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Módulo 04 – FLAMBAGEM

Prof.Dr. José
José Luiz P. Melges
Departamento de Engenharia Civil
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - UNESP
1.

1. Introdução
Colapso de uma estrutura pode ocorrer:

ÎEsgotamento da capacidade resistente

ÎInutilização da mesma por deformação excessiva

ÎInstabilidade do equilíbrio (flambagem)

2.

1
Flambagem:

Barras esbeltas à compressão Î rompem bem antes que


a tensão de ruptura seja atingida
Por quê ?

Após um determinado carregamento (crítico),


a barra flamba (eixo do elemento deixa de ser retilíneo)
Î rompe por flexão)

(a) Com apoio lateral (b) Sem apoio lateral

pode ser atingida


não chega
a ser atingida
3.

Então, após o carregamento crítico ser alcançado, a


barra necessariamente deixa de ter o seu eixo retilíneo?

Não! Ela pode permanecer em equilíbrio instável !

4.

2
2. Tipos de Equilíbrio

ÎEstável

ÎInstável

ÎIndiferente

(Após ligeira perturbação na posição do corpo, ou ele


volta para a posição inicial, ou se afasta da posição
inicial, ou permanece na nova posição)
5.

Relacionando Carregamento na barra com o


tipo de Equilíbrio:

P < P crít. Î Configuração Estável

P ≥ P crít. Î 2 possibilidades (bifurcação da


condição de equilíbrio)

Configuração final
(após ligeira Configuração inicial
perturbação) (possível mas
instável)
6.

3
3. Tipos de Equilíbrio com Relação à uma barra
Barra rígida – sem peso
Articulada na base, com mola Quando barra sofre um giro,
rotacional elástica de constante mola reage sobre a barra,
K também vinculada neste aplicando-lhe um momento
ponto. igual a:
Mi = K θ

7.

Estudo do equilíbrio

Para o carregamento vertical P


(segundo o eixo da barra),
considerar o sistema em
equilíbrio na posição θ = 0.

8.

4
Impondo-se uma perturbação θ no sistema, surgirão
momentos desestabilizadores (ou “externos”), gerados
pela força P, e momentos estabilizadores (ou “internos”),
gerados pela mola.

M e = P f = P l sen θ

Mi = K θ

9.

Diagramas Mi e Me

Análise do equilíbrio em θ = 0
Comparar Me com Mi
por meio dos coef. angulares das retas
tangentes aos diagramas do Me e do Mi na
origem (comparar as derivadas das funções).
(Derivada – taxa de crescimento de uma grandeza
em relação à outra) 10.

5
⎛d ⎞ ⎛d ⎞
m des = ⎜ (M des )⎟ m i = ⎜ (M i )⎟
⎝ dθ ⎠θ= 0 ⎝ dθ ⎠θ = 0

m des = d (P l sen θ) = P l d sen θ m i == d (K θ) = K d (θ) = K


dθ dθ θ=0 dθ dθ

m des = P l
mi = K
11.

Comparando os coeficientes angulares


Situação a) me < mi

Para qualquer Mi > Me


Barra volta à posição de equilíbrio (equilíbrio estável)
K
Portanto: P l < K ou P <
l
12.

6
Situação b) me = mi

Para qualquer θ ≠ 0 Mi > Me


Barra volta à posição de equilíbrio (equilíbrio estável)
K
Portanto: P l = K ou P=
l 13.

Situação c) me > mi

Para θ ≠ 0 e θ < θ o Me > Mi


Barra se afasta da posição inicial (equilíbrio instável)
Portanto: K
Pl>K ou P>
l 14.

7
Resumindo:

K
P≤ ⎯⎯→ Equilíbrio Estável
l
K
P> ⎯⎯→ Equilíbrio Instável
l

K
P= ⎯
⎯→ Mudança na Natureza do Equilíbrio
l

Pcr (carregamento crítico)

15.

Importante:
Quando me > mi ,

Além da posição de equilíbrio instável para θ = 0 ,

Existirá uma posição de equilíbrio estável θ o para θ ≠ 0


(Mi = Me)

16.

8
Aplicando um carregamento P crescente:
P: 0 Pcrit: Equilíbrio Estável (barra reta com θ = 0 )

P > Pcrít:

2 possibilidades:

a) Barra permanece reta com θ = 0 , mas com equilíbrio instável

b) Após qualquer perturbação que aconteça, a barra passará para


uma configuração estável de equilíbrio, com θ=θ o

( essa passagem de uma configuração de equilíbrio instável para


outra estável é chamada de Flambagem)

17.

Cálculo de θ o

M e = P f = P l sen θo
M i = K θo

M e = Mi

P l sen θo = K θo

Pl θo
=
K sen θo

P θo
=
Pcrit sen θo
18.

9
Para carga 6%
maior que Pcrit

então

deslocamento
no topo da barra
será igual a
56% do
comprimento
da barra

19.

Representação gráfica do comportamento do modelo de barra com


carga axial

20.

10
Flecha na extremidade da barra

21.

Obs.:
O encurvamento da barra elástica bi-rotulada dá-se
por efeito do mesmo fenômeno explicado para a
barra rígida

22.

11
4. Avaliação do Carregamento Crítico (Pcrit)

ÎDa Teoria de Deformação por Flexão (Linha Elástica) foi visto que:

d2v
dx 2 =−
M
3 EI
⎡ ⎛d v⎞
2⎤2
⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥
⎢⎣ ⎝ dx ⎠ ⎥⎦

ÎNo caso de pequenos deslocamentos:


• E: mód. de def. long.
d2v M
=−
dx 2 EI • I: mom. de inércia
23.

4.1 Análise para Barras Bi-articuladas

ÎConsiderar força axial P


atuando na direção de seu eixo.

ÎConsiderar a barra na sua


posição fletida, para uma
configuração estável para
P > Pcrit.

24.

12
M =Pv

d2v M
=−
2 EI
dx

d2v P v
+ =0
2 EI
dx

P
ÎSe definirmos um termo k: k=
EI

d2v
ÎEntão teremos a seguinte equação diferencial: + k2 v = 0
2
dx
25.

ÎSolução geral da equação diferencial d2v


+ k 2 v = 0 é:
2
dx

v = C1 sen k x + C 2 cos k x

ÎPara obter as constantes C1 e C2: impor condições de


contorno (função do tipo de vinculação adotado)

a) 1a. Condição de Contorno


v (para x = 0) = 0
(apoio móvel)

b) 2a. Condição de Contorno


v ( para x = l) = 0 (apoio fixo )
26.

13
Substituindo a 1a. Condição de Contorno na solução
geral da equação diferencial:

0
1
0 = C1 sen 0 + C 2 cos 0

0 = C2

Substituindo a 2a. Condição de Contorno na solução


geral da equação diferencial:

0
0 = C1 sen k l + C 2 cos k l

0 = C1 sen k l
27.

Portanto, da 2a. Condição de contorno ( 0 = C1 sen k l ),


tem-se duas possibilidades:

a) C1 = 0

0 0
v = C1 sen k x + C 2 cos k x = 0

0
0
d2v
+ k2 v = 0 (Solução trivial)
2
dx

28.

14
b) sen k l = 0

Soluções:
P
kl=0 ( k= ≠ 0; l ≠ 0)
EI
kl=π
k l = 2π

k l = i π ( i = 1, 2, 3, ..., n,...)
Para cada valor de i, tem-se um valor de k e, portanto:
→ um valor para P;
→ uma elástica particular 29.

Exemplo:

π
kl=π ⇒ k=
l
π2
P = EI
l2
P
k= ⇒ P = EI k 2
EI

Elástica ⇒

30.

15
Para cada caso:
Elástica bem
definida mas com
ordenadas
indeterminadas
(C1=?) 31.

Linhas elásticas v2 e v3:


Resolvem os casos em que, nos pontos de deslocamento nulo,
podemos ter apoios móveis, vinculando lateralmente a barra.

32.

16
Linhas elásticas:
dadas em função da
constante C1, que não
pode ser determinada.
Onde foi que eu errei ???

Não foi erro, mas uma simplificação usada:

d2v
dx 2 M d2v M
3
=− =−
EI dx 2 EI
⎡ ⎛d v⎞
2⎤2
⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥ (expressão simplificada)
⎢⎣ ⎝ dx ⎠ ⎥⎦
(expressão exata) 33.

Caso a expressão exata tivesse sido usada então


teria sido possível obter a linha elástica na posição
fletida estável.
Com as simplificações adotadas ⇒ obtém-se uma
posição fletida indeterminada,
associada à natureza do equilíbrio indiferente

34.

17
Portanto:
• para barra bi-articulada
• carregamento axial na direção do eixo da barra
• sem vínculos intermediários no vão vertical
a carga crítica será dada pela solução da equação
diferencial que resultar no menor valor de P:

π2
P = EI
l2

Resultado conhecido como


Carga Crítica de Euler

35.

4.2 Análise para Barra Vertical


Articulada-Engastada
Momento fletor – posição
genérica x:
M (x) = P v(x) − H x

Substituindo na equação da
elástica:
d2v M P v H.x
=− =− +
2 EI EI EI
dx

Reescrevendo a expressão:
d2v P v H . x
+ =
dx 2 EI EI 36.

18
ÎDefinindo novamente o termo k como sendo:
P
k=
EI

ÎChega-se à seguinte equação diferencial:


d2v Hx
2
+ k2 v =
dx EI

ÎCuja solução é:
H
v = C1 sen k x + C 2 cos k x + x
P

ÎPara obter as constantes C1 e C2: impor condições


de contorno (função do tipo de vinculação adotado)
37.

a) 1a. Condição de Contorno


H
v = C1 sen k x + C 2 cos k x + x (deslocamento - apoio móvel)
P

v ( para x = 0) = 0

0 1 0
H
0 = C1 sen 0 + C 2 cos 0 + 0
P
0 = C2

b) 2a. Condição de Contorno


(rotação - engaste)

⎛ dv ⎞ H
⎜ ⎟ = k C1 cos kl + = 0
⎝ dx ⎠ x = l P

H
= − k C1 cos kl
P 38.

19
v = C1 sen k x − (k C1 cos k l ) x
c) 3a. Condição de Contorno
(deslocamento – apoio fixo)
v = C1 [ sen k x − (k cos k l ) x ]
v ( para x = l) = 0

0 = C1 [ sen k l − (k cos k l ) l ]

• C1 = 0 (Solução trivial)

• sen kl - k (cos kl) l = 0


tg kl = k l

A menor raiz desta equação será


igual a :
kl = 4,493
39.

4,493
Portanto: kl = 4,493 ⎯
⎯→ k =
l
P
k=
EI

4,4932
Pcrit = EI
l2

Por comodidade de cálculo – buscar adotar expressão


única
π2
Pcrit = EI
l fl 2

(foi substiuído o comprimento real da barra por um


comprimento de flambagem que depende do tipo de
vinculação da barra) 40.

20
Portanto:

π2 4,4932 π2 π 2 EI
Pcrit = EI = EI =
π2 l 2 π2 ⎛ π ⎞
2
2
l2 ⎜ l⎟
4,493 ⎝ 4,493 ⎠

π 2 EI π 2 EI
Pcrit = =
(0,699 l )2 l fl 2

Neste caso, o comprimento de


flambagem será a distância
entre o apoio simples e o ponto
de inflexão da elástica, próximo
ao engaste
41

4.3 Análise para Outros Casos de Vinculação

42.

21
5. Tensão crítica de flambagem

π 2 EI π 2 EI
Pcrit = =
(0,699 l )2 l fl 2

P π 2 EI π 2 E
Tensão crítica de flambagem: σfl = crit = =
A 2 2
l fl A l fl
I/A
Definindo parâmetro geométrico chamado de raio de
giração (i):

I
i (raio de giração) =
A
43.

π2 E π2 E
Tensão crítica de flambagem: σfl = =
l fl 2 ⎛ l fl ⎞ 2
⎜ ⎟
i2 ⎝ i ⎠

Definindo parâmetro geométrico l fl


chamado de índice de esbeltez ( λ ): λ=
i
•Indice de esbeltez ( λ ): mede a facilidade ou a dificuldade que
um elemento comprimido tem de flambar

Se o λ é pequeno → probabilidade do elemento flambar é menor


Se o λ é grande → probabilidade do elemento flambar é maior

Portanto: σ = π E
2
fl
λ2
44.

22
Plotando-se os valores σfl versus λ , têm-se um gráfico

conhecido como hipérbole de Euler:

Obs.: a expressão σ = π E é válida apenas no regime elástico


2
fl
λ2
linear, até que a tensão no material atinja a tensão de
proporcionalidade . 45.

Portanto, a expressão de Euler é valida para λ ≥ λ lim ite

Pode-se calcular o valor de λ lim ite , igualando-se a tensão de


proporcionalidade com a tensão crítica de flambagem

π2 E π2 E
σfl,lim ite = = σp ⎯
⎯→ λ lim ite =
(λ lim ite ) 2 σp
46.

23
Quando a tensão no material é maior que a tensão
de proporcionalidade,
mas menor que a tensão limite à compressão,
então tem-se a situação de flambagem plástica.

47

Utiliza-se a expressão de Euler, mas levando-se em conta o módulo de


elasticidade tangente, variável de ponto para ponto.

Nesse caso, o módulo vai


depender do nível de tensão.

48.

24
Complicação:
Encurvamento da barra (flexão)→ uma das fibras
extremas vai ter a sua tensão de compressão aumentada
enquanto que, na outra extremidade da seção, haverá um
alívio das tensões produzidas pela compressão causada pela
força axial. Existe possibilidade de um “duplo módulo”.

Solução: Fórmulas Práticas

49.

6. Fórmulas Práticas
Ex.:AISC (American Institute of Steel Construction)

Gráfico: define o valor


admissível da tensão de
flambagem que pode atuar
na seção transversal do
elemento

σe = tensão de escoamento
2 π2 E
λo =
σe 50.

25
Para λ > λo Para λ ≤ λo

12 π 2 E ⎡
Então σfl = Então λ2 ⎤
23 λ2 ⎢1 − 2⎥ e
σ
⎢⎣ 2 λ o ⎥⎦
σfl =
5 3λ λ3
+ −
3 8 λ o 8 λ o3

51.

Agradecimentos:

Aos Professores Doutores Rogé


Rogério de Oliveira
Rodrigues e Haroldo de Mayo Bernardes,
pelo material didá
didático disponibilizado.

52.

26
Este trabalho está disponível para download e teve como
finalidade a elaboração de material didático para a disciplina
“Resistência dos Materiais II”.

A grande maioria das figuras, algumas delas adaptadas para este


texto, foram obtidas pela internet, por meio do site de busca
www.google.com.br .

OBRIGADO PELA SUA ATENÇÃO!

José Luiz P. Melges

Ilha Solteira, 2006.

53.

27

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