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Luta na Normandia

“Goodwood”: 115.000 britânicos ao assalto

Ofensiva americana rumo ao Sena: luta nas sebes


A batalha de Caen

As forças aliadas, no começo do mês de julho de 1944, haviam cumprido o seu principal objetivo: a
conquista do porto de Cherburgo. Apesar das demolições efetuadas pelos alemães, antes de se renderem, o
Corpo de Engenharia americana conseguiria, a curto prazo, restabelecer a normalidade no porto, a fim de
permitir o ingresso das naves que transportariam as armas e abastecimentos necessários para a grande
investida rumo à fronteira alemã. Das bases da Grã-Bretanha e diretamente da costa americana se precipitaria
sobre a França, em torrente ininterrupta, o gigantesco poderio militar e humano dos Estados Unidos. A
Alemanha ficava então definitivamente amarrada em duas frentes. Os russos já haviam iniciado a ofensiva
decisiva. Suas forças avançavam através dos últimos trechos de território soviético nas mãos dos alemães,
aniquilando os efetivos da Wehrmacht que se interpunham em seu caminho. Nos Bálcãs, as forças
guerrilheiras de Tito, com sua ação incessante, obrigavam os alemães a desviar para essa frente grande parte
dos seus efetivos. Na Itália, a luta continuava sem trégua. Monte Cassino caíra em mãos aliadas. As tropas do
General Clark haviam conquistado Roma e preparavam o avanço para o norte.

Assim, a Alemanha, esgotada por cinco anos de guerra, com sua aviação dizimada, sua marinha reduzida à
impotência e a flor do seu exército aniquilada na Rússia, enfrentava uma situação desesperada e não estava
em condições de resistir ao novo choque que ocorreria na França.

Os generais alemães haviam sugerido a Hitler a necessidade de buscar uma solução política. Muitos deles
acreditavam ser possível chegar a um acordo com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Tal acordo lhes
permitiria conter o avanço das forças soviéticas na sua penetração rumo ao coração da Europa. Entre os
militares de alta patente favoráveis a essa idéia, contava-se o próprio Marechal Rommel. Com isso,
demonstravam, paralelamente, um profundo desconhecimento do desejo de combater até o fim que animava
britânicos e americanos.

Para os estadistas aliados, a guerra não tinha outra finalidade senão o fim do regime nazista e a liberação de
todos os países ocupados pelo aparato militar alemão. Não haveria, em conseqüência, nenhuma possibilidade
de entendimentos destinados a estabelecer uma paz em separado. A maquinaria militar alemã teria que ser
desmontada totalmente. Hitler, por sua vez, se empenhava em sustentar a guerra sem o menor declínio,
apesar de, em todas as frentes, suas forças sofrerem derrota após derrota. Estava obsecado com o novo poder
ofensivo que a Alemanha ganharia com o aperfeiçoamento e aplicação das armas secretas. Uma delas, a
bomba voadora V-l, já fôra utilizada pela primeira vez, a 13 de junho de 1944. Esses artefatos explosivos
haviam sido dirigidos contra Londres, apesar das solicitações dos seus chefes militares, no sentido de
empregá-los contra a cabeça-de-ponte e os portos de invasão do sul do Inglaterra. Hitler estava convencido
de que a V-1, à que logo se somaria a V-2, ao golpear o coração do Império Britânico, poria água na fervura
dos ingleses, e os obrigaria a negociar o paz em separado. Durante o mês de junho foram lançadas, assim,
sobre Londres, mais de 2.000 bombas voadoras V-l. Destas, somente a metade alcançou a área de Londres,
causando a morte de 736 pessoas e deixando um saldo de feridos de quase 7.000. Contra essas perdas,
mínimas, na realidade, o gigantesco ritmo da afluência de novas tropas e material aliado à frente continuava
a ser mantido.

Assim, nesse mesmo mês de junho, foram desemborcados na Normandia 800.000 soldados, 130.000 veículos
e 400.000 toneladas de material. As armas secretas de Hitler não haviam alterado o curso da guerra.
Chegavam muito tarde. O próprio ditador se encarregara, nos anos anteriores, de travar o desenvolvimento
delas, quando ainda confiava numa vitória fácil. Agora, estava pagando as conseqüências.

A segunda fase da invasão


Uma vez que, com a conquista de Cherburgo, os Aliados estabeleceram uma base de abastecimentos que, ao
contrário dos praias, podia ser utilizada o tempo todo, ficaram caracterizadas as condições para iniciar e levar
avante a segunda fase da invasão.

Seria então iniciado o avanço rumo ao rio Sena. Enquanto as forças de Montgomery se mantivessem firmes
no setor de Caen, segurando ali o grosso das unidades alemães; o 1 o Exército americano, de Bradley, levaria
a cabo um vasto movimento envolvente, primeiro em direção ao sul e depois para o leste. Esse movimento se
realizaria em duas etapas: na primeira, os americanos deveriam travar uma batalha de rompimento
desarticulando as posições alemães na base da península de Cotentin; em seguida se realizaria um rápido
avanço rumo ao oeste, para ocupar os portos da Bretanha: Brest, Lorient e outros; com isso o abastecimento
ficaria assegurado, não dependendo de um só porto. Depois da conquista dessas posições haveria uma pausa,
para então marcharem os americanos, resolutamente para o leste, em direção ao Sena, juntamente com as
forças de Montgomery. A esta altura dos acontecimentos já se teria incorporado uma nova força: o 3 o
Exército, de Patton.

Segundo se previa, os alemães reorganizariam suas forças atrás do Sena, formando ali uma nova frente
defensiva. Os Aliados, por sua vez, fariam ali um alto para reorganizar suas unidades e adiantar as bases de
abastecimentos.

Eisenhower e Montgomery discutiram os pormenores desse plano e chegaram a um acordo, decidindo pôr
em execução o plano nos primeiros dias de julho.

A frente americana na Normandia tinha uma extensão de 64 km. Essa frente estava dividida em quatro
setores: cada setor ocupado por um Corpo de Exército. De leste a oeste, os Corpos eram os seguintes: o 5 o,
do General Gerow, que mantinha a união com os ingleses; o 19 o, do General Corlett, localizado frente à
posição de Saint Lo; o 7o, do General Collins, na região pantanosa de Carentan e, finalmente, na costa do
Atlântico, o 8o, do General Middleton. Todas as forças americanas combatiam no terreno obstaculizado pelos
pântanos, sebes e rios do sul da península de Cotentin. Esse aspecto da situação oferecia grandes dificuldades
para o lançamento da ofensiva. O General Bradley assim comenta a situação: "Enquanto o inimigo nos
mantivesse dentro do bocage (zona das sebes) da Normandia, onde éramos obrigados a opor-lhe homem por
homem, ele estava em condições de fazer-nos pagar um preço proibitivo pelos miseráveis metros que
pudéssemos avançar. Como faríamos então para transformar a guerra no bocage numa guerra de
movimentos? Primeiro teríamos que escolher um ponto frágil da frente inimiga. Depois, concentrar nossas
forças contra esse local.
"Então, depois de assestar um golpe que esmagasse a primeira linha defensiva, a ultrapassaríamos e, pela
brecha, espalharíamos nossas colunas mecanizadas, antes que o inimigo pudesse recobrar os sentidos".

O rompimento, no entanto, oferecia numerosos problemas. Em primeiro lugar era necessário encontrar um
ponto onde as defesas alemães fossem fracas e o terreno não apresentasse grandes dificuldades. Depois de
estudar detidamente os elementos em seu poder, o General Bradley chegou à conclusão de que o setor mais
favorável à operação estava situado no extremo oeste de suas linhas, na costa atlântica. As forças americanas
do 7o Corpo de Exército, do General Middleton, se lançariam para o sul até alcançar a estrada que corria pela
retaguarda alemã, entre as localidades de Coutances e Saint Lo. Simultaneamente, o 7 o Corpo, do General
Collins, golpearia na região pantanosa de Carentan, para atrair para lá a atenção dos alemães, enquanto o
General Middleton avançasse resolutamente. Assim esperava-se que a rápida penetração deste último
facilitaria o posterior avanço das demais unidades americanas.

Ameaçando o flanco dos alemães, o General Middleton ajudaria os restantes Corpos de Exército a penetrar
através dos pântanos e demais acidentes fluviais que se entrecruzavam na base da península de Cotentin.
Finalizada essa primeira ação ofensiva, todo o 1 o Exército americano se encontraria em terreno seco e firme,
pronto para abrir caminho através da zona do bocage.

A 24 de junho, e quando Cherburgo ainda não havia caído, Bradley deu por terminados os seus planos para a
operação. Emitiu ordens de ataque ao General Milddleton e, ao mesmo tempo, ao General Collins. Este,
depois de concretizar a tomada de Cherburgo, disporia de cinco dias para voltar com seu Corpo paro o sul e
participar da ofensiva; um dia para descanso, dois para o deslocamento, outro para reconhecimento das
linhas inimigas e o quinto para emitir a ordem de ataque. Assim, celeremente, foi organizado o início da
ofensiva americana.
A 27 de junho, Bradley entrevistou-se com Montgomery. Colocou-o a par do plano de ataque e recebeu plena
aprovação do chefe inglês. Bradley, em suas Memórias, salienta a inteligente compreensão que Montgomery
demonstrou, com as seguintes palavras: "Exerceu sua autoridade com ponderação, paciência e moderação.
Coordenava nossos movimentos com os dos britânicos e sempre evitou cuidadosamente ver-se envolvido nas
resoluções pertinentes ao comando americano, dando-nos, ao contrário, ampla autoridade para operar, com
tanta liberdade e independência como nos parecesse adequado. Em momento algum se intrometeu no 1 o
Exército. Não poderia eu desejar um superior mais tolerante e mais compreensivo. Jamais nos impôs uma
diretiva arbitrária, assim como jamais rechaçou um projeto que lhe tivéssemos apresentado".

A ofensiva em marcha

A missão de liderar o ataque tocou ao 8o Corpo de Exército, comandado pelo General Middleton. Era ele um
chefe de longa e brilhante carreira. Combatera na Primeira Guerra Mundial; na Segunda, destacou-se, antes
da invasão, como comandante de divisão na Sicília e no sul da Itália. As forças sob seu comando eram
constituídas pelas divisões 79a e 90a e a 82a Aerotransportada.

Middleton planejou lançar essas unidades num ataque convergente sobre a localidade de La-Haye-du-Puys.
A 82a atacaria pelo centro, a 79a pelo flanco direito e a 90a, pelo esquerdo, para capturar a cadeia de colinas
que envolviam a localidade. Essas posições eram defendidas por uma única divisão alemã, a 353 a de
infantaria, comandada pelo General Mahlmann. Ao todo, essa força contava com quatro batalhões de
infantaria e dois de artilharia.

Contra eles os americanos lançariam o peso de suas três divisões, apoiadas por três batalhões de artilharia
média e pesada, entre os quais se encontravam dois batalhões de canhões de 240 mm.

Além disso, Eisenhower comunicou a Bradley que podia utilizar no assalto todo o apoio aéreo que
necessitasse. Calculou-se, assim, que o ataque conseguiria uma rápida vitória, pela esmagadora superioridade
dos efetivos americanos.

Na noite de 2 de julho, véspera do ataque, um fino chuvisco começou a cair sobre a frente. Ao despontar o
dia, o chuvisco já se convertera em forte aguaceiro. O resultado foi o cancelamento imediato do apoio aéreo,
inclusive os vôos dos levíssimos aviõezinhos de observação.

Às 5h 15m do dia 3 de julho, a artilharia americana rompeu fogo, levantando uma terrível barreira de
projéteis.

Durante quinze minutos o fogo foi mantido. Às 5h 30m, os canhões começaram a disparar mais em
profundidade e a infantaria avançou. No centro da linha marchava a 82 a Aerotransportada, sob o comando do
General Mathew Ridway. Sustentando duros embates com os efetivos alemães, que resistiam
encarniçadamente, a divisão aerotransportada conseguiu conquistar seu objetivo: as colinas que dominavam
a zona de luta no centro do dispositivo. No seu avanço, os pára-quedistas haviam matado 500 soldados
alemães e aprisionado 700.

As duas divisões restantes, a 90a e a 79a, toparam com uma resistência inflexível.

O comando alemão lançou um contra-ataque com o 15° Regimento de Pára-Quedistas e reteve em suas mãos
o controle da situação. Apesar da sua superioridade, os americanos não conseguiram abrir passagem e
sofreram grandes baixas.

Em cinco dias de luta, cada uma das divisões americanas havia perdido perto de 2.000 homens, fato que
diminuiu sua capacidade combativa. Bradley, ante essa realidade, determinou a suspensão momentânea do
avanço.

A 7 de julho cessou a luta que o comando americano presumira ser de resolução fácil.

Uma vez mais, os veteranos da Wehrmacht haviam feito prevalecer, ante as bisonhas tropas americanos, sua
maior experiência e sua tenacidade.
O General Bradley, em suas Memórias, comentou assim o baixo rendimento das tropas das divisões de
infantaria, em relação ao das divisões aerotransportadas, nas ações sustentadas: "Unicamente a divisão 82 a
havia chegado ao seu objetivo. Essa divisão era animada por um incentivo que as demais unidades careciam.
De fato, uma vez cumprida a missão designada, os pára-quedistas de Ridway voltariam à Inglaterra (foram
substituídos na frente pela 8a Divisão de infantaria). Os incentivos não contam, comumente, na vida do
soldado de infantaria. Para ele, não se trata de dar cumprimento a 25 ou 50 missões, ao cabo das quais
receberá uma passagem de regresso à sua pátria. O fuzileiro marcha penosamente ao combate, sabendo que
as estatísticas são contra suas possibilidades de sair com vida. Luta sem promessas de recompensa nem de
alívio. Atrás de cada rio há uma colina e atrás dessa colina, outro rio. Depois de estar semanas e meses na
frente, somente um ferimento pode oferecer-lhe o consolo de estar a salvo e fornecer-lhe abrigo e cama. Os
que ficam lutando, continuam lutando, escapando à morte e sabendo que, com cada escapulida, lhes resta
menos uma probabilidade de sair com vida. Cedo ou tarde, a menos que chegue a vitória, a carreira termina
na maca ou na tumba".

Novo fracasso americano

O 7o Corpo, do General Collins, se lançara à ofensiva mais para o leste, juntamente com o Corpo 19 o, do
General Corlett.

A partir de 4 de julho, a 83a Divisão de Infantaria americana se lançou ao ataque, ao sul dos pântanos de
Carentan. Esta unidade, bisonha, não conseguiu romper as linhas alemães e apenas conseguiu avançar uma
milha, à custa de 2.000 baixas, ficando totalmente esgotada como força combativa.

Foi lançada, então, uma nova unidade ao combate. Tratava-se da 4 a Divisão de Infantaria, veterana. No
primeiro assalto perdeu 800 homens sem fazer maiores progressos.

O terreno de sebes era, indiscutivelmente, um formidável obstáculo. Os alemães, entrementes, haviam


deslocado para a zona da luta a 2a Divisão Panzer SS.

A 5a Divisão de Pára-Quedistas, por sua vez, foi enviada para a frente. A 7 de julho, o 19 o Corpo de Exército,
do General Corlett, se somou à ofensiva, com a 30a e a 9a Divisões de Infantaria.

Essas unidades cruzaram inesperadamente o canal do rio Vire, nas primeiras horas da madrugada, e se
lançaram rumo ao sul. Os alemães, enquanto isso, preparavam-se para o contra-golpe.

Os americanos enviaram, como reforço para suas unidades, a 3 a Divisão Blindada. O ataque, contudo, foi
contido no dia 9 de julho pela 2 a Divisão Panzer SS, após violentos embates. Em seguida, os alemães
empenharam na luta a divisão Panzer "Lehr", uma de suas melhores unidades. O objetivo era isolar e
aniquilar todas as unidades americanas que haviam transposto o canal do rio Vire.

As ações se iniciaram a 11 de julho. Dois regimentos de Panzergrenadier, liderados por tanques "Panther" e
peças antitanque motorizadas, se lançaram sobre a 30 a e a 9a Divisões americanas. As forças de tanques,
comandadas pelo Capitão Philips, superaram as linhas americanas e penetraram profundamente nas posições
da retaguarda. Seu objetivo era alcançar a margem do canal do Vire, cortando assim toda possibilidade de
retirada aos americanos. Entrementes, na retaguarda, os granadeiros alemães caíram sobre as unidades de
infantaria, impedindo-as de escapar à armadilha. Travou-se, então, uma furiosa luta entre as sebes. Tanques
alemães e americanos atiravam-se um no outro, praticamente à queima-roupa. No entanto, ao entardecer e
clarear o céu, que até aquele momento estivera coberto por densas nuvens, a batalha sofreu uma reviravolta
desfavorável para os alemães. Apareceram então os caças aliados e submeteram as forças alemãs a um fogo
devastador. Ao cair da noite, o ataque alemão fôra totalmente desbaratado, pela ação da aviação. Os 32
tanques alemães da Panzer "Lehr", atacados pelos caça-bombardeiros, haviam sofrido a perda de 20 de suas
unidades, destruídas pelos aviões. A unidade sob o comando do Capitão Philips havia sido aniquilada, e esse
chefe fôra aprisionado. Somente 7 suboficiais e 23 soldados sobreviveram e puderam regressar às linhas
alemãs.

Contudo, e apesar desses fracassos, os alemães haviam conseguido deter a projetada operação de
rompimento das forças de Bradley, causando aos americanos vultosas baixas em homens e materiais.

Montgomery ao ataque
No setor de Caen, Montgomery, entrementes, resolvera dar um decisivo golpe na situação.

O chefe britânico, contando com a participação de três divisões, com um total de 115.000 soldados, apoiados
por uma barreira de fogo de artilharia terrestre e naval, ordenou o assalto para a manhã de 8 de julho.

Para dar maiores possibilidades de vitória às suas forças, Montgomery ordenou a realização, poucas horas
antes da operação, de um bombardeio maciço por parte dos quadrimotores da RAF, com um total de 500
aviões. Na noite de 7 de julho, os Lancaster e Halifax cruzaram o Canal e se dirigiram para o objetivo.

O alvo seria uma zona de 3.600 metros de frente por 1.300 de profundidade. Ali seriam lançadas mais de
2.500 toneladas de bombas, em poucos minutos.

Os bombardeiros cumpriram sua missão matematicamente. Um mar de fogo e explosões envolveu Caen.
Centenas dos seus habitantes pereceram no ataque. As bombas, contudo, haviam sido arrojadas muito além
das posições alemães da primeira linha, para evitar que caíssem sobre a vanguarda britânica.

Desta forma, toda a zona vital de defesa alemã havia ficado praticamente intacta. Calculava-se,
paralelamente, destruí-la com o fogo da artilharia.

A frente de Caen era defendida, nesse momento, pela 12 a Divisão Panzer SS, já dizimada pelos combates
anteriores. O chefe dessa unidade, Obergruppenführer Meyer, prevendo o assalto britânico, requerera
diversas vezes ao Alto-Comando que lhe fosse permitido recuar suas forças até uma linha defensiva situada
atrás do rio que corria através da cidade de Caen. Essa posição era menos extensa e oferecia maiores
possibilidades de defesa.

O chefe alemão recebera a terminante determinação de Hitler de não ceder nem uma polegada de terreno.
Não a cumpriria, no entanto, pois como salientou: "Fôra-nos exigido morrer em Caen, porém eu não podia
deixar que esses rapazes fossem sacrificados por uma ordem insensata". Seis horas depois do bombardeio, a
operação "Charnwood" (captura de Caen) foi posta em marcha. Pelo centro atacou a bisonha 59 a Divisão de
Infantaria britânica. Pelo flanco esquerdo avançou a 3 a Divisão de Infantaria britânica. Pelo direito, a 3 a de
Infantaria canadense. Como apoio de tanques interveio a 79 a Divisão Blindada inglesa e duas brigadas
canadenses.

Avançando através do terreno coberto de crateras, apoiados pelo fogo devastador dos canhõees, os infantes
convergiram sobre a cidade de Caen, convertida já em uma massa de escombros. O avanço progrediu
rapidamente por ambos os flancos. Compreendendo que tudo estava perdido, o Obergruppenführer Meyer
ordenou a retirada para o lado oposto do rio.

Avançando do norte e do sul, os britânicos e canadenses ocuparam a cidade, ou o que restava dela. Mais ao
sul, travou-se uma furiosa batalha pela passe da colina 112, que também caiu nas mãos dos britânicos.

Operação "Goodwood"

Para pôr um fim à luta no região de Caen, Montgomery planejou o que denominou operação "Goodwood".

Consistiria essa operação num grande golpe a cargo dos blindados. A infantaria britânica e canadense
sofreram, por sua parte, enormes perdas, diminuindo em muito sua potência combativa. As baixas britânicas,
de fato, haviam crescido em relação às dos alemães, na proporção de três a um. As reservas inglesas,
também, haviam atingido um limite tal que, breve, seria impossível que pudessem cobrir os claros.

Um escritor britânico comenta assim a situação: "O momento crucial chegava rapidamente - e, de fato,
estava apenas a menos de duas semanas -, no qual não haveria mais reforços de infantaria. As reservas já
haviam sido entregues às unidades e, por sua vez, se haviam já convertido em baixas. A única forma, agora,
de manter os efetivos completos nas diversas divisões, era desintegrar uma divisão existente, já bastante
desfalcada, e distribuir seus efetivos pelas demais".

No campo dos tanques, a situação era melhor. O 2 o Exército britânico, do General Dempsey, tinha agrupados
num Corpo blindado, o 8o, três divisões, a 11 a, a 7a e a Divisão blindada da Guarda. Além disso dispunha-se
de 500 tanques de reserva na Normandia, destinados a cobrir as baixas que se produzissem no material. Um
número suficiente de tripulações integravam a reserva. Na Grã-Bretanha, por outro lado, existiam mais duas
divisões blindadas.

O emprego dos blindados, no entanto, oferecia diversos problemas. Os britânicos, em verdade, careciam de
tanques pesados de infantaria, que pudessem equiparar-se com os "Panther" e os "Tigre".
O plano da operação "Goodwood" consistia no que foi denominado "um potente gancho de esquerda".

As forças inglesas avançariam sobre Caen pelo norte, deslocando-se em amplo arco sobre a retaguarda das
unidades alemães. Assim, Montgomery pensava abrir caminho e ganhar o campo aberto. Então, suas divisões
blindadas, integradas em sua maioria por tanques médios e de cruzeiro, ficariam livres da barreira de
"Panthers" e "Tigres" e das posições fortificadas, e avançariam velozmente em profundidade.

O plano foi coordenado em princípio com a operação "Cobra" (Projeto de rompimento americano). Dessa
forma, entre golpes pela esquerda e pela direita, de britânicos e americanos, pensava-se aniquilar a massa das
forças alemãs no norte da França. As duas operações teriam, também, um grande apoio aéreo. As forças
britânicas avançariam precedidas por um gigantesco bombardeio da aviação. Sobre os flancos se deslocariam
duas divisões de infantaria (a 2a canadense, e a 3a britânica), para proteger o núcleo de blindados que
avançaria pelo centro.

Calculava-se que a profundidade das defesas alemãs alcançava quatro ou cinco quilômetros. Em
conseqüência, se os blindados conseguissem perfurar o linha, já nada se oporia ao avanço posterior, pois
diante deles se estenderiam grandes planícies.

A cadeia de redutos alemães, por sua vez, seria arrasada com uma operação cumprida por 2.000
bombardeiros e 2.000 caça-bombardeiros e caças. Mais de 8.000 toneladas de bombas seriam lançadas para
abrir caminho aos blindados. Simultaneamente, no ponto de rompimento, 720 canhões, com 250.000
projéteis, estenderiam uma terrível barreira de fogo.

Acreditava-se que nada poderia resistir a essa concentração gigantesca de fogo. Como exemplo do poder de
destruição da operação, considere-se o fato de que uma só aldeia, de importância secundária, seria atacada
com bombas num total de 650 t. Para manter a operação em segredo, Montgomery fez transferir as divisões,
uma por uma, durante a noite, até aos locais da concentração.

No lado alemão, o comandante-chefe do Grupo Panzer Oeste já estava a par, por informações recebidas, da
iminente ofensiva de Montgomery. Além do Corpo de tanques que atacaria pelo norte, os britânicos
lançariam outros dois Corpos pelo centro e pelo sul de Caen, numa manobra de distração.

Eberbach contava, para enfrentar esse triplo ataque, distribuídas numa frente de 150 km, com oito divisões
na vanguarda e cinco na reserva. Estas últimas unidades estavam localizadas a uns 10 km da frente. A
existência dessa reserva era vital. Contudo, no último momento, interveio Hitler, exigindo que uma dessas
divisões, a 12a SS, fosse imediatamente transferida para a desembocadura do Sena, pois temia que ali se
produzisse um novo desembarque aliado.

O Marechal von Kluge, supremo comandante alemão na França, procurou desesperadamente fazer com que
essa ordem fosse revogada. Sua gestão, no entanto, não teve resultado positivo e a 12 a SS se pôs em marcha
para o leste.

Na dia 12 de julho, os britânicos se lançaram ao assalto, num ataque de dispersão, pelo sul. Eberbach, na
emergência, teve que empenhar duas de suas divisões de reserva. Conseqüentemente, só lhe restavam mais
duas para fazer frente à grande ofensiva.

O assalto

Um oficial dos Granadeiros da Guarda relata assim o momento inicial da ofensiva: "Possivelmente, 18 de
julho de 1944 foi o único dia no história do 2 o Batalhão de Granadeiros da Guarda, em que todos os soldados
estavam despertos e de pé antes da alvorada. Às cinco da manhã, o rugido distante dos bombardeiros atroou
o espaço e arrancou todos os tanquistas de baixo de suas mantos. Mil Lancasters se aproximavam do mar, a
uma altura de mil metros. Diante deles voavam os aviões assinaladores do alvo, lançando suas bengalas. Em
poucos minutos, as primeiras bombas começaram a cair".

Nas linhas alemãs se desencadeou um verdadeiro inferno. Um soldado alemão narra o sucedido, nestes
termos: “Quando se escutou o ruído dos aviões, os homens correram para os tanques. Outros se arrastaram
debaixo deles, buscando proteção. Vimos pequenos pontos negros desprenderem-se dos aviões, em uma
quantidade tão extraordinária que muitos de nós tivemos a descabelada idéia de que se tratava de panfletos.
Não podíamos crer que todos esses pontos negros fossem bombas. Começou então o momento mais
aterrador de nossas vidas. Era um verdadeiro tapete de bombas, que pulverizava literalmente o terreno. Entre
o estampido das explosões escutávamos os gritos dos feridos e o alarido dos homens que haviam perdido o
controle de si mesmos, muitos deles já com a razão completamente extraviada. Outros, impossibilitados de
continuar suportando aquele inferno, chegaram a suicidar-se, enlouquecidos de terror. A paisagem
desapareceu, como que varrida pela mão de um gigante. Milhares de crateras sulcavam o terreno e entre elas
ardiam, nossos tanques”.

Enquanto a aviação terminava o seu bombardeio, a artilharia iniciava a sua ação. Durante quatro
intermináveis horas, os canhões arrasaram seus objetivos, fazendo desaparecer aldeias e bosques inteiros.

De súbito, um silêncio impressionante cobriu a zona. Somente os gemidos dos feridos e o crepitar das
chamas ressoavam nesse campo de morte.

Uns segundos mais tarde, o 8o Corpo do 2o Exército britânico iniciou o avanço. O espírito que reinava entre
as tropas inglesas pode ser resumido nas palavras de um oficial de uma unidade de carros blindados: "Fôra
dito, a nós, e acreditávamos firmemente, que nos encontrávamos no limiar de grandes acontecimentos;
estávamos prontos para o rompimento e nada poderia nos deter agora". Nos primeiros momentos, essa
expectativa pareceu confirmar-se. Em menos de uma hora, as unidades blindadas conseguiram avançar mais
de cinco quilômetros no dispositivo alemão. Os restos das unidades alemãs ali sediadas, apesar de seus
desesperados esforços para reorganizar-se, não puderam oferecer resistência aos britânicos. Entre nove da
manhã e meio-dia, os ingleses estiveram muito perto de conseguir o que se propunham: um rompimento
absoluto. No entanto, a última linha defensiva alemã, integrada por uma barreira de canhões de 88 e uma
brigada de lança-foguetes, enfrentou os tanques da 29 a Brigada inglesa, que ocupava a vanguarda do ataque.
Disparando sem trégua, os 88 dizimaram a brigada. Grupos de alemães, armados com Panzerfaust,
contribuíram para paralisar o avanço dos blindados.

Ao meio-dia, o General Eberbach mobilizou e lançou à luta uma força de contra-choque. Quatro batalhões de
tanques e quatro batalhões de infantaria das divisões Panzer 1 a SS e 21a foram colocados no combate. Ao cair
da noite, os "Panther" haviam inflingido terríveis baixas aos ingleses. A blindada da Guarda perdeu 60
tanques, destruídos pelos canhões de 88 mm. A 11 a Divisão Blindada perdeu 126 veículos. Ao todo, cerca de
300 tanques ingleses foram abatidos pelos alemães na primeira jornada de luta.

No dia seguinte, 19 de julho, Montgomery tentou aprofundar o avanço, mediante uma série de ataques.
Novamente, a resistência alemã atingiu um encarniçamento desesperado. No decurso da luta, 131 tanques
ingleses foram destruídos. Novas tentativas de penetrar se realizaram no dia seguinte, 20 de julho, sem
resultado positivo. As linhas alemães resistiram e os britânicos perderam 68 tanques.

Ao cair da tarde, uma violenta tormenta se desencadeou sobre a Normandia. Chuva e granizo, acompanhados
por relâmpagos, converteram o terreno num verdadeiro lamaçal. As estradas desapareceram. A penetração
inglesa já não podia materializar-se.

Nessa mesma tarde, uma notícia abalou o mundo: haviam atentado contra o vida do Führer. Na frente alemã,
contudo, a informação não alterou o situação. Um general alemão, referindo-se ao fato, disse: "Nossos olhos
estavam fixos mais nos caça-bombardeiros aliados que no Quartel-General..."

Entrementes, Rommel caíra gravemente ferido, em virtude do ataque de um avião aliado, que disparou sobre
seu automóvel. Com ele, as forças alemães perdiam o seu chefe mais destacado.

O Marechal Kluge reuniu a 20 de julho seus subordinados, a fim de passar em revista os resultados da
sangrenta batalha. Fôra feito o máximo esforço, e as tropas deram de si tudo quanto lhes foi possível. O
ataque inglês fôra detido, porém as reservas do Grupo Panzer Oeste já não existiam. Kluge encerrou a sua
análise da situação, dizendo: "Temos de agüentar; e se não se descobrir nenhuma arma milagrosa capaz de
melhorar basicamente nossa situação, então não nos restará outra alternativa senão morrer como homens no
campo de batalha".

Os chefes aliados, por sua vez, discutiram o fracassado ataque. Os mais acerbos críticos de Montgomery
salientaram que esse chefe apenas havia ganho menos de uma milha por tonelada de explosivos lançada
sobre as posições alemãs.

Na realidade, a operação havia sido extremamente desfavorável para as forças aliados. Em troco da conquista
de 34 milhas quadradas de terreno, o 8 o Corpo perdera 500 tanques, isto é, 36 % do total de blindados
britânicos, em território francês. E, mais grave ainda, a grande manobra de envolvimento não pôde ser
realizada. Apesar da desproporção dos forças que as enfrentaram, os britânicos se viram impossibilitados de
concretizar o esperado envolvimento dos forças alemães. Estas, defendendo palmo a palmo o terreno, haviam
paralisado o ataque inglês.

No lado alemão, contudo, já não existiam esperanças. As palavras do Marechal von Kluge haviam sido
terminantes nesse sentido: "Morrer como homens no campo de batalha". Isso significava que o chefe alemão
sabia claramente que a interrupção do ataque britânico representava apenas uma momentânea trégua na luta.

Anexo
Forças Alemães
Efetivos da Wehrmacht na frente de Normandia, em julho de 1944:
Comandante chefe: Marechal Erwin Rommel.
Grupo Panzer Oeste (comandante: General Eberbach).
86o Corpo de Exército (Von Obstfelder).
346a Divisão de Infantaria
272a Divisão de Infantaria
711a Divisão de Infantaria
1o Corpo SS Panzer (Dietrich) .
12a Divisão Panzer SS
1a Divisão Panzer SS
9a Divisão Panzer SS
2o Corpo SS Panzer (Bittrich).
271a Divisão de Infantaria
10a Divisão Panzer SS
277a Divisão de Infantaria
47o Corpo Panzer (Von Funck) .
2a Divisão Panzer SS
2a Divisão Panzer
Divisão Panzer Lehr
Três grupos de combate das divisões de infantaria 275a e 352a e da 17a Divisão de Panzergrenadier SS
7o Exército (General Hausser)
2o Corpo de Pára-Quedistas (General Meindel).
3a Divisão de Pára-Quedistas
84o Corpo de Exército (Von Choltitz).
116a Divisão Panzer
363a Divisão de Infantaria
Elementos da 5a Divisão de Pára-Quedistas, da 13a Divisão Antiaérea e das divisões de infantaria 77a e 91a .

No campo alemão
Em princípios de julho de 1944, a estrutura do comando alemão na França sofreu importantes modificações. O
Marechal von Rundstedt foi destituído por Hitler, que designou, em seu lugar, o Marechal von Kluge como novo
comandante-chefe de todas as forças alemãs da frente ocidental.
O 7o Exército, a cujo cargo estava a ação defensiva na frente de invasão da Normandia, passou a ser comandado pelo
Obergruppenführer Hausser, que substituiu o General Dollman, morto no campo de luta.
O Grupo Panzer Oeste, que sustentava a frente de Caen, resistindo às forças de Montgomery, foi posto às ordens do
General Heinrich Eberbach.
Assim, de todos os altos chefes que, um mês antes, haviam enfrentado a invasão, somente Rommel se mantinha em seu
posto, como comandante do Grupo de Exércitos "B".
Hitler alertou von Kluge acerca das possíveis dificuldades que encontraria com Rommel, dada sua extrema
independência de caráter. Contudo, ao se entrevistarem, ambos os chefes comprovaram a coincidência de pontos de
vista que existia entre si, em relação à orientação da luta. A estratégia alemã se resumia assim: retenção a qualquer custo
da linha defensiva existente; consolidação dessa linha mediante contra-ataques, quando se apresentassem situações
favoráveis e, depois de realizar os mais cuidadosos preparativos, fortificação da zona situada atrás da frente, utilizando
todos os meios possíveis.
Os dois grandes setores em que estava dividida a zona de luta apresentavam problemas díspares. O General Eberbach,
com seu Grupo Panzer Oeste, devia impedir o avanço de Montgomery através das planícies de Caen, em direção a
Paris. O chefe alemão temia que se suas tropas ocupassem uma estreita faixa de terreno, concentrando grandes
quantidades de efetivos, seriam facilmente destruídas pelas concentrações artilheiras do inimigo. Portanto, planejou
manter somente um terço de suas unidades de infantaria nas linhas avançadas da principal posição de resistência; o resto
dos infantes ocupariam posições escalonadas em profundidade, até uma distância de 1.000 metros da linha principal.
Mais para a retaguarda, e até uma profundidade de 5.000 metros, se escalonariam as unidades de reserva. Essas
posições, às quais se agregariam redutos apoiados pelas baterias do 3 o Flak Korps, teriam a seu cargo a missão de
impedir que os blindados britânicos realizassem o rompimento.
As reservas móveis Panzer formariam equipes de tanque-infantaria, encarregadas de tapar as brechas que fossem
abertas na linha. Se os britânicos conseguissem abrir caminho, atuariam como força de contra-choque.
O 7o Exército, de Hausser, que enfrentava os americanos de Bradley, tinha um poder ofensivo inferior ao de Eberbach.
Apesar de contar com numerosos canhões autopropulsados, carecia de formações blindadas.
Contudo, o terreno onde se desenrolavam as ações era um inestimável aliado das forças alemães. Nele se entrecruzavam
as intrincadas redes de cercas-vivas. Em conseqüência, as tropas alemãs do 7 o Exército puderam organizar uma defesa
menos espraiada em profundidade. Quase imediatamente, atrás das linhas avançadas, foi concentrado o grosso das
tropas, divididas em grupamentos de contra-choque, apoiadas por canhões de assalto. Nesse setor, os alemães estavam
dispostos a travar batalhas tendo por base pequenos grupos, extremamente móveis, que golpeavam e se retiravam com
grande rapidez. Assim, as forças alemãs se aprontavam a enfrentar o inevitável assalto anglo-americano.
Apesar da excelente preparação defensiva realizada tanto por Eberbach como por Hausser, subsistia a gravíssima
ameaça já salientada por Rommel e Rundstedt: caso a frente fosse rompida e os Aliados conseguissem penetrar
profundamente, não existiria força alguma, entre a Normandia e a Alemanha, para deter o avanço aliado. Nessa
situação, os alemães somente teriam uma alternativa: retirar-se imediatamente da França. Desprovidos das unidades
mecanizadas e da cobertura aérea necessárias para uma retirada ordeira, o movimento de recuo poderia converter-se
numa verdadeira catástrofe.

A luta nas sebes


Durante o mês de junho, as tropas americanas do 1 o Exército de Bradley já haviam enfrentado a difícil tarefa de
combater num terreno cruzado em todos os sentidos por incontáveis sebes.
Anteriormente à invasão, os oficiais americanos praticamente careciam de dados acerca dessas sebes. As fotos aéreas
obtidas não permitiam uma visão real da dimensão desses verdadeiros aterros e, portanto, de sua eficácia como
obstáculo para o avanço das unidades blindadas.
Não foi senão no momento em que as tropas penetraram na região, avançando em profundidade, que se teve uma
verdadeira idéia do problema. As lutas sustentadas nesse mês foram tão difíceis que muitas unidades realizaram estudos
especiais para encontrar uma tática adequada. Chegou-se assim a elaborar um método de combate, que consistia em
imobilizar o inimigo em suas posições, mediante uma barreira concentrada de fogo e, simultaneamente, deslocar uma
força de ataque para cair sobre seu flanco.
As sebes que corriam paralelas à linha do avanço podiam ser utilizadas como cobertura na marcha de aproximação.
Constatou-se, também, que as equipes de tanque-infantaria, atacando sobre objetivos limitados, constituíam a melhor
maneira de superar o inimigo. O objetivo, assim, se tornava sempre a próxima sebe...
O método geralmente utilizado era o seguinte: um pelotão de tanques iniciava o fogo, apoiando uma companhia de
infantaria; este último grupamento avançava, então, pelos flancos até alcançar a sebe defendida pelos alemães, que eram
eliminados em luta corpo a corpo. Uma vez assegurada a posição, uma seção de tanques se deslocava para a frente,
enquanto outra seção de blindados permanecia temporariamente na posição da retaguarda, para eliminar as possíveis
tropas inimigas que pudessem surgir de pontos ocultos ou terrenos adjacentes.
O avanço de um trecho a outro e a limpeza de cada sebe era um trabalho extremamente custoso e, geralmente, causava
elevadas baixas. Os soldados ficavam esgotados e sua moral saía desgastada dessa luta lenta e interminável. Contudo,
era a única maneira possível de garantir a posse do terreno. As experiências realizadas no sentido de arremeter
violentamente com os tanques, não haviam dado resultado: os blindados, de fato, conseguiam passar, porém atrás deles
ficava detida a infantaria contida pelos alemães. O método escolhido também apresentava dificuldades; uma delas era
garantir a passagem dos tanques através das sebes. As únicas aberturas que existiam nessas amuradas, utilizadas pelos
camponeses para a passagem de suas carroças, estavam fortemente cobertas pelos canhões antitanque alemães. As
tentativas de fazer os tanques subir sobre as sebes mais baixas acarretavam sérios riscos, pois, ao alcançar a parte
elevada da sebe, os blindados expunham as lagartas seu ponto mais vulnerável. E nelas concentravam imediatamente
seus disparos os artilheiros alemães.
Quando os sapadores abriam brechas no meio das sebes, para a passagem dos tanques, as explosões alertavam
imediatamente os alemães, que ficavam então sabendo por onde apareceriam os blindados aliados.
O campo de tiro, por outro lado, era tão limitado que as armas não podiam ser utilizadas com todo o seu rendimento.
Por volta de fins de junho, já se alcançara um rendimento satisfatório com o emprego das equipes tanque-infantaria,
subsistindo como única dificuldade, certa irregularidade no campo das comunicações.

Tanques
O principal veículo blindado empregado pela Wehrmacht foi o Mark IV. Este tanque se achava em serviço praticamente
desde o início da guerra, porém em 1944 fôra objeto de numerosas modificações. Entre elas se destacava um canhão de
75 mm, de alta velocidade.
O Mark IV, assim, podia se defrontar em igualdade de condições com os melhores blindados aliados.
O Mark V, denominado "Panther", armado também com um canhão de 75 mm e com 45 toneladas de peso, apareceu na
Normandia no mês de junho e demonstrou uma nítida superioridade sobre os blindados aliados. O "Churchill",
britânico, era o tanque mais pesado dos Aliados, com 40 toneladas. Era um veículo muito inferior ao "Panther" em
todos os sentidos. O "Sherman", americano, de 30 toneladas, munido de um canhão de 75 mm, era o tanque mais
efetivo. Sua manobrabilidade era nitidamente superior à do "Panther".
Assim, embora os tanques alemães (entre os quais, o "Tigre", de 56 toneladas e um canhão de 88 mm) fossem mais
fortermente armados e blindados, essa vantagem era compensada, em parte, pela maior mobilidade e eficiência
mecânica dos "Sherman". Além disso, o número de tanques aliados era muito superior ao dos alemães.
Os alemães utilizaram também na Normandia o denominado "Tigre Real". Era um tanque de 67 toneladas e um canhão
de 88 mm. O número destes blindados era, porém, muito reduzido. Assim, o Grupo Panzer Oeste contava, em suas
cinco divisões Panzer, com somente 150 "Tigres" e "Tigre Real", além de 250 médios Mark IV.
As armas antitanque americanas e os projéteis empregados não eram eficientes contra os tanques alemães. Era
necessário atacar os blindados pelos flancos e, mesmo assim, os disparos não alcançavam suficiente eficiência.
Além disso, o tiro sobre os flancos dos blindados inimigos era difícil, dadas as características do terreno. Somente as
bazucas rendiam satisfatoriamente, porém era extremamente arriscado empregá-las, pois exigiam muita proximidade do
alvo. O único canhão que realmente demonstrava eficácia era a peça antiaérea americana de 90 mm, disparada
horizontalmente.
Tão urgente se tornou a necessidade de contar com armas antitanques para combater contra os "Panther" e os "Tigre",
que o General Eisenhower enviou um representante pessoal aos Estados Unidos, para apressar o envio de peças de 90
mm, destinadas a enfrentar os blindados inimigos.
Em última instância, seria o incrível poderio numérico e a esmagadora superioridade aérea dos Aliados que resolveria o
problema surgido pelas condições técnicas superiores dos tanques alemães.

88 em ação
Um combatente alemão relata pormenores da ação em Caen. O soldado pertencia a uma unidade de artilharia e servia
numa bateria antiaérea de 88 milímetros. Estas são as suas palavras:
"Nossa tarefa consistia em rechaçar os ataques dos tanques britânicos e substituir um batalhão da Divisão SS Panzer
"Hitlerjugend" da colina 112. Iniciamos a marcha pouco depois do meio-dia. Pelo caminho perdemos um dos nossos
tratores de reboque, que foi destruído pelo fogo dos tanques inimigos. Esperávamos substituir todo um batalhão de SS
na colina, porém, para surpresa nossa, constatamos que essas forças consistiam nos restos de uma companhia de
extenuados soldados, extremamente jovens, totalmente esgotados pelas lutas que haviam sustentado. Eles nos
informaram que no dia anterior, um mocinho de 18 anos havia destruído cinco tanques inimigos, disparando contra eles
a queima-roupa, com seu Panzerfaust. Sem perda de tempo, colocamos os nossos canhões em posição e, em seguida,
enviamos os tratores colina abaixo, para que buscassem refúgio em um bosque situado ao pé da elevação. Entramos em
ação quase imediatamente. Os tanques inimigos se achavam já em marcha, avançando entre as casas de uma pequena
aldeia situada bem perto. Tratando de ocultar-se atrás das paredes e somente visíveis para nós esporadicamente, os
tanques inimigos seguiam adiante. Vi um dos blindados vir de encontro a nós, ocultando-se atrás de uma casa.
Observei-o e vi quando a portinhola da torre abriu-se repentinamente e o comandante surgiu por ali. O homem levou
seus binóculos aos olhos e olhou diretamente em nossa direção, estudando cuidadosamente o terreno. Parecia que eu o
tinha "ao alcance da mão". Eu, nesse momento, estava utilizando a magnífica mira telescópica do canhão, projetada
para o tiro antiaéreo de longo alcance. Nosso canhão abriu fogo. O primeiro projétil errou o tanque, porém acertou a
casa. Antes que o comandante fizesse o veículo dar marcha-à-ré, nosso segundo projétil explodiu sobre a torre. O
primeiro encontro terminou quase antes de começar, porque os tanques se retiraram, compreendendo que não podiam
movimentar-se para o assalto, em meio dos edifícios que paralisavam o seu avanço. Lançaram uma cortina de fumaça e
se afastaram. Na manhã seguinte, fomos atacados duas vezes, em vôo rasante, pelos caça-bombardeiros aliados, porém
conseguimos rechaçá-los, auxiliados pelos canhões de tiro rápido de 20 mm. No entanto, nas primeiras horas da tarde
chegou o fim. Cerca de uma dúzia de tanques se lançaram sobre nós e, simultaneamente, fomos atacados por duas
formações de bimotores "Lightnings". Sobre quem devíamos disparar primeiro? Contra os aviões ou os tanques? Na
confusão criada, os tanques abriram fogo contra nós. Um a um, nossos canhões foram destruídos, juntamente com suas
guarnições. Somente nos restava uma saída: bater em retirada. Antes de fazer isso, explodimos os canhões de 20 mm
que restavam em funcionamento, e por fim, o 88 que sobrava. Então, com os aviões americanos metralhando-nos,
rastejamos até à base da colina. Nesse encontro, porém, havíamos destruído vários tanques inimigos. Ao nos retirarmos,
um dos meus companheiros mandou pelos ares outro blindado, utilizando um Panzerfaust."
Tigres
Um tanquista alemão, tripulante de um "Tigre", narra as condições encarniçadas em que essas unidades lutaram contra
os tanques aliados na Normandia:
"Recebemos a informação de que os canadenses ocuparam a localidade de Maltot e nos foi dada a ordem de recuperá-la
("Panzer, marsch"). A ordem de avanço ressoou nos meus fones. Movimentamo-nos cobertos por um intenso fogo
defensivo de nossa própria artilharia. Os tetos e as paredes de Maltot desaparecem sob o fogo e a fumaça. No alto do
campanário da igreja tremula uma esfarrapada bandeira da Cruz Vermelha. “A esquerda, quinhentos”, ordena a voz do
comandante do tanque nos meus ouvidos. A torre gira. Observo pela mira quatro tanques verde-oliva que avançam pelo
caminho, ao nosso encontro. Silhueta longa, torre curta, pequena. São "Churchill". Chega a ordem final do comandante:
“Alvos, os tanques da vanguarda e da retaguarda, fogo!”.
O primeiro "Churchill" saltou sobre o caminho, atingido em cheio pelo projétil, bloqueando a passagem dos demais.
Quase simultaneamente, o tanque da retaguarda começou a arder, atingido por outro projétil. Os restantes blindados
ficaram imobilizados. “Tanque número três inimigo, dois impactos diretos na estrutura, ninguém o abandona!”, exclama
o comandante. Acertamos o último tanque na proa. O veículo é violentamente sacudido e pelas suas escotilhas filtra-se
uma nuvem de fumaça branca. Repentinamente, as pranchas de blindagem explodem e voam pelos ares, ao serem
atingidas as munições.
"Ao iniciar-se outro dia de verão, o sol brilha com toda a intensidade. É 26 de julho. A RAF terá tempo favorável.
Apesar disso, de uma posição emboscada, nosso "Tigre" destruiu três tanques inimigos, quatro canhões antitanque e dez
veículos. Depois, às onze e trinta, nos deslocamos até outro esconderijo defensivo, rendendo o "Tigre" de Oberhuber.
Este se mostrou inusitadamente agitado; fez sinais em direção à localidade de Maltot, onde supunha que os ingleses
haviam localizado canhões antitanque nos bosques. Seu "Tigre" abriu fogo e as balas voaram como raios através das
árvores. Contudo, não houve resposta. Repentinamente, caímos sob um bombardeio provindo de uma direção
inesperada. Colunas de terra se levantam atrás de nós. Chega a ordem: “Achtung, fogo antitanque, motores em marcha,
carreguem o canhão!”. Um clarão ofuscante explode no costado do tanque de Oberhuber. Sobre seu flanco aparece um
enorme buraco circular, à altura do assento do radioperador. O violento impacto arroja Oberhuber para fora da torre.
Começa a sair fumaça através das escotilhas, por onde saem, também, os sobreviventes, com o terror estampado em
seus rostos. O radioperador está morto, o condutor conseguiu sair e se retorce com terríveis dores, tentando mover um
toco de braço amputado, do qual ainda pende a mão..."

Nebelwerfer
Na batalha da Normandia intervieram três brigadas de "Nebelwerfer", os célebres e mortíferos lança-foguetes alemães.
Já haviam sido empregados na Rússia, no lago Ladoga, no Cáucaso e em Stalingrado.
Os "Nebelwerfer" (palavra que significa lança-neblina) recebiam essa denominação para efeito de despistamento. A
razão residia no fato de que, pelo Tratado de Versalhes, no fim da Primeira Guerra Mundial, havia-se proibido ao
exército alemão desenvolver armas de grande poder de penetração, aptas para serem empregadas como antitanque. Era
permitido, entretanto, que eles fabricassem morteiros fumígenos, para lançar cortinas de proteção. Em conseqüência, os
alemães fabricaram um morteiro de grande calibre, para lançar cortinas de fumaça, com um ritmo de fogo muito rápido.
Logo essas armas foram abandonadas e substituídas por um novo elemento de combate: o lança-foguetes. No projeto da
nova arma colaboraram o General Dornberger, o Major-General Zanssen e o cientista von Braun.
Foi mantido, contudo, o velho nome de "Nebelwerfer", ou lança-neblina, por medida de segurança. Na primavera de
1941, formaram-se os três primeiros regimentos de "Nebelwerfer", o 51 o, o 52o e o 53o, que foram empregados na
campanha iniciada contra a Rússia.
A grande eficácia demonstrada por essa arma determinou a rápida formação de novas unidades. Assim, até ao fim da
guerra, os alemães contavam com vinte brigadas de "Nebelwerfer", somando um total de 40 regimentos. Os calibres
dessas armas variavam entre 150, 210 e 300 mm. Os de 210 tinham a carga propulsora mais poderosa e podiam atingir
um alvo a seis milhas de distância. Embora seu poder de penetração fosse menor que o dos projéteis de artilharia,
tinham um poder de fragmentação muito maior. Existiam diversos modelos de "Nebelwerfer"; desde peças montadas
em coronhas, até aos denominados morteiros "Mark" 40, que consistiam numa grade de barras de metal que serviam
como lançadores e portadores dos projéteis, que tinham um peso de 184 libras. O denominado "Mula" era um
"Nebelwerfer" de dez canos montado sobre um veículo semilagarta. Seu emprego na Normandia teve decisiva
influência no prolongamento da resistência alemã, pelos mortíferos e desmoralizantes efeitos causados entre as forças
aliadas. Uma só das três brigadas destacadas nessa frente, a 7 a, lançou, na zona de Caen, mais de 8.000 toneladas de
projéteis. Essa brigada, comandada pelo Coronel Tzschokell, contava com dois regimentos, o 83 o e o 84o, equipados
com 300 "Nebelwerfer".

Eram camaradas
Um cabo pertencente às forças britânicas relata um dramático episódio que testemunhou, durante as lutas que
precederam a queda de Caen em mãos aliadas:
"Recebemos ordem de avançar esta noite por cima da crista da colina. Assim fizemos e nos entrincheiramos a umas
jardas na encosta oposta, cavando deitados, porque as metralhadoras alemãs disparavam traçadoras. Outras unidades de
nosso batalhão haviam também recebido ordem de avançar sobre o cume, pelo nosso flanco esquerdo. Na obscuridade,
essas tropas se deslocaram muito à frente, numa posição que era insustentável; por isso, receberam ordem de recuar.
Enquanto isso ocorria, meu pelotão continuava cavando, coberto por três metralhadoras "Bren". Os metralhadores,
estendidos no chão, em campo aberto, cobriam nosso flanco esquerdo. Nada nos fôra dito acerca da unidade que andara
demais para a frente; portanto, não tínhamos nenhuma notícia dos seus movimentos. Um amigo meu se encontrava
servindo uma das metralhadoras. Mantendo-se em permanente alerta, divisou, repentinamente, um movimento na
escuridão, diante dele. Depois viu surgir as escuras silhuetas dos soldados que se aproximavam. Era um grupo de quatro
ou cinco homens que corriam para nossa posição. Meu amigo, soldado experimentado, conteve o fogo até que os
soldados se encontrassem a uma distância de seis metros. Disparou, então, um rajada, e matou a todos. Eu estava
cavando e não pude ver os soldados que se aproximavam até que a metralhadora "Bren" começou a disparar... Rastejei
então até meu amigo e ele, desatando a chorar, me disse: “Meu Deus, acho que eram camaradas nossos!” Acerquei-me
rapidamente até onde jaziam mortos os soldados. Com profunda consternação constatei que eram companheiros.
Procurei consolar meu amigo, salientando que ele procedera corretamente. Nosso pelotão estava, no momento em que
os desconhecidos se haviam lançado sobre nós, em campo aberto, e ocupados todos a abrir trincheiras. Se ele não
tivesse disparado, e os que avançavam fossem alemães, nós,teríamos sido todos exterminados."

Cai a “Raposa do Deserto”


17 de julho de 1944. A batalha ruge com intensidade ao longo de toda a frente... Em Caen, os alemães, lutando
furiosamente, rechaçaram a investida de Montgomery. Os canhões de 88, os Panzerfaust e os "Tigre", formando uma
barreira de aço, provocam uma verdadeira catástrofe entre os blindados aliados. A 11 a Divisão Blindada inglesa perdeu
126 tanques, mais da metade do total dos seus veículos de combate. Na rota de Caen a Vimont, a divisão blindada da
Guarda britânica, cai sob o fogo concentrado dos 88 e perde 60 tanques. Montgomery se vê obrigado então a ordenar
uma parada. Seu velho rival da África, a "Raposa do Deserto", novamente se interpõe na sua marcha para a vitória.
Esta, no entanto, será a última vez que os dois grandes chefes militares se defrontarão.
Na tarde de 17 de julho, Rommel visita a frente de luta e se faz presente no posto de comando da primeira linha do 1 o
Corpo Panzer SS. Ali, discute a situação com o chefe da unidade, o célebre chefe tanquista Sepp Dietrich. Ao concluir a
entrevista, Rommel prepara-se para regressar ao seu QG em La Roche Guyon. São quatro horas da tarde. Dietrich
aconselha o marechal a trocar seu grande automóvel de comando por um pequeno veículo Volkswagen, por causa do
perigo representado pelos freqüentes ataques aéreos aliados sobre as rotas da Normandia. Muitos chefes alemães
haviam tombado assim, ceifados pelas balas dos aviões inimigos, que se encontram em permanente vigilância sobre o
território ocupado pelos alemães.
Rommel, no entanto, sorrindo, repele o oferecimento. Sobe então ao auto, junto com seus ajudantes, o Capitão Lang e o
Major Niehaus; também viajam no veículo o sargento Holke e o fiel motorista Daniel.
Rommel se senta junto ao motorista, no assento dianteiro. O carro corre a alta velocidade, rumo a La Roche Guyon. Ao
alcançar a localidade de Livarot, o condutor toma um caminho lateral, como precaução. No entanto, três milhas adiante,
se vê obrigado a retomar a estrada principal. Minutos mais tarde, o sargento Holke, que mantém constante vigilância
sobre o céu, exclama: "Aviões inimigos!". Aproximando-se com seus motores acelerados ao máximo, e a menos de cem
pés de altura, lançam-se sobre o automóvel os caça-bombardeiros aliados. Rommel grita ao chofer: "Trate de alcançar a
aldeia!". Daniel aperta o acelerador até ao fundo, porém os aviões já estão sobre eles. Uma rajada de projéteis de vinte
milímetros atravessa o carro. Atingido no ombro, o chofer cai sobre o volante. Com um chiado dos pneus, o carro
derrapa para a direita e se choca contra uma árvore. Capota, gira sobre si mesmo, e cai novamente no centro da estrada,
no meio de uma grande poeirada. Rommel, que batera com a cabeça contra o pára-brisas, sangra abundantemente.
Quando o carro capotou, foi lançado fora e bateu a cabeça na estrada, fraturando o crânio. Os outros ocupantes do auto
também caíram na estrada, sem sofrer ferimentos. Desesperados, correm até ao corpo inerte do marechal e o arrastam,
protegendo-o, à beira da estrada. Os aviões, entrementes, desapareceram.
Rommel é conduzido para a aldeia mais próxima. O nome dessa localidade: Saint-Foy-de-Montgomery. Estranha ironia
do destino!
Após os primeiros tratamentos, o marechal inicia uma longa convalescença. A 24 de julho já está em condições de ditar
uma carta. Como sempre, terá como destinatária sua esposa. Diz: "Estou sendo, no hospital, muito bem atendido. Antes
de mais nada, devo ficar calmo até poder me mover, o que deve ocorrer dentro de uma quinzena. Meu olho esquerdo
continua fechado e inchado, porém os médicos garantem que vai melhorar. A cabeça me doi muito às noites. A dor
diminui durante o dia. O atentado contra o Führer, ocorrido junto com meu acidente, me impressionou muito Devemos
agradecer a Deus que tudo termine bem. Tenho muita pena de Daniel. Era um excelente chofer e um soldado leal. Meus
sinceros carinhos para ti e Manfred"
Nesse mesmo dia, Hitler enviou a Rommel o seguinte telegrama: "Aceite, Herr Marechal, meus melhores votos pelo seu
breve restabelecimento. Seu, Adolf Hitler". Contudo, ao enviar a Rommel esse telegrama, Hitler já havia decidido que o
marechal devia morrer.

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