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São Paulo
2007
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 3
2. METODOLOGIA ................................................................................. 6
6. CONCLUSÃO ................................................................................... 52
2
1. INTRODUÇÃO
1
A legitimidade ativa dos partidos políticos para a propositura de ações diretas de controle de
constitucionalidade só foi admitida na Constituição de 1988. O rol do artigo 103 da CF aumentou
significativamente os possíveis “intérpretes” de nossa constituição.
3
Tomo como conceito de judicialização da política o processo pelo qual
os juízes, principalmente nas cortes constitucionais, passam a interferir e,
mesmo a dominar, o espaço decisório de competência dos poderes executivo e
legislativo (VALLINDER, 1995). Tal acepção é freqüentemente adotada nas
discussões sobre direitos sociais e políticas públicas. Todavia, o que se
pretende neste trabalho é a verificação deste mesmo processo em um outro
contexto, na esfera dos conflitos políticos-partidários.
4
escolha daqueles a quem será atribuído o poder decisório nas questões
políticas.
2
Tal afirmação pode ser questionável, sob o ponto de vista de que apenas o dispositivo da
decisão criaria um parâmetro jurisprudencial, sendo de pouco relevância o caminho
argumentativo desenvolvido nos votos. Todavia, considero aqui que os Ministros do STF
debatem uma série de assuntos e evidenciam suas concepções políticas no desenvolver de seus
votos, o que é inevitável na medida em que isto faz parte da interpretação geral da cultura
jurídica e política em que se insere nosso ordenamento. De tal forma, como a discussão é
pública, televisionada e publicada, torna-se certamente factível que sua argumentação possa ser
considerada pelos demais atores sociais como parâmetros jurisprudenciais.
5
2. NOTA METODOLÓGICA
3
O conceito de ratio decidendi diz respeito aos argumentos definitivos e de maior peso em uma
dada decisão. A contrario sensu, os argumentos sem relevância seriam os chamados obiter
dicta. Essa distinção é proveniente do direito anglo-saxão no qual as decisões judiciais tem uma
grande importância pelo fato de que os precedentes são aplicáveis nos casos futuros. Nesse
sentido, apenas as rationes decidendi poderiam ser transpostas para um caso futuro
semelhante.
6
ou improcedência do pedido, sem que se possa esboçar uma ratio decidendi
comum a todos que votaram em um mesmo sentido4.
4
Embora a razão de ser de um órgão colegiado ser a possibilidade de divergência e do debate, a
inexistência de uma ratio decidentdii comum ao final das decisões é um obstáculo para o próprio
Tribunal recuperar decisões anteriores e formar uma jurisprudência consistente, mantendo a
coerência com os casos já julgados.
7
programa fosse seguido. O seu foco de análise é no objetivo, na promoção de
uma certa concepção de bem-estar geral ou de interesse público. O outro tipo
de argumento seria o que tem por base princípios políticos. Fundamentam-se
nos direitos políticos e individuais dos cidadãos, voltando-se ao caso concreto e
o resultado para as pessoas envolvidas.5
5
A classificação adotada tem por base a obra de Dworkin, no trecho a seguir ele trata das
possíveis diferenças entre argumentos se pautam nos princípios políticos conformadores de
nosso sistema constitucional, e argumentos de political policy, no sentido de ponderações sobre
como se promoveria o maior bem-estar geral: “the debate neglects na important distinction
between two kinds of political arguments on which judges might rely in reaching their decisions.
This is the distinction (which I have tried to explain and defend elsewhere) between arguments
of political principle that appeal to the political rights of individual citizens, and arguments of
political policy that claim that a particular decision will work to promote some conception of the
general welfare or public interest. The correct view, I believe, is that judges do and should rest
their judgments on controversial cases on arguments of political principle, but not in arguments
of political policy” p.11 e ss.
8
2.2 Seleção de decisões
Optei por descartar apenas um dos acórdãos, a ADI 2306-3, por ter
sido proposta pelo Conselho Federal da OAB8. Considerei para o seu descarte
que sua análise seria incoerente com as premissas e objetivos deste trabalho,
que pretende verificar o ativismo do STF nos conflitos entre partidos políticos
apenas9.
6
Os termos de busca foram determinados com base no recorte temático escolhido, já definido
anteriormente.
8
Outra razão considerada foi o fato de que a ADI 2306 trata de questão relativa a anistia de
multas eleitorais. No caso, não estava mais em jogo as eleições: a lei impugnada seria
beneficiaria todos os partidos, e sua impugnação foi feita pelo Conselho Federal da OAB.
9
Outras combinações de palavras-chaves foram buscadas, fazendo uso das recomendações do
sistema de busca do site. Contudo utilizando-se por exemplo os termos “partido$ político$ e
sistema adj2 eleitoral” tem-se como resultado apenas 5 das 10 decisões encontradas com
a pesquisa definitiva - ADI 1351, 1465, 3592, ADI-MC 839, e RE 140460.
10
Devo acrescentar quanto a esta ADI que, apesar de ser da autoria da OAB, tinha como amicus
curiae os partidos PFL, PPS, PMDB, PDT, além da Assembléia Legislativa do RJ.
9
Faço uma última ressalva quanto ao não esgotamento do assunto na
jurisprudência do STF, o que era evidente dado o curto fôlego desta
monografia. Por essa razão, optei por uma amostragem pequena, 10 acórdãos,
para que fosse possível fazer uma análise um pouco mais detida e minuciosa
de cada decisão.
10
3. REGRA DA MAIORIA x DIREITOS DA MINORIA
11
Isso porque o acesso aos tribunais pode ser algo mais factível do que a
influência no processo político. Alem disso, não haverá igualdade de poder
político a menos que as decisões legislativas respeitem certos direitos
fundamentais, e isso deve, inevitavelmente, afetar o cálculo de quando um
processo político oferece igualdade genuína de poder político.
12
Por isso, os críticos da revisão judicial argumentam que o controle de
constitucionalidade, ao invalidar uma escolha legislativa, subverteria a regra da
maioria, fundamental no processo decisório de um sistema democrático.
11
Essa é a posição de Henry S. Commager e Ronald Dworkin. (Henry Steele Commager, Majority rule and
minority rights, Oxford: Oxford University Press, 1944. e Ronald Dworkin, A matter of principle, Cambridge:
Harvard University Press, 1985, respectivamente).
12
Essa é conclusão de John Hart Ely em sua obra Democracy and Distrust, Cambridge: Harvard
University Press, 1980.
13
entre Direito e Política, tornando cada vez mais difícil a distinção entre um
‘direito’ e um ‘interesse político’.
14
4. A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E A POLITIZAÇÃO DO JUDICIÁRIO
13
A conferência intitulada Judicialization of Politics ocorreu na Universidade de Bolonha em
1992, e teve como resultado a obra The Global Expansion of Judicial Power. A definição de
Vallinder está no segundo ensaio do livro, When the courts go marching on, in The Global
Expansion of Judicial Power, New York: New York University Press, 1995. p.13 e ss.
14
Why the Expansion of Judicial Power?, The Global Expansion of Judicial Power, New York: New
York University Press, 1995, p. 27 e ss.
15
isso, seria necessária ainda uma política de direitos que permitisse a esses
grupos a legitimação de seus interesses em direitos constitucionais.
15
É evidente que essa oposição entre a orientação política do governo e dos juizes ou ministros
pode ser apenas parcial. Mesmo quando há uma convergência política entre ambos haverá
questões nas quais os juizes considerarão a performance das instituições majoritárias
inadequadas. Nesses casos, se as condições institucionais forem favoráveis e o judiciário tiver
uma tendência ativista haverá judicialização da política.
16
Não obstante isso, os autores afirmam que muitos países de tradição romano-germânica são
hoje os que apresentam maiores graus de judicialização da política em decorrência de cenários
políticos adverso, como na Itália e na França.
16
demais alto, sendo preferível a indefinição e a decorrente delegação do poder
decisório ao judiciário.
17
O controle abstrato foi criado no Brasil pela Emenda Constitucional nº 16 de 1965.
18
Vide art. 68 da CF 43 e art. 94 da CF 37.
17
Outros fatores favoráveis à expansão do poder judicial foram a criação
da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) pela EC no 3 de 1993 com
efeito vinculante e erga omnes, a extensão de tal eficácia às Ações Diretas de
Constitucionalidade (ADI) em 1999, e a criação da Argüição de Descuprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) para a apreciação de normas que o STF não
admitia em controle de constitucionalidade19.
19
A extensão da eficácia e o efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública das ADIs foi dada com a lei n. 9.868 e a criação da ADPF ocorreu também
1999 com a lei n. 9.882.
18
5. ANÁLISE DE ACÓRDÃOS
19
de participação dos partidos na divulgação do plebiscito. Os fundamentos de
seu voto foram o pluripartidarismo, a universalidade de sufrágio e o sistema
democrático.
20
O voto vencedor do Ministro Paulo Brossard explica bem a razão da decisão final do STF nesse
caso: “De modo que, até para o funcionamento normal da votação plebiscitária, não se poderia
adotar um sistema que supusesse a exclusividade dos partidos, por que eles não teriam
condições reais para conduzir o debate, porque chegaria um partido, num dia, com um
representante seu, defendendo uma tese e outro no dia seguinte. Creio que o legislador muito
realista e sábio ao procurar um expediente, uma fórmula transitória, evidentemente, que exista
até o dia vinte e um de abril, e que conduza e oriente o debate, a discussão, o esclarecimento, a
propaganda. Isso quer dizer que os partidos ficam em férias nesse período? Eu acho que não,
até por motivo de interesse. Se uma frente tem elementos partidários, ou um partido organizado
que está disposto a dar a sua colaboração para defender a tese que ela esposa, seria pouco
inteligente, e até contrário aos interesses mais tangíveis, que recusasse essa participação. Por
isso é que me parece, Ministro Néri, que talvez fosse melhor deixar o pobre “só”. p. 127.
20
Seguiram o voto do Ministro Paulo Brossard os votos dos Ministros
Ilmar Galvão, Sepúlveda Pertence, Octávio Gallotti, Celso de Mello e Sydney
Sanches, todos indeferindo totalmente o pedido. Tem-se, portanto, que por
maioria dos votos, o STF acabou preservando a decisão do legislativo, em
detrimento do pedido do PDT.
21
Alega-se a violação dos art 77, § 2º, 27 § 1º, 32 § 3º e 45, caput, da CF e art.5º da ADCT.
21
voto nulo. Todavia, o que era determinante para o julgamento da questão
seria a recepção do art. 106 do CE pela Constituição Federal (CF).
“Não é menos certo, também, que não diz ela (a CF) o que se deve
entender por ‘sistema proporcional’, circunstância que coloca o texto em
inexorável dependência de regulamentação, por meio de lei, lei essa já
encontrada pela nova carta, no texto do Código Eleitoral, onde, de maneira
incontestável, se acham traçadas regras conducentes à realização de eleição
proporcional que, se não corresponde ao melhor sistema que se poderia
engendrar, pelo menos foi o estabelecido pelo legislador, não sendo
dado ao Poder Judiciário nele introduzir modificações, como as
pretendidas pelo recorrente (...)”. – Voto do Ministro Relator Ilmar Galvão.
(Grifos meus)22
22
RE 140.460 p. 758.
22
Lamento profundamente que situações como esta aconteçam. Mas
é o que a lei permite e quer”23.
23
RE 140.460 p 811.
24
p.757.
25
Vide nota de rodapé n. 3.
26
“O que se nos pede não é um juízo de qualidade sobre o texto ordinário. Nem se
nos pergunta se ele está a reclamar, ou não aperfeiçoamentos para que a vontade do
eleitor transpareça de modo exato. A questão constitucional é tão-só a de saber se o
parágrafo único do artigo 106 do código eleitoral afronta, na carta, a regra que
prescreve a proporcionalidade.” – Voto do Ministro Francisco Rezek, p.760.
23
5.3. ADI 1063-8 – Candidatura Nata
24
Dessa forma, por maioria dos votos, a primeira pretensão da ADI 1063
não foi nem mesmo conhecida. A razão da decisão fora a de que a supressão
seletiva de termos acabaria resultando em inovação textual, fazendo com que
o sentido da norma se tornasse completamente diverso do pretendido pelo
legislador.
25
do sistema eleitoral. É o que se depreende desta passagem do voto do Ministro
Celso de Mello:
27
ADI 1063 p.126.
26
democrático, nossa missão não é participar do jogo político, mas
assegurar suas regras28”.
No caso, porém, não foi o que fez a lei. Regulou o futuro. Pode ter
levado em consideração fatos que talvez nem recomendasse essa solução,
mas não estamos aqui para discutir o acerto, a conveniência da lei, mas a
constitucionalidade dela ou não. Não vislumbro inconstitucionalidade30”.
28
ADI 1063 p. 192.
29
Idem, Voto do Ministro Paulo Brossard, p. 197 à 199.
30
Ibidem, Voto do Ministro Sydney Sanches, p. 201.
27
Feitas tais ressalvas de argumentos políticos explícitos, considerações
sobre a conveniência da legislação impugnada no contexto político da época, e
a necessidade de se preservar a imagem do tribunal frente à mídia e
população, a maioria se formou no sentido da constitucionalidade da lei,
apesar de ser considerada pelos ministros como uma opção do legislativo
pouco inteligente. Mais uma vez verifica-se a restrição ao ativismo judicial do
STF em barrar decisões majoritárias do legislativo no que concerne à estrutura
político-partidária.
31
ADI 1805, trecho da inicial presente no relatório, p. 2285.
28
normativos passíveis de controle de constitucionalidade, mas apenas atos
administrativos em resposta às consulta formuladas por partidos políticos.
Com relação aos dois artigos da lei n. 9.504, foi decidido por maioria,
vencido apenas Marco Aurélio, que votou pela não procedência do pedido. A
impugnação tinha por base a distorção e favorecimento criados pela permissão
de uso do transporte e residência oficial pelos chefes do executivo no período
de campanha. Alegou-se com isso a afronta à igualdade de oportunidades
entre os candidatos e a possibilidade de abuso do poder econômico ou abuso
de autoridade.
32
ADI 1805, voto do Ministro Néri da Silveira, p. 2372.
33
Idem, p. 2368.
29
Argumentou também que no Projeto de Emenda Constitucional, que
deu origem à EC n. 16, houve a supressão do dispositivo que autorizava
explicitamente a permanência no cargo. A modificação implementada na
redação final da Emenda revelaria a intenção restritiva do Poder Constituinte
de Revisão, que deveria ser levado em conta pelo STF na sua interpretação -
típico argumento intencionalista.
34
A interrupção do Ministro Jobim se estende por duas páginas, p. 2380 e 2381.
35
ADI 1805, p. 2382.
30
Depreende-se dessa última passagem que o Ministro Jobim apesar de
não desconsiderar a incoerência jurídica entre os parágrafos do art. 14 da CF,
faz a ressalva das razões históricas e políticas para que o legislador aprovasse
a Emenda da forma como feita, e nesse caso não seria papel do judiciário, em
sede de controle de constitucionalidade, alterar a decisão política do legislativo.
Mesmo assim Marco Aurélio finaliza seu voto mantendo a mesma linha de
raciocínio que o leva ao deferimento da liminar por não admitir “sob o mesmo
teto constitucional a permanência e a necessidade de afastamento se se
pretende concorrer a cargo diverso”.
36
ADI 1805, p. 2390.
37
Idem, trecho da inicial presente no relatório, p. 2292.
31
como a matéria foi efetivamente discutida no Congresso Nacional, ou não,
resultou isso de decisão política que não pode ser, aqui, confrontada,
a ponto de alterar-se o conteúdo do preceito constitucional, por via
exegese da norma do art. 14, § 5º, em vigor da Lei Magna, a fim de,
nele introduzir exigência que o constituinte reformador não quis fazê-
la. Se é difícil admitir, como sustentam os autores, que para concorrer ao
mesmo cargo não há necessidade de renúncia, fazendo-se esta necessária
quando o titular pretenda disputar cargo diverso (Constituição art.14, §§ 5º e
6º), certo é que não cabe corrigir tal disposição em juízo de controle de
constitucionalidade, onde a Corte desempenha função de legislador
negativo e não de legislador positivo, para exigir, restringindo
direitos, o que não foi estabelecido como condição pelo legislador
constituinte, o qual optou, é exato, pela dispensa de cláusula do
afastamento38”. (Grifos meus).
38
ADI 1805, Ministro Relator Néri da Silveira, p 2368;
32
A interpretação dada pelo TSE impedia a formação de coligações entre
partidos que houvessem lançado candidatos diversos na eleição presidencial.
39
Também o PPS seria co-autor da adi 2626, mas não foi devidamente representado
por procuração nos autos.
40
Foi alegada “ofensa aos artigos 5º, II e LIV, 16, 17, § 1º, 22, I e 48 caput, da
constituição federal”.
33
controle de constitucionalidade à legalidade do poder regulamentar. Esse foi
o posicionamento vencedor por maioria nas ADIs em análise não sendo
necessário adentrar ao mérito, não se analisou a violação a regra da fixação do
processo eleitoral no período de um ano que antecede as eleições.
A inovação seria para eles ainda mais evidente tendo em vista a não
uniformidade entre as resoluções editadas pelo TSE quanto à interpretação do
art. 6º, por ocasião dos pleitos já realizados após a CF 88. E se ao Poder
Legislativo estaria vedada à alteração de norma relativa ao processo eleitoral
no período de um ano que antecede as eleições, também ao TSE não seria
permitido.
34
conhecimento da ação seria ‘a solução politicamente mais sábia’, apesar de ter
ao final votado pelo conhecimento e procedência da ação41.
41
ADI 2626, p. 508.
42
Pág 462.
35
5.6. ADI 1465 – DUPLA FILIAÇÃO
A ADI 1465 foi ajuizada pelo PFL para impugnação do art. 22 da lei dos
Partidos Políticos - lei n. 9.096 de 1995. O dispositivo questionado tornava sem
efeitos as filiações partidárias quando constatado que determinado candidato
estivesse vinculado a dois partidos distintos.
36
dupla filiação seria prejudicial ao papel dos partidos de porta-voz da vontade
popular e de espaço para o debate público, pois criaria na sociedade a falsa
expectativa que um candidato filiado a dois partidos estivesse comprometido
exclusivamente a uma das plataformas, que poderiam ser até mesmo
incompatíveis sob o ponto de vista programático.
Logo após o julgamento das ADIs 2626 e 2628 (item 5.5), iniciou-se a
tramitação de um projeto de emenda constitucional no Congresso, com o
objetivo de incluir na Constituição a disciplina legal das coligações partidárias -
tema até então afeito à legislação ordinária44.
43
Não existe numeração de páginas neste acórdão, as páginas citadas são da numeração dada
automaticamente pelo programa adobe reader.
44
Art. 6º do Código Eleitoral.
37
Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação,
aplicando-se às eleições que ocorrerão no ano de 2002.
45
Adi 2626 – item 5.5
46
“Não me parece que a Constituição Federal tenha pretendido suportar por ela mesma
combatida quando a regra modificadora for integrada ao seu próprio texto. Por esse raciocínio,
todas as vezes que se pretenda burlar a norma anticasuísta, será possível lançar mão da
elaboração de emenda constitucional, até que o princípio consagrado pelo constituinte originário
esteja completamente nulificado. Não é demais advertir que qualquer que seja o tema de direito
eleitoral, a princípio disciplinável por legislação ordinária, pode ser regulamentado pelo exercício
do poder constituinte derivado. Todas essas questões apontam, ao meu ver, para uma forte
sinalização de que, no sistema de garantias fundamentais da Constituição, há impeditivos para a
adoção de artifícios dessa natureza” - voto da Ministra Ellen Gracie, relatora do acórdão, p.20.
47
Mas, não obstante o excepcional relevo que empresto a esse art. 16, confesso ter ficado
frustrado e invejoso, na pesquisa ‘mineralógica’ à procura de cláusula pétrea ofendida, neste
caso, a minha, ao contrário dos achado tão frutuosos dos meus eminentes Colegas, foi
absolutamente infrutífera”, p. 142.
38
procedência ao pedido para que a nova redação do art. 17 não fosse aplicada
nas eleições de 2006, mas apenas nas subseqüentes.
48
O Ministro Sepúlveda Pertence ao finalizar seu voto faz referência irônica ao ininteligível
voto do Ministro Eros Grau: “Por isso, senhor presidente, encerrando, acompanho não só o voto
do eminente Ministro Marco Aurélio, mas em princípio, a primeira parte do voto do meu querido
amigo e mestre Ministro Eros Grau. Quanto à segunda, oportunamente levarei para a casa, para
ver se aprendo”.– voto do ministro Sepúlveda Pertence, p. 156.
49
ADI 3685, voto do Joaquim Barbosa, p. 234.
39
Nos votos da maioria vencedora, um argumento bastante reiterado foi
a necessidade de coibição do desvio do poder constituinte de revisão,
argumento trazido no caso no parecer do professor Comparato. Em outras
palavras, esse seria o papel de instituição contra-majoritária ou a função de
controle dos casuísmos legislativos.50
50
Outra pérola que não podia deixar de ser notada nesse acórdão é uma passagem do voto do
Ministro Marco Aurélio que conta uma anedota ironizando a banalização das emendas
constitucionais: “Aliás, apenas para descontrair o ambiente – a sessão já vai longe -, conta-se, e
acredito que isso seja folclore, que certo cidadão entrou em uma livraria e procurou adquirir a lei
maior do país, do Brasil. Pediu uma constituição federal ao balconista. Este simplesmente
responder que aquela livraria não trabalhava com periódicos – tantas são as emendas, em tão
pouco tempo, desprezando-se a estabilidade própria às constituições”.p.112.
51
ADI 3685, p. 223.
40
de modo que se não frustrem, por mudanças abruptas e pontuais, os
horizontes, as inspirações e os propósitos das decisões que, a respeito,
segundo os respectivos projetos de vida, tomem aqueles destinatários a
menos de um ano do escrutínio. Isto é, preservar as condições de
competitividade e representatividade, sem surpresas, como, p. ex., pode dar-
se em relação às filiações partidárias decididas segundo a ordem jurídica
precedente52”.
Uma última questão que merece ser apontada neste caso foi a rapidez
com que o STF julgou a ADI: proposta pela OAB em 09 de março de 2006, um
dia após a edição da EC 52, foi julgada pelo Plenário em 23 de marco, apenas
14 dias de sua distribuição.
52
ADI 3685, voto do Ministro Peluso, p.58.
41
Ajuizada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) a ADI 3592-4
questionou a constitucionalidade do art. 41-A da lei n. 9504/9753 em face do
art. 14, § 9º da CF54.
53
Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio,
vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de
obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função
pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil
a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto
no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.
54
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação,
a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a
influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta.
42
O fundamento jurídico da decisão seria a proteção à vontade do eleitor
em sua manifestação concreta: o voto. O Min. Gilmar Mendes, relator do
processo, retoma, como de praxe em seus votos de decisões de direito
eleitoral, a defesa do princípio da igualdade de oportunidades entre os partidos
políticos, que teria como pressuposto a liberdade de escolha do eleitor, não
podendo esta ser mitigada pelo abuso do poder econômico dos partidos
políticos.
A cláusula de barreiras foi instituída pela lei dos partidos políticos, lei
n. 9.096 de 1995. Restringia o funcionamento parlamentar dos partidos que
não obtivessem na eleição para a Câmara dos Deputados o apoio de, no
mínimo, cinco por cento dos votos apurados, não computados os brancos e os
nulos, distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um mínimo de
dois por cento do total de cada um deles (art. 13 da lei).
55
Art. 57 da lei n. 9.096.
43
pequenos partidos o tempo necessário para que se adaptassem aos novos
parâmetros legais.
44
suprir o vácuo normativo no que dizia respeito aos critérios para a distribuição
dos recursos do fundo partidário e do tempo destinado aos partidos para
propaganda política gratuita.
45
Não obstante isso, o fundamento principal do voto do relator parece
residir na defesa dos direitos da minoria e da ordem democrática. Profere seu
voto em tom de discurso, reputando ao caso dimensão histórica:
59
ADI 1351, p. 54.
60
Idem, p. 60.
61
ADI 1351, p. 62.
46
que se compromete o chamado funcionamento parlamentar in totum, uma
violação claríssima do próprio princípio da proporcionalidade. Não se deixou
qualquer espaço, não se fez qualquer mitigação, mas, simplesmente, negou-
se o funcionamento parlamentar das instituições ou agremiações partidárias
que, como vimos, obtiveram um expressivo cabedal de votos. Portanto, aqui,
há um sacrifício radical da minoria62”.
62
Idem, p. 86.
63
Ibidem, p. 89.
47
estranha opção interpretativa entre o certo e o certo, já que todas as opções
têm lastro constitucional”.
(...)
Ou seja: entre o certo e o certo, qual a opção que menos ofende os
outros valores da constituição? Dizendo de modo reverso: qual a opção mais
afirmativa dos demais valores da constituição? 64”.
64
Página 103 e 104.
65
Página 109.
48
partidos - inciso I do art 17 da CF. A questão foi levantada com o argumento
dos autores das ADIs de que o registro dos partidos políticos na Justiça
Eleitoral seria um ato jurídico perfeito. Esse argumento é colocado em xeque
pela Advocacia Geral da União, ao afirmar que ‘a plenitude partidária
resguarda somente a existência de partidos autênticos, que se amparam em
porcentagem razoável da população. Nesse caso, a cláusula de barreira
viabilizaria o cumprimento do dispositivo constitucional na medida em que
permitiria a verificação periódica e automática do caráter nacional dos
partidos.
66
O Senhor Ministro Sepúlveda Pertence – O Ministro Eros Grau está inquieto com o “seminário”.
O Senhor Ministro Eros Grau – Acho que nós estamos saindo do assunto.
O Senhor Ministro Marco Aurélio (Relator) – Estamos, sim.
O Senhor Ministro Gilmar Mendes - Estamos saindo conscientemente, neste caso, por conta da
discussão que se coloca. Qual foi o móvel dessa legislação?
O Senhor Ministro Marco Aurélio: Mesmo porque se avizinha – e vamos ver se agora ela vem –
uma reforma política. – p. 109.
49
“Digo que a criação pura e simples de uma cláusula de barreira sem
que se desenvolva reflexões dentro de um quadro mais amplo, ou seja, sem
que se tenha como pano de fundo a chamada reforma política, notadamente
no que diz respeito à fidelidade partidária, à votação em listas, ao voto
distrital puro ou misto, à questão da verticalização, à quebra da
simultaneidade das eleições para os parlamentos estadual e federal, e ao fm
da representação desproporcional dos Estados e do Distrito Federal na
Câmara de Deputados, não levará aos resultados desejados. Se não se
discutir essa questão dentro de um contexto mais amplo, insisto, acabaremos
privilegiando os partidos maiores, melhor estruturados materialmente, em
detrimento dos partidos menores e ideológicos67”.
67
ADI 1351, p. 96.
68
Em uma rápida pesquisa no Google, obtive 66.000 resultados como os termos “decisão do stf
sobre a cláusula de barreira”, os primeiros cinco endereços eletrônicos trazem as seguintes
manchetes:
• Partidos pequenos elogiam decisão do STF que derrubou cláusula de barreira - 7 de
dezembro de 2006
• PSDB E PFL CRITICAM DECISÃO DO STF SOBRE CLÁUSULA DE BARREIRA - Para lideranças
de PFL e PSDB, é "retrocesso". PT evitou comentar porque decisão beneficia aliados. 8 de
dezembro de 2006 - 08h14m
• LÍDER DO PSDB PROPÕE RECRIAR CLÁUSULA DE BARREIRA - Arthur Virgílio pede reunião
entre presidentes de Senado e STF. Supremo daria assessoria para elaboração de nova
emenda. – 8 de dezembro de 2006
• Fim da cláusula de barreira divide opiniões no Congresso – 7 de dezembro de 2006
• Decisão do STF sobre cláusula de barreira dificulta reforma política - 10 de dezembro de
2006.
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aproxima da composição atual do STF, o que pode apontar para uma nova
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tendência mais ativista do tribunal.
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Houve apenas uma alteração na composição que foi a substituição do Ministro Sepúlveda
Pertence pelo Ministro Carlos Alberto Direito, em setembro deste ano.
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6. CONCLUSÃO
; PROVIMENTO
PARCIAL; 11%
DESPROVIMENTO
PROVIMENTO
PROVIMENTO PARCIAL
; PROVIMENTO; 22%
; DESPROVIMENTO;
67%
70
Para efeitos de gráfico foram somadas na rubrica DESPROVIMENTO as ações não conhecidas e
as indeferidas.
71
Casos Verticalização (5.7), Cláusula de Barreira (5.9) e Plebiscito sobre forma e sistema de
governo (5.1), respectivamente.
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Tal conclusão é positiva do ponto de vista da legitimidade democrática
do tribunal, na medida em que numa visão tradicional do Direito o papel de
uma corte constitucional é a mera verificação da conformidade das leis
impugnadas às molduras constitucionais. E isso requer imparcialidade dos
juízes, não apenas no sentido de ausência de razões pessoais, mas
neutralidade frente concepções políticas, religiosas e culturais e a
desconsideração das possíveis conseqüências da decisão.
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bem-estar geral. E o que se verificou ao final da pesquisa foi que o STF
embasou suas decisões em argumentos jurídicos na grande parte dos
casos.
Foi nesse sentido a atuação do STF nos dois casos em que houve
deferimento do pedido. No caso da verticalização das coligações o
fundamento foi o devido processo eleitoral, e a decisão sobre a cláusula
de barreira foi embasada na defesa da ordem democrática, no
pluripartidarismo e na proteção das minorias. Não obstante, em ambos os
casos foram identificados uma pluralidade argumentos políticos.
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seus direitos são efetivamente fundamentadas e o acesso é
efetivamente possível.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COMMAGER, Henry Steele, Majority rule and minority rights, Oxford: Oxford
University Press, 1944.
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