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Revista bimestral

Propriedade da Força Aérea Portuguesa


Fundada em Abril de 1959
Ano XLVI nº 373 – Maio/Junho 2008

Sumário

Foto: Peter Stams


4 O CAMPO DE TIRO DE ALCOCHETE, UNIDADE SECULAR CAPA:
F-16AM e Alpha Jet
12 GENERAL GALVÃO DE MELO
15 “COMPETITIVE INTELLIGENCE”
20 ROTORES E ASAS DE PORTUGAL– ÉPOCA 2008
23 OPERAÇÕES AERONÁUTICAS EM INFRA-ESTRUTURAS
RODOVIÁRIAS
26 F-16 BELGAS NA BASE AÉREA DE BEJA
30 POSTER – F-16 AM E ALPHA JET
33 MISSÃO DE SOBERANIA – CRUZEIRO AÉREO
ÀS COLÓNIAS, 1935-36
39 NOVOS FACTOS E VELHOS MITOS NA HISTÓRIA 4
DA AVIAÇÃO MILITAR PORTUGUESA
42 OS SAVOIA-MARCHETTI S.55 NOS CRUZEIROS
DO MEDITERRÂNEO OCIDENTAL E ORIENTAL,
E UMA MISSÃO DE SOCORRO NO ÁRCTICO
45 MODELISMO – TB-30 EPSILON
48 @VIAÇÃO MILITAR ON LINE – HELICÓPTEROS
DE ATAQUE DA ACTUALIDADE – 1ª PARTE
51 NOTICIÁRIO

As matérias expostas nesta revista são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não representando
necessariamente a doutrina ou o pensamento da chefia da Força Aérea Portuguesa
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F ICHA TÉCNICA : Director Tenente-General PILAV Luís Palma de Figueiredo Sub-Director Coronel TPAA José dos Santos Nunes Chefe de Redacção e Produção Nuno
Esteves da Silva Redacção 1Sar Pedro Ferreira Design Gráfico e Paginação Fátima Berlinga Neste número colaboraram: Tenente-Coronel PARAQ (RES) Miguel Silva
Machado, Dr. José Manuel Correia, Major PILAV Fernando Leitão, Tenente ADMAER Ricardo Peleja, Tenente ENGAED Luís Fernandes, Tenente-Coronel TMAEQ José
Cardoso Mira, Major PILAV João Vicente, 1Sar Pedro Manuel Ferreira, Major PIL Adelino Cardoso, Tenente-Coronel ENGAER Bernardino Santos, Forum 9G’s,
Administração e Publicidade 1Sar Pedro Manuel Ferreira Secretariado Dra. Ana Monteiro Assinaturas 1CAB Adriana Ferreira Fotografia - colaboração CAVFA
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Comunicação Social) Depósito Legal 27404/89 Tiragem 4000 Ex. Distribuição Logista Portugal – Distribuição de Publicações, S.A.
Fotografia aérea, onde podem ser
observadas à esquerda da imagem uma
zona mais clara correspondente à
carreira de tiro aéreo
e à direita, a pista que serve
o Campo de Tiro de Alcochete.
No canto inferior direito é bem visível uma
pequena barragem, Vale de Michões

UNIDADE SECULAR

O CAMPO
DE TIRO
DE ALCOCHETE
T EXTO : TCor PARAQ ( RES ) Miguel Silva Machado

Unidade da Força Aérea de apoio a mais de um ramo,


o Campo de Tiro de Alcochete (CTA), criado por Real
Decreto de 1904, é muito mais do que uma carreira
de tiro para aviões.
Com uma actividade muito diversificada e pouco co-
nhecida, constantes e raros são os dias em que não se
ouvem os disparos de armas terrestres, ligeiras e pe-
sadas, ou passagens de aviões para largar munições
de treino ou reais.
O CTA encontra-se hoje a atingir índices recorde de
utilização. De longe, os maiores dos últimos sete anos.
Para dar uma ideia aproximada do tipo de treino que
esta infra-estrutura única em Portugal proporciona,
em 2007 foi utilizado por forças terrestres dos três ra-
mos em 300 dos 365 dias do ano e aeronaves nacio-
nais e estrangeiras utilizaram 465 “slots”, ou seja, mais
de 900 aviões operaram nas carreiras de tiro ar-solo
de Alcochete.
Fomos ver a sua realidade actual e relembrar os prin-
Foto: Esquadra 401

cipais marcos da sua história.

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V
INÍCIO ATRIBULADO sário”. Manteve-se militar, mas em estado a possibilidade de um ataque a Portugal,
árias entidades militares diferentes de quase abandono com muitos equipa- estuda-se e posteriormente implementa-
tutelaram o CTA desde 1904 mas a mentos retirados e atribuídos à Escola -se o chamado “Plano Barron” de defesa
sua missão genérica, essa mante- Prática de Artilharia de Vendas Novas. anti-aérea da capital. O CTA transforma-
ve-se semelhante e assim será certamen- Em 1911, com a primeira grande re- -se em depósito de material de anti-aérea.
te passada ao futuro campo de tiro e organização que o Exército sofreu na Re- Nas duas margens do Tejo são instala-
manobras. pública, o campo de tiro passou a de- das algumas dezenas de baterias anti-
O campo de tiro foi apenas uma das pender do Arsenal do Exército(1), “para a -aéreas de diversos tipos estando na vila
muitas medidas que no início do século de Alcochete localizada a 14ª Bateria Pe-
XX estavam a ser implementadas no exér- sada e a 5ª Bateria de Referenciação, ope-
cito de então. Foi precisamente a previ- racionais em 1943. Em caso de ataque
são de aquisição de peças de artilharia os paióis do campo tinham a missão de
modernas que levou a optar por estes abastecer várias baterias na margem sul,
terrenos junto a Alcochete visto que o po- nomeadamente as de S. António, Moita,
lígono de tiro de Vendas Novas, com cer- Samouco e da vila de Alcochete. Termi-
ca de 3.000 m de comprimento, não dis- nada a guerra este enorme dispositivo
punha das dimensões necessárias. E este começa a ser desmantelado mas o CTA
processo que se iniciou em 1896 só se con-
cluiu passada quase uma década, consumi-
da em negociações com os proprietários,
levantamentos topográficos, plantação de
arvoredo adequado, movimentos de ter-
ras e construção de algumas infra-estru-
turas básicas para o pessoal e armazéns.
Em 1904 quando foi oficialmente cria-
do ficou sob as ordens do “director geral
do serviço de artilharia” (Exército) e tinha
por finalidade:
“…Executar os trabalhos e experiências
de balística… …Estudar e ensaiar quais-
Foto: Miguel Machado

quer bocas de fogo e armas portáteis…


…Proporcionar às tropas de artilharia a
prática de tiro e de todos os serviços de
Decreto Real de 24 de Março de 1904 A porta de armas do CTA construída nos anos 60
artilharia de campanha e de sitio e pra-
ça… …o estudo do efeito do tiro das bocas execução de experiências em todo o ma- mantém-se na dependência da Direcção
de fogo e armas portáteis… …Servir para terial fabricado ou modificado nos esta- da Arma de Artilharia integrado no 1º Agru-
campo de exercícios de combate de armas belecimentos fabris do Exército”. pamento de Defesa Aérea de Lisboa. Foi
combinadas com fogos de guerra…”. É por esta altura que se marcam duas um período em que o campo não serviu
O polígono inicial tinha 14.000 m de carreiras de tiro, uma com 3.000 m e ou- a sua finalidade primeira sobretudo por
comprimento, com largura variável entre tra com 10.000 m e se faz novo levanta- falta de produção nacional de munições
os 800 e os 2.000 m, área que foi ami- mento topográfico do campo (escala 1/ de artilharia e em que a degradação das
gavelmente expropriada pelo Ministério 30.000) que se veio juntar ao efectuado instalações o deixou de novo em estado
da Guerra ao proprietário, a Companhia em 1902 (1/10.000) no decurso dos tra- de abandono.
das Lezírias do Tejo e Sado. balhos preparatórios da escolha do local.
O CTA foi pela primeira vez utilizado Em 1912 iniciaram-se experiências com- A AERONÁUTICA
em 18 de Setembro de 1904, para testar parativas com munições de produção es- Em 1954 o CTA é entregue ao Subse-
os recém adquiridos obuses de tiro rápi- trangeira e nacionais, estas originárias da cretariado de Estado da Aeronáutica, de-
do “Schneider-Canet Bocage”, calibre 15 Fábrica Militar de Braço de Prata, que à da- partamento governamental que tutelava
cm, de fabrico francês, consideradas as ta dependia do Arsenal. Alguns equipa- a recém-criada (1952) Força Aérea Por-
melhores armas no seu tipo que à época mentos e construções adequados a estas tuguesa, e passou a ser utilizado apenas
se fabricavam. actividades são por esta época instalados como carreira de tiro ar-solo. Esta nova
Mas em breve o CTA, com a mudança no campo que conhece algum desenvolvi- utilização implicou a construção de duas
de Ministro da Guerra, mudou de depen- mento. Reconhecida a sua utilidade é aliás carreiras de tiro paralelas com cerca de
dência, foram mandados parar traba- para a dependência da Fábrica de Braço 1700 x 750 m em terrenos arenosos, on-
lhos em curso e esteve mesmo para ser de Prata que em 1933 o campo transita. de foram instalados alvos para metralha-
alienado, logo em 1907, por “desneces- Durante a 2ª Guerra Mundial perante mento, bombardeamento rasante e de

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picar e ainda para foguetes e três torres. culo passado o CTA passou assim a dis- bique e Timor e assim, “via Alcochete”,
Uma central de controlo e duas laterais pôr de um poço de “estilhaçamento” para chegavam à metrópole as comunicações
de observação, deixando de ser feito ensaios com granadas em recinto fecha- militares do Ultramar, que depois eram en-
definitivamente o controlo do tráfego aé- do e recolha e calibração de estilhaços, viadas para instalações da arma de trans-
reo destinado ao tiro, com viaturas de um “cercado com painéis” sensivelmente missões em Lisboa.
comunicações, sendo depois construídas com a mesma finalidade mas em espaço Em 1970 a Força Aérea da República
várias infra-estruturas em alvenaria e ou- aberto; quatro carreiras de tiro: uma de Federal da Alemanha (na altura com uni-
tros equipamentos adequados à fina- 300 m de comprimento destinada a es- dades estacionadas em Beja, na Base Aé-
lidade do campo como pista de aviação tudar a estabilização de projécteis; outra rea nº 11) foi autorizada a utilizar o cam-
em terra batida, armazéns e os primeiros de igual comprimento mas com um abri- po, a título “precário e transitório”.
paióis. go de observação blindado, destinada à A partir de 1975 terminada a guerra
No final de 1955 nova alteração colo- execução de ensaios com espoletas e en- em África as indústrias de defesa dedica-
ca o CTA na dependência do Ministério saios de perfurações; uma com 10.000 m, ram grande parte da sua produção à ex-
do Exército para efeitos de administra- com três observatórios elevados e blin- portação e o campo passou a ser utiliza-
ção e disciplina e para os restantes as- dados, destinada à execução de tiros ba- do com mais frequência para ensaios
pectos sob as ordens do Secretariado- lísticos com medição simultânea de velo- balísticos dos produtores nacionais de ar-
-Geral da Defesa Nacional. Este órgão à cidades e alcances; uma com 1.600 m e mamento e munições. Fruto desse aumen-

Área do CTA e distâncias entre o ponto alvo das bombas reais e alguns aglomerados populacionais

data, em que existiam Ministérios do Exér- espaldão, destinada a ensaios com muni- to de utilização, logo em 1978 tentou-se,
cito e da Marinha e Secretaria de Estado ções de armas portáteis – precisão, efei- sem sucesso, alargar a área do CTA da-
da Aeronáutica, equivalia ao actual Esta- tos perfurantes, tensão de trajectória e da a clara insuficiência de espaço para –
do-Maior General das Forças Armadas. velocidade e duração de trajectórias. Nos seguindo as normas internacionais – ali
A missão do campo é reformulada, pas- finais da década acrescentou-se às infra- poder continuar a testar armas ar-solo,
sando a ter por finalidade: estruturas um banco de ensaios para “mo- foguetes e armas terrestres nomeada-
– Dar instrução e treino de tiro e bombar- tores-foguete”. Acrescia a tudo isto uma mente grandes calibre de artilharia e
deamento aos pilotos e tripulações das enorme panóplia de equipamentos des- morteiros.
forças aéreas; tinados a efectuar as necessárias ava- Em 1980 nos termos de um acordo de-
– Permitir estudos e ensaios relativos a bo- liações dos testes e ainda uma série de talhado luso-alemão publicado em Diá-
cas de fogo, munições, explosivos e pól- novos edifícios normais nos quartéis: Mes- rio da República, o CTA passou a ser co-
voras. ses; Alojamentos; Igreja; Porta de Armas. utilizado e financiado pela República
No início dos anos 60 fruto do empe- Federal da Alemanha. Toda a actividade
INDÚSTRIAS DE DEFESA nhamento em África das Forças Armadas, do campo foi “dividida” entre portugue-
Na sequência de um vultuoso contrato o Campo de Tiro, mostrando mais uma ses e alemães e muitas melhorias em di-
que a Fábrica de Braço de Prata firmou vez ser um espaço adequado a múltiplas versas infra-estruturas e equipamentos
com os EUA, respeitante a munições de finalidades, foi o local escolhido para re- provêm desta época.
artilharia, com exigências técnico-experi- ceber um equipamento da máxima im- Em 1981 são adquiridos e instalados no-
mentais rigorosas, foi necessário obter (em portância na ligação às forças em ope- vos equipamentos dedicados exclusiva-
Alcochete) locais e equipamentos adequa- rações nas colónias, o Centro Receptor mente à avaliação dos testes balísticos e
dos aos necessários testes. Nestes finais Ultramarino. Dispunha de cinco antenas, também a partir deste ano e 1986 são
dos anos 50 e inícios dos anos 60 do sé- orientadas para a Guiné, Angola, Moçam- expropriados terrenos confinantes com o

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campo para utilização militar, até se che- manobras foram recentemente utilizadas As forças de segurança, nomeadamen-
gar à área actual de 7.450 ha, e mais na Força Aérea pela Unidade de Protec- te a Guarda Nacional Republicana com
479 ha que são áreas sob servidão mili- ção da Força para tiro de manutenção e a Companhia de Operações Especiais e
tar e de utilização operacional, tudo com qualificação do pessoal destinado às mis- outras subunidades do Regimento de In-
um perímetro vedado de 54 km. sões no estrangeiro (Afeganistão, Repú- fantaria, fez uso de armas ligeiras, inac-
Durante a década de 90 até ao ano blica Democrática do Congo e Força de tivação de engenhos explosivos e acções
2000, com o desmantelamento progres- Reacção da NATO), de dia e de noite, e tácticas e a Policia de Segurança Pública
sivo da capacidade nacional de produzir a curtas distâncias e ainda em exercícios treinou o seu Grupo de Operações Espe-
granadas, munições de artilharia e mesmo tácticos com e sem fogo real; pelo Centro ciais e o Corpo de Intervenção em activi-
para armas ligeiras, todos os equipamen- de Treino de Sobrevivência/EOD na inac- dades de instrução anti-motim. A Polícia
tos ligados a estes processos foram sendo tivação de engenhos explosivos e exercí- Judiciária ministrou formação e treino de
retirados. Os planos de melhoramento cios de orientação e topografia; pela armamento ligeiro e utilizou a carreira de
dessa valência do campo foram abando- Academia da Força Aérea e Centro de tiro com cenários montados.
nados e o CTA voltou a centrar a sua acti- Formação Militar e Técnica em exercícios Por várias vezes as novas viaturas blin-
vidade na sua capacidade “carreira de ti- de campo, combate em áreas edificadas dadas “Pandur” 8x8 destinadas ao Exér-
ro” e agora também e cada vez mais nos e provas de carácter militar; pela Repar- cito e Marinha ali realizaram testes de vá-
últimos anos, em campo de manobras. tição de Armamento para o curso de ma- ria ordem.

O CAMPO DE TIRO DE ALCOCHETE, HOJE


Com a publicação da Lei Orgânica da
Força Aérea, em 1993, o CTA passou a
ser uma unidade integrada na estrutura
da Força Aérea, dependente do respecti-
vo Comando Operacional, mas classifi-
cada como “órgão de apoio a mais do
que um ramo”. Nos termos desta lei, ain-
da em vigor, a sua missão é “… assegu-
rar à Força Aérea, aos outros ramos das
Forças Armadas e às indústrias de defesa
a execução das acções que podem ser
conduzidas nas carreiras de tiro e nas es-
truturas de ensaio que nele estão integra-
das, bem como a armazenagem de mate-
rial de guerra…”. Toda a energia fornecida à torre de controlo de tiro e serviços de apoio é fornecida por uma central foto-
voltaica em funcionamento desde 1998
No CTA prestam serviço cerca de 160
militares sendo 50 do Exército e os res- térias explosivas e testes com armas co- Além desta utilização essencialmente
tantes da Força Aérea. lectivas e individuais. militar a unidade dispõe de uma pista
As carreiras de tiro activas neste mo- Diversas unidades do Exército, nomea- para ministrar cursos de condução em
mento são: damente as que estavam em preparação todo o terreno, certificada pela Escola Na-
– Duas ar-solo sendo uma para utiliza- para o emprego como Forças Nacionais cional de Bombeiros, onde os bombeiros
ção de munições de instrução (bombas, Destacadas, fizeram uso das carreiras de do campo e da Força Aérea recebem
foguetes e canhão) e outra para o lança- tiro para fogo de uma enorme panóplia formação.
mento de bombas reais, as Mk. 82 de de armas colectivas e individuais. Várias
250 kg, que podem ser lançadas com ou unidades ali fizeram exercícios de orien- TREINAR E AVALIAR
sem “cauda retardadora”, o chamado tação e topografia e em áreas edificadas, Durante uma largada de armamento
“snakeye”. Trata-se de um dispositivo que tiro de morteiro, inactivação de engenhos ar-solo o militar colocado na torre de
permite o lançamento a baixa altitude explosivos. Unidades pára-quedistas uti- controlo do CTA e o de uma torre de
porque retarda a chegada ao alvo da lizam uma zona de lançamento que da- observação fazem uma leitura (a chama-
bomba permitindo o afastamento da ae- da a proximidade da Base Aérea nº 6, da triangulação) do local onde a muni-
ronave em segurança; Montijo, onde se encontram os C-130, ção caiu – as bombas de instrução lar-
– Uma terrestre para armas pesadas de rentabilizam ao máximo as horas de voo gam um sinal de fumo no impacto para
tiro tenso, duas para armas ligeiras e atribuídas para estas missões. ajudar a visualização e no solo há pai-
uma para armas “sniper”; A Marinha, através das unidades de fu- néis numerados. Os dados dos dois ob-
– Uma terrestre para obuses e morteiros, zileiros faz uma utilização intensa das car- servadores são de imediato introduzidos
a maior, com uma extensão de 14 km. reiras de tiro com armas individuais e co- num computador na torre de controlo e
As carreiras de tiro terrestre e a área de lectivas. uma indicação numérica é obtida e co-

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Foto: CAVFA/SAju F. Roque

C-130 em lançamento de pára-quedistas

A torre de controlo das carreiras de tiro ar-solo


Foto: CAVFA/1Sar A. Catroga

Treino de tiro em Alouette III


Foto: CAVFA/SAju F. Roque

Alvos no solo

transmitidos para a unidade de origem


das aeronaves, através da rede intranet
da Força Aérea. Ao aterrarem os resulta-
dos do tiro já estão disponíveis para a
avaliação da missão. Quer no emprego
Foto: CAVFA/1Sar A. Catroga

de munições terrestres, quer de avião, as


forças que as utilizam têm que dispor de
capacidade de inactivação de engenhos
explosivos no local. Nenhuma munição
Inactivação de bomba pode ser deixada no local sem explodir.
municada ao piloto para este poder cor- junto aos alvos e assim se determina a Mesmo que isso obrigue a parar a instru-
rigir (ou manter) nova largada. Para os distância a que os impactos se deram. ção – no dia em que visitamos o campo
disparos de canhão existe um sensor de Todos os dados recolhidos são tratados aconteceu isso com uma unidade de Fu-
tiro que está ligado a sensores de som informaticamente na torre de controlo e zileiros – ou a escavar muitos metros pa-

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Foto: CAVFA/1Sar A. Catroga

Vale de Michões

ra detectar e neutralizar bombas. E em


face das características do terreno (are-
noso) não é invulgar ter que escavar 10 m
ou mais para detectar uma bomba. O
terreno é adequado para evitar estilhaços,
mas tem este senão... Quando as forças/
aeronaves em operação são da Força Aé- 1
rea cabe ao núcleo EOD (Explosive, Or-
denance, Disposal) da Polícia Aérea esta
3
tarefa que serve de treino, bem real, e pres-
ta um serviço indispensável.

ESPECIAL ATENÇÃO AO AMBIENTE


O cuidado com o ambiente tem ali uma
expressão difícil de igualar e a norma ISO
14.001 (certificado de gestão ambiental) 2 4
foi alcançada em 2001 e renovada em Fauna dentro do perímetro do CTA. 1 – Ginete, 2 – Perdiz, 3 – Javali, 4 – Sacarrabos
2004 e 2007. As espécies cinegéticas per-
manentes no campo são: cegonha, tordo, previsto na lei portuguesa no planeamen- las visitam anualmente o campo, os es-
rola, perdiz, pombo, galinhola, pato, lebre, to e realização de exercícios e operações. cuteiros são presença quase permanente
coelho, sacarrabos, javali, raposa e gine- Dos muitos exemplos que se podiam aos fins-de-semana e a pista asfaltada é
te. Estes animais vivem na realidade nu- apontar para ilustrar como isto é possível muitas vezes utilizada por aeromodelistas.
ma área protegida com 3.200 ha de mon- note-se que toda a área do campo tem
tado de sobro, 30 ha de pinheiro bravo, montado em permanência um dispositi- AO SERVIÇO DAS FORÇAS ARMADAS E DO PAÍS
2.060 ha de eucaliptal e mais 1.700 ha vo de combate a incêndios com poços, O percurso do CTA ao longo deste últi-
de pinheiro manso e sobro disperso. Além moto-bombas, pontos de abastecimento mo século mostra que em diferentes épo-
disso o campo tem recursos hídricos im- para helicópteros com balde e depósitos cas aquele espaço tem indiscutivelmen-
portantes e uma pequena barragem (Vale de 25.000l pré-posicionados e depósi- te servido o país. A nível militar ou com
Michões). tos. É feito em permanência o abate se- ele relacionado, mas também em outras
A “política ambiental” do CTA está de- lectivo de vegetação que possa constituir áreas da vida nacional, entidades oficiais
finida em 11 medidas que “são lei” e vão material combustível. Na época de incên- ou privadas sempre encontram em Alco-
desde considerar os aspectos ambientais dios o CTA colabora com o Serviço Nacio- chete o espaço adequado às suas neces-
em todos os processos de tomada de nal de Protecção Civil quer em termos de sidades.
decisão até à indispensável formação e observação de fumos quer no combate
(1) Criado pelo Conde Lippe em 1764 foi extin-
sensibilização ambiental do seu pessoal, directo a incêndios se necessário.
to em 1927, destinava-se fundamentalmente a
passando por exemplo, entre outras, pe- Ainda de realçar a chamada “compo- construir e reparar ou modificar diverso tipo de
la integração dos requisitos ambientais nente pedagógica” na qual muitas esco- armamento e munições.

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GENERAL
GALVÃO DE MELO
T EXTO : Dr. José Manuel Correia
F OTOS : Arquivo Histórico da FA

1921-2008
Da esquerda para a direita na
imagem, os Generais Galvão de
Melo, Costa Gomes , António
de Spínola e Diogo Neto

Antes de uma missão em F-84G


na Base Aérea da Ota

F aleceu no passado dia 19 de Março,


com 86 anos, o General da Força Aé-
rea Carlos Galvão de Melo. Mais conhe-
para a base açoriana e aí permanece até
meados de 1954, voando nos SB-17G
da Esquadra de Busca e Salvamento.
cido como homem político no pós-25 de De regresso ao continente, já como
Abril e como ensaísta de mérito, Galvão Capitão, junta-se ao Grupo de Caça da
de Melo nasceu em Buarcos a 4 de Agos- Base Aérea nº 2. Após a promoção a
to de 1921 e depois de concluídos os es- Major, em 1 de Dezembro de 1954, co-
tudos liceais foi incorporado na Arma de manda uma das Esquadras de F-84G
Aeronáutica no Verão de 1941. e, depois, o Grupo de Caça da Ota. Em
A partir de Novembro daquele ano, Setembro de 1957, comanda uma for-
cursa a Escola do Exército e conclui o ti- mação de oito F-84G que se desloca às
Galvão de Melo, o segundo a contar da direi- rocínio na Base Aérea nº 1, obtendo o Lajes para participar em exercícios aero-
ta, frente a uma SB-17G,na Base das Lajes brevet militar a 29 de Junho de 1943. navais no arquipélago. Regressa à Zona
Como aspirante a oficial, presta serviço Aérea dos Açores em Fevereiro de 1958,
na Granja do Marquês e depois na Base mas depressa é chamado ao EMFA para
da Ota, onde pilota Hurricane Mk II. receber uma incumbência de peso: o fu-
Em finais de 1945, ingressa no GIAC turo comando de uma nova Base em Mon-
de Espinho onde comanda uma Esqua- te Real.
drilha de aviões de caça Hurricane.
Com a activação da Base Aérea nº 4, DE MONTE REAL AOS CÉUS DE MOÇAMBIQUE
na Terceira, Galvão de Melo é destacado Em meados de 1958, assume o co-

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mando da Base Aérea de Monte Real ça Aérea em Moçambique. Pilotando um bate em F-84 ou de se qualificar como
(BA5). A 4 de Outubro de 1959, na pre- C-47 “Dakota”, percorre a antiga coló- pára-quedista, saltando com os homens
sença do Almirante Américo Thomaz, é nia de lés-a-lés, escolhendo a localiza- do BCP21.
inaugurada a BA5, a “menina dos olhos“ ção das futuras bases e aeródromos de Descontente com a evolução da situa-
da Força Aérea Portuguesa, equipada com manobra da 3ª Região Aérea. ção político-militar nos teatros de guerra
cerca de sessenta F-86 “Sabre”. Distri- O relato da sua missão foi escrito no africanos – cujos contornos preocupan-
buídos pelas duas Esquadras de Inter- último artigo que publicou na revista “MAIS tes descreve em missivas enviadas ao seu
cepção – a 51 “Falcões” e 52 “Galos” – ALTO”, por sugestão do General Jorge amigo, General Santos Costa – toma a
estão os melhores pilotos de caça da For- Brochado de Miranda, um dos seus anti- decisão de pedir a passagem à reserva,
ça Aérea, todos eles veteranos dos F-84 gos Comandantes de Esquadra em Mon- em Novembro de 1966, para aceitar uma
“Thunderjet” e sob a liderança do Major te Real. Na altura, o autor destas linhas tentadora proposta de uma multinacio-
Gualdino Moura Pinto. Conhecendo bem teve o grato prazer de acompanhar o Sr. nal do sector petroquímico.
as aptidões dos seus pilotos – que já co- General Miranda em duas entrevistas a
mandara na Ota – não tem dificuldade Galvão de Melo, na sua residência do O 25 DE ABRIL E A VIDA POLÍTICA
Estoril e no Arquivo Histórico da FA, co- Depois de alguns anos em funções de
lhendo o depoimento de mais de vinte direcção empresarial, a “Revolução dos
anos de carreira ao serviço da Aeronáu- Cravos” obrigará Galvão de Melo a ves-
tica Militar Portuguesa. Sempre conscien- tir de novo a farda de oficial superior da
te da importância de preservar a “História” Força Aérea para desempenhar alto car-
para as gerações vindouras e recorrendo go na Junta de Salvação Nacional.
à sua prodigiosa memória, houve a opor- Na noite de 25 de Abril de 1974, sur-
tunidade de recordar episódios do seu ge na RTP como o rosto da Força Aérea
tirocínio – em que escapou por milagre Portuguesa no Movimento das Forças Ar-
de um acidente em Tiger Moth – da sua madas (MFA) depois de – como confes-
presença durante a guerra numa escola sou – um dos seus antigos pilotos “lhe ter
de planadores da Espanha franquista, de batido à porta de casa, em Cascais” pa-
alguns voos dramáticos em F-84, nos ra lhe pedir que representasse a Força
céus da Europa, e dos tempos difíceis do Aérea em face da ausência em Moçam-
início das hostilidades em Angola. bique do General Manuel Diogo Neto.
A pedido da “MAIS ALTO”, disponibi- Promovido por inerência de funções ao
General Galvão de Melo lizou o seu valioso espólio fotográfico pa- posto de general, em 30 de Abril de 1974,
em organizar unidades de caça moder- ra pleno uso da revista, acto generoso enceta um percurso político tumultuoso,
nas e que depressa prestigiam o nome que possibilitou ilustrar com imagens iné- sendo um dos primeiros a denunciar os
da Aviação Militar Portuguesa nas mano- ditas os artigos dedicados ao Grupo In- excessos revolucionários de alguns ele-
bras anuais da NATO em França. dependente de Aviação de Caça – GIAC mentos do MFA e a prevenir os seus con-
Comandante exigente e carismático, e às Esquadras de jactos da BA2. cidadãos para os perigos do PREC.
conduz a unidade a um alto grau de ope- A sua atitude desassombrada, numa
racionalidade. Galvão de Melo vê com NO COMANDO DA BASE AÉREA DE LUANDA época em que outros não assumiam res-
apreensão a interoperabilidade dos seus Colocado como Chefe do Estado-Maior ponsabilidades, suscitou a admiração de
caças com as Esquadras de Defesa Aé- da 3ª Região Aérea – cujo comando fora muitos portugueses e, sobretudo, de gran-
rea, instaladas no centro e no norte do entregue ao General Manuel Machado des franjas das colónias de emigrantes
país, situação que se agrava durante um de Barros – o Coronel Galvão de Melo portugueses no Brasil, EUA e Europa. Esse
exercício com caças da “Navy” em espa- regressa a Moçambique para iniciar a ins- prestígio levá-lo-ia a São Bento, como de-
ço aéreo português. Galvão de Melo pro- talação do comando em Lourenço Mar- putado independente e, mais tarde, a uma
testa desabridamente, em telegrama, pa- ques. Por divergências com o comandante candidatura presidencial.
ra os seus superiores, o que motivaria a da 3º Região Aérea, acabará por assumir O seu envolvimento na conturbada ce-
aplicação de uma sanção disciplinar. Os funções na 2ª Região Aérea, onde coman- na político-militar de 1974/75 seria, de-
oficiais da BA5 tentariam, superiormen- dará a Base de Luanda (BA9), substituindo pois, descrito em várias obras que publi-
te, a sua permanência como comandante, o Tenente-coronel Pereira Vaz. cou ao longo de vinte e cinco anos. Mais
acto que agravaria as relações do coman- A BA9 era à época, a mais importante recentemente, e sempre fugindo do faci-
do da base com a hierarquia e determi- unidade da Força Aérea, com quase uma litismo de teses “politicamente correc-
naria o afastamento de oficiais de muito centena de aeronaves de ataque, trans- tas”, debruçou-se sobre a situação de Ti-
prestígio na Força Aérea. porte e ligação atribuídas. Galvão de mor-Leste, sobre aspectos da condição
Cumprida a punição, Carlos Galvão Melo foi um comandante dinâmico e pró- militar e sobre a crise de identidade na-
de Melo recebe de Kaúlza de Arriaga a ximo dos seus subordinados, não se coi- cional que, em sua opinião, atingia Por-
tarefa de estudar a implantação da For- bindo de participar em missões de com- tugal.

Mai/Jun 08 | MAIS ALTO | 13


“COMPETITIVE INTELLIGENCE”

“ COMPETITIVE
INTELLIGENCE”
Foto: AIRBUS/S Ramadier

T EXTO : Tenente ADMAER Ricardo Peleja


e Tenente ENGAED Luís Fernandes
Airbus A380

A
A NOVA ORDEM E A ERA DA INFORMAÇÃO ricas. Este autor propõe para a Era actual
ctualmente não existe um mundo – “Era da Informação” – uma visão de
discretamente repartido por valo- franca mudança nas várias perspectivas
res ou ideologias. Assiste-se a um militares e económicas, suportadas pela
período de incerteza, volatilidade, muta- Superioridade de Informação.
ção e por isso instável. Para tal é neces- Haeni defende no seu estudo que este
sário conhecer as diferenças deste “novo contexto permitirá promover cada vez
mundo” para assim o compreender. mais um mundo multipolar cuja realida-
A presente distribuição amorfa do po- de se afigura conturbada sob a sombra
der está sustentada pela actual transfor- da incerteza e do risco. Para encarar um
mação sócio-tecnológica. Alguns autores ambiente tão diferente, torna-se necessá-
denominam o período vigente como re- rio adquirir as competências necessárias
sultante da “Terceira Vaga” (Tofler, 1993). para transformar as inúmeras ameaças em
Este conceito surge após a Era Industrial e potenciais oportunidades (Haeni, 1997).
pretende separar um período onde a van-
tagem competitiva era alcançada através COMPETITIVIDADE
da produção industrial, de outro, actual, INFORMACIONAL AERONÁUTICA
onde é baseada no domínio da informa- A actual decomposição internacional dos
ção e do conhecimento. processos produtivos de elevada comple-
Em 1997, na óptica emergente do do- xidade económica manifesta-se nos diver-
mínio da informação, Reto Haeni esque- sos fluxos cruzados. A inevitabilidade deste
matiza as diferenças das três vagas histó- facto justifica-se pela grande competitivi-

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dade global, que se traduz no esmaga- medidas de forma a assegurar a integri- ceito de “Early Warning System”. Este con-
mento das margens de lucro, sendo no dade da Informação crítica existente. Aqui, ceito defende que qualquer “ofensiva”
limite, nulas se as organizações não agi- entendam-se estas medidas como meios será sempre inesperada a menos que es-
rem naquela conformidade. Assim, as Or- de garantir “Information Assurance” nas teja implementada uma estrutura de aler-
ganizações para prevalecerem nesta no- vertentes da Disponibilidade, Integrida- ta prematura. Trata-se de um sistema com
va ordem têm de ter em conta as variáveis de, Validação, Confidencialidade e Não- o objectivo de permitir antever as mu-
externas, mas além destas, e antes de -repudiação2. Para tal, deve-se atender à danças estratégicas.
mais, terão de identificar o papel do seu Segurança Física, Digital e Humana. Da- Introduz-se assim a máxima de “Com-
modelo de negócio1 na nova ordem glo- do que não é possível salvaguardar to- petitive Early Warning” para organizações
bal e sua sustentabilidade. da a informação, importa avaliar o risco, que queiram vencer no ambiente compe-

Pirâmide Cognitiva (Adaptado de Nunes 2007) Triângulo de “Early Warning” (Adaptado de Gilad 2004, p. 60)

O Universo Aeronáutico goza de algu- identificando para tal Ameaças, Vulnera- titivo da Era da Informação. Esta identifi-
mas peculiaridades que o definem. Carac- bilidades e o Valor da Informação. ca os riscos e determina os indicadores
teriza-se por ser baseado na Investiga- No segundo ponto – o “Competitive In- que irão ser sujeitos a monitorização. Es-
ção e Desenvolvimento (I&D) e ter ciclos telligence” – pretende conceptualizar as tes, assim que demonstrem alterações con-
de desenvolvimento e de vida dos produ- metodologias intrínsecas da organização, sideradas suficientes, activam sistemas de
tos muito longos (várias décadas). Desta de forma a adequar-se às mudanças do alertas que irão accionar acções de res-
feita, a chave do sucesso passa pela ava- ambiente estratégico aeronáutico. Muitas posta da Organização.
liação permanente do ambiente, de for- vezes estes processos e recursos já exis- Muitos grupos económicos, como os da
ma a sincronizar o “produto” ao contexto. tem, contudo de forma não coordenada. indústria farmacêutica, energética, informá-
Especificamente ao nível da Defesa, es- No entanto, esta abordagem permite con- tica e aeronáutica, assentam grande parte
tes factores têm de ser tidos em conta. A jugar as valências existentes com outras da sua decisão em programas de “Intelli-
transformação das plataformas de armas a adquirir e assim avaliar o risco real, agi- gence” com este formato. São disso exem-
conduz à fomentação de quadros de ver- lizando a decisão para lhe fazer face. plo a Shell, a Citybank, a EADS, a AIRBUS
dadeiro capital humano cujo valor cog- e a Boieng. No campo da defesa, o “De-
nitivo é crítico para a Missão. Os mode- A EMERGÊNCIA partment of Defense” dos EUA, já está
los estruturais de decisão Militar têm de DA “COMPETITIVE INTELLIGENCE” sensibilizado para estes fenómenos com-
se ajustar às novas exigências e ter em Dado que as organizações actuam cons- petitivos e, de forma a proteger os seus
conta a importância da transformação tantemente com o ambiente adverso, as interesses e os dos seus fornecedores (e.g.
interna dos Dados a Conhecimento. políticas inerentes à Superioridade de In- McDonnell Douglas, Lockheed-Martin, Ge-
Estas particularidades, aliadas ao refe- formação deverão ter carácter permanen- neral Dynamics, etc.), implementa mode-
rido grau de competitividade das organi- te. Para garantir a eficiência constante los de avaliação integrada de risco, parti-
zações aeronáuticas, elevam a importân- destas metodologias é necessário esta- lhados pelos elementos críticos da Nação.
cia da política de gestão da informação e belecer medidas sistemáticas de avalia-
conhecimento. Desta, e para este âmbito, ção e monitorização, sem perder a agili- CICLO “EARLY WARNING”
realçam-se as duas dimensões essenciais dade dos processos. Esta sistematização Conceptualmente, existem já modelos
da “defesa e ataque da informação”: Se- facilita a apreciação constante das activi- de aplicação de “Competitive Intelligence”.
gurança da Informação e o “Competitive dades dos competidores externos de for- O norte-americano Ben Gilad propõe um
Intelligence”. ma a antecipar as tendências do contexto. ciclo semelhante ao “Observe, Orient, De-
Para a primeira, devem implementar-se Uma das vertentes emergentes é o con- cide e Act” (OODA) Loop3, mas com três

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passos – (1) Identificação de Riscos, (2) Mo- suficientes para descrever a dinâmica do mentos muitas vezes não têm conhecimen-
nitorização e (3) Implementação de Acções. eventual risco. to dos verdadeiros objectivos e, como não
Identificação do Risco. No primeiro pas- Monitorização. Em seguida é nomeado estão vinculados a nenhuma organiza-
so uma equipa de cenarização deverá um conjunto de observadores para mo- ção, são tidos como inofensivos. Existem
identificar os gestores da mudança e os nitorizar os riscos identificados e avaliar outros meios sistémicos como a “Imagery
riscos associados, através do estudo de as suas tendências e sinais de mudanças. Intelligence” (IMINT) ou a “Communica-
dados e indicadores (estatístico e qualita- Este novo grupo multi-disciplinar deve en- tions Intelligence” (COMINT), contudo, se
tivo). Esta equipa deve ser constituída por tão estudar os relatórios enviados pela se aplicar os recursos existentes de uma
colaboradores dos níveis intermédios de equipa de cenarização e complementá- forma integrada, estes podem ser suficien-
decisão, muitas vezes numa base de vo- -los com outros dados considerados rele- tes para reconhecer uma ameaça.

Exemplo de Modelo de Cenarização (Reprodução de ScMI 2004, p. 4) Modelo de “Early Warning” Estratégico (Reprodução de ScMI 2004, p. 2)

luntariado, contudo deve ser coordena- vantes. Uma das formas mais correntes é No fim deste processo, os analistas mo-
da por um elemento da gestão estratégi- a identificação de sinais indirectos de aler- nitores, quando identificam um sinal cla-
ca. Isto confere à equipa a legitimidade ta (e.g. conflitos sociais, aquisições hostis, ro de alerta, considerado bem definido,
necessária para dar início ao processo de desastres naturais, etc.). Estes são funda- elaboram relatórios com recomendações
alerta de um eventual (possível) sinal de mentais no foco da monitorização. de mudança. Visto que esta mudança
risco. Esta tarefa pode ser conduzida pelos será sempre decidida pela gestão estra-
Este grupo parte da ideia de um proble- quadros médios e baixos da organização, tégica, o facto deste pipeline ter sido ini-
ma específico e provável. Posteriormente uma vez que se trata de um conjunto de cialmente coordenado por um decisor de
define os descritores desse mesmo pro- tarefas técnicas bem definidas. Esta par- topo, facilitará a aceitação e fundamen-
blema. Cada descritor terá característi- ticularidade deve ser tomada como uma tação destes estudos pelos níveis estra-
cas únicas, mas nunca independentes, ou mais valia deste modelo, pois permite a tégicos.
seja, os descritores são as variáveis exó- utilização do capital humano já existente Implementação de Acções. Este passo
genas de um mega-sistema de equações e reorientá-lo também para a Superiori- é o mais intuitivo e, contudo, aquele que
qualitativas combinatórias. Neste sistema dade de Informação. Estes colaboradores oferece mais obstáculos. Como se sabe,
de descritores, a equipa avalia a interde- podem, e devem, ser reforçados pontual- o processo de tomada de decisão deve
pendência de variáveis e identifica os des- mente por especialistas externos quando ser metódico, objectivo e coerente. No en-
critores que mais condicionam o contexto. a organização não tenha todas as com- tanto, quando surge um aviso de amea-
Deste exercício são criados, normalmen- petências necessárias. ça, muitas vezes a decisão é enviesada
te, três cenários – o mais provável, o pes- Os meios para esta monitorização são por dois fenómenos – alarmismo ou ne-
simista e o optimista. múltiplos. Passam desde a simples leitu- gligência.
Apresenta-se em seguida um exemplo ra cuidada da imprensa, até à “Human Este modelo defende que o relatório
de cenarização da autoria da “Scenario Intelligence” (HUMINT) agressiva e pas- concreto da equipa de monitorização de-
Management International” (ScMI). Esta siva (e.g. convívios em conferências, en- ve ser abordado com os mesmos três prin-
é uma empresa alemã, actualmente lide- contros internacionais, etc.). É comum, cípios já referidos. A gestão de topo deve
rada por Franz Tessun4. cada vez mais, por exemplo, convidar es- estar rotinada a receber este tipo de in-
Após esta análise, são elaborados os tudantes ou recém-licenciados para se pro- formação e ter implementado um pro-
primeiros relatórios. Semelhantes a su- porem a estágios em organizações con- cesso de decisão expedito que conduza a
mários executivos, neles devem constar correntes de forma a ter um elemento de decisões correctas. Outra vantagem des-
os indicadores estatísticos e qualitativos recolha de informação (agente). Estes ele- te modelo é o sentimento de pertença que

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o nível decisório tem neste processo. Co- Ben Gilad, pode dizer-se que a “Compe- 3 – Afectar rotativamente decisores de to-
mo defende Franz Tessun, se a gestão es- titive Intellicence” é um paradigma inevi- po para a dinâmica de “Intelligence”; 4
tratégica estiver sempre envolvida no pro- tável das grandes organizações da Era – Criar uma “Sala de Crise” (e.g. reposi-
cesso de “Intelligence”, ganha-se muito na da Informação. Este conceito continua a tório de “Intelligence”, sala de reuniões
comunicação interna e, consequentemen- apelar ao modelo tradicional de Intelli- de emergência); 5 – Coordenar, perma-
te, na agilidade de reacção. gence (Planeamento – Recolha – Análise nentemente, a estratégia da organização
O que se observa na figura anterior são – Disseminação), contudo dá-lhe uma tan- com os objectivos de “Intelligence”.
as dimensões do Early Warning dispostas gibilidade distinta. O ciclo de “Early War- A “Competitive Intelligence” é um con-
conceptualmente em torno da organiza- ning” está estudado por vários académi- ceito que será cada vez mais utilizado. A
ção. De notar que o “Strategic Planning cos e testado por muitas organizações. O primeira escolha da organização reside
and Management” (Gestão e Planeamen- seu sucesso no universo aeronáutico é visí- na bifurcação elementar entre a recusa e
to Estratégicos) está perfeitamente inte- vel, principalmente na Boeing e na EADS. sua adopção. A verdade é que os seus
grado neste sistema. Um exemplo disto foi a antevisão da adversários irão deparar-se com a mes-
Foto: Boeing

Linha de montagem da Boeing (B777 Freighter)

Assim, as recomendações de mudança crise asiática de 1997/98 por parte da ma escolha e, seguramente, que alguns
devem ser encaminhadas para os órgãos indústria aeronáutica europeia (DASA e farão a opção correcta. Certo é que para
de decisão que tenham a competência Aérospatiale). Esta previsão permitiu re- as Forças Armadas da Era da Informa-
adequada à deliberação da escolha, mas modelar e ajustar o “timing” de muitos ção esse risco não é passível de ser ne-
salvaguardando sempre a partilha de in- projectos em curso, adequando as deci- gligenciado.
formação interna. sões estratégicas ao contexto. Esta ante-
A partilha é fundamental para a Su- visão permitiu colocar as referidas deci- 1 A expressão “negócio” deve ser entendida no
perioridade de Informação. Se se obser- sões numa posição mais favorável em seu sentido lato – do sector público, privado, ci-
var o triângulo de “Early Warning”, iden- relação aos seus concorrentes. vil ou militar.
tifica-se a Aprendizagem como o elo que Na área da Defesa, os EUA já utilizam 2 FM 3-13, Information Operations: Doctrine,
“fecha” o ciclo. Esta fase é fundamental este método para sustentar as suas deci- Tactics, Techniques and Procedures, Department
numa organização da Era da Informa- sões estratégicas. Sem perder a identida- of Defense, EUA 2003.
ção. Só com ela se gera Conhecimento e de militar, a USAF aplica o “Early Warning 3 OODA Loop (Ing.: Observe, Orient, Decide e
Sabedoria que posteriormente poderá ser System” nas dimensões de “marketing” Act) (Port.: Observar, Orientar, Decidir e Agir). Teo-
utilizado como capital informacional ou (e.g. recrutamento), na formação, na I&D ria de gestão de projectos e de Comando e Con-
cognitivo. Assim, este Conhecimento é par- e, claro, nos teatros de operações. trolo, também conhecida como Boyd Cycle (Co-
tilhado com os níveis mais baixos do ci- Assim, para garantir a eficiência do mo- lonel USAF John Boyd).
clo e, espera-se, que possa potenciar ain- delo serão então apenas necessários cin- 4 Franz Tessun foi o responsável pelo Early War-
da mais este processo cognitivo. co passos: 1 – Assegurar o envolvimen- ning (EW) da DASA. Após a integração na EADS,
to/patrocínio da liderança estratégica; 2 Tessun identificou alguns problemas no modelo
NOTAS CONCLUSIVAS – Seleleccionar as pessoas certas (e.g. de EW e criou um sistema que integra a compo-
Após a apresentação do modelo de capital humano, “knowledge warriors”); nente estratégica (ScMI, 2002).

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ÉPOCA

F
Foto: L. Calliario Foto: J. A: Ruivo Foto: L. Calliario

azer parte, integrar, viver o dia-a- consolidar a execução e obter experiên- Simultaneamente, outra etapa a ultra-
-dia de uma patrulha acrobática, é cia específica, como é o caso das de- passar engloba a análise e definição do
algo único; sendo um objectivo pa- monstrações sobre água.Como resultado empenhamento dos Rotores para a tem-
ra muitos, poucos se poderão orgulhar desta preparação, são exigidos a todos porada, de modo a não comprometer a
de o ter feito. os militares integrantes da patrulha, ele- actividade aérea da Esquadra 552 onde
A esta exclusividade acresce, no en- vados níveis de concentração e de pre- estão integrados, mas de tal forma que
tanto, uma enorme responsabilidade, paração física e técnica, bem como dis- seja possível à patrulha cumprir, com o
não isenta de sacrifícios e dificuldades. ponibilidade total de tempo, a fim de brilhantismo a que habituou os seus mi-
Desde logo, o peso do passado renova potenciar os resultados dos treinos, atra- lhares de fãs, a missão que lhes está
nos elementos da patrulha a vontade vés de brifingues e debrifingues dos voos atribuída.
de melhorar e inovar, mantendo a exce- detalhados e completos. Como consequência de toda esta pre-
lência do desempenho, aliada a eleva- paração, é legítimo projectar mais uma
dos níveis de proficiência e de seguran- EQUIPA 2008 temporada de sucesso para os Rotores, e
ça na execução. Major PILAV Fernando Leitão, Comandante esperar que o retorno do esforço dispen-
Assim são os Rotores de Portugal. da Patrulha; Major PILAV António Lourenço, dido até Outubro, seja ainda mais com-
Na nomeação dos militares para a tem- Asa; Capitão PILAV Mário Marcão, Asa; Te- pensador que no passado. Não é fácil,
porada 2008, como acontece quase sem- nente PILAV Mestre Ferreira, Speaker/Rela- mas é isso que nos motiva!
pre, houve necessidade de integrar novos ções Públicas; Tenente PIL Paulo Melo, Co-
elementos, todos voluntários, em substi- ordenador de Voo;
tuição daqueles que não podem este ano Manutenção
dar o seu contributo à patrulha. Nesse SAj M E L E C A Joaquim Diogo, Chefe
Foto: Mário Diniz

sentido, a preparação e definição do pro- Equipa, SAj MELIAV Luís Vila Real; 1SAR
grama de treinos para os pilotos con- MMA Alcides Jesus; CAdj MMA José Pinto;
templou quatro fases, as quais passam 1CAB MMA Artur Grilo; 1CAB MMA José www.emfa.pt/www/po/rotores
rotoresdeportugal@emfa.pt
inicialmente por desenvolver novas ca- Abreu.
Texto: Major Fernando Leitão
pacidades no voo em aeronave isolada
PILAV

CALENDÁRIO 2008
e em formação, mas também ficar a co-
DATA LOCAL EVENTO
nhecer as técnicas de voo para as di-
4/5 JUNHO AFA – SINTRA Inter-Academias Internacional
ferentes posições e criar as estruturas ne- 7 JUNHO ALVERCA Encontro da Associação de Especialistas da FA
cessárias para manobras que terão que 10 JUNHO VIANA DO CASTELO Comemorações Dia de Portugal
fazer no futuro. 29 JUNHO A DESIGNAR Dia da Força Aérea
Numa última fase, e já depois de defi- 20 JULHO VIGO Vigo International Air Show
nido o perfil da demonstração a apresen- 27 JULHO TORRES VEDRAS Aniversário Aero Clube de Torres Vedras
tar ao Comandante Operacional da For- 28 SETEMBRO PORTIMÃO Campeonato de Powerboats
ça Aérea para aprovação, pretende-se OUTUBRO BA11 – BEJA Dia da Unidade

20 | Mais Alto | Mai/Jun 08


2008

Foto: K. Tokunaga Foto: K. Tokunaga Foto: Ben Ullings

C
om uma formação renovada, Botelho; 1CAB Santos; 1CAB Silvestre. que os “Asas de Portugal” continuarão a
agregando a experiência de ele- Também assinalando a abertura da épo- mostrar “... que há céu de Portugal em
mentos que já pertenciam à equi- ca, os “Asas” apresentam o seu website todo o mundo!” e a divulgar o seu mote:
pa, a patrulha acrobática “Asas de Por- www.asasdeportugal.com.pt
tugal” deu início à sua actividade, no dia com uma imagem renovada
7 de Maio de 2008, na Base Aérea de e novas acessibilidades,
Beja. Foi, assim, apresentado o progra- apostando na actualidade
ma de voo deste ano ao Comandante dos conteúdos e num registo
Operacional da Força Aérea, para no histórico que se pretende
dia 14 do mesmo mês ter sido iniciada seja mantido e, se possível,
oficialmente a época, na Base Aérea de ampliado. Das funcionalida-
Sintra, perante o Chefe do Estado-Maior, des agora disponíveis des-
General Luís Araújo. tacam-se a “newsletter” que
No que diz respeito às exibições públi- permite a recepção das mais
cas, os “Asas” irão actuar em Portugal e recentes actualizações, a sec-
no estrangeiro, marcando uma vez mais ção Historial da Equipa e a
presença em vários certames de renome Galeria Fotográfica.
internacional, tendo-se já exibido, no Fes- É desta forma, continuando
Foto: Asas de Portugal

tival Aéreo, Aeronostalgia 2008, em 25 a promover os mais altos valores da


“O Espírito nunca Aterra…”
de Maio, e entre 31 de Maio a 1 de Força Aérea Portuguesa e de Portugal,
Junho, em França, no “meeting” Inter-
nacional de Cerny, a sul de Paris, onde CALENDÁRIO 2008
existe uma forte presença da comunida- DATA LOCAL EVENTO
de portuguesa. 8 JUNHO VIANA DO CASTELO Comemorações do Dia de Portugal
10 JUNHO VIANA DO CASTELO Apresentação ao Presidente da República
EQUIPA 2008 21 JUNHO AÇORES S. Miguel, 56º Aniversário da FAP
Major PILAV Paulo Videira – Comandante; 22 JUNHO AÇORES Sta. Maria, 56ºAniversário da FAP
Capitão PILAV Ricardo Ribeiro – Nº 2; Ca-
28 JUNHO AÇORES Horta, 56º Aniversário da FAP
pitão PILAV Hugo Baptista – Coordenador
29 JUNHO AÇORES Terceira, 56º Aniversário da FAP
de Voo/Speaker; Tenente PILAV Elói Lopes
9 a 14 JULHO INGLATERRA Royal Air Tattoo
– Oficial de Logística/Speaker.
18 a 20 JULHO ESPANHA FAV2008, Vigo
Manutenção
C a p i t ã o R e g o u g a ; A l f e r e s Pe d r o ; 5a7 SETEMBRO PORTO Red Bull Air Race

1SAR Guerreiro; 1SAR Silva; 2SAR Tei- 26 a 28 SETEMBRO ESPANHA Fiesta al Cel, Barcelona
xeira; CAdj Leça; CAdj Lutas; CAdj OUTUBRO BEJA Encerramento da época, Dia da BA11

Mai/Jun 08 | Mais Alto | 21


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043 F-16B/MLU • 044 FTB-337G • 045 T-27 “Tucano” – Esq. da Fumaça •
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Militar Portuguesa Autor: Cte. José Munkelt Gonçalves Edição:
Aero Fénix – 167 págs • Pr.: € 10,00 (Despesas de envio: € 2,00)
Igreja de Nossa Senhora do Rosário – Templo da Força
Aérea Portuguesa Autor: Carlos Serejo Edição: Força
Aérea Portuguesa – 200 págs •Pr.: € 15,00
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Esquadra 501 – 30 Anos 1977-2007* Edição: Esquadra 501,
Força Aérea Portuguesa – 167 págs • Pr.: € 25,00 (Despesas
de envio: € 5,00) *Encomendas pelo telefone 214723511
Esquadra 502 – 50 Anos 1955-2005 Edição: Esquadra 502,
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OPERAÇÕES AERONÁUTICAS EM INFRA-ESTRUTURAS RODOVIÁRIAS

OPERAÇÕES
AERONÁUTICAS
EM INFRA-ESTRUTURAS
T EXTO : TCor TMAEQ José Cardoso Mira RODOVIÁRIAS
A semelhança entre um troço recto de uma infra-estrutura ro-
doviária (estrada) e uma pista aeronáutica é evidente, levando
a que, para além da ocorrência de uma ou outra aterragem
de emergência, diversas forças aéreas executem operações
aéreas de combate a partir daquele tipo de infra-estruturas.
O presente artigo pretende transmitir alguma informação so-
bre o tema.
Foto: SAAB/ K. Tokunaga

JAS 39 “Gripen”
suecas serão, em tempo de guerra, dis- Como se verá, nem só este país nórdico
persas por aeródromos camuflados, apro- opera em troços de estrada preparados.
veitando as florestas do país e troços de Outras forças aéreas do mundo fazem-
estrada anteriormente preparados, em -no igualmente, independentemente de
vez de ficarem em bases perfeitamente possuírem, também, bases aéreas “nor-
Foto: SAAB/Peter Liender

referenciadas, com os aviões operando mais”.


a partir de abrigos reforçados, opção es- Desde há muito tempo que a protec-
colhida pela NATO (e, em parte, pelo ex- ção das aeronaves no chão, bem como

E
-Pacto de Varsóvia). Refira-se que todos do seu equipamento de apoio e ainda
m tempos, na “Mais Alto”, foi pu- os caças de origem sueca têm sido pro- do pessoal indispensável à sua operação
blicada uma carta do autor destas jectados para tais operações e para se- e manutenção tem sido uma preocupa-
linhas, motivada pelo artigo “Adeus rem regenerados para combate, num ção das aviações militares, pretendendo
ao Viggen” (“Mais Alto”nº 354), na qual se tempo mínimo (10 minutos, no caso do evitar-se situações semelhantes à ocorri-
referia que uma característica da Flygvap- Gripen), por uma equipa constituída por da em 1967 com várias forças aéreas
net (FA Sueca) é a adopção do conceito um militar do quadro permanente e seis árabes, as quais foram praticamente di-
da dispersão em detrimento do "conceito conscritos (a Suécia mantém o serviço zimadas no solo por uma operação de
do betão", ou seja, as unidades aéreas militar obrigatório, mesmo na Aviação). luta aérea ofensiva ar-solo levada a ca-

Mai/Jun 08 | MAIS ALTO | 23


bo pela Força Aérea Israelita, a célebre lançamentos de carga aérea (LAPES) do de reboque, após afastar, à força de bra-
“Operação Moked” que deu início à “Guer- C-130. ços, um Mirage F.1 estacionado que esta-
ra dos Seis Dias”. Assim, procedeu-se ao reboque de um va a impedir os trabalhos.
A doutrina aérea NATO estabelece que FB-111 (rara versão de bombardeamen- Como se vê, a questão da resistência
a protecção dos meios no chão se en- to estratégico do F-111, baseada apenas mecânica dos pavimentos não é despre-
quadra na luta aérea defensiva, poden- nos EUA) operado pela 509th Bombard- zável. Outros poderão detalhar, melhor
do esta incluir medidas activas e passi- ment Wing, a unidade que, actualmente, que nós, as características a que a estru-
vas. As primeiras incluem, por exemplo, voa os B-2 Spirit e cuja antecessora, em tura de um troço de estrada deverá obe-
a operação de sistemas anti-aéreos de 1945, largou as duas bombas atómicas decer mas, provavelmente, apenas tro-
curto alcance, para protecção dos aeró- (seria, talvez, a unidade de elite do Stra- ços de estradas arteriais ou colectoras
dromos, e a existência de unidades de
defesa terrestre, enquanto as segundas
abarcam a camuflagem dos meios, a sua
dispersão e a sua protecção por estrutu-
ras reforçadas. Claro que o emprego de
um tipo de medidas não exclui o empre-
go das outras.
Focando-nos nas medidas passivas, exis-
tem diversas formas de concretização das
mesmas, consoante as condições locais
e, obviamente, as possibilidades finan-
ceiras disponíveis. Assim, encontramos des-
de já a referida dispersão, camuflagem e
operação em troços de estrada até à pro-
tecção das aeronaves e meios de apoio
Foto: TCor J. Mira

em cavernas escavadas em encostas mon-


tanhosas (Suíça, Noruega, ex-Jugoslávia,
F-111 na Base do Montijo, Tiger Meet –1987
China e Taiwan, entre outros, provavel-
mente), passando por hangares subter- tegic Air Command). Em conjunto com a
râneos (diz-se que na Suíça, África do Sul, equipa de manutenção do 509th Organi-
Israel e Iraque, também provavelmente zational Maintenance Squadron, começaram
entre outros). os mecânicos portugueses a operação
No que concerne à operação aérea em de rebocar um destes grandes bilugares
troços de estrada, tema do artigo, além (peso máximo à descolagem de 54 tone-
das óbvias, porque visíveis, questões do ladas), completamente abastecido de com-
comprimento e largura do troço e sua bustível (talvez por razões de prontidão
inclinação e marcações, há que conside- para uma eventual partida acelerada, uma
rar a ausência de obstáculos nas imedia- vez que ainda não tinha terminado a cha-
ções e, a não esquecer, apesar de já não mada Guerra Fria).
ser tão visível, o problema da resistência A dado momento da operação de re-
mecânica do pavimento. boque, e talvez por influência do intenso
Foto: TCor J. Mira

A este respeito, abrimos aqui um pa- calor, uma parte do pavimento daquela
rêntesis pessoal que pretende ilustrar a pista desactivada cedeu, tendo-se enter-
questão: quando se organizou o primei- rado parcialmente a roda do trem prin- Montijo, Tiger Meet –1987

ro Tiger Meet em Portugal, que teve lugar cipal direito. Não vamos escalpelizar as apresentarão as características necessá-
na Base Aérea nº 6, no Montijo, associa- operações efectuadas nas dez horas se- rias para operações aeronáuticas. Os
do às comemorações do Dia da Força guintes, necessárias para que, no dia do seus pavimentos (camadas de desgaste,
Aérea de 1987, foi necessário, a dado festival aéreo, o público pudesse apreciar de regularização, de base e de sub-ba-
momento, preparar a exposição estática tal aeronave. Bastará dizer que foi neces- se) e as fundações de pavimentos (leito
de aeronaves, a integrar no festival aé- sário remover o combustível do avião para do pavimento e aterro ou terreno natu-
reo do fim-de-semana, exposição que en- aliviar o peso (defuelling), tendo previa- ral) terão de resistir convenientemente às
volveria várias dezenas de máquinas, na- mente que fazer avançar as asas de fle- solicitações, transmitidas pelos trens de
cionais e estrangeiras. Começaram os cha variável (pondo em marcha um dos aterragem dos aviões, sem deformações
reboques dos aviões das suas placas nor- reactores do avião), bem como colocar permanentes ou fendilhamentos. Para que
mais para a antiga pista 14-32, há muito chapas metálicas à frente das rodas, ser- uma aeronave possa operar em seguran-
fechada, usada apenas para a prática de vindo de rampa, e puxar com o tractor ça sobre um dado pavimento, é neces-

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sário compatibilizar as propriedades de bem como alguns treinos com A-10 ame- não temos confirmação de que os Mira-
resistência deste e as cargas exercidas ricanos durante exercícios. ge III da versão suíça (Mirage IIIS) alguma
por aquela, dependentes das cargas nas Polónia: este país, quer antes, quer de- vez tenham operado naqueles troços, mas
pernas do trem, do número e dimensão pois de pertencer à NATO, tem praticado estes aviões estavam preparados para
das rodas e disposição destas em cada as operações que designa por DOL (Dro- descolagens muito curtas, graças à utili-
trem e da pressão dos pneus. Dois méto- gowy Odcinek Lotniskowy = aterragem zação das chamadas garrafas JATO ou
dos usados nestas questões são o Load em faixa rodoviária), com aviões MiG- RATO (Jet ou Rocket Assisted Take–Off),
Classification Group e o Equivalent Sin- -21, MiG-29, Su-22 e TS-11. É de subli- as quais são motores-foguete de proper-
gle Wheel Load. nhar que os caças de origem ex-soviéti- gol sólido fixadas à estrutura das aero-
Passando a exemplos conhecidos de ca eram projectados para operações em naves (tal como acontecia nos antigos
F-84G da FAP). É de dizer
que, pelo menos teoricamen-
te, os Mirage IIIS poderiam
apresentar tríplice propulsão
(caso único ou, pelo menos,
muito raro): turborreactor SNE-
CMA Atar, as garrafas JATO
e ainda o motor-foguete de
propergol líquido SEPR 844,
como propulsor auxiliar para
conferir impulso adicional ao
Foto: Stefan Degraef/Edwin Borremans

do reactor, em intercepções a
grande altitude.
Singapura: a Republic of Sin-
gapore Air Force é uma das
forças aéreas qualitativamente
mais fortes do Extremo Oriente,
F-5E Tiger II, Força Aérea Suíça
caracterizando-se por ter uma
terrenos semi-preparados, recorrendo, por grande percentagem das suas aeronaves
exemplo, a pneus de baixa pressão e até, em destacamento permanente no estran-
no caso do MiG-29, a tampas protecto- geiro, devido às limitações do seu espa-
ras para as entradas de ar dos reactores ço aéreo (F-16, KC-135 e CH-47 nos EUA,
(durante o seu funcionamento, não com A-4 em França, S-211 e Super Pumas na
o avião estacionado, como é vulgar). Austrália). A RSAF leva a efeito, de quatro
Obviamente, o ar terá que entrar por ou- em quatro anos, um exercício que trans-
tro lado, no caso por umas entradas au- forma a Lim Chu Kang Road, naquela ci-
xiliares situadas no topo das condutas de dade-estado, numa pista de emergência
Foto: Stefan Degraef/Edwin Borremans

ar dos motores. Após a descolagem, com de uma base aérea próxima. No último
a recolha do trem, abrem as tampas e exercício, aviões F-16, A-4SU, F-5S/T e
fecham as entradas auxiliares. E-2C executaram um total de 20 descola-
Suíça: este país iniciou em 1970 as suas gens, aterragens e “toca-e-andas” naquela
operações aéreas em estradas, quando rua de seis faixas (2500 m de compri-
aviões Venom usaram um troço da auto- mento e 24 m de largura), em 18 minu-
F-5E Tiger II, Força Aérea Suíça -estrada entre Berna e Lenzburg, locali- tos. A preparação da rua envolveu seis
operações aeronáuticas em infra-estrutu- zado perto de Õnsingen. A rede de auto- entidades civis e iniciou-se dois meses an-
ras rodoviárias, além do sueco, referire- -estradas suíça foi planeada de modo a tes do exercício, com a poda das árvores
mos: possuir, em vários pontos, troços recti- mais próximas. Os semáforos, sinais de
NATO: para além dos Harrier britâni- líneos de cerca de 2 km, nos quais as trânsito, paragens de autocarro e can-
cos, que praticavam na Alemanha e na guardas de segurança normais foram deeiros da rua, sendo aparafusados, fo-
Noruega, com frequência, a dispersão substituídas por cabos de aço que po- ram desmontados.
“campestre”, os países da NATO parecem dem ser removidos em poucas horas. A Além dos exemplos referidos, é muito
não ter levado a cabo, antes dos anos última vez que se realizou este tipo de provável que outras forças aéreas proce-
90, muitas operações aéreas em troços exercício terá sido em 1991, no cantão dam a operações semelhantes, nomea-
de estrada. São casos excepcionais a de Ticino, com caças Hunter e, posterior- damente aquelas de países inseridos em
operação de vários C-130 numa auto- mente, muitos daqueles troços foram des- regiões conflituosas. Por razões óbvias,
-estrada próxima de Estugarda, em 1978, classificados. Ainda a respeito da Suíça, não é feita publicidade das mesmas.

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F-16 BELGAS
NA BASE AÉREA DE BEJA
O excelente relacionamento entre a Força Aérea Portugue-
sa e a Componente Aérea Belga permitiu a concretização
de um novo destacamento da Esquadra OCU (Operatio-
nal Conversion Unit) na Base Aérea nº11 em Beja.
T EXTO : Major PILAV João Vicente
F OTOS : Eddy Kellens
O
destacamento decorreu entre 22 O DESENROLAR DA ACÇÃO Nos dias 2 e 3 de Março, o General
de Fevereiro de 2008 e 10 de O destacamento foi chefiado pelo Co- Comandante da Componente Aérea Bel-
Março de 2008, incluindo a fa- mandante da Esquadra OCU, Major Mark ga efectuou uma visita à BA11 para se
se de instalação/retirada, a cargo de uma Meeuwissen, apoiado por 131 militares, inteirar das condições de operação, ten-
equipa avançada, e a fase de execução. divididos entre equipa avançada e equi- do sido recebido pelo Major-General
Tal como no destacamento efectuado pa principal, dos quais 17 pilotos. Dos pi- 2º Comandante do Comando Operacio-
em Dezembro de 2006, a escolha da Ba- lotos-alunos em curso encontrava-se um nal da Força Aérea Portuguesa. Para
se Aérea de Beja, resultou da conjugação piloto da Força Aérea Portuguesa a fre- além da visita aos elementos do destaca-
de inúmeros factores, como as condições quentar o programa de qualificação em mento, efectuou um voo de F-16 numa
climatéricas e a disponibilidade de espa- F-16 na Bélgica. missão ao Campo de Tiro de Alcochete.
ço e infra-estruturas de apoio. Toda a movimentação para a BA11 foi Foi também proporcionada uma visita
Em 2006 foi efectuado o treino de pi- feita via aérea em sete aeronaves F-16 guiada a bordo de um P-3 da Esquadra
lotos alunos na modalidade de combate
Ar-Ar, em particular Basic Fighter Maneu-
vers (BFM). Em 2008 os objectivos incidi-
ram no treino e largada de armamento
no Campo de Tiro de Alcochete.
Nas duas semanas de duração do des-
tacamento foi possível qualificar sete pilo-

F-16AM Pilotos belgas preparando uma missão


tos alunos na modalidade de tiro Ar-Chão,
tendo sido mesmo possível efectuar algu-
mas missões de largadas simuladas de
armamento a média altitude.

FASE DE PLANEAMENTO
Durante a visita de reconhecimento efec-
tuada em Janeiro, foram determinadas as
necessidades de apoio e delineado o acor-
do de responsabilidades de cada nação.
Num espaço de dois meses foram
aprontadas as infra-estruturas de apoio
e seleccionadas equipas de ligação que
efectuaram o planeamento detalhado do
destacamento. Da esquerda para a direita, TCor Paulo Ropio com o TGen Gerard van Caelenberg, o Comandante da
Para a manutenção belga foram dispo- BA11, Cor Soares de Almeida, e oficiais belgas durante a visita à ESQ 601
nibilizados espaços junto da manutenção (quatro F-16BM e três F-16AM) com o apoio 601, recentemente colocada na Base de
de Alpha-Jet, enquanto que a componen- de quatro C-130 belgas. Beja.
te das operações (pilotos e pessoal de Para além daqueles meios, uma equipa O alcance total dos objectivos só foi pos-
apoio à missão) ocuparam quatro salas avançada foi destacada por via terrestre sível através da actividade aérea intensiva
no edifício da Esquadra 103. em oito camiões e quatro carrinhas. realizada, planeada e executada sem inter-
Para além disso foi providenciado es- No total os F-16 belgas efectuaram 86 ferir na operação das restantes aeronaves
paço para a instalação de uma cozinha saídas e realizaram 97H45 horas de voo. colocadas em Beja.
de campanha que serviu as refeições ao No que diz respeito à manutenção fo- Uma vez mais foi amplamente reconhe-
destacamento belga. ram efectuadas algumas acções inopina- cido pelos participantes o excelente apoio
Todos os militares belgas ficaram alo- das a diversas aeronaves, no entanto, recebido, no período de preparação, ins-
jados numa unidade hoteleira da cidade sem qualquer implicação no cumprimen- talação, execução e retirada do destaca-
de Beja. to cabal da missão. mento.

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Foto: Peter Stams
F-16AM e Alpha Jet
CRUZEIRO AÉREO ÀS COLÓNIAS, 1935-36

MISSÃO DE SOBERANIA
CRUZEIRO AÉREO ÀS COLÓNIAS, 1935-36

TEXTO : 1Sar Pedro Manuel Ferreira* Dos nove aviões à descolagem, apenas três regressariam à me-
FOTOS : Arquivo Histórico da FA
trópole em voo. Nem a perda de um aparelho em plena floresta
tropical e a intoxicação de parte dos tripulantes, provocada pela
inalação dos gases dos motores, impediram a realização dos
objectivos de uma viagem de soberania à periferia do Império,
numa altura em que a Alemanha de Hitler e a Itália de Musso-
lini lançavam olhares de cobiça sobre Angola e Moçambique...
Vickers nº 202 “Águia”. De notar o pára-
-brisas do “tipo GEAR” instalado no lugar
do navegador, uma quase excepção nos
aviões que integraram o Cruzeiro

N
NUVENS NEGRAS SOBRE O IMPÉRIO sões, havendo lugar à manutenção neces-
o Outono de 1935, o capitão Fer- sária à cooperação com aquelas e ainda
nando dos Santos Costa, na qua- “de um embrião de aviação independente,
Em Luanda, o comandante do CAC, Coronel
lidade de conselheiro do Presiden- constituído por formações de caça e forma-
Cifka Duarte (à direita) trocando impressões
com o Governador-Geral de Angola te do Conselho, Dr. Oliveira Salazar, para ções de bombardeamento” que pudesse ser
os assuntos técnico-militares, concluía um posta à disposição do alto comando e co-
primeiro estudo relativo à organização e laborar no plano de defesa aérea do terri-
rearmamento do Exército, onde se incluía a tório. Mas no estudo por si apresentado, a
Arma de Aeronáutica. Considerando a Es- defesa das colónias não era referenciada,
panha, no continente europeu, “um inimi- apesar das conhecidas ameaças que sobre
go tradicional poderoso” de Portugal, San- elas recaíam, com especial relevo para An-
tos Costa defendia a organização de um gola e Moçambique.
exército de terra “capaz de resistir a todas Efectivamente, logo em princípios de 1935,
as tentativas de violação” por parte do vizi- Oliveira Salazar fazia alusão aos “olhares
nho ibérico. O seu plano assentava na aqui- cobiçosos que a Alemanha de Hitler” ia lan-
sição de material para equipar cinco divi- çando sobre aqueles dois territórios e que

*Licenciado em História pela UCL


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no ano anterior, “Mussolini, sem o explici- soberania, visando os seguintes objectivos: dadas, em 1934, por cinco Potez 25 A2 do
tar, apontou as nossas possessões africa- • Viagem de treino de pilotagem e navega- GIAB, no decurso de uma viagem de treino
nas como objectivos eventuais da expansão ção aérea, e de reconhecimento das coló- e estudo realizada a Espanha e Marrocos,
da Itália fascista”. A integridade do Império nias africanas pelo pessoal da Aeronáutica sob o comando do major Pinheiro Correia,
Colonial Português parecia ameaçada à me- Militar; então comandante daquele Grupo. Ou, ain-
dida que se iam acentuando as tentativas • Desempenho de missões atribuídas pelos da, se nos recordarmos do irrepreensível de-
revisionistas ítalo-germânicas face à parti- respectivos Governadores; sempenho dos 28 aviões Potez 25, versão
lha colonial resultante do Tratado de Ver- • Estudo das colónias a visitar sob o ponto TOE (Théâtre d’Opérations Extérieurs) da
sailles… de vista aeronáutico; Armée de l’Air de França que tomaram par-
A Lisboa chegavam, entretanto, notícias • Reconhecimentos aerofotográficos. te no “Croisière Noire”, entre Novembro de
publicadas em alguma imprensa estrangei- A edição do dia 3 de Outubro de 1935 1933 e Janeiro de 1934, voando até Ban-
ra, dando conta da inclusão de Angola e do jornal “O Século” referia a azáfama que gui, capital da actual República Centro-Afri-
Moçambique nas negociações tripartidas se vivia em Alverca, tanto nas Oficinas Ge- cana, percorrendo em voo a rota inversa.
entre Inglaterra, Alemanha e Itália, como rais de Material Aeronáutico (OGMA), onde Terá, provavelmente, prevalecido junto dos
forma de refrear as ambições de Adolf Hi- se trabalhava “activamente (…) para que os responsáveis da Arma de Aeronáutica a opi-
tler e de Benito Mussolini face à Áustria e à Potez ali construídos” fossem aprontados o nião de Pinheiro Correia, o agora coman-
Abissínia, respectivamente. mais rapidamente possível, como no Grupo dante do GAI, garantindo a sua presença na
O Presidente do Conselho reagiria pron- Independente de Aviação e Bombardea- viagem e granjeando mais uma boa dose de
tamente aos, no seu entender, “boatos a pro- mento (GIAB), sobre cuja pista internacio- prestígio para o Grupo da Amadora.
pósito das negociações do Pacto dos Qua- nal se treinavam “os prováveis componen- Devido ao insuficiente raio de acção dos
tro e mais recentemente das negociações tes da equipa, pilotando aviões daquela aparelhos para cumprir as longas etapas
de Ribbentrop em Londres”, em que supos- marca”. previstas, foi necessário proceder a algumas
tamente a Itália e a Alemanha terão levan- De facto, o Cruzeiro foi inicialmente pro- modificações de modo a aumentar a sua
tado a questão sobre aqueles territórios, jectado para ser efectuado em aviões ses- autonomia, que se cifrava de origem em cer-
adiantando ainda que Mussolini declarara quiplanos Potez 25 A2, de origem francesa, ca de duas horas e meia, para seis horas
“terminantemente não ter qualquer preten- acabados de sair da linha de montagem de voo. Os aturados trabalhos decorreram
são colonial contra os interesses e direitos das OGMA e que ainda não tinham sido no GAI, sob a direcção do tenente Manuel
portugueses” e que “o Governo inglês fazia destinados a qualquer unidade. Gouveia, e abrangeram, entre outros, a
saber nada se ter tratado que dissesse res- No entanto, a 28 de Outubro, o Ministro colocação de depósitos suplementares de
peito a colónias portuguesas.” da Guerra determinava que a viagem se combustível, o incremento da capacidade
Apesar de tudo, Salazar reconhecia que efectuasse em oito aviões Vickers Valparaí- do depósito de óleo, a montagem, em três
os problemas de determinados países se so III do Grupo de Aviação Independente dos biplanos, de um pára-brisas concebido
“resolveriam facilmente se as colónias por- (GAI), o antigo Grupo de Esquadrilhas de no Grupo da Amadora, distinto do modelo
tuguesas ou belgas estivessem sobre a me- Aviação “República” (GEAR), sedeado na de origem, que conferia uma maior protec-
sa para serem divididas. Por nossa parte a Amadora. Conjuntamente com aqueles bi- ção aos tripulantes face aos gases expeli-
única dificuldade está precisamente em não planos seguiria também o monoplano de dos pelo motor e, ainda, a colocação de hé-
querermos. E é por esta razão que o perigo estrutura metálica Junkers W34-L “502”, lices metálicas em cinco aparelhos, tantos
não existe”, concluiu. da Inspecção da Arma de Aeronáutica, que quanto as hélices existentes, pois não havia
O momento que então se vivia em Por- transportaria o respectivo Inspector e, si- verba para adquirir as restantes.
tugal face à questão colonial, propício a multaneamente, Comandante do Cruzeiro. Além dos instrumentos de bordo, cada
manifestações de exaltação patriótica, seria De acordo com a versão oficial, os Vi- avião estava equipado com um jogo de tela
aproveitado pela Arma de Aeronáutica, com ckers, de origem inglesa, apresentavam em para sinalização; um saco para ser trans-
o aval do Ministro da Guerra, coronel Pas- relação aos Potez vantagens consideradas portado no dorso em caso de avaria, con-
sos e Sousa. Na segunda semana de Fe- determinantes numa viagem ao continente tendo uma ração de reserva; dois depósitos
vereiro de 1935, o Inspector da Arma de africano: fuselagem em tubo de aço, que de água, em folha de Flandres, com capaci-
Aeronáutica, coronel Cifka Duarte, fazia a não se deformava tão facilmente sob a ac- dade para cinco litros e duas borrachas de
entrega ao Director da Arma de Aeronáuti- ção das acentuadas amplitudes térmicas, couro com igual capacidade; como arma-
ca, brigadeiro Silveira e Castro, do projecto típicas de certas regiões de África; trem de mento de defesa, uma espingarda e duas
de uma viagem aérea às colónias da Guiné, aterragem robusto, que lhe permitia reali- pistolas com as respectivas munições; bom-
Angola e Moçambique, a realizar por uma zar aterragens em terrenos acidentados; fi- bas, velas e várias ferramentas para repara-
esquadrilha constituída por três patrulhas de nalmente, o facto de a maioria dos pilotos ções ligeiras; duas estacas e cordas para fi-
três aviões cada. que iria tomar parte na viagem pertencer xar o avião no terreno; dois calços; dois funis.
ao GAI, estando, por isso, mais familiariza- De notar a ausência, no rol de equipa-
OS PREPARATIVOS NA AMADORA dos com os aviões Vickers. mento que cada aparelho transportaria, de
O designado Cruzeiro Aéreo às Colónias Contudo, a decisão tomada não deixou pára-quedas, uma vez que as cabines dos
(CAC) constituía-se como uma missão de de ser discutível atendendo às boas provas Vickers eram muito acanhadas, não ofere-

34 | MAIS ALTO | Mai/Jun 08


cendo possibilidade de lançamento em pá- • 2ª Patrulha – Vickers nº 206 “Chaimite” Joaquim Almeida Baltazar; Mecânico, 1º
ra-quedas. – Piloto, Cap. Fernando Carvalho Tártaro; Sarg. Pedro Gomes.
Após o convite dirigido, em finais de Agos- Observador e Comandante da Patrulha,
to de 1935, aos pilotos das várias unidades Maj. José Pedro Pinheiro Correia. PROVA DE RESISTÊNCIA
aéreas, procedeu-se à sua selecção, ten- Vickers nº 210 “Albatroz” – Piloto, Ten. Hum- Em vésperas da partida da esquadrilha,
do as tripulações ficado agrupadas desta berto da Cruz; Mecânico, 2º Sarg. António o brigadeiro Silveira e Castro, interpelado
forma: Ramos. pelo jornal “O Século”, esperava que a via-
• 1ª Patrulha – Junkers W34-L nº 502 “Mon- Vickers nº 202 “Águia” – Piloto, Cap. Ma- gem gerasse o reconhecimento da “utilida-
de aeronáutica” nos territórios ultramarinos
para que a breve trecho se pudesse contar
com a sua presença permanente.
Para o ministro das Colónias, José Bos-
sa, citado pela mesma fonte, o CAC cons-
tituía “mais uma afirmação da soberania
de Portugal” e a certeza inequívoca de que
a metrópole velava pela segurança dos ter-
ritórios de além-mar.
Finalmente, e após dez meses de inten-
sos preparativos, os aviões descolaram da
pista da Amadora às 9h30 da manhã in-
vernosa do dia 14 de Dezembro de 1935,
tendo como destino Casablanca, no Mar-
rocos francês, onde a esquadrilha aterrou
pelas 13h35, numa etapa marcada, quase
até final, pelas más condições meteorológi-
Os aviadores lusos em Cabo Juby, antigo território espanhol situado na costa sul de Marrocos cas em rota.
Em Casablanca, aguardava as patrulhas
um “explendido campo”, com “hangares
cheios de aviões, pessoal numeroso, pron-
to à primeira voz, enfim uma organização
modelar”. Era o “encanto da civilização fran-
ceza” que fez os portugueses duvidar que se
encontravam em África…
A passagem do cruzeiro por Cabo Juby,
território sob administração espanhola, dei-
xaria também uma impressão muito posi-
tiva aos aviadores lusos, apesar da “mo-
notonia enervante” em que supostamente
decorria a “vida neurastenizante dos pou-
cos militares europeus” ali estacionados. A
guarnição integrava “um major aviador co-
mandante da esquadrilha, seis pilotos e uns
catorze mecânicos”, além de uma dezena
Em Zinder, antes da descolagem para Fort-Lamy, etapa durante a qual a patrulha nº 2 se perderia das de aviões Breguet. “Enfim, Aviação, apesar
restantes. Os Vickers “202” e “210” aterrariam em Ardebé, enquanto o “Chaimite”, onde seguia o
comandante da patrulha, aterrou em Bokoro, distando 250 km de Fort-Lamy do deserto circundante”…
Nos territórios que foram sendo escala-
teiro Torres” – Comandante do Cruzeiro, Cor. nuel Moreira Cardoso; Mecânico, 2º Sarg. dos, a presença constante do avião, “sem-
Salvador Cifka Duarte; Piloto e Comandante Artur José Simões. pre vigilante e imprescindível neste tempo”,
da Patrulha, TCor Teófilo Ribeiro da Fonseca; • 3ª Patrulha – Vickers nº 209 “Mongua” – conferia, no entender de Cifka Duarte, uma
Mecânico, 2º Sarg. Abílio dos Santos. Piloto, Cap. Manuel Amado da Cunha; Ob- “nota de civilização moderna…”
Vickers nº 203 “Íbis” – Piloto, Cap. José servador e Comandante da Patrulha, Maj. Muito diferente era a realidade portugue-
Bentes Pimenta; Mecânico, 1º Sarg. Aníbal Álvaro Pinho da Cunha. sa, não apenas nos aspectos organiza-
Martins da Silva. Vickers nº 201 “Falcão” – Piloto, Cap. An- cionais mas, sobretudo, no respeitante aos
Vickers nº 207 “Milhafre” – Piloto, Ten. Ma- tónio de Oliveira Viegas; Mecânico, 2º meios aéreos à disposição e às infra-estru-
nuel Gouveia; Mecânico, 2º Sarg. António Sarg. Dinis da Silva. turas aeronáuticas, de que o próprio CAC
Pedro Monteiro. Vickers nº 208 “Peneireiro” – Piloto, Cap. acabou por constituir um paradigma. Pla-

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neado com uma verba limitada e aviões De acordo com aquele oficial, à altura como capazes para regressarem à metró-
desadequados ao tipo de viagem, acabaria comandante do GAI, o preço unitário por pole por via aérea. Antes, o tenente-coro-
por se revelar uma verdadeira prova de re- revisão dos referidos motores orçava em nel Ribeiro da Fonseca, um dos mais debi-
sistência, para homens e máquinas. cerca de 12.000$00, não sendo por isso litados, teve de abandonar o cruzeiro em
Os Vickers Valparaiso III, construídos sob “um motor de manutenção económica pa- Vila Teixeira de Sousa, em território ango-
licença nas OGMA, apesar da sua concep- ra uma aeronáutica pobre como a nossa”. lano.
ção antiga, do início dos anos 20, revelariam Contudo, já no decorrer da viagem de Não é de espantar, pois, que o Inspector
algumas virtudes: bom trem de aterragem regresso, e com cerca de 120 horas voa- da Arma tivesse reclamado, para futuras
que suportou o esforço a que ia sendo su- das, houve necessidade de se proceder, no viagens a África, aviões metálicos ou de
jeito em pistas, geralmente, francamente más;
a estrutura do aparelho, tal como era espe-
rado, ia resistindo satisfatoriamente às in-
clemências atmosféricas, nomeadamente às
grandes amplitudes térmicas típicas do cli-
ma africano.
Quanto aos motores radiais Gnôme et
Rhône Júpiter VII de nove cilindros que de-
bitavam de potência 420 hp, fabricados sob
licença nas OGMA, se por um lado apenas
viriam confirmar os defeitos já sobejamen-
te conhecidos dos pilotos portugueses (exa-
geradas vibrações, folgas acentuadas nos
cilindros por falta de lubrificação automáti-
ca, quebra frequente das molas das válvu-
las, acção nociva dos gases de escape so-
bre os pilotos, etc.), por outro foram vítimas
da dureza de uma prova para a qual não Em Leopoldville, no antigo Congo Belga, antes da descolagem rumo a Luanda

haviam sido concebidos. Huambo, à substituição dos motores dos


Sem blindagens, muitas das peças dos Vickers nºs 202 e 208, enquanto que no
motores ficavam a descoberto, especial- terceiro avião, nº 201, foram substituídos
mente nas cabeças dos cilindros, não cons- todos os cilindros. Na perspectiva do co-
tituindo protecção suficiente os revestimen- mandante da patrulha nº 2, o Júpiter VII
tos que lhes eram aplicados. Problema que estava longe de possuir a resistência neces-
se acentuou quando os aviões atravessaram sária para realizar viagens como aquela
a África Ocidental francesa, pois a areia que a Aeronáutica Militar Portuguesa aca-
fina em suspensão na atmosfera penetrava bava de executar.
nos motores produzindo um efeito de es- A cabine descoberta do Vickers, além de
O pára-brisas original do Vickers
meril. desconfortável pela sua área exígua, deixa-
Quando os aviões aterraram em Lou- va os tripulantes expostos às emissões de estrutura metálica com revestimento de te-
renço Marques, após 92 horas de voo, os dióxido de carbono provenientes da com- la, cabine fechada, bom campo de visão
respectivos motores necessitavam de uma bustão do motor, uma vez que não pos- para o piloto e navegador, dois ou três mo-
completa revisão, incluindo a descarboni- suía colector de escape. O facto deu ori- tores, velocidade de cruzeiro mínima de
zação dos cilindros e a rodagem das válvu- gem a graves intoxicações nos aviadores. 220 km/h a 2000 metros de altitude, posto
las, para estarem em condições de empre- O efeito nefasto da sua inalação, durante de T.S.F. a bordo e instrumentos de bordo e
ender a viagem de regresso. O Júpiter VII horas seguidas, fez-se sentir sobretudo no de navegação da melhor qualidade. Em
era um motor que, “a priori”, estaria ga- pessoal que seguia nos aviões que não suma, aquilo que Cifka Duarte apelidava
rantido até às 150 horas de trabalho com possuíam o pára-brisas “tipo GEAR”, mon- de “material como deve ser”.
uma revisão competente, o que para a tados apenas nos “208”, “209” e “210”. Mas, curiosamente, seria precisamente o
época já era considerado curto, “mas de Em regiões de muita humidade como as avião mais moderno da esquadrilha a ficar
trabalho em Portugal”, realçava Pinheiro que o cruzeiro atravessou, o gás tornava-se pelo caminho, interrompendo a relativa pa-
Correia, uma vez que devido à escassa ver- mais denso e era absorvido durante mais catez em que se vinha desenrolando a via-
ba destinada à gasolina, inscrita no orça- tempo. À chegada a Lourenço Marques, gem, apenas quebrada pelas efusivas re-
mento do Ministério da Guerra para as pilotos e mecânicos apresentavam quase cepções e pelos lautos banquetes em honra
unidades aéreas, cada motor acabava por todos os mesmos sintomas: dores de cabe- dos aviadores… Aconteceu no dia 23 de De-
fazer, anualmente, somente cerca de 80 ça, tonturas, enjoo e febre. Em resultado zembro, durante a etapa Bolama – Kayes,
horas de voo… disso, apenas oito elementos foram dados quando o Junkers “Monteiro Torres”, à ver-

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tical de Tambacunda, sofreu uma falha de À MERCÊ DO PRIMEIRO “GOLPE DE MÃO”… indígenas que ainda se encontravam suble-
motor originada por uma rotura no tubo do Nas colónias visitadas, a aviação não vados ou que se viessem a sublevar;
combustível, forçando uma aterragem de passava de uma ideia ou de uma vontade. • A necessidade de encarar a sério a ques-
emergência em plena floresta tropical... O Quase tudo estava por fazer, sobretudo num tão da aviação nas colónias, onde se es-
aparelho, a “menina dos olhos” de Ribeiro momento em que, no juízo de Cifka Duar- tava positivamente à mercê do primeiro
da Fonseca, ficou totalmente destruído de- te, “as Colónias dos pequenos países pare- “golpe de mão inimiga”, numa altura em
vido aos embates nas árvores e no solo, cem ameaçadas por várias ambições e que vários perigos se avolumavam no hori-
mas os seus três ocupantes escaparam ile- cobiças”, considerando lícito “que o nosso zonte;
sos do acidente, registando-se apenas al- Governo dote com uma esquadrilha, pelo • Eleger como prioridade da aviação na-
cional a defesa das colónias, na medida
em que seriam elas a justificar ou impor
mesmo a aquisição de um certo número de
esquadrilhas, não se justificando ter aviões
unicamente para permanecerem no territó-
rio da Metrópole a fazer voltas de pista ou
a aguardar que o inimigo atacasse;
• Planear a defesa das colónias ainda em
tempo de paz, para que quando se inicias-
sem as hostilidades a aviação colonial es-
tivesse equipada com aviões modernos,
material de recurso, bases e campos de
recurso convenientemente distribuídos e ape-
trechados;
• Prover para cada colónia, bem como pa-
ra os Açores, um dispositivo de defesa aé-
rea que impedisse “tanto quanto possível
Aviões Vickers estacionados no Aeródromo Emílio de Carvalho, em Luanda. Apesar das pressões nesse os insultos imediatos do inimigo”.
sentido, ainda não seria nessa ocasião que a Aviação Militar Portuguesa se restabeleceria em Angola
O CAC constituiu, isso sim, uma excelen-
te oportunidade para avaliar a proficiência
de pilotos e mecânicos, sobretudo dos pri-
meiros que na metrópole, se limitavam na
maioria das vezes a efectuar pequenos cir-
cuitos no perímetro das unidades…
Como treino de pilotagem e navegação,
a missão foi, segundo Cifka Duarte, “inte-
gralmente cumprida e deve trazer para o
pessoal uma grande dose de conhecimen-
tos. (…) Além disso estas viagens têm a
grande vantagem do pessoal da Aeronáu-
tica tomar o conhecimento directo dos nos-
sos domínios em África”, acrescentando
que viagens similares, nem que fossem com
uma patrulha de três aviões apenas, deve-
Em Tete, Moçambique, uma das recepções mais calorosas aos aviadores
riam realizar-se todos os anos, pelo menos
gumas escoriações e traumatismos ligeiros. menos, cada uma das nossas Colónias da até à Guiné, “enquanto não existissem ba-
A viagem prosseguiria no dia seguinte, Guiné, Angola e Moçambique”. ses de Aviação em Angola e Moçambique
com o coronel Cifka Duarte a viajar no Vi- Das observações feitas no terreno pelo e material moderno. (…) Estas viagens
ckers “208” e o tenente-coronel Ribeiro da comandante do CAC, sintetizámos as suas mesmo só até à Guiné, teriam muito mais
Fonseca no “207”. Permaneceram em Tam- principais conclusões: vantagens do que voar aqui em cima das
bacunda os mecânicos do Junkers e dos • O dispositivo de defesa das colónias não pistas”.
dois Vickers citados, com a incumbência de contava com nenhum meio aéreo, devendo Devido à falta de campos de reabaste-
aproveitarem as poucas peças ainda utili- por isso dotar-se cada uma delas com uma cimento ao longo da costa, entre Dakar e
záveis do aparelho e encaixotá-las para esquadrilha, não só para manter a segu- Luanda, as patrulhas viram-se na contin-
seguirem para Lisboa, obrigando daí para rança em tempo de paz, e na previsão de gência de atravessar as densas florestas
a frente os restantes elementos da manu- futuras guerras, mas também para manter tropicais, o que constituiu uma novidade
tenção a trabalho suplementar. em completa obediência alguns núcleos de nestas viagens ao continente africano.

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Relativamente a outro dos objectivos do vido ao curto tempo de permanência nas es- o destino da patrulha, uma vez que havia a
cruzeiro – o desempenho de missões a pe- calas. As impressões colhidas resultaram, esperança de que os Vickers viessem a per-
dido dos Governadores – salienta-se o su- principalmente, das observações feitas no ar. manecer em Angola, estabelecendo-se
cedido na Guiné. No próprio dia da chega- Sobre os reconhecimentos aerofotográfi- nesse território ultramarino uma base da
da dos aviadores a Bolama, os indígenas cos, pouco foi feito em virtude de grande aviação colonial, como era pretensão da
da ilha de Canhambaque revoltaram-se uma parte do material destinado à fotografia e cúpula da Arma de Aeronáutica. Depois de
vez mais (o que já vinha sucedendo há dez filmagem, ter ficado em Tambacunda, pois uma troca de telegramas oficiais, o minis-
anos) por causa do “imposto de palhota”, o mecânico do Junkers, depois do acidente tro da Guerra ordenou o regresso da pa-
assaltando dois postos militares de que re- ali ocorrido, esqueceu-se de o colocar no trulha a Lisboa. Aparentemente, esta deci-
são ficou a dever-se à circunstância de em
Angola não existir verba destinada à aero-
náutica, o mesmo sucedendo, aliás, em re-
lação a Moçambique…
Apesar das expectativas e do interesse sus-
citados pela viagem, como prova o entu-
siasmo geral com que na tarde do dia 8 de
Abril a patrulha do major Pinho da Cunha
foi recebida na Amadora, a Aviação da “Cruz
de Cristo” continuaria ausente de África por
mais de um quarto de século, aproximada-
mente, pois no imediato as atenções do Go-
verno estavam centradas na ameaça que
poderia vir de Espanha, cuja situação políti-
ca se vinha agravando desde Fevereiro de
1936, depois da vitória da Frente Popular
nas eleições legislativas.
No extenso relatório da viagem, Cifka
Duarte defendia a ideia de que Portugal te-
Finalmente em Lourenço Marques, após 91h17m de voo, percorrendo a distância de 15.695 km. O ria de possuir um “potencial ofensivo” que
relatório do médico que observou os aviadores na capital moçambicana, referia que a maioria regista-
va “dores de cabeça” e “estado de enjôo” pouco comum “em aviadores experimentados” devido à expo- não fosse inferior ao da Espanha, que em-
sição continua ao dióxido de carbono libertado pela combustão dos motores bora não estivesse equipada com material
sultou a morte de quatro soldados das avião que passou a transportar o coman- moderno, tinha “uma forte aeronáutica com-
guarnições. dante do CAC. Valeu, ainda assim, o facto parada com a nossa e bem assim uma be-
Por solicitação do Governador-Geral da de terem sido instaladas máquinas fotográ- la rede de campos. Devemos ter um autên-
província, o Junkers “502” descolou para ficas em quatro dos Vickers. tico exército do ar que possa ir à procura
uma missão de tiro naquela ilha a fim de do inimigo e tentar batê-lo (…). O que te-
“repor a soberania”. O avião, pilotado pe- INTENÇÕES GORADAS mos serve, quando muito, para fazer uns
lo tenente-coronel Ribeiro da Fonseca, le- Formadas as tripulações possíveis para pequenos raids nas proximidades da nossa
vava como observadores o capitão Moreira a segunda parte da viagem, realizando o fronteira”, salientando, no entanto, ser ne-
Cardoso e o imediato da canhoneira “Ibo”, percurso inverso – o conflito entre a Itália e cessário não deixar ao abandono o “vasto
e como mecânico o 2º Sarg. Abílio dos a Abissínia, iniciado em 3 de Outubro de território colonial”.
Santos. A bordo seguia também uma me- 1935, frustrou os planos iniciais de um re- A finalizar, atentemos na opinião expres-
tralhadora pertencente à canhoneira, da qual gresso através do Vale do Nilo – no dia 13 sa por Ribeiro da Fonseca, em 1928, e que
foram disparados tiros sobre os rebeldes. de Fevereiro de 1936 descolaram de Lou- decorrida quase uma década ainda se man-
Pinheiro Correia, agastado com a situa- renço Marques os Vickers nºs 201 “Falcão” tinha actualizada: “Ao passo que a Ingla-
ção, perguntava se não “seria lógico que (Maj. Pinho da Cunha e 2º Sarg. Artur Si- terra, a França e a Itália teem aviação em
uma patrulha de aviões se deslocasse da mões), 202 “Águia” (Cap. Moreira Cardo- todas as suas colónias, em Portugal fazem-
Metrópole até à Guiné e ali fosse com o fim so e 2º Sarg. Dinis da Silva) e 208 “Penei- -se experiências a medo e logo em seguida
exclusivo de submeter de vez aqueles cen- reiro” (Cap. Joaquim Baltazar e 2º Sarg. extingue-se o pouco que se fez, tornando
tos de rebeldes”, causadores da “afronta António Ramos). Os restantes tripulantes e improdutivos os gastos efectuados. Como
ao nosso brio nacional e motivo de censu- aviões regressariam à metrópole por via explicar, senão pelo desconhecimento dos
ra das colónias vizinhas da nossa Província marítima. nossos homens públicos sobre o assunto,
da Guiné?” Após a chegada ao Huambo, e enquan- que não haja aviação em Angola e em Mo-
Quanto aos restantes objectivos do CAC, to os aviões ali se encontravam para uma çambique?”
o estudo das colónias sob o ponto de vista revisão geral, Pinho da Cunha deslocou-se FONTES
aeronáutico ficou praticamente por fazer de- a Luanda a fim de receber instruções sobre Arquivo Histórico da Força Aérea

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NOVOS FACTOS E VELHOS MITOS NA HISTÓRIA DA AVIAÇÃO MILITAR PORTUGUESA

NOVOS FACTOS
E VELHOS MITOS
T EXTO : Dr. José Manuel Correia NA HISTÓRIA DA AVIAÇÃO MILITAR PORTUGUESA
Col. General Machado de Barros

Curtiss Mohawk

Em Junho de 2003, iniciámos nas páginas da MAIS ALTO uma


série de três artigos intitulados “Factos e Mitos na História da
Aviação Militar Portuguesa”. Nela se abordavam factos que, pa-
recendo “bem estabelecidos” nas obras de referência sobre a
nossa Aviação, se contradiziam frontal e inequivocamente com
a documentação preservada nos Arquivos Militares Nacionais e,
em especial, no próprio Arquivo Histórico da Força Aérea (AHFA).
Gostaríamos de retomar, agora, o fio condutor que lançámos há
quase cinco anos para, beneficiando da análise da extensa docu-
mentação recolhida em arquivos estrangeiros e no Arquivo His-
tórico Militar (AHM), reanalisar alguns aspectos relacionados com
o equipamento da Arma de Aeronáutica na década de 1940.

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OS CURTISS MOHAWK de Serviço das OGMA. Nestas surgem, aviões Mohawk foram atingidos pela água

T
DA AERONÁUTICA MILITAR entre 17 de Outubro e 26 de Dezembro do mar e chegaram a Lisboa gravemen-
em sido repetidamente afirmado (até de 1941, três voos de ensaio do tenente te danificados” e que a extensão das cor-
por nós, nestas páginas, em Setem- Oliveira Seixas no Curtiss de matrícula rosões nas células e nos motores era de
bro de 2002) que a impossibilida- RAF AR636, matrícula que não tinha sido molde a impossibilitar a recuperação dos
de – imposta pelas hostilidades na Eu- mencionada até agora nas obras de aparelhos, ao contrário do que inicialmen-
ropa – de fornecimento dos Spitfire Mk. I, referência. Poderá ser o AR636 o décimo te se pensara. Acrescenta que “a única re-
que Portugal encomendara e pagara em sexto Curtiss entregue a Portugal? cuperação que se apresenta possível é
1939, ditou a entrega à Aeronáutica Mi-
litar de quinze monoplanos Curtiss Mo-
hawk (Curtiss Hawk 75 A4) no Outono
de 1941. A análise recente de um micro-
filme americano disponibilizado pela “Air
Force Historical Research Agency” revela,
contudo, um cenário diferente: num dos
documentos secretos, datado de 29 de
Agosto de 1942, faz-se o resumo de uma
entrevista ao coronel William Shipp, anti-
go Adido Militar em Lisboa, em que este
oficial refere ter a Grã-Bretanha “envia-
Col. Gaspar Leite de Castro

do para Portugal dezasseis aviões Mo-


hawk, cinco dos quais chegaram muito
danificados e os restantes em condições
deploráveis” sem que mecânicos ingle- Curtiss Mohawk em voo de formação
ses acompanhassem os aviões. Continua-
va, dizendo que “os pilotos portugueses
sofreram vários acidentes que causaram
vítimas mortais” e, mais tarde, tinha sido
encontrada uma solução de recurso que
consistiu no envio de um engenheiro “pa-
ra remediar a situação”. Para além disso,
outros equipamentos entregues pela Grã-
-Bretanha tinham chegado em más con-
dições, ao contrário do que sucedia com
os vendidos pelo Eixo “que chegam sem-
pre em perfeito estado e acompanhados
por manuais traduzidos em português”.
Critica, depois, a falta de um Adido Aero-
náutico na Legação americana e a ine-
Col. Gaspar Leite de Castro

ficiência e falta de cooperação do Adido


Aeronáutico Britânico… reservando para
o Adido Militar de Londres na nossa ca-
pital o epíteto de “incompetente”! O pro-
blema dos Mohawk era tão mais grave Curtiss Mohawk
quanto Shipp considerava a Aeronáutica
Militar como uma Arma “na prática, ine- Numa tentativa de esclarecer o núme- a sua substituição por aviões novos”. A
xistente”, até porque os seus pilotos luta- ro de caças efectivamente recebido pela mesma nota esclarecia que os dezasseis
vam com a crónica falta de gasolina “(…) Aeronáutica Militar, consultámos no AHM Curtiss foram oferecidos a Portugal “em
que torna difícil deixar acumular muitas a correspondência trocada entre o Minis- substituição dos quinze Spitfire Mk. I ad-
horas de voo”. Para além disso, as suas tério da Guerra e o Adido Militar em Lon- quiridos pelo Ministério da Guerra e que
forças estavam dispersas pelo continente dres. Desta correspondência faz parte uma não puderam ser fornecidos pela casa
e ilhas “para impedir a sua captura pelos nota confidencial, com data de 4 de Agos- Vickers por determinação do Governo In-
Aliados”… to de 1942, em que o Subsecretário de glês”. Santos Costa refere que, dos onze
Esta referência de Shipp aos dezasseis Estado da Guerra, capitão Fernando San- aviões restantes, “quatro sofreram danos
Curtiss Mohawk, entregues pelo Air Mi- tos Costa, comunica ao Adido, coronel Ar- de maior ou menor vulto devidos a “pan-
nistry, levou-nos a consultar as Ordens tur Mendes de Magalhães, que “cinco dos nes” originadas no mau funcionamento

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dos motores que agora se verificou esta- já existentes em Portugal (depois de re- ções para que seja abordado imediata-
rem sujos no acto da entrega”. O Minis- cuperados os três acidentados e revistos mente com as autoridades inglesas o
tério da Guerra lamentava não ter sido os sete intactos) e uma outra unidade na assunto da substituição dos Mohawk
feita na Grã-Bretanha a revisão geral dos Terceira, Lajes, com os cinco aviões de danificados e expressa a sua surpresa
motores antes da entrega e associava, a substituição e os cinco novos a encomen- pelo facto de a conta apresentada pelo
tal facto, os acidentes ocorridos, com a dar à Grã-Bretanha. A resposta inglesa Air Ministry abranger o pagamento de
perda de um avião – no acidente fatal do frustraria as intenções do Governo Portu- vinte e cinco Curtiss, quando a Portugal
alferes Agostinho Martins, em Monsanto guês: não só é comunicado que é im- tinham chegado apenas dezasseis e no
Foto: AHFA

Grupo de pilotos frente ao Mohawk

– e danos noutros três. Enquanto se ten- possível substituir os cinco aviões danifi- estado lastimável anteriormente descrito!
tava recuperar estes últimos, os outros cados no transporte, como não seria A consulta no AHM do mapa de encar-
sete Mohawk davam entrada nas OGMA feita qualquer outra entrega de cinco apa- gos relativos à “Verba de Rearmamen-
para serem sujeitos a revisão geral de relhos de reforço, pois não existiam Cur- to do Exército” mostra que o Ministério da
motor, depois do técnico americano, en- tiss disponíveis nos inventários da RAF. Guerra inscreveu a “compra de dezasseis
viado a Alverca, ter aconselhado a reali- O Air Ministry pergunta então ao Minis- Mohawk e dois Masters” nas rubricas dos
zação urgente desses trabalhos. tério da Guerra se podia aceitar, em al- anos de 1941 e 1942 e que contemplou
O Subsecretário de Estado da Guerra ternativa, a oferta de seis Spitfire Mk. I e a compra de cinco Mohawk na verba re-
faz saber ao Adido Militar em Londres que, Santos Costa responde que concorda com lativa a 1944. É neste ano que o capitão
acreditando na rápida substituição pelo essa entrega se a ela “se suceder uma Brilhante Paiva instala a Esquadrilha Expe-
Air Ministry dos cinco caças danificados remessa de mais quatro aparelhos do dicionária em S. Miguel com catorze Mo-
no transporte, pedira a entrega de outros mesmo tipo para completar a esquadrilha hawk, nos quais se contam os aviões da-
cinco para assim “poder constituir nos Aço- e suitbstuir os cinco Mohawk danificados nificados no transporte em 1941. Assim,
res duas Esquadrilhas de Caça a nove durante o transporte marítimo”. Se tal parece claro que o pagamento à Grã-
aviões cada e um de reserva”. Visava-se, fosse possível, teríamos nos Açores uma -Bretanha dos cinco aviões danificados
deste modo, a substituição dos Gladiator Esquadrilha equipada com os Curtiss, só terá tido lugar depois de efectivamen-
das Esquadrilhas Expedicionárias que es- em Rabo de Peixe, e outra com Spitfire te recuperados nas OGMA, com peças e
tavam “praticamente fora de serviço, uma Mk. I nas Lajes, ambas a dez aviões. Se os motores fornecidos pelos Aliados. Re-
vez que não fora possível contar com o dez Spitfire não pudessem ser fornecidos, sulta também claro que estes aparelhos
fornecimento pelas autoridades inglesas o Ministério “aceitaria, embora com muito foram realmente pagos pelo Ministério
dos necessários sobressalentes de subs- menor interesse, apenas os seis aviões da Guerra e não fornecidos ao abrigo
tituição”. A Aeronáutica Militar desejava que “destinaria, exclusivamente, à instru- de qualquer acordo de cooperação num
criar em S. Miguel, Rabo de Peixe uma ção”. Santos Costa termina a nota diri- esquema de tipo “lend-lease” como viria
esquadrilha a 9+1 aviões com os Mohawk gida ao Adido em Londres dando instru- a suceder no Outono de 1943.

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SAVOIA-MARCHETTI S.55, O ESPECTACULAR HIDROAVIÃO DOS PIONEIROS DO SÉCULO PASSADO

OS SAVOIA-MARCHETTI S.55
NOS CRUZEIROS DO MEDITERRÂNEO
OCIDENTAL E ORIENTAL,
E UMA MISSÃO DE SOCORRO NO ÁRTICO
T EXTO : Major PIL Adelino Cardoso

O
CRUZEIRO DO MEDITERRÂNEO OCIDENTAL
General de Milícia Italo Balbo foi
nomeado Secretário de Estado
da Aeronáutica do Governo Ita-
liano de Mussolini em 6 de Dezembro de
1926. Tendo assumido como objectivo prin-
cipal mostrar ao Mundo a soberba capa-
cidade da indústria aeronáutica italiana,
apercebeu-se que os empolgantes raids de
aviões isolados estavam a esgotar a carga Orbettello, colocação na água do Savoia-Mar- S.M. 55
chetti S.55
de romantismo e aventura que punha as
multidões em delírio. Tornaram-se, pratica- 25 de Maio de 1928, os 60 hidroaviões le- O “Cruzeiro do Mediterrâneo Ocidental”
mente, triviais, perdendo assim a chama vantaram voo, dirigindo-se para a Lagoa foi um enorme sucesso da indústria aeronáu-
que mobilizava a atenção mundial. de Elmas, na Sardenha. tica italiana. Até então nunca se tinha posto
Bem ao jeito da sua personalidade, Bal- No dia 27, a esquadra aérea prosseguiu no ar uma formação aérea com tão grande
bo considerou que para reavivar a atenção para Pollensa, nas Ilhas Baleares, onde, à número de aeronaves. Também pela primei-
que estava a esmorecer, era necessário al- chegada, tiveram guarda de honra compos- ra vez no Mundo, uma viagem aérea foi do-
go de muito espectacular. Optou, então, pe- ta por aviões espanhóis, que os acompa- cumentada pela Autoridade Aeronáutica Ita-
los inéditos cruzeiros de esquadras aéreas nharam até à amaragem. Neste percurso, liana e acompanhada por jornalistas.
com grande número de aeronaves, a que um dos Savoia-Marchetti S.55 teve proble- Foi uma esplêndida acção de propagan-
chamava de “crociera di massi”. mas com um motor, que conseguiu superar da, muito bem aproveitada politicamente
Para concretizar tão petulante e, sem dú- e amarar normalmente em Pollensa. No dia por Mussolini, que esteve presente à chega-
vida, corajoso projecto, Italo Balbo encarre- 28, as seis dezenas de hidroaviões voaram da a Orbetelo, acompanhado de vistosa co-
gou o General de Brigada Francesco De Pi- até Los Alcazares, no Sul da Península Ibéri- mitiva, na qual se incluía o Ministro e Ge-
nedo – um herói nacional que se notabilizou ca, onde, apesar de algumas peripécias de- neral de Milícia Italo Balbo, que ali mesmo,
nos voos Roma-Melbourne-Toquio-Roma e vido ao vento forte, todos amararam sem se entre foguetório e música, foi nomeado Ge-
“Cruzeiro das Duas Américas” –, do planea- registarem danos. No dia 31 a esquadra ru- neral de Esquadra Aérea, recebendo todos
mento do “Cruzeiro do Mediterrâneo Oci- mou para Norte, ao longo da costa ibérica, os louros da concepção do cruzeiro, que, em
dental”, em que seriam postos a voar em a caminho de Puerto Alfaques, a Sul de Bar- verdade, eram mais devidos ao ilustre avia-
simultâneo 60 hidroaviões, dos quais 50 bi- celona. Apesar das más condições meteoro- dor Francesco De Pinedo. Numa tentativa
planos monomotores Savoia-Marchetti S.59 lógicas, a esquadra prosseguiu no dia 1 de de o acomodar à injustiça e a título de con-
bis, um Cant 22, um Savoia-Marchetti S.62 Junho para Marselha, onde fez uma espec- solação, foi-lhe oferecido um lugar na admi-
e oito Savoia-Marchetti S.55, estes últimos tacular passagem sobre a cidade, escoltada nistração da fábrica Savoia-Marchetti.
destinados ao transporte de individualida- por aviões militares franceses. Amararam na Pese embora as manobras tortuosas e as
des e jornalistas, socorro e oficina. Lagoa de Berres, perto da cidade francesa. intrigas políticas, certo é que o “Cruzeiro do
O cruzeiro teve início na Lagoa de Or- No dia 2 de Junho regressaram a Itália, Mediterrâneo Ocidental” teve um notável im-
betello, a Norte de Roma, onde a enorme à Lagoa de Orbetello, após uma triunfal via- pacto internacional. Muitos países mostra-
esquadra se reuniu. Na madrugada do dia gem de 2.804 km. ram-se interessados em negociar a aqui-

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sição de aeronaves fabricadas em Itália. O êxito alcançado provocou uma agres- ras, assunto que, embora interessante, não
A mais de oitenta anos de distância, não te controvérsia entre Nobile e Amundsen, se enquadra no objectivo deste artigo.
podemos deixar de enaltecer a fiabilidade com ambos a disputarem o mérito e o cré- Os náufragos recuperaram dos destro-
das aeronaves e, principalmente, a coragem dito da chefia da expedição. Como se isto ços alimentos, combustível e material diver-
e o estoicismo dos mentores e participantes não fosse o suficiente, o explorador norte so, parte do qual foi usado na construção
que congeminaram e executaram esta es- -americano Richard Byrd apresentou-se a de um abrigo em lona vermelha, que ficou
pectacular missão de voo envolvendo 60 reclamar que aterrou o seu avião no Polo na história como a “Tenda Rossa”. Recu-
aeronaves que voaram 2.804 km, sem que Norte no dia 6 de Maio de 1928 – portan- peraram também um equipamento de rá-
se verificassem problemas técnicos signifi- to seis dias antes da passagem do “Norge” dio com o qual tentaram desesperadamen-
cativos. –, facto a que a sociedade científica coloca te estabelecer contacto com o Mundo, o que
muitas dúvidas. só conseguiram no dia 3 de Junho, quan-
MISSÃO DE SOCORRO AO DIRIGÍVEL “ITÁLIA” Assim, enquanto a Noruega atribuiu a au- do um operador amador russo captou um
No dia 28 de Maio de 1928, quando a toria do evento a Amundsen, a Itália do re- débil sinal de SOS. Foi, desta forma, pas-
numerosa frota aérea integrada no “Cruzeiro gime fascista de Mussolini aproveitou para sados nove dias, confirmada a existência
do Mediterrâneo Ocidental” se encontrava uma boa propaganda, atribuindo-o a No- de sobreviventes.
na marina de Los Alcazares, o Capitão Um- bile, que é promovido a herói e também a O desaparecimento do “Itália” provocou
um conjunto de operações de salvamento
como nunca se tinha verificado, envolven-
do sete países em acções de busca por ter-
ra, mar e ar.
É nesta convergência de meios de busca
e salvamento, que, no dia 18 de Junho de
1928, depois de cruzar os Alpes e voar
cerca de 6.000 km através de quase toda a
Europa, o S.55 italiano amarou na Baía de
Rei, onde se instalara a base dos meios de
socorro. Este Savoia Marchetti S.55 – que
Dirigível “Itália” “Tenda Rossa” ostentava a matrícula I-SAAT – encontrava-
-se especialmente preparado pela fábrica
berto Maddalena recebeu ordem para se- General de Engenharia Aeronáutica. Apa- com motores mais potentes e apetrechado
guir imediatamente para a fábrica Savoia- rentemente, a questiúncula era assim sana- com o mais moderno equipamento de ra-
-Marchetti em Sesto Calende (Milão), para da pacificamente a contento de todas as diocomunicações, levando a bordo diverso
preparar uma missão de socorro ao dirigí- partes. Mas assim não foi. material de sobrevivência e alimentos. A tri-
vel “Itália”, comandado por Umberto No- Nobile nunca se acomodou à partilha do pulação era constituída, para além do pilo-
bile, que se tinha despenhado no Árctico, êxito da expedição e, dois anos depois, es- to-comandante Capitão Umberto Madda-
perto do Polo Norte, quando transportava tava novamente na Baía do Rei com um di- lena, pelo co-piloto Tenente Cagna, pelo
uma equipa de exploradores. rigível mais aperfeiçoado, baptizado de “Itá- radiotelegrafista Sargento Marsano e pelo
O Tenente-Coronel Engenheiro Aeronáu- lia”, a chefiar uma expedição financiada mecânico Sargento Rampini.
tico Umberto Nobile, italiano, projectou, pro- por privados italianos. Ao “Itália” competia As buscas até então efectuadas, quer pe-
duziu e pilotou um razoável número de di- transportar os cientistas até ao Polo Norte, los meios aéreos ou outros, estavam, não só
rigíveis, inclusive o “Norge”, que, no dia 12 manter-se em voo estacionário o tempo ne- a ser infrutíferas, como também a provocar
de Maio de 1926, sobrevoou, pela primeira cessário para a realização dos estudos cien- baixas nas equipas de socorro, com feridos
vez na História da Humanidade, o Polo Nor- tíficos e transportá-los em segurança no re- e mortos, entre os quais se conta o famoso
te, levando a bordo uma equipa de explora- gresso à base. explorador acima referido Roald Amundsen,
dores, dos quais se destacam, para além de A expedição terminou em tragédia quan- que desapareceu numa missão de busca,
Nobile, o célebre explorador norueguês do, no dia 25 de Maio de 1928, depois de nunca mais se encontrando o seu avião nem
Roald Amundsen e o aventureiro norte-ame- sobrevoar o Polo Norte, o “Itália” regressa- os cinco membros da tripulação.
ricano Lincoln Ellswhorth. va à base em Baia de Rei, uma forte tem- Maddalena estudou a situação e conge-
Tinham saído no dia anterior de Ny Ale- pestade provocou estragos no dirigível, que, minou o seu plano de busca. Sem perda de
sund (Baía do Rei), Noruega, sobrevoaram descontrolado, despenhou-se violentamen- tempo, iniciou os voos no dia imediato, sem
o Polo Norte e prosseguiram para o Alaska, te no solo gelado. Dos 16 tripulantes só no- qualquer resultado positivo.
onde aterraram em Teller, num voo sem inter- ve sobreviveram, alguns bastante maltrata- No dia 20 de Junho de 1928, seu se-
rupção de 5.300 kms. Foi a primeira vez dos, como foi o caso de Umberto Nobile, o gundo dia de trabalho no Árctico, depois das
que uma aeronave voou do Continente Eu- que esteve na origem da sua evacuação más condições meteorológicas o obrigarem
ropeu para o Continente Norte-americano privilegiada, que desencadeou um proces- a algumas horas a voar perigosamente a
em rota polar. so político com consequências demolido- 15 metros de altura sobre a superfície gela-

Mai/Jun 08 | MAIS ALTO | 43


da, uniforme e sem contrastes, Maddalena aeronáutica italiana, bem como a Aeronáu- ça para construir outros tantos. Quando eclo-
apercebeu-se, miraculosamente, de um re- tica Militar era proficiente, eficaz e discipli- diu a II Guerra Mundial, alguns destes hidro-
flexo luminoso provocado por uma nesga nada. aviões ainda se encontravam operativos.
de Sol num depósito metálico, que o con- Com este objectivo, em 1929, ordenou a Quando a esquadra iniciou o voo de re-
duziu à diminuta tenda, um pontinho verme- execução do “Cruzeiro do Mediterrâneo gresso, teve direito a escolta de honra com
lho na imensidão gelada do Árctico, onde os Oriental”, a realizar por uma esquadra de aviões russos Dornier Wal, que, na frontei-
sobreviventes lhe acenavam freneticamente. 35 hidroaviões Savoia Marchetti S.55, as ra, foi substituída pela escolta de aviões ro-
Considerou que era impossível pousar o hi- máquinas da sua predilecção. menos até à amaragem em Constança.
droavião naquela superfície duríssima e ir- Tratava-se de uma missão de tripla fina- Quando prosseguiram para Istambul tiveram
regular, limitou-se a lançar agasalhos, me- lidade: treinar as tripulações para voos de igual honraria por parte da aviação turca.
dicamentos e alimentos. Ao mesmo tempo, formação a longa distância, publicitar a al- No dia 15 de Junho de 1929, a esquadra
assinalou a localização do acampamento e ta qualidade da indústria aeronáutica ita- italiana descolou de Istambul para Atenas,
divulgou a confirmação da existência de so- liana e captar o reconhecimento internacio- no dia 17 realizaram a viagem até Torento
breviventes. nal para as virtudes do regime fascista. e, a 19 de Junho, a grande esquadra aérea
Como as condições meteorológicas pio- O General Balbo – que como Subsecre- fez uma entrada espectacular em Orbetello,
raram, só no dia 22 voltou ao local, para tário de Estado da Aeronáutica assumiu o terminando o “Cruzeiro do Mediterrâneo
cargo de comandante-chefe da esquadra Oriental” em beleza.
de voo –, ordenou ao General Francesco de O mais notável foi que os 35 Savoia-
Pinedo – no momento a desempenhar fun- -Marchetti S.55 completaram o cruzeiro tal
ções de Chefe do Estado-Maior da Aero- como planeado, num trajecto de cerca de
náutica – o planeamento e o comando do 5.000 km, sem que algum tenha ficado
atrevido e arrojado empreendimento. A ri- pelo caminho, avariado ou acidentado. As
validade profissional e diferenças de opi- aeronaves onde seguiam Balbo, De Pinedo
nião política, levaram De Pinedo a escusar- e Pelligrini dispunham de equipamento de
-se da tarefa, ao que Balbo ripostou com a radiocomunicações, o que permitiu manter
força da sua autoridade, ordenando impe- contacto permanente entre si.
rativamente o cumprimento da ordem. Este cruzeiro teve um grande impacto na
SM. 55 Perante tão agressiva imposição, o Gene- comunidade aeronáutica mundial, que man-
ral De Pinedo assumiu a supervisão da mis- tinha alguma reserva em relação ao seu
novamente lançar material de sobrevivên- são e delegou o comando operacional ao êxito. Não só foi um grande triunfo da in-
cia, tarefa que se tornou em rotina diária, Coronel Aldo Pelligrini. Ficou estabelecido dústria aeronáutica italiana, como também
enquanto as equipas de socorro de super- que o cruzeiro teria início na Base Aeronaval um grande sucesso comercial.
fície se dirigiam para a “Tenda Rossa”. de Torento, no Sul de Itália, e que prossegui- Como já se referiu, a Rússia adquiriu 30
Os náufragos foram resgatados no dia 12 ria com escalas em Atenas (Grécia), Istam- hidroaviões Savoia Marchetti S.55 bem co-
de Julho de 1928, pelo potente navio que- bul (Turquia), Varna (Bulgária) e Odessa (Rús- mo a autorização para construção. Os Es-
bra-gelos russo “Krassin”, após 48 dias de sia), regressaria por Constança (Bulgária), tados Unidos, Espanha e Roménia também
sobrevivência num dos lugares mais inóspi- novamente Istambul, Atenas e Torento e ter- encomendaram e operaram um número si-
tos do Mundo. minaria na Lagoa de Orbetello. gnificativo destes excelentes hidroaviões.
Umberto Maddalena regressou a Itália no A Turquia levantou objecções, opondo-se Italo Balbo, como era habitual, chamou
fiel e robusto Savoia-Marchetti S.55 I-SAAT, ao sobrevoo dos estreitos de Dardanelos e a si a glória do evento, recebendo os cumpri-
amarando em Orbetelo no dia 30 de Agos- de Bósforo por tão grande quantidade de mentos do Duce e do Rei Emanuel III. De
to de 1928, provavelmente transportando os aviões militares, numa autêntica invasão do Pinedo considerou estar a ser mais uma vez
náufragos do dirigível “Itália”. Mar Negro. A diplomacia italiana deve ter injustamente desprezado e pediu a demis-
Encerrava-se assim, com enorme sucesso, sido eficiente, convencendo os turcos das in- são, o que foi bem aceite, tendo o Rei co-
a missão que levou o Capitão Maddalena tenções fraternas e pacíficas dos italianos, mentado que De Pinedo fazia bem ir-se
e o seu Savoia Marchrtti S.55 de Milão à dado que todos os hidroaviões da esqua- embora, “uma vez que não entendia as ne-
imensidão do Árctico, onde encontrou – co- dra voaram no Mar Negro. cessidades do regime”.
mo quem acha uma agulha em palheiro – a No dia 5 de Junho de 1929, a esquadra Entretanto, Italo Balbo recebia os benefí-
“Tenda Rossa”. de 35 hidroaviões Savoia Marchetti S.55 cios da sua inegável dedicação ao regime:
descolou de Torento a caminho de Atenas, em Setembro de 1929 ascendeu a Ministro
CRUZEIRO DO MEDITERRÂNEO ORIENTAL seguindo-se as escalas em Istambul, Varna da Aeronáutica.
Italo Balbo, Subsecretário de Estado da e Odessa, o destino mais longínquo, onde À parte os mexericos políticos, os hidro-
Aeronáutica Italiana, confortado com o êxito amararam no dia 8 de Junho. aviões Savoia Marchetti S.55 mostraram –
do “Cruzeiro do Mediterrâneo Ocidental”, Os militares russos ficaram impressionados mais uma vez – que eram dos melhores
prosseguiu com o seu projecto de mostrar com a fiabilidade dos Savoia Marchetti S.55 e aviões da sua época, de robustez comprova-
ao Mundo quão esplêndida era a indústria adquiriram 30 exemplares e também a licen- da nas duras missões em que participaram.

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MODELISMO

TB-30 EPSILON
AS NOVAS CORES

T EXTO E M ODELO : TCor ENGAER Bernardino Santos F OTOS : 1SAR David Chaves
Foto: Ten Goulart

O s conteúdos publicados no preté-


rito número 371 da revista Mais
Alto, sobre a aeronave Aerospatiale
cesas Dujin e Toulouse Décals e pela por-
tuguesa Esquadrão 33.
Pese o facto de já não se encontrar dis-
TB-30 Epsilon, lançaram-nos o de- ponível em comercialização, a escolha
safio de construir um modelo da matéria prima para o nosso modelo
desse avião com as suas no- recaiu naquele que foi fabricado em Por-
vas cores. tugal pela Esquadrão 33, embora os três
Alertamos desde já os modelos citados sejam muito semelhan-
leitores, para o facto de tes em qualidade e grau de veracidade
os modelos existentes na reprodução da aeronave real. Quan-
do Epsilon, à escala do adquirimos este kit, a outra alternati-
1/72, não primarem pe- va disponível era o que foi editado pela
la sua riqueza de por- Dujin. Posteriormente apareceu o da Tou-
menores e facilidade de louse Décals, o qual recomendamos vi-
construção. vamente devido ao seu preço e quali-
Uma vez que não se tra- dade.
ta de uma aeronave muito O modelo da Esquadrão 33, quando
utilizada pelas Forças Aéreas, comparado com os planos à escala 1/72
a sua disponibilidade em mode- publicados na revista “Aviation News” de
los reduzidos também não é muita. À 12-25 de Abril de 1991, demonstra uma
escala 1/72, apenas conhecemos os kits boa exactidão no que toca às suas di-
em resina fabricados pelas marcas fran- mensões e configuração geral.

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Como todos os modelos fabricados em asa, foram representadas após termos li- lho das peças num recipiente que conte-
resina, exige procedimentos adequados mado essas zonas e feito o seu preenchi- nha uma porção do produto, com um pin-
a esse tipo de material e a utilização de mento com resina transparente. cel ou, diluído, com a pistola de pintar.
produtos específicos, tais como colas epo- A “canopy” é fornecida em acetato mol- Depois de o conjunto da fuselagem e
xy e de cianicrilato. De resto, as etapas dado a vácuo. Como optámos por apre- das superfícies alares estarem montados,
da sua construção são semelhantes ao sentar uma configuração da “canopy” procedemos à sua pintura. É conveniente
que é usual na construção de kits em plás- aberta, cortámos essa peça em três partes. aplicar, previamente, uma camada de pri-
tico injectado tradicionais. Habitualmente, utilizamos um produto mário, para detectar eventuais imperfei-
Depois de uma lavagem prévia das pe- “milagroso” para melhorar o brilho do ções a corrigir com betume e permitir uma
ças para retirar os produtos residuais da plástico ou do acetato com que são fa- melhor adesão das diferentes tintas a
sua moldagem, procedeu-se à afinação bricadas as “canopies” dos kits. Esse pro- aplicar posteriormente.
Foto: Juan Carlos Rodriguez

Cockpit do Epsilon

dos diversos componentes, especialmente


à redução das espessuras das superfícies
alares e à melhoria do trem de aterra-
gem. O ideal, até, seria fabricar novos
mastros do trem de aterragem, uma vez
que a sua configuração é algo estranha,
pois os amortecedores não aparecem com-
primidos.
O interior do “cockpit” poderá ser subs-
tancialmente melhorado, sendo as suas
superfícies pintadas de cor cinzenta, num
tom semelhante à norma FS36473. As
cadeiras são de cor preta, com cintos de
Foto: Ten Goulart

segurança de tom castanho.


Na montagem das asas e dos estabi-
lizadores da cauda, há que ter especial
cuidado em manter o ângulo de diedro duto não é mais do que a vulgar cera acrí- Como já foi referido, no início deste ar-
adequado. Para tornar a apresentação lica utilizada na limpeza dos pavimentos, tigo, escolhemos a última versão de pin-
do modelo mais dinâmica, cortámos os a qual poderá ser da marca Pronto, por tura aplicada no Epsilon. Da observação
flaps e montámo-los em posição deflec- exemplo, facilmente adquirível no merca- que fizemos de uma amostra da tinta real
tida. As luzes de posição, na ponta da do. Pode ser aplicado mediante o mergu- utilizada, concluímos que o cinzento-escu-

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ro é semelhante à cor FS26118, que no lato em gel, para prevenir ou minimizar a tradorso, e cinzento metálico FS36222,
caso particular das tintas para modelismo ocorrência de vapores libertados pela no extradorso. O cone do hélice é preto,
fabricadas pela firma Humbrol, correspon- cola, que poderiam deteriorar o seu as- com uma espiral em amarelo FS33538,
de à cor nº 125. pecto. Caso isso ocorra, a aplicação de cor também utilizada na pintura das pon-
Depois da aplicação do cinzento-escu- cera acrílica Pronto na zona afectada cor- tas das pás.
ro, foram delimitadas com fita gomada as rigirá quase completamente o aspecto Sem termos a preocupação de detalhar
zonas a pintar em preto e em “day-glow” esfumado da “canopy”. Como vêem, este muito o kit, até porque não temos a velei-
laranja. Neste caso, pintam-se primeiro as produto tem várias utilizações em mode- dade de sermos catedráticos na matéria,
zonas em branco e procede-se depois à lismo. Já agora, se lerem nas revistas da apresentamos assim aos leitores a cons-
pintura do “day-glow”. Todas as tintas fo- especialidade alguma referência a um trução de um modelo simpático, que re-
ram aplicadas com uma pistola de pintar. produto similar, designado por “Future”, produz bem a aeronave original, e que
Foto: Ten Goulart

Após a fase de pintura, voltamos a uti-


lizar o nosso produto maravilha. Recor-
remos de novo à cera acrílica Pronto pa-
ra aplicar uma camada que irá permitir
uma melhor adesão dos decalques e uni-
formizar o brilho das diversas cores.
Depois de tudo bem seco, utilizámos
decalques de diversas proveniências, no-
meadamente da Esquadrão 33, para re-
produzir o n/c 11416 que foi a primeira
aeronave a receber a nova pintura. Fa-
bricámos também alguns decalques, tais isso mais não é do que a marca comer-
como as zonas de passadeira da asa, cial do produto que em Portugal é vendi-
utilizando uma impressora de jacto de do sob a marca “Pronto”.
tinta. Finalmente, montámos o trem de ater-
Após uma secagem completa, finalizá- ragem, com os mastros e jantes pintados
mos o acabamento do nosso modelo com de branco, e respectivas portas fabrica-
outra camada de Pronto, a fim de selar das em folha de plástico, bem mais finas
os decalques e obter o acabamento final. do que as fornecidas pelo fabricante. As
Como, na realidade, se trata de uma ae- diversas antenas que equipam a aerona-
ronave pintada recentemente, optámos ve foram também feitas em folha de plás-
por não representar desgastes na sua pin- tico e em plástico estirado.
tura. Resta-nos a montagem do hélice o qual poderá acrescentar mais uma peça às co-
A colagem das diferentes partes da “ca- foi também convenientemente afinado. lecções de aeronaves que integram o in-
nopy” foi executada com cola de cianicri- As suas pás são pintadas de preto, no in- ventário da Força Aérea Portuguesa.

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@VIAÇÃO MILITAR ON LINE

HELICÓPTEROS
DE ATAQUE DA ACTUALIDADE
I Parte

O
T EXTO : Fórum 9G’s
conceito de uma aeronave de asa rota-
tiva é bastante antigo, remontando a
primeira referência ao livro chinês "Pao
Phu Tau" datado do séc. IV. O livro descreve um
carro voador de madeira equipado com um me-
canismo original: tiras de couro presas a uma
lâmina rotativa, cujo movimento fazia o carro
sair do solo. De acordo com os estudiosos, é
bem provável que tais planos dissessem respei- AH-1G AH-1W
to a um brinquedo. Contudo, historicamente, es-
ta é a primeira referência concreta ao que hoje
entendemos por helicóptero. Mas é com Leo-
nardo da Vinci, por volta de 1490, que o con-
ceito toma forma. O génio italiano desenharia
©Foto: US Marines Corp

aquele que é considerado como a primeira ten-


tativa de construir um helicóptero de verdade.
Da Vinci imaginou uma máquina construída em
AH-1W AH-1Z
madeira e linho e que consistia numa asa em
espiral com um eixo central movida à base de energia muscular, ofensivo. O AH-1W “SuperCobra”, actual helicóptero de combate
prefigurando assim o princípio básico dos helicópteros actuais. É utilizado pelos US Marines, é a derradeira evolução da sub-famí-
daí que viria a nascer a designação "Helicóptero", do grego "Helix" lia “SeaCobra”, desenvolvido depois do Congresso norte-ame-
(espiral) e "Pteron" (asa). ricano ter recusado as pretensões daquela força para a aquisição
Na altura em que ainda se comemora o centenário do primeiro de uma variante naval do AH-64 “Apache”.
voo de um helicóptero – efectuado em França por Jacques e Louis O AH-1Z Viper (Víbora) é o mais recente descendente do vene-
Bréguet com o seu Giroplano nº 1, praticamente em simultâneo com rável Cobra. Caracterizando-se uma vez mais por uma renovação
o primeiro voo tripulado de um helicóptero levado a cabo pelo notável das suas capacidades, encontra-se equipado com um
também gaulês Paul Cornu – o Fórum 9G's vai desta feita abordar cockpit quase inteiramente digital onde vigora agora o conceito de
a temática relativa aos helicópteros de ataque actualmente ao ser- arquitectura “Hands on Collective and Stick” (HOCAS). Além disso,
viço em todo o mundo. a já vasta panóplia de armamento ao seu dispôr torna a crescer,
destacando-se neste capítulo a capacidade de emprego de vários
 Bell AH-1 Cobra modelos do poderoso míssil ar-superfície AGM-114 “Hellfire”. O
Tendo as necessidades operacionais decorrentes do conflito do AH-1Z é sem dúvida um digno herdeiro da história de sucesso ini-
Vietnam e como pano de fundo, o AH-1 Cobra foi rapidamente ciada com o “Cobra”. Apesar de toda esta evolução, o AH-1Z ain-
desenvolvido a partir do Bell UH-1 "Huey", com o qual partilhava da não foi bem sucedido no mercado de exportação, sendo os Ma-
o motor, transmissão e sistema de rotores, facto que originou a al- rines, até ao momento, o seu único utilizador.
cunha não oficial de "HueyCobra". Inicialmente encarado como http://www.bellhelicopter.com/en/aircraft/•
uma solução temporária até à entrada em serviço do Lockheed http://www.globalsecurity.org/military/•
AH-56A “Cheyenne” (posteriormente cancelado em 1972), o “Co- http://www.army-technology.com/projects/supcobra/•
bra” acabaria por prevalecer graças ao seu poder de fogo, mano- http://www.deagel.com/Combat-Helicopter/•
brabilidade e velocidade. http://www.flug-revue.rotor.com/FRTYPEN/FRAH-1Z.htm •
Alvo de constantes modernizações, a família “Cobra” foi sendo http://en.wikipedia.org/wiki/AH-1Z_Viper •
ampliada, seguindo-se o “SeaCobra”, versão para o Corpo de
Fuzileiros Navais Norte-americanos (USMC), equipada com dois
 Boeing AH-64 Apache
motores de modo a conferir uma maior segurança em operações O Boeing AH-64 Apache é actualmente considerado como o
conduzidas em ambiente marítimo, além de possuir um maior poder melhor helicóptero de ataque ao serviço em todo o Mundo. O pro-

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tótipo inicial YAH-64, concebido pela Hughes Helicopters, voou a em carteira um número considerável de clientes. O Reino Unido
30 de Setembro de 1975 e era a resposta desta firma norte-ame- produziu sob licença uma variante designada por Westland WAH-
ricana ao concurso lançado pelo U.S. Army em 1972 para um 64 e que possui algumas diferenças face ao modelo padrão, ac-
novo helicóptero de ataque que fosse superior ao AH-1 Cobra em tualmente fabricado pela Boeing, como é o caso da instalação de
performance, poder de fogo e alcance, após o cancelamento do motores mais potentes Rolls-Royce RTM322, sistema “anti-icing” pa-
Lockheed AH-56 “Cheyenne”. O aparelho da Hughes acabaria ra as pás dos rotores, capacidade de emprego de foguetes não-
por ser o escolhido em detrimento do YAH-63 da Bell, recebendo -guiados CRV-7 e, principalmente, a possibilidade de dobragem
a designação "Apache" em 1981 de acordo com a tradição de atri- das pás do rotor principal de modo a permitir a sua operação a
buir o nome de tribos índias a helicópteros destinados ao Exército bordo dos porta-aviões da Royal Navy.
norte-americano. Ainda a respeito da principal diferença entre as aeronaves AH-
Armado com um canhão de 30 mm M230 “Chain Gun” instalado -64D e WAH-64D, vale a pena recordar que esteve programado o
©Foto: Boeing Company

©Foto: Boeing Company

Duas versões do AH-64 AH-64D


sob o cockpit, e operando normalmente com uma configuração desenvolvimento de uma variante naval do AH-64 denominada
de mísseis anti-tanque AGM-114 “Hellfire” e foguetes não-guia- “Sea Apache que” deveria suplantar o AH-1 “SeaCobra” e mais
dos Hydra 70 de 2.75 polegadas, o AH-64 Apache é um heli- tarde o “SuperCobra”. Contudo, este aparelho destinado ao Cor-
cóptero bilugar em tandem, com o piloto sentado à rectaguarda e po de Fuzileiros Navais e Marinha dos Estados Unidos para mis-
o co-piloto/artilheiro à sua frente. Tanto o compartimento onde se sões de apoio, escolta, ataque antinavio e até defesa aérea nunca
encontra a tripulação, como os tanques de combustível internos e chegou a ver a luz do dia.
rotor principal estão protegidos por uma blindagem capaz de sus- http://boeing.com/rotorcraft/military/ah64d/index.htm •
ter impactos balísticos até ao calibre máximo de 23 mm. A estreia http://www.army.mil/factfiles/equipment/aircraft/apache.html •
oficial em combate do modelo inicial AH-64A teve lugar em De- http://www.army-technology.com/projects/apache/index.html •
zembro de 1989 aquando da invasão dos Estados Unidos ao Pa- http://www.vectorsite.net/avah64.html •
namá – Operação Causa Justa – para deposição do seu líder, Ma- http://en.wikipedia.org/wiki/AH-64_Apache#AH-64D •
nuel Noriega. No entanto, a sua hora de glória chegaria meses http://en.wikipedia.org/wiki/Westland_WAH-64_Apache •
depois durante a Primeira Guerra do Golfo, cabendo a oito AH- http://www.army.mod.uk/aac/equipment/attack_helicopter.htm •
-64A a responsabilidade de dar início à Operação Tempestade no http://www.aviastar.org/helicopters_eng/mcdonnell_sea_apache.php •
Deserto ao destruirem vários postos de detecção radar iraquianos,
ao longo da fronteira com a Arábia Saudita, às primeiras horas do  Eurocopter Tiger
dia 17 de Janeiro de 1991. Durante este conflito, o Apache ani- O Eurocopter Tiger foi concebido no período final da Guerra
quilou centenas de tanques, blindados e veículos de transporte de Fria com o propósito de fazer frente à ameaça blindada vinda dos
tropas iraquianos, atingindo sem sombra de dúvida o lugar cimei- países do então Pacto de Varsóvia. O consórcio franco-alemão
ro no que diz respeito à categoria de helicópteros de combate. formado pelas firmas MBB alemã e Aérospatiale francesa come-
Submetido a um processo de constante modernização, a versão çou a desenvolver de raíz um sistema de armas integralmente eu-
que se encontra actualmente em produção é o AH-64D Apache ropeu que pudesse ser auto-suficiente, não estando assim depen-
Longbow que se distingue imediatamente pela redoma situada dente da máquina de guerra norte-americana para se lançar em
sobre o rotor principal e que alberga o radar AN/APG-78 Long- acção. Em 1989 eram encomendados os cinco primeiros protóti-
bow da Northrop Grumman. Esta versão melhorada do modelo A pos deste helicóptero, realizando-se o primeiro voo em 1991. Após
inicial aumenta as formidáveis capacidades do Apache e já possui anos de testes e melhoramentos, o fabrico em série do Tiger iniciou-

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-se em Março de 2002, com o voo dum aparelho de produção a anteriormente mencionados, o Rafael Spike ER de fabrico israelita.
ocorrer exactamente um ano depois. O Exército da Austrália é outro cliente deste magnífico helicóp-
O “Tiger”, também denominado Tigre, EC-665 ou PAH2, existe tero, tendo optado por uma variante designada ARH (Armed Re-
em três versões construídas de acordo com os requisitos operacionais connaissance Helicopter – Helicóptero de Reconhecimento Arma-
dos seus actuais utilizadores. O Exército Alemão utiliza a versão UHT do), que é nada mais do que uma versão melhorada do modelo
(Unterstützungshubschrauber Tiger – Helicóptero de Apoio Tiger), um HAP dotada de motores MTR390 mais potentes. É ainda equipado
helicóptero multirole para apoio de fogo, equipado com mísseis an- com um sistema laser de designação de alvos que lhe permite dis-
ti-tanque PARS 3LR (Trigat) e/ou HOT 3, assim como foguetes de 70 parar o míssil antitanque Lockheed Martin AGM-114 “Hellfire II” e
mm Hydra. Pode igualmente ser equipado com quatro mísseis ar- com foguetes não guiados de 70 mm da marca FZ. A versão aus-
ar AIM-92 “Stinger”. Contrariamente aos outros modelos utiliza- traliana conta igualmente com o canhão de 30 mm GIAT 30. A
dos pelos restantes operadores, a versão alemã não é equipada encomenda efectuada por este país ascende às 22 unidades. Os

Tiger ARH
© Eurocopter

Eurocopter Tiger Tiger HAD


com canhão e distingue-se pela adopção do mastro Osíris, para primeiros quatro aparelhos foram produzidos pela Eurocopter, na
aquisição de alvos, montado sobre o rotor principal. No nariz en- Europa, e os restantes serão montados na Australian Aerospace
contra-se montado um FLIR (Forward Looking Infra-Red) com um em Brisbane, Austrália. Para uma informação mais detalhada so-
campo de visão de 40x30 graus. Foram encomendados 80 apa- bre este helicóptero, aconselhamos os seguintes links:
relhos a serem entregues até 2012, estando 10 já ao serviço da- http://www.army-technology.com/projects/tiger/ •
quela nação. http://www.aviastar.org/helicopters_eng/eurocopter_tigre.php •
A Aviação Ligeira do Exército Francês (ALAT) utiliza três versões http://www.aerospaceweb.org/aircraft/helicopter-m/tiger/ •
deste helicóptero. As duas primeiras são similares: a HAP (Helico- França:
ptere d'Appui Protection – Helicóptero de Apoio e Escolta) é equi- http://www.defense.gouv.fr/terre/decouverte/materiels/helicopte-
pada com um canhão de GIAT de 30 mm e foguetes de 66 mm res_et.avions/tigre •
SNEB não guiados, assim como também utilizam mísseis ar-ar MBDA http://www.aviation-francaise.com/MSO-TIGRE.htm •
Mistral. Esta versão será brevemente actualizada ao padrão HAD http://www.deagel.com/news/First-Tiger-HAP-Handed-Over-to-
(Hélicoptère d'Appui Destruction – Helicóptero de Apoio e Destrui- French-Afrmy_n000000482.aspx •
ção) e passará a contar com os mais potentes motores Enhanced Alemanha:
MTR390 (1464shp), além de uma melhor protecção balística e do http://www.militaryaircraft.de/pictures/military/helicopter/Tiger/Ti
recurso ao uso do míssil anti-tanque Trigat. A terceira versão, HAC ger.html •
(Hélicoptère Anti-Char – Helicóptero Anticarro), é virtualmente idên- http://homepage.eircom.net/~steven/german_army.htm •
tica à versão utilizada pelo Exercito Alemão, não dispondo do ca- http://rides.webshots.com/photo/2885290940090154019tfnrVj •
nhão colocado no queixo do aparelho. A França encomendou um Espanha:
total de 80 helicópteros dividos igualmente nas versões HAP/ HAD http://www.ejercito.mde.es/materiales/ha_28.html •
e HAC. http://es.wikipedia.org/wiki/Programa_Tigre •
O Exército Espanhol, na sua unidade de Fuerzas Aeromóviles http://www.airsceneuk.org.uk/hangar/2004/spanish/spanish.htm •
del Ejército de Tierra (FAMET), irá ter ao seu dispor 24 destes apa- Austrália:
relhos na versão HAD que espera receber até ao final de 2008. http://www.defence.gov.au/media/download/2004/dec/151204.cfm •
A escolha feita pela Espanha para o míssil antitanque que irá http://www.adf-serials.com/3a38.shtml •
equipar os seus helicópteros é, contudo, diferente dos utilizadores http://www.ausaero.com.au/Default.aspx?tabid=242 •

50 | MAIS ALTO | Mai/Jun 08


NOTICIÁRIO
8040 horas de voo
É tradição de algumas Esquadras de voo aproveitar situações de
oportunidade para realizar eventos pouco comuns no dia a dia, e
que marcam de forma indelével as pessoas, podendo ser recor-
dados no futuro, como acontecimentos que mereceram realce.
Somar as horas de voo de quatro pilotos numa determinada aero-
nave, num voo de formação a quatro aviões, é um desses acon-
tecimentos.
Sem o objectivo obsessivo de criar ou quebrar recordes, mas com a
finalidade única de guardar em memória viva eventos relevantes,
realizou-se no dia 30 de Janeiro de 2008, (curiosamente 19 anos
depois do primeiro Epsilon ter sido entregue à FAP) uma missão
com quatro aviões, onde a soma, em horas de voo em Epsilon,
dos quatro pilotos instrutores totalizou 8040 horas de voo “on board”, assim repartidas:
Maj PILAV Luís “Shorty” Mateus (2670); TCor PILAV Luís “Trigger” Mendes (2100); Cap PILAV
Natalino “Dundee” Pereira (1920); Ten PIL Nuno “Io” Silva (1350).
Tratou-se de um momento de reconhecido e justo orgulho para os aviadores e indutor
de uma manifestação de respeito e admiração de todos os pilotos-instrutores da Esqua-
dra 101 que o puderam presenciar.
Numa Esquadra onde o culto dos valores que orientam o piloto militar assume uma
importância vital para a sua formação, pretendeu-se o registo de um acontecimento que
também visa a motivação daqueles que, só agora, iniciaram a missão da instrução.
Para a posterioridade fica o testemunho escrito e fotográfico, de uma maneira diferente
da ESQ. 101 prosseguir “Ensinando os princípios da arte.”(Texto e Fotos: ESQ.103)

5º Aniversário do Núcleo de Voluntariado do HFA Força Aérea participa no “Spring Break Festival”
O Núcleo de Voluntaria- A Força Aérea esteve presente no “Spring Break Festival 08”
do do Hospital da Força que decorreu de 24 a 29 de Março, na praia da Tocha.
Aérea comemorou, no Este evento, de carácter desportivo, recreativo formativo e lú-
passado dia 11 de Mar- dico, é especialmente direcciona-
ço, o 5º Aniversário. Nu- do para estudantes, com idades
ma confraternização pro- compreendidas entre os 17 e 23
movida pelo Comando da anos. O conjunto de actividades
Base do Lumiar e Direc- levadas a efeito visa promover o
ção do Hospital da For- contacto intercultural, a prática des-
ça Aérea, esteve presente o Comandante do Pessoal da Força portiva de diversas modalidades
Aérea, Tenente-General Victor Morato. As palavras proferidas, e prestar informação sobre as
quer pelo TGen Morato quer pela Coordenadora do Núcleo, possíveis saídas profissionais que
mostraram bem o apreço pelo trabalho dos voluntários, de- o mercado de trabalho oferece aos
senvolvido ao longo destes cinco anos de actividade. jovens.

Aniversário da Esquadra 601


Realizou-se no passado dia 27 de
Março, na Base Aérea nº 11, em
Beja, a cerimónia comemorativa do
22º aniversário da Esquadra 601 –
“Lobos”.
O evento foi presidido pelo Chefe do Estado-Maior
da Força Aérea, General Luís Araújo, que visitou as
novas instalações onde recentemente foi instalada
aquela Esquadra de voo.
Estiveram igualmente presentes os Comandantes Ope-
racional, do Pessoal, Logístico e Administrativo, bem
como o Director de Pessoal e o Sub-Chefe do EMFA,
além de antigos Comandantes da Esquadra 601.

Mai/Jun 08 | MAIS ALTO | 51


NOTICIÁRIO
Dia da Unidade do Campo de Tiro de Alcochete Primeiras Jornadas de Meteorologia Aeronáutica
De 31 de Março a 2 de Abril, tiveram lugar no Centro de For-
mação Militar e Técnica da Força Aérea, na Ota, as I Jorna-
das de Meteorologia Aeronáutica.
Esta realização inédita na área da meteorologia, visou o
estreitamento das relações existentes entre a Força Aérea
Portuguesa e o Instituto de Meteorologia, bem como a uni-
formização dos critérios e procedimentos utilizados na Me-
teorologia Aeronáutica. As jornadas contaram com a parti-
cipação das especialidades TOMET (Técnico de Operações
de Meteorologia) e OPMET (Operadores de Meteorologia) do
Centro de Informação Meteorológica da Força Aérea, de Uni-
dades Base e ainda de meteorologistas e observadores do
Instituto de Meteorologia.

Presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Gene-


ral Luís Araújo, realizou-se no dia 28 de Março a cerimónia do
Dia da Unidade do Campo de Tiro de Alcochete (CTA). Dia da Unidade do Aeródromo de Manobra nº 1
Do programa do evento constaram, entre outros, a rendição
dos Porta-Estandarte e Porta-Guião, a imposição de conde-
corações, uma alocução pelo Comandante da Unidade e, a
finalizar a cerimónia, o desfile das Forças em Parada e o so-
brevoo do local por aeronaves que efectuam treino de tiro
operacional no CTA.

No dia 2 de Abril, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea,


General Luís Araújo, presidiu em Maceda – Ovar à cerimó-
nia comemorativa do Dia da Unidade do Aeródromo de Ma-
nobra nº 1 (AM1).
Do programa do evento constaram, entre outros, a rendição
dos Porta-Estandarte e Porta-Guião, a homenagem aos mor-
tos e a imposição de condecorações.
A terminar a cerimónia, teve lugar o desfile das Forças em Pa-
Comando Operacional da Força Aérea rada e o sobrevoo de aeronaves.
comemora 51º aniversário
No passado dia 1 de Abril, realizou-se em Monsanto a ceri-
mónia militar do Dia da Unidade do Comando Operacional
da Força Aérea que completou 51 anos de existência, tendo
presidido ao evento o Comandante Operacional da Força Aé-
rea, Tenente-General Alfredo Cruz.

Serviço de Acção Social


organiza palestra sobre o IASFA
O Serviço de Acção Social da Força Aérea realizou no dia
2 de Abril, no Anfiteatro do EMFA, uma palestra subordi-
nada ao tema "Instituto de Acção Social das Forças Arma-
das – Áreas de Intervenção", à qual assistiram militares e civis colocados no Complexo de Alfragide.
Os palestrantes foram: Coronel TPAA José Canto, Chefe da Divisão de Acção Social do IASFA; Coronel TPAA Nélson Rocha, Chefe
da Divisão de Equipamentos do IASFA; Coronel ADMAER Manuel Mendes, Chefe da Divisão das Comparticipações Financeiras.

52 | MAIS ALTO | Mai/Jun 08


CEMFA de Angola visita a Força Aérea
O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea Nacional de Angola,
General Francisco Afonso, visitou a Força Aérea entre os dias 7
e 9 de Abril, tendo sido recebido com honras militares no Esta-
do-Maior da Força Aérea, em Alfragide.
Após esta cerimónia, decorreu uma audiência com o Chefe do

Estado-Maior da Força Aérea, General Luís Araújo, à qual se se-


guiu um brifingue sobre a Força Aérea Portuguesa.
Do programa da visita constaram também deslocações ao Cen-
tro de Psicologia da Força Aérea e ao Centro de Medicina Aero-
náutica, no Lumiar, à Base Aérea nº 11, em Beja, e à Academia
da Força Aérea e ao Pólo do Museu do Ar, em Sintra.
No final da visita, o CEMFA angolano foi recebido pelo Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas, General Valença Pinto.

Revista “Mais Alto” – 46 anos de edição Dia do Combatente


No passado dia 8 de Abril, presidida pelo Vice-Chefe do Es- No passado dia 5 de
tado-Maior da Força Aérea, Tenente-General Castro Leal, teve Abril, no fim-de-sema-
lugar no EMFA, em Alfragide, uma cerimónia alusiva ao 46º na que antecedeu a da-
aniversário da Revista “Mais Alto”, durante a qual se procedeu ta de 9 de Abril, Dia do
à entrega de prémios e lembranças aos autores dos trabalhos Combatente, comemo-
premiados do “Concurso de Fotografia – Mais Alto 2008”. rou-se esta efeméride
A cerimónia prosseguiria no Mosteiro de Santa
com a inauguração de uma Maria da Vitória, na Ba-
exposição com as 21 foto- talha.
grafias melhor classificadas. Presenciaram o even-
Esta mostra esteve paten- to, entre outros, o Secretário de Estado da Defesa Nacional
te ao público no Museu do e dos Assuntos do Mar, o Chefe do Estado-Maior General
Ar, em Alverca, entre os das Forças Armadas, o Presidente da Comissão Parlamentar
dias 21 de Abril e 30 de de Defesa Nacional e os Chefes dos três Ramos das Forças
Maio. Armadas.

Campeonato de Orientação da Força Aérea


Entre os dias 16 e 18 de Abril, o Campo de Tiro de Alcochete
acolheu o “Campeonato de Orientação 2008” da Força Aé-
rea Portuguesa.
Este ano, para além das duas provas individuais – Prova de
Distância Curta e Prova de Distância Longa – os atletas tam-
bém realizaram uma Prova de Estafeta Colectiva.
A equipa do Centro de Formação Militar e Técnica da Força
Aérea obteve o 1º lugar, ficando as equipas do Campo de
Tiro de Alcochete e do Aeródromo de Trânsito nº 1 classifica-
das nos 2º e 3º lugares, respectivamente.

Aniversário do CFMTFA
Foto: Ten Carlos Garcia

No dia 11 de Abril, o Chefe do Estado-Maior da Força Aé-


rea, General Luís Araújo, presidiu na Ota à cerimónia do Dia
da Unidade do Centro de Formação Militar e Técnica da For-
ça Aérea (CFMTFA).
Durante o evento foi imposta a Medalha de Prata de Serviços
ao Comandante do CFMTFA, Coronel PILAV Vítor Francisco.
NOTICIÁRIO
Força Aérea recebe
novas viaturas de combate a incêndios
No dia 18 de Abril, na Base Aérea nº 6, no Montijo, na
presença do Vice-Chefe do Estado-Maior, Tenente-Ge-
neral Castro Leal, assinalou-se a recepção das novas
Viaturas de Combate a Incêndios (VCI) em aeronaves,
com uma pequena apresentação na Esquadra 751
sobre a situação das viaturas administrativas na Força
Aérea e das mais-valias das novas aquisições. Esteve
patente uma exposição das viaturas especiais e equi-
pamentos, seguindo-se uma demonstração com uma
aeronave C-130.
As novas viaturas de combate a incêndios, para além
de serem equipamentos obrigatórios e essenciais para este tipo de função, respondem aos requisitos da NATO e respeitam as
normas internacionais e europeias. A Força Aérea ficará dotada de 15 VCI 6X6 e oito VCI 4X4 AT (aerotransportável), asseguran-
do desta forma o incremento da prontidão e eficácia em situação de incêndio em aeronaves.

Protocolo entre a Força Aérea Protocolo entre a Força Aérea e o DIAP


e a Universidade Autónoma de Lisboa No dia 24 de Abril, no Estado-Maior, em Alfragide, decorreu
No dia 23 de Abril, no Estado-Maior, em Alfragide, teve lugar a assinatura de um protocolo de cooperação entre a Força
a assinatura de um protocolo entre a Força Aérea Portuguesa Aérea, representada pelo Chefe do Estado-Maior, General
e a Universidade Autónoma de Lisboa, representadas no even- Luís Araújo, e o Departamento de Investigação e Acção Penal
to pelos respectivos Chefe do Estado-Maior, General Luís Araú- de Lisboa, representado pela Procuradora-Geral Adjunta do
jo, e Reitor, Professor Doutor Justino Mendes de Almeida. Tribunal da Relação de Lisboa, Doutora Maria José Morgado.

Força Aérea no Festival Aéreo de Portimão Exercício cinotécnico “FAP 2008 Kanicross”
A Força Aérea Portuguesa esteve presente na primeira edição Decorreu no período de 28 a 30 de Abril, no Aeródromo de
do “Portimão Air Festival” que decorreu entre os dias 25 e 27 Manobras nº 1, em Ovar, o exercício cinotécnico “FAP 2008
de Abril. Para além da presença no local de uma viatura de Kanicross”, em que tomaram parte 27 binómios pertencen-
divulgação do Centro de Recrutamento e de uma pequena tes às Unidades da Força Aérea com meios cinotécnicos.
exposição do Museu do Ar, a Força Aérea esteve representada O exercício que se realiza anualmente desde 2004, tem por
com a patrulha acrobática “Rotores de Portugal” com helicóp- finalidade avaliar o grau de preparação das equipas cino-
teros Alouette III, caças F-16 que efectuaram três passagens técnicas envolvidas na Segurança Interna e Defesa Imediata
sobre o rio Arade e um helicóptero EH-101 que realizou uma das Unidades e Órgãos da Força Aérea, assim como susci-
demonstração de salvamento sobre a água. tar e desenvolver nos militares da Polícia Aérea ligados aos
cães uma saudável competição que contribua para melho-
Foto: LPF

rar o treino e o emprego operacional das referidas equipas.


É composto por 21 obstáculos, dispersos ao longo de um per-
curso com cerca de 8 km.
Pela primeira vez, o exercício foi aberto a equipas cinotécni-
cas exteriores à Força Aérea, respectivamente ao Grupo Ci-
notécnico da Polícia de Segurança Pública e à Secção de Cães
Militares da Escola de Tropas Pára-quedistas.
Ministro da Defesa
visita contingente português no Chade
No dia 6 de Maio, o Ministro da Defesa Nacional, Professor Doutor
Nuno Severiano Teixeira, acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior
General das Forças Armadas, General Valença Pinto, e pelo Chefe
do Estado-Maior da Força Aérea, General Luís Araújo, deslocou-se
ao Chade em visita ao contingente português, constituído por uma
aeronave C-130, respectiva tripulação e por uma equipa de apoio
em terra, num total de 30 militares da Força Aérea Portuguesa.
O Ministro da Defesa visitou ainda o aquartelamento do Campo

Dia da Unidade do Aeródromo de Trânsito nº 1


Presidida pelo Chefe do Estado-Maior em exercício de
funções, Tenente-General Carlos de Castro Leal, reali-
zou-se no dia 6 de Maio, no Aeródromo de Trânsito
nº 1 (AT1), na Portela, a cerimónia militar do Dia da Uni-
dade.
A homenagem aos mortos, a imposição de condecora-
ções e a alocução do Comandante do AT1, constituíram
alguns dos momentos mais significativos de um evento
que finalizou com o desfile das Forças em Parada. Europa, em N´Djamena, onde se encontravam estacionados os mi-
litares portugueses. O contingente português, integrado na missão
militar europeia EUFOR TChad/República Centro Africana (EUFOR
TCHAD/RCA), constituiu a força de apoio logístico às operações da
missão das Nações Unidas (MINURCAT) na região, através do trans-
porte de pessoal e equipamento intrateatro.
O contingente nacional regressou a Portugal pelas 4h30 do dia 18
de Maio, tendo o Chefe do Estado-Maior presidido à cerimónia de
recepção, na Base Aérea do Montijo.
Nos dois meses de missão, o contingente efectuou 35 missões de
transporte aéreo táctico, num total de 109 horas de voo, tendo
transportado 1024 pessoas e 378 toneladas de material.

Promoção a Major-General
O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General
Luís Araújo, presidiu no dia 8 de Maio, no Salão Nobre
do EMFA, à cerimónia de promoção a Major-General
do Coronel ENGAED Hélder Duarte de Barros e Brito,
que assumiu as funções de Director de Infra-estruturas.

Destacamento português momentos antes do regresso a Portugal


HUMBERTO DELGADO
– BIOGRAFIA DO GENERAL
SEM MEDO Concerto da Banda da Força Aérea
Autor – Frederico Delgado na Casa da Música
Rosa
Na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, teve lugar no pas-
Colecção História Biográfica
sado dia 4 de Maio um concerto pela Banda de Música da Força
Escrita por Frederico Delgado Aérea, com um programa dedicado aos compositores do século
Rosa, neto de Humberto Del- XX, com destaque para a peça “Charles Chaplin”, criada sobre
gado, a presente biografia des- uma série de temas dos filmes de Charlot, arranjados para banda
venda factos totalmente desconhecidos até hoje, pelo músico belga Marcel Peeters.
relata pormenores intimistas vedados aos historia- O concerto englobou ainda obras “Concert Prelude”, de Philip
dores e faz surpreendentes revelações sobre o as- Sparke, “Sinfonia nº 2”, de John Barnes, “Big Bang”, do Primeiro-
sassinato, lançando uma nova luz sobre o “Caso -Sargento Rui Silva, elemento da Banda da Força Aérea, e “West
Delgado”. Side Story”, de Leonard Bernstein.

Mai/Jun 08 | MAIS ALTO | 55


NOTICIÁRIO
Juramento de Bandeira na Academia da Força Aérea
Presidida pelo Chefe do Estado-Maior, General Luís Araújo, teve
lugar no dia 9 de Maio, na Academia da Força Aérea, em Sin-
tra, a cerimónia de Juramento de Bandeira de 33 alunos do 1º
ano da Academia da Força Aérea (AFA), tendo 58 alunos da
AFA e ESTMA recebido as respectivas espadas.
O evento, que contou com
a presença do Presiden-
te da Câmara Municipal
de Sintra, Dr. Fernando
Seara, iniciou-se com a
integração do Estandarte
Nacional, seguido do Ju-
ramento de Bandeira, beijo à Bandeira Nacional e desfile das Forças em Parada em simul-
tâneo com uma passagem de quatro aeronaves Chipmunk da AFA.

92º Aniversário da Base Aérea de Sintra Força Aérea e o Banco Espírito Santo assinam protocolo
Realizou-se no dia 14 de Maio, em Sintra, a cerimónia No dia 19 de Maio,
militar do Dia da Unidade da Base Aérea nº 1 (BA1), pre- em Monsanto, teve lu-
sidida pelo Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Ge- gar a assinatura de um
neral Luís Araújo. protocolo entre a For-
ça Aérea e o Banco
Espírito Santo (BES).
A Força Aérea esteve
representada pelo Che-
fe do Estado-Maior,
General Luís Araújo,
e o BES pelo Presiden-
te da Comissão Executiva, Dr. Ricardo Salgado.

Exercício NEWFIP03-08
Decorreu, até ao dia 15 de Maio, o Exercício NEWFIP03-08 (NA-
TINADS WARFARE FORCES INTEGRATION PERIOD) que tem como
objectivo a preparação de forças adstritas ao sistema de defesa
Após a alocução pelo comandante da BA1, seguiram-se aérea sob responsabilidade da NATO em ambiente de guerra
a rendição do Porta-Estandarte Nacional e do Porta- electrónica.
-Guião da Unidade e a homenagem aos mortos. Neste exercício, preparado em conjunto pelos CAOC 10 (Mon-
A terminar a cerimónia, teve lugar o desfile das Forças santo) e CAOC 8 (Torrejón – Espanha), estiveram envolvidos meios
em Parada, o sobrevoo do local por aeronaves da Base aéreos da Força Aérea Portuguesa (F-16 das Esquadras 201 e 301,
de Sintra e a exibição da patrulha “Asas de Portugal” que e C-212 da Esquadra 502), da Força Aérea Espanhola (EF-2000,
abriu oficialmente a época de demonstrações. C-101, Mirage F-1 e F-5), da NATO (E-3A e Falcon 20) e vários
meios navais da Marinha Portuguesa.
Equipa dos “Asas de Portugal” posam com o
No terreno, estiveram ainda empenhados diversos sistemas de em-
Gen CEMFA, VCEMFA, Gen COFA pastelamento de guerra electrónica e simuladores de mísseis.
e Comandantes da BA1 e BA11
Foto: L. Calliaro

56 | MAIS ALTO | Mai/Jun 08


Novo Director de Pessoal da Força Aérea
Presidida pelo Chefe do Es-
tado-Maior, General Luís
Araújo, realizou-se no dia
19 de Maio, no Salão No-
bre do EMFA, em Alfragi-
de, a cerimónia de tomada
de posse do novo Director
Foto: LPF

de Pessoal da Força Aérea,


“Festa dos Helicópteros” na Base Aérea de Beja Major-General PILAV Jorge
No dia 17 de Maio, na Base Aérea nº 11, em Fernandes Lessa.
Beja, teve lugar a “Festa dos Helicópteros”.
Do programa salienta-se a homenagem pres-
tada aos militares da antiga Esquadra 402 – “Sal- Força Aérea Portuguesa
timbancos”, bem como a exibição da patrulha acrobática em destaque na imprensa internacional
“Rotores de Portugal”. Recentemente várias revistas estrangeiras especializadas em assun-
tos de defesa e militares incluíram nas suas páginas artigos respei-
tantes à Força Aérea Portuguesa.
Esta série de artigos iniciou-se em Março 2008 com a publicação,
no Brasil, pela revista “Segurança & Defesa”, de um artigo do nos-
so colaborador Miguel Silva Machado, intitulado “Força Aérea Por-
tuguesa: reajuste organizacio-
nal e reequipamento”. Ainda
em Março, mas agora em Es-
panha, na revista “War Heat
Internacional” o mesmo au-
tor publicou “Fuerza Aérea
Portuguesa en 2008, Reequi-
Foto: LPF

pamiento y Reajuste del Dis-


positivo”.
Seguiu-se em Abril, também
Novo Comandante da Zona Aérea dos Açores em Espanha mas agora na
No dia 20 de Maio, o Chefe do Estado-Maior da Força revista “Fuerzas Militares del
Aérea, General Luís Araújo, presidiu na Base das Lajes à Mundo” o artigo “Fuerza Aé-
cerimónia de to- rea Portuguesa, Adaptación a nuevas misiones” de S. Royo. Final-
mada de posse do mente a edição de Maio da conhecida revista inglesa “Air Forces”
novo Comandante inclui um artigo de Rui Ferreira, intitulado “Portuguese Sojourn”.
da Zona Aérea dos Enquanto que os três primeiros artigos com mais ou menos desen-
Açores, Major-Ge- volvimento se centraram no momento actual da Força Aérea, nas
neral PILAV Rui Mora mudanças em curso quer a nível de organização, quer de reequi-
de Oliveira que subs- pamento e das missões de todo o leque que o ramo cumpre em
tituiu no cargo o Portugal e no estrangeiro, o último é dedicado em exclusivo à
Major-General Ví- missão dos F-16 portugueses no Báltico, em Novembro e Dezem-
tor Fragoso. bro de 2007.

OBITUÁRIO

Cap TOCC Manuel do Carmo Peres (22-10-2007) • SAj MMA António Nunes Serras (19-01-2008) • SCh MMA António José Rodrigues
Rita (29-01-2008) • SAj MELEC Guilherme Jorge da Fonseca (29-01-2008) • Cor PILAV Manuel José da Silva Morais Sarmento (02-02-
2008) • 1Sar MMA Horácio Fernandes de Oliveira (12-02-2008) • SAj PA Vítor Manuel de Almeida Esteves (15-02-2008) • Cor PILAV
José Jaime Caldeira Bargão (23-02-2008) • Cap TMMEL Jorge Inocêncio Rodrigues (23-02-2008) • Cap TABST Francisco do Rosário da
Conceição Florindo (12-03-2008) • Cap PIL José Ribeiro Relvas (17-03-2008) • TCor PILAV João Carlos de Oliveira Marinho Falcão
(20-03-2008) • Gen PILAV Carlos Galvão de Melo (20-03-2008) • SCh OPCOM João Guilherme Pinto (24-03-2008) • SAj MMA José Ma-
nuel Vinhas Ribeiro (01-04-2008) • Cap TODCI Fernando José de Carvalho Duarte (02-04-2008) • SAj SS José Caetano Tomé (10-04-
2008) • SAj SAS Gregório Ferreira Soares (11-04-2008) • 1Sar MELEC João dos Santos Aguiam Serra (12-04-2008) • SAj MELEC Militão
Manuel Cabral de Sousa Aragão (19-04-2008) • Cap TMMA António Henriques dos Santos Boto (21-04-2008) • 1Sar AMA Jacinto de
Jesus Tavares (21-04-2008)

Jan/Fev 07 | MAIS ALTO | 57


NOTICIÁRIO
10 DE JUNHO DE 2008 sociação dos Antigos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional,
ENCONTRO NACIONAL DE COMBATENTES uma Conferência subordinada ao tema “Os valores da nação
A Comissão Executiva do e o papel das Forças Armadas nas sociedades desenvolvidas”,
Encontro Nacional de Com- a qual terá lugar no dia 9 de Junho, no auditório 3 da Fun-
batentes 2008, dando con- dação Gulbenkian. Serão conferencistas os Professores Dou-
tinuidade ao espírito que tores Adriano Moreira, Ferreira do Amaral, Joaquim Aguiar,
nos anos anteriores presi- Nogueira Pinto e Carlos Gaspar, o General Espírito Santo, o
diu a esta homenagem, pro- Embaixador Leonardo Matias e o Doutor Vítor Bento.
move, no próximo dia 10
PROGRAMA
de Junho, junto ao Monu-
mento aos Combatentes do DIA 9
Ultramar, em Belém, Lisboa, 09H30 – Sessão de abertura da Conferência;
o seu 15º Encontro Nacional. DIA 10
As cerimónias que ali terão lugar têm por objectivo comemo- 10H30 – Missa no Mosteiro dos Jerónimos; Terno de clarins e
rar o Dia de Portugal, prestar homenagem e não deixar esque- Coral;
cer aqueles que tombaram em defesa dos valores e da pereni- 11H30 – Concentração junto ao Monumento;
dade da Nação Portuguesa. Por esta razão é importante reunir 12H00 – Cerimónia inter-religiosa (católica e muçulmana);
o maior número de Portugueses, não só os que foram comba- 12H10 – Discurso alusivo pelo Prof. Dr. João César das Neves;
tentes no ex-Ultramar e os que mais recentemente serviram em 12H20 – Homenagem aos mortos e deposição de flores;
missão de paz no estrangeiro, mas também todos aqueles que, 12H45 – Hino Nacional tocado pela Banda do Exército e
amantes da nossa História e envolvidos na construção de um cantado por Dany Silva (acompanhado por elementos da
futuro mais próspero para a sociedade portuguesa, queiram Selecção Nacional de Râguebi e por todos os presentes);
participar nesta cerimónias. 12H50 – Passagem de meios aéreos da FAP;
Este ano, pela primeira vez, a Comissão de Organização leva- 13H00 – Salto de Pára-quedistas;
rá também a efeito, em conjunto com a Revista Militar e a As- 13H15 – Almoço-convívio (pode ser adquirido no local).

BUSCA E SALVAMENTO/EVACUAÇÕES SANITÁRIAS


No dia 30 de Março de 2008, descolou da Base Aérea nº 4 do doente, o EH-101 dirigiu-se para as Flores de onde, após
(BA4), nas Lajes, um helicóptero EH-101 “Merlin” da Força Aérea reabastecimento, descolou para o Heliporto do Serviço Regio-
Portuguesa para efectuar a evacuação sanitária de um tripulan- nal de Protecção Civil em Angra do Heroísmo, aterrando pelas
te do pesqueiro “Pachilan”, com pavilhão de Espanha. 21h00.
A recuperação do paciente efectuou-se através do sistema de A assistência médica a bordo da aeronave foi garantida por
guincho do helicóptero, a cerca de 270 km a Nordeste da Ter- uma equipa médica militar do Centro de Saúde da BA4.
ceira, dirigindo-se de seguida a aeronave para a Terceira, onde No dia 7 de Abril, descolou da BA4 um EH-101 “Merlin” para
aterrou no Heliporto do Serviço Regional de Protecção Civil em realizar a evacuação sanitária de um tripulante do petroleiro
Angra do Heroísmo. “Luísa de Arismendi”, com pavilhão da Venezuela, um indiví-
O tripulante da embarcação, um indivíduo de 44 anos de duo de 54 anos de idade e nacionalidade venezuelana.
idade e nacionalidade espanhola, foi assistido a bordo da ae- A recuperação do tripulante ocorreu pelas 12h15, através do
ronave por uma equipa médica do Centro de Saúde da BA4. sistema de guincho do helicóptero, a cerca de 180 km, a Oeste
No dia 1 de Abril, descolou da BA4 um EH-101 “Merlin” para do Faial.
efectuar a evacuação médica de um tripulante do pesqueiro Após a recuperação do doente, a aeronave dirigiu-se para a
“Cuple”, com pavilhão espanhol. Terceira onde aterrou pelas 14h00, na Base das Lajes, tendo de
A recuperação do tripulante ocorreu pelas 15h50, através do seguida sido transportado em ambulância para o Hospital do
sistema de guincho Santo Espírito em Angra do Heroísmo tendo recebido assistên-
da aeronave, a cer- cia em voo pela equipa médica do Cento de Saúde da BA4.
ca de 530 km a no- A Força Aérea efectuou, no dia 14 de Maio, com um helicóptero
roeste das Flores. EH-101, a busca e salvamento de sete tripulantes do pesqueiro
Esta operação foi di- português “Mar de Cristal”, devido a um incêndio a bordo.
ficultada pelas con- Quando foram localizados, os tripulantes encontravam-se já
dições meteorológi- dentro de uma balsa, de onde foram resgatados, tendo o pes-
cas, com ventos de queiro ardido, acabando por se afundar.
70 km/h e ondula- A recuperação ocorreu a cerca de 135 km a Oeste da ilha do
ção de 3,5 metros. Faial, tendo a assistência a bordo da aeronave sido garantida
Após a recuperação por uma equipa médica da BA4.

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