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FORTALEZA
2011
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Fortaleza
2011
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Data da aprovação:____/____/_______.
Banca Examinadora:
_________________________________________
Profª Drª Maria Tereza de Castro Callado
UECE – Universidade Estadual do Ceará
_________________________________________
Profª Drª Mirtes Mirian Amorim Maciel
UFC – Universidade Federal do Ceará
_________________________________________
Profº Dr. Eduardo Jorge Oliveira Triandópolis
UECE – Universidade Estadual do Ceará
Fortaleza
Dedico este trabalho ao meu amigo e
companheiro Holmes Cordeiro, por sua presença,
atuação Ética e ao estudo da Filosofia do Direito,
servindo-me de exemplo de dedicação, trabalho e
o viver dignamente. À Fernanda, Nelson, Breno e
Mara Arantes
AGRADECIMENTOS
The discussion on the management of inter-war Germany, and the observing of its
growing instability, already indicating a new barbarism, takes Walter Benjamin's
reflection on the political space to deduce the vulnerability of the Constitution of the
Weimar Republic, which ended wound by the Nazi state of exception. The essay
"Critique of Violence Critique of Power, (Zur Kritik der Gewalt) which seeks to critique
the legal system of a state organization, confirms in that system its derivation from
the mythical power as “the legal act" can no longer promote justice. So Benjamin
analyzes the discrepancies of natural law and positive law, using the philosophy of its
history. In the investigation focused on the seventeenth-century absolutism baroque
aesthetic, a significant fragment appears which forms the basis for the
reconceptualization of the theory of sovereignty.Through the view of Drama baroque
(Trauerspiel), the art of government breaks with the Constitutional requirement of
law, challenging, thus, the legal system of princely baroque, to inaugurate the
exercise of other political action that takes into account the laws of otherness. These
laws are enforced, through the mobilization of affections in the soul. Backed by a
pseudo-Stoic ethics, they can recover their balance and stabilization of political
history, since that stoicism is brushed, in the Baroque, with the traces of Christianity,
the motivation for building an identity between subject and ruler.
INTRODUÇÃO 10
2 O PODER E A VIOLÊNCIA 31
3 CRÍTICA E REVOLUÇÃO 54
CONCLUSÃO 84
REFERÊNCIAS 89
ANEXOS 94
10
INTRODUÇÃO
Nesse capitulo vem à tona o conceito de história da tese 11. Na sua luta
contra o fascismo, Benjamin observa no movimento nazista (Bewegung)2 a ortodoxia
racial que vitima a humanidade com momentos de profunda alienação, resultado da
padronização de modelos. Não é difícil, a partir desse aprendizado, aliar o exercício
da ideologia observada por Benjamin a uma aceitação pacífica: o ―conformismo, que
sempre esteve em seu elemento na social-democracia, não condiciona apenas suas
táticas políticas, mas também suas idéias econômicas‖3. Vale ressaltar que o povo
Alemão assimilou, interiorizou este conformismo, sem qualquer resistência. A
despolitização e a passividade foram resultado da propaganda facilitada pelos
massivos meios de comunicação - face ao comprometimento das instituições – que
robotizam com a conivência da técnica, o modo de pensar e agir. A seguir o estudo
de Origem do Drama Barroco Alemão mostra, na dramaturgia do século XVII, a cena
da corte como um microcosmo da história, realçando a imanência história-natureza
quando a violência da natureza é mimetizada na violência da história. Essa
evidência exige o exercício da racionalidade para a superação da violência
imanente, que se realiza no comportamento ex officio do príncipe barroco4.
2
Bewegung - Movimento
3
Walter Benjamin. ―Tese 11 - Sobre o conceito da história‖. In: Magia e técnica, arte política. São
Paulo: Brasiliense, 1986, p. 227.
4
Tereza de Castro Callado. ―O comportamento ex officio do estadista na teoria da soberania em
origem do drama barroco alemão‖ In: Ética e metafísica, Coleção Argentum Nostrun. Fortaleza:
UDUECE, 2007.
5
Walter Benjamin. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984, p.67.
13
6
Renovação religiosa ocorrida na Europa durante o século XVI, como retorno às origens do
cristianismo. Preparada pelo humanista Erasmo de Roterdã (1466-1536), a Reforma foi iniciada pelo
monge agostiniano Martin Lutero (1483-1546), que, em 1517, afixou nas portas da catedral de
Wittenberg noventa e cinco teses contra a venda de indulgências. (ABAGNANO, 2007)
7
A Contra-Reforma Católica - Preocupados com os avanços do protestantismo e com a perda de
fiéis, bispos e papas reúnem-se na cidade italiana de Trento (Concílio de Trento) com o objetivo de
traçar um plano de reação. No Concílio de Trento ficou definido - Catequização dos habitantes de
terras descobertas, através da ação dos jesuítas; - Retomada do Tribunal do Santo Ofício - Inquisição
punir e condenar os acusados de heresias - Criação do Index Librorium Proibitorium (Índice de Livros
Proibidos): evitar a propagação de idéias contrárias à Igreja Católica.
8
A figura acometida pela melancolia no drama barroco alemão era o príncipe, concebido como um
Deus cartesiano, Dieu Cartesien.
14
9
Walter Benjamin. Teorias do fascismo alemão. Sobre a coletânea Guerra e Guerreiros, editada por
Ernst Jünger. In: Magia e técnica, arte política. trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense,
1986.
15
10
Walter Benjamin. Tese 7 - Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte política. São
Paulo: Brasiliense, 1986, p. 225.
11
Idem, p. 225.
12
Idem, p. 225.
16
13
A Constituição de Weimar, que entrou em vigor no dia 31 de Julho de 1919, era o documento que
governou a curta república de Weimar, na Alemanha. Formalmente, era a Constituição do estado
alemão. O título da Constituição era o mesmo que a constituição imperial que a precedeu. A palavra
alemã Reich é traduzida geralmente como Império. No entanto, uma tradução mais exata seria reino
ou comunidade. O termo persistiu mesmo após o fim da monarquia em 1918. O nome oficial do
Estado alemão era Deutsches Reich até a derrota da Alemanha Nazi no final da Segunda Guerra
Mundial.
14
O Plano Dawes foi um plano provisório elaborado por um comitê dirigido Charles G. Dawes para
viabilizar o pagamento das dívidas que a Alemanha possuía após o final da Primeira Guerra Mundial,
decorrentes do Tratado de Versalhes. O comitê era composto por 10 representantes, dois de cada
um dos seguintes países: Bélgica, França, Grã-Bretanha, Itália e E.U.A.. O comitê chegou a um
acordo em agosto de 1924 que consistia em: Evacuação da região do Ruhr pelas forças aliadas; O
pagamento das indenizações começaria em 1000 milhões de marcos e aumentaria num período de 4
anos até atingir 2500 milhões de marcos anuais; O Reichsbank da Alemanha seria reorganizado sob
supervisão aliada; Empréstimos estrangeiros, principalmente dos E.U.A., seriam disponibilizados para
a Alemanha; A fonte para as verbas de reparação deveriam incluir impostos sobre transportes,
impostos sobre mercadorias e taxas alfandegárias. O plano foi prontamente aceito pela Alemanha e
entrou em vigor em setembro de 1924. Os pagamentos persistiram até 1929 quando se percebeu que
os valores eram insustentáveis para a Alemanha e o plano foi substituído pelo Plano Young. A curto
prazo o efeito do plano Dawes foi de estabilizar a economia e moeda alemãs, mas também tornou-a
dependente de mercados externos e frágil em relação a crises na economia americana (como a crise
de 1929).
18
15
Friedrich Ebert (Heidelberg, 4 de Fevereiro de 1871 — Berlin, 28 de Fevereiro de 1925) foi um
político alemão. Ocupou os cargos de Reichskanzler (Chanceler do Império Alemão) de 9 de
Novembro de 1918 – 11 de Fevereiro de 1919, e de Reichspräsident (Presidente da Alemanha) de11
de Fevereiro de 1919 – 28 de Fevereiro de 1925. Se envolveu em política como um trade unionista e
social democrata e logo se tornou líder da ala revisionista do Partido Social-Democrata da Alemanha
sendo Secretário Geral do partido em 1905. Foi um dos líderes da República de Weimar, sendo um
dos responsáveis pelas tentativas de fazer com que um regime estranho aos alemães, e em uma
circunstância difícil, obtivesse um certo sucesso.
16
Guedes, Marco Aurélio Peri. Estado e ordem econômica e social – A experiência constitucional da
República de Weimar e a Constituição brasileira de 1934. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p 42-44.
19
Esse cenário serviu de pano de fundo para o nazismo19 que ascendeu com
toda sua força no final da 1ª Guerra Mundial, sob uma liderança militar altamente
autocrática e conservadora. Para fugir da responsabilidade de perder a guerra
(1914-1919), o país atirou o poder nas mãos do Sozialdemokratische Partei
Deutschlands - SPD, que teve que assumir a responsabilidade de negociar de forma
humilhante, a paz, ou seja, a derrota na Guerra:
17
O marco alemão desaba e consegue se estabilizar somente em Novembro de 1923, quando sua
cotação atinge 4,6 bilhões de marcos para US$ 1. A hiper inflação tem efeito devastador sobre a
economia, desorganizando a produção e o comércio.
18
O Vale do Ruhr é a região situada no centro do estado da Renânia do Norte-Vestfália, ao longo do
leito do rio Ruhr. Trata-se de uma região rica em depósitos carboníferos, principal fonte de energia
para impulsionar a indústria.
19
A Origem do nome Nazista vem da abreviatura de National - Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei,
que em português quer dizer Partido Nacional - Socialista dos Trabalhadores Alemães. Apesar do
nome, os nazistas nada tinham de trabalhadores: seu principal apoio vinha dos grandes empresários.
A palavra socialista era tão depreciada pelos trabalhadores que não tiveram a coragem de utilizá-la,
embora fossem inimigos da democracia e da igualdade social, defendendo o capitalismo com garras
e canhões. O nacionalismo nazista teve como resultado o ódio a outros povos e a guerra.
20
Alcir Lenharo, Nazismo o triunfo da vontade. 2.ed. São Paulo: Ática, 1990, p. 14.
20
Por volta dos anos de 1920 e início dos anos de 1930, os nazistas reuniram
apoio eleitoral suficiente para se tornar o maior partido político no Reichstag, e Hitler
aproveitando-se de uma estabilidade da economia alemã, através da injeção de
capital estrangeiro, cria uma mitologia em torno da sua ascensão, suspende a
Constituição de Weimar e passa a governar através de Decretos:
21
Ibidem, p. 18.
22
Ibidem, p. 22.
21
23
Ein Volk, ein Reich, ein Führer
(Adolf Hitler, Mein Kampf)
23
Um povo, um reino, um líder.
24
Ângela Mendes de Almeida. A República de Weimar e a ascensão do Nazismo. 3.ed. São Paulo:
Brasiliense, 1990, p. 13.
25
Ambição, aspiração, ambicionar, aspirar, esforçar-se, esforçar-se por, lutar, objetivar.
23
Todavia esse mito tem raízes mais profundas do que se pode cogitar. Ele já
estava no humanismo clássico. Sua representação germânica está na aspiração de
Fausto26 ao conhecimento e à filosofia, tanto que esse personagem de Goethe
vende sua alma a Mefistófeles27 pelos bens almejados.
26
A tragédia Fausto de Goethe aclamado imperador pontífice dos poetas da Alemanha, é obra
indubitavelmente única no seu gênero. Em menos de meio século todas as nações têm forçado a ler
e estudar nossos próprios idiomas. Em toda a parte os mais soberbos talentos lhe sentiram em si os
influxos triunfais, ao mesmo passo que o senso das turbas mal sabia como se houvesse com as
trevas e monstros desta cordilheira de poesia rebentada a súbitas de profundezas desconhecidas. De
nenhum outro livro se tem dito e escrito tanto; é por que este é que foi o verdadeiro padrão que
estremou o mundo poético antigo do mundo poético hodierno.
27
Mefistófeles é uma personagem satânica da Idade Média, conhecida como uma das encarnações
do mal, aliado de Lúcifer na captura de almas inocentes. Em muitas culturas também se toma como
sinônimo do próprio Diabo. Mefistófeles é um personagem-chave em todas as versões de Fausto,
sendo a mais popular destas, a do escritor alemão Johann Wolfgang Von Goethe. Mefistófeles
aparece ao Dr. Fausto, um velho cientista, cansado da vida e frustrado por não possuir os
conhecimentos tão vastos como gostaria de ter, e este decide entregar-lhe a sua alma em troca de
alcançar o grau máximo da sabedoria, ser rejuvenescido e obter o amor de uma bela donzela.
28
Sturm und Drang (tempestade e ímpeto) foi um movimento literário romântico alemão, situado no
período entre 1760 a 1780. O movimento animava-se por uma reação ao racionalismo que o
iluminismo do século XVIII postulara, bem como ao classicismo francês que, como forma estética,
tinha grande influência na cultura européia, principalmente na Alemanha daquele tempo.
24
estrutura hierárquica. Seus mecanismos são os da técnica que não está ―madura
suficiente para debelar as forças elementares da sociedade‖.29
29
Walter Benjamin. Teorias do fascismo alemão – sobre a coletânea guerra e guerreiros de Ernst
Jünger. In: Magia e técnica, arte política. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 61
25
30
.Ibidem, p. 61.
31
Ibidem, p. 61.
32
Ibidem, p. 61.
33
Ibidem, p. 61.
26
34
Ibidem, p. 61.
35
Ibidem, p. 61.
27
36
Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Dialética do esclarecimento – fragmentos filosóficos. trad.
Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p. 99
37
Walter Benjamin. Teorias do fascismo alemão – sobre a coletânea guerra e guerreiros de Ernst
Jünger. In: Magia e técnica, arte política. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 61
28
E a mercadoria do espetáculo nos faz ver que o espetáculo segue com toda
sua força recobrindo a Alemanha com imagens sedutoras anunciando uma próxima
guerra, evocada sob um heroísmo fútil, em que já se anunciava uma batalha de
materiais:
Esses pioneiros da Wehrmacht quase levam a crer que o uniforme pra eles
é um objetivo supremo, almejando com todas as fibras do seu coração;
comparadas ele, as circunstancias em que o uniforme poderia ser utilizado
perdem muito de sua importância. Essa atitude se torna mais inteligível
quando se considera como a ideologia guerreira representada na coletânea
está ultrapassada pelo desenvolvimento do armamentismo europeu.
41
(BENJAMIN, 1986) .
cada vez mais abrangente, consolidando, numa grande unidade, o ideal de um país
antes fragmentado.
Além dessa origem mítica toda realidade alemã estava encoberta pela
fumaça da mentira e do engodo, como um véu de fantasia valorizada pelos fatos que
compunham o falso senso de realidade. O mito tecia a fantasia de uma verdade
orientadora da vida coletiva, mascarando a arbitrariedade da relação entre o
significante e as significações, produzindo o conforto e a segurança imaginários, que
escondiam a ameaça da guerra:
42
Ibidem, p. 67.
30
(...) está claro que as ações da experiência estão em baixa, e isso numa
geração que entre 1914 e 1918 viveu uma das mais terríveis experiências
da história. Talvez isso não seja tão estranho como parece. Na época, já se
podia notar que os combatentes tinham voltado silenciosos do campo de
batalha. Mais pobres em experiências comunicáveis, e não mais ricos
43
(BENJAMIN. 1986) .
―Uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos viu-
se abandonada, sem teto, numa paisagem diferente em tudo, exceto nas
nuvens, e em cujo centro, num campo de forças de correntes e explosões
destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo humano. Uma nova forma de
miséria surgiu com esse monstruoso desenvolvimento da técnica,
45
sobrepondo-se ao homem‖ (BENJAMIN, 1986) .
43
Walter Benjamin. Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte política. São Paulo: Brasiliense,
1986, p. 114.
44
Idem, p. 115
45
Idem, p. 115.
46
Walter Benjamin. Teorias do fascismo alemão – sobre a coletânea guerra e guerreiros de Ernst
Jünger. In: Magia e técnica, arte política. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 66
47
Idem, p. 67.
48
Idem, p. 68.
31
2 O PODER E A VIOLÊNCIA
49
* Em O Estado de Exceção Agamben comenta sobre o Tratado de Diotogene resgatado por
Stobeo. Disposto a maneira de um silogismo diz a ―primeira proposição‖ que o rei é o mais justo, o
mais justo é o mais legal, para depois afirmar que ninguém despido de justiça pode reinar. No entanto
a segunda proposição reconhece que a justiça é superior à lei, uma vez que existem leis sem justiça:
―sem justiça ninguém pode ser rei, mas a justiça é sem lei‖, isto é, A justiça prescinde da lei, que só
tem força de prescrevê-la, ou seja é com a força de um código apenas que a lei dita a justiça. Esse
código orienta para a prática da justiça, mas não faz a justiça. Conclui-se que o justo é legítimo e não
mais apenas legal. A justiça é a ação que tem na lei, enquanto código, o seu mero registro e só na
ação a sua efetividade. Na conclusão: ―o soberano que é causa do justo é uma lei viva‖, a
legitimidade coincide com a justiça. Portanto o fato de ser legítimo é superior ao fato de ser legal,
escrito pela lei. Tereza de Castro Callado. O comportamento ex-officio do estadista na teoria da
soberania em Origem do drama barroco alemão. In: Ética e metafísica. Fortaleza: Eduece, 2007, p.
111 -142.
50
O Liberalismo é um sistema político-econômico baseado na defesa da liberdade individual, nos
campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do
poder estatal. O Estado liberal espera que as coisas se modifiquem sem uma intervenção individual,
ou de grupo, e ao mesmo tempo se ajustem de tal forma que as coisas se relacionem de forma
natural, sem que o Estado tenha a sua intromissão direta no processo de produção, como também no
consumo, visto que as liberdades individuais devem ser respeitadas para que tudo se acomode de
forma comum e simples.Social-Democracia: Concepção política saída do marxismo, também
designada de "socialismo democrático". Afirmou-se em finais do século XIX. Defende uma concepção
menos interventiva do Estado. Aceita a propriedade privada, apostando numa política centrada em
reformas sociais caracterizadas por uma grande preocupação com as pessoas mais carentes ou
desprotegidas e uma distribuição mais equitativa da riqueza gerada. A social-democracia, como
política gradualista de transformação social, surgiu quando, em finais do século XIX, alguns partidos
que se reclamavam do ideário marxista abandonaram esta orientação política. Eduard Bernstein
(1850-1932) foi um dos lideres e teóricos políticos que operou esta ruptura no Partido Social
Democrata da Alemanha. Bernstein começou por ser um defensor acérrimo das idéias de Marx e
Engels, mas após rigorosa análise à evolução das sociedades onde a economia capitalista estava
mais desenvolvida, convenceu-se que as teses marxistas estavam erradas.
32
A crise foi intensificada por fatores como a perda do senso crítico decorrente
da pobreza da experiência (Erfahrung)51. De acordo com Benjamin a
descontinuidade da tradição foi observada a partir da perda da narrativa em sua
obra52 Experiencia e Pobreza publicada em 1933, quando o soldado ao retornar da
guerra percebe que não tem o que transmitir, o que narrar, pois nenhuma
experiência foi assimilada. Da condição subhumana das trincheiras, resta-lhe
somente o fusil e a fumaça, o eco das bombas e o cheiro podre da morte.
51
A experiência é a sabedoria conseguida com o acumulo de conhecimentos recolhidos da tradição
filosófica que foram pedidos com o advento da mecanização dos novos tempos, a introdução da
máquina como elemento de aceleração da técnica.
52
Walter Benjamin. ‖Experiência e Pobreza‖. In: Magia e técnica, arte política. 1986, p. 114.
33
53
Walter Benjamin. Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte política. São Paulo: Brasiliense,
1986, p. 114.
54
Idem p. 115.
55
Max Weber. Economia e sociedade, Fundamentos da sociologia compreensiva. vol. 1. trad. Regis
Barbosa. Brasília: UNB. 2009. p. 139.
56
Há três tipos puros de dominação legítima. A vigência de sua legitimidade pode ser,
primordialmente: 1. De caráter racional (...) 2. De caráter tradicional (...) 3 de caráter carismático (...).
Idem, p. 141
34
Ela se instalara numa única peça do direito, com um forte caráter autoritário,
que garantia ao presidente do Reich direitos ditatoriais como o de dissolver o
57
Walter Benjamin. Sobre o conceito da história. Tese 8. In: Magia e técnica, arte política São Paulo:
Brasiliense, 1986, p. 226.
35
58
Artigo 25 - O presidente do Reich tem o direito de dissolver o Reichstag, mas apenas uma vez pelo
mesmo motivo. Novas eleições, o mais tardar, são realizadas 60 dias após a dissolução.
59
artigo 48 - Se um Estado (8) não cumprir as obrigações impostas pela Constituição ou pelas leis do
Reich, o Presidente do Reich pode usar a força armada para fazer com que ele obriga. No caso da
segurança pública está seriamente ameaçada ou perturbada, o presidente do Reich pode tomar as
medidas necessárias para restabelecer a lei e a ordem, se necessário utilizar a força armada. Na
prossecução deste objetivo que poderá suspender os direitos civis descritos nos artigos 114, 115,
117, 118, 123, 124 e 154, total ou parcialmente. O presidente do Reich deve informar imediatamente
sobre o Reichstag todas as medidas tomadas que são baseados em números 1 e 2 do presente
artigo. As medidas têm de ser imediatamente suspensa se Reichstag exige isso. Se o perigo é
iminente, o governo do Estado pode, por seu território específico, implementar medidas como descrito
no parágrafo 2. Essas etapas têm de ser suspenso se for reivindicado pelo presidente do Reich ou do
Reichstag. Mais detalhes são fornecidos pela lei Reich.
36
Este tipo de governo que revela claramente sua origem ―fabulosa‖ subjuga o
povo tratando das questões políticas e econômicas com medidas paliativas, visando
resolver a problemática de um povo levando em consideração apenas os interesses
de pequenos grupos, que na social democracia é a força do capital ou de um grupo
que almeja este poder: ―A teoria e, mais ainda, a pratica da social-democracia foram
determinadas por um conceito dogmático de progresso sem qualquer vinculo com a
realidade‖60. É nessa suspensão da realidade que se instala o mito utilizado pelo
governo autoritário.
60
Walter Benjamin. ―Tese 13‖ do conceito da história. In: Magia e técnica, arte política. São Paulo:
Brasiliense, 1986, p. 229.
61
Platão nos dá um exemplo da fragilidade em torno do tirano no Livro 9 da República na medida em
que aponta uma dialética para a tirania nos desregramentos da própria constituição do tirano, ele só
existirá se houver alguém que o obedeça: ―uma alma tirânica é sempre forçosamente pobre e por
saciar‖. Platão. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian. 1996. p. 423. Daí a necessidade de revestir o poder com os artifícios míticos. Platão diz
ainda: ―o tirano autentico é um autentico escravo‖.
62
Walter Benjamin. Crítica da violência – crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. trad. apres. e notas, Willi Bolle. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 167.
37
Diz Lenharo que ―Hitler se apresenta como um grande guia condutor da fé, o
grande arquiteto da comunhão nacional‖. Lenharo reproduz a retórica do líder
nazista alemão, no seu discurso carregado de falso moralismo:
Nós nos encontramos todos aqui e o milagre desse encontro enche nossa
alma. Cada um de vocês pode me ver e eu não posso ver cada um de
vocês, mas eu os sinto e vocês me sentem. É a fé em nosso povo que, de
pequenos, nos tornou grandes, de pobres, nos fez ricos, de homens
angustiados, desencorajados e hesitantes que éramos, fez de nós homens
corajosos e valentes, aos homens errantes que éramos, nos deu a visão e
63
nos reuniu a todos .
(Discurso de 1936)
63
Alcir Lenharo, Nazismo o triunfo da vontade. 2.ed. São Paulo: Ática, 1990, p. 45.
38
―No que diz respeito ao ultimo, a brincadeira infantil constitui a escola dessa
faculdade. Os jogos infantis são impregnados de comportamentos
miméticos que não se limitam de modo algum a imitação de pessoas. A
criança não brinca apenas de ser comerciante ou professor, mas também
moinho de vento e trem. A questão importante, contudo, é saber qual a
64
utilidade para a criança desse adestramento da atitude mimética.
64
Walter Benjamin. ‖Doutrina das semelhanças‖. In: Magia e técnica, arte política. 1986, Opus sit. p.
108.
65
Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Dialética do esclarecimento – fragmentos filosóficos. trad.
Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro: Zahar, 1985. P. 154-155.
66
O conceito de mimesis tem sido objeto de análise desde os filósofos da Grécia Antiga. A grosso
modo significa ―imitação‖ e, nesse sentido, pode possuir diversas interpretações. Para Platão, a arte,
sob o prisma mimético, dizia respeito às opiniões e às aparências representadoras do mundo dito
real. Segundo esta concepção, portanto, a mimese representa a imitação das aparências (da
realidade). Porém, faz-se válida a lembrança de que a realidade em si é meramente uma imagem,
praticamente um vulto, do plano das idéias eternas. Pensando desta forma, a arte se configuraria
39
como uma espécie de espectro da realidade, um simulacro que não mostraria reconhecimento
verdadeiro em um plano de realidade. Já Aristóteles relaciona o conceito de mimese à imitação das
essências do mundo. Desta maneira, o imitar não estaria sujeito à mera duplicação de uma imagem
referente, por exemplo. A configuração mimética, de acordo com o ensinamento aristotélico,
implicaria em um profundo conhecimento da natureza humana. Outros estudos gregos da
Antiguidade, como os de Pitágoras, versam que o fenômeno mimético não é senão a ―expressão dos
estados de alma‖. De qualquer forma, a mimese entendida como espelho passou por séculos até o
conceito aristotélico foi verdadeiramente decodificado em seu real significado por Kant, Hegel
(filósofos) e Hölderlin (escritor). A partir das considerações destes estudiosos, a mimese passou a ser
encarada como manifestação da plenitude da realidade. Benjamin parte da concepção mimética em
Aristóteles, que concebe a faculdade mimética como principio da aprendizagem, na verdade a
mimese no conceito Benjaminiano está relacionada a imagem, e a imagem possui a percepção das
essenciais ou seja das idéias sendo que a verdade é o equilíbrio tonal dessas essenciais.
67
Olgaria Matos. Discretas esperanças. São Paulo. Nova Alexandria. 2006. p. 62.
68
Walter Benjamin. Posto de gasolina. In: Rua de mão única. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho e
Jose Carlos Martins Barbosa. São Paulo. Brasiliense. 1995. p. 11.
40
Portanto, o êxito de Hitler não pode ser explicado pelo seu papel reacionário
na historia do capitalismo, pois este, se tivesse sido claramente
apresentado na propaganda, teria obtido resultados opostos aos desejados.
O estudo do efeito produzido por Hitler na psicologia de massas parte
forçosamente do pressuposto de que um Führer ou o representante de uma
idéia só pode ter êxito (se não numa perspectiva histórica, pelo menos
numa perspectiva limitada) quando a sua visão individual, a sua ideologia
ou o seu programa encontram eco na estrutura média de uma ampla
70
camada de indivíduos (REICH. 2001) .
Estado como protetor de seus bens, souberam apreciar a seu devido valor
as ofertas desse bando, sempre disponíveis, como arroz e nabos, graças à
72
intermediação de instâncias privadas ou do exército (BENJAMIN, 1986) .
69
Walter Benjamin, Teorias do fascismo alemão. In: Magia e técnica, arte política. Trad. Sérgio Paulo
Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 71.
70
REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo. trad. Maria da Graça M. Macedo, 3.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2001 p 34.
71
Idem, p. 71
72
Walter Benjamin, Teorias do fascismo alemão. In: Magia e técnica, arte política. trad. Sérgio Paulo
Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 71.
41
73
A Juventude Hitlerista (Hitlerjugend) foi uma instituição obrigatória para jovens da Alemanha
nazista, que visava treinar crianças e adolescentes alemãs de 6 a 18 anos de ambos os sexos para
os interesses nazistas. Os jovens se organizavam em grupos e milícias para-militares. Esses grupos
de indivíduos, doutrinados pelo estado, existiu entre 1922 e 1945. Antes de a Juventude Hitlerista era
um movimento relativamente pequeno, a partir de 1936 com o alistamento obrigatório, 3,6 milhões de
membros haviam sido recrutados, em 1938, o número chegava a 7,7 milhões. Em 1939, já no pré-
guerra, foi decretada uma ordem de recrutamento geral. Em 1936, Hitler unificou as organizações de
jovens e anunciou que todos os jovens alemães deveriam se alistar nos Jungvolk (Povo Jovem) aos
10 anos, quando poderiam ser treinados em atividades extracurriculares, que incluíam a prática de
esportes e acampamentos, além de uma doutrinação ao nazismo. Aos 14 anos, os jovens deveriam
entrar na Juventude Hitlerista, sujeitando-se a uma disciplina semi militar, bem como a atividades
externas e à propaganda nazista. Paralelamente à Juventude Hitlerista, existia a Liga das Jovens
Alemãs, onde as moças aprendiam os deveres da maternidade e os afazeres domésticos, e, assim
como os garotos, aprendiam os verdadeiros objetivos do nazismo, e o que fazer para alcançá-lo. Aos
18 anos, deveriam alistar-se nas forças armadas ou nas forças de trabalho.
74
Alcir Lenharo, Nazismo o triunfo da vontade. 7.ed. São Paulo: Ática, 2006, p. 73.
75
Walter Benjamin. Sobre o conceito da história. Tese 7. In: Magia e técnica, arte política. trad. Sérgio
Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 225.
42
76
Walter Benjamin, Teorias do fascismo alemão. In: Magia e técnica, arte política. trad. Sérgio Paulo
Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 71.
77
Idem, p. 70. (...) traços hipocráticos da história - Com lança-chamas e trincheiras, a técnica tentou
realçar os traços heróicos no rosto do idealismo alemão. Foi um equivoco. Porque os traços que ela
julgava serem heróicos eram na verdade traços hipocráticos, os traços da morte.
78
. Wilhelm Reich. Psicologia de massas do fascismo. trad. Maria da Graça M. Macedo, 3.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2001 p. 17.
79
Theodor W Adorno e Max Horkheimer. Dialética do esclarecimento – fragmentos filosóficos. trad.
Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p. 152.
43
80
Walter Benjamin, Sobre o conceito da história. Tese 13. In: Magia e técnica, arte política. trad.
Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p.229.
81
Idem, p. 229.
82
Idem, p. 229.
83
Georg Wilhelm Friedrich Hegel. A razão na história. Trad. Beatriz Sidou São Paulo: Ed.
Moraes.1990. A razão é o conteúdo infinito de toda a essência e verdade, pois não exige, como o faz
a atividade finita, a condição de materiais externos, de meios fornecidos de onde extrair-se o alimento
e os objetos de sua atividade; ela supre seu próprio alimento e sua própria referência. p. 53
84
Walter Benjamin, Sobre o conceito da história. Tese 13. In: Magia e técnica, arte política. Trad.
Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p.229.
44
85
. Walter Benjamin, Teorias do fascismo alemão. Sobre a coletânea Guerra e Guerreiros, editada por
Ernst Jünger. In: Magia e técnica, arte política. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense,
1986, p 67.
86
Walter Benjamin, Sobre o conceito da história. Tese 13. In: Magia e técnica, arte política. Trad.
Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986, p.227.
87
Walter Benjamin. ―Parque central‖. In: Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. trad.
José Carlos Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista, 1.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 173.
88
Lumpen o trapeiro, é aquele que acorda mais cedo para catar os restos deixados pela civilização.
Benjamin constrói com esse vocábulo o conceito de intelectual. O intelectual então para Benjamin
45
antes de ser um líder tem o papel importante de dar sentido às coisas recolhidas da tradição,
atualizando-as.
89
Wilhelm Reich. Psicologia de massas do fascismo. trad. Maria da Graça M. Macedo, 3.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2001 p. 63.
46
90
Michel Foucault. Microfísica do poder. org. e trad. Roberto Machado, Rio de Janeiro: Graau, 2010,
p. 210. - Pan-óptico é um termo utilizado para designar um centro penitenciário ideal desenhado pelo
filósofo Jeremy Bentham em 1785. O panóptico consistia em uma torre central localizada no meio de
um pátio circulado pela construção de múltiplas celas abertas em janelas que davam tanto para o
centro do pátio como para o lado oposto, permitindo o recorte, pela iluminação externa, da figura dos
encarcerados. O conceito do desenho permite a um vigilante só o domínio visual dos prisioneiros sem
que estes possam saber se estão ou não sendo observados. A idéia desta arquitetura foi transferida
para os hospitais, fábricas e dissimulada em toda sociedade como forma de controle. ―Parece que um
dos primeiros modelos desta visibilidade isolante foi colocado em prática nos dormitórios da Escola
Militar de Paris, em 1751‖
91
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie.. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 162
47
92
Ibidem, p. 174.
93
O conceito de mera vida aparece no artigo de 1921, texto Crítica da violência crítica do poder. Ela
constitui motivo de discussão de Benjamin com o terrorista intelectual que reconhece que a existência
em si é superior a felicidade e a justiça de uma existência, afirmação falsa, pois é vil a idéia de que a
existência teria um valor mais alto que a existência justa. Quando se toma ―existência‖ no sentido de
mera vida. O conceito espaço do corpo que aparece no ensaio O surrealismo, realiza a conquista do
corpo no espaço crítico e revolucionário de uma biopolítica.
94
Giorgio Agambem. Homo sacer – o poder soberano e a vida. trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte:
Ed.UFMG, 2002. p. 111.
95
Idem, p. 111.
48
96
Ibidem, p. 112.
97
Ibidem, p. 178.
98
Os nazistas criaram campos de extermínio para que os assassinatos em massa fossem mais
eficazes. Diferentemente dos campos de concentração, que serviam principalmente como centros de
detenção e de trabalho forçado, os campos de extermínio (também chamados de "centros de
extermínio" ou "campos de morte") eram quase que exclusivamente "fábricas de morte". As SS e
polícia alemã assassinaram cerca de 2.700.000 judeus nos campos de extermínio, seja utilizando o
método de asfixia criada pela emissão de gases ou por fuzilamento.
99
Auschwitz - O complexo dos campos de concentração de Auschwitz era o maior de todos os
estabelecidos pelo regime nazista. Nele havia três campos principais de onde os prisioneiros eram
distribuídos para fazer trabalho forçado por longo tempo, um deles também funcionou como campo
de extermínio. Os campos estavam a aproximadamente 60 quilômetros a oeste da cidade polonesa
de Cracóvia, na Alta Silésia, próximos à antiga fronteira alemã e polonesa de antes da guerra, mas
que em 1939, após a invasão e a conquista da Polônia, foi anexada à Alemanha nazista. As
autoridades das SS estabeleceram os três campos principais perto da cidade polonesa de Oswiecim:
Auschwitz I, em maio de 1940; Auschwitz II (também conhecido como Auschwitz-Birkenau), no início
de 1942; e Auschwitz III (também chamado de Auschwitz-Monowitz), em outubro de 1942.
100
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 165
49
instituinte de um direito, mas foi julgado de maneira que talvez ainda mais
101
arrasadora quanto a uma outra função. (BENJAMIN. 1986)
101
Ibidem, p. 164-165.
102
Ibidem, p. 165.
103
Ibidem, p. 165
104
Ibidem, p. 165.
50
arquetípica pode servir de modelo para qualquer violência para fins naturais, a toda
violência desse tipo é inerente um caráter legislador‖.105
105
Ibidem, p. 164.
106
Fantasma, aparição ilusória. Presença ou iminência ameaçadora; espantalho: o espectro da fome.
107
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 164.
108
Idem, p. 164.
51
109
Movimento dos sem terras
110
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 166.
52
111
Ibidem, p. 166.
112
Ibidem, p. 166.
53
113
Ibidem, p. 166.
114
Ibidem, p. 166.
115
Ibidem, p. 168. Será que a solução não violenta de conflitos é em princípio possível? Sem dúvida,
as relações de pessoas entre particulares fornecem muitos exemplos. Um acordo não violento
encontra-se em toda parte onde a cultura do coração deu aos homens meios puros para se
entenderem.
54
3 CRÍTICA E REVOLUÇÃO
116
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo Rouanet,
São Paulo: Brasiliense, 1984, Opus site. p. 51
117
Walter Benjamin. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Magia e técnica, arte
política. São Paulo: Brasiliense, 1996, Opus site p. 196.
55
118
Walter Benjamin.Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas Sergio Paulo Rouanet,
São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 93.
56
119
Walter Benjamin. Crítica da violência crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. trad. apres. e notas, Willi Bolle. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1986 p. 161.
57
significa necessariamente que essa norma seja capaz de ser justa, porque na
verdade a suspensão da Constituição de Weimar nega esse argumento.
O Estado uma vez representado pelo direito tem como primeira função
instituir o próprio direito e por outro lado a função de manter o direito, subordinando
seus cidadãos e aplicando a norma ao seu comportamento. Nessa função ele
coincide com a violência: ―Se a primeira função da violência passa a ser a instituição
do direito, sua segunda função pode ser chamada de manutenção do direito‖.120
Esse cenário da violência merece uma análise crítica das implicações entre
o direito, a justiça e a legalidade uma vez que Benjamin observa que é possível que
o sistema jurídico enquanto ciência do direito não consiga a realização da justiça, no
caso em que ele venha sobrecarregado de interpretações tendenciosas como nos
decretos autorizados por Hitler na perseguição antisemita. Merece também uma
avaliação o espaço entre a legalidade e a legitimidade. Agambem mostra uma
diferença entre a passagem da legitimidade para a legalidade ao transcrever o
tratado de Diotogene em parte recuperado por Estobeo. Nesse silogismo a justiça é
sem lei (aneu nomou dikaiosyne) dando a entender que a justiça para ser praticada
não precisa da lei e que lei só tem validade quando é capaz de fazer justiça.
Portanto o justo é legítimo. O que não se pode afirmar através do tratado com
respeito à legalidade. Legal significa de acordo com a lei.
120
Ibidem, p. 165.
121
Ibidem, p. 161.
58
122
Ibidem, p. 161.
123
Ibidem, p. 161.
59
(...) temos mais dados para a crítica da violência do que talvez pareça. Pois
se a violência é um meio, pode parecer que já existe um critério para sua
crítica. Tal critério se impõe com a pergunta, se a violência é, em
determinados casos, um meio para fins justos ou injustos. Sua crítica,
125
portanto, estará implícita num sistema de fins justos (BENJAMIN. 1986) .
124
Ibidem, p. 160.
125
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 160.
60
126
Ibidem, p. 160.
127
Ibidem, p. 160.
61
128
Ibidem, p. 161.
129
Ibidem, p. 166.
130
Ibidem, p. 161.
62
sua instituição. O direito conta com a instituição da vitória, mas essa vitória é
arbitrária, ela acontece em detrimento da história dos vencidos, cujos despojos,
coragem, determinação, amor e humor, muitas vezes são atribuídos aos
vencedores.
131
Ibidem, p. 165.
132
Ibidem p. 166
133
―A teoria e, mais ainda, a prática da social-democracia foram determinadas por um conceito
dogmático de progresso sem qualquer vínculo com a realidade. Segundo os social-democratas, o
progresso era, em primeiro lugar, um progresso da humanidade em si, e não das suas capacidades e
conhecimentos. Em segundo lugar, era um processo sem limites, idéia correspondente à da
perfectibilidade infinita do gênero humano. Em terceiro lugar, era um processo essencialmente
63
Se, por um lado, não se deve poupar críticas a essa ordem, que o direito
pretende conservar com razão, por outro lado, qualquer interpelação dessa
ordem é impotente, quando se apresenta apenas em nome de uma
"liberdade" sem rosto e incapaz de apontar uma ordem de liberdade
134
superior (BENJAMIN. 1986) .
O direito retira do vencedor a sua total capacidade de submeter
indistintamente o vencido, uma vez que agora seu domínio não mais será absoluto,
pois existe um contrato, uma norma a ser seguida que estabelece seus limites.
Restaria apenas o novo direito, como comentam Anatole France e Sorel. Para eles
também enquanto existir o ordenamento jurídico ou a lei, existirá sempre a tentativa
de beneficiamento dos governantes ou dos que detém o poder:
Nas comunidades primitivas a rebelião era tida como uma revolta contra o
poder mítico dos decretos, tal espírito se aplica ao direito moderno sem que exima o
infrator da punição pelo fato de desconhecer ou alegar desconhecer a lei. Ela
continuará soberana mesmo nos casos de seu total desconhecimento.
137
Junito de Souza Brandão. Mitologia Grega. Vol. I. 7. Petrópolis: Vozes. 1991, p. 80.
138
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p.171
139
Idem, p.171.
140
Ibidem, p.172.
65
141
A palavra grega Physis pode ser traduzida por natureza, mas seu significado é mais amplo refere-
se também à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e
transformação, a que nasce e se desenvolve, o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde
tudo brota e para onde tudo retorna. (...) a palavra significa gênese, origem, manifestação. (...)
levanta a questão da origem de todas as coisas, a sua essência, que constituem a realidade, que se
manifesta no Movimento. A phýsis expressa um princípio de movimento relativo ao fazer-se das
coisas nas quais mudam as aparências, enquanto que cada (ser ou) coisa permanece sempre sendo
ela mesma. Esse movimento seria a contínua transformação dos seres, mudando de qualidade.
Portanto o mundo (Physis) está em mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e
sua estabilidade. (...) uma fase de pensamento voltada para a explicação racional dos fenômenos que
constituíam as inquietações dos homens daquela época.
142
Cosmo (gr.kosmos) 1 . Palavra grega que significa "ordem", "universo", "beleza" e "harmonia" e
que designa, em sua origem. O céu estrelado enquanto podermos nele detectar certa ordem: as
constelações astrais e a esfera das estrelas fixas, designa, na linguagem filosófica, o mundo
enquanto é ordenado e se opõe aos caos. 2 .Na tísica aristotélica, o modelo de um cosmo finito, bem
ordenado. Na concepção aristotélica e na escolástica do mundo valorizam o "supra lunar" cujos
objetos incorruptíveis são organizados numa ordem eterna e perfeita, por oposição ao nosso mundo
"sublunar" desordenado, submetido à corrupção e ao "fluxo do devir". Os movimentos do mundo
supra lunar são uniformes, circulares e eternos, que traduzem uma "intenção de ordem", pois uma
pedra lançada no ar, por um movimento "violento", busca seu lugar " natural" .3. Com a revolução
científica do séc.XVII, altera-se a imagem aristotélico-ptolomaica de um mundo fechado, eterno e
finito, que é substituída pela concepção de uma causalidade cega num espaço geometrizado.
143
Significado de Barroco - s.m. Arquitetura e Literatura Estilo nascido sob a inspiração da Contra-
Reforma, e que se desenvolveu nos séc. XVI (segunda metade), XVII (período áureo) e XVIII
(decadência), como evolução do Renascimento. Surgiu na Itália, estendendo-se depois a outros
países. Na arquitetura, o barroco destacou-se pelos efeitos de massa, de movimento, pelo emprego
do grandioso e da linha curva; na escultura, pelas figuras surpreendidas em movimentos e pelas
roupagens vistosas; na pintura, pelas composições em diagonal, pelos efeitos de perspectiva e de
aparências irreais. Na literatura, o barroco distingue-se pelo gosto do patético, pela abundância dos
ornatos, pela elaboração formal metáforas preciosas, jogo de palavras, antíteses e paradoxos,
hipérbatos e hipérboles —, pela intensificação do pormenor traços estilísticos a que habitualmente se
dá o nome de "cultismo", que, ao lado do conceitismo, linguagem de conceitos singulares, de
pensamentos preciosos, mais caracteriza o estilo barroco.
66
144
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo Rouanet,
São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 101.
67
drama barroco a cólera do tirano não é suficiente para suportar o peso de sua
incapacidade, levando-o a loucura. Com essa alegoria da loucura Benjamin mostra a
impossibilidade de se governar sem o apoio da cidadania, apontando a sobrecarga
de um governo que prescinde dos valores democráticos. O impasse consistia na
imposição que sofria o ―príncipe barroco‖ por ter que decidir sozinho. Essa coerção
transformava muitas vezes o tirano em um mártir, fato que não é considerado nos
manuais de história política:
145
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo
Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 101.
146
Walter Benjamin. O conceito de crítica de arte no Romantismo alemão, trad. intr. e notas de Márcio
Seligmann-Silva, São Paulo: Iluminuras, 1999, p. 71.
68
147
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo
Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1984, 101.
148
Significado de Didascálico - adj (gr didaskalikós) 1 Que anotava, comentava ou criticava peças
teatrais. 2 Diz-se do poema cujo objeto é a exposição ou discussão de uma ciência ou doutrina. 3
Concernente ao título de uma obra. 4 Didático.
149
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo
Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 146.
150
Idem, p. 143.
69
Nessas ações principais e de estados são personagens reis e príncipes com suas
coroas de papel dourado dizendo que nada é mais difícil que governar. O teatro de
marionetes que retira da rigidez de suas feições tristes e aflitas o cômico, mostra que
o palhaço e o bobo da corte são incômodos para esses personagens, porque sua
presença os distingue na sua superioridade desconcertante. É assim que funciona a
dialética na filosofia da historia de Benjamin.
151
Ibidem, p. 97.
152
Ibidem, p. 112.
70
Na renascença o céu com sua leveza e clareza somente poderia supor uma
felicidade transcendente, agora no barroco o céu passa a ter o peso da decisão
humana. O barroco não representa a ressurreição de Cristo – porque ela caracteriza
a esperança. Na pintura barroca, o céu aparece com nuvens pesadas movendo-se
ameaçadoras sobre os homens. Nele a austeridade e a ironia, sempre juntas, faziam
uma releitura da história, sugerindo sempre um clima de guerra, uma sensação de
abandono do mundo:
O clima espiritual dominante, por maior que fosse sua tendência a acentuar
os momentos de êxtase, via neles menos uma transfiguração do mundo,
que um céu nublado se estendendo sobre a superfície do mundo. Os
pintores da Renascença sabiam manter o céu em sua altitude inacessível,
ao passo que nos quadros a nuvem se move, de forma sombria ou radiosa,
154
em direção à terra. (BENJAMIN, 1984)
153
Ibidem, p. 102.
154
Ibidem, p. 102.
155
Ibidem, p. 102.
156
Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia. Trad. 1. Ed. de Alfredo Bosi, 5.ed. rev. e ampl. São
Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 285 – Destino – Ação necessitante que a ordem do mundo exerce
sobre cada um de seus seres singulares. Na sua formulação tradicional, esse conceito implica: 1.
Necessidade, quase sempre desconhecida e por isso cega, que domina cada indivíduo do mundo,
por ser ele parte da ordem total; 2. Adaptação perfeita de cada individuo ao seu lugar, ao seu papel
ou à sua função no mundo, visto que, como engrenagem da ordem total, cada ser é feito para aquilo
que faz. O conceito de destino é antiqüíssimo e bastante difundido, porque compartilhado por todas
as filosofias que, de algum modo, admitem uma ordem necessária do mundo. Aqui só faremos alusão
às que designam explicitamente essa ordem com o termo em questão. O destino é noção dominante
71
na filosofia estóica. Crispo, Posidônio, Zenão, Boeto o reconheceram como a "causa necessária" de
tudo ou a "razão" pela qual o mundo é dirigido. Identificavam-no com a providência (D.L., VII, 149).
Os estóicos latinos retomam essa noção e apontam seus reflexos morais (Sêneca, Natur. quaest, II,
36, 45; Marco Aurélio, Memórias, IX, 15). Segundo Plotino, ao destino que domina todas as coisas
exteriores só escapa a alma que toma como guia "a razão pura e impassível que lhe pertence de
pleno direito", que haure em si, e não no exterior, o princípio de sua própria ação (...).
157
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo
Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 152.
158
Idem, p. 104
159
Idem, p. 155.
160
Idem, Opus cit., p. 111.
161
Tereza de Castro Callado. ―O comportamento ex officio do estadista na teoria da soberania em
origem do drama barroco alemão‖ In: Ética e metafísica, Coleção Argentum Nostrun. Fortaleza:
EDUECE, 2007. p. 120.
162
Idem, p. 89.
72
Contudo, Benjamin não vê como meios puros possam ser utilizados para
solucionarem questões de conflitos políticos. As questões políticas pressupõem a
existência de um contrato e um compromisso. O sistema jurídico sem a violência que
o criou entra em colapso, chegando a sua extinção. Por isso, a linguagem165, no
sentido mais amplo da palavra, no entendimento, é a área mais própria da solução
de conflitos.
163
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 168.
164
Idem, p. 168
165
Um exemplo talvez seja a conversa, considerada como uma técnica de mútuo entendimento civil,
como proposta por Jürgen Habermas. Jürgen Habermas. Consciência moral e o agir comunicativo.
Rio de Janeiro: Tempo brasileiro. 1989.
166
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie.. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 168.
74
direito na tentativa de proibir o logro: ―(...) restringe o uso de meios totalmente não-
violentos, já que poderiam produzir violência como reação‖ (BENJAMIN, 1986)167.
167
Ibidem, p. 168.
168
Ibidem, p. 168.
169
Ibidem, p. 168-169.
170
Ibidem, p. 168.
75
A greve geral política não é justa, na verdade ela é um embate pelo poder
que passa de um dono a outro dono. Em Origem do Drama Barroco Alemão
Benjamin mostra a substituição incessante de príncipes, movida pelo processo
conspiratório. Quando o conspirador conseguia a queda do monarca, assumia o seu
lugar e a política permanecia da mesma forma. Acompanhando o pensamento de
Benjamin de que a história se repete, vamos encontrar no ensaio de Sorel de 1908
Reflexões sobre a violência, uma crítica à realidade do Século XX. Ele observa que
só existe uma força contra esse poder tirânico: é a greve geral proletária, que não é
violenta. Não vislumbra a volta ao trabalho, mas a transformação do trabalho:
Contra essa greve política geral (...), a greve geral proletária se propõe,
como única tarefa, a aniquilar o poder do Estado. Ela ―elimina todas as
conseqüências ideológicas de qualquer política social possível; seus
partidários consideram como burguesas mesmo as reformas mais
populares‖. ―Este tipo de greve geral manifesta claramente sua indiferença
quanto ao ganho material da conquista, com a declaração de que pretende
172
superar o Estado;‖ (BENJAMIN, 1986) .
171
Ibidem, p.169.
172
Ibidem, p.169.
173
Ibidem, p. 169-170.
76
174
Ibidem, p. 170.
175
Ibidem, p. 170.
77
176
Ibidem, p. 170.
177
Ibidem, p. 170.
178
Walter Benjamin. Sobre os conceitos da história, Tese 7. In: Magia e técnica, arte política. Trad.
Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 225.
78
para aqueles fins, mas se relacionaria com os fins não como meio mas
como algo diferente? Assim se lançaria luz sobre a experiência singular e
em principio desanimadora de que, em ultima instância, é impossível decidir
179
qualquer problema jurídico. (BENJAMIN, 1986)
Benjamin não vê nesse problema jurídico a não ser uma aporia que só é
possível se mensurar com a violência de tal linguagem e seus transtornos através da
evolução histórica. Para Benjamin ―(as) terminologias (são) tentativas mal sucedidas
de nomeação em que a intenção tem o peso maior do que a linguagem‖
(BENJAMIN, 1984)180. Dessa citação podemos concluir que as forças míticas se
interpõem entre a palavra e o ato de nomear cabendo exclusivamente ao poder
divino a possibilidade de uma decidibilidade absoluta: ―quem decide sobre a
legitimidade (...) e a justiça (...) não é jamais a razão, mas o poder do destino, e
quem decide sobre este é Deus‖.(BENJAMIN, 1986)181
179
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10.ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 171.
180
Benjamin, Walter. Origem do drama barroco alemão, trad. apres. e notas de Sergio Paulo
Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 59.
181
Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 171.
182
No combate às portas de Tebas os irmãos Polinice e Etéocles (filhos de Jocasta e Édipo) caem no
campo de batalha, um ferido pela mão do outro. Creonte (o tio que havia usurpado o trono de Tebas)
decide distinguir Etéocles como herói da cidade, homenageando-o com os funerais de um guerreiro
que morrera defendendo Tebas e castiga a Polinice como traidor, negando-lhe os funerais
tradicionais. Decreta ainda a pena de morte contra aquele que ousasse enterrar Polinice, para
assegurar-lhe a vida eterna nos Campos Eliseos. Desta forma Creonte cria um conflito existencial
para as irmãs de Polinice – Antígona e Ismena -, que segundo a tradição grega devem enterrar os
seus mortos segundo um certo ritual. Ambas enfrentam de diferentes maneiras o conflito entre a Lei
do Oikos, ou dos deuses, e a lei da Polis ou dos homens: Antígona obedece à primeira lei; Ismena à
segunda. – Barbara Freitag. Itinerários de Antígona – A questão da moralidade. Campinas.SP.
Papirus. 1992. p. 22.
183
. Walter Benjamin. Crítica da violência, crítica do poder. In: Documentos de cultura documentos de
barbárie. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 173.
79
184
Ibidem, p. 173.
185
Ibidem, p. 174.
80
Walter Benjamin prega o aniquilamento do direito mas não da lei, desde que
esta não seja usada para a realização do julgamento, mas que seja utilizada como
guia para orientar a conduta dos homens. Diferentemente da lei imposta pelo
sistema jurídico existem leis da própria existência como a lei que disciplina a
revolução, realizada num plano individual. Benjamin aceita esse tipo de lei, mesmo
porque sendo judeu precisa conhecer as leis da Halacha (o manuscrito originário
das leis dadas por Deus aos homens) e de reatualizá-las na Hagada.186 Dessa forma
Benjamin vê como lei suprema a da existência, que deve ser amparada pela justiça
em todos os seus aspectos. Por isso a afirmação de que a existência teria valor
maior que a existência justa não poderá ser considerada, pois o que seria a vida
sem a justiça? Temos o exemplo disso na construção histórica da história dos
vencidos: ―é falsa e vil a afirmação de que a existência teria um valor mais alto que a
existência justa, quando se toma ―existência‖ apenas no sentido da ―mera vida‖ – e é
esse o sentido do termo na referida reflexão.‖ (BENJAMIN, 1986)187 O corpo do
homem representa sua vida terrena, que precisa ser preenchida de sentido, na
medida em que a vida vegetativa que representa também a vida das plantas e dos
animais, precisa ser superada na sua condição de mera vida, devendo por isso a
existência ser contemplada com a vida justa. A vida justa é a vida integrada na
comunidade, compartilhada com o outro, socializada e reconhecida. É o que
Aristóteles chamaria bios, em oposição à zoé. Vida significa vida política, qualificada.
Por outro lado para Benjamin valeria a pena investigar o dogma do caráter
sagrado da vida, pois por se tratar de um dogma esse caráter sagrado não está
isento de suas raízes míticas.
186
Jeanne Marie Gagnebin. Prefácio de Magia e técnica arte e política. opus cit. p. 17.
187
Ibidem, p. 174.
188
Ibidem, p. 174.
81
Mas esse percurso de poderes legitimados pelo direito pode ser rompido.
Pelo menos Benjamin acredita nessa possibilidade. A dominação do poder mítico
que perpetua a violência será quebrada com a manifestação do poder puro através
do poder revolucionário e messiânico, que liberta o homem do mito, na medida em
que abre a possibilidade de permanência do poder divino:
O poder puro ou poder divino é o único que pode dispor das formas eternas
e puras das quais o poder mítico se apoderou para transformar em instrumento de
violência, como o poder de julgar: A manifestação do poder divino se realiza entre os
homens através de sua frágil força messiânica que infere na construção de uma
humanidade redimida. Essa remissão se dá quando o passado oprimido lançando
um apelo ao presente é recepcionado por este, que reconhece a história dos
vencidos, para fazer-lhes justiça: ―o puro poder divino dispõe de todas as formas
eternas que o mito transformou em bastardos do direito. O poder divino pode
aparecer tanto na guerra verdadeira quanto no juízo divino da multidão sobre o
criminoso‖.(BENJAMIN, 1986)191. Portanto o poder mítico e o poder puro são duas
forças antagônicas em todos os aspectos:
Deve ser rejeitado, porem, todo poder mítico, o poder instituinte do direito,
que pode ser chamado de poder que o homem põe (schaltende Gewalt).
Igualmente vil é também o poder mantenedor do direito, o poder
administrado (verwaltete Gewalt) que lhe serve. O poder divino, que é
insígnia e chancela, jamais um meio de execução sagrada, pode ser
189
Ibidem, p. 175.
190
Ibidem, p. 175.
191
Ibidem, p. 175.
82
O poder divino não pretende jamais ser uma execução sagrada, ou uma
forma de julgar o homem e suas ações, o poder divino é o poder dado por Deus para
a absolvição da culpa. Para sua remissão este poder propõe a educação, pois
somente através da educação o homem pode libertar-se do elemento mítico, que
exige o sacrifício pelo sangue para a purificação do pecado. O sangue continua na
tradição sendo o símbolo da absolvição:
que só pode ser compreendida pelo estado de exceção. É assim que Benjamin no
texto O Surrealismo publicado logo depois de Origem do Drama Barroco Alemão
complementa a teorização para a ação política iniciada no Trauerspielbuch. Ali o
conceito de revolução assume uma dimensão particular interior sedimentada passo
a passo pela educação, experiência e sabedoria. É com ―essas armas‖ que o
soberano barroco, negando a legitimidade do Direito Constitucional da época
instaura o estado de exceção na medida em que recorre ao meio puro para alcançar
a absolvição para o ato infrator.
84
CONCLUSÃO
ordem. Esta minoria tem agido assim desde muito tempo, contudo o proletariado
começou a reagir contra a minoria de classe média e contra o Estado instituído pela
violência.
A crítica de Benjamin deve ser vista muito mais como uma tentativa de
destruição de uma ordem legal, do que como um questionamento do status quo da
lei na atualidade, tanto que Santo Tomás nos Escritos políticos já dizia que ―há leis
que não servem para os homens e que as leis humanas deveriam ser propostas no
singular‖. Tanto no poder positivo quanto no natural os fins justos são encontrados
de acordo com o equilíbrio entre meios e fins. O poder mítico é baseado na falsa
premissa de que fins justos podem compor um direito universal possível. Contra
essa idéia mítica o crítico tenta denunciar as forças do poder de polícia e do poder
virtual dos parlamentos.
O poder de polícia é descrito como uma grande violência contra o povo por
ser capaz de justificar intervenções grosseiras e investir cegamente nas áreas mais
vulneráveis, exercendo o poder de baixar pequenos decretos quando julgar
necessário.
homem que se torna justo. Somente através da restauração do ethos histórico pela
experiência, boa vontade e presença de espírito, poderemos libertar o futuro da sua
forma presente desfigurada.
Benjamin não exclui. Antes agrega junta, compartilha, compõe seu mosaico
filosófico. Seu método é o do desvio, do caminho indireto na busca de peças que se
completem, não em uma aglutinação, mas na justaposição. A percepção filosófica de
Benjamin ensina a cada um a construir com pouco para formar o mais à maneira da
criança.
89
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ANEXOS
WALTER BENJAMIN
Tradução Sergio Paulo Rouanet
Sobre o conceito da história
Tese 1
Tese 2
―Entre os atributos mais surpreendentes da alma humana‖, diz Lotze, ―está, ao lado
de tanto egoísmo individual, uma ausência geral de inveja de cada presente com
relação a seu futuro‖. Essa reflexão conduz-nos a pensar que nossa imagem da
felicidade é totalmente marcada pela época que nos foi atribuída pelo curso da
nossa existência. A felicidade capaz de suscitar nossa inveja está toda, inteira, no ar
que já respiramos, nos homens com os quais poderíamos ter conversado, nas
mulheres que poderíamos ter possuído. Em outras palavras, a imagem da felicidade
está indissoluvelmente ligada à da salvação. O mesmo ocorre com a imagem do
passado, que a história transforma em coisa sua. O passado traz consigo um índice
misterioso, que o impele à redenção. Pois não somos tocados por um sopro do ar
que foi respirado antes? Não existem, nas vozes que escutamos, ecos de vozes que
emudeceram? Não têm as mulheres que cortejamos irmãs que elas não chegaram a
conhecer? Se assim é, existe um encontro secreto, marcado entre as gerações
precedentes e a nossa. Alguém na terra está à nossa espera. Nesse caso, como a
cada geração, foi-nos concedida uma frágil força messiânica para a qual o passado
dirige um apelo. Esse apelo não pode ser rejeitado impunemente. O materialista
histórico sabe disso.
Tese 3
Tese 4
A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é
uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e
espirituais. Mas na luta de classes essas coisas espirituais não podem ser
representadas como despojos atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa
luta sob a forma da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e
agem de longe, do fundo dos tempos. Elas questionarão sempre cada vitória dos
dominadores. Assim como as flores dirigem sua corola para o sol, o passado, graças
a um misterioso heliotropismo, tenta dirigir-se para o sol que se levanta no céu da
história. O materialismo histórico deve ficar atento a essa transformação, a mais
imperceptível de todas.
Tese 5
Tese 6
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ―como ele de fato foi‖.
Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de
um perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela
se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha
consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a
recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes,
como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao
conformismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas como
salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom de despertar no
passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido
de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse
inimigo não tem cessado de vencer.
96
Tese 7
Tese 8
A tradição dos oprimidos nos ensina que o ―estado de exceção‖ em que vivemos é
na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que
corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é
originar um verdadeiro estado de exceção; com isso, nossa posição ficará mais forte
na luta contra o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus
adversários o enfrentam em nome do progresso, considerado como uma norma
histórica. O assombro com o fato de que os episódios que vivemos no séculos XX
―ainda‖ sejam possíveis, não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum
conhecimento, a não ser o conhecimento de que a concepção de história da qual
emana semelhante assombro é insustentável.
97
Tese 9
Tese 10
Tese 11
Tese 12
Tese 13
“Nossa causa está cada dia mais clara e o povo cada dia mais esclarecido.”
Josef Dietzgen, Filosofia social-democrata
A teoria e, mais ainda, a prática da social-democracia foram determinadas por um
conceito dogmático de progresso sem qualquer vínculo com a realidade. Segundo
os social-democratas, o progresso era, em primeiro lugar, um progresso da
humanidade em si, e não das suas capacidades e conhecimentos. Em segundo
lugar, era um processo sem limites, idéia correspondente à da perfectibilidade
infinita do gênero humano. Em terceiro lugar, era um processo essencialmente
automático, percorrendo, irresistível, uma trajetória em flecha ou em espiral. Cada
99
um desses atributos é controvertido e poderia ser criticado. Mas, para ser rigorosa, a
crítica precisa ir além deles e concentrar-se no que lhes é comum. A idéia de um
progresso da humanidade na história é inseparável da idéia de sua marcha no
interior de um tempo vazio e homogêneo. A crítica da idéia do progresso tem como
pressuposto a crítica da idéia dessa marcha.
Tese 14
―A Origem é o Alvo.‖
Karl Kraus, Palavras em verso
A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio,
mas um tempo saturado de ―agoras‖. Assim, a Roma antiga era para Robespierre
um passado carregado de ―agoras‖, que ele fez explodir do continuum da história. A
Revolução Francesa se via como uma Roma ressurreta. Ela citava a Roma antiga
como a moda cita um vestuário antigo. A moda tem um faro para o atual, onde quer
que ele esteja na folhagem do antigamente. Ela é um salto de tigre em direção ao
passado. Somente, ele se dá numa arena comandada pela classe dominante. O
mesmo salto, sob o livre céu da história, é o salto dialético da Revolução, como o
concebeu Marx.
Tese 15
Tese 16
Tese 17
Tese 18