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Isabele Puga – M7 2017.

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Infecções Respiratórias Agudas II


Bronquiolite Viral Aguda e Coqueluche

Bronquiolite Viral Aguda


O que é: Primeiro episódio de sibilância que ocorre na vida de um pequeno ser. Quadro
agudo de vias aéreas inferiores, obstrutivo, de etiologia viral, geralmente precedido de um quadro
de resfriado comum (aparece após a remissão deste, devido à “descida” da infecção pelo trato
respiratório)  Os bronquíolos apresentam calibre muito pequeno principalmente em lactentes.
Dessa forma, quadros inflamatórios que provoquem bastante edema e secreção local têm grande
chance de causar obstrução significativa e profunda alteração de trocas gasosas.
Patologia: inflamação aguda, edema de interstício, luz bronquiolar preenchida por fibrina
e material necrótico, destruição de pequenas vias aéreas  favorece a evolução maligna
(Bronquiolite Obliterante. Raro e muito grave)
Sintomas: precedido pelos sintomas do resfriado comum (tosse, espirro, febre, coriza)
com evolução para dificuldade respiratória intensa, taquipneia, estertores e sibilância, de
gravidade variável. A dispneia é um sintoma mais comum do que a sibilância uma vez que, se a
quantidade de secreção na luz do bronquíolo for muito alta, podemos não auscultar esta última.
Classificação: leve (>80% dos casos), moderado ou grave  de acordo com grau de
dificuldade respiratória. Maioria dos casos é processo viral autolimitado e benigno.
Grupos de Risco para Bronquiolite Grave: crianças com cardiopatia congênita,
displasia broncopulmonar por permanência em UTI, expostas ao tabagismo intra-útero ou
intradomiciliar, imunossuprimidas ou com outras comorbidades.
Diagnóstico: história clínica e exame físico costumam ser mais do que suficiente para o
diagnóstico e conduta (determinação de agente etiológico só em institutos de pesquisa) 
Métodos utilizados: imunofluorescencia, PCR, kit de detecção viral.
Radiografia diagnóstica somente para crianças internadas, nas quais a chance de ser
bronquiolite grave é maior, ou para diagnóstico diferencial de pneumonia em casos de dúvida.
Aparece normalmente como hiperinsuflação (inespecífico), mas pode ter atelectasia por
componente obstrutivo.

Determinação do Agente Etiológico: aspirado nasofaríngeo e montagem de painel viral


(IPPMG faz em parceria com HUCFF). Principais vírus causadores são Vírus Sincicial
Respiratório (VSR), Rinovírus, Metapneumovírus, Influenza, entre outros (alguns casos de
Bocavírus e outros menos frequentes a depender da época).

Vírus Sincicial Respiratório (VSR)  mais frequente. Família Paramyxoviridae, altamente


contagioso, ocorre em epidemias anuais (normalmente de março a agosto) e é um fator etiológico
muito presente em casos de infecções hospitalares. A principal forma de contágio é pelas mãos,
de forma que a orientação dos pais quanto ao uso de álcool gel, lavagem das mãos, uso de
máscara se estiverem resfriados, cuidados ao espirrar para minimizar a dispersão de aerossóis,
etc. é muito importante para proteger a criança (principalmente até os 2 anos, faixa de idade
mais acometida). O mesmo vale para possíveis visitantes ou pessoas que queiram entrar em
contato com a criança na rua.

Tratamento: normalmente, por ser um quadro viral auto-limitado, o tratamento é


sintomático. Pode ser feita a desobstrução de via aérea alta com soro nasal e, em casos de
internação, pode-se considerar o uso de broncodilatadores de curta duração (nebulização com
agonista beta2). No entanto, a nebulização não altera prognóstico e pode ou não gerar alívio
sintomático, de forma que se orienta a suspensão em casos nos quais não há melhora com o
uso. Adrenalina não é recomendada (ação em casos de obstrução de via aérea alta,
principalmente laringite e Síndrome do Crupe*). A nebulização com salina hipertônica associada
ao beta2 ainda se encontra em estudo, sendo utilizada principalmente em crianças
hospitalizadas (induz tosse, expectoração e fluidifica o muco para desobstrução do bronquíolo.
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Estudos mostram redução de 1 a 2 dias no tempo de internação, mas ainda sem muitos
resultados confiáveis). O único tratamento preconizado para todas as crianças internadas com
bronquiolite é O2 (principalmente em casos de saturação inferior a 90%). Corticoesteroides não
devem ser administrados e estudos não mostraram mudanças significativas com a fisioterapia.
A alimentação deve ser mantida se o esforço for leve, a fim de evitar broncoaspiração. Em casos
de grande esforço respiratório ou taquipneia, deve-se hidratar por via venosa ou colocar sonda
enteral. ATENÇÃO PARA: hiponatremia e hidratação excessiva (neste último caso, as crianças
podem ter síndrome de secreção inapropriada de ADH, na qual este hormônio é produzido em
grande quantidade e o excesso de hidratação pode ser fatal).
*Epiglotite aguda ou Síndrome do Crupe é uma inflamação de epiglote grave devido à infecção pelo
Haemophilus influenzae tipo B. Causa edema intenso com possibilidade de obstrução de vias aéreas, tosse
rouca, guincho e dificuldade na inspiração.

Prevenção: higiene das mãos, aleitamento materno. Não há vacina. Pode ser feito o
anticorpo monoclonal palivizumabe contra o VSR (imunização passiva) para crianças prematuras
com menos de 28 semanas ou com cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica ou
com doença displásica crônica da prematuridade. O governo disponibiliza 5 doses IM 15mg/kg
uma vez no mês entre os meses de março a agosto para crianças até dois anos que cumpram
os critérios descritos.  O problema principal é que protege somente contra o VSR, que é o
causador mais comum da bronquiolite, mas não o único.

Crianças com bronquiolite na infância, se forem atópicas em potencial (história familiar de atopia),
podem desenvolver asma no futuro por hiper-reatividade brônquica

Coqueluche (Pertussis)
O que é: Uma doença infecciosa, aguda, altamente transmissível que acomete traqueia e
brônquios. Em 2010 ocorreu um novo surto de Coqueluche no Brasil e, por conta disso, esta
doença voltou a ser de grande importância clínica para nós.

Agente etiológico: Bordetella pertussis

Características: 3 fases bem marcadas


1) Fase catarral (1 a 2 semanas): similar a um
resfriado (febre pouco intensa, mal estar
geral, coriza e tosse seca). É uma fase
altamente infectante que apresenta piora
progressiva dos sintomas.
2) Fase paroxística (2 a 6 semanas): crises de
tosse seca, súbita e contínua, que se
intensificam com paroxismos, guinchos,
cianose e são seguidas de vômitos.
Emergência principalmente em bebês, que
frequentemente não têm o quadro clínico
tão marcado.
3) Fase de convalescença: os acessos de
tosse desaparecem, bem como os guinchos
e vômitos, mas permanece a tosse seca
esporádica que pode persistir por vários
meses.
Bebês menores de 6 meses podem ter
formas graves da doença, apresentar
desidratação, convulsões e lesão cerebral
(causadas por hipóxia nos acessos de tosse),
complicar com pneumonia e até mesmo irem a
óbito.
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Diagnóstico: Crianças de 0 a 3 meses apresentam quadro muito inespecífico. Por conta


disso, uma tosse de qualquer duração associada a qualquer complicação (apneia, convulsão) +
laboratório com leucocitose e linfocitose, devemos pensar em coqueluche. À medida que a
criança cresce, observamos o quadro mais característico, com a tosse paroxística que dura
mais de uma semana. Uma característica laboratorial é a associação de leucocitose com
linfocitose.

Transmissão: Contato direto pessoa doente – pessoa suscetível não vacinada por meio
de gotículas (tosse, espirro ou fala) em aerossóis ou objetos contaminados. O período de
incubação varia de 1 a 2 semanas.

Tratamento: Afastamento de indivíduos doentes, ambientes arejados, cuidado com a


oferta de líquidos para evitar broncoaspiração, evitar a desidratação, lavar as mãos
cuidadosamente antes e após o contato  Importante fazer diagnóstico diferencial de crises de
tosse crônica!
O uso de antibiótico impede a disseminação da infecção e ajuda a aliviar os sintomas na
fase inicial da doença (impede a produção da toxina pertussis, que atua no SNC induzindo a
tosse), mas não necessariamente melhora o prognóstico para o paciente em fase avançada de
infecção.

Prevenção: Vacina (tríplice bacteriana – tétano, difteria e coqueluche). A proteção


aumenta de acordo com as doses, de forma que consideramos realmente protegidas crianças
que já tomaram pelo menos duas doses.

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