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Uma vez que a semente da personagem foi plantada e germinou é preciso permiti-la se formar no
fruto. O fruto e´a caracterização exterior. Mas a cracterização exterior não provém de uma
gestualidade puramente decididamente racionalmente e mecanicizada a posteriori. A gestualidade
tem a ver com a forma de comunicação da personagem. A forma que transmite o processo interior.
Desenho de Cena
Uma cena pode ser em sua superfície um encontro para o chá. Isso é um fato externo simples de se
apresentar num palco. A bandeja, o chaleiro, mesa e cadeiras. Pessoas chegam, se cumprimentam,
se sentam. Issto tudo é muito óbvio e muito simples de se levar de uma certa forma a cabo e bem
acabada. Plástica.
Mas e se por trás desse encontro, no sentido interior, revela a negociação de um assassinato? Este
seria um sentido proposto muito mais relevante do que o simples encontro com o chá (que não é
abandonado, só toma um plano mais secundário na organização cênica).
A linguagem artística performática é necessariamente ambígua. Isso quer dizer que essencialmente
ela está num âmbito em que não se é possível limitá-la a uma única interpretação. Uma pedra em
cena é uma pedra, um lugar pra descansar, o fim da vida, uma questão. Esta metafora poética se
organiza em multiplicidade de interpretações possíveis. Dentro do desenho de cena (que manipula o
“material artístico” humano) é preciso levar em conta esta afirmação para potencializar aquilo que é
de interesse. Ampliar ainda mais essa possibilidade de múltipla leitura. Reduzir artisticamente essa
fronteira de uma (o encontro para o chá) com a outra (a negociação para o assassinato).
Como faze-lo?
Uma primeira possibilidade é a de traçar paralelos não realistas entre um acontecimento e outro.
Quais são as coisas similares possíveis entre o encontro para o chá e a negociação de assassinato?
Talvez o preparo.
Tanto o chá quanto o assassinato precisa ser preparado. A água precisa ser posta no fogo. Precisa ser
cuidada. Depois que ferveu a erva é posta e coberta.
A pesso precisa ser vigiada. Seguida. Quando do momento o ataque é feito e então, talvez, quem
sabe, um pano para cobrir o corpo.
Cuidar a água, cuidar a pessoa, o pano sobre. Ambiguidades passíveis, num espaço cênico, de se
ressignificar mutuamente.