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Revista Téchne 3/16/12 4:50 PM

Canteiro racional
Experiência aliada a método são importantes para a concepção de um
canteiro que otimize a produtividade da obra. Veja como projetá-lo

Por Renato Faria

Muitos construtores já
perceberam que um canteiro de
obras bem planejado e
organizado contribui para
otimizar os processos
construtivos e,
consequentemente, reduzir o
custo de construção do
empreendimento. A elaboração
do layout do local de execução da
obra normalmente fica a cargo
de um engenheiro experiente,
conhecedor dos atalhos desse
tipo de projeto. Há casos, porém,
em que o profissional não consegue sistematizar seu conhecimento e transmiti-lo para
outros engenheiros, e quando sai da empresa leva consigo esse expertise, deixando-a
de mãos vazias. Por isso, já existem trabalhos que procuram consolidar esse
conhecimento e mostram ao construtor métodos de concepção de canteiros racionais,
que minimizem desperdícios de materiais e de tempo de execução de mão de obra.

O transporte, principalmente horizontal, de materiais não agrega valor algum ao


produto final. Quanto maiores as distâncias percorridas, maior o tempo perdido na
movimentação, que poderia estar sendo empregado em atividades mais produtivas.
Além disso, também é maior o risco de quebras e perda de material com as oscilações
naturais no deslocamento sobre superfícies irregulares. Portanto, um bom projeto de
canteiro procura dispor próximas entre si as diversas instalações correlatas, de modo
a minimizar ao máximo a necessidade de movimentações.

Responsável

Para Carlos Torres Formoso,


professor do Norie-UFRS (Núcleo
Orientado para a Inovação da
Edificação, da Universidade
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Edificação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul), o
ideal é que a concepção do
canteiro seja feita em grupo.
"Esse planejamento deve ser
feito pelas pessoas diretamente
envolvidas com a produção. O
Em canteiro na adensada região da avenida Paulista, em São
engenheiro residente deve Paulo, construtora Adolpho Lindenberg recorreu a instalar escritório
coordenar, mas também devem de engenharia em contêineres em balanço no estágio inicial da
obra
participar o mestre de obras e os
subempreiteiros", acredita Formoso. Um erro comum, em sua opinião, é chamar uma
pessoa externa para fazer o serviço. "Ela pode ter o tempo de que o engenheiro de
obra não dispõe muito, mas ela não costuma ter informações suficientes a respeito do
processo de produção da obra."

Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, professor da Escola Politécnica da USP (Universidade


de São Paulo) e diretor técnico da Produtime, diz haver vantagens e desvantagens ao
se optar por um projetista interno e um externo. Ele concorda que o conhecimento do
engenheiro a respeito dos métodos construtivos tradicionalmente empregados pela
empresa é uma vantagem do planejamento interno do canteiro. Entretanto, pondera,
o planejamento externo pode trazer algo novo para a obra, já que ele trabalha com
projetos de diversas construtoras. "Teoricamente, se o construtor tem várias obras,
talvez valha a pena ter um departamento interno dedicado ao assunto. Um menor
volume de obras, por outro lado, pode justificar a terceirização", explica.

Ubiraci acredita que a concepção do canteiro às vésperas do início da obra é uma


postura pouco produtiva. "O projeto do canteiro é um instrumento poderoso para
discutir as fases anteriores do empreendimento. Ele ajuda a aprimorar os projetos de
produção e do produto", afirma. Formoso concorda e complementa: "É muito
importante vincular o planejamento de layout ao planejamento e controle da
produção. Por isso, o projeto do início do empreendimento também não é definitivo,
isso vai sendo revisado e alterado conforme o andamento da obra".

Sustentabilidade

Os sistemas de certificação de
sustentabilidade na Construção
Civil são eficientes ao avaliar a
economia no consumo de
recursos pela edificação na fase
de utilização do produto, mas
ainda dão pouca atenção à fase
construtiva do empreendimento,
critica Espinelli. Em sua opinião,
poderia haver um rigor maior no
Canteiro de obras da Trisul: empresa implantou em 15 de seus 22
que diz respeito à redução de canteiros conjunto de medidas que procura diminuir o impacto das
obras no meio ambiente
desperdício de materiais. "Isso
não está contemplado nem no Leed (Leadership in Energy and Environmental Design),
que fala apenas em dar um destino adequado aos resíduos gerados", lembra. "É
possível pensar a produção de modo a preservar árvores, manter as regiões com
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possível pensar a produção de modo a preservar árvores, manter as regiões com


determinada permeabilidade", acrescenta.

A Trisul está procurando implementar em seus canteiros


medidas para minimizar os impactos de suas obras no
ambiente. Entre as soluções viabilizadas, estão a instalação
de sistema de reúso da água usada na lavagem das rodas
dos caminhões na fase de movimentação de terra; o sistema
de captação provisório de águas pluviais para
reaproveitamento na limpeza do canteiro; reserva de baias
para materiais recicláveis, como papel e vidro.

Até meados de 2008, conta William Vitor, gerente geral de


obras da Trisul, a venda dos recicláveis gerava até alguma
receita para a obra. Mas a situação mudou com a crise
econômica mundial, quando a empresa chegou a registrar
até algum prejuízo com o descarte. Hoje, porém, ele
Árvore, que ficava no centro do
garante que houve uma melhora no cenário e as receitas terreno que seria escavado, foi
advindas da venda dos reciclados são suficientes para pagar transplantada para região
"segura" do canteiro de obras
seu transporte.
da Adolpho Lindenberg, em São
Paulo
Outra solução que ainda não foi possível de ser aplicada,
informa Vitor, é a instalação de sistema de aquecimento solar da água dos chuveiros
das instalações provisórias. "Não sabemos se o equipamento vai durar três obras",
admite, justificando que a obra é um ambiente hostil para as placas solares.
"Qualquer pedrinha que caia vai danificá-las."

Definições preliminares

Antes de elaborar os projetos para as diversas fases do canteiro, são necessárias


informações preliminares relativas ao planejamento da obra. Elas vão determinar,
junto com o espaço disponível no terreno, as áreas necessárias para escritórios,
alojamentos e estoques. Dependendo da situação, pode valer a pena alugar terrenos
vizinhos para acomodar algumas dessas instalações.

Projetos e tempo de execução

A duração da obra é um aspecto que influencia


diretamente o processo de concepção do
canteiro. Diferentes períodos de execução dos
serviços da obra correspondem a diferentes
demandas por materiais, mão de obra e
equipamentos. É desejável, para dar início aos
estudos do layout do canteiro, ter à mão plantas
de topografia e de subsolos, térreo e tipo das
torres (arquitetura e estrutura), sempre com delimitação do terreno. Também são
úteis informações sobre o entorno da obra, como as características das construções
vizinhas, condições e disponibilidade de vias de acesso, localização das redes de água
e energia elétrica.

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e energia elétrica.

Plano de ataque

Trata-se da sequência de serviços planejada


para a execução da obra. São informações
fundamentais para a elaboração do cronograma
físico de construção do empreendimento. Aqui,
por exemplo, é definido se a torre será
executada num primeiro momento e a periferia
numa etapa posterior, se serão executadas ao
mesmo tempo etc. Elas ajudam o projetista do
canteiro a ter alguma noção a respeito das
áreas que estarão disponíveis para as instalações em cada fase da construção.

Cronograma físico

De posse das informações anteriores, elabora-se o cronograma físico da obra.


Para algumas atividades, sugere-se fazer um detalhamento semanal da
programação; para outras, basta indicar os momentos de início e conclusão. No
primeiro grupo - que inclui serviços como armação, concretagem, alvenaria e
revestimentos de argamassa - estão os materiais que exigem maior cuidado
quanto ao planejamento de transporte e de espaços para estocagem. O segundo
grupo - onde estão as instalações hidráulicas e elétricas, execução de azulejos e
pisos cerâmicos, por exemplo - contém insumos para os quais se pode prever
áreas de estocagem sem passar necessariamente por quantificação de consumos
semanais.

Períodos de utilização dos equipamentos

Face à tecnologia construtiva adotada, ao ritmo que se quer


imprimir à execução do empreendimento e à demanda da
obra por insumos, faz-se o dimensionamento dos
equipamentos de transporte. É o momento de decidir se a
obra vai empregar apenas cremalheira ou se necessita
também de grua, se o acesso à fachada se dará por meio de
andaimes fachadeiros ou balancins etc. O cronograma físico
deve fornecer, com precisão, os momentos em que os
equipamentos entram e depois deixam o canteiro.

Demanda por materiais

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Com os dados registrados no cronograma físico


e de indicadores de consumo usuais do
mercado, faz-se o cálculo das quantidades de
insumos necessárias para cada atividade
executada no canteiro. Como o andamento
físico da obra, também a quantificação dos
insumos é feita semana a semana. Essas
quantidades semanais, multiplicadas por fatores que considerem incertezas (1,5, por
exemplo), são comparadas com os lotes usuais de compra pela empresa. Assim,
determina-se a cada etapa o estoque máximo em obra e as áreas necessárias.

Demanda por mão de obra

Outro aspecto que se pode calcular a partir dos dados do


cronograma físico é a quantidade de operários que circulará
no canteiro nas diversas etapas da obra. Essa informação é
fundamental para determinar as dimensões das instalações
temporárias, quantidade de chuveiros, armários, áreas dos
vestiários, necessidade de alojamentos etc. O pico de
pessoal na obra costuma ocorrer nas fases intermediárias,
quando da execução da estrutura e das alvenarias, no caso
de empreendimentos verticais.

Fonte: adaptado do livro Projeto e Implantação do Canteiro, de Ubiraci Espinelli Lemes de Souza

Layout do canteiro

Quando se tem ideia sobre as áreas necessárias para estocagem de materiais em cada
etapa da obra, sobre os equipamentos que serão utilizados na obra e sobre as
dimensões das instalações provisórias, pode-se partir para a concepção do desenho do
canteiro. Os croquis são feitos com base nas plantas de topografia e arquitetura dos
pavimentos do edifício. Fluxogramas dos processos de execução do empreendimento
também são importantes nessa etapa criativa. A disposição dos elementos é pensada
considerando as diversas fases da obra; portanto, deve-se buscar a compatibilização
do posicionamento de cada instalação com a evolução dos estágios de execução. Aqui,
pode-se pensar em executar primeiro o layout da fase da obra considerada crítica,
com maior fluxo de pessoas e materiais, e a partir dele conceber os demais desenhos.
Ou ainda elaborar os projetos de forma sequencial, partindo da configuração inicial da
obra. Uma alternativa mista também é possível. Podem ser feitas algumas propostas
de layout diferentes para serem avaliadas por um grupo de engenheiros da
construtora. O importante é que, conforme a obra evolui, o planejamento e o projeto
do canteiro sejam constantemente revistos e adaptados às realidades que vão
surgindo.

Como começar:

Elaboração do macro layout: definição aproximada do arranjo físico geral, com o


estabelecimento do local no canteiro em que ficará cada instalação ou grupo de
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estabelecimento do local no canteiro em que ficará cada instalação ou grupo de


instalações (áreas de vivência, áreas de apoio, áreas de produção, por exemplo).
Deve-se estudar o posicionamento relativo entre essas áreas.

Elaboração do micro layout: estabelecimento da localização de cada equipamento ou


instalação dentro de cada área do canteiro. Também aqui é necessário estudar
posições relativas entre os elementos.

Detalhamento das instalações: etapa de planejamento da infraestrutura necessária ao


funcionamento das instalações. Estabelecem-se, por exemplo, quantidade e tipos de
cadeiras nos refeitórios, de armários nos vestiários, técnicas de armazenamento de
cada tipo de material, tipo de pavimentação das vias de circulação etc.

Cronograma de implantação: representação gráfica do sequenciamento das fases de


layout. Devem estar explicitadas as fases ou eventos da execução da obra
(concretagem de uma laje, por exemplo) que determinem alterações no layout.

Sequência de elaboração sugerida:


Posição do estande de vendas
Escolha do local de acesso
Posição da guarita
Posição de cremalheiras, guinchos, gruas
Posição de alojamento e sanitários
Posição dos almoxarifados
Posição das centrais de processamentos (argamassa, corte e dobra de aço etc.)
associados a seus respectivos estoques
Posição do escritório técnico

Fontes: Projeto e Implantação do Canteiro, de Ubiraci Espinelli Lemes de Souza; Boletim técnico do
departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP BT/PCC/338; Planejamento de Canteiros de Obra
e Gestão de Processos, de Tarcísio Abreu Saurin e Carlos Torres Formoso

Evolução do canteiro

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Fonte: Produtime e REM Construtora

Mapa estratégico

A carta de interligações preferenciais auxilia o projetista do canteiro a visualizar as


relações de proximidade entre os diversos elementos do canteiro. Cada obra tem sua
própria carta, mas o exemplo abaixo dá uma ideia de como devem ser as conexões
entre as instalações.

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entre as instalações.

Legenda
Veja como ler a carta:

1) Procure dois elementos do canteiro na coluna à esquerda e memorize os


respectivos números.

2) Nos lados perpendiculares do triângulo isósceles, procure os números


correspondentes aos elementos escolhidos e siga as linhas até a célula em que elas se
cruzam.

3) Dentro da célula você encontra uma letra, que aponta o grau de importância da
proximidade entre os elementos. A classificação, disponível na tabela 1, varia entre
"indesejável" e "absolutamente necessária".
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"indesejável" e "absolutamente necessária".

4) Na mesma célula, você também encontra números separados por vírgulas. Cada
um desses números indica uma justificativa para a classificação feita. Eles podem ser
consultados na tabela 2.

Fonte: Planejamento do Layout de Canteiros de Obras: aplicação do SLP (Systematic Layout Planning). Sérgio
J. B. Elias, Madalena O. Leite, Regis R. T. da Silva, da Universidade Federal do Ceará e Luís C. A. Lopes, da
Construtora Porto Freire

Conteúdo online exclusivo:

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Habitação), da Finep, com as recomendações técnicas contidas no livro
"Planejamento de canteiros de obra e gestão de processos".

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