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Direito e Sociedade Hebraica:

O Direito com relação a sociedade hebraica antiga, que teve sua importância extensiva
para humanidade, não pode ser considerado sem a compreensão histórica do qual estava
inserido, nesse contexto os judeus apresentam uma forte ligação de sua história atrelada a sua
religião. Religião esta que motivou a construção da identidade étnica deste povo, conforme se
depreende:

[...] a compreensão de sua orientação religiosa nos permite a compreensão de


suas características sociais. A Bíblia, mais especificamente no trecho
compreendido pelo Antigo testamento'', é a referência para entendermos a
história deste povo. De acordo com as escrituras sagradas, por volta de 1800
a.C. Abraão recebeu um sinal de Deus para abandonar o politeísmo e ir viver
em Canaã. Os hebreus são um povo com origem semita que se
diversificaram de outros povos contemporâneos a eles por meio de uma
crença religiosa monoteísta, e por possuírem um líder religioso, Moisés. A
palavra 'hebreu' significa, de maneira literal: "povo do outro lado do rio",
referindo-se ao Rio Eufrates.
O Estado Hebreu foi uma teocracia, limitada, por um lado, pelos preceitos da
lei divina, estabelecida por Jeová, e, por outro, pela fiscalização das doze
tribos, os quais impediam que o rei se afastasse dos livros sagrados. O
Direito, na Lei Mosaica, é concebido como de origem divina, sendo Deus a
última fonte e sanção de toda regra de comportamento. (Selayaram et
al,2013, p.90).

O Direito hebreu neste histórico cenário tem seu marco com os dez mandamentos,
porém antes disto haviam patriarcas que foram importantes na construção da identidade moral
judaica entre eles está Noé e Abraão. Então, percebesse que o Direito Hebraico se subdivide
em três partes que são: o Direito Moral, o Direito Cerimonial e o Direito Civil ou Judicial,
embora não seja consenso esta divisão é a mais aceita. Todas estas leis estão permeadas
conforme as narrativas do livro de referência o Pentateuco, mais conhecido no Ocidente como
Velho Testamento pela intervenção divina. O Velho testamento para os ocidentais e, Torá
para os judeus é composto dos dez mandamentos que seriam uma espécie de constituição
mais as demais leis que são de cunho ritualístico e de costumes, as outras leis são sobre justiça
social ou moralidade, todas elas juntas formam seiscentos e treze mandamentos.

Antes, porém da lei Mosaica escrita, a lei prevalecia através da oralidade. No livro
Bíblico de Êxodo Capítulo 18: 1-27. p.184-185, esta afirmativa é de fácil compreensão pela
narrativa que se desenvolve; o sogro de Moisés sabendo da saída do povo hebreu, veio ao
encontro de seu genro e verificou que o mesmo julgava, ao ver o desgaste deste, aconselhou-o
a nomear juízes para julgar as coisas simples do povo, vindo a ele questões mais complexas e
assim foi feito. Com isto é de fácil compreensão o que diz, CASTRO, (2010, p. 31, apud
RÁO, V. Op. cit., p. 174):

"A lei oral (Torah Cheb'al Pé) atuava ao lado da escrita, isto é, mosaica
(Tora Chebikhtav). Esta continuou a ser considerada, séculos afora, a lei
suprema, infalível, sacrossanta. Prevalecia sempre (mesmo depois da
codificação da lei oral) em qualquer conflito que se verificasse entre as duas.
A lei oral, formada pelo Sofrim (escritores), Anchei Haknesset Hagdolah (os
homens da Grande Assembléia) e Tanaim (sábios), teve sempre um caráter
subsidiário."

A lei do Talião é vista por muitos autores como sendo um avanço da lei judaica
embora já existisse foi na Bíblia que ela foi primeiramente descrita. Outros avanços da lei
Mosaica foram: individualidade da pena que não passava de seu agente; a lapidação era a
pena mais comum no Velho Testamento aplicada para os idólatras (Deut. 17, 5-7), os
feiticeiros (Lev. 20, 27), os filhos rebeldes (Deut. 21, 18-21) e as adúlteras; cidades de refúgio
para homicidas; necessidade de testemunhas e o falso testemunho; matrimônio; adultério;
divórcio; estupro; herança e primogenitura; defloração; escravidão; governo; fraude comercial
e juros.

A codificação da lei oral judaica só vai surgir séculos depois, conforme afirma
(CASTRO,2010, P.32):

A primeira codificação do direito oral foi chamada de Michná (repetição) e


foi feita pelo último dos Tanaim em 192 d.C. Essa codificação se divide em
seis partes, nas quais a primeira, a terceira e a quarta constituem, segundo
poderíamos comparar hoje, o corpo de Direito Civil. A primeira trata de leis
rurais e propriedade imobiliária, a terceira ocupa-se do direito matrimonial e
do divórcio, a quarta trata de obrigações civis, usura, danos à propriedade,
sucessão, organização dos tribunais, processo etc.

Com os avanços e aperfeiçoamentos das leis hebraicas ao longo do tempo surge a


coletânea da lei, da ética, dos costumes e da história do judaísmo denominado Talmud, que é
o corpo da Legislação Hebraica segundo CASTRO (2010, p.32):
Para guardar a fidelidade à Legislação Mosaica no uso da codificação nova,
os séculos seguintes produziram discussões, interpretações e
aprofundamentos do texto da Michná que deram origem às Guemarasque
juntamente com a Michná e a própria Torá constituem o Talmud (que
significa estudo), que é o verdadeiro corpo da Legislação Hebraica.
Entretanto, com a elaboração do Talmud, não se encerrou a história do
direito judaico; ela continuou durante todos os séculos subsequentes, apesar
de os judeus estarem dispersos pelo mundo.

Passados dezenas de séculos, “Hoje, após o estabelecimento do Estado de Israel, o


Parlamento Israelita, chamado Knesset, é o poder legislativo na concepção moderna do
termo.” (CASTRO, 2010, p.32).

As leis judaicas foram de elevada importância para humanidade na esfera cultural e


religiosa em especial para o povo ocidental, bem como influenciou diretamente as três
maiores religiões da atualidade o Islamismo, o Cristianismo e o próprio Judaísmo, pela sua
essência de leis que representam segundo as crenças a própria vontade de Deus.

BIBLIOGRAFIA

Selayaram, R. et al, Formação Jurídica (1º ano) / organizadora Ângela Kretschmann. Uma
Introdução a História do Direito: Os Hebreus – Porto Alegre : Verbo Jurídico,2013, p.90.

CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: Geral e Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2006. p.31-32.

BÍBLIA. V. T. Êxodo. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida.


São Paulo: Ed. Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. p.185-186.

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