, quando decepciona minha consciência, exigindo a
mudança da situação.” ( BÁRBARA, 2016, p. 18)
Então seria a educação um conceito utópico utilizado tanto por ditadores quanto
por libertários? Tão utópica quanto real é o seu valor capital como moeda de troca para
a ascensão social? Tão utópica quanto real é o seu poder de libertação dos grilhões
servis do mercado vaidade monumental? O que está entre a educação, os libertários e os
ditadores? São comuns os seus meios de educar? A apropriação do saber Capital pelos
índios brasileiros como forma de submergir e dizer que eles também estão aqui é uma
forma de apropriação da educação como meio libertador e denunciador ou mais um
suspiro da escória burguesa de dizer que se é para contar que vocês estão aqui, que
sejam vocês letrados, formados e enfileirados na ordem econômica feudal? E como
responder a tudo isso? Não sei, mas acredito que o único jeito de descobrir é sendo.
"Na ESCOLA, a novidade do inglês para cantar Happy Birthday, falar Yes e
I Love you deixou o caaboco fascinado pelo capitalismo globalizado e hoje a
sua maior fantasia é ter uma importante ocupação: Astronaut, Model,
Architect, Engineer, Player e até Movie Star de TV, pois quem é burro para
permanecer na profissão de agricultor, sem valor e reconhecimento da
Nação?" (BRASILÊRA, p. 44)
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dele que era esposa do avô de olho azul, avó dele era cabocla mesma, índia
assim: uma índia! Então, essa memória ainda existe, está viva ainda gente, a
gente tem que correr, correr se não a gente vai perder tudo!" (BRASILEIRA,
2016)
É através da busca pelos saberes populares que Lydia juntamente Reis construiu
as importantíssimas apostilas "Raízi Qatimgêras" e "No Espaço das Caatingas o
Relicário Das Caaporas, Uma Cultura Esquecida" e a exposição "Bordados na Pedra"
que foi realizada na Reserva Particular do Patrimônio Natural que fica entre os
municípios de Caicó e Jucurutu no estado do Rio Grande do Norte contando a história
da Caapora.
Aproximar-se da Caatinga, dos caçadores, agricultores, lavadeiras, 'doutores' e
muitos outros de nós por aí, fez com que ela criasse um caminho simples no qual
percebe-se que os esquemas que criamos para entender, por exemplo, o que é uma bola
são distintos, mas não mudam a bola em si, a coisa ou as coisas que significamos não
mudam em sua essência, o que muda são os significados que damos a elas e quanto
mais significamos mais o universo se colore, transpira e exala-se. Foi isso que Lydia
buscou quando disse:
"Há anos atrás, estava preparando um plano escolar para crianças Tapuias,
quando escutei um bem-te-vi cantando na janela de minha escola.
Alias, não era cantar, era dizer, e muito mais, perguntar:
- “Porque em vez de ensinar, você não aprende com as crianças?
Enquanto eu me surpreendia, o bem-te-vi perguntava:
- Quem é que tem mais pureza e espontaneidade e ainda não proibiu a
criatividade?
- Quem não aprendeu ainda os conceitos deturpados de como se sentar direito
ou dizer obrigado?
- Quem é que permite à imaginação poder visitar lugares e lugares, sem
nenhum preconceito de raça ou religião?
- Quem é que permite à imaginação poder brincar, conversar com os reis ou
virar um peixinho no fundo do mar?
- E o dom de maravilhar-se com as pequenas coisas, quem é que sabe o
segredo?
Enquanto eu raciocinava, quase envergonhada de minha pretensão, o bem-te-
vi perguntava:
- Então?
Então, hoje eu sou aluna de crianças, e é por isso que desejo minha Nação."
(BÁRBARA, 2016 p. 68)
Estamos aqui para negar a divindade institucionalizada que tentou dividir nossa
essência em boa e ruim. Somos preciosos e preciosas como somos e não como pedras
mercantis que só serão preciosas se forem lapidadas. Somos inclassificáveis e
multiplicáveis, negamos a existência de duas humanidades, pois é na negação do todo
que se constituem as bipolaridades que assombram o ideal de escola europeia e
mercantil que não nos satisfaz criando professores e alunos aos moldes ditatoriais.
Queremos aqui exaltar a multiplicação dos saberes pela sua divisão pois:
Acreditamos que a separação entre alunos e professores não serve nem para
colocar os professores como mediadores do conhecimento, pois mediadores são só
mediadores. O que queremos é igualdade, pois mediar saber não é construir já que o que
se tenta mediar já está dado como orientação primordial, incontestável e absoluta.
Acreditamos que o saber transpira em nossos poros, move nossos lábios e está nas
unhas dos pés e que só a ajuda mútua é capaz de despertá-lo quando praticada na
observação do outro que é nossa imagem movimentando-se em torno dos nossos ‘eus’.
as roupas que as pontas dos dedos das mãos usam para dançar quando vão contar as
nossas histórias.
O teatro de bonecos popular do nordeste brasileiro também conhecido como
Mamulengo, João Redondo, Babau, Cassimiro Coco, Calunga, João Minhoca e muitos
outros nomes dependendo do lugar que ele aconteça, diferentemente do teatro
franciscano que foi utilizado para nos domesticar inclusive com bonecos, o mamulengo
tem desde a sua origem o grito de liberdade que nasceu dentro das senzalas do império
servil como falou o "Extraordinário Mamulengueiro Januário de Oliveira"(1966, p.90)
para Hermilo Borba Filho que registrou em Fisionomia e Espírito do Mamulengo. Nas
mãos de Lydia toda essa força ganha também leveza e amor.
"(...) era imagem em ação, eu inventei essa técnica, imagem em ação, que é
imaginação... Então sua imagem está em ação, você fecha os olhos,
começava assim do zero, que imagem? Eu via o que? Eu fiz; “eu vou fazer
um filme”, que imagem você viu na sua imaginação? Na sua imagem? Que
imagem você produziu aí no seu pensamento? Aí um dizia: “uma fumaça”,
aí eu dizia: “vaila-me deus”... Mas aparecia." (BRASILEIRA, 2016)
É através das ideias sobre imagem em ação que Lydia nos apresentou que
criamos dois exercícios de ação na imagem ou de imagem na ação, o primeiro deles é
um livreto intitulado de "A origem dos mamulengos segundo a Caapora" e o segundo é
uma exposição de desenhos intitulada de "O que é?". Tais exercícios, encontram-se
respectivamente nos anexos III e IV deste trabalho.
pescoço rolinho-papelão
moldamos uma massinha ora menina
feita de papel, água, cola e vinagre
que após três dias secando
vestiria uma mão encomendada
para o seu corpo tecido.
" (...) Eu não podia me apresentar, eu não podia participar do texto não,
porque eu queria ver o que é que aquele mamulengo, aquele boneco, tava me
dizendo, e também o que era que ele passava, porque ele tem... Se eu fosse lá
pra dentro eu não sabia corrigir o que não se ouviu, porque o repasse do
conteúdo era importante demais, era isso que a gente queria... Fazia a
pesquisa, formando pesquisador, e formava um brincante também como
artista que ia apresentar pro público que podia vim assistir." (BRASILEIRA,
2016)
caracterizando a ideia de uniformização, pois os padrões existem para definir quem está
mais próximo do poder e as regras servem para garantir a separação entre os patrões e
empregados. Já a segunda interpretação é que tudo pode virar mamulengo e que os
materiais que podem constituir os bonecos podem ser muitos.
Quando não gritamos aquilo que nos questiona as mordaças nos prendem
novamente e os grilhões agudos nos deixam surdos e surdas em poucos instantes.
Quando nos falta proximidade, nos sobra distanciamento e ele é sedento, é grotesco e
sabe aquelas músicas do lixo massificador comercial que falam de diferentes tipos de
apologias que fazem inúmeras referências a vários tipos de violências? São essas
modinhas 'desmusicais' que embalam a dança das cadeiras nos senados, presidências,
prefeituras e em outros cargos hierárquicos da máquina oligárquica organizacional
capital. A famosa "dança das cadeiras" hoje tem uma nova música chamada "FORA
TEMER", que já foi "FORA COLLOR" e "VIVA LULA" e até que as cadeiras sejam
retiradas muitas músicas surgirão, muitos gritos ecoarão, mas só serão ouvidos quando
não existirem cadeiras para serem ocupadas, músicas podem existir e que existam, elas
só não podem exigir cadeiras.
Fábricas de bolos
É engraçado pensar sobre a escola e sobre a ideia das receitas de bolos copiadas
e ditadas nas formações acadêmicas dos novos servos educacionais com furúnculos
cerebrais enterrados até o pescoço em uma competição de papagaios gagos. A escola é
um lugar de suicidas hipocondríacos automutiladores. Já que se fala tanto em bolos e
receitas, podemos considerar a escola como uma fábrica multinacional de bolos, os
professores e professoras são os padeiros e padeiras, suas metodologias são as receitas e
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Esse trabalho poderia ser lido como uma receita de bolo mas não somos uma
fábrica de bolos multinacional. Mostramos o trabalho de Lydia como um mundo em
experimentação desenvolvido através de contatos com diferentes formas de saberes e
seres e isso proporcionou um caminho criativo considerado por ela como artístico e
pedagógico através dos mamulengos.
A escola não deixará de ser uma fábrica enquanto definir padrões normativos, a
escola não mudará se ela não for feita de agricultores e biólogos, a escola não mudará
enquanto for escola e enquanto não for feita de muitos ouvidos e olhares, silêncios e
gargalhadas. E se ao invés de escolas plantássemos árvores? E quando a chuva chegasse
ou o sol esquentasse que tal algumas salas sem paredes e sem aulas? E se no lugar de
diretores tivéssemos agentes de cultura preocupados em como conhecer outros terreiros
e outras salas sem aulas com outros arteiros e arteiras? E como seria se plantássemos
nossa comida ao invés de criarmos agrotóxicos?
dispensamos honrarias
miseráveis letrados
oferecemo-lhes, humildemente,
uma dose
o alucinante mundo-mente-expansão-poesia
(Des)Formação
Nesse momento deixo o "nós" e falo de uma "eus". Apesar de fazer parte de um
'curso de educação' foram raros os momentos de liberdade e as experiências de trocas de
saberes. Prefiro não falar sobre 'educação' em respeito aos índios, aos mestres da cultura
popular, aos vários estudantes espalhados nesse mundão e a todas as crianças, pois
ninguém merece ser educado. Não gosto da palavra educação e o seu significado
mercadológico. Quando penso em educação, penso em propriedade, aí penso em
militarismo, penso em crianças fardadas cantando hinos e batendo continência a
bandeiras. Quando penso em educação associo ao terrorismo e ao Estado. A educação
não nos pertence, ela é produto dos governantes que a coreografarão de acordo com a
dança que quiserem.
Quando penso nos saberes que sou e que construí ao longo da vida, lembro do
meu pai poeta doceiro, da minha mãe companheira doceira guerreira, do contador de
histórias popular que eu ouvia quando criança, das caminhadas longas a sítios para
colher frutas, da minha avó falando que "a vida é um sentimento", de um professora de
filosofia do ensino médio, das discussões com meus irmãos, das brincadeiras de rua que
tive oportunidade de vivenciar e dos amigos e amigas que acompanhei e que ainda
acompanho, do que consigo observar em João e em outras crianças, coisas e criaturas,
dos mestres e mestras populares que conheci caminhando ao lado do amado
companheiro kalungueiro, dos companheiros e companheiras do Coletivo Autônomo de
Estudantes, do Coletivo anarquista NENHURES e do Laboratório Internacional de
Movimentos Sociais, Educação Popular e Direitos Humanos - LAMPEAR e do Bom
Fim encorajador. Foram tantas Lydias nessa vida e nesse meu 'eus' que não caberiam
aqui.
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REFERÊNCIAS
BÂ, Hampâté Amadou. Amkoullel, o menino fula. São Paulo: Palas Atheena, 2013.
BRASILEIRA, Lydia . Entrevista I. [Abril . 2016]. Entrevistadora: Catarina Araújo de
Medeiros. Caicó, 2016. 1 Arquivo (29min50s). A entrevista na íntegra encontra-se
transcrita nos anexos desta monografia.
BRASILEIRA, Lydia . Entrevista I. [Abril . 2016]. Entrevistadora: Catarina Araújo de
Medeiros. Caicó, 2016. 1 Arquivo (O8min12s). A entrevista na íntegra encontra-se
transcrita nos anexos desta monografia.
BRASILEIRA, Lídia. O boneco mamulengo na escola de 1º grau. Caicó: EDUFRN,
1997.
BRASILEIRA, Lydia. EM ABRIL, QUINHENTOS E QUINZE ANOS DE NAU DE
CABRAL, ANCORADA NO MEU BRASIL DE PORTUGAL. Seridó, 2016.
BRASILÊRA, Lýda. Raízi qatimgêras.
FEYERABEND, Paul. Contra o método. São Paulo: UNESP, 2007.
FILHO, Hermilo Borba. Fisionomia e espírito do mamulengo. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1966.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
NOVA ESCOLA. A revista do ensino de primeiro grau. N° 98. São Paulo: Abril,
1996.
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ANEXOS
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ANEXO II: Transcrição de duas entrevistas realizadas com Lydia Brasileira utilizada
neste trabalho:
TRANSCRIÇÃO
Lídia Brasileira: Lydia Brasileira... Lydia Brasileira é uma pessoa bem diferente viu?
Eu não sou pessoa comum não, olhe que eu fui me oferecer... Eu posso ficar à vontade
né?
Lídia Brasileira: Depois você tira os outros conteúdos que eu já disse e que eu repeti,
que eu posso repetir.
confundiam com os estudantes, a gente não distinguia professor ou estudante, era tudo
pesquisador, e tudo era pessoa comum, de se vestir comumente como os estudantes, e
aqui em Caicó eu percebi isso, a diferença, a distância entre professor e estudante;
estudante tinha um figurino, professor tinha outro figurino, com joia, com bolsa, com
bolsa da moda, com esse tipo de coisa, com sapatos assim toilets, assim, sociais, e isso
me impressionou demais, eu vinha como um estudante, e isso aí eu comecei a fazer
movimento disso, eu fiz na disciplina de psicologia, eu ensinei a disciplina fazendo isso,
comprando uma coleção de roupas com uma boutique que estava em uma grande
promoção, eu comprei uma coleção de roupas com assessórios e bolsas iguais, e
comecei a desfilar no campus, aí as pessoas começaram a ficar assim inquietas, o que
era isso? “que isso era a gente que tava fazendo isso aqui, nós professores, estamos
fazendo isso”. E pronto, até bijuteria eu arranjei pra usar, que eu já nem usava mais,
porque eu vim me naturalizar aqui nesse Seridó, nessa Caatinga, nessa Caatinga
martirizada, a desertificação é um martírio. O quê mais?
Catarina: E o mamulengo?
personagens que demonstravam teatro, era assim, personagens dos conteúdos escolares,
por que eu era de TAVE, eu era professora dos cursos de história, geografia, pedagogia,
matemática e letras... E aí eu disse: vou fazer mamulengo com a turma de geografia, de
história e de pedagogia, pedagogia vai ficar com ciências porque era descoberto, o
conteúdo escolar de ciências era descoberto por que geografia o assunto era só
geográfico, era ecologia, meio-ambiente, e fauna, e flora, e relevo, relevo e os rios, as
águas... Tudo isso era assunto de geografia: maquetes, mapas... E história é história, a
gente já sabia que era história, historia tanto faz ela ser aqui a historia da gente do
Seridó e... Olhe eu sofri na pele quando eu fui estudante que eu não sabia, eu vim saber
aqui em Caicó minha gente, que o rio Barra Nova ou o rio Seridó era geografia, eu não
sabia disso, eu pensava que era Reno, Eufrates... Foi isso que eu estudei e decorei
naquela época, eu disse: não, vai ter que ter mamulengo nessa historia, por que eu teria
oportunidade de botar um questionador, um mamulengo, mesmo que essa historia fosse
uma historia que a gente aprendeu aqui, que é a historia do português que era o herói de
tudo, eu vou... A gente no mamulengo tem a oportunidade de botar um personagem ao
lado daquele português, um personagem que iria questionar esse português. Pronto, foi
isso ai! Foi uma ideia que nasceu aqui em Caicó, pela necessidade, pela carência da
gente ter uma consciência cultural, porque eu já vinha com minha cabeça de cultura lá
do departamento de artes, e aí foi facílimo pegar mamulengo e transformar nesses
personagens da região, tudo, tudo é personagem, a galinha é personagem, o guiné é
personagem, o pato é personagem, o peru, jumento, boi... Tudo isso é personagem que
podia dizer sua historia, realmente isso aconteceu, e agente se apaixona mesmo, por isso
que eu acho que adolescente, que é uma fase de brinquedo, de lúdica, é uma fase lúdica!
Então ele vai se ligar nisso, e realmente houve uma demonstração que os estudantes se
ligavam porque eu trabalhei com estudantes marginais lá no CAIC, e eles se envolveram
com isso, eu não tenho dúvida nenhuma que seria uma missão humana que a gente teria
dessa proximidade, aqui na região, uma proximidade de sua história pessoal e de sua
preferência pessoal que é a idade do estudante, da criança ou adolescente, que também o
adolescente se envolve, né? Não é só criança, aconteceu... Como o mamulengo, tem
mamulengo que... Olha são 103 personagens que eu deixei no laboratório LAMADI
(Laboratório de Material Didático), tinha esse nome LAMADI, e esses personagens
falavam da história, da geografia, das ciências... De tudo... Como o sol e a terra, que o
sol pariu a terra, pariu outros planetas, e como foi que essa terra ao nascer... Ao ser
parida aliás, eu não posso dizer essa palavra nascer... Ao ser parida pelo sol o que foi
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que aconteceu com ela? Aí a gente tem que ir aos conteúdos... De geografia, conteúdos
de historia, tem que ir...
Catarina: Como é que surgiu o laboratório? Quem eram os professores? Tinha algum
professor que era parceiro nessa ideia sobre o mamulengo? Como é que surgiu o
laboratório e se tinha algum professor que trabalhava juntos com vocês lá...
Lídia Brasileira: Não, eu não consegui muito tempo não... Eu gostaria disso... Mas eu
tive o professor Adalberto, que era meu vizinho de laboratório, ele me forneceu toda a
fauna da caatinga e dos animais eles... O reino animal... A gente contou com ele, com os
livros do IBAMA, ele estava com a coleção de livros do IBAMA, e ele forneceu
muito... E às vezes ele vinha corrigir: não, esse animal aqui ele não é muito assim não,
ele é vermelho, ele é dessa cor... Galo de campina... corrija esse galo de campina, bote
um traço aqui ele fez isso, a professora Graça Lago também, que era diretora do campus
de Caicó, ela me... Ela veio pra ensinar coordenadas quando a gente fabricou o globo,
que a gente também fazia o globo de papel machê, e ela veio ensinar pra turma de
geografia dela que saía da sala dela, veio ensinar dentro da produção, dentro da
modelagem do grupo... Esse globo, não sei se você reparou, mas é por que você não
entendeu isso, mas a terra que eu fiz eu queria uma coisa muito perfeita, que não saía
perfeito não, mas eu quis uma coisa muito perfeita, eu tirei xerox, eu tirei xerox de um
globo daquele tamanho, sabe? E... É claro que é um plano, a xerox é um plano, uma
copia é um plano, e aí eu fiz uns recortizinhos e preguei, acompanhando o formato,
entendeu? Eu fiz as xerox, eu copiei, mas o resto foi inventado.
Lídia Brasileira: É... Bom, então eu fiz várias entrevistas no meio rural com caçadores,
principalmente caçadores, mas todo o pessoal do meio rural eles conhecem, umas são
perfeitos nisso! Eu acho que Francisco Reis foi a pessoa que mais observou a fauna da
caatinga, porque ele não observava só a fauna, ele observava também a flora da
caatinga, isto é, a vegetação da caatinga... A fauna são os animais, o reino animal, a
flora é o reino vegetal... ele observava aquele animal, o que é que ele comia, em qual
floração, qual a época de semente, aí isso fazia uma relação profunda de caatinga, o
solo, a história do solo, animais que moravam no subsolo, que faziam seus ninhos no
solo... A gente tem que contar esse detalhe aí... Não tem nem nesse caderno aqui sobre a
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Catarina: Então a senhora foi trabalhar com o mamulengo por causa desse conceito de
proximidade?
Catarina: E foi a forma que a senhora encontrou pra trabalhar com essas pessoas, com
esses alunos, o conceito de proximidade usando o mamulengo e fazendo essa pesquisa
com os caçadores...
Lídia Brasileira: ... Com agricultores, sobre vegetação, sobre plantio, épocas de
invernos, sinais de inverno, aí a gente tem esse material por eles, através deles, e a
ciência também, tá aqui: no IBAMA, no IDEMA... Os geógrafos... Os ecólogos já estão
produzindo esse material... Eu escrevi... Eu recebi um material através do IBAMA do
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Catarina: Com esse conhecimento que foi trabalhado com os alunos, como era passado
esse conhecimento pro mamulengo? Como é que eles trabalhavam com esse
conhecimento cientifico e esse saber popular com o mamulengo? Como é que eles
passaram, falavam... Como que era a relação do encontro do aluno com o mamulengo?
Como é que eles faziam? Como é que eles...
Lídia Brasileira: Um aluno... Vamos dizer, uma turma de geografia chegava na minha
sala de aula, então o assunto era geografia, aí eles tinham que saber... Na minha sala de
aula eu tinha esse material, não científico de dificuldade assim de 3° grau, mas eu tinha
conteúdo escolar, eu tinha livro ilustrado, atlas... Eu tinha lá tipo uma bibliotecazinha
muito pequena, mas tava ali assunto de geografia, assoreamento de rio, erosão, o que era
erosão, o que era voçoroca, que é uma erosão pior do que a própria erosão, e eu tinha
tudo isso cientificamente, porque das editoras moderna, ática... As editoras que
trabalham com fundamentos de 1° grau... Então esses livros eu comprava e ficava
assim, eu comprava quando ia à Natal, comprava lá atlas grandes assim, corpo humano
também pra área de ciências, que era o pessoal de pedagogia porque senão ciências
ficava descoberto, geografia tava era com os mamulengos de geografia, era mais
maquete, tudo em papel machê, maquetes e mapas, tudo em papel machê, mamulengos
também... E a gente fez muito material de cartolina/papelão de geografia, era o cenário,
geografia se preocupava com rio, com relevo... A serra tal, alguém tinha que conhecer, e
sempre tinha a serra, a serra daqui, a serra da formiga, se falava na serra da formiga... O
que é que tem? Que animais têm na serra da formiga? Quem já foi lá?... Os caçadores
andavam por todo canto... E a gente preparava esse cenário e preparava os animais
também pra dialogar, pra... Era assim, os animais estavam conversando entre os
animais, eu não criei muita fantasia de animal conversar tipo lenda pra não fugir do
conteúdo, os animais estavam conversando entre os animais, as famílias entre elas...
Assim, as preocupações porque o filho ia nascer e o caçador vinha e ia destruir o ninho
deles, essa historia ai das ribaçãs...
Catarina: E aí a senhora uma vez falou que ia pros alunos de pedagogia irem estagiar
noCAIC...
Lídia Brasileira: Levei... Foi Lúcia, acho que Lúcia fazia pedagogia, Lúcia participou
desse projeto de lá, no CAIC...
Lídia Brasileira: Era O brinquedo mamulengo na escola de primeiro grau, era criança
até a quinta série... Gilmar Donizete foi um dos meus estagiários lá no CAIC, que ele
era professor do CAIC, entendeu? Aí foi estagiar lá umas 4 ou 5 pessoas, foram estagiar
lá na minha época de professora de mamulengo.
50 centavos na época... Eu levei inúmeras, a quantidade dos alunos que iam fazer globo
lá na escola.
Lídia Brasileira: Comecei em 86, 86-96, 20 anos... Eu terminei em 96, 96 foi quando
a... 95, a revista veio, 21 anos, 20 anos... Arredondar pra 20 anos de mamulengos... Eu
não sei... Eu não sei porque... Olhe, porque eu só vivia cheia de sacola no mei da rua
atrás de vareta pra fazer cartas, que a gente também fazia também, o pessoal de
pedagogia, qualquer pessoa que quisesse expor um trabalho teria que ser tipo vareta,
fazer propaganda, queria ver uma exposição... A gente ia apresentar mamulengo...
Catarina: Ai tinha períodos pra fazer? Ou era assim, vamos fazer uma apresentação...
Lídia Brasileira: ... Quando ficavam pronto, como ficou o texto, e os mamulengos, e
tudo
Lídia Brasileira: Fazia... Fazia com os estudantes, e levava pirulito, tal hora, tal show,
num sei o que... Era muita gente, e participava também... Eu me lembro que um aluno
meu de ciências foi explicar sobre um parto... ia dizer pedagogia, han? Ele se vestiu de
branco e como médico, foi ótimo, lindo!
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Catarina: ...que hoje em dia é ainda a sala do LAMPEAR... Ai essa sala como que ela
surgiu? Foi solicitada a direção? Como que ela surgiu? Era uma sala de materiais
pedagógicos?
Lídia Brasileira: Era... Era... Eu solicitei, mas num era nem por oficio não, eu dizia:
Lúcia, arranje ai uma sala pra gente trabalhar, porque não tinha cadeira não, entendeu?
Era banco...
Catarina: Porque precisava do espaço mesmo, tinha que ter pra poder trabalhar...
Lídia Brasileira: Tinha uma mesa que... De alvenaria, era maior do que aquelas que
tem hoje me dia, só que não era no meio da sala, era onde tem aqueles armários,
pertinho da porta, a entrada era entre uma porta e outra, sendo que era mais perto da
porta que fica mais...
Lídia Brasileira: Acontecia... Como era essa produção de mamulengos? A gente tinha
um texto pra elaborar esse texto, e as vezes a gente elaborava primeiro o mamulengo, aí
depois surgia o conteúdo do mamulengo, que era de acordo com o personagem, e as
vezes a gente primeiro elaborava um texto e criava um mamulengo praquele texto,
aconteceram as duas coisas e dava certo todas duas.
Lídia Brasileira: Era uma colcha, que nem era colcha, era maior que colcha porque foi
uma cortina, que era lá de uma sala do campus, que a gente pediu emprestado essa
cortina e nunca mais entregou, era uma cortina imensa que assim, que tampava a
parede, não sei o que de ar-condicionado... Uma cortina de brim azul, pronto! A gente
botou um letreiro LAMADI (Laboratório de material didático), em letras de... Primeiro
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Lídia Brasileira: Primeiro... Primeiro a gente tinha noção do que era o texto, você tinha
assim... Lembra daquela improvisação da gente né? Que a gente não noção de nada, eu
não me lembrava mais de nada, mas ai o pessoal de geografia já vinha... Já vinha com o
conteúdo do curso, o que era que tava fazendo, a teoria de oparin, vamos fazer a teoria
de oparin...
Lídia Brasileira: Já sabia... Quando já ia pra cena, tinha muitos ensaios, ensaios que a
gente faz... Quando iam apresentar já iam, bem assim, seguros...
Lídia Brasileira: Assim... Essa questão de mamulengo, a gente tinha que dá mais
significado no mamulengo, porque senão o texto não era comunicado, mais devagar,
porque a gente fica nervosinha, viu? Você num disse que eu saia assim: “Vou me
embora... Vou me embora”, era o mais fácil de dizer... É a emoção, a própria emoção
que você joga através do boneco... Aí, eu não tinha muita técnica não, mas eu aprendi
umas coisa, que eu fui pro IBAMA e conheci um mamulengueiro lá, um calungueiro,
sabe? Lá em Mossoró...
Catarina: Quem é?
Lídia Brasileira: Era irmão e Antônio Francisco, aquele poeta, grande poeta cordelista,
era toínho, Antônio... Ele era do IBAMA, ele trabalhava com o IBAMA
Lídia Brasileira: Era calangueiro, ai ele era ótimo, a gente fez a história da vida da mãe
dele lá em Mossoró, a história do rio Seridó, da poluição... Do rio Mossoró aliás... E aí
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ele foi criado na beira do rio, ai eu via como ele fazia como ele andando [gesto com o
dedo indicador apontando pra cima em movimento cima-baixo, semelhante ao usado pra
representar o carnaval na tela... Era ótimo! Eu fui aprendendo...
Lídia Brasileira: Era... Depois assim... Eu ficava... Eu não podia me apresentar, eu não
podia participar do texto não, porque eu queria ver o que é que aquele mamulengo,
aquele boneco, tava me dizendo, e também o que era que ele passava, porque ele tem...
Se eu fosse lá pra dentro eu não sabia corrigir o que não se ouviu, porque o repasse do
conteúdo era importante demais, era isso que a gente queria... Fazia a pesquisa,
formando pesquisador, e formava um brincante também como artista que ia apresentar
pro público que podia vim assistir...
Lídia Brasileira: Era... Era... Era muito bom... É ótimo isso... Eu sou apaixonada que
só... Eu sou apaixonada por isso, mas por isso que sou suspeita, né? É perigoso, de vez
em quando eu me corrijo nas coisas, que a coisa tá só dentro de mim, ninguém mais
teve a paixão que eu tive... Mas teve, teve...
Lídia Brasileira: Muito pouco... Letras se envolveu muito com... Por exemplo, a turma
de letras, os projetos de exposições... Letras... Cartazes, que eu também dava cartazes
pra eles, e varetas, as varetas que eu disse que era os cartaz com a vareta e o pirulito,
que a gente chama de pirulito... Ai, a turma de letra se envolveu de mais nisso, por
exemplo, os textos que seriam colocados nas paredes, a turma de letras... A turma de
letras também produziu texto pra conteúdos também.
Catarina: Ai como eram feitos a produção dos textos das falas dos bonecos? Como
tinha...
Lídia Brasileira: Assim... Eu vou dizer... Eram mentais, os textos eram mentais... Eu
tinha um nome, era imagem em ação, eu inventei essa técnica, imagem em ação, que é
imaginação... Então sua imagem está em ação, você fecha os olhos, começava assim do
zero, que imagem? Eu via o que? Eu fiz; eu vou fazer um filme, que imagem você viu
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na sua imaginação? Na sua imagem? Que imagem você produziu ai no seu pensamento?
Ai um dizia: uma fumaça, ai eu dizia: vaila-me deus... Mas aparecia.
Catarina: Então o processo de criação dos textos e dos próprios mamulengos foi assim,
da própria imaginação...
Lídia Brasileira: É!
Lídia Brasileira: Ai depois a gente ia, sabe o que fazendo? Direcionando, porque ficar
era do nada que você partia, eu via estrela, vamos fazer a estrela
Lídia Brasileira: ... Coerente com aquela estrela! É... É muito subjetivo no inicio, mas
depois eu entrava no conteúdo e puxava o conteúdo... Quando eles estavam certos do
conteúdo eu botava um questionador dentro também... Tinha que ter, a coisa mais
importante Catarina, é esse questionador... É quem vai questionar e que vai ter
argumento e justificativa pra dizer que tal coisa tá errada... É desumano, entendeu? É
desonesto, que ele também tá chateado com isso, ele é um cara que tá ali questionando
os conteúdos...
Catarina: Todo texto tinha um questionador... Alguém pra questionar mas porquê isso
acontece...
ANEXO III: Livreto "A origem dos mamulengos segundo a Caapora", criado para
apresentar as principais ideias deste trabalho:
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ANEXO IV: Imagens de parte do exercício de ação na imagem criado e inspirado nas
ideias de Lydia intitulado de: "O que é?":