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INTRODUÇÃO AO DIREIT O DE EXECUÇÃO

HISTÓRICO DA EXCECUÇ ÃO NO DIREITO BRASIL EIRO

Através da abordagem historiográfica, é possível verificar-se a passagem da


autotutela para o monopólio estatal na solução de conflitos, bem como a
superação do caráter penal da execução, antes exercida sobre o corpo do devedor,
de forma desumana e sobre a totalidade de seu patrimônio, para uma execução
incidente apenas sobre a parte do patrimônio do devedor necessária à satisfação
do credor.

Verifica-se que a influência do Direito Romano no direito lusitano resultou na


absorção por este de muitos dos institutos, como a execução forçada. Nas origens
do direito romanística, só se chegava à prestação jurisdicional executiva depois de
acertado o direito do credor por meio da sentença. Esta autorizava a intromissão
do credor no patrimônio do devedor, mas isso reclamava o exercício de uma nova
ação (Actio Iudicati). Havia a actio para cognição e a actio iudicati para execução.

Com o choque de culturas – romanos e bárbaros - aboliu-se a execução privada,


submetendo-se à realização de prévio acertamento judicial; por outro lado,
eliminou-se a duplicidade de ações que o direito romano cultivara. O cumprimento
de sentença não se sujeitava mais a abertura de novo juízo. Cabia ao juiz, depois
de sentenciar, tomar como dever de ofício as providências para fazer cumprir sua
decisão, como ato do próprio processo. Em lugar da velha actio iudicati implantou-
se, em plena Idade Média, a nova e singela Executio Per Officium Iudicis.

a) Ordenações Afonsinas: utilizava-se a execução forçada, na qual era realizada


através do Estado, com base em sentença judicial; havia possibilidade de prisão do
devedor; a proibição de serem recolhidos bens além do necessário para a satisfação
da dívida (princípio da utilidade da execução); a impenhorabilidade sobre
determinados bens; a determinação de que a execução seja feita de maneira
menos gravosa ao devedor; bem como a primazia da primeira penhora.

b) Ordenações Manoelinas: a execução das sentenças era realizada pelo Juízo,


sendo mantida, em linhas gerais, a execução forçada, podendo ser apontado como
novidade a assinação em dez dias, que era tratada como execução sumária, que
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vigorou no Brasil até o avento do CPC/39, e pode ser apontada como precursora da
atual ação monitória. O réu era citado para, em dez dias, pagar, comprovar que
realizou o pagamento, ou oferecer embargos. Uma vez opostos e recebidos os
embargos, seguia-se o rito ordinário, do mesmo modo que ocorre com a ação
monitória. José dos Reis, identifica ainda a assinação de dez dias com a actio
judicati.

c) Ordenações Filipinas: a execução era promovida por órgão jurisdicional,


fazendo, do mesmo modo que as Ordenações Manoelinas, referência à citação no
caso de o devedor não ser encontrado. No que se refere ao concurso de credores
na execução, as Ordenações reconhecem o princípio da diligência, dando
preferência aos credores segundo a ordem das respectivas penhoras. Caso não
houvesse bens bastantes para fazer face à condenação, o devedor era preso, sendo
assim mantido até que pagasse, mas se fizesse cessão de seus bens poderia ser
solto. Além das obrigações de pagar, as Ordenações também previram a execução
específica das obrigações de entregar coisa certa, sendo que ao devedor era
assinado o prazo de dez dias para a entrega, e uma vez superado o prazo sem a
entrega e sem embargos, “ser-lhe-á tomada diretamente pela Justiça, segundo o
caso requerer, sem mais ser a parte condenada para ello citada”.

d) Regulamento 737: instituiu uma execução de sentença estatal, sempre da


competência do juiz da ação de conhecimento, que se iniciava por citação inicial,
salvo na ação de força nova espoliativa.

e) Código de 39: estabeleceu o dualismo: ação executiva, que era ação de


conhecimento com penhora incidente, contestação, sentença e subsequentes atos
executórios, para títulos extrajudiciais e processo de execução, para a sentença
condenatória, da competência do juízo da causa.

f) Código de 1973: deu nova configuração ao processo de execução, eliminando a


anacrônica ação executiva, unificando os procedimentos executórios.
independentemente da natureza judicial ou extrajudicial do título executivo, e
retirando do processo de execução a atividade cognitiva, que se concentrou em
processo incidente, mas autônomo, provocado pela ação chamada de Embargos do
devedor. O CPC de 1973 previa processos para obtenção da certificação/efetivação
do direito: o primeiro destinava-se apenas a certificação, objetivando o segundo
sua efetivação. O tempo mostrou o equívoco de tal concepção, já que naquela
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época já havia vários procedimentos que inseriam, no Âmbito do próprio processo
de conhecimento, atos executivos, fato que já comprometia a pureza da distinção
que se fazia.
g) Aplicação da tutela antecipada: em 1994, A partir da tutela antecipada (273 e
461, §3º) que passou a ser permitida no procedimento comum, o legislador
permitiu, no procedimento padrão, a prática de atos executivos (necessidade de
processo autônomo ficou obsoleta). A mudança da tutela jurisdicional das
obrigações de fazer e não fazer, inIciada pelo CDC, que é de 1990, (art. 84) e
generalizada pelo 461 do CPC/73, alterou profundamente a tutela executiva. Tais
sentenças passaram a possuir, desde 1994, força executiva própria (o magistrado
determina no corpo da sentença providências a serem tomadas para garantir
efetivação da decisão). O mesmo regime jurídico foi estendido para obrigações de
dar coisa distinta de dinheiro (461-A e 621 do CPC/73) – ampliação do sincretismo.
Somente as execuções de obrigações de pagar permaneciam sujeitas ao regime de
efetivação ex intervalo, exigindo ação executiva autônoma com nova citação.

h) Lei 11.232/2005: dispensou para tais obrigações o ajuizamento de ação


executiva autônoma, contentando-se, com a fase de cumprimento de sentença.

i) CPC/1973: ainda restava o processo autônomo de execução de sentença (leia-se


necessidade de petição inicial e citação, apesar de prosseguirem como
cumprimento de sentença) para as seguintes hipóteses: de sentença penal
condenatória transitada em julgado; de sentença arbitral; de sentença estrangeira
homologada pelo STJ; do acórdão que julgar procedente revisão criminal; de
sentença proferida contra o Poder Público.

j) CPC/2015: continuou-se com as mesmas hipóteses do código antigo, porém


acrescentou-se a fazenda pública como nova hipótese. No caso da execução contra
a Fazenda Pública a mesma será apenas intimada e não mais citada, remanescendo
as demais hipóteses excepcionais de processo autônomo de execução de título
judicial, nos termos do art. 515, § 1º do CPC/2015.

CONCEITOS INICIAIS

DIREITOS A UMA PRESTAÇÃO E EXECUÇÃO

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Direito a uma prestação é o poder jurídico, conferido a alguém, de exigir de outrem
o cumprimento de uma prestação (conduta), que pode ser um fazer, um não-fazer,
ou um dar - prestação essa que se divide em dar dinheiro e dar coisa distinta de
dinheiro. Os direitos a uma prestação relacionam-se aos prazos prescricionais que,
como prevê o art. 189 do CC, começam a correr da lesão/inadimplemento - não
cumprimento pelo sujeito passivo do seu dever. Como a autotutela é, em regra,
proibida, o titular desse direito, embora tenha a pretensão, não tem como, por si,
agir para efetivar o seu direito. Busca, portanto, a tutela jurisdicional executiva.

DIREITO POTESTATIVO E EXECUÇÃO

O direito potestativo é direito de criar, alterar ou extinguir situações jurídicas que


envolvam outro sujeito, que se efetiva normativamente: basta a decisão judicial
para que ele se realize no mundo ideal das situações jurídicas. Não se relaciona a
qualquer prestação do sujeito passivo, razão pela qual não pode e nem precisa ser
"executado", assim, sentença constitutiva, que diz respeito a um direito
potestativo, não é título executivo.

CONCEITO DE EXECUÇÃO

Executar é satisfazer uma prestação devida. Pode ser espontânea, quando o


devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento
da prestação é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado.

TÉCNICAS PROCESSUAIS QUE VIABILIZAM A EXECUÇÃO

Cabe ao legislador definir se a execução deve realizar-se num processo autônomo,


ou numa mera fase de um processo já existente. No seu Título II, do Livro I, da
Parte Especial (arts. 513-538), o CPC-2015 dedica-se ao regramento do
"cumprimento de sentença", consistente na execução forçada de títulos executivos
judiciais, que se dá, em regra, como fase do mesmo processo em que a sentença
foi proferida, ou, excepcionalmente, por processo autônomo. Já no seu Livro II, da
Parte Especial (arts. 771 a 925), o CPC-2015 volta-se para a disciplina da execução
forçada de títulos executivos extrajudiciais, que transcorre por processo autônomo.

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a) Processo autônomo de execução: a efetivação é objeto de um processo
autônomo, instaurado com essa preponderante finalidade. Nesse contexto, havia
a necessidade de dois processos para a obtenção da certificação/efetivação do
direito: o primeiro destinava-se apenas à certificação do direito, objetivando o
segundo à sua efetivação. Ainda remanesce o processo autônomo de execução de
sentença para as hipóteses de sentença penal condenatória transitada em julgado,
de sentença arbitral, de sentença estrangeira homologada pelo STJ, da decisão
interlocutória estrangeira e do acórdão que julgar procedente revisão criminal.

b) Fase de execução: a execução ocorre dentro de um processo já existente, como


uma de suas fases. Toda a execução realiza-se em um processo de execução,
procedimento em contraditório, seja em um processo instaurado com esse
objetivo, seja como fase de um processo sincrético.

CLASSIFICAÇÃO

EM RELAÇÃO AO PROCEDIMENTO

a) Comum: servem a uma generalidade de créditos, como é o caso do


procedimento da execução por quantia certa previsto no CPC.

b) Especial: servem à satisfação de alguns créditos específicos, como é o caso da


execução de alimentos e da execução fiscal.

A diferença é importante na medida em que o art. 780, CPC e a Súmula 27 do STJ


permitem a cumulação de execuções fundadas em títulos diferentes, desde que, é
claro, se observe os requisitos da cumulação previstos no §1º do art. 327,
notadamente o inciso III, que exige a compatibilidade de ritos. Sendo assim, apenas
será possível a cumulação entre duas execuções contra o mesmo executado se
ambas forem comuns ou especiais da mesma natureza.

QUANTO À ORIGEM DO TÍTULO

a) Judicial: quando se realiza perante o Poder Judiciário. Ela é a regra tradicional no


Direito brasileiro, a ponto de até mesmo a execução de sentença arbitral ter de
processar-se perante o Poder Judiciário. Ex. sentença, homologação de acordo.

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b) Extrajudicial: por exemplo, o Decreto 70/1966 prevê a execução extrajudicial de
cédula hipotecária (art. 31), e a execução extrajudicial do contrato de alienação
fiduciária de bem imóvel (arts. 26 e 27 da Lei. 9.514). Evidentemente, a execução
extrajudicial fica sujeita a controle jurisdicional. No procedimento de execução de
título extrajudicial, há processo autônomo.
Importante ressaltar que, quando o título judicial se formar sem prévio processo
de conhecimento, como no caso da sentença penal condenatória, da sentença
arbitral e da decisão homologatória de decisão estrangeira pelo STJ, não há que se
falar em fase de cumprimento de sentença, razão pela qual, nestes casos, tais
títulos judiciais serão excepcionalmente executados por meio de ação própria e
processo autônomo. Todavia, esclarece-se ainda que, apesar de formalmente a
execução se dar por processo autônomo, adotam-se no seu curso as regras do
cumprimento de sentença.

QUANTO AO TIPO DE PROVIDÊNCIA E XECUTIVA DETERMINADA

a) Direta: a decisão executiva é aquela que impõe uma prestação ao réu


e prevê uma medida executiva direta, onde as medidas executivas são levadas a
efeito mesmo contra a vontade do executado; sua vontade é irrelevante. São,
normalmente, adotadas medidas sub-rogatórias. A execução direta, ou por sub-
rogação, pode viabilizar-se por diferentes técnicas:

I. Desapossamento: comum na execução de entregar coisa, por meio da


qual se retira da posse do executado o bem a ser entregue ao exequente.
Ex. despejo, busca e apreensão, reintegração de posse;

II. Transformação: por meio da qual o juiz determina que um terceiro


pratique a conduta que deveria ser praticada pelo executado, cabendo a
este arcar com o pagamento do custo respectivo;

III. Expropriação: típico das execuções para pagamento de quantia, por meio
do qual algum bem do patrimônio do devedor é expropriado para
pagamento do crédito. Ex. adjudicação, alienação judicial ou apropriação de
frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.

b) Indireta: a decisão mandamental é aquela que impõe uma prestação ao réu e


prevê uma medida executiva indireta, que atue na vontade do devedor como forma

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de compeli-lo (multa, prisão civil) ou incentivá-lo (sanção premial) a cumprir a
ordem judicial. Nesses casos, o Estado-juiz busca promover a execução com a
"colaboração" do executado. Podendo ser:

I. Patrimonial: quando atinge os bens do executado. Ex. imposição de multa


coercitiva
II. Pessoal: quando atinge a pessoa do executado. Ex. imposição de prisão
civil do devedor de alimentos.

O Fórum Permanente de Processualistas Civis se posicionou a


respeito, cuidando da questão em seu enunciado de número 12 (arts.
139, IV, 523, 536 e 771): A aplicação das medidas atípicas sub-
rogatórias e coercitivas é cabível em qualquer obrigação no
cumprimento de sentença ou execução de título executivo
extrajudicial. Essas medidas, contudo, serão aplicadas de forma
subsidiária às medidas tipificadas, com observação do contraditório,
ainda que diferido, e por meio de decisão à luz do art. 489, § 1º, I e
II.

QUANTO A ESTABILIDADE DO TÍTULO

a) Cumprimento definitivo: fundado em um título judicial definitivo, ou seja,


acobertado pela coisa julgada material, não mais sujeita a recurso, tornando-se
imutável. Sendo uma execução completa, que vai até a fase final (com entrega do
bem da vida) sem exigências adicionais para o exequente.

b) Cumprimento provisório: Será provisório o cumprimento de sentença se este


for fundado em um título judicial provisório, ou seja, em decisão judicial passível
de alteração, em razão de pendência de recurso desprovido de efeito suspensivo.
Isso significa que essa decisão pode, desde a sua publicação, surtir efeitos, sendo
cumprida provisoriamente, ainda que esteja passível de modificação pelo
julgamento ulterior do recurso. Nos termos do art. 520 do CPC, o cumprimento
provisório será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo. Todavia,
por se tratar de satisfação de um título ainda passível de alteração, algumas regras
especiais deverão ser observadas. Uma delas consiste na obrigatoriedade, via de
regra, da prestação de caução idônea pelo exequente quando a causa for de

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natureza patrimonial. Tal exigência legal tem por objetivo garantir eventual
prejuízo do executado oriundo de futura modificação da decisão recorrida, sendo
dispensadas nas hipóteses do art. 521, quais sejam: crédito de natureza alimentar,
independente de sua origem; o credor demonstrar situação de necessidade;
pender agravo em REsp ou RE, fundado nos incisos II e III do art. 1.042; sentença
estiver em consonância com súmula do STF ou do STJ, ou com acórdão proferido
em julgamento de casos repetitivos. O cumprimento provisório da sentença será
requerido pelo exequente mediante petição escrita perante o juízo competente. E,
não sendo eletrônicos os autos, tal petição deverá estar acompanhada de cópia
dos documentos previstos no art. 522, parágrafo único, cuja autenticidade poderá
ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade. Tal exigência se
justifica para fins de formação de autos apartados, já que os autos principais
subirão ao órgão ad quem para o julgamento do recurso.

No NCPC, não existe execução provisória de título executivo extrajudicial, sendo


ele definitivo, do começo ao fim. Assim, volta-se a ter vigência a Súmula 317 do
STJ - É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação
contra sentença que julgue improcedentes os embargos.

Se a decisão estiver acobertada pelo manto da coisa julgada material


é definitiva, mas se a decisão estiver ainda passível de alteração
(reforma ou invalidação) é provisória. Valido destacar que provisório é
o título e não a execução.

QUANTO A EXTENSÃO

a) Universal: é realizada em benefício de todos os credores do executado e recai


sobre todo o seu patrimônio expropriável,

b) Singular: beneficia apenas o credor exequente e recai apenas sobre o patrimônio


necessário para satisfação daquele crédito específico.

No CPC/2015 só há previsão da execução por quantia certa contra


devedor solvente, posto que a execução por quantia certa contra
devedor insolvente – ou execução universal – deverá ser objeto de lei
extravagante, nos termos do art. 1.052 das Disposições Transitórias.

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Por enquanto, permanece em vigor o procedimento previsto nos arts.
748 e ss do CPC/1973.

PRINCÍPIOS QUE REGEM A ATIVIDADE EXECUTI VA

Os princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas


e com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se
demanda uma avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e
os efeitos decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção.

PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE

O princípio da efetividade garante o direito fundamental à tutela executiva, que


consiste na exigência de um sistema completo, no qual existam meios executivos
capazes de proporcionar pronta e integral satisfação a qualquer direito merecedor
de tutela executiva. Dessa forma, a interpretação das normas que regulamentam a
tutela executiva tem de ser feita no sentido de extrair a maior efetividade possível;
o juiz tem o poder-dever de deixar de aplicar uma norma que imponha uma
restrição a um meio executivo, sempre que essa restrição não se justificar como
forma de proteção a outro direito fundamental e o poder-dever de adotar os meios
executivos que se revelem necessários à prestação integral de tutela.

Diante dessa inarredável realidade, que ora se impõe ao Poder Judiciário, é que se
tema ampliado os poderes do magistrado no sentido de poder promover,
independentemente de provocação, as medidas executivas adequadas ao caso
concreto. Trata-se da consagração do chamado poder geral de efetivação.
Exemplos: tutela específica (arts. 497 c/c 536; e 537, NCPC).

PRINCÍPIO DA TIPICID ADE E ATIPICIDADE

a) Tipicidade: o sistema impõe necessariamente determinada técnica para a tutela


de certa prestação.

b) Atipicidade: diante do dever de entregar a tutela executiva mais justa, adequada


e efetiva, poderá o magistrado valer-se de outros meios executivos, que não

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necessariamente os tipificados em lei, que julgar necessários para tal mister (§1º
do art. 536). (elasticidade do regime e confiança na atuação do juiz).

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ PROCESSUAL

A execução é um dos ambientes mais propícios para a prática de comportamentos


desleais, abusivos ou fraudulentos. É, portanto, campo fértil para a aplicação do
princípio da boa-fé processual - cuja função é estabelecer um padrão ético de
conduta para as partes nas relações obrigacionais, corolário do devido processo
legal e previsto no art. 5º, CPC. Existem cinco espécies de atos atentatórios à
dignidade da justiça, são eles: fraude à execução, oposição maliciosa à execução,
com o emprego de ardis e meios artificiosos, resistência injustificada às ordens
judicias, dificultar ou embaraçar a realização da penhora e quando intimado não
indicar ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos
valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de
ônus.

PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

De acordo com o princípio da responsabilidade, somente o patrimônio do devedor


(art. 789, CPC), ou de terceiro responsável, pode ser objeto da atividade executiva
do Estado. Ao contrário do que ocorria no Direito Romano, onde o devedor pagava
através de sua liberdade (ou seja, ele virava escravo de seu credor). Todavia, face
à humanização do direito, esse princípio tem sofrido mitigações quando se fala, por
exemplo, em impenhorabilidade de alguns bens do devedor; ou quando se aplica
uma medida de coerção indireta, forçando a pessoa do devedor a cumprir a
obrigação com seu comportamento, embora não se dá sobre o seu corpo, salvo no
caso de prisão civil por dívida alimentar.

PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA TUTELA ESPECÍFICA

A execução, em nome do princípio da efetividade, deverá ser, de preferência,


específica. Ou seja, deve-se dar prioridade à entrega da obrigação como ela é, tal
qual houvesse sido cumprido espontaneamente pelo devedor. Em último caso, não
sendo isso possível, deverá se converter o direito em perdas e danos. Essa é a
orientação do art. 499, §1º: “a obrigação somente será convertida em perdas e

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danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente”

PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DO CONTRADITÓRIO

Muito se discutiu acerca do cabimento ou não desse princípio no processo


executivo, na medida em que o devedor é chamado a juízo não para se defender,
mas para cumprir a obrigação. E mais: ainda que deseje discutir o débito,
defendendo-se, deverá fazê-lo mediante uma ação de conhecimento: os embargos
do executado. Entretanto, apesar da peculiaridade, é assente de que o princípio é
aplicável na execução, em observância com o art. 5º, inc. LV, da CF, já que se trata
de um processo judicial, porém, de forma eventual - depende de provocação do
réu.

PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DA EXECUÇÃO

Tal princípio pressupõe que os diversos meios sejam igualmente eficazes (princípio
da efetividade deve ser respeitado). Assim, se há dois bens, penhora deverá recair
sobre aquele que gerar situação menos gravosa (ex. não se deve executar os
instrumentos necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado). O juiz
pode aplicá-lo de oficio, ou seja, se o credor optar pelo meio mais gravoso, poderá
o juiz
determinar que a execução se faça pelo meio menos oneroso. No entanto, ficando
inerte o juiz e o executado, no primeiro momento que lhe couber falar nos autos,
não se pronunciar acerca dessa onerosidade excessiva, haverá preclusão.

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a


execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para
o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida
executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e
menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já
determinados.

PRINCÍPIO DA PROPORC IONALIDADE

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É manejada quando houver colisão entre os demais princípios, adotando a solução
mais razoável, adequada e proporcional. É muito comum o choque entre a
dignidade da pessoa humana do executado, que lhe garante a impenhorabilidade
de alguns bens, e a efetividade da execução.

PRINCÍPIO DA COOPERA ÇÃO

Existem diversos artigos que demonstram a sua aplicação, como o art. 774, V,
NCPC, em que o executado tem o dever de indicar seus bens à penhora. Outros
dispositivos são os arts. 525, §4° e o 917, §3º do NCPC, em que o executado que
pretende impugnar ou embargar o valor da execução, que apresente desde logo o
valor que entenda devido.

PRINCÍPIO DA TRANSPA RÊNCIA PATRIMONIAL

O CPC prevê que o oficial de justiça tem dever de localizar patrimônio apto para
responder pelas dívidas do executado (523, §3º e 829, §1º) mas impõe ao
executado o dever de, mediante ordem do juiz, indicar bens que podem sujeitar-se
a penhora, com sua localização, valor, prova de propriedade, etc. O
descumprimento acarreta imposição de multa ou outra medida necessária para
efetivar a determinação judicial (139, IV e 773 c/c 772, III). via de regra, não há
privacidade a proteger o executado, tudo o que puder interessar à execução deve
estar acessível.

REGRAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO DE EXECU ÇÃO

REQUISITOS DA EXECUÇ ÃO

a) Apresentação de um título executivo (nulla executio sinetitulo): a partir do qual


se possa aferir a existência de um direito a uma prestação líquida, certa e exigível.
sua falta implica inadmissibilidade do procedimento executivo. Serve como meio
de prova da existência das condições da ação e possibilita apreciação do mérito.

b) Afirmação pelo exequente de que houve inadimplemento do executado (786 a


787): Didier entende que afirmação do inadimplemento é requisito de

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admissibilidade. sua demonstração é questão de mérito. Tal afirmação impulsiona
o interesse de agir do exequente.

CARACTERÍSTICAS

a) Disponibilidade: o exequente pode dispor da execução (ou do cumprimento de


sentença), quer não executando o título executivo, quer desistindo, total ou
parcialmente, da demanda executiva já proposta, quer desistindo de algum ato
executivo já realizado. A execução realiza-se para atender ao interesse do
exequente e, assim, cabe a ele o direito de dispor da execução.

b) Responsabilidade objetiva do exequente: a execução corre por conta e risco do


exequente. Prejuízos indevidos causados ao executado haverão de ser ressarcidos
pelo exequente, independentemente de culpa. A responsabilidade do exequente
pela execução injusta é objetiva: basta a prova do dano, material ou moral, e do
nexo de causalidade entre o dano e a execução indevida. (Art. 520 e 776, CPC).

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