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D’AGOSTINO
BELEZAE O
A
MÁRMORE
O Tratado De Architectura de Vitrúvio e o Renascimento
PROJETO E PRODUÇÃO
Coletivo Gráfico Annablume
ISBN
978-989-26-0249-3 (IUC)
978-85-391-0125-2 (Annablume)
ISBN Digital
978-989-26-0849-5
DOI
http://dx.doi.org/10.14195/978-989-26-0849-5
DEPÓSITO LEGAL
350533/12
© JU NHO 2012
A N NA BLUME
IMPR ENSA DA U NI V ERSIDA DE DE COIMBR A
Apresentação 11
Ilustrações 219
Referências Bibliográficas 237
N
as concordâncias e desconcertos em que os ensaios
aqui reunidos se enleiam e se desatam, se encadeiam – a
perquirir nexos e descosturas no tecido discursivo do De
Architectura de Vitrúvio –, e se desprendem – sob a dispersão mes-
ma das questões que a exegese propõe para o melhor abalizamen-
to da obra –, um propósito comum guia seus cinco andamentos:
sopesar, por distintos vieses, os empenhos e engenhos do autor ao
estabelecer, com razoável coerência, um preceituário da boa arqui-
tetura no qual a beleza possui valor precípuo. O estudo da tessitura
dos preceitos, de seus escopos e modalidades de articulação, bem
elucida a mathematica dos problemas e desafios perseguidos pelo
arquiteto nos alvores do Império, a elidir presumíveis inépcias ou
disparates teóricos do escrito antigo, revelando consórcios com ca-
tegorias poéticas e retóricas, e expedientes de imitação e emulação
que perduram até pelo menos o crepúsculo das Luzes.
O projeto cobrou plenilume numa breve conversa com o profes-
sor Gabriele Morolli, da Università degli Studi di Firenze, quando de
sua estada no Brasil em 1998. Em 1999, por sua recomendação, fui
admitido no Kunsthistorisches Institut in Florenz, retornando em ou-
tras duas oportunidades ao singelo edifício da via Giuseppe Giusti.
No labirinto das salas e estantes desse renomado instituto alemão,
em Florença, dei início às pesquisas, e a seu rico acervo bibliográfico
devo muito do produto final.
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3. DECOR
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13. Cf. também a passagem semelhante do De Officiis 1, 28, 98, cit. por Callebat
(1994, p. 39).
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14. Corso (1997) nota que Ictino já havia ideado as mesmas relações de proporção
(4:9) para o intercolúnio do Parthenon; e Mnesicles, no Propileu, a ampliação
do intercolúnio central (1997, De Arch., III, n. 107, p. 309).
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Sorte amarga,
mísero destino é o teu.
A ti coube uma vida que não é vida.
(Helena, vv. 211-13)
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15. Difícil compartilhar da visão esperançosa de Ernst Block (1994, pp. 210-
29), para quem a imagem de Helena, desfrutando de maior realidade que
o ser, deslinda um futuro e horizonte de ação pelo qual a Tindaride deve
tornar própria a feição grandiosa e heróica do simulacro, transformando em
legado as vicissitudes históricas da tragédia. Para Eurípides, porém, o legado
é exatamente aquilo que une e escinde, em simultâneo e inexoravelmente,
imagem e ser. No mais, o belo estudo de Block ilumina aspectos essenciais
sobre a beleza e o amor.
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16. Cf. Frontisi-Ducroux (1998, pp. 93, 95): ao espelho do tempo a autora acresce
o do vinho, recomendado por Platão: «para saber se se trata de um homem
violento, injusto ou brutal, ou de um escravo dos sentidos, melhor praticá-lo
no sympósion, ao invés de expor a riscos a própria mulher e os filhos».
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dons hospitaleiros dos humanos; assim quer Zeus» (Helena, vv. 1.666-9) –,
bem como da ilha rebatizada com seu nome e da boa ventura de Menelau na
Ilha dos Beatos (vv. 1.674-9). Tal vaticínio memora o de Estesícoro, poeta que
recobrou a visão após retratar-se de uma calúnia impetrada em versos contra
a Tindaride; e ambos, por sua vez, acenam para uma conhecida tradição
pitagórica na qual Helena infinda Senhora da Lua. No entanto, ao reverso
da piedade dos pretéritos, subjaz em Eurípides um ceticismo desolador. «Se
Eurípides fosse um homem de fé», pondera Umberto Albini (1993, p. XVI),
«o deus ex machina podia ser um meio para reafirmar a própria fé: em realidade,
a intervenção decisiva dos numes, no limite do gratuito, parece cogitada como
cômodo instrumento para convalidar toda uma dimensão inédita do real, para
autenticar isto que (ultrapassando os confins tradicionalmente impostos à
conduta do homem) arriscava aparecer conturbante, desmoderado, obscuro
e ingovernável, “mágico”». Cf. também Brillante (2002, pp. 171-80).
18. «Todos os antigos sacra, sinais de investidura, símbolos religiosos, brasões,
xóana de madeira, zelosamente conservados como talismãs de poderio no
recesso dos palácios ou no fundo das casas de sacerdote, vão emigrar para
o templo, morada aberta, morada pública. [...] Da grande estátua cultual
alojada no templo para nele manifestar o deus, poder-se-ia dizer que todo
seu esse consiste doravante em um percipi. Os sacra, outrora carregados de
uma força perigosa e não expostos à vista do público, tornam-se sob o olhar
da cidade um espetáculo, um “ensinamento sobre os deuses”, como sob o
olhar da cidade, as narrativas secretas, as fórmulas ocultas se despojam de seu
mistério e seu poder religioso para se tornarem as “verdades” que os Sábios vão
debater» (Vernant, 1984, p. 38); v. também Vernant (2001, pp. 17-28).
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