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A dívida global atinge US$ 247 trilhões: uma bomba prestes à explodir?

“A dívida é a mãe prolífica de loucuras e crimes”


Benjamin Disraeli (1804-1881)

O mundo está sentado sobre um barril de pólvora. A dívida global subiu para o recorde de US$
247 trilhões, no primeiro trimestre de 2018. Isto representa 318% do Produto Interno Bruto
(PIB) mundial.

Como mostra o gráfico acima, a dívida era de menos de US$ 100 trilhões em 2003, atingiu US$
177,7 trilhões em 2008 e passou para US$ 209,4 trilhões em 2013. A dívida mundial subiu quase
US$ 150 trilhões nos últimos 15 anos. Cerca de US$ 10 trilhões a cada ano.

De acordo com análise do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), os níveis de endividamento


das famílias, dos setores corporativos não financeiros e do governo atingiram US$ 186,5 trilhões
no primeiro trimestre de 2018. A dívida do setor financeiro subiu para um recorde de US$ 60,6
trilhões. O crescimento econômico está sendo sustentado no crédito e no endividamento que
será pago pelas gerações futuras.

Após uma aversão ao endividamento em decorrência de uma década com disponibilidade de


dinheiro barato e após a crise financeira de 2008, a dívida dos mercados emergentes subiu para
um recorde de US$ 58,5 trilhões no primeiro trimestre de 2018 - mais de 84% desde o início da
crise em 2008. Muitos mercados emergentes dependem de financiamento bancário de taxas
variáveis e correm altos riscos por conta do aumento das taxas de juros, pois o refinanciamento
e o pagamento das dívidas em dólar ficam significativamente mais caros.
Nos últimos 5 anos, a dívida do governo subiu mais acentuadamente no Brasil, Arábia Saudita,
Nigéria e Argentina, de acordo com o IIF. Além disso, as potências ricas em petróleo, como Qatar
e os Emirados Árabes Unidos, além de Cazaquistão e Peru, têm dependência perigosa em dívidas
financiadas externamente.

Esta situação de endividamento que já é explosiva por si só, fica, potencialmente, mais
inflamável com a guerra comercial entre Estados Unidos e China e que pode se espalhar para
outras regiões. As famílias, empresas e governos tomam empréstimos com base no pressuposto
de que irão pagar suas dívidas (principal e juros) ou rolando em novos empréstimos. Mas isso
só funciona se os rendimentos crescem rápido o suficiente para tornar as dívidas suportáveis ou
para justificar novas dívidas. Quando esses ingredientes desaparecem, surgem inadimplência e
pânico.

O relatório do IIF diz que as dívidas de alguns países emergentes estão vulneráveis ao risco de
refinanciamento - a incapacidade de substituir os empréstimos vencidos. Entre 2018 e 2019,
cerca de US$ 1 trilhão de dívidas denominados em dólares estão vencendo em mercados
emergentes. Acontece que o período de baixas taxas de juros está acabando. As baixas taxas de
juros praticadas pelos bancos centrais dos países desenvolvidos e as políticas de afrouxamento
monetário para prover liquidez, como as chamadas "quantitative easing", ajudam na
recuperação da economia, mas em geral causam bolhas financeiras. Esse processo gera também
grande especulação nas bolsas de valores, o que pode levar a uma grande queda (crash), como
em 1929, 1987 e 2008. Há muitos sinais de uma próxima crise financeira e de um novo colapso
da economia internacional.

Para o sociólogo Wolfgang Streeck, diretor do Instituto Max-Planck de Colônia: “O capitalismo


está morrendo de overdose de si mesmo.” Ele acredita que o sistema capitalista democrático
do pós-guerra caminha para o seu fim, pois o casamento do capitalismo com a democracia está
praticamente encerrado e há uma tendência de baixo crescimento, sufocamento da esfera
pública, avanço da oligarquia financeira, da corrupção e da anarquia internacional. As políticas
de Donald Trump são apenas um aspecto de um desastre mais amplo. Para Streeck, a crise atual
não é um fenômeno acidental, mas o auge de uma longa série de desordens políticas e
econômicas que indicam o enfraquecimento do capitalismo democrático.

Se acrescentarmos o fato de que a contínua e permanente acumulação de capital e a produção


em massa de bens e serviços provoca grande degradação do meio ambiente, então, a dívida
financeira é um lado da moeda e a dívida ambiental é o outro lado. Neste sentido, pode-se dizer
que o capitalismo está cavando a sua própria cova entre duas montanhas de dívidas, uma
financeira e a outra ecológica.

Referência:
ALVES, JED. A dívida de 200 trilhões de dólares e a próxima crise financeira mundial,
Ecodebate, 13/03/2015
http://www.ecodebate.com.br/2015/03/13/a-divida-de-200-trilhoes-de-dolares-e-a-proxima-
crise-financeira-mundial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Global debt hits record $247 trillion. Irish Examiner, 12/07/2018
https://www.irishexaminer.com/breakingnews/business/global-debt-hits-record-247-trillion-
854806.html
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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