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CASOS DE CUIDADOS GLOBAIS DE SAÚDE  
 
 
GHD‐018 
ABRIL de 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HIV / AIDS no Brasil: Provimento de
Prevenção em um
Sistema Descentralizado de
Saúde
 
 
ʺNão é de dinheiro que precisamos agora. Precisamos de um novo olhar. Precisamos alterar a 
agenda estadual e municipal para que possamos planejar melhor. Encorajar e fortalecer esse tipo de 
estrutura é um processo de longo prazo. Não acontecerá durante a minha vida, mas toca diretamente a 
alma do governo brasileiro.” 
 
Dr. Mariângela Galvão Simão, diretora do Departamento Nacional Brasileiro 
de DST, AIDS e Hepatites Virais. 
 
“A descentralização é uma faca de dois gumes. Às vezes é muito boa e às vezes muito ruim.” 
Dr. Francisco Inácio Bastos, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz 
 
 
 
Em  dezembro  de  2009,  a  principal  autoridade  brasileira  em  HIV/AIDS,  a  Dra.  Mariângela  Galvão 
Simão, refletiu sobre o avanço de seu país no combate à doença. A resposta brasileira imediata e agressiva ao 
HIV/AIDS,  baseada  em direitos humanos e  cooperação entre o governo  e  a sociedade civil foi considerada 
internacionalmente um sucesso. Em 1996, o Brasil se tornou o primeiro país em desenvolvimento a oferecer 
tratamento  anti‐retroviral,  financiado  pelo  governo,  para  todos  com  HIV/AIDS.  Em  torno  do  ano  2000,  a 
epidemia  de  HIV  se  estabilizara  e  parecia  com  aquela  nos  Estados  Unidos  e  Europa  Ocidental,  com  as 
maiores taxas de infecção concentradas em grupos de alto risco, homens homossexuais, profissionais do sexo 
e usuários de drogas injetáveis. 
 
Ainda  assim,  os  desafios  perduravam,  e  ainda  havia  muito  a  se  fazer.  Em  2009,  novos  casos 
aumentavam entre homens homossexuais jovens e entre mulheres de baixa renda em cidades menores, onde 
o  sistema  de  saúde  e  a  participação  da  sociedade  civil  eram  mais  fracos.  Além  disso,  as  taxas  de  infecção 
cresciam nas cidades onde os programas contra o HIV haviam sido negligenciados após a mudança do poder 
financeiro e administrativo do nível federal para os governos estaduais e municipais. Em 2009, seis anos após 
o  início  do  processo  de  descentralização,  os  resultados  eram  variados.  Em  seu  escritório  no  Departamento 
Nacional  de  DST,  AIDS  e  Hepatite  Virais  em  Brasília,  Simão  disse  acreditar  que  manter  os  serviços  de 

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  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
prevenção  de  HIV  em  todo  o  Brasil  exigia  o  fortalecimento  da  capacidade  estadual  e  municipal  de  prover 
serviços de prevenção e tratamento da AIDS por meio do sistema descentralizado de saúde pública do país. 
Sarah Arnquist, Andrew Ellner, e Rebecca Weintraub desenvolveram este caso com o objetivo de promover discussão em sala de aula, ao invés de 
ilustrar práticas eficientes ou ineficientes de provimento de saúde pública. 
 
O  desenvolvimento  do  caso  recebeu  em  parte  o  auxílio  da  Bill  &  Melinda  Gates  Foundation.  A  publicação  foi  disponibilizada  sem 
custos  graças  à  Harvard  Business  Publishing.  ©  2011  ao  Reitor  e  aos  colegas  de  Harvard.  Este  caso  foi  licenciado  pelo  Creative 
Commons Attribution‐NonCommercial‐NoDerivs 3.0 Unported. 
 
Nós os convidamos a acessar as comunidades online da Global Health Delivery, GHDonline.org, e a se juntar a discussão com 
milhares de promotores e especialistas de todo o mundo. 
 
 
 
.Entretanto, considerando as grandes dimensões do Brasil, o Departamento teve de focar seus investimentos 
em auxílio técnico aos locais de maior necessidade. 
 
 
Visão geral do Brasil
 
Em 2009, o Brasil era o quinto maior e mais populoso país do mundo, com 191 milhões de habitantes 
morando em 8,5 milhões de quilômetros quadrados. A composição racial do Brasil era 53,7% branca, 38,5% 
mestiços entre brancos e negros, 6,2% negros e 1,6% de outras identificações. Três quartos dos brasileiros se 
identificaram como Católicos Romanos, 15% como Cristãos Protestantes e 7%como não religiosos e o restante 
como  praticando  outras  religiões.  Os  26  estados  brasileiros,  seu  distrito  federal  e  5.500  municípios  eram 
divididos  em  cinco  regiões  heterogêneas.  As  regiões  Sudeste  e  Sul  eram  as  mais  populosas,  prosperas  e 
desenvolvidas. As regiões Norte e Nordeste, que inclui a floresta amazônica, eram as áreas mais remotas e 
pobres com baixos níveis de desenvolvimento (veja o Anexo 1 para obter um mapa).1 
 
De  1964  a  1984,  uma  ditadura  militar  governava  o  Brasil.  Protestos  em  massa  e  mobilizações  da 
sociedade civil contra a ditadura levaram a eleições democráticas no meio da década de oitenta. Em 1989 o 
Brasil havia adotado uma nova constituição e se tornou uma república democrática com um sistema federal 
de governança.1 
 
Em 2009, o Brasil estava entre as economias emergentes que mais cresciam.2 Após sua eleição em 2002, o 
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) decretou o programa popular e ambicioso anti‐pobreza, o Bolsa 
Família,1  que  pagava  um  auxílio  para  11  milhões  de  famílias.3  Entretanto,  enquanto  o  Bolsa  e  outros 
programas anti‐pobreza ajudaram a reduzir a quantidade de brasileiros vivendo na pobreza, o Brasil ainda 
tinha  uma  das  maiores  diferenças  em  distribuição  de  renda.  Os  20%  mais  ricos  da  população  controlavam 
59% da renda nacional.4  O Brasil se urbanizava rapidamente e a pobreza era um problema urbano cada vez 
maior.  Em  mega  cidades,  com  crescimento  desordenado,  incluindo  o  Rio  de  Janeiro  e  São  Paulo,  um  terço 
das pessoas moravam em favelas. Disparidades raciais em riquezas e saúde eram comuns.5 
 

Tabela 1: Indicadores socioeconômicos e demográficos básicos2


 

Indicador    ANO 
Posição no índice de desenvolvimento humano da  75  2007 
ONU
População  191 milhões  2007 
População Urbana (%)  85  2009 
Acesso à água potável (%)  97  2008 
Taxa de pobreza (% vivendo com menos de USD1,25  5,0  2007 
Índice de  57  2004 
Gini 
PIB per capita em PPP (constante, dólar em 2005)  8.949  2006 

  2
 
PIB per capita (constante, dólar em 2000)  10.100  2009 
Taxa de analfabetismo (%) (adultos, jovens)  90, 97  2007 
 
 
 
 
 
1 O Bolsa Família foi um programa condicional de transferência de renda que oferecia pagamentos em dinheiro para 
famílias pobres que cumpriam certos requisitos comportamentais, normalmente relacionados aos cuidados com a saúde 
e com a educação dos filhos. 
2 Estes dados foram retirados das seguintes fontes: Nações Unidas (ONU), Fundo das Nações Unidas para a Infância 

(UNICEF), Banco 
Mundial, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 
 
 
Saúde no Brasil
 
Entre os anos de 1990 e 2007, a expectativa de vida média no Brasil cresceu de 67 para 72 anos, e a taxa 
de mortalidade infantil caiu de 48 a cada 1.000 nascidos vivos, para 18.6  As taxas de vacinações eram altas e 
quase  todos  os  bebês  nasciam  em  hospitais.7  Existiam  disparidades  significantes  na  saúde  entre  as  raças. 
Geralmente, a população branca era mais saudável que a negra ou indígena. A taxa de mortalidade materna 
no  Brasil  em  2005  variava  entre  67  a  cada100.000  nascimentos  no  Nordeste  a  41  no  Sudeste.8  Na  segunda 
metade  do  século  vinte,  doenças  crônicas  substituíram  doenças  infecciosas  como  os  motivos  dominantes 
para  mortalidade  e  morbidade.  Acidentes  vasculares  cerebrais  ou  ataques  cardíacos  eram  as  principais 
causas de óbito, atingindo um terço das mortes no Brasil. Em 2004 o homicídio era a terceira principal causa 
de  mortalidade,  representando  5,3%  de  todos  os  óbitos  (veja  o  Anexo  2  para  obter  a  distribuição  de 
mortalidade por causa no Brasil.8 
 
 
Sistema de Saúde
 
Além dos protestos por democracia nos anos 80, sanitaristas (defensores da saúde pública) protestaram 
contra as graves desigualdades na saúde da nação. Durante a ditadura, apenas trabalhadores do setor formal 
tinham  seguro‐saúde,  deixando  milhões  de  fazendeiros  e  outros  trabalhadores  do  setor‐informal  sem  uma 
rede de segurança. Em resposta ao movimento sanitarista, a nova constituição Brasileira declarou o acesso à 
saúde  um  direito  humano  a  ser  fornecido  pelo  governo.9  O  Sistema  Único  de  Saúde  (SUS)  foi  criado 
imediatamente para coordenar todos os serviços de saúde pública e fornecer cuidados gratuitos para todos. 
O sistema particular continuou a existir junto ao sistema público. 
 
Governança
 
O sistema de saúde pública brasileiro foi organizado em dois subsistemas: o financiado pelo governo, o 
SUS, e o Sistema privado Suplementar de Assistência Médica. O SUS era o principal financiador e provedor 
de  tratamentos  para  três  quartos  dos  brasileiros.  O  quarto  restante  de  brasileiros,  mais  ricos  e  localizados 
principalmente  nas  regiões  urbanizadas  do  Sudeste  e  Sul,  obteve  planos  privados  de  saúde  e  utilizavam 
médicos e hospitais particulares.5 As pessoas com planos particulares permaneceram com o direito de usar o 
sistema público. 
 
Cinco  princípios  guiaram  o  desenvolvimento  do  SUS:  1)  cobertura  gratuita  e  universal;  2)  serviços 
abrangentes  da  prevenção  ao  tratamento;  3)  igualdade;  4)  descentralização;  e  5)  participação  pública.7  Nos 
anos 90,as leis e políticas descrevendo estes princípios foram adotadas e implantadas. 
 
A  governança  do  SUS  era  descentralizada,  com  um  único  centro  de  comando  nas  esferas  federal, 
estadual  e  municipal.9  A  nível  federal,  o  Ministério  da  Saúde  (MS)  desenvolveu  e  implantou  políticas 
nacionais.  No  nível  estadual,  as  secretarias  de  saúde  distribuíram  recursos  para  os  municípios  e 
  3
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
coordenaram  diretamente  alguns  hospitais  terciários  e  serviços  médicos  universitários.  As  secretarias 
municipais de saúde organizaram e prestaram a maioria dos tratamentos e serviços de saúde pública.   
Autoridades  eleitas  nomearam  os  administradores  da  saúde  pública.  As  eleições  governamentais 
frequentemente  geram  mudanças  administrativas,  politicamente  motivadas,  que  desconsideram 
competências técnicas ou programas bem sucedidos.10 O princípio de participação pública do SUS (chamado 
de  “Controle  social”)  foi  executado  em  todos  os  níveis  de  governança  nos  conselhos  de  saúde  pública.  Os 
conselhos incluem clínicos, burocratas, pacientes e  membros da organização  da sociedade civil (CSO) que 
ajudaram  a  definir  políticas  programáticas  e  orçamentárias.  Os  conselhos  possuem  poder  estatutário,  mas 
seu grau de influência varia por estado e cidade.11 
 
Financiamento
 
Entre  2000  e  2007,  o  orçamento  federal  brasileiro  para  a  saúde  mais  do  que  dobrou.12  O  SUS  foi 
financiado  com  receitas  de  impostos  de  cada  nível  governamental.  Por  lei,  os  governos  estaduais  e 
municipais gastavam pelo menos entre 12% e 15% de seus respectivos orçamentos em saúde, e, combinados, 
seus  gastos  representaram  mais  da  metade  dos  gastos  do  governo  com  saúde.  Por  outro  lado,  não  havia 
definição  dos  gastos  na  esfera  federal.  Apesar  do  aumento  do  financiamento  da  saúde,  analistas  políticos 
afirmaram  que o sistema  sofria  de falta crônica de  financiamento  e distribuição desigual de  recursos.11  Em 
2002, os gastos per capita com saúde pública na região Nordeste eram equivalentes a US$ 84, enquanto na 
Sudeste chegavam a US$ 125.5 
 
Tabela 2: Indicadores epidemiológicos e do sistema de saúde3 
 
INDICADOR  ANO 
 

Expectativa média de vida no nascimento (total, feminino, masculino) 73, 77, 70  2008 
Taxa de mortalidade maternal (a cada 100.000 nascidos vivos)                110  2005 
Taxa de mortalidade abaixo dos 5 anos (a cada1.000 nascidos vivos)      22  2008 
Taxa de mortalidade infantil (a cada 1.000 nascidos vivos)                   18  2008 
Taxas de vacinação (% da cobertura DTP3)                   98  2007 
Desnutrição (%)                   6  2004 
Prevalência de HIV (a cada 100.000) em adultos (15‐49 anos)                   454  2005 
Cobertura da terapia anti‐retroviral contra HIV (%)                   78  2006 
Prevalência de tuberculose (a cada 100.000)                   55  2006 
Cobertura DOTS (%)                   75  2007 
Casos de malária (a cada 1.000)                  7,3  2006 
Gastos governamentais em saúde em % dos gastos totais
               6.0   2008 
   
 
Gastos per capita governamentais em saúde                   398. 318  2008 
(dólar internacional, US$)   
 
Gastos per capita totais em saúde                   904. 722  2008 
(dólar internacional, US$) 

  4
 
Densidade de médicos (a cada 10.000)                  12  2000 
Densidade de enfermagem e parteiras (a cada 10.000)                  38  2000 
Número de leitos hospitalares (a cada  10.000)                  26  2002 
 
Provimento
 
Após a criação do SUS, os esforços do setor público mudaram de um modelo de tratamento voltado ao 
hospital  para um  modelo  focado em  ambulatório,  com  ênfase especial  aos cuidados básicos.  Em torno  de 
25.000  das  35.000  novas  unidades  de  saúde  criadas  entre  1976  e  1999  eram  públicas,  com  93%  delas 
concentradas  em  tratamento  ambulatorial.  Ainda  assim,  a  demanda  por  serviços  de  saúde  superava  a 
oferta,  principalmente  nas  áreas  rurais.  De  acordo  com  uma  Pesquisa  da  Organização  Pan  Americana  de 
Saúde, 58% dos brasileiros relataram estar insatisfeitos com o sistema de saúde do país.5 
 
Em  2001,  o  Brasil  tinha  1,2  médicos  e  3,8  enfermeiras  por  pessoas,  mas  a  densidade  de  médicos  no 
Sudeste urbano era duas vezes maior do que no Norte e Nordeste.4,13 A maioria dos hospitais públicos eram 
pequenos  e  superlotados.  A  equipe  era  sub‐remunerada  e  a  responsabilidade  por  qualidade  e  eficiência 
costumava  ser  fraca.14  Ainda  assim,  para  tratamentos  complexos,  os  hospitais  públicos  tendiam  a  ser 
melhores equipados do que hospitais particulares. Como consequência, 
 
 
3  Estes dados foram retirados das seguintes fontes: OMS, UNICEF, ONU. 
4  Em comparação, a Suécia em 2002 tinha 3 médicos e 10.2 enfermeiras por 1.000 pessoas. 
 
 
 
pessoas com plano particular tendiam a voltar para o sistema público para receber tratamentos gratuitos 
para tratar condições mais complexas, como o câncer e a AIDS. 
 
Em 1995, o governo iniciou o Programa Saúde da Família (PSF) para levar serviços básicos de saúde mais 
próximos dos pacientes por meio de visitas domiciliares, particularmente para moradores de áreas rurais e 
favelas  urbanas.  Em  2009,  o  PSF  se  tornou  a  espinha  dorsal  do  sistema  básico  de  saúde  do  Brasil.  Cada 
equipe PSF incluía um clínico geral, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem e quatro agentes de saúde 
selecionados  para  atender  em  torno  de  1.000  famílias.  As  equipes  faziam  visitas  domiciliares  para 
identificar  necessidades  de  saúde,  encorajar  visitas  à  unidade  pré‐natal  e  pediatra,  e  promover  o  uso  dos 
medicamentos. Em 2005 mais de 20.000 equipes PSF tratavam 73 milhões de pessoas em 4.800 cidades, ou 
aproximadamente 40% da população.5  O PSF foi considerado o motivo para o rápido crescimento das taxas 
de  vacinação  infantil  e  para  a  queda  da  mortalidade  infantil.15  O  pacote  nacional  do  PSF  não  exigia 
prevenção  e  educação  sobre  o  HIV  ou  distribuição  de  preservativos.  Alguns  programas  incluíam  tais 
serviços de modo voluntário. Enfatizando a importância do componente de contato do programa e o uso de 
agentes  de  saúde,  um  diretor  do  PSF  afirmou,  ʺAlgumas  das  áreas  são  tão  remotas  ou  em  favelas  tão 
perigosas que as ONGs (organizações não governamentais) não vão até lá. Nem mesmo o correio chega lá, 
mas o Programa Saúde da Família vaiʺ. 
 
 
HIV / AIDS no Brasil:
 
 
Epidemiologia
 
Os  primeiros  casos  de  AIDS  no  Brasil  foram  identificados  em  São  Paulo  em  1982,  entre  homens 
homossexuais. Durante os anos 80, o SUS ainda estava em estágios iniciais e não operava nacionalmente. A 
infraestrutura  de  vigilância  epidemiológica  dificultava  rastrear  novos  casos  do  HIV.  O  MS  estimou  que 
entre 1987 e 1989 novos casos da AIDS mais que triplicaram, de 2.600 para 9.000 A grande maioria eram de 
homens da classe média alta, que fazem sexo com  outros homens  (MSM) que viviam no Rio de Janeiro e 
São Paulo.16 
 

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  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
Em  1990,  a  AIDS  foi  diagnosticada  em  hemofílicos,  heterossexuais,  recebedores  de  transfusões 
sanguíneas  e  recém‐nascidos.  A  maioria  dos  novos  casos  foi  descoberta  em  usuários  de  drogas  injetáveis 
(UDIs) nas áreas urbanas do Sul e em homens homo ou bissexuais nas áreas urbanas do sudeste.17 No início 
dos anos 1990, a epidemia de AIDS no Brasil crescia na mesma proporção que na África do Sul. Os casos de 
AIDS dobraram entre 1990 e 1992, de 25.000 para 51.000.18 
No início da década de 1990, analistas do Banco Mundial previram que em 2000, 1,2 milhões de brasileiros 
estariam infectados 
 
Entretanto, em 2009, a prevalência nacional do HIV na população adulta (entre 15‐49) era estimada em 
0,6%, ou um total de 630.000. Em comparação, a prevalência em adultos na África do Sul era de 18% com 
um  número  estimado  de  5.7  milhões  de  infecções.19  Aproximadamente  33.000  novos  casos  de  AIDS  são 
diagnosticados  anualmente.  A  taxa  de  incidência  do  HIV  era  desconhecida.  As  11.000  pessoas  que 
morreram de AIDS representaram 0,01% de todos os óbitos.20  A redução de 15% na incidência entre 1997 e 
2007 ocorreu principalmente devido à redução de incidência de novos casos de AIDS em São Paulo e em 
outras cidades grandes, onde 85% do total de casos de AIDS foram relatados. Entretanto, na mesma década, 
a  incidência  de  AIDS  em cidades  pequenas  quase  dobrou  de  4,4 para  8,2  a  cada  100.000  pessoas  (vide  os 
Anexos 3 e 4 para observar as tabelas de epidemiologia da AIDS.18 
 
Relações  sexuais  foi  o  modo  de  transmissão  em  97%  dos  casos.  Pessoas  entre  25  e  39  tinham  mais 
chances de ser infectadas, apesar da AIDS permanecer concentrada em grupos de alto‐risco. As populações 
MSM  e  UDI  masculina  sofriam  os  maiores  riscos,  com  taxas  de  incidência  15  vezes  maiores  do  que  a 
população  geral.20  Entretanto,  as  taxas  de  Infecção  cresciam  com  maior  velocidade  em  mulheres  e  grupos 
pobres  em  pequenas  cidades.18  As  autoridades  brasileiras  em  AIDS  se  referiam  a  estas  tendências  como 
ʺfeminizaçãoʺ, ʺpauperizaçãoʺ e ʺruralizaçãoʺ da epidemia. 
 
 
A resposta no início dos anos 80
 
Como em qualquer outra parte do mundo, o HIV carregava um grande estigma no Brasil. O HIV era 
frequentemente chamado  de ʺcâncer gayʺ ou ʺpraga gayʺ.  Os ativistas Sanitaristas adotaram a AIDS  como 
uma  causa  de  direitos  humanos  e  uniu  forças  com  ativistas  dos  direitos  homossexuais  para  exigir  uma 
resposta  governamental.  O  setor  brasileiro  de  saúde  nunca  havia  passado  por  uma  mobilização  tão 
fervorosa da sociedade civil como a que foi desenvolvida em torno da AIDS.16,21 O estado de São Paulo criou 
o primeiro programa de controle da AIDS em 1983. O programa contra AIDS de São Paulo funcionou em 
conjunto com várias ONGs recém formadas que auxiliavam pessoas vivendo com o HIV/AIDS (PLWHA), 
para levar mensagens de prevenção e distribuindo preservativos. Na época em que o MS criou o Programa 
Nacional de Controle da AIDS (PNA) em 1985, 
11 dos 26 estados brasileiros já possuíam programas contra a AIDS (veja o Anexo 5 para obter o histórico da 
AIDS).22 
 
Os primeiros programas contra a AIDS foram desenvolvidos como medidas de emergência. Os líderes 
agiam rapidamente e aprendiam com a prática. “Não havia informações do que fazer ou como lidar com o 
problemaʺ,  lembrou  o  Dr.  Pedro  Chequer,  o  representante  do  Programa  das  Nações  Unidas  contra  a 
HIV/AIDS no Brasil e antigo diretor do PNA. O MS criou a Comissão Nacional da AIDS (CNAIDS) em 1985 
para guiar a resposta com conselhos e auxílio científico, técnico e político. Os membros do comitê vieram da 
sociedade civil, do governo e do meio acadêmico. Eles buscaram auxílio técnico de especialistas em saúde 
pública nos Estados Unidos para controlar o suprimento de sangue doado no Brasil, estabelecer um critério 
de diagnóstico da AIDS e desenvolver laboratório nacional e sistemas de vigilância. A comissão Nacional 
contra a AIDS também foi um veículo muito importante para o ʺcontrole socialʺ e participação pública. 
 
 
Bases para prevenção
 
O Programa Contra a AIDS do Estado de São Paulo permaneceu como a base da resposta brasileira ao 
HIV por toda a década de 1990. Nele, uma sociedade civil sofisticada exigia incansavelmente que o governo 
  6
 
ampliasse os serviços de tratamento e prevenção. Com base no exemplo de São Paulo, em 1992, o diretor do 
PNA trabalhou com lideres da sociedade civil para garantir um empréstimo junto ao Banco Mundial para 
auxiliar  projetos  relacionados  à  AIDS.14  O  projeto  de  cinco  anos  e  US$  250  milhões  chamado  de  AIDS  I 
passou  a  funcionar  em  1994  e  auxiliou  uma  grande  ampliação  de  serviços  de  prevenção  voltados  para 
populações  de  alto‐risco.  Reconhecendo  os  limites  do  governo  em  alcançar  populações  marginalizadas,  o 
PNA contratou diretamente ONGs de todo o país para fornecerem os serviços de prevenção. Deste modo, o 
PNA  superou  governos  estaduais  e  municipais  mais  conservadores  e  financiou  programas  controversos, 
incluindo: educação e empoderamento de profissionais do sexo; programa de troca de agulhas (PTA) para 
usuários  de  drogas;  paradas  do  orgulho  gay  e  distribuição  de  preservativos  e  campanhas  de 
conscientização durante o famoso carnaval brasileiro, uma celebração de uma semana relacionada à festas e 
liberdade sexual, que atraem milhares de turistas domésticos e  internacionais. A entrada de novas verbas 
contra a AIDS alimentou uma rápida expansão de ONGs e CSOs relacionadas à AIDS, de menos de 50 na 
década  de  80  para  mais  de  500,  até  2000.  23  Ativistas  da  sociedade  civil  desenvolveram  lobbies  e  redes 
sofisticadas  e  poderosas  para  acelerar  questões  relacionadas  à  AIDS  e  a  direitos  humanos.  Isso  era 
especialmente verdade para as redes de direitos homossexuais nas grandes cidades. 
 
Mais dois projetos de empréstimo do Banco Mundial, AIDS II e AIDS III, ainda auxiliaram programas 
contra a AIDS no Brasil nas décadas de 90 e 2000 (vide Anexo 6 para obter uma visão geral dos AIDS I‐III). 
Eles  possuíam  abordagem  parecida  com  o  do  AIDS  I,  financiando  serviços  de  prevenção  por  meio  de 
ONGs,  mas  colocavam  mais  ênfase  na  expansão  a  infraestrutura  do  programa  e  no  desenvolvimento  de 
vigilância e monitoramento e avaliação (M&A). 
 
 
Tratamento
 
Em  1995,  os  óbitos  anuais  por  AIDS  no  Brasil  atingiram  a  máxima,  15.150  óbitos.18  Em  países  de 
economia  avançada,  uma  terapia  anti‐retroviral  (HAART)  altamente  ativa  se  provava  eficiente  para 
aumentar  a  sobrevida  à  AIDS,  mas  apenas  São  Paulo  e  alguns  poucos  estados  brasileiros  forneciam  o 
HAART  gratuitamente  para  todos  os  pacientes.  Organizações  não  governamentais  lutavam  por  acesso 
universal  ao  HAART,  com  base  no  direito  constitucional  de  acesso  a  saúde  do  país.  Este  argumento 
permitiu  que  pessoas  com  o  vírus  processassem  o  governo  por  falha  no  fornecimento  de  remédios  anti‐
retrovirais  (ARVs)  e  por  tratamentos  para  infecções  oportunistas.  A  decisão  judicial  a    favor  das  pessoas 
com  o  vírus  da  AIDS,  aliado  ao  ativismo,  pavimentou  o  caminho  para  a  lei  federal  de  1996  que  garantia 
provisões de ARVs para pacientes com AIDS, que atendessem os critérios nacionais de tratamento.5  Muitas 
organizações  internacionais,  incluindo  o  Banco  Mundial,  alertaram  o  Brasil  sobre  tal  lei,  levando  em 
consideração os recursos limitados do país.9 Ao rejeitar estes argumentos, o Brasil se tornou o primeiro país 
em desenvolvimento a oferecer tratamento universal gratuito contra a AIDS.16 
 
Todo  o atendimento e tratamento eram gratuitos por meio do SUS e oferecidos em centros de saúde 
especializados  em  tratamento  ambulatorial  de  HIV  e  em  hospitais  para  doenças  infecciosas.  O  PNA 
supervisionou um sistema nacional de laboratórios e uma cadeia de suprimento de anti‐retrovirais (ARV) – 
da negociação do preço, até a distribuição e o acompanhamento. Os municípios e os estados geriam a maior 
parte  dos  serviços  de  saúde  fornecidos.  Os  custos  dos  anti‐retrovirais  saiam  do  orçamento  do  PNA,  mas 
quase todos os outros custos de cuidados e tratamentos se originavam do orçamento do SUS. 
 
Ativistas  da  sociedade  civil  continuaram  a  exigir  a  disponibilização  dos  remédios  mais  novos.  Estes 
remédios  caros  e  importados  consumiam  uma  grande  parte  do  orçamento  contra  a  AIDS  da  nação.  Em 
2001, o Brasil solicitou auxílio de outros países em desenvolvimento e iniciou uma campanha internacional 
em  prol  de  remédios  mais  baratos,  discursando  publicamente  contra  empresas  farmacêuticas 
multinacionais  e  gastando  milhões  em  propaganda  nos  maiores  jornais  dos  EUA  que  clamavam  por 
considerar  o  tratamento  contra  a  AIDS  um  direito  humano.  Entre  2001  e  2007,  o  Brasil  iniciou  três  vezes 
procedimentos jurídicos para quebrar um contrato comercial internacional ao produzir ou comprar versões 
genéricas dos ARVs importados mais caros. Em cada vez, o Brasil recuava após os fabricantes de remédios 
reduzirem  seus  preços.24  Em  2006,  quase  80%  dos  US$  500  milhões  que  o  Brasil  gastava  em  ARVs  eram 
  7
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
destinados  a  remédios  importados.  Então,  em  2007,  após  as  negociações  falharem,  o  mundo  observou 
quando Lula,  o Presidente do  Brasil, quebrou  a  patente da Merck sobre o remédio  efavirenz. Lula emitiu 
uma licença compulsória para produzir o remédio domesticamente, fazendo com que o MS economizasse 
cerca de US$ 30 milhões por ano. Lula foi citado pela mídia internacional dizendo, “Entre nosso comércio e 
nossa saúde, escolhemos cuidar da nossa saúde.”25 
 
 
Liderança
 
Muitos  ativistas  que  lutaram  por  uma  abordagem  baseada  em  direitos  humanos  para  a  AIDS, 
chegaram a posições de liderança em programas de ONGs e governamentais contra a AIDS. Muitos outros 
foram para o meio acadêmico. Pessoas importantes trabalhando em questões relacionadas à AIDS, tendiam 
a se revezar em cargos no meio acadêmico, na sociedade civil e no governo. O Programa contra AIDS do 
Estado de São Paulo, por exemplo, teve apenas três diretores em três décadas. Os dois primeiros diretores 
deixaram o PNA para trabalhar na Organização Mundial da Saúde (OMS). Um forte ativismo civil em São 
Paulo garantia que o PNA continuava a ser financiado anualmente e protegia administradores e projetos, 
de caprichos políticos em  épocas de eleição. Esta estabilidade de liderança reforçava a visão unificada do 
PNA e foi fundamental para seu sucesso, afirmou Maria Clara Gianna, diretora do Programa contra a AIDS 
do Estado de São Paulo em  
2009.  De  modo  similar,  os  lideres  da  PNA  obtiveram  proteção  política  para  seus  projetos  e  orçamentos. 
Entretanto,  não  foi  isto  que  ocorreu  em  muitas  cidades  e  estados  com  uma  sociedade  civil  menos 
organizada. Pedro Chequer relacionou este capital político a anos contínuos de bons resultados, com base 
em boa fundamentação científica e trabalho: 
 
Desde o início, as pessoas no Programa Nacional contra a AIDS estiveram empenhadas com a causa e não 
apenas a implantar burocraticamente uma política de saúde pública nacional. Eles trabalharam com muito 
afinco. Trabalhavam mais de oito horas por dia. Trabalhavam nos fins de semana. Sempre estavam on‐line 
para  responder.  É  bem  diferente  do  sistema  de  saúde  pública  normal  no  Brasil.  É  por  esse  motivo  que  a 
resposta contra a AIDS é diferente. 
 
 
 
 
 
 
5  Indivíduos  precisando  de  terapia  anti‐retroviral  eram  classificados  com  contagem  de  células  T‐CD4  de 

200/mm3 ou inferior. 
 
 
Medidas e relatório
 
Com  cada  projeto  do  Banco  Mundial,  o  PNA  financiava  pesquisas  epidemiológicas  e  sistemas 
otimizados de M&A. Entretanto, coletar dados confiáveis e em tempo hábil e usá‐las para guiar a tomada 
de  decisões  era  o  maior  ponto  fraco  nos  programas  contra  a  AIDS,  especialmente  a  nível  municipal.  O 
sistema  M&A  nacional  incluía  os  seguintes  esforços  em  nível  nacional,  regional  e  de  fornecimento  de 
serviços:  monitoramento  de  rotina  de  programa,  monitoramento  e  inspeções  e  pesquisa  de  avaliação. 
Mesmo precisando de melhorias, o sistema M&A para o programa contra a AIDS, era o mais eficiente dos 
programas de saúde no Brasil. 
 

Casos publicamente divulgados da AIDS e de óbitos forneciam a base para os dados epidemiológicos 
no Brasil. A incidência de HIV não era coletada de modo sistemático. Um relatório do Banco Mundial sobre 
o  Brasil  comentava,  ʺum  sistema  que  depende  do  relato  de  casos  de  AIDS  possui  uma  utilidade  muito 
limitada  para  planejamento  e  avaliação  em  tempo  real  de  programas  de  prevenção  que  visam  reduzir  a 
transmissão  do  HIV.”26  Foi  proposto,  muitas  vezes,  mudar  para  notificação  de  casos  de  HIV,  mas  nunca 
houve a adoção. A maioria dos estados, principalmente os mais pobres no Norte e Nordeste, se opunha a 
regras que adicionariam custos em seus sistemas de saúdes já sobrecarregados. 
 

  8
 
Em 2003, o PNA criou uma unidade M&A independente e, com  o financiamento do Banco Mundial, 
criou  o  MonitorAIDS  em  parceria  com  o  MS,  com  parceiros  técnicos  dos  EUA  e  com  o  Instituto  de 
Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. O MonitorAIDS era um sistema baseado na 
internet  que  reunia  dados  dos  sistemas  eletrônicos  de  informação  do  MS,  de  várias  pesquisas 
epidemiológicas e de estudos específicos. Seu objetivo era informar a política e implantação do programa, e 
promover  a  transparência.  Noventa  indicadores  eram  informados  com  base  em  três  áreas:  1)  contexto 
externo,  incluindo  indicadores  socioeconômicos  e  demográficos  como  distribuição  etária  da  população, 
índice  de  pobreza  e  serviços  de  saúde  disponíveis;  2)  indicadores  relacionados  ao  programa  para  medir 
saídas e resultados, como despesas do programa nacional, distribuição e taxas de teste rápido, informações 
sobre o HIV e uso de preservativos, e 3) indicadores de morbidade e mortalidade, incluindo incidência de 
AIDS, taxas de mortalidade, taxas de transmissão vertical e prevalência de sífilis por estado. 
 
O MonitorAIDS era um avanço para padronizar e consolidar as informações relacionadas à AIDS em 
um único espaço público, mas, de acordo com Francisco Inácio Bastos, um epidemiologista do Instituto de 
Comunicação  e  Informação  Científica  e  Tecnológica  em  Saúde,  não  era  de  uso  fácil,  principalmente  para 
gestores  de  programa  em  nível  local  que  tinham  dados  mínimos  ou  nenhum  para  guiar  a  tomada  de 
decisões. Ele ainda afirmou ʺbons dados não necessários em todos os níveis para definir responsabilidades 
e tomar decisões sobre o uso mais eficiente de recursos, para o fornecimento de prevenção e tratamento. 
 
 
Descentralização
 
Em  2001,  todos  os  estados  e  centenas  de  cidades  tinham  seus  próprios  programas  contra  a  AIDS 
financiados principalmente pela arrecadação de impostos. O PNA fornecia auxílio financeiro e técnico para 
todos  os  estados  e  150  cidades.  O  PNA  continuava  a  financiar  projetos  de  ONGs  diretamente  de  Brasília. 
Isso  permitia  o  PNA  a  financiar  suas  prioridades,  mas  monitorar  centenas  de  projetos  exigia  um  tempo 
significante da equipe.  Mais além, a equipe localizada em Brasília reconhecia que nem sempre sabia o que 
era  necessário  em  nível  local.  Portanto,  em  2001,  os  líderes  do  PNA  decidiram  abraçar  ainda  mais  o 
princípio  de  descentralização  do  SUS  e  planejaram  transferir  controles  financeiros  e  administrativos 
adicionais às secretárias de saúde dos estados e municípios. De acordo com o Dr. Paulo Teixeira, diretor do 
PNA em 2001 e diretor fundador do Programa contra a AIDS do Estado de São Paulo, controlar de modo 
centralizado  o  programa  com  base  em  Brasília,  foi  fundamental  para  o  crescimento  nos  primeiros  anos, 
quando o sistema de saúde do país era especialmente frágil.  Mas, agora era necessário maior controle local 
porque  o  ʺMinistério  da  Saúde  em  Brasília  era  muito  afastado  do  planejamento,  execução  e  criação  dos 
projetosʺ. 
 
Entre 2001 e 2003, o Dr. Teixeira liderou um processo de planejamento de descentralização que incluía 
oficinas  e  reuniões  com  diversos  interessados,  incluindo  acadêmicos,  líderes  de  ONGs  e  autoridades 
governamentais de todos os níveis. Todos os níveis do SUS adotaram a política de descentralização em 2003 
e  o  PNA  passou  a  implantá‐la  em  2004.  Os  três  objetivos  principais  da  política  eram:  1)  passar  a 
responsabilidade de financiar e monitorar projetos de ONGs para os estados 2) melhorar a integração dos 
programas contra o HIV/AIDS nos níveis do SUS; e 3) desenvolver programas de capacitação e promover a 
comunicação entre governos locais e as ONGs. 
 
De acordo com Teixeira, fortalecer programas estaduais e municipais exigia que a PNA cedesse muito 
controle sobre a definição e entrega de prioridades, mas que a troca era necessária para a sustentabilidade a 
longo prazo. A PNA transferiu 10% de seu orçamento total para os 26 estados, para o distrito federal e para 
480 municípios (de 5.500). Estas cidades continham quase 60% da população e 90% dos casos de AIDS. O 
financiamento era alocado com base na prevalência de AIDS da região, da taxa de crescimento da epidemia 
e  do  fortalecimento  do  programa.  Esperava‐se  que  cada  cidade  e  estado  fizesse  a  transferência  com  seus 
próprios recursos, mas os investimentos locais variavam.  Por exemplo, o estado de São Paulo destinou 25% 
de seus recursos federais contra a AIDS, enquanto o Amazonas apenas 10%. 
 
Os Planos de Ações e Metas (PAMs) anuais se tornaram a ferramenta básica de gestão do programa. As 
PAMs  eram  acordos  baseados  em  resultados,  descrevendo  como  os  programas  estaduais  e  municipais, 
  9
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
iriam gastar o financiamento federal para tingir a meta declarada. Os PAMS deveriam ser específicos para 
as  necessidades  de  determinadas  comunidades,  ao  mesmo  tempo  em  que,  incorporaria  as  diretrizes 
nacionais relacionadas à supervisão, prevenção, tratamento e direitos humanos. Cada estado e cidade devia 
atualizar  anualmente  seu  PAM  e  suas  metas  ʺespecíficas,  mensuráveis,  adequadas,  realísticas  e 
temporárias, com uma data de encerramentoʺ objetivos (SMART). Um programa estadual poderia receber 
um bônus  de  até  US$  100.000  por  cumprir  vários  requisitos,  como  atingir  100%  das  metas  planejadas  em 
grupos de alto risco, e transferir fundos para ONGs por meio de um processo de licitação. Cidades podem 
receber bônus de até US$ 50.000 por cumprir metas similares. Além disso, a cada dois anos é concedido um 
bônus de inovação nacional.14 
 
Entre  2004  e  2009,  o  PNA  continuou  a  ampliar  o  processo  de  descentralização,  também  chamado  de 
ʺpolítica de incentivosʺ.  A ampliação ocorreu de modo desigual, com alguns estados e cidades assumindo 
autonomia financeira adicional e outros com dificuldades. De acordo com uma antiga funcionária do PNA 
e  diretora  de  programa  de  ONG  no  Rio  de  Janeiro,  os  procedimentos  para  transferir  recursos  e 
responsabilidades pelas políticas entre os níveis governamentais, não foram completamente desenvolvidos 
antes que as novas regras entrassem em vigor em 2004, contribuindo para um processo orçamentário difícil, 
já  existente.  Ela  ainda  afirmou  que,  mais  treinamento  na  execução  das  novas  políticas  e  procedimentos 
poderia ter facilitado o processo. Adicionalmente, como a maioria das ONGs trabalhava diretamente com o 
PNA, elas não tinham uma relação bem desenvolvida com os programas estaduais e locais contra a AIDS. 
Fortalecer  os  relacionamentos  locais  e  desenvolver  a  confiança  teria  auxiliado  na  transição.  Teixeira 
comentou sobre os resultados: 
 
A política de incentivos não teve sucesso em todas as regiões e em todos os estados, mas ainda é o melhor 
modo de se avançar. Onde o processo era executado de modo adequado, como em São Paulo e em outros 
municípios,  você  pode  ver  claramente  a  adequação  das  instituições  locais.  As  particularidades  da  região 
local aparecem com mais clareza nos projetos e planos desenvolvidos. 
 
 
O Departamento Nacional de AIDS em
2009
 
Em 2009, o PNA se tornou o Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais (ʺDepartamento 
Nacionalʺ) fazendo parte do MS. A mudança representou uma institucionalização governamental, mas teve 
pouco efeito nas operações diárias. A missão do Departamento Nacional era ʺformular e promover políticas 
públicas para HIV, [doenças sexualmente transmissíveis] DSTs e hepatites virais de modo ético, eficiente e 
participativo,  com  base  nos  direitos  humanos  e  nos  princípios  e  diretrizes  do  SUSʺ.  O  Departamento 
Nacional rascunhou e executou políticas nacionais e diretrizes, geriu o sistema de vigilância nacional e de 
informação,  transferiu  recursos  para  estados  e  cidades,  ofereceu  treinamento  técnico  e  resolveu  conflitos 
locais.  Enquanto  o  Departamento  Nacional  monitorava  a  implantação  do  programa  local,  tinha  pouco 
controle  direto  sobre  o  desenvolvimento  e  entrega  de  serviços,  e  programas  nos  níveis  estaduais  e 
municipais. 
 
“Se os estados ou cidades não concordarem com algo, se torna difícil empurrar a agendaʺ, disse Simão, 
que trabalhou por décadas em secretárias de saúde do município e do estado. ʺDecisões verticais de cima 
para baixo não funcionam mais. Você deve conversar com parceirosʺ. 
 
Entre  2007  e  2009,  o  Departamento  Nacional  criou  metas  e  diretrizes  para  evitar  o  HIV  entre  três 
populações principais: mulheres, incluindo profissionais do sexo e transexuais; homens gays e outros MSM; 
e  população  indígena.  Esperava‐se  que os  estados  e  municípios  incorporassem  essas  diretrizes  nos  PAMs 
anuais. As diretrizes aplicavam dados epidemiológicos relevantes e estratégias de prevenção baseadas em 
provas  e,  definiam  atividades  e  metas  específicas  para  cada  nível  do  governo.  O  processo  de  criação  e 
adoção  das  diretrizes  de  prevenção  nacional  exigia  a  entrada  dos  CSOs  e  de  diversas  rodadas  de 
negociações com as autoridades municipais e estaduais. As diretrizes foram aprovadas pela associação das 
secretarias  de  saúde  do  município  e  das  cidades,  de  conselhos  de  saúde  e  por  fim,  da  CNAIDS,  antes  de 
  10
 
virarem política oficial. Simão observou que, um processo de aprovação inclusivo era lento e árduo, mas era 
a inclusão que legitimava as diretrizes e dava influência política para sua equipe ao impor sua implantação 
nos níveis estadual e municipal. 
 
 
Estrutura
organizacional
 
O departamento Nacional se localizava em um novo prédio de vidro próximo a escritórios do MS em 
Brasília.  O  departamento  nacional  era  constituído  por  nove  unidades  programáticas  e  sete  unidades  de 
apoio  (vide  Anexo  7  com  o  organograma).  Os  chefes  de  unidades  se  sentavam  em  mesas  juntas  aos 
cubículos  da  equipe,  e  não  em  escritórios  fechados.  Os  cubículos  com  paredes  baixas  permitiam  uma 
comunicação simples no escritório. A unidade de relações entre os direitos humanos e a sociedade civil se 
localizava  próxima  a  unidade  de  prevenção,  e  a  equipe  de  vigilância  epidemiológica  ficavam  ao  lado  da 
equipe M&A. No andar  acima do Departamento Nacional ficava  o  Centro Internacional  para  Cooperação 
Técnica  sobre  HIV/AIDS,  cujos  sete  membros  auxiliavam  20  países  no  fortalecimento  de  seus  programas 
contra a AIDS desde 2005. 
 

Todos  menos  19  dos  219  membros  da  equipe  eram  contratados  como  consultores  pelas  agências  das 
Nações Unidas. Esta estrutura de contratação permitiu que o Departamento Nacional pagasse mais para a 
equipe do que os funcionários públicos formais e evitou a burocracia governamental para contratação, mas 
por outro lado diminuiu a estabilidade empregatícia e contribuiu para a rotatividade da equipe. Ao instituir 
um ʺDepartamentoʺ,  os gestores planejaram dobrar os funcionários públicos contratados. mais da metade 
dos funcionários do Departamento Nacional havia trabalhado em ONGs contra a AIDS, incluindo o Vice‐
Diretor Eduardo Barbosa.27 
 
Para ampliar a cobertura nacional e a compartilhar o financiamento do programa, as autoridades em 
AIDS  coordenaram  seus  esforços  com  outros  setores  governamentais.  Por  exemplo,  representantes  de 
outros  ministérios,  incluindo  direitos  humanos,  educação  e  defesa,  se  reuniram  no  CNAIDS.  A  secretaria 
dos  direitos  humanos  ajudou  a  organizar  e  financiar  esforços  de  prevenção  baseados  em  eventos  de 
promoção,  como  a  parada  do  orgulho  gay.  O  Departamento  Especial  de  Políticas  para  Mulheres  e  três 
agências  da  ONU  ajudaram  a  lançar  i  Plano  Nacional  para  Combate  da  Feminização  da  AIDS.  Os 
departamentos contra AIDS e de Políticas para Mulheres também se uniram em 2010 para a campanha de 
prevenção durante o carnaval que visava jovens mulheres com o slogan, ʺCamisinha. Com amor, paixão ou 
só sexo mesmo ‐ use sempreʺ. 
 
 
O orçamento
 
Em  2009,  o  orçamento  do  Departamento  Nacional  era  de  US$  845  milhões,  representando  2,5%  do 
orçamento do MS. Mais de 75% do orçamento do Departamento Nacional ia para o cuidado e tratamento da 
AIDS, e a maior parte dele era para a compra de ARVs. A vigilância e a prevenção representavam 13% do 
orçamento, e 11% era transferido para os estados e cidades por meio do plano de descentralização. Quase 
todos os gastos com AIDS vinham dos cofres públicos.  De acordo com Simão, negociar preços mais baratos 
de  ARVs  era  crucial  para  a  sustentabilidade  a  longo  prazo.  Os  gastos  médios  com  ARVs  por  paciente 
diminuiu em 25% entre 2003 e 2009 quando a oferta de remédios aumentou (veja os Anexos 8‐11 para obter 
mais  informações).  Simão  acreditava  que  o  Departamento  Nacional  era  financiado  de  modo  adequado. 
Governos Estaduais e locais eram responsáveis pela maior parte do financiamento e entrega de programas 
contra a AIDS. O auxílio local dos estados e cidades variava. Na cidade de São Paulo, os recursos federais 
representavam apenas 8% do total de gastos com a AIDS. 
 
Em  2009,  o  Departamento  negociou  um  quarto  projeto  com  o  Banco  Mundial,  chamado  AIDS‐SUS 
para se iniciar em 2010. Ele se concentrava em fortalecer o sistema de saúde e melhorar a governança em 
todos os níveis (veja o Anexo 12 para obter uma visão geral do AIDS‐SUS). O MS financiou a maior parte 
do projeto de US$ 200 milhões, exceto US$ 67 milhões. O dinheiro não era mais o principal motivo para se 

  11
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
trabalhar  com  o  banco;  o  Departamento  Nacional  valorizava  o  monitoramento  de  terceiros:  “Eles  nos 
mantiveram organizados,” afirmou a Dra. Simão, “são muito exigentes.” 
 
 
Política nacional de prevenção
 
A política de prevenção e controle do HIV consistia em três focos de atividades integradas: 1) garantir 
o  acesso  universal  para  tratamento  e  cuidados  ARV  gratuitos;  2)  aumentar  o  acesso  a  diagnósticos  e 
prevenção; e 3) manter um relacionamento proativo com a sociedade civil independente. Simão considerou 
que  todo  o  trabalho  do  departamento  contribuía  para  a  prevenção,  mas  uma  equipe  de  prevenção  de  20 
pessoas  era  responsável  direta  pela  coordenação  dos  esforços  de  prevenção,  incluindo  a  distribuição  de 
preservativos,  materiais  educacionais  e  testes  rápidos  de  HIV,  assim  como  por  gerar  procura  por  tais 
serviços  por  meio  de  mídia  de  massa  e  campanhas  de  educação.  A  unidade  de  prevenção  também 
concentrava  seus  esforços  para  reduzir  a  vulnerabilidade  entre  PLWHA,  profissionais  do  sexo,  homens 
gays  e  outros  MSM,  usuários  de  drogas,  prisioneiros,  mulheres,  travestis,  negros  e  povos  indígenas,  e 
jovens (veja o Anexo 13 para obter exemplos de intervenções em grupos de alto‐risco). 
 
A unidade de prevenção foi organizada em três áreas de foco: 1) integração de serviços de prevenção 
no sistema de saúde pública; 2) focar os serviços em grupos vulneráveis; e 3) gerir a aquisição e distribuição 
de materiais de prevenção, como preservativos, lubrificantes e panfletos educacionais. O gerente assistente 
da unidade de prevenção descreveu a filosofia da unidade: 
 
Nós vemos a prevenção como uma ampliação dos direitos humanos de tratamento de saúde. Nós estamos 
tentando avançar mais um pouco ao insistir que o acesso ao que é necessário para ser capaz de se prevenir 
contra o HIV ou uma STD é um direito. Caso precise de preservativos, eles precisam estar onde você pode 
alcançar. Caso precise de informação, você tem o direito de tê‐las. Mas sabemos que o conhecimento não é 
suficiente para mudar comportamentos, e nos perguntamos, o que mais é necessário? Nós tivemos muitos 
avanços em prevenção no Brasil por muitos anos, mas precisamos fazer mais, principalmente para grupos 
vulneráveis. 
 
 
Teste e Tratamento
 
Simão  rejeita  a  crítica  que  afirma  que  o  Brasil  priorizou  o  tratamento  em  detrimento  da  prevenção; 
para ela ambas são inseparáveis. ʺCaso não haja AVRsʺ, afirmou, ʺo resto que fazemos vai pelo ralo. Temos 
que fazer  tudo  corretamente.ʺ  Ela  prosseguiu:  “De um  ponto  de  vista  médico,  não  acredito  que  qualquer 
programa  de  prevenção  tenha  sucesso  se  não  cobre  o  acesso  universal  ao  tratamento  porque  não  possui 
legitimidade.  O  âmago  de  nossa  resposta  é  o  acesso  universal  ao  tratamento  porque  nós  podemos 
relacionar tudo a ele; nós podemos falar de diagnóstico precoce porque você vai tratá‐losʺ. 
 
O Departamento Nacional foi responsável pela compra de ARV, definição de padrões e diretrizes de 
tratamento, certificações de instalações, por manter os sistemas do laboratório nacional e de informação de 
rastreamento  de  medicamentos.  As  secretárias  e  de  saúde  estadual  e  municipal  foram  responsáveis  pela 
distribuição  e  monitoramento  da  terapia  de  ARV.  Usando  o  Sistema  Nacional  de  Controle  Logístico  de 
Medicamentos para rastrear todos os pacientes em tratamento, o Departamento Nacional estimou que 95% 
(quase  190.000)  dos  pacientes  diagnosticados  com  AIDS  precisando  de  tratamento  ARV  o  receberam.  A 
maior parte dos tratamentos para AIDS foi fornecido nas 625 instalações ambulatoriais de AIDS do país. Os 
pacientes receberam seus medicamentos de farmácias selecionadas. Estas instalações se concentravam nas 
áreas urbanas; o Sudeste possuía 320 centros distribuição de ARVs, sendo que o norte amplo possuía 29.16 
Todos os serviços eram gratuitos por meio do SUS, mas Simão descreveu em 2007 em um artigo no AIDS 
journal  que  ainda  existiam  barreiras:  “Mesmo  com  acessos  gratuitos  a  instalações  ambulatoriais, 
laboratórios  e  a  um  sistema  de  distribuição  razoavelmente  funcional,  apesar  do  tamanho  continental  do 
país,  a  expansão  da  epidemia  em  cidades  pequenas  e  em  populações  carentes  significa  que  muitos 
pacientes  não  têm  acesso  a  cuidados  médicos  em  pontos  de  distribuição  devido  à  falta  de  dinheiro  para 
transporte.”24 
 

  12
 
Em 2009, pacientes  com  AIDS tinham  acesso a  19 ARVs  diferentes e disponíveis em 32 combinações 
diferentes, nas quais 13 eram produzidos no Brasil e 19 eram importados.28 Os importados representavam 
70%  dos  custos  dos  ARVs.  Simão  passou  a  maior  parte  de  seu  tempo  gerenciando  logística  de  ARV, 
incluindo negociação de preço com fabricantes internacionais de remédios. 
 
A  equipe  de  prevenção  do  Departamento  Nacional  desenvolveu  materiais  para  sensibilizar  os 
profissionais da saúde sobre as necessidades das populações vulneráveis e para discutir a prevenção com 
pessoas portadoras do vírus. A unidade de prevenção também trabalhava com os estados e municípios para 
aumentar as taxas de testes de HIV, principalmente no tratamento primário para gestantes. Dois terços de 
todos  os testes de HIV no Brasil foram feitos pelo sistema de saúde pública. Evidencias sugeriram que as 
taxas  de  testes  eram  insuficientes;  44%  dos  pacientes  com  AIDS  eram  diagnosticados  após  terem  os 
sintomas da deficiência imunológica, e 29% estava tão doentes que morriam no inicio do tratamento.20 Dora 
do sistema primário de tratamento, 384 centros de testes e aconselhamento (TCCs) em todo o país ofereciam 
testes  rápidos  e  convencionais  de  HIV  e  STD  e  aconselhamento  e  teste  voluntário.  Os  TCCs  se 
concentravam em cidades de incidência média ou alta de AIDS, e cidades com TCCs tinham taxas de teste 
duas vezes maior que aquelas sem. Uma cidade no estado de São Paulo se tornou um modelo nacional para 
oferecer  testes  de  HIV  que  atendiam  diferentes  populações.  Ela  oferecia  testes  em  centros  de  saúde 
especiais  para  mulheres;  alcançava  os  homens  gays  e  travestis  por  meio  dos  TCCs;  e  uma  clínica  móvel 
levava os testes de HIV para pessoas nas áreas rurais. 
 
O  Departamento  Nacional  trabalhava  para  aumentar  o  uso  de  testes  rápidos  de  HIV  desde  que  o 
protocolo nacional foi adotado em 2005. A disponibilidade de testes rápidos era essencial para melhorar a 
prevenção  de  transmissão  de  mão  para  filho  (PMTCT).  Testes  rápidos  não  exigiam  equipamentos  de 
laboratório, tornando‐o o método ideal para áreas isoladas. Os resultados estavam prontos em menos de 30 
minutos,  permitindo  aconselhamento  e  encaminhamento.  Trabalhando  com  os  Centros  de  Controles  de 
Doenças  dos  Estados  Unidos  e  o  Global  AIDS  Program  (CDC‐GAP),  o  Departamento  Nacional  capacitou 
agências estaduais a treinarem seus agentes de saúde no uso de testes rápidos. O processo funcionou bem 
em estados organizados com recursos humanos o suficiente, mas não em outros. O Departamento Nacional 
forneceu  auxílio  técnico  e  financiamento  adicional  para  ajudar  os  estados  a  fortalecerem  suas  cadeias  de 
suprimento de testes rápidos para evitar falta de estoque. 
 
 
Preservativos
 
O principal método do Departamento Nacional para conter a disseminação do HIV foi promover o uso 
de preservativos. O Brasil era o maior comprador de preservativos do mundo. Em 2007, o MS comprou 1 
bilhão  de  preservativos  masculinos  e  8  milhões  de  preservativos  femininos  e  15  milhões  de  unidades  de 
lubrificante  para  distribuição  para  estados  e  ONGS.14  Em  2009,  o  Departamento  Nacional  distribuiu  uma 
quantidade  recorde  de  465,2  milhões  de  preservativos  masculinos  para  estados  e  ONGS.    Os  estados 
distribuíram  seus  suprimentos  para  municípios  e  ONGs  distribuírem  em  aconselhamentos  em  locais  de 
testes,  clínicas  de  saúde,  escolas  e  outros  locais.  Apenas  o  estado  de  São  Paulo  distribuiu  8  milhões  de 
preservativos por mês.29 As vendas de preservativos de empresas privadas também vinham aumentando de 
modo  constante  desde  1992  para  chegarem  a  422  milhões  em  2008.  Uma  lei  nacional  de  2002  permitiu  a 
venda de preservativos em qualquer estabelecimento comercial. Em 2009, um pacote com três preservativos 
custava cerca de US$ 1.30 
 
Dados  de  pesquisas  indicaram  que  quase  todos  os  brasileiros  sabiam  que  preservativos  evitavam  a 
transmissão  de  DSTs  e  HIV,  e  mesmo  assim,  pesquisas  nacionais  de  conhecimento  e  comportamento 
indicavam  que  apenas  metade  das  pessoas  as  usava  frequentemente.  ʺNós  chegamos  a  um  ponto  de 
saturação da divulgação de preservativos pelo modo como o estávamos fazendoʺ, informou um funcionário 
da unidade de prevenção. ʺPela primeira vez em 20 anos, nós tivemos uma tendência a diminuição no uso 
de  preservativos.  Este  foi  um  grande  desafio.  …  Por  anos  nós  fizemos  grandes  avanços  na  prevenção  no 
Brasil.  Agora  estávamos  em  uma  situação  em  que  isso  era  bom,  mas  precisávamos  fazer  mais, 
principalmente para grupos vulneráveisʺ. 
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  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Comunicação e campanhas educacionais
 
O Departamento Nacional trabalhava com o Ministério da Educação para desenvolver e implantar um 
currículo  de  educação  sexual  e  prevenção  a  DST/HIV  nas  escolas  do  país.  Em  2009,  7%  das  escolas 
distribuíam  preservativos,  e  90%  das  escolas  de  ensino  médio  em  todo  o  país  tinham  algum  tipo  de 
programa de prevenção de DSTs e HIV.28 
Aproximadamente 20% adotaram o currículo expandido criado em 2007, que foi anunciado pelo Presidente 
Lula e financiado pelo Ministério da Educação. De acordo com Simão, ʺEsta foi a primeira vez em minha 
vida profissional que o Ministério da Educação usou seu orçamento para auxiliar um programa de saúde.ʺ 
 
O Departamento Nacional patrocinou duas campanhas anuais de prevenção em mídia nacional no Dia 
Mundial  da  AIDS  em  Dezembro  e  durante  o  carnaval.  Entretanto,  grupos  da  sociedade  civil  reclamavam 
que  todos  os  níveis  governamentais  não  faziam  campanhas  em  mídias  de  massa  o  suficiente.  Chequer se 
juntou aos críticos. Ao invés de duas campanhas todos os anos, ele sugeriu que tivessem pelo menos cinco ‐
‐ cada uma personalizada para cada região do país. ʺAinda não há acesso universal à prevençãoʺ, afirmou. 
ʺVisite  o  Amazonas,  por  exemplo,  ou  áreas  muito  pobres  onde  falta  informaçãoʺ.  Simão  não  concordou. 
ʺNós  não  achamos  que  a  falta  de  informação  entre  a  população  em  geral  é  o  grande  problema  no  Brasil 
atualmenteʺ,  afirmou.  ʺEstamos  tentando  concentrar  nossos  esforços  de  prevenção  nas  populações  com 
riscos mais altos.ʺ 
 
 
Monitoramento e
avaliação
 
Três  unidades  no  Departamento  Nacional  reuniram  dados  e  conduziram  M&A;  a  unidade  M&A,  a 
unidade  de  vigilância  e  a  unidade  de  pesquisa  e  desenvolvimento  (P&D).  Não  estava  claro  qual  unidade 
liderava  os  esforços  e  era  responsável  por  desenvolver  uma  estratégia  de  longo  prazo.  Cinco  centros 
regionais de excelência M&A foram criados em 2005 para oferecer auxílio técnico em nível local, mas três 
perderam  seus  financiamentos  quando  os  estados  foram  responsabilizados  pela  manutenção.  O 
Departamento  Nacional  desejava  criar  uma  cultura  voltada  para  os  dados  no  nível  do  sistema  de  saúde 
local e entre a sociedade civil, mas essa era uma luta bloqueada por uma alta rotatividade de funcionários 
em  todos  os  níveis.  O  Banco  Mundial  relatou  em  2009  que,  apesar  do  avanço  considerável,  as  atividades 
M&A  anteriores  tinham  sucesso  apenas  moderado  no  recolhimento  abrangente  de  dados  para  guiar  as 
decisões  dos  programas.  Dados  básicos  se  baseavam  em  estudos  pequenos  limitados  geograficamente,  e 
dados em grupos difíceis de alcançar eram remotos e pobres. Em 2009, a unidade M&A do Departamento 
Nacional  trabalhou  em  conjunto  com  pesquisadores  de  universidades  para  completar  10  estudos  em 
grupos  de  alto‐risco  para  reunir  os  primeiros  dados  básicos  nacionais  de  MSM,  UDIs,  e  profissionais  do 
sexo. 
 

O Departamento Nacional identificou três questões principais a serem abordadas no quarto projeto do 
Banco  Mundial:  1)  Melhorar  a  compreensão  e  a  adequação  de  gerenciamento  baseado  em  resultados, 
principalmente nos níveis estadual e local; 2) descentralizar ainda mais o treinamento M&A; e 3) melhorar 
a relação entre atividades e monitoramento financeiro usando o sistema de monitoramento PAM. Abordar 
estas questões necessitaria de recursos humanos adicionais, recolhimento de dados de melhor qualidade, e 
melhor disseminação de dados no nível local para tomada de decisões. 
 
 
Descentralização em 2009
 
Desde  2004,  o  Departamento  Nacional  monitorava  a  implantação  da  política  de  descentralização  por 
meio  de  um  sistema  de  relatório  baseado  na  internet  que  era  disponibilizado  ao  público.  Os  objetivos  do 
sistema de monitoramento eram três: 1) gerar dados o suficiente para informar o processo de planejamento 
PAM anual e decisões importantes do programa; 2) garantir a transparência no uso de recursos financeiros 
  14
 
e  na capacidade  dos gestores  de saúde  de usarem a  verba  para  implantar  a resposta  local; e  3) monitorar 
acordos  de  implantação  firmados  entre  o  SUS  em  nível  municipal,  estadual  e  nacional  sobre  a 
disponibilidade de preservativos e remédios para DST e infecções oportunistas. 
 
O  sistema  de  monitoramento  baseado  na  internet  permitiu  que  os  cidadãos  observassem  o  PAM  e  o 
avanço dos estados e municípios contra eles (veja o Anexo 14 para verificar indicadores M&A). Em 2007, o 
sistema registrou que 75% dos estados e cidades tinham atingido pelo menos 75% de suas metas.14  No final 
de  2009,  a  cidade  de  São  Paulo  tinha  alcançado  99%  de  suas  metas.  O  coordenador  do  programa  contra 
AIDS da cidade comentou o motivo por que a política de descentralização era necessária: 
 
O  Departamento  Nacional  funciona  com  números  e  estatísticas,  mas  a  cidade  funciona  com  pessoas,  e 
sabemos  as  exigências  das  pessoas.  Um  único  modelo  de  prevenção  ou  tratamento  não  pode  atender  as 
necessidades de uma cidade. São Paulo é grande, e as populações em bairros diferentes possuem prioridades 
diferentes. No centro da cidade, os desabrigados e o uso de drogas são os problemas principais. E há áreas 
com muitos profissionais do sexo, assim podemos focar suas necessidades. 
 

Em 2009 o PNA transferiu cerca de US$ 90 milhões aos programas estaduais e municipais. 31 Em alguns 
lugares,  as  verbas  permaneciam  intocadas  em  contas  bancárias.  Um  problema  básico  foi  à  falha  na 
transferência  dos  10%  do  financiamento  federal  contra  a  AIDS  para  ONGs  trabalhando  com  populações 
vulneráveis. Além das dificuldades políticas, alguns estados e municípios não possuíam contas organizadas 
para saúde e funcionários o suficiente com experiência em contabilidade para executar as transferências de 
fundos.  Além  disso,  as  leis  orçamentárias  complicadas  do  Brasil  tornaram  a  contratação  de  ONGs  um 
grande obstáculo burocrático para muitos estados. Cada orçamento governamental precisava da aprovação 
pelo órgão legislativo correspondente, significando que alterar um orçamento no meio do ano fiscal era um 
desperdício  de  tempo,  se  não  impossível.  Outras  leis  limitavam  o  tamanho  de  crescimento  de  um 
orçamento de ano a ano e a porcentagem poderia ser gasta em recursos humanos. Um professor de políticas 
da  saúde  afirmou,  ʺforam  criadas  muitas  condições  e  burocracia  no  gasto  de  dinheiro  para  combater  o 
histórico  de  corrupção,  mas  o  que  criou  na  verdade  foi  um  sistema  muito  complicado  que  restringe  a 
capacidade dos gestores trabalharemʺ. 
 
Considerando  estes  desafios  e  as  dificuldades  políticas  de  interrupção  de  transferência  de  fundos  ou 
retirada  de  fundos  de  estados  com  desempenho  insatisfatório,  o  Departamento  Nacional  decidiu  não 
penalizar  os  estados  e  cidades.  Ao  invés  disso,  a  divisão  de  planejamento  e  orçamento  forneceu  auxílio 
técnico para ajudar programas com dificuldades a melhorarem seu planejamento de orçamento e políticas 
de  contratação.  Primeiro  eles  ofereceram  auxílio  por  telefone  ou  vídeo‐conferência,  depois,  caso  fosse 
necessário,  enviavam  consultores  para  ajudar  pessoalmente.  O  Departamento  Nacional  também 
patrocinava oficinas de criação de orçamento e planejamento para os funcionários estaduais e municipais. 
 
As autoridades nacionais também influenciaram programas locais ao chamar a atenção de programas 
que não cooperavam. No dia Mundial da AIDS em 2009, por exemplo, Simão deu uma entrevista coletiva 
para  anunciar  que  os  casos  de  AIDS  aumentavam  mais  rapidamente  e  como  aqueles  estados  e  cidades 
estavam  gastando  os  fundos  federais  da  AIDS.  De  acordo  com  Barbosa,  ʺEla  comparou  publicamente  o 
desempenho de São Paulo com o do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sabendo que estes governos teriam 
que  se  explicar  para  a  mídia  por  que  eles  não  gastaram  milhões  em  recursos  federais  para  implantar 
programas de prevenção em quanto os casos de AIDS cresciamʺ. 
 
Rio de
Janeiro
 
Em  dezembro  de  2009,  a  cidade  do  Rio  de  Janeiro  tinha  atingido  apenas  53%  de  suas  metas  PAM  e 
estava 53 meses atrasada no uso de sua verba federal contra a AIDS. Milhões em fundos federais voltados 
para programas contra a AIDs e ONGs permaneciam intocados em uma conta bancária.32  A Da Vida, uma 
ONG do Rio de Janeiro auxiliando profissionais do sexo, costumava receber financiamento e preservativos 
para  seus  programas  de  prevenção  e  atenção  de  HIV  diretamente  do  Departamento  Nacional.  Como  a 
maioria das ONGs do Rio de Janeiro, a Da Vida não recebia ajuda pública desde 2005, quando o estado se 
  15
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
tornou responsável pro financiar as ONGs. O suprimento de preservativos da Da Vida caiu de 20.000 para 
5.000 devido a falha no estado em equiparar o fornecimento federal. 
 
Os programas para redução de danos para UDIs no Rio de Janeiro também sofreu com a política de 
descentralização. Os programas de trocas de agulhas da cidade funcionaram bem por cerca de 10 anos, mas 
a  política  de  descentralização  era  descrita  como  ʺo  início  do  fimʺ  para  eles.  Além  dos  problemas 
burocráticos  de  gestão  dos  fluxos  de  financiamento,  os  líderes  políticos  do  Rio  de  Janeiro  não  apoiavam 
programas de troca de agulhas. 
 
 
Rio Grande do
Sul
 
O estado mais ao sul do Brasil, o Rio Grande do Sul, e sua capital, Porto Alegre, estava entre as regiões 
mais ricas e desenvolvidas do país. Em 2009, eles também tinham a maior taxa de casos de AIDS no país. A 
taxa de incidência em Porto Alegre era quatro vezes maior o que na cidade de São Paulo;18 Por toda a 
década de 1990, os programas de combate a AIDS e CSO do estado eram considerados os melhores do país, 
principalmente quanto a redução de danos de UDI. Entretanto, desde dezembro de 2009, o Rio Grande do 
Sul e Porto Alegre haviam implantado apenas 70% de suas metas PAM e estavam 23 meses em atraso no 
gasto das verbas federais contra AIDS.32 O cargo do coordenador principal do programa de AIDS do estado 
não era ocupado há seis meses, e milhões em financiamento federal contra a AIDS não haviam sido gastos. 
Em 2009, a maioria das ONGs contra a AIDS haviam se deteriorado devido ao financiamento insuficiente. 
Muitas  não  tinham  capacidade  para  continuar  a  fornecer  serviços  ou  a  protestar  publicamente  contra  a 
negligência do governo. 
 
 
Frustração das ONGs
 
Veriano  Terto  Jr.,  diretor  da  respeitada  ONG  nacional,  ABIA,  junto  com  outros  líderes  da  sociedade 
civil,  perdia  a  paciência  com  a  abordagem  descentralizada.  Terto  defendia  a  volta  ao  sistema  onde  o 
Departamento  Nacional  financiava  diretamente  os  projetos  da  sociedade  civil.  O  Departamento  Nacional 
estava  relutante  em  fazê‐lo  porque  contradizia  o  princípio  do  SUS  de  descentralização  e  devolveria  a 
responsabilidade  dos  projetos  das  ONGs  de  volta  para  o  Departamento  Nacional  enquanto  os  estados  e 
municípios recebiam os benefícios. Outra solução proposta pelas ONG foi retirar os fundos não gastos de 
estados com desempenho insatisfatório e redistribuir para os estados cumprindo as metas. Apesar de não 
poder provar, Terto acreditava que o aumento de casos de AIDS no Rio Grande do Sul estava relacionado à 
negligência com os programas de HIV/AIDS. Terto descreveu sua impaciência: 
 
Muitas das iniciativas desenvolvidas nos últimos 15 a 20 anos, como a redução de programas de danos no 
Sul  estavam  sendo  negligenciados,  abandonados  e  os  estávamos  perdendo.  Para  as  ONGs,  o  sistema 
funcionava  melhor  antes  da  descentralização.  O  governo  federal  anunciava  projetos  e  questões  a  serem 
financiadas, nós enviávamos os projetos para Brasília e havia uma licitação para o financiamento. E ele seria 
aprovado ou não. No final de um ou dois anos, quando o projeto terminava, havia o processo de avaliação 
de responsabilidade. Nós ouvíamos o ministro da saúde dizer que a descentralização seria algo bom, e uma 
boa  solução  para  a  administração  da  saúde,  mas  de  vez  em  quando  a  descentralização  não  é  a  resposta, 
porque a descentralização não é um problema técnico. É um problema político. 
 
Fortalecimento a sociedade civil
 
Desde  que  parou  de  supervisionar  todos  os  contratos  com  ONGS,  a  unidade  de  direitos  humanos  e 
sociedade  civil  do  Departamento  Nacional  passou  a  concentrar  seus  esforços  em  locais  passando  com 
dificuldade  devido  à  descentralização.  Eles  costumavam  ser  áreas  onde  a  sociedade  civil  era  fraca  e 
encontrava resistência governamental. Um funcionário dos direitos humanos e da sociedade civil afirmou, 
ʺo  que  a  unidade  vê  é  que,  onde  a  sociedade  civil  é  bem  organizada,  como  no  estado  de  São  Paulo,  tudo 
acontece de modo eficiente, e os administradores públicos que não são eficientes não permanecem no cargo. 

  16
 
Isso não ocorre onde a sociedade civil não é bem organizada.ʺ 
 
A maioria dos 13 funcionários da unidade de direitos humanos e sociedade civil já haviam trabalhado 
anteriormente  em  ONGS  contra  a  AIDS.  Suas  responsabilidades  incluíam  coordenar  a  representação  da 
sociedade  civil  em  comitês  nacionais  e  redes  de  apoio  de  ONGs  por  meio  de  ONGs  mais  maduras 
relacionadas com mais fracas para compartilhar conhecimento e desenvolver capacidade política e técnica. 
A  equipe  trabalhou  para  criar  oportunidades  para  a  participação  da  sociedade  civil  no  processo  político 
estadual e municipal e administrar relações com  os  membros do Congresso que lutavam contra a AIDS e 
por  questões  de  direitos  humanos.  Um  advogado  da  equipe  oferecia  auxílio  jurídico  para  ONGs  e 
consultoria  sobre  direitos  humanos  e  questões  do  HIV  para  a  Suprema  Corte  brasileira.  Os  funcionários 
federais  tomavam  cuidado  para  não  infringir  a  autonomia  dos  governos  em  níveis  estadual  e  municipal. 
Portanto,  mudanças  ocorriam  mais  devagar  do  que  o  esperado.  Vice‐diretor  do  Departamento  Nacional, 
Barbosa defendia o trabalho apoiando a sociedade civil. Ele acreditava que era necessário incluir a AIDS em 
agendas políticas locais e aumentar a responsabilidade governamental. Barbosa passava 10 dias por mês no 
escritório de Brasília e o resto do tempo viajando pelo país e se reunindo com líderes de programas contra a 
AIDS  da  sociedade  covil  e  municipal.  ʺO  Principal  foco  das  visitas  é  tentar  ou  vir  as  demandas  da 
população  e  ver  suas  necessidades  para  que  possamos  ajudar  os  programas  locais  a  abordá‐lasʺ,  afirmou 
Barbosa. ʺNem sempre é fácil porque há muitas diferenças políticas e lutas nestas áreasʺ. 
 
Chequer acreditava que a equipe do Departamento Nacional deveria gastar ainda mais tempo fora de 
Brasília  para  fortalecer  as  ONGs  em  áreas  rurais.  ʺNo  Brasil,  as  ONGs  sabem  falar  com  a  imprensa  sobre 
problemas nacionais, mas não são organizadas o suficiente para fazer pressão no governo localʺ, explicou 
Chequer.  ʺHá  cada  vez  mais  necessidade  das  ONGs  se  organizarem  e  aprenderem  o  processo  político. 
Localmente,  não  há  pressão  social  o  suficiente  em  termos  de  atividades  de  implantação  e  uso  correto  das 
verbasʺ. 
 

Considerando  sua  dependência  em  financiamentos  públicos,  a  independência  dos  CSOs  do  governo 
era  fonte  de  debate.  Lideres  de  organizações  não‐governamentais  reconheceram  o  conflito  de  interesses 
inerentes  na  confiança  extrema  no  financiamento  governamental,  mas  em  2009  alguns  doadores 
financiaram projetos contra AIDS no país. Pelos padrões do Banco Mundial, o Brasil alcançou uma situação 
de renda média alta e já era considerado um sucesso por muitos. 
 
 
Progresso
 
Uma  pesquisa  de  2009  mostrou  que  97%  dos  Brasileiros  sabiam  que  o  HIV  podia  ser  transmitido 
sexualmente e que os preservativos podiam protegê‐los da transmissão. Os resultados da pesquisa nacional 
também mostraram que 46% dos brasileiros relataram usar preservativo em relações sexuais com parceiros 
causais, um aumento de 9% em relação a 1989.20  Em 2009, 47% das profissionais do sexo receberam auxílio 
de programas de prevenção. Destas, 77% receberam preservativos gratuitos e 57% sabiam que podiam fazer 
um teste de HIV gratuitamente. Metade das profissionais do sexo informou sempre usar preservativos com 
todos os clientes. Dentre os UDIs, 40% informaram ter acesso a programas de prevenção, 49% sabiam que 
podiam  fazer  testes  grátis  e  28%  recebiam  preservativos  gratuitos.  Metade  dos  UDIs  informou  não 
compartilhar seringas nos últimos 12 meses, e 70% informaram terem usado preservativos na última vez em 
que tiveram relações sexuais com um parceiro casual.28 
 
Cerca de um terço dos pacientes com HIV receberam serviços de saúde quando as contagens de CD4 
estavam baixas. 200 pacientes indicaram ter a doença avançada, mas as taxas de teste de HIV e mortalidade 
variavam em cada região. A distribuição de testes rápidos aumentou de 530.000 em 2005 para 1,75 milhões 
em 2008. Em 2008, 41% das pessoas com idade acima de 14 anos na região Sudeste já haviam sido testadas 
pelo HIV, em comparação com 27% na região Nordeste.20 O tempo médio de sobrevida entre pacientes com 
AIDS na década de 1980 era de cinco meses. Entre aqueles diagnosticados de 1996, era 58 meses, e em 2009, 
a média de sobrevida era comparável a de países desenvolvidos, 108 meses.33,14 Entretanto, o risco de óbito 
por um diagnóstico de AIDS no Norte e Nordeste era três vezes maior que no Sudeste.14 
  17
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
Nacionalmente, 62% das gestantes passavam pelo teste de HIV durante visitas pré‐natais em 2006, um 
aumento  de  52%  em  relação  a  2000.  Mas  19%  das  mães  nunca  eram  testadas,  e  outros  19%  passavam 
apenas  por  um  teste  rápido  na  hora  do  parto.  As  taxas  de  teste  variavam  de  85%  no  Sul  a  40%  no 
Nordeste.14  Mulheres em cidades pequenas tinham menores chances de passarem pelo teste (51%) do que 
mulheres que viviam em cidades grandes (71%). Em 2007, 323 bebês foram infectados com o HIV de suas 
mães, uma redução da máxima de 1.019 uma década antes.18  Entretanto, a porcentagem de bebês nascidos 
com o vírus no Norte era duas vezes maior que a média nacional de 6,8%.20 
 
Entre  1997  e  2007,  o  MS  estimou  que  tinha  o  acesso  ao  HAART  preveniu  1,3  milhões  de 
hospitalizações,  economizando  US$  1,1  bilhão.  O  número  médio  de  admissões  em  hospitais  de  pacientes 
por ano 
em  1996  era  de  1,65.  Nesta  taxa,  o  MS  esperava  que  1,6  milhões  de  hospitalizações  relacionadas  com  o 
HIV/AIDS na década, mas foram registradas apenas 293.074.34 A média de internações relacionadas à AIDS 
em  2007  era  de  17  dias  comparado  com  5,8  para  todas  as  internações  em  hospitais  do  SUS.20  Evidências 
mostravam  que  a  resistência  a  remédios  de  primeira  linha  era  baixa  no  Brasil,  indicando  aderência  ao 
tratamento.24 
 
 
Olhando para o futuro
 
Todos  os  dias  Simão  pensava  sobre  os  esforços  de  sua  equipe  para  garantir  que  todos  os  190.000 
pacientes precisando de tratamento ARV o receberiam. Ela pensou sobre o que o Departamento Nacional 
poderia  fazer  no  curto  e  no  longo  prazo  para  melhorar  o  tratamento  dos  pacientes,  prevenir  novas 
infecções  de  HIV  e,  por  fim,  garantir  que  todos  estes  esforços  seriam  mantidos  indefinidamente.  Ela 
acreditava  que  a  prevenção  efetiva  do  HIV  no  Brasil  devia  privilegiar  as  populações  de  maior  risco,  ser 
descentralizada  e  trabalhar  pelo  sistema  de  saúde,  mas  cada  uma  destas  áreas  apresentava  desafios.  O 
Departamento  Nacional  era  mais  progressivo  do  que  muitos  estados  e  cidades  quando  se  tratava  de 
trabalhar com populações marginalizadas. Como Simão podia forçar a agenda da prevenção do HIV para 
proteger  e  auxiliar  pessoas  com  os  maiores  riscos  de  infecção  ao  mesmo  tempo  em  que  respeitava  a 
autonomia do governo local? 
 
Uma militância forte da sociedade civil e o serviço de ONGs tinham sido a base da resposta brasileira 
ao HIV. Entretanto, em 2009, muitas ONGs estavam quase entrando em colapso e as populações de alto‐
risco  estavam  sendo  negligenciadas  em  locais  onde  o  governo  havia  falhado  em  auxiliá‐las.  Os  ativistas 
contra  a  AIDS  ficavam  cada  vez  mais frustrados.  O  Departamento  Nacional  deveria  continuar  a  oferecer 
auxílio técnico, ou deveria realizar ações mais fortes em locais onde a política de descentralização falhava? 
 
Por  fim,  reduzir  a  transmissão  mãe‐para‐filho  do  HIV  e  garantir  acesso  em  tempo  hábil  ao  teste, 
tratamento e cuidados dependiam da força do sistema de saúde primária do Brasil. Como o departamento 
de Simão poderia fortalecer o sistema de saúde em meio a tanta desigualdade em um país tão grande? 
 
 

  18
 

Apêndice  Abreviações
 
 
ARV  Remédio anti‐retroviral 
CNAIDS  Comissão Nacional da AIDS 
CSO  Organização da sociedade  
civil 
DOTS  Tratamento diretamente observado de curto prazo 
DTP3  Terceira dose da vacina contra difteria, coqueluche e tétano 
PIB  Produto interno bruto 
HAART  Terapia anti‐retroviral altamente ativa 
UDI  Usuários de drogas injetáveis 
M&A  Monitoramento e avaliação 
MS  Ministério da Saúde 
MSM  Homens que fazem sexo com homens 
PNA  Programa Nacional de DST e AIDS 
ONG  Organização não governamental 
PAM  Planos de Ações e Metas  
PPP  Paridade do poder de compra 
PLWHA  Pessoas vivendo com o HIV/AIDS 
PSF  Programa Saúde da Família  
DST  Doenças sexualmente transmissíveis 
SUS  Sistema Único de Saúde  
TCC  Centros de testes e aconselhamento 
US$  Dólar dos Estados Unidos 

  19
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Anexo 1  Mapa do Brasil
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Disponível sob domínio público.
 
 
 
Anexo 2  Óbitos por motivos gerais, 2005
 
  Feriment    
 
Comunicável,  os   
  Doença 
maternal e  11%   
cardiovascular 
perinatal,    32% 
   
desnutrição 
   
17%     
   
   
   
     
Outras doenças   
crônicas     
  Câncer 
12% 
     
15% 
  Doenças 
 
Diabetes  respiratória  
5%  s crônicas   
 
8% 
AIDS= 0.01% dos óbitos 
Fonte: Organização Mundial da Saúde.

  20
 
 
 
Anexo 3  Indicadores epidemiológicos da AIDS
 

  1997  2009 
Prevalência total do HIV em adultos  0.6%  0.61% 
Taxa de incidência da AIDS (por 100.000 pessoas) 17,2  18,2 
Taxa de incidência masculina (por 100.000 23,4  22 
Taxa de incidência feminina (por 100.000 pessoas) 11,1  13,9 
Proporção  2,1  1,8 
Novos casos de AIDS, anualmente  27.403  33.090 
Óbitos por AIDS, anualmente  12.078  11.532 
Taxa de mortalidade da AIDS (por 100.000 7,6  6,1 
Casos de transmissão vertical  1.041  406 
Proporção de casos entre MSM  22%  18% 
Proporção de casos entre UDIs  22.6%  7.4% 
Fonte: Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais
 
 
 
 
 
 
 
Anexo 4  Incidência de AIDS por região no0 Brasil, 2000-2008*
 
 
35 
 
  29,3 
30   
 
  26.225,7
24,2 
25    23,6 
 
 
  19,5 
18,6 
    19,2   
20 
18,2    17,8  2000 
17,5 
    15,9  2005 
Casos*

 
13,9  13,8 
15      2008 
 
    11,3 
11,1 
10   
6,9    6,7 
 

 

Brasil   Norte   Nordeste    
Centro‐Oeste Sudeste   Sul 
 
Fonte: Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais
*por população de 100.000 

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  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Anexo 5  Histórico da resposta brasileira ao HIV/AIDS
 
1982  Fora diagnosticados sete casos de AIDS entre homossexuais em São Paulo. 
1983                     O departamento de saúde pública de São Paulo cria o primeiro programa contra a AIDS do  
                             país, exige a notificação obrigatória e inicia uma campanha de conscientização pública. 
1984  São diagnosticados dez casos entre hemofílicos. 
1985  Eleições democráticas após duas décadas de governo militar. Onze estados tem programas 
contra a AIDS, e o Ministério da saúde cria o programa nacional. 
1986‐1990  O programa nacional centralizado contra a AIDS começa a implantar programas. 
1986  O governo federal brasileiro exige notificação obrigatória de casos de AIDS. O estado de 
São Paulo exige teste no suprimento de sangue. As OPAS oferecem auxílio técnico. 
1987  O Programa nacional de DST e AIDS inicia atividades de coordenação; 26 bebês são 
diagnosticados com HIV. 
1988  O Brasil adota uma nova constituição nacional declarando ʺsaúde como direito básico 
humanoʺ, exigindo que o governo ofereça serviços gratuitos de saúde. O CNAIDS é criado. 
1989  Previna, uma campanha nacional de prevenção é lançada visando grupos de alto‐risco. 
Grandes empresas nacionais e as Forças Armadas iniciam programas de prevenção contra o 
HIV. 
1990‐1992  O Programa nacional de DST e AIDS chega a um impasse. O ministro da saúde desmancha 
o programa, mas foi afastado após o presidente do Brasil sofre um impeachment por 
corrupção. 
1990  O estado de São Paulo inicia o programa de troca de agulhas. 
1992  O quinto ministro da saúde em dois anos assume o cargo e re‐estabelece o Programa 
nacional de DST e AIDS com seu antigo diretor. Várias leis nacionais são adotadas para 
proteger os direitos civis de pacientes e para fornecer tratamento. Um estivo prevê que 1,2 
milhões de Brasileiros serão infectados com o HIV até o ano 2000. 
1994‐2003  Três projetos do Banco Mundial fornecem US$ 750 milhões para prevenção e programas de 
HIV. 
1993  O Brasil começa a produzir seu próprio AZT e cancela tarifas e impostos sobre preservativos 
importados. 
1994  O Programa nacional de DST e AIDS adota a redução de danos como uma política 
explicita. Os fundos do primeiro empréstimo do Banco Mundial são distribuídos, e um 
número cada vez maior de ONGs passa a prestar serviços. 
1996  O Congresso aprova uma lei garantindo acesso universal para a terapia anti‐retroviral. Em 
todo o país, estima‐se que 600 ONGS trabalham em questões sobre a AIDS. 
1997  O sistema de vigilância do HIV é reformulado e os protocolos nacionais de tratamento são 
adotados. 
1998  O Brasil passa por uma crise financeira, mas os gastos com HAART aumentam. O USAID e o 
Programa de Desenvolvimento das Nações unidas iniciam programas estratégicos de UD$8,4 
milhões e US$ 2,5 milhões respectivamente. O Banco Mundial contrata a UNESCO e a 
UNDCP para realizarem atividades para a segunda fase do empréstimo contra AIDS 
2003  O Programa nacional de DST e AIDS expande suas políticas de descentralização, 
passando a responsabilidade aos estados de financiar projetos de ONGs locais e criar 
resultados baseados em acordos de gestão por resultados em 480 e cidades em todos 
os 26 estados. 
2005  O Brasil rejeita o financiamento do USAID devido à falta de acordo sobre atividades 
de prevenção para profissionais do sexo. 
2007  O presidente Lula emite uma licença compulsória para o remédio efavirenz da Merck, 
permitindo o Brasil a fabricar e vender versões genéricas. 
2009  O Programa nacional de DST e AIDS se torna um departamento dentro do Ministério da 
  22
 
Saúde. 
 
Fonte: Publicado pelos escritores do caso com base em dados disponíveis ao público.

  23
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Anexo 6  Resumo dos projetos de AIDS do Banco Mundial
 
Nome do projeto  Datas  Valor total (em  Parte financiada pelo 
Milhões de  Banco 
US$) (US$) 
AIDS I  1993‐1997  250  160 (64%) 
AIDS II  1998‐2003  300  165 (55%) 

AIDS III  2004‐2007  200  100 (50%) 

AIDS‐SUS  2010‐2013  200  67 (33,5%) 


Fonte: Banco Mundial

  24
 
 
 
Anexo 7  Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais,
2009
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte:
Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais

  25
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Anexo 8  Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais, 1998-2009
 
 
1.600,0 
 
1.437,9 
1.400,0   1.362,4 
1.340,7 
1.305,3 
1.200,0 
 
 
1.000,0 
941,5 
880,2 
800,0   802,4   737.385 
713,1   689,0   694.824 
654,5   718,95 
600,0   600.438 
593,4 
 
400,0   386.015 
392.205  
271,2   326,37 
280,84   299.268 
233.232  281.435  227,37 
200,0      
 
 
0.0 
1998   1999   2000   2001   2002   2003   2004   2005   2006   2007   2008   2009 

  Reais  US$   
*Relatado em milhões
Fonte: Orçamento do Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais.
 
 
 
 
 
Anexo 9  Gastos brasileiros com ARVs, 2003-2009
 
Ano  Nº de pacientes  Gasto com  Gasto com ARV  Gasto com ARV 
ARV/paciente  (como % do PIB) (como % do 
(US$)  orçamento total 
do MS) 
2003  139.868  1.377  0,038  1,92 
2004  156.670  1.554  0,033  1,73 
2005  164.547  1.750  0,031  1,63 
2006  174.270  1.830  0,027  1,47 
2007  180.640  1.767  0,025  1,30 
2008  191.244  1.566  0,019  1,08 
2009  197.000  1.435  0,020  1,03 
Fonte: Ministério da saúde do Brasil, 2009.

  26
 
 
 
Anexo 10 Gastos nacionais com a AIDS por categoria, em milhões de US$, 2006-2008
 
  2006  2007**  2008 
    %  % % 
Prevenção*  75,2  6,0  160,8 14,3 76,4 6,7 
Atendimento e  1.034,1  83,2  860,2  76,3  956,4  83,9 
Tratamento 
Administração de       
Programa,             
por ex., M&A,  55,9  4,5  38,6  3,4  42,9  3,8 
planejamento, 
vigilância, 
infraestrutura 
de laboratório 
Incentivos para recursos        
           
humanos, por 
12,1  1,0  16,9  1,5  15,7  1,4 
exemplo, 
desenvolvimento e 
treinamento de 
equipe 
     
Proteção social 
e órfãos 
29,2  2,3  25,9  2,3  24,8  2,2 
Criação de ambiente       
capacitador, por ex.  31,4  2,5  14,2  1,3  20,2  1,8 
promoção de direitos 
Pesquisa  5,7  0,5  10,8 1,0 4,0 0,3 
Total  1.243,4    1.127,3    1.140,3   
*Não abrange os gastos em nível estadual e local.
**Aumento com gastos em prevenção devido à compra de um bilhão de
preservativos masculinos. Fonte: Orçamento do Departamento Nacional de DST,
AIDS e Hepatites Virais

  27
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Anexo 11 Gastos nacionais com a AIDS em milhões de US$, 2006-2008
 
  2006*  2007**  2008 
Segurança de suprimento de sangue  695.045 1.250.520 1.080.340 
Mobilização da comunidade  7.063.584 10.324.440 10.092.046 
Programas educacionais para populações 
791.787  8.189.819  4.728.571 
vulneráveis 
Fornecimento de preservativos femininos 2.496.895 6.321.585 ‐ 
UDIs  757.903 43.683 47.760 
Fornecimento de preservativos masculinos ‐ 67.991.988 167.497 
Comunicação em mídia de massa  21.785.522 29.834.802 29.720.864 
MSM  78.431 ‐ 99.500 
Outra  21203112 3.705.315 2707773 
Pessoas vivendo com AIDS 59.388 1.422.791 ‐ 
Transmissão de mãe para filho  11.341.484 7.239.892 6.952.792 
Prevenção, diagnóstico e tratamento de DST 2.882.840 3.579.523 4.418.474 
Profissionais do sexo  55.676 ‐ 35.820 
Teste e aconselhamento voluntário  5.401.381 17.436.693 14.579.160 
Jovens  537118 3.431.629 1788687 
Total da prevenção  75.150.165  160.772.680  76.419.285 
*Recebendo financiamento do Banco Mundial
**Compra completa de um bilhão de preservativos
Fonte: UNAIDS.

  28
 
 
 
Anexo 12  Componentes do Projeto AIDS-SUS Brasil do Banco Mundial
 
 
 
Componente 1. Melhora da vigilância, prevenção e controle de DST e HIV/AIDS 
  Atividade
 
Desenvolve políticas, diretrizes e regulamentos técnicos para a rede de saúde 
    Política de 
alcançar com mais eficiência grupos sob maiores riscos, melhora o sistema 
formulação e 
logístico que fornece preservativos e remédios. 
regulamentação 
 
Melhora o comportamento e a soroprevalência da vigilância sobre HIV/AIDS e outros 
Vigilância 
STD,
 
Desenvolve o programa M&A; coordena vigilância epidemiológica, P&D, e 
Gestão de 
M&A; monitora e avalia P&D; e desenvolve ferramentas e processo para 
Informação 
disponibilizar a informação para os principais interessados.
Pesquisa e  Promove P&D em áreas inovadoras e prioritárias para alcançar populações 
Inovação  vulneráveis e desenvolver vacinas e outros produtos para prevenção; desenvolve a 
tecnológica.  cooperação entre 
Gestão  Estabelece financiamento baseado em resultado de DST e programas contra 
descentralizada  HIV/AIDS em estados, 
baseada em  municípios e CSOs, em vigilância, M&A, prevenção, tratamento e cuidado. 
resultados 
  Organiza uma rede de atendimento integrando atendimentos básico, secundário e 
Organiza terciário para ampliar o fornecimento e melhorar a qualidade de serviços em áreas de 
ção de  prevenção, diagnósticos e tratamento de DSTs e HIV/AIDS, se concentrando em 
rede  grupos sob maior risco. 

Transparência,  Fortalece a participação social na criação e no controle de políticas contra o HIV/AIDS 
Responsabilidade, e outras DST, e aumentar a transparência e visibilidade de entradas de programa, 
Controle Social  processos, atividades e resultados. 

  Desenvolve redes nacionais e internacionais para melhorar a resposta nacional, se 
Cooperação  concentrando em grupos sob maior risco; integra esforços dos sub‐setores relevantes 
nacional e  de saúde, principalmente aqueles relacionados à vigilância, cuidados básicos e saúde 
internacional  reprodutiva, assim como os setores público e privado e a sociedade civil; e aumenta a 
cooperação sul‐sul. 
Componente 2. Desenvolver governança descentralização e capacidade de inovação
Vigilância  Mapeia a epidemia e as atividades de prevenção
    Auditoria independente anual 
 
  Avaliação do impacto de intervenções para diminuir o risco entre grupos sob 
M&A 
maior risco 
  Financiamento baseado em resultados 
    Desenvolvimento de capacidade com base em planejamento estratégico, 
Financiamento  gerenciamento de projeto e M&A para o Departamento Nacional, secretarias de saúde 
baseado  de estados e municípios e CSOs. 
em planos e metas    Desenvolvimento de um sistema com base em resultado e cálculo de custos para 
(PAMs)  PAMs 
  Incentivos de desempenho para secretariados estaduais e municipais e CSOs, 
Fonte: Banco Mundial

  29
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
 
 
Anexo 13  Intervenções em grupos sob maior risco
 
 
  Tamanho   
Intervençã Agulhas e 
 
Grupos  estimado  Prevalência  Preservativos  Teste rápido 
o  seringas 
da 
comportam
população 
ental 
       
Distribui  
      Implantação  Redução de   
ção 
Pessoas      positiva do  danos em 19   
nacional 
vivendo  630.000  100%  Programa de  serviços em 5  ND 
com  com base 
Prevenção  regiões 
HIV/AIDS  no Plano 
em todos 
de 
os estados 
Necessid
ade 
33 milhões, 
respectivamente
       
Distribui  
         
        ção    Projeto piloto 
    7,2%  Cobertura com  nacional    em duas regiões 
Homossex 1,6  n=602  base no  com base    metropolitanas: 
uais e  milhõe Plano  no Plano  ND  Recife 
outros  s  Nacional  de  e Rio de Janeiro 
MSM 
Necessid
ade 122 
milhões, 
2007 45 
milhões, 
2009 
         
      Distribui    
Cobertura de 
      ção     
    cidades capitais e     
6.2%  nacional 
    regiões     
Profissionais 634.000 
n=2712  de 
metropolitanas; e  ND  ND 
do sexo  capitais e 
áreas de mineração 
regiões 
no Norte 
metropol
itanas. 82 
milhões, 
2009

  30
 
       
Distribui Redução de    
      Cobertura de 
    ção  danos em trocas   
     
capitais, regiões 
nacional  de agulhas nos   
Usuários  metropolitanas e   
de Drogas 
521.000  12%  de  estados com UDI 
fronteiras.  ND 
Injetáveis  capitais e  alto; Sul ‐ 
regiões  Sudeste 
metropol
itanas. 
13 milhões, 2009

       
Distribui  
    Cobertura com  O Plano  O Plano 
5.7%  ção 
    n=333 
base no Plano  Nacional de  Nacional de 
nacional 
Prisioneiro 460.000  Nacional de Saúde  Saúde para o  Saúde para o 
s  mascul com base 
para o sistema  sistema  sistema 
ino  no Plano 
carcerário: 463  carcerário inclui  carcerário inclui 
de 
prisões  redução de  diagnósticos 
Necessid
danos 
ade 27 
milhões, 
2009 

       
Distribui  
  0.04%  Plano Nacional    Testagem de 
Mulheres  ção 
3 milhões  N=20.000  para combater a  ND  rotina no contexto 
grávidas  nacional 
feminização da  de tratamento 
com base 
epidemia  pré‐natal 
no Plano 
de 
Necessid
ade 

       
    Distribui
Kit de 
     
  Saúde e  ção   
Criança
    prevenção  nacional 
conscientização 
 
s em 
ND  ND  para teste: Preciso 
nas escolas  com base  ND 
idade  ser testado? 
no Plano 
escolar  300.000 kits 
de 
Necessid
ade 
47 milhões, 2008

Fonte: Avaliação do Projeto AIDS-SUS do Banco Mundial, 2009.

  31
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
Anexo 14  Indicadores M&A da Política de descentralização
 
Meta da diretriz  Indicador  Quem 
deve 
seguir 
Melhorar a qualidade dos    Número de pacientes adultos sob o ART 
 
serviços públicos oferecidos  por médico 
para pessoas com    Número de pacientes infantis sob o ART 
 
Estados e 
HIV/AIDS e outras DSTs.  por médico. 
municípios 
  Número de pacientes sob o ART por 
leitos para pacientes com AIDS. 
  Número de unidades de distribuição de 
ARV. 
Redução de transmissão    Proporção de mulheres grávidas que Estados e 
vertical do HIV  receberam tratamento perinatal e fizeram  municípios 
 
testes de sífilis no primeiro e no terceiro   
trimestre de gestação.   
  Prevalência de sífilis congenital.        Estados 
 
Aumento da cobertura de 
  Índice composto relacionado a DSTs.  Municípios 
diagnóstico e tratamento de 
DSTs 
 
Aumento da cobertura de 
  Cobertura estimada dos testes de HIV. Municípios 
diagnóstico de HIV. 

Aumento da cobertura de    Número de MSM que participaram em
 
prevenção para populações  intervenções de prevenção estruturada.   
vulneráveis.    Número de profissionais do sexo que   
participam em intervenções de   
 
prevenção estruturada.   
  Número de travestis / transgêneros /   
transexuais que participaram em   
intervenções de prevenção estruturada.  Municípios 
  Número de UDIs participantes em 
programas de redução de danos. 
  Número de outras mulheres 
vulneráveis a infecção de HIV que 
participaram em intervenções de 
prevenção. 
  Número pessoas vivendo com 
Redução de estigma e    Porcentagem de organizações da 
 
discriminação.  sociedade civil com projetos aprovados se 
      Estados 
concentrando em questões de direitos 
humanos, advocacia e controle social. 

  32
 
Gestão melhorada e    Proporção de recursos para Estados 
sustentabilidade.  transferências federais para programas  e 
HIV/AIDS e outras DSTs.  municípi
  número de organização contra a  os 
AIDS da sociedade civil no   
município.         Estados 

Fonte: Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais.

  33
  Prevenção do HIV no Brasil GHD018
 
 
 
 
 
Referências
 
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https://www.cia.gov/library/publications/the‐world‐factbook/geos/br.html#. 
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3.  Ravallion M. A Comparative Perspective on Poverty Reduction in Brazil, China and India: Banco 
Mundial; Outubro 2009. 
4.  Banco Mundial. Principais dados e estatísticas de desenvolvimento. 2008;Atualizado 5 Fev. 2009. 
www.worldbank.org. Acessado em 10 Fev. 2010. 
5.  Organização Pan Americana de Saúde Brazil ‐ Health in the Americas 2007 ‐ Volume II: Organização 
Pan Americana de Saúde; 2007 
6.  UNICEF. Brasil. Estatísticas. 2009. http://www.unicef.org/infobycountry/brazil_statistics.html. 
Acessado em 10 Fev. 2010. 
7.  Programa Nacional de DST e AIDS. UNGASS – Resposta Brasileira 2005‐2007 Relatório de  
progresso do país. Brasilia: Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, 2008. 
8.  Ministério da Saúde. Saúde no Brasil, 2007; Uma análise da situação da Saúde. 2008. 
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/coletiva_saude_061008.pdf. Acessado em 4 de março 
de 2010 
9.  Berkman A, Garcia J, Munoz‐Laboy M, Paiva V, Parker R. A critical analysis of the Brazilian 
response to HIV/AIDS: lessons learned for controlling and mitigating the epidemic in developing 
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10.  Buss P, Gadelha P. Health care systems in transition: Brazil Part I: An outline of Brazilʹs health care 
system reforms. J Public Health Med. Set 1996;18(3):289‐295. 
11.  Entrevista com Kenneth Rochel de Camargo Jr. Rio de Janeiro. 13 Dez. 2010 
12.  Cassio de Moraes J, Carrara P. Universal Health Care: closing the equity gap. ReVista. Vol Spring. 
2007. 
13.  Organização Mundial da Saúde. Estatísticas da Saúde Mundial 2009; 
http://www.who.int/whosis/whostat/2009/en/index.html. Acessado em 20 de abril de 2010 
14.  Banco Mundial. Project appraisal document on a proposed loan in the amount of US$67 million to the 
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