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Empreendedorismo em Moçambique

Por: Belchior Carlos Barrone

EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
Actualmente tem-se falado e discutido muito sobre empreendedorismo no mundo e
particularmente em Moçambique acerca de sua importância para o País,
principalmente em épocas de crise económica, porque a maioria dos Moçambicanos
sonham em ter seu próprio negócio. Todavia, é preciso conhecer o real sentido dessa
palavra, bem como as variáveis do macro-ambiente e ambiente-tarefa dentro do nosso
país, ou seja, é preciso conhecer o cenário em que vai empreender, pois assim é
possível economizar tempo e dinheiro.

É um tanto complicado definir o que é empreendedorismo ou ser empreendedor


porque muitas pessoas acreditam que empreender é abrir uma empresa, o que não é
verdade. Segundo Schumpeter (1949) “o empreendedorismo é a capacidade de
alavancar e fazer prosperar o desenvolvimento económico.” A GEM (2013), também
definiu o empreendedorismo como sendo “qualquer tentativa de criação de um novo
negócio ou novo empreendimento, como, por exemplo, uma actividade autónoma,
uma nova empresa, ou a expansão de empreendimento existente, por um indivíduo,
grupos de indivíduos ou por empresas já estabelecidas” (p. 5). E por outro lado para
Mussagy & Manjoro (2015, cit. em Hisrich et al, 2005) definem “o empreendedorismo
como sendo um processo dinâmico de criação de riqueza incremental, resultante da
tomada de riscos de um indivíduo, sendo que o produto ou serviço criado pode ou não
ser único, mas de alguma forma de elevado valor” (p.2).

Analisando os conceitos dos diferentes autores acima citados, percebe-se que na


realidade, empreender está mais ligado a uma postura, como a de encarar os
problemas como oportunidades. Contudo, o foco maior ainda está no empreendedor
que abre o seu próprio negócio, isto é, no empresário. E o motivo é simples: esse tipo
de empreendedor movimenta a economia assim como Schumpeter atribui na sua
definição.
Empreendedorismo em Moçambique
Por: Belchior Carlos Barrone
O empreendedorismo em Moçambique esteve presente, mesmo que de forma mais
esparsa, durante toda a história do País: das tribos, passando pela chegada dos
portugueses e a colonização, até o começo da industrialização. Mas foi a partir do final
do século XX que o país começou a ser palco de pequenos projectos empreendedores
e de industrialização, desde então muito tempo se passou, os portugueses
empreenderam na Europa com os nossos recursos e o que sobrou esta tentando ser
aproveitado por nós. Ao contrário dos EUA, no qual o conceito de empreendedorismo
já é conhecido e utilizado há vários anos, em Moçambique o estudo do tema tem-se
intensificado a partir dos anos 2002. A principal consequência desta situação foi o
aumento do desemprego, o que levou a ex-funcionários, a candidatos a emprego a
buscarem novas formas de sobrevivência, muitas vezes iniciando novos negócios, sem
possuir experiência no ramo e utilizando-se das economias pessoais. O processo de
criação de novos negócios foi também intensificado com a popularização da internet,
se constituindo no que hoje em dia é chamado de nova economia.

A noção de empreendedorismo que se tem hoje é pouco diferente do que se viu nos
séculos passados. Assimilar o conceito e a história do empreendedorismo em
Moçambique e no mundo é importante para quem deseja pisar em novos terrenos. Ou
seja, colocar a mão na massa e realizar o sonho de se tornar empreendedor. Porque
segundo Timmons (1985) “O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será
para o século XXI mais do que a revolução industrial foi para o século XX”. Dai que, é
importante para Moçambique que se aposte no empreendedorismo como uma forma
de elevação e contribuição para as suas receitas, criando politicas que ajudem as
pequenas e médias empresas de modo a que estas possam capitalizar os seus lucros e
gerando emprego para várias pessoas. Constitui também principal factor da promoção
do desenvolvimento económico e social de um país.

Com a convicção de que o empreendedorismo pode ser uma ferramenta poderosa


para combater a pobreza e reduzir a desigualdade social, mas para isso é necessário
analisar o cenário. De acordo com o relatório da GEM (2017/18): A actividade
empresarial total no estágio inicial (TEA na sigla em inglês), avaliando os
empreendedores tanto pela oportunidade quanto pela necessidade, é mais alta na
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América Latina e no Caribe (ALC) onde um pouco menos de um quinto dos adultos em
idade produtiva estão envolvidos em actividades empresariais no estágio inicial. As
taxas da TEA, indicando 8%, são mais baixas na Europa.

Embora o empreendedorismo motivado por melhorias predomine em todas as


economias, com exceção da Índia, as economias com níveis econômicos mais elevados
geralmente reportam níveis mais altos de empreendedorismo movido por
oportunidade e níveis mais altos de inovação (medidos pela extensão na qual
empreendedores apresentam produtos novos desconhecidos por todos ou por alguns
clientes e oferecidos por poucos ou por nenhum concorrente). Regionalmente falando,
a América do Norte domina o índice de motivação em 2017/18 com 5,2 dos
empreendedores motivados por oportunidade para cada empreendedor movido por
necessidade. A África apresenta os níveis mais baixos com uma taxa de apenas 1,5.
Outros índices regionais em ordem descendente incluem: Europa 3,4; Ásia/Oceania 3,2
e ALC 2,2.

Entretanto, é preciso considerar o actual cenário do empreendedorismo para saber-se


a quanto anda o nosso país em termos de empreendedorismo e inovação.
Moçambique está em um período de crise financeira; há sérios problemas políticos;
oportunidades trazidas pela indústria de extracção de minérios; bem como ameaças
em meio à concorrência; as políticas públicas orientadas para promoção de
empreendedorismo e inovação são pouco eficazes; muita burocracia na articulação
entre os diferentes organismos públicos e a comunidade de negócios; a ligação entre
PMEs e as corporações ainda é deficiente; a academia tem estado alheia ao
movimento empreendedor e de crescimento empresarial; a sociedade privilegia a
segurança ao risco e é pouco tolerante à falha (e empreender é falhar muitas vezes);
os instrumentos de suporte ao empreendedor são escassos (a informação de mercado
e de oportunidades de negócio são pouco disseminadas, faltam programas e
infraestruturas de suporte ao empreendedor (incubadoras, espaços de co-working,
programas de aceleração, mentoria e formação adequada), não existem fontes
alternativas de financiamento para as empresas nascentes. Mas seguindo o pensando
de Fakir (2015) “Não nos podemos esquecer que Moçambique é um país jovem. Na era
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colonial, os negócios eram efectuados pelos colonos. Pós era colonial, Moçambique
adoptou um regime socialista em que a iniciativa privada era limitada, por força das
circunstâncias.”

E com os dados do censo de empresas (CEMPRE) divulgados pelo INE revelou que em
Moçambique existem 51.237 empresas e 582.783 pessoal de serviço, o que mostra um
crescimento face aos dados do CEMPRE realizado em 2004 que indicavam que no País
existiam cerca de 28.474 PMEs registadas na base de dados, com 129.225
trabalhadores empregues formalmente. Isto significa que, com os dados do (CEMPRE)
de 2014/5 houve um crescimento considerável na criação de empresas e na geração
de emprego formal no país.

Todos estes factores contribuem para a criação de um ecossistema empreendedor,


mas para o caso de Moçambique pode-se considerar como um país com falta de uma
cultura de empreendedorismo. Porque a maioria dos negócios é por necessidades de
sobrevivência e não com base na identificação de uma oportunidade específica como
acontece em grandes potenciais segundo a GEM. Contudo, ainda existem pessoas que
vêm o empreendedorismo como uma base para suprir suas necessidades e acabam
dando início ao próprio negócio sem nenhuma perspectiva do mercado,
consequentemente o negócio não cresce e cai na falência por isso é sempre
importante analisar o empreendedorismo no mercado almejado, pois este, está em
constante mudança. O empreendedorismo está a crescer no mundo e um alto índice
de empreendedores acompanham esse crescimento ou seja 74% dos empreendedores
em todo o mundo abriram um negócio em busca de uma oportunidade e não por
necessidade de acordo com o relatório global da pesquisa da GEM (2017/18) divulgada
em Fevereiro.

Assim, pode-se afirmar que, para que haja um empreendimento viável e sustentável,
devemos primeiro munir-nos de ferramentas capazes de nos levar de um lugar “A”
para um lugar “B”, ou seja, devemos planificar, ter métodos consistentes, objectivos
definidos e ser inovador, sendo o empreendedorismo alimentado pela inovação,
empreender não é somente criar algo novo, é também modificar o que já existe e
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torna-lo melhor e mais competitivo. Para o caso de Moçambique o empreendedorismo
existente é muito deficitário pois, actualmente, a força motora do empreendedorismo
em Moçambique é por necessidade e já é sabido que o empreendedorismo de
necessidade muito pouco contribui para a criação de emprego e riqueza para o país
por não possuir muita das vezes ferramentas que são capazes de manter o
empreendimento a longo prazo, não contribuindo para a geração de emprego e para o
crescimento da economia do país.
Por: Belchior Carlos Barrone
Empreendedorismo em Moçambique
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1. Amorós. J. E. & Bosm. N. (2014). Global Entrepreneurship Monitor. Global
Report, Chile.
2. Fakir, S. D. (2015). Será Moçambique um país de empreendedores?. Recuperdo
em: http://www.speed-program.com/blogs/by-author/sara-daude-fakir/sera-
mocambique-um-pais-de-empreendedores.
3. Ine. (2017, Janeiro). Empresas em Moçambique. Resultados do Segundo Censo
Nacional, Maputo, Moçambique.
4. Lacerda, R. (2012). A revolução silenciosa do empreendedorismo. Recoperado
em: www.brinquedodeadulto.com.br.
5. Mussagy, I. H. & Manjoro, A. E. (2015). Empreendedorismo e inovação em
Moçambique Panorâmica actual. Recuperado em:
https://www.researchgate.net/publication/283644866_Empreendedorismo_e_Inovac
ao_em_Mocambique_Panoramica_Actual.
6. Schumpeter, J. A. (1949). Economic theory and entrepreneurial history.
Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press.
7. Timmons, J. A. (1985). New venture creation: a guide to entrepreneurship.
Illinois: Irwin.

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