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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTES – ICHCA


CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Eduardo Vasconcelos
(Jornalismo, Diurno)

RESENHA CRÍTICA DO TEXTO “A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA


REPRODUTIBILIDADE TÉCINA” DE WALTER BENJAMIN

Maceió, 2 de setembro de 2010.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTES – ICHCA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Eduardo Vasconcelos
(Jornalismo, Diurno)

RESENHA CRÍTICA DO TEXTO “A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA


REPRODUTIBILIDADE TÉCINA” DE WALTER BENJAMIN

Resenha crítica elaborada


para a disciplina de
Estética da Comunicação,
ministrada pelo professor
Ronaldo Bispo.

Maceió, 2 de setembro de 2010.


BIBLIOGRAFIA

BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Em: Lima,
Luiz Costa. (org.). Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. pp. 207
a 240;

PAIVA Cláudio Cardoso de. Walter Benjamin e a Imaginação Cibernética. Experiência e


Comunicabilidade na Era do Virtual. www.bocc.uff.br/pag/cardoso-claudio-paiva-walter-
benjamin.pdf;

TOMAIM, Cássio dos Santos. Cinema e Walter Benjamin. Para uma Vivência da
descontinuidade. http://www.fclar.unesp.br/soc/revista/artigos_pdf_res/16/06tomaim.pdf.
Walter Benjamin foi um filósofo da chamada Escola de Frankfurt – como Adorno,
Horckheimer, Marcuse e Habermas. E, assim como seus contemporâneos escolásticos,
escreveu sobre as mudanças que ocorreram após a Revolução Industrial e suas
consequências no âmbito artístico, a chamada “Cultura de Massa”.
Todavia, Benjamin permanece enquanto um marco
referencial porque os seus ensaios se distinguem dos seus
‘companheiros de escola’, pelo seu potencial de atualização
das formas culturais emergentes, assim como, pelo caráter de
prognóstico de suas análises (PAIVA, s/d, p. 3).
A obra de Benjamin, datada de 1936, possui um conteúdo tão atual que até hoje -
mesmo com todas as mudanças ocorridas durante o período que separa esta resenha do
texto em questão – seu conteúdo pode ser notado no cotidiano.
Em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, Benjamin versa sobre a
arte e como ela mudou e vem mudando com a evolução tecnológica. Fala sobre a fotografia
e o cinema – formas de arte modernas que surgiram na contemporaneidade e que
transformaram as formas de percepção e conceituação artísticas. O filósofo ainda cria o
conceito de “aura” e ainda discute as alterações ocorridas na aura das obras artísticas com o
advento da evolução das técnicas de reprodução.
Obras de arte nunca foram realmente únicas e irreprodutíveis. Há muito tempo são
conhecidas técnicas de reprodução, como a fundição, relevo por pressão, gravura em
madeira, xilogravura, desenho... Porém, as primeiras grandes mudanças artísticas começam
com a impressão. Antes dela, os livros eram apenas escritos manualmente e somente eram
acessíveis a uma pequena minoria. Com a impressão, a literatura expandiu seus horizontes.
Os livros começaram a ser produzidos em larga escala e chegaram às massas.
A seguir, Benjamin fala sobre as técnicas de reprodução visual, começando pela
fotografia.
Com a fotografia, pela primeira vez, a mão se libertou das
tarefas artísticas essenciais, no que toca à reprodução das
imagens, as quais, doravante, foram reservadas ao olho
fixado sobre a objetiva. (...) a reprodução das imagens pode
ser feita, a partir de então, num ritmo tão acelerado que
consegue acompanhar a própria cadência das palavras. A
fotografia, graças a aparelhos rotativos, fixa as imagens, no
estúdio com a mesma rapidez com que o ator pronuncia as
palavras. (BENJAMIN, 1982, p. 211).
Antes da fotografia, sempre faltava alguma coisa às reproduções. Uma cópia da
Mona Lisa de Da Vinci nunca ficaria igual à original. Isso desaparece por completo a partir
da fotografia, já que, com um único negativo, podem-se fazer infinitas cópias, todas
idênticas. A noção de autenticidade perde o sentido pois a reprodução técnica é mais
independente do original e ainda pode transportar a reprodução para situações em que o
original jamais poderia estar.
Do fato de a autenticidade de uma obra ter se tornado totalmente questionável,
surge, no texto de Benjamin, a discussão a cerca da chamada “aura”. Para Benjamin, a arte
não deixou de existir quando começou a ser produzida em larga escala e chegou às massas.
O filósofo diz que a aura – antes existente na obra artística única, contemplativa – é que foi
aniquilada. Mas o que seria, de fato essa aura? Benjamin nos faz entender que seria a
aparição de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. Um fenômeno que explica
bem este conceito é o arco-íris, inalcançável por mais que se tente uma aproximação dele.
Outra característica da arte que se extinguiu com o surgimento das técnicas de
reprodução foi o que Benjamin chama de “valor de culto”. Antigamente, toda obra de arte
tinha algum vínculo com rituais sagrados e/ou religiosos. Ou seja, a arte era cultuada, daí o
valor de culto. Com o passar do tempo, a arte foi se distanciando cada vez mais do sagrado.
Hoje, para que uma obra tenha valor de culto, ela parece precisar ser oculta, não chegar às
massas. “À medida que as obras de arte se emancipam de seu uso ritual, tornam-se mais
numerosas as ocasiões de serem expostas” (IBID, p. 219). Por isso, hoje, a obra de arte
mais valorizada seria a mais exposta, surgindo, daí, o que Benjamin chamou de “valor de
exposição”.
Voltando à fotografia, Benjamin diz que este tipo moderno de arte separa de vez o
valor de culto do valor de exposição, porém, o primeiro não some totalmente. O valor de
culto na fotografia estaria presente nos retratos de pessoas, que fariam parte do culto da
recordação dos entes queridos, ausentes ou mortos. A partir do momento que o homem se
retira da fotografia, o valor de exposição supera o valor de culto.
As mudanças provocadas pela fotografia na arte foram mínimas se comparadas às
que o cinema causou.
O autor [Walter Benjamin] é categórico ao afirmar que o
cinema destruiu qualquer tentativa da obra de arte
configurar-se em um ritual secularizado, o público não se
dirige mais a ela em uma atitude de culto, mas em uma
atitude de distração diante do que foi exposto. Entretanto,
persiste um grande esforço, por parte de outros teóricos, em
atribuir à arte cinematográfica uma ‘aura’, o que, para
Benjamin, corresponde a uma tentativa burguesa de conferir
ao cinema uma dignidade de arte, ou melhor, de poder inseri-
lo na categoria das ‘grandes artes’. (TOMAIM, s/d, p. 115).
Para Benjamin, existem duas principais consequências na relação ator x público no
âmbito cinematográfico. A primeira delas surge do fato de a atuação ser apresentada ao
espectador por um equipamento e não diretamente ao público, como no teatro. “A atuação
do intérprete, assim, é submetida a uma série de testes óticos” (BENJAMIN, 1982, p. 222).
A segunda é que o ator de cinema não pode adaptar sua atuação de acordo com a reação do
público a seu trabalho.
O público encontra-se, assim, na situação de um expert cujo
julgamento não é alterado por nenhum contato pessoal com o
intérprete. Só penetra intropaticamente no ator penetrando
intropaticamente no aparelho. Assume, portanto, a mesma
atitude que este aparelho: faz passar um teste. Ora, os
valores de culto não podem se submeter a tal atitude.(IBID, p.
223).
Assim, o cinema, para Benjamin, não tem valor de culto.
A atuação do ator de cinema causa um estranhamento como uma imagem refletida
num espelho, porém difere desta por ser separável da pessoa que originou tal imagem. Ou
seja, a imagem do ator cinematográfico pode ser transportada para diante do público, que
faz surgir um mercado que consome cinema. O profissional de cinema – sim, o ator pode
ser chamado de profissional, já que trabalha para um mercado sempre (ou quase sempre)
visando um retorno – tem consciência desse mercado e acaba por ser mais uma mercadoria
qualquer. Assim, o cinema, de acordo com Benjamin, “aniquila” a aura.
Depois da crítica, Benjamin exalta e fala dos aspectos positivos que o cinema traz
consigo. “Uma filmagem (...) fornece um espetáculo que outrora não seria imaginável”
(IBID, p. 228). O cinema fascina tanto porque consegue – através de suas técnicas, como os
grandes planos, os realces de pormenores, os closes etc. – levar o espectador a se identificar
emocionalmente e através da chamada memória inconsciente com cenas que nunca havia
presenciado antes. Também a sétima arte permite que se enxergue o mundo através de
ângulos totalmente impossíveis de serem vistos pelos olhos humanos. A câmera leva o
homem ao inconsciente ótico, assim como a psicanálise leva ao inconsciente instintivo.
Para encerrar, Benjamin fala que a reprodução técnica da arte não trouxe apenas
malefícios a ela.
A quantidade tornou-se qualidade. O crescimento maciço do
número de participantes transformou seu modo de
participação. Que esta participação apareça inicialmente sob
forma depreciativa, é algo que não deve absolutamente
enganar o observador do processo. Pois são inúmeros os que,
não tendo ainda superado este aspecto superficial das coisas,
denunciaram-no apaixonadamente. (IBID, p. 236).
A diferença da arte clássica para a arte contemporânea – diferença essa considerada,
por muitos críticos, o motivo por não poder se considerar a fotografia e o cinema como
formas de arte – é que a primeira precisa de certo recolhimento para ser apreciada e as
formas técnicas de arte são consumidas como diversão e lazer. Assim, as massas em
distração absorvem em si a arte.
Quando certas tarefas são cumpridas com êxito mesmo sem se dar a devida atenção
a elas, diz-se que viraram hábito. Daí se conclui que o consumo de arte tende a se tornar um
hábito. Porém isso não acontece com todo tipo de arte, já que, como já foi dito, algumas
formas de arte precisam de certa concentração para serem apreciadas. Esse consumo
artístico “distraído” tem no cinema seu verdadeiro instrumento de exercício.

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