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Berkofinho - Sumário Da Doutrina Cristã
Berkofinho - Sumário Da Doutrina Cristã
I. RELIGIÃO
1. A natureza da religião. A Bíblia nos informa que o homem foi criado à imagem de
Deus, e que mesmo depois de cair em pecado esta imagem do Deus Altíssimo não foi apagada
completamente, nem o homem deixou de ser o portador desta imagem. A despeito da natureza
pecaminosa do homem em reagir contra ela, a semente da religião está implantada em cada ser
humano, e os missionários dão testemunho de que a religião, expressa em uma ou outra forma, se
encontra em todas as nações e tribos da terra. O que muitos denunciam como sendo uma maldição,
ou “o ópio do povo”, é uma das bênçãos mais profundas que a humanidade já experimentou. A
religião afeta não só os recessos mais profundos da vida humana, mas também controla seus
pensamentos, sentimentos e desejos.
Então, o que vem a ser religião? Tão-somente através do estudo da Palavra de Deus
podemos compreender a natureza da verdadeira religião. A palavra religião provém não dos
originais bíblicos, do hebraico e do grego, e sim do latim. Em nossa tradução da Bíblia, deparamo-
nos com ela três vezes (At 26.5; Tg 1.26, 27). O Antigo Testamento define religião como sendo “o
temor do Senhor”. Este temor não é um sentimento de terror ou medo, mas um reverente respeito
por Deus. Ele vem acompanhado de amor e confiança. Esta é a resposta do crente
veterotestamentário à revelação da lei. No Novo Testamento, é antes a resposta ao evangelho do
que à lei, e se apresenta sob a forma de fé e piedade.
As Escrituras nos ensinam que a religião é uma relação do homem com Deus na qual o ser
humano se dá conta da majestade absoluta e do poder infinito de Deus, em comparação com sua
própria pequenez e insignificância, bem como sua completa impotência. Podemos, pois, definir
religião assim: Uma relação com Deus, voluntária e consciente, que se expressa em uma adoração
saturada de gratidão e em um serviço repassado de amor. A forma desta adoração religiosa e serviço
a Deus não é o produto da vontade arbitrária do homem, mas foi determinada por Deus mesmo.
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todas essas teorias é que nenhuma nos informa como o homem chegou a converter-se em um ser
religioso, e todas começam com o conceito de um homem já religioso.
A Bíblia nos apresenta o verdadeiro e único relato sobre a origem da religião. Primeiro, ela
nos fala da existência de Deus, objeto único e digno de adoração. Em seguida afirma e assegura que
Deus, a quem o homem jamais poderia descobrir por suas próprias faculdades naturais, se revelou,
antes de tudo, na natureza, e, de um modo especial, em sua divina Palavra. A Bíblia afirma que este
Deus exige a adoração e o serviço sinceros do homem, e ele mesmo define a classe de adoração e
serviço que lhe agrada. Finalmente, a Bíblia nos ensina que Deus criou o homem a sua imagem e
semelhança, e assim o capacitou a compreender e responder a sua revelação, e que, ao mesmo
tempo, criou nele o desejo natural de buscar a comunhão com Deus e a glorificá-lo.
Para memorização:
1. Acerca da natureza da religião (Dt 10.12, 13; Sl 111.10; Ec 12.13; Jo 6.29; At 16.31).
2. A fonte da religião (Sl 51.10, 17; Pv 4.23; Mt 5.8).
3. A origem da religião (Gn 1.27; Dt 4.13; Ez 36.26).
1. Quais são os elementos da verdadeira religião? (Dt 10.12; Ec 12.13; Os 6.6; Mq 6.8; Mc
12.33; Jo 3.36; 6.29; At 6.31; Rm 12.1; 13.10; Tg 1.27).
2. Que práticas da falsa religião a Bíblia nos descreve? (Sl 78.35, 36; Is 1.11-17; 58.1-5; Ez
33.31, 32; Mt 6.2, 5; 7.21, 26, 27; 23.14; Lc 6.2; 13.14; Gl 4.10; Cl 2.20; 2Tm 3.5; Tt 1.16;
Tg 2.15, 16; 3.10).
3. Cite seis exemplos da verdadeira religião (Gn 4.4-8; 12.1-8; 15.17; 18.22, 23; Ex 3.2-22;
Dt 32.33; 2Rs 18.3-7; 19.4-19; Dn 6.4-22; Lc 2.25-37; 7.1-10; 2Tm 1.5).
Para revisão:
II. A REVELAÇÃO
Os ateus e os agnósticos não crêem na revelação. Os panteístas às vezes falam dela, ainda
quando não lhe dêem lugar em seu sistema filosófico. Os deístas admitem que Deus se revela na
natureza, no entanto negam a necessidade, a realidade e até mesmo a possibilidade de uma
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revelação especial, tal como nos é dada nas Escrituras. Quanto a nós, em contrapartida, cremos
numa revelação geral e noutra especial.
2. A revelação geral. A revelação geral difere de sua revelação especial somente no que se
refere ao tempo. Esta revelação não nos é dada em forma de comunicação verbal, e sim nos feitos,
forças e leis da natureza, na constituição e operação da mente humana e nos feitos da experiência e
da história. A Bíblia nos fala dela em passagens tais como Salmo 19.1, 2; Romanos 1.19, 20; 2.14,
15.
2.2. O valor da revelação geral. O que dissemos previamente não significa que a revelação
geral não seja de algum valor. Esta revelação explica os elementos verdadeiros que ainda se
encontram nas religiões pagãs. Em virtude desta revelação, os gentios sentem que são descendência
de Deus (At 17.28), e buscam a Deus, se porventura de alguma maneira, apalpando, o encontrem
(At 17.27), contemplam na natureza seu eterno poder e divindade (Rm 2.14). O fato de que os
pagãos vivam na obscuridade do pecado e da ignorância, e corrompam a verdade de Deus, não os
impede de que, de certo modo, participem da iluminação de sua Palavra (Jo 1.9) e da obra geral de
seu Espírito (Gn 6.3). Ao mesmo tempo, a revelação geral de Deus estabelece um antecedente para
sua revelação especial. Esta não poderia ser inteiramente compreendida sem aquela. A ciência e a
história iluminam as páginas da Bíblia.
3.2. As formas da revelação especial. Deus deu sua revelação ao homem em diferentes
formas:
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a. Teofanias ou manifestações visíveis de Deus. Este revelou sua presença em forma de fogo
e de nuvens (Ex 3.2; 33.9; Sl 78.14; 99.7); em ventos tempestuosos (Jó 38.1; Sl 18.10-16); e em um
sibilo suave e agradável (1Rs 19.12). Todas estas eram manifestações de sua presença que davam a
conhecer um pouco de sua glória. Entre as aparições do Antigo Testamento, são muito
proeminentes as do Anjo do Senhor, a segunda pessoa da Trindade (Gn 16.13 e 31.11; Ml 3.1). O
ponto mais sublime da revelação de Deus aos homens foi a encarnação de Cristo. Nele o Verbo de
Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14).
b. Comunicações diretas. Algumas vezes Deus falou aos homens diretamente como a
Moisés e ao povo de Israel (Dt 5.4), e outras vezes por meio dos profetas pela operação interior de
seu Espírito Santo (1Pe 1.11). Em outros casos se revelou por meio de sonhos e visões, bem como
pelo Urim e Tumim (Nm 12.6; 27.21; Is 6). No Novo Testamento encontramos Jesus Cristo como o
divino Mestre enviado para revelar a vontade de seu Pai, e por seu Espírito os apóstolos se
converteram em órgãos de revelações posteriores (Jo 14.26; 1Co 2.12, 13; 1Ts 2.13).
3.3. O caráter da revelação especial. Esta revelação especial de Deus nos fala da redenção.
Ela nos ensina o plano de Deus para a redenção dos pecadores e do mundo, e a maneira pela qual
este plano se revela plenamente. De um modo especial, ela renova o homem, ilumina sua mente e o
inclina a fazer o bem, o enche de santas aspirações e o prepara para o lar celestial. Esta redenção
nos é apresentada como um ato que não só enriquece nossos conhecimentos, mas também
transforma as vidas dos pecadores e os torna santos. Tal revelação é progressiva. As grandes
verdades da redenção inicialmente parecem muito obscuras, mas gradualmente se esclarecem até
que no Novo Testamento aparecem em toda sua beleza e plenitude.
Para memorização:
1. Mencione algumas das aparições do Anjo do Senhor. Seria ele um mero anjo? (Gn 16.33;
31.11, 13; 32.28; Ex 23.20-23).
2. Cite alguns exemplos da revelação por meio de sonhos (Gn 28.10-17; 31.24; 42.2-7; Jz
7.13; 1Rs 3.5-9; Dn 2.1-3; Mt 2.13, 19, 20).
3. Mostre casos em que Deus se revelou em visões (Is 6; Ez 1–3; Dn 2.19; 7.1-14; Zc 2–6).
4. É possível deduzir o que nos revelam os seguintes milagres? (Ex 10.1, 2; Dt 8.3; Jo 2.1-
11; 6.1-14, 25-35; 9.1-7; 11.17-44).
Para revisão:
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2. Quem nega absolutamente toda revelação divina?
3. Qual é a crença dos deístas sobre a revelação?
4. Qual é a natureza da revelação geral?
5. Por que ela é insuficiente para nossas necessidades especiais, e qual é seu real valor?
6. Por que era necessário que Deus nos desse uma revelação especial?
7. Em que forma Deus nos deu sua revelação especial?
8. Quais são as características dessa revelação?
2. Prova bíblica da inspiração das Escrituras. Toda a Bíblia foi dada por inspiração de
Deus, e é o guia infalível de fé e conduta para toda a humanidade. Posto que muitos negam a
inspiração da Bíblia, esse assunto requer uma consideração especial. A doutrina da inspiração da
Bíblia não é uma invenção humana, mas está fundada na própria Bíblia. São muitas as passagens
que nos falam deste fato, porém vamos indicar somente algumas. Os autores do Antigo Testamento
foram instruídos por Deus a escrever o que ele lhes ordenava (Ex 17.14; 34.27; Is 8.1; 30.8; Jr
25.13; 30.2; Ez 24.1, 2; Dn 12.4; Hc 2.2). Os profetas tinham consciência de ser portadores da
palavra do Senhor, e por esse motivo introduziam suas mensagens com estas palavras: “Assim diz o
Senhor”; ou: “E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo” (Jr 36.27, 32; Ez 26, 27, 31, 32, 39). O
apóstolo Paulo fala de suas próprias palavras como sendo palavras que o Espírito lhe havia ensinado
(1Co 2.13), e alega que é Cristo quem falava nele (2Co 13.3). Em sua segunda carta aos
Tessalonicenses, ele declara que sua mensagem era “palavra de Deus” (2Ts 2.13). Na epístola aos
Hebreus, encontramos citações do Antigo Testamento mencionadas como sendo a Palavra de Deus
ou do Espírito Santo (Hb 1.5; 3.7; 4.3; 5.6; 7.21). A passagem mais importante que existe sobre a
inspiração das Escrituras se encontra em 2 Timóteo 3.16: “Toda a Escritura é divinamente inspirada
e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça.”
3.1. A inspiração mecânica. Às vezes se tem afirmado que Deus ditou literalmente o que os
autores humanos da Bíblia deviam escrever, como se estes fossem meras penas na mão do escritor,
isto é, agentes completamente passivos. Isto significa que suas inteligências não contribuíram
absolutamente para a forma e o conteúdo das Escrituras. As próprias Escrituras demonstram que
não foi assim. Os autores humanos eram autores reais, e em alguns casos derivaram os materiais de
fontes que se achavam a sua disposição (1Rs 11.41; 14.29; 1Cr 29.29; Lc 1.1-4). Em outros casos,
estes autores nos contam suas próprias experiências, como no livro dos Salmos, e seus escritos
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levam as marcas de seu próprio estilo literário. O estilo de Isaías é diferente do de Jeremias; e
tampouco João escreve no mesmo estilo de Paulo.
4.1. A inspiração parcial. Sob a influência do racionalismo, não é raro encontrar atualmente
quem negue completamente a inspiração da Bíblia, ou afirma-se que somente partes dela são
inspiradas. Há quem negue a inspiração do Antigo Testamento, porém aceita a do Novo. Outros
afirmam que só os ensinos morais e religiosos da Bíblia são inspirados; porém, no que diz respeito a
suas partes históricas, há erros cronológicos, arqueológicos e científicos. Há quem limite a
inspiração ao Sermão do Monte. Os que aceitam tais pontos de vista já não possuem uma Bíblia
sobre a qual possam apoiar-se, já que as próprias diferenças de opinião que existem são uma prova
positiva de que nenhuma dessas pessoas pode determinar, com o menor grau de certeza, quais
partes da Escritura são inspiradas, e quais não o são. Há ainda outra forma de negar a inspiração
bíblica das Escrituras, e se estriba em afirmar que só os pensamentos são inspirados, mas que a
seleção das palavras foi deixada completamente ao arbítrio dos autores humanos. Tal afirmação cai
por seu próprio peso, já que se acha fundada no errôneo conceito de que é possível separar os
pensamentos das palavras. Em contrapartida, podemos afirmar que, sem as palavras, é impossível
pensar com exatidão.
4.2. A inspiração plenária. A Bíblia ensina que cada parte da mesma é inspirada. Jesus
Cristo e os apóstolos apelam com freqüência para o Antigo Testamento com as palavras Escrituras
ou Escritura para solucionar um ponto de controvérsia. Para eles, apelar para a Escritura era o
mesmo que apelar para Deus. É também digno de nota que na lista dos livros que citam desta forma
se encontram livros históricos. Na epístola aos Hebreus há freqüentes citações de passagens do
Antigo Testamento como sendo palavras de Deus ou do Espírito Santo. Pedro põe as cartas de
Paulo no mesmo nível dos livros do Antigo Testamento (2Pe 3.16), e Paulo afirma que toda a
Escritura é divinamente inspirada (2Tm 3.16).
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Portanto, podemos dar um passo além e afirmar que a inspiração da Bíblia alcança as
próprias palavras empregadas. A Bíblia é verbalmente inspirada, coisa que não se pode confundir
com a inspiração mecânica. A doutrina da inspiração verbal está bem justificada pelas Escrituras.
Em muitos casos, descobrimos que Deus mesmo indicou com exatidão a Moisés e a Josué o que
deviam escrever (Lv 3 e 4; 6.1, 24; 7.22, 28; Js 1.1; 4.1; 6.2; etc.). Os profetas falam como se o
Senhor pusesse sua palavra em seus lábios (Jr 1.9) e lhes ordenasse falar ao povo as próprias
palavras de Deus (Ez 3.4, 10, 11). Paulo nos fala que suas palavras são a doutrina do Espírito (1Co
2.13), e tanto Paulo quanto o próprio Jesus fundamentam um argumento na simples Palavra (Mt
22.43-45; Jo 10.35; Gl 3.16).
Para memorização:
1. As tradições humanas contêm alguma autoridade? (Mt 5.21-48; 15.3-6; Mc 7.7; Cl 2.8;
Tt 1.14; 2Pe 1.18).
2. Os profetas entendiam com clareza as coisas que escreviam? (Dn 8.15; 12.8; Zc 1.7–
6.11; 1Pe 1.11).
3. O que nos ensina 2 Timóteo 3.16 sobre o valor prático da inspiração da Bíblia?
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8. Como é possível provar que a inspiração se estende a cada parte da Escritura, até mesmo
às próprias palavras?
9. Qual é a diferença entre a igreja romana e os cristãos de fé reformada sobre a autoridade,
necessidade, clareza e suficiência das Escrituras?
O SER DE DEUS
Além deste conhecimento inato de Deus, o homem pode obter certo conhecimento dele
através da revelação geral e da revelação especial. Este conhecimento se obtém como fruto de uma
busca consciente e contínua. Ainda quando tal conhecimento seja possível por razão da capacidade
natural no homem para conhecer a Deus, o conhecimento adquirido o faz aproximar-se muito mais
daqueles limites impostos para o conhecimento inato de Deus.
2.1. Deus é um espírito puro. A Bíblia não nos fornece qualquer definição de Deus. O que
mais se aproxima de uma definição são as palavras de Jesus à mulher samaritana, dizendo: “Deus é
espírito.” Isto significa que Deus é essencialmente espírito, e que todas aquelas qualidades que
pertencem à idéia de espírito perfeito se encontram necessariamente nele. O fato de Deus ser um
espírito puro exclui a idéia de que ele possui um corpo, não importa de que espécie possa ser,
visível aos olhos humanos.
2.2. Deus é um ser pessoal. A idéia de Deus como espírito inclui a idéia de personalidade
ou pessoalidade. Um espírito é um ser inteligente e moral; por isso, quando atribuímos a Deus
personalidade, queremos dizer que ele é um ser racional, capaz de determinar-se e decidir as coisas.
Atualmente há muitos que negam a personalidade de Deus e o concebem simplesmente como uma
força ou poder impessoal. No entanto, o Deus da Bíblia é um Ser pessoal, um Deus com quem os
homens podem dialogar, em quem podem confiar, que conhece suas experiências, os ajuda em suas
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dificuldades e enche seus corações de alegria e esperança. Além disso, Deus se revelou de uma
forma pessoal através do Senhor Jesus Cristo.
2.3. Deus é infinitamente perfeito. O que distingue a Deus de suas criaturas é sua perfeição
infinita. Seu ser e virtudes ou atributos são plenamente livres de toda limitação ou imperfeição.
Deus é não só um ser infinito e ilimitado, mas também está infinitamente acima de todas suas
criaturas, em suas perfeições morais e gloriosa majestade. Os filhos de Israel cantaram a grandeza
de Deus após a travessia do Mar Vermelho com estas palavras: “Quem é como tu, ó Senhor, entre
os deuses? Quem é como tu, magnífico em santidade, terrível em louvores, que operas maravilhas?”
(Ex 15.11). Alguns filósofos contemporâneos falam erroneamente de Deus como um ser “finito, que
se desenvolve, que luta e que sofre, participando das derrotas e vitórias do homem”. Este conceito
existencialista está distante das verdades bíblicas.
2.4. Deus e suas perfeições são uma e a mesma coisa. Simplicidade é uma das
características fundamentais de Deus. Isto significa que Deus não está dividido em partes, mas que
seu ser e seus atributos são uma e a mesma coisa. Poder-se-ia dizer que os atributos divinos são
Deus tal como ele quis revelar-se ao homem e são plenamente manifestações do Ser divino. Por
esse motivo a Bíblia afirma que Deus é verdade, vida, luz, amor, justiça etc.
1. Estas passagens ensinam que não podemos conhecer a Deus? (Jó 11.7; 26.14; 36.26).
2. Se Deus é espírito e, conseqüentemente, não tem corpo, como se explicam as seguintes
passagens? (Sl 4.6; 17.2; 18.6, 8, 9; 31.5; 44.3; 47.8; 48.10; entre outras).
3. Como estes versículos provam a personalidade de Deus? (Gn 1.1; Dt 1.34, 35; 1Rs 8.23-
26; Jó 38.1; Sl 21.7; 50.6; 103.3; Mt 5.9; Rm 12.1).
Para revisão:
V. OS NOMES DE DEUS
Quando lemos na Bíblia que Deus dá nomes a certas pessoas ou coisas, esses nomes têm
um significado e nos dão uma idéia da natureza das pessoas ou coisas que designam. O mesmo se
aplica aos nomes que Deus mesmo deu a si próprio. Algumas vezes a Bíblia nos fala do nome Jeová
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no singular, e em tais casos designa com essa palavra uma manifestação geral de Deus, de um modo
especial com referência a seu povo (Ex 20.7; Sl 113.3); ou se refere apenas a Deus (Pv 18.18; Is
50.10). O nome de Deus, em geral, tem-se dividido em vários nomes especiais que expressam os
muitos aspectos de seu Ser. Esses nomes não são o produto de invenção humana, mas foram dados
por Deus mesmo.
2. Os nomes de Deus no Novo Testamento. Estes não são outros senão produto das
traduções gregas das formas hebraicas do Antigo Testamento. São dignos de menção os seguintes:
2.1. O nome Theos. Esta palavra é traduzida por Deus, e é a que se emprega com mais
freqüência no Novo Testamento. Emprega-se com muita freqüência no caso genitivo (possessivo),
ou, seja, meu Deus, teu Deus, nosso Deus, seu Deus. Na pessoa de Cristo, Deus é o Deus de todos
seus filhos. Esta forma individual toma o lugar da forma nacional, o Deus de Israel, que é tão
freqüente no Antigo Testamento.
2.2. O nome Kyrios. A palavra Kyrios significa Senhor, e este nome se aplica não só a Deus
o Pai, mas também a Cristo. Em seu significado, ele toma o lugar do hebraico Adonai, bem como
Jeová, mas seu significado corresponde muito mais de perto a forma Adonai. Designa, pois, a Deus
como o Possuidor e Soberano de todas as coisas, e, de um modo especial, de seu povo.
2.3. O nome Pater. Há quem diga que o Novo Testamento introduz este nome como sendo
um nome novo, mas tal afirmação é incorreta. O nome Pai se encontra também no Antigo
Testamento para expressar a relação especial que existia entre Deus e seu povo Israel (Dt 32.6; Is
63.16). No Novo Testamento, seu significado é ainda mais individual e denota a Deus como o Pai
de todos os crentes. Às vezes ele designa a Deus como Criador de tudo quanto existe (1Co 8.6; Ef
3.14; Hb 12.9; Tg 1.17); outras, como a primeira pessoa da Santíssima Trindade e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo (Jo 14.11; 17.1).
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1. Como a passagem de Êxodo 3.13-16 lança luzes sobre o significado do nome Jeová?
2. Qual era o nome de Deus mais comum nos dias dos patriarcas? (Gn 17.1; 28.3; 35.11;
43.14; 48.3; 49.25; Ex 6.3).
3. Você pode dar alguns nomes que descrevem a Deus? (Is 43.15; 44.6; Am 4.13; Lc 1.78;
2Co 1.3; Tg 1.17; Hb 12.9; Ap 1.8, 17).
Para revisão:
Deus se nos revela não só através de seus nomes, mas também em seus atributos, isto é, as
perfeições do Ser divino. Costuma-se distinguir entre os atributos comunicáveis e os
incomunicáveis. Existem vestígios dos primeiros nas criaturas humanas, porém não dos segundos.
1. Os atributos incomunicáveis. Sua ênfase está na distinção absoluta que existe entre a
criatura e o Criador. Esses atributos são:
1.2. Imutabilidade de Deus. As Escrituras nos ensinam que Deus não muda. Tanto em seu
Ser divino quanto em seus atributos, em seus propósitos e promessas, Deus permanece sempre o
mesmo (Nm 23.19; Sl 33.11; 102.27; Ml 3.6; Hb 6.17; Tg 1.17). Isto de modo algum significa que
em Deus não exista movimento. A Bíblia nos ensina que ele vai e vem; que ele se esconde e se
revela. Ela nos diz também que ele se arrepende, mas é evidente que isto não passa de uma forma
humana de falar de Deus (Ex 32.14; Jn 3.10); e indica mais uma mudança na relação do homem
com Deus.
1.3. Infinidade de Deus. Com isto afirmamos que Deus não está sujeito a nenhuma
limitação. Podemos falar de sua infinidade em diversos sentidos. Com relação a seu Ser, podemos
chamá-la sua perfeição absoluta. Em outras palavras, Deus não é limitado em seu conhecimento e
sua sabedoria, em sua bondade e seu amor, em sua justiça e sua santidade (Jó 11.7-10; Sl 145.3).
Com respeito ao tempo, a chamamos sua eternidade. Enquanto na Escritura tal noção nos é dada em
forma de uma duração ilimitada (Sl 90.2; 102.12), de fato significa que Deus está acima do tempo, e
que portanto não está sujeito às limitações deste. Para Deus só existe um eterno presente, e para ele
não há passado e futuro. Com relação ao espaço, sua infinidade recebe o nome de imensidade. Deus
está presente em todas as partes, mora em todas suas criaturas, enche cada ponto do espaço, porém
não está de forma alguma limitado pelo espaço (1Rs 8.27; Sl 139.7-10; Is 66.11; Jr 23.23, 24; At
17.27, 28).
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1.4. Simplicidade de Deus. Ao falar da simplicidade de Deus, queremos dizer que ele não
se compõe de diferentes partes, tais como corpo e alma no homem, e que por esta justa razão Deus
não se acha sujeito a nenhuma divisão. As três pessoas da Deidade não são tantas partes das quais
se compõe a essência divina. Todo o ser de Deus pertence a cada uma das três Pessoas. Por esse
motivo, afirmamos que Deus e seus atributos são um todo consistente, e que ele é vida, luz, amor,
justiça, verdade etc.
2. Os atributos comunicáveis. Estes são os atributos dos quais existe alguma semelhança
no homem. Devemos notar, contudo, que o que vemos no homem é uma semelhança finita
(limitada) e imperfeita daquilo que em Deus é infinito (ilimitado) e perfeito.
2.1. O conhecimento de Deus. Chamamos assim àquela perfeição pela qual Deus, a sua
maneira, conhece a si mesmo e a todas as coisas atuais e possíveis. Deus tem por si mesmo este
conhecimento pessoal, e não o obtém de nada e de ninguém exterior. Este conhecimento é completo
e está sempre presente em sua mente. Posto que tal conhecimento abrange tudo, ele tem recebido o
título onisciência. Deus conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras, e não só aquelas que
têm uma existência real, mas também as que são meramente possíveis (1Rs 8.29; Sl 139.1-16; Is
46.10; Ez 11.5; At 15.18; Jo 21.17; Hb 4.13).
2.3. A bondade de Deus. Deus é bom, isto é, perfeitissimamente santo em seu modo de ser.
No entanto, esta não é a classe de bondade à qual nos referimos aqui. A bondade a que fazemos
referência é aquela que se revela em se fazer o bem a outros. É o atributo ou perfeição divina que
impulsiona Deus a agir com bondade e generosidade para com todas suas criaturas. A Bíblia fala
disto reiteradamente (Sl 36.6; 104.21; 145.8, 9, 16; Mt 5.45; At 14.17).
2.4. O amor de Deus. Este é chamado o atributo mais importante de Deus, mas é duvidoso
se um é mais importante que os outros. Em razão disto, Deus se deleita em suas próprias perfeições,
e também nos homens, como reflexo de sua imagem. Podemos considerá-lo de diferentes prismas.
O amor imerecido de Deus que se revela no perdão dos pecados recebe o título graça (Ef 1.7; 2.7-9;
Tt 2.11). O amor que se revela em aliviar a miséria dos que sofrem as conseqüências do pecado, o
chamamos sua misericórdia ou terna compaixão (Lc 1.54-72, 78; Rm 15.8; 9.16, 18; Ef 2.4).
Quando este amor tem paciência para com o pecador que não atenta para as instruções e avisos
divinos, o chamamos sua longanimidade ou paciência (Rm 2.4; 9.22; 1Pe 3.20; 2Pe 3.15).
2.5. A santidade de Deus. Esta é antes de tudo aquela perfeição divina pela qual ele é
absolutamente distinto de todas suas criaturas, e elevado mui acima delas em infinita majestade (Ex
15.11; Is 57.15). Em segundo lugar, denota também que Deus é livre de qualquer impureza moral
ou pecado, e que por isso ele é moralmente perfeito. Na presença deste Deus santo, o homem sente
seu pecado extremamente profundo (Jó 34.10; Is 6.5; Hc 1.13).
2.6. A justiça de Deus. A justiça de Deus é aquele atributo divino pelo qual ele se mantém
santo diante de qualquer violação de sua santidade. Em virtude disto, Deus mantém seu governo
moral no mundo e impõe ao homem uma lei justa, recompensando a obediência e castigando a
desobediência (Sl 99.4; Is 33.22; Rm 1.32). A justiça de Deus que se manifesta em dar recompensas
recebe o título justiça remunerativa; a que se revela ao executar seu castigo se chama justiça
retributiva. A primeira é uma expressão de seu amor; e, a segunda, de sua ira.
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2.7. A veracidade de Deus. Este atributo denota que Deus é verdadeiro em seu ser
intrínseco, em sua revelação e nas relações com seu povo. Deus é verdadeiro em contraste com os
ídolos, conhece todas as coisas tais como são, e é fiel no cumprimento de suas promessas. Esta
última característica recebe também o nome de fidelidade de Deus (Nm 23.19; 1Co 1.9; 2Tm 2.13;
Hb 10.23).
2.8. A soberania de Deus. Este atributo pode ser considerado a partir de dois prismas: sua
soberana vontade e seu soberano poder. A vontade de Deus, segundo as Escrituras, é a causa final
de todas as coisas (Ef 1.11; Ap 4.11). De acordo com Deuteronômio 29.29, era costume distinguir
entre a vontade secreta de Deus e sua vontade revelada. A primeira foi chamada a vontade do
decreto divino, está oculta em Deus mesmo e só pode ser conhecida através de seus efeitos. A
segunda é a vontade de seus preceitos e nos foi revelada na lei e no evangelho. A vontade de Deus é
absolutamente livre em sua relação com suas criaturas (Jó 11.10; 33.13; Sl 115.3; Pv 21.1; Mt
20.15; Rm 9.15-18; Ap 4.11). Mesmo as ações pecaminosas do homem estão sob o controle de sua
soberana vontade (Gn 50.20; At 2.23). Onipotência é o título que se dá ao poder de se executar sua
vontade. Dizer que Deus é onipotente não significa que ele possa fazer qualquer coisa. A Bíblia nos
ensina que há certas coisas que ele não pode fazer. Ele não pode mentir, pecar, nem negar-se a si
mesmo (Nm 23.19; 1Sm 15.29; 2Tm 2.13; Hb 6.28; Tg 1.13, 17). Significa, por sua vez, que Deus
pode, pelo mero exercício de sua vontade, realizar qualquer coisa que porventura decida realizar, e
que, se ele quiser, poderia fazer até mais que isso (Gn 18.14; Jr 32.27; Zc 8.6; Mt 3.9; 26.53).
1. Os atributos incomunicáveis:
1.1. Independência (Jo 5.26).
1.2. Imutabilidade (Ml 3.6; Tg 1.17).
1.3. Eternidade (Sl 90.2; 102.27).
1.4. Onisciência (Sl 139.7-10; Jr 23.23, 24).
2. Os atributos comunicáveis:
2.1. Onisciência (Jo 21.17; Hb 4.13).
2.2. Sabedoria (Sl 104.24; Dn 2.20, 21).
2.3. Bondade (Sl 86.5; Sl 118.29).
2.4. Amor (Jo 3.16; 1Jo 4.8).
2.5. Graça (Ne 9.17; Rm 3.24).
2.6. Misericórdia (Rm 9.18; Ef 2.4, 5).
2.7. Longanimidade ou paciência (Nm 14.18).
2.8. Santidade (Ex 15.11; Is 6.3)..
2.9. Justiça ou juízo (Sl 89.14; 145.17; 1Pe 1.17).
2.10. Veracidade e fidelidade (Nm 23.19; 2Tm 2.13).
2.11. Soberania (Ef 1.11; Ap 4.11).
2.12. Vontade secreta e revelada (Dt 29.29).
2.13. Onipotência (Jó 42.2; Lc 1.37).
1. Apresente casos nos quais a Bíblia identifica Deus com seus atributos (Jr 23.6; Hb 12.29;
1Jo 1.5; 3.16).
2. Como é possível que Deus seja justo e também misericordioso para com o pecador? (Zc
9.9; Rm 3.24-26).
13
3. Prove, através das Escrituras, que a presciência divina inclui até mesmo os feitos
condicionais (1Sm 23.10-13; 2Rs 13.19; Sl 81.13-15; Jr 38.17-20; Ez 3.6; Mt 11.21; Is
48.18).
Para revisão:
VII. A TRINDADE
1. Declaração doutrinal. A Bíblia ensina que, embora Deus seja uno, ele subsiste em três
pessoas chamadas Pai, Filho e Espírito Santo. Estas são três pessoas não no sentido corrente da
palavra; tampouco são três indivíduos; ao contrário, são três modos ou formas de existência do Ser
divino. Ao mesmo tempo, sua natureza é tal que é possível entrar em relações pessoas. O Pai pode
falar ao Filho e vice-versa, e ambas as pessoas podem enviar o Espírito Santo. O verdadeiro
mistério da Trindade consiste no fato de que cada uma das três pessoas possui a soma total da
essência divina, e que esta não existe separadamente ou fora das Pessoas. Nenhuma delas é
subordinada à outra quanto ao Ser, ainda que na ordem de sua existência o Pai seja primeiro, o
Filho seja segundo e o Espírito Santo seja o terceiro.
2. Prova bíblia da Trindade. O Antigo Testamento já nos indica que em Deus existe mais
de uma pessoa. Deus fala de si mesmo no plural (Gn 1.26; 11.7); o Anjo do Senhor nos é
apresentado como sendo uma pessoa divina (Gn 16.7-13; 18.1-21; 19.1-22), e igualmente o Espírito
Santo nos é apresentado como uma pessoa distinta (Is 48.16; 63.10). Há igualmente passagens nas
quais o Messias fala e menciona as outras pessoas (Is 48.16; 63.9, 10).
Dado o progresso que encontramos na revelação, o Novo Testamento nos apresenta provas
mais concretas. Encontramos as provas mais contundentes nos atos da redenção. O Pai envia seu
Filho ao mundo, e o Filho envia o Espírito Santo. Além disso, há certo número de passagens nas
quais as três pessoas são mencionadas especificamente, tais como na “Grande Comissão” (Mt
28.19); a “Bênção Apostólica” (2Co 13.13). Vejam-se também Lucas 3.21, 22; 1.35; 1 Coríntios
12.4-6; 1 Pedro 1.2.
14
A doutrina da Trindade foi negada pelos socinianos, nos dias da Reforma, e atualmente é
negada pelos unitarianos e pelos modernistas [bem como pelos russelitas]. Estes falam dela em
termos do Pai, do homem Jesus e da influência divina que recebe o nome de Espírito de Deus.
3. O Pai. O título Pai se aplica com freqüência, nas Escrituras, ao Deus Triúno como o
Criador de todas as coisas (1Co 8.6; Hb 12.9; Tg 1.17), como Pai de Israel (Dt 32.6; Is 63.16) e
como Pai dos crentes (Mt 5.45; 6.6, 9, 14; Rm 8.15). No sentido mais profundo, a palavra Pai se
refere à primeira Pessoa da Trindade (Jo 1.14, 18; 8.54; 14.12, 13). Esta é a paternidade original e
da qual a paternidade humana não é mais que um débil reflexo. A característica essencial do Pai é
haver ele gerado o Filho desde toda a eternidade. As obras que geralmente se lhe atribuem são o
planejamento da obra redentora, a criação, a providência e a representação da Trindade no conselho
da redenção.
4. O Filho. A segunda Pessoa da Trindade é chamada Filho ou Filho de Deus. Este nome
lhe é dado não só como Filho unigênito do Pai (Jo 1.14, 18; 3.16, 18; Gl 4.4), mas também como o
Messias eleito de Deus (Mt 8.29; 26.63; Jo 1.49; 11.27), e em virtude de seu nascimento especial
por obra do Espírito Santo (Lc 1.32, 35). A característica essencial do Filho é haver ele sido gerado
do Pai desde toda a eternidade (Sl 2.7; At 13.33; Hb 1.5). Por razão desta geração eterna, o Pai é a
causa da existência pessoal do Filho na Deidade divina. As obras que são atribuídas ao Filho, de um
modo especial, são obras de mediação. O Filho de Deus é o Mediador da criação (Jo 1.3, 10; Hb
1.2, 3) e o Mediador da obra redentora (Ef 1.3-14).
Para memorização:
1. Em que sentido podemos falar da paternidade de Deus? (1Co 8.6; Ef 3.14, 15; Hb 12.9;
Tg 1.17; Nm 16.22).
2. Você pode provar a deidade do Filho feito carne? (Jo 1.1; 20.28; Fp 2.6; Tt 2.13; Jr 23.5,
6; Is 9.6; Jo 1.3; Ap 1.8; Cl 1.17; Jo 14.1; 2Co 13.13).
3. Em que forma as seguintes passagens provam a personalidade do Espírito Santo? (Gn
1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; At 8.29; 13.2; Rm 8.11; 1Co 2.10, 11).
4. Quais são as obras atribuídas ao Espírito Santo? (Sl 33.6; 104.30; Ex 28.3; 2Pe 1.21; 1Co
3.16; 12.4).
Para revisão:
15
1. Podemos deduzir da natureza a doutrina da Trindade?
2. Existem em Deus três indivíduos completamente distintos?
3. No Ser divino as Pessoas estão subordinadas entre si?
4. Como podemos provar a Trindade através do Antigo Testamento?
5. Qual é a prova mais contundente da Trindade?
6. Quais são as melhores passagens neotestamentárias que a provam?
7. Em que diferentes sentidos se aplica a Deus o título Pai?
8. Que obras são atribuídas, de um modo especial, a cada uma das Pessoas da Deidade?
9. Em quais sentidos o termo Filho se aplica a Cristo?
10. Qual é a característica especial de cada uma das Pessoas?
11. Como você provaria que o Espírito Santo é uma Pessoa?
AS OBRAS DE DEUS
1. Os decretos divinos em geral. O decreto de Deus é seu plano ou propósito eterno, pelo
qual ele predestinou todas as coisas que sucedem. Posto que tal definição inclui muitos particulares,
falamos com freqüência dos decretos divinos no plural, ainda que, na realidade, exista um único
decreto. Este decreto abrange todas as obras de Deus na criação e na redenção, e abarca todas as
ações dos homens, sem excluir suas ações pecaminosas. Enquanto este decreto tornou inevitável o
ingresso do pecado no mundo, ele não faz Deus o responsável por nossas ações pecaminosas. Com
respeito ao pecado, este vem a ser um decreto permissivo.
1.2. Objeções à doutrina dos decretos divinos. Muitos não crêem na doutrina dos decretos
divinos e apresentam especialmente estas três objeções:
a. Esta doutrina é inconsistente com a liberdade moral do ser humano. A Bíblia, por sua vez,
ensina que Deus decretou não só os atos livres do homem, mas o homem é, apesar de tudo, livre em
seus atos, e responsável (Gn 50.19, 20; At 2.23; 4.27-29). É verdade que não podemos harmonizar
plenamente estes dois extremos, mas é evidente, nas Escrituras, que um não anula ou invalida o
outro.
b. Este ensino torna os homens negligentes em sua busca da salvação. Os que assim
pensam acrescentam que, se Deus já determinou de antemão os que hão de ser salvos e os que não o
serão, então é indiferente tudo o que estes possam fazer. Este raciocínio é errôneo, já que ninguém
sabe o que Deus decretou a seu respeito. Além do mais, Deus decretou não só o destino final do
homem, mas também os meios pelos quais tal destino se concretizará. Posto que o fim só foi
decretado como resultado dos meios prescritos, então vem a ser mais um estímulo para o uso desses
meios do que motivo para desestímulo de seu uso.
16
c. Ele torna Deus o autor do pecado. A única coisa que se pode dizer sobre este decreto é
que ele torna Deus o autor de seres morais livres, e que estes são os próprios autores do pecado. O
pecado, pelo decreto divino, veio à existência, porém Deus mesmo não o produziu por sua ação
direta. Devemos admitir que o problema sobre a relação entre Deus e o pecado é, em todo caso, um
mistério que se torna impossível somos de se resolver.
a. A eleição do povo de Israel no Antigo Testamento para ser o povo de Deus (Dt 4.37; 7.6-
8; 10.15; Os 13.5).
b. A eleição de certas pessoas para um serviço ou ofício especial (Dt 18.5; 1Sm 10.24; Sl
78.70; e
c. A eleição de indivíduos para a salvação (Mt 22.14; Rm 11.5; Ef 1.4). Esta última fase é a
que nos reportamos aqui, e pode ser definida como o propósito terno de Deus para salvar alguns
seres humanos dentre toda a raça humana em e pela mediação de Jesus Cristo.
2.2. A reprovação. A doutrina da eleição implica, por natureza, que Deus não se propôs
salvar a todos os homens. Se seu propósito era salvar apenas alguns, também era natural que não
salvasse outros. Isto está também de acordo com os ensinamentos das Escrituras (Mt 11.25, 26; Rm
9.13, 17, 18, 21; 11.7, 8; 2Pe 2.9; Jd 4). Tem-se definido a reprovação como o propósito eterno de
Deus de passar por alto, na operação de sua graça especial, alguns dentre os homens, e de castigá-
los por seus pecados. Existe, pois, na reprovação um duplo propósito: (1) passar por alto algumas
pessoas com respeito ao dom de sua graça salvífica; e (2) castigá-las por seus próprios pecados.
Com freqüência se afirma que a doutrina da predestinação abre as portas à acusação de que
Deus é injusto. No entanto, não poderia haver um equívoco mais absurdo do que este. O único
motivo que nos permitiria falar de injustiça divina seria só no caso em que o homem tivesse algum
direito diante de Deus, e no caso em que Deus devesse ao homem sua salvação eterna. Mas, posto
que todos os homens, sem exceção, perderam o direito às bênçãos de Deus, a situação é muito
diferente. Ninguém possui sequer um mínimo de direito de pedir contas a Deus pelo fato de ele
eleger alguns e rejeitar outros. Deus continuaria sendo perfeitamente justo, se não salvasse a
ninguém (Mt 20.14, 15; Rm 9.14, 15).
17
3. Que indicações temos de que também os anjos foram objetos da predestinação? Que
devemos pensar de 1 Timóteo 5.21?
Para revisão:
IX. A CRIAÇÃO
Nossa discussão sobre os decretos divinos nos conduz ao exame de sua execução, ou, seja, à
obra da criação que assinala seu início. Este é o princípio e base de toda a revelação e o fundamento
da vida religiosa.
1. A criação em geral. A palavra criação nem sempre é usada na Bíblia com o mesmo
significado. Em seu sentido estrito, essa palavra denota a obra de Deus pela qual ele produziu o
universo e tudo o que nele existe, em parte sem o uso de materiais pré-existentes, mas também
fazendo uso de materiais que, por sua natureza, são inapropriados para a manifestação de sua glória.
A criação é obra do Deus Triúno (Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4; Sl 33.6; Is 40.12, 13; Jo 1.3; 1Co 8.6; Cl
1.15-17). Em oposição ao panteísmo, devemos manter que a criação foi um ato livre de Deus.
Equivale dizer que Deus não necessitava do universo material (Ef 1.11; Ap 4.11). Em oposição ao
deísmo, afirmamos que Deus criou o universo de modo que este dependesse dele para sempre.
Portanto, Deus é quem deve sustentá-lo dia após dia (AT 17.28; Hb 1.3).
1.1. O tempo da criação. A Bíblia nos ensina que Deus criou o mundo “no princípio”, ou,
seja, no princípio de todas as coisas temporais. Por trás deste princípio nos achamos diante de uma
eternidade infinita. A primeira parte da obra criadora nos é mencionada em Gênesis 1.1, e foi a
criação sem material pré-existente, ou, melhor dito, criação a partir do nada. A expressão criar do
nada não se encontra na Bíblia, mas somente em um dos livros apócrifos (2Macabeus 7.28). A idéia
de criação a partir do nada se encontra encerrada em diversas passagens bíblicas (Gn 1.1; Sl 33.9;
148.5; Rm 4.7; Hb 11.3).
1.2. O propósito final da criação. Há quem ensine que o propósito da criação é a felicidade
do homem. Seu argumento é que Deus não pode ser, em si mesmo, o propósito final da criação,
porque ele é um ser em si mesmo suficiente. Ao contrário, o homem existe para Deus, e não Deus
para o homem. A Bíblia nos ensina claramente que Deus criou o mundo para assim manifestar sua
glória. Naturalmente, esta manifestação de sua glória não tem por objetivo promover uma certa
admiração por parte da criatura, mas deseja contribuir para seu bem-estar, fazer surgir em seus
corações a adoração ao Criador (Is 43.7; 60.21; 61.3; Ez 36.21, 22; 39.7; Lc 2.14; Rm 9.17; 11.36;
1Co 15.28; Ef 1.5, 6, 12, 14; 3.9, 10; Cl 1.16).
18
1.3. Substitutos para a doutrina da criação. Os que se recusam a aceitar a doutrina da
criação apresentam as seguintes teorias para explicar o universo. (1) Há quem diga que a matéria
original é eterna, e que o universo surgiu dela por mera casualidade ou por efeito de alguma força
superior. Esta teoria incorre na contradição de pressupor a existência de duas coisas eternas e
infinitas, existindo uma ao lado da outra, ou, seja, a matéria e a força. Tal explicação é logicamente
impossível. (2) Outros afirmam que Deus e o universo são, na realidade, uma só coisa, e que o
universo é a conseqüência necessária ou o produto do ser divino. Esta teoria subtrai de Deus o poder
de sua própria determinação, e nega aos homens sua liberdade e seu caráter moral e responsável. Ao
mesmo tempo, faz Deus o autor do mal que existe no mundo. (3) Finalmente, há quem se refugie na
teoria da evolução. Esta não oferece solução alguma para explicar a origem do mundo, já que, em
princípio, pressupõe a existência de algo que se desenvolve gradualmente.
2. O mundo espiritual. Deus criou não só um universo material, mas também criou um
mundo espiritual angélico.
2.1. Prova em prol da existência dos anjos. A teologia liberal moderna abandonou sua fé
nos seres espirituais. A Bíblia, ao contrário, pressupõe sua existência e lhes atribui uma
personalidade real (2Sm 14.20; Mt 24.36; Jd 6; Ap 14.10). Há quem ensine que os anjos possuem
corpos etéreos; mas isto é contrário às Escrituras. Os anjos são seres espirituais e puros (ainda que
às vezes nos sejam apresentados em formas materiais) (Ef 6.12; Hb 1.14), sem carne e ossos (Lc
24.39) e, portanto, invisíveis (Cl 1.16). Alguns dentre eles são bons, santos e eleitos (Mc 8.38; Lc
9.26; 2Co 11.14; 1Tm 5.21; Ap 14.10), e outros caíram de seu estado original e, conseqüentemente,
são seres maus (Jo 8.44; 2Pe 2.4; Jd 6).
2.2. Classes de anjos. É evidente que existem diferentes classes de anjos. A Bíblia nos fala
dos querubins, os quais revelam o poder, majestade e glória de Deus, e guardam a santidade no
jardim do Éden, no tabernáculo e no tempo (Gn 3.24; Ex 25.18; 2Sm 22.11; Sl 18.10; 80.1; 99.1; Is
37.16). Além do mais, encontramos os serafins mencionados somente em Isaías 6.2, 3, 6. Estes são
os servos de Deus em seu trono, entoam-lhe louvores e estão sempre prontos a cumprir seus
propósitos. Sua finalidade é reconciliar e preparar os homens para que tenham devido acesso a
Deus.
Conhecemos dois dos anjos por seus nomes. O primeiro é Gabriel (Dn 8.16; 9.21; Lc 1.10,
26). Sua tarefa especial era comunicar aos homens revelações divinas e suas devidas interpretações.
O segundo é Miguel (Dn 10.13, 21; Jd 9; Ap 12.7). Na carta de Judas ele recebe o título arcanjo. É
o valente lutador que peleja as batalhas de Deus contra os inimigos de seu povo e os poderes
malignos no mundo espiritual. A Bíblia menciona também vários termos gerais, a saber:
principados, potestades, tronos, domínios, senhorios (Ef 1.21; 3.10; Cl 1.16; 2.10; 1Pe 3.22). Estes
títulos denotam diferenças e hierarquias e dignidade entre os anjos.
2.3. A obra dos anjos. Os anjos adoram e louvam a Deus sem cessar (Sl 130.20; Is 6; Ap
5.11). A partir da entrada do pecado no mundo, os anjos servem aos herdeiros da salvação (Hb
1.14), se alegram com a conversão dos pecadores (Lc 15.10), guardam os crentes (Sl 34.7; 91.11),
protegem os pequeninos (Mt 18.10), se acham presentes na igreja (1Co 11.10; Ef 3.10; 1Tm 5.21) e
conduzem os crentes ao seio de Abraão (Lc 16.22). Com freqüência são os portadores de revelações
especiais de Deus (Dn 9.21-23; Zc 1.12-14), comunicam as bênçãos de Deus a seu povo (Sl 91.11,
12; Is 63.9; Dn 6.22; At 5.19) e executam os juízos de Deus contra seus inimigos (Gn 19.1, 13; 2Rs
19.35; Mt 13.41).
2.4. Os anjos maus. À parte dos anjos bons há também anjos maus que se aprazem em opor-
se a Deus e em destruir sua obra. Esses anjos foram criados bons, porém não chegaram a guardar
19
sua posição original (2Pe 2.4; Jd 6). Não sabemos exatamente qual foi seu pecado, mas,
provavelmente, se rebelaram contra Deus e aspiraram sua divina autoridade (2Ts 2.4, 9). Satanás,
que era um príncipe entre os anjos, veio a ser o líder máximo dos que caíram em pecado (Mt 25.41;
9.34; Ef 2.2). Com seus poderes sobrenaturais, Satanás e seu exército tentam destruir a obra de
Deus. Sabemos que tentam cegar e enganar até mesmo os eleitos, e injetam ânimo nos pecadores
para que prossigam em suas veredas de perversidade.
3.1. Os dias da criação. Tem havido muita discussão sobre a criação, se os seis dias em que
se concretizou foram ou não dias ordinários. Os geólogos e os proponentes da teoria da evolução
nos falam de longos períodos de tempo. É certo que a palavra dia, na Escritura, nem sempre
significa um dia de 24 horas (cf. Gn 1.5; 2.4; Sl 50.15; Ec 7.14; Zc 4.10). Não obstante, cremos que
as seguintes considerações favorecem interpretar os dias da criação como sendo dias de 24 horas:
a. A palavra hebraica yom (dia) denota, normalmente, um dia ordinário, e, a menos que o
contexto requeira outra interpretação, deveríamos entendê-lo como um dia de 24 horas.
c. Foi também um dia de 24 horas que Deus separou para ser o dia de descanso no final da
criação.
d. Êxodo 20.9-11 nos ensina que Israel devia trabalhar seis dias e descansar no sétimo,
porque o Senhor fez os céus e a terra em seis dias e descansou no sétimo.
e. É evidente que os três últimos dias foram dias de 24 horas, porque foram determinados
pela relação da terra com o sol. Ora, se os três últimos dias eram de 24 horas, por que não os quatro
primeiros?
3.2. A obra dos seis dias. No primeiro dia, Deus criou a luz e formou o dia e a noite com o
fim de separar a luz e as trevas. Isto não contradiz o fato de que o sol, a lua e as estrelas foram
criados no quarto dia, já que os astros não são a própria luz, mas apenas luminares. A obra do
segundo dia foi também uma obra separadora. Deus separou as águas superiores e as inferiores, e
estabeleceu o firmamento. No terceiro dia, a obra de separação continuou com a separação do mar e
a terra seca. Além disso, Deus estabeleceu neste dia o reino vegetal, as árvores e as plantas. Pelo
poder de sua palavra, Deus fez com que a terra produzisse plantas em flor, os vegetais e árvores
frutíferas, cada uma segundo sua semente e espécie. No quarto dia, Deus criou o sol, a lua e as
estrelas para vários fins, ou, seja, para dividir o dia da noite, ser sinais das condições atmosféricas,
regular a sucessão de dias, meses e anos e das estações, mas, ao mesmo tempo, para serem
luminares da terra. A obra do quinto dia foi a criação das aves e peixes, os habitantes do ar e das
águas. Finalmente, o sexto dia marcou o clímax da obra criadora. Deus criou os animais superiores,
e, como coroa desta criação, pôs nela o homem criado à imagem de Deus. O corpo do homem foi
feito do pó da terra, mas sua alma foi produto da criação imediata de Deus. No sétimo dia, Deus
descansou de sua obra e se alegrou ao contemplar a mesma.
Notemos o paralelo que existe entre a obra dos três primeiros dias e a dos três últimos:
20
2º dia: criação da expansão e separação das águas.
3° dia: separação de águas e terra seca, e desta para ser habitação dos animais e do homem.
1. Em que sentido se usa a palavra criar no Salmo 51.10; 104.30; Isaías 45.7?
2. Podemos dizer que Gênesis 1.11, 12, 20, 24 favorece a teoria da evolução? Veja-se
também Gênesis 1.21, 25; 2.9.
3. O que nos ensinam as seguintes passagens sobre o pecado dos anjos? (2Pe 2.4; Jd 6; veja-
se também 2Ts 2.4-12).
Para revisão:
1. Que é a criação?
2. A criação foi um ato livre de Deus, ou necessário?
3. Usamos sempre, nas Escrituras, a palavra criar no mesmo sentido?
4. Podemos provar com a Bíblia que a criação foi feita a partir do nada?
5. Quais são as duas teorias sobre o propósito final da criação?
6. Em que sentido dizemos que a glória de Deus é o propósito final da criação?
7. Que teorias tentam substituir a doutrina bíblica da criação?
8. Qual é a natureza dos anjos?
9. Que categorias dos anjos encontramos na Bíblia?
10. Qual é a obra de Gabriel e de Miguel?
11. Qual é a obra dos anjos em geral?
12. Que provas temos de que existem anjos maus?
13. Eles foram criados maus por natureza?
14. Os dias da criação foram dias ordinários, ou longos períodos?
15. O que Deus fez em cada um dos sete dias da criação?
16. A teoria da evolução se harmoniza com a doutrina bíblica da criação?
21
17. Em que pontos ela difere da doutrina bíblia?
X. A PROVIDÊNCIA
Posto que Deus não só criou o mundo, mas também o sustém, a doutrina da criação nos
conduz logicamente à doutrina da providência. Podemos defini-la assim: Providência é aquela
operação divina pela qual Deus cuida de todas suas criaturas, manifesta sua atividade em tudo
quanto acontece no mundo e conduz todas as coisas a um fim predeterminado. Esta doutrina inclui
três elementos: o primeiro é o ser divino, o segundo é sua atividade e o terceiro é o propósito de
todas as coisas.
1.1. A conservação divina. É aquela obra contínua de Deus pela qual ele sustém tudo
quanto existe. Ainda que o mundo tenha uma existência diferente do ser divino, e não é parte de
Deus, a despeito de tudo a base desta existência contínua do mundo é Deus mesmo. Permanece
assim porque Deus manifesta continuamente seu poder, pelo qual todas as coisas retêm seu ser e
sua atividade. Encontramos esta doutrina em diversas passagens bíblicas (Sl 136.25; 145.5; Ne 9.6;
At 17.28; Cl 1.17; Hb 1.3).
1.2. A concorrência divina. É aquela obra divina pela qual Deus coopera com todas suas
criaturas e faz com que ajam precisamente como agem. Isto implica que há causas secundárias no
mundo como os poderes da natureza e a vontade humana, porém afirma que esses poderes não
agem independentemente de Deus. Deus opera em cada ato de suas criaturas, não só em seus atos
bons, mas também nos maus. Deus os estimula à ação, acompanha tal ação em todo momento e faz
que essa ação seja eficaz. Seja como for, não devemos presumir que Deus e o homem sejam causas
iguais; Deus é a causa primária; o homem, a causa secundária. Tampouco devemos conceber tal
cooperação como se cada agente fizesse uma parte da mesma. Toda obra é um ato de Deus e um ato
do homem em sua totalidade. Além disso, deveríamos ter em mente que esta cooperação não faz
Deus responsável pelos atos maus do homem. Encontramos as bases desta doutrina nas Escrituras
(Dt 8.18; Sl 104.20, 21, 30; Am 3.6; Mt 5.45; 10.29; At 14.17; Fp 2.13).
1.3. O governo divino. É a atividade contínua de Deus pela qual ele governa todas as coisas
de modo que sirvam ao objetivo pelo qual foram criadas. Tanto o Antigo Testamento quanto o
Novo nos apresentam Deus como o Rei do universo. Deus adapta seu governo à natureza das
criaturas que ele rege. Assim seu governo físico difere de seu governo do mundo espiritual. O
governo divino é universal (Sl 103.19; Dn 4.34, 35) e inclui os seres mais insignificantes (Mt 10.29-
31) e mesmo aquilo que parece acidental (Pv 16.33). Portanto, ele tem a ver com as obras boas e
más do homem (Fp 2.13; Gn 50.20; At 14.16).
2.1. O erro deísta. Os deístas ensinam que Deus só se preocupa com o mundo de um modo
bem geral. Deus, segundo eles, criou o mundo, estabeleceu suas leis, o pôs em movimento e logo
em seguida o abandonou a sua sorte. Isto é, lhe deu corda, como se fosse um relógio, e o deixou
seguir seu curso. Só quando algo se desequilibra é que Deus intervém em seu curso normal. Deus,
portanto, é um Ser alheio à sorte do mundo.
22
2.2. O erro panteísta. O panteísmo não reconhece a diferença que existe entre Deus e o
mundo. Ao agir assim, os identifica e não deixa espaço à obra da providência divina no verdadeiro
sentido do termo. O panteísmo ensina que, em certo sentido estrito, não existem causas secundárias,
e Deus é o autor direto de tudo quanto acontece no mundo. E assim, mesmo os atos que atribuímos
ao homem são realmente atos divinos. Deus é apenas uma presença que está perto e não longe de
nós.
Para memorização:
1. Cite alguns exemplos da providência especial (cf. Dt 2.7; 1Rs 17.6; 2Rs 4.6; Mt 14.20).
2. Em que forma nossa fé na providência divina deveria afetar as preocupações da vida? (Is
41.10; Mt 6.32; Lc 12.7; Fp 4.6, 7; 1Pe 5.7).
3. Cite algumas das bênçãos da providência divina (cf. Is 25.4; Sl 121.4; Lc 12.7; Dt 33.27;
Sl 37.28; 2Tm 4.18).
Para revisão:
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DOUTRINA DO HOMEM EM SUA RELAÇÃO COM DEUS
2. A origem da alma. Existem três opiniões distintas no tocante à origem da alma humana.
2.1. Preexistência. Há quem pense que as almas humanas existiram em algum estado
anterior e que algo ocorreu que explica sua condição atual. Para alguns, tal hipótese tem
corroborado para explicar o fato de que o homem nasce em pecado, mas tal opinião foi geralmente
descartada.
2.2. Traducianismo. Em conformidade com os que assim crêem, o homem deriva sua alma
da alma de seus pais. Esta é a opinião comum nas igrejas luteranas. Seus argumentos se apóiam no
fato de que em parte alguma existe um relato sobre a criação da alma de Eva, e que em outros
lugares da Bíblia se fala dos descendentes como estando nos lombos de seus pais (Gn 46.26; Hb
7.9, 10). Esta opinião é favorecida pelo fato de que nos seres humanos, e mesmo nos animais, há
características familiares que passam dos velhos para os novos, e no caso dos homens os filhos
herdam de seus pais a natureza pecaminosa, o que tem a ver mais com a alma do que com o corpo.
Não obstante, tal opinião enfrenta sérias dificuldades, já que, em certo sentido, torna os pais os
criadores de seus filhos, ou presume que a alma humana pode ser dividida em várias partes.
Portanto, põe em risco a doutrina da natureza impecável de Cristo.
2.3. Criacionismo. Este sustenta que a alma é uma criação direta de Deus em um momento
que não pode ser determinado com precisão. As almas são criadas puras, porém se contaminam com
o pecado antes do nascimento, ao entrarem em contato com o pecado que afeta a humanidade. Esta
opinião é bem comum entre as igrejas reformadas. Em favor dela, descobrimos que a Bíblia assinala
origens distintas para o corpo e para a alma (Ec 12.7; Is 42.5; Zc 12.1; Hb 12.9). Além do mais, se
harmoniza bem com a natureza espiritual da alma e com a natureza impecável de Jesus. Mas
também enfrenta suas dificuldades, já que não explica a origem de peculiaridades e características
hereditárias, e para alguns talvez pareça que Deus vem a ser o autor de almas pecaminosas.
3. O homem como imagem de Deus. O homem, segundo a Bíblia, foi criado à imagem e
semelhança de Deus. Gênesis 1.26 ensina que Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme à nossa semelhança.” Ambas as palavras, imagem e semelhança, denotam a mesma coisa,
e as seguintes passagens provam que são usadas como sinônimos (Gn 1.26, 27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7;
24
Cl 3.10; Tg 3.9). A palavra semelhança provavelmente denote que tal imagem é mui parecida ou
semelhante. Há várias opiniões sobre a imagem de Deus no homem.
3.1. A igreja romana. Os romanistas encontram a imagem de Deus em certos dons naturais
que o homem possui, tais como a espiritualidade da alma, o livre-arbítrio e a imortalidade. A esses
Deus acrescenta outro dom sobrenatural chamado justiça original, para reprimir a natureza inferior.
Esta, segundo eles, é a imagem de Deus no homem.
3.2. As igrejas luteranas. Os luteranos não estão plenamente de acordo entre si sobre esse
ponto, mas a opinião mais geralmente aceita é que a imagem de Deus consiste naquelas qualidades
espirituais que foram outorgadas ao homem durante a criação, isto é, conhecimento genuíno, justiça
e santidade. A estes eles chamam justiça original. Não obstante, tal opinião é por demais estreita e
restrita.
b. Em Oséias 6.7, lemos: “Mas eles, como Adão, transgrediram o pacto.” O pecado de Adão
é chamado uma transgressão do pacto.
a. As partes. Todo pacto é sempre um acordo entre duas partes. Neste caso, são o Deus
Triúno, Senhor e Soberano do universo, e Adão como representante da raça humana. Posto que
estas duas partes são muito desiguais, o pacto é mais um regulamento imposto ao homem.
b. A promessa. A promessa do pacto é uma promessa de vida em seu mais elevado sentido,
vida acima de toda possibilidade de morte. Esta vida é a que ora os crentes recebem pela mediação
de Jesus Cristo, o segundo Adão.
d. A punição. A punição era a morte em seu sentido mais amplo, morte física, espiritual e
eterna. Significa não apenas a separação de corpo e alma, mas também a separação de alma e Deus.
25
e. Os sacramentos. A árvore da vida era, com toda probabilidade, o único sacramento deste
pacto, se porventura é possível intitulá-lo sacramento. Neste sentido, era um símbolo da vida.
4.3. Validade atual do pacto das obras. Os arminianos afirmam que este pacto foi abolido
completamente; mas tal opinião não é correta. As demandas de perfeita obediência estão ainda em
vigor para aqueles que não aceitam a justiça de Cristo (Lv 18.5; Gl 3.12). Ainda que o homem não
possa cumprir tal justiça, a condição permanece a mesma. Não obstante, não tem aplicação naqueles
que se acham em Cristo, já que ele cumpriu as demandas da lei em seu lugar. Portanto, o pacto das
obras cessou de ser um caminho para a vida, e permaneceu desprovido de seu poder após a queda
do homem.
Para memorização:
1. Como podemos explicar aquelas passagens que parecem ensinar que o homem consiste
de três elementos? (cf. 1Ts 5.23; Hb 4.12; Mt 22.37).
2. O domínio do homem sobre o resto da criação é por isso parte da imagem de Deus? (Gn
1.26, 28; Sl 8.6-8; Hb 2.5-9).
3. Que indícios de um pacto podemos encontrar em Gênesis 2 e 3?
Para revisão:
1. Qual o conceito geral sobre os elementos da natureza humana e como podemos prová-lo?
2. Que outra opinião existe, e que passagens parecem ser seu fundamento?
3. Que diferentes teorias existem sobre a origem da alma?
4. Que argumentos lhes fornecem base e que objeções podem ser apresentadas contra elas?
5. As palavras imagem e semelhança significam duas coisas distintas?
6. E o conceito dos romanistas sobre a imagem de Deus no homem? Luterano? Reformado?
7. Que distinção as igrejas reformadas fazem sobre este ponto, e por que é preciso fazê-lo?
8. Que provas bíblicas temos para o pacto das obras?
9. Quais são a promessa, a condição, a punição e o sacramento do pacto?
10. Em que sentido podemos dizer que este pacto está ainda em vigor?
11. Em que sentido foi abolido?
1. A origem do pecado. A Bíblia nos ensina que o pecado entrou no mundo como resultado
da desobediência de Adão e Eva no paraíso. O primeiro pecado foi instigado por Satanás, o qual,
em forma de serpente, semeou no coração humano a semente da desconfiança e incredulidade. As
Escrituras nos ensinam claramente que a serpente, que aparece como o tentador na história da queda
do homem, não era mais que um instrumento de Satanás (Jo 8.44; Rm 16.20; 2Co 11.3; Ap 12.9). O
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primeiro pecado ocorreu quando o homem comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal. O ato de comer desse fruto era pecado, porque Deus o havia proibido. Semelhante feito indica
claramente que o homem não queria sujeitar-se, de um modo incondicional, à vontade de Deus. Os
elementos desta rebelião são os seguintes: quanto à mente, se revela como orgulho e incredulidade;
quanto à vontade, houve a intenção de ser como Deus; e quanto aos afetos, houve um desejo
sacrílego de comer um fruto proibido. Como resultado de tudo isso, o homem perdeu a imagem de
Deus em um sentido especial, e se tornou culpado e totalmente depravado, caindo, por sua própria
iniciativa, sob o poder da morte (Gn 3.9; Rm 5.12; 6.23).
3. O pecado na vida da raça humana. Devemos observar três coisas neste sentido:
3.1. A união que existe entre o pecado de Adão e o de seus descendentes. Esta união tem
sido explicada em três formas distintas:
a. A explicação mais antiga é a teoria realista, a qual ensina que no princípio Deus criou
uma natureza humana geral e que ao longo do tempo essa natureza foi se dividindo em muitas
partes como indivíduos. Posto que Adão possuía essa natureza em sua plenitude, através de seu
pecado fomos declarados culpados e contaminados, já que cada parte participou da natureza, da
culpa e da contaminação de Adão.
b. Nos dias da Reforma, a teoria que alcançou mais proeminência foi a representativa. Esta
teoria ensina que Adão estava numa dupla relação com seus descendentes. Em primeiro lugar, ele
era a cabeça natural; mas, ao mesmo tempo, era seu representante ou cabeça do pacto. Quando
Adão pecou na qualidade de representante da raça humana, este pecado foi imputado ou posto
sobre cada um de seus membros. Por essa razão, os homens nascem em estado de corrupção. Este é
o ensino das igrejas reformadas.
c. Uma terceira teoria, não tão bem conhecida como a anterior, recebeu a designação de
imputação mediata. Esta ensina que a culpa de Adão não recai diretamente sobre cada um de nós.
Só sua corrupção é que recai sobre seus descendentes, e isto faz com que sejam pessoalmente
responsáveis por suas próprias culpas. Significa que não devem sua corrupção à culpabilidade de
Adão, e sim que são culpados em virtude de sua própria corrupção.
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3.2. O pecado original e o atual. Fazemos certa distinção entre o pecado original e o atual.
Todos os homens nascem em estado e condição pecaminosos, ao qual chamamos pecado original, e
que é a raiz de todos os pecados atuais que cometemos.
a. O pecado original. Este pecado inclui culpa e contaminação. A culpa do pecado de Adão
é posta sobre ou é imputada a cada um de nós. Posto que Adão pecou como nosso representante,
agora somos todos culpados nele. Além disso, herdamos de Adão sua contaminação, e isto faz com
que tenhamos uma inclinação positiva para o pecado. O homem é, pois, por natureza, totalmente
depravado. Isto não significa que cada ser humano é tão mau quanto poderia ser, mas que o pecado
corrompeu todas as partes de sua natureza, e a tornou incapaz de realizar qualquer bem espiritual.
É, pois, possível que o ser humano faça muitas coisas dignas do louvor de seus semelhantes, porém
mesmo as melhores de suas obras são por natureza deficitárias, ou, seja, estão contaminadas desde a
raiz, porque não foram motivadas pelo amor a Deus, nem feitas em obediência a ele. Esta
depravação total da natureza humana tem sido negada pelos pelagianos, os arminianos e os
modernistas, porém se acha claramente ensinada nas Sagradas Escrituras (Jr 17.9; Jo 5.42; 6.44;
15.4, 5; Rm 7.18, 23, 24; 8.7, 8; 1Co 2.14; 2Co 7.1; Ef 2.1-3; 4.18; 2Tm 3.2, 4; Tt 1.15; Hb 11.6).
b. O pecado atual. O termo pecado atual denota não só os pecados em seu sentido de ações
externas, mas também pensamentos conscientes, desejos e decisões que procedem do estado de
pecado original. São todos aqueles pecados que o indivíduo pratica por iniciativa própria, em
distinção de sua natureza e inclinações hereditárias. Enquanto o pecado original foi um, os pecados
atuais são muitos. Alguns deles são pecados da vida interior, tais como o orgulho, a inveja, o ódio, a
luxúria e os maus desejos; ou pecados da vida exterior, tais como o roubo, o engano, o homicídio, o
adultério etc. Entre eles se encontra o pecado para o qual não existe perdão, ou, seja, a blasfêmia
contra o Espírito Santo, após o qual toda mudança de coração é totalmente impossível, e pelo qual
não devemos nem mesmo orar (Mt 12.31, 32; Mc 3.28-30; Lc 12.10; Hb 6.4-6; 10.26, 27; 1Jo 5.16).
3.3. A universalidade do pecado. Tanto a Bíblia como a experiência nos ensinam que o
pecado é universal. Mesmo os pelagianos não negam este fato, porém o explicam em relação a
condições externas, como as más companhias, os maus exemplos e a má educação. A Bíblia nos
assegura que o pecado é universal (1Rs 8.46; Sl 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Rm 3.1-12, 19, 34; Gl
3.22; Tg 3.2; 1Jo 1.8, 10). Além disso, a Bíblia ensina que o ser humano é pecador desde seu
nascimento, e isto demonstra que a universalidade do pecado não é o resultado da imitação (Jó 14.4;
Sl 51.5; Jo 3.6). Inclusive as crianças são consideradas pecadoras, já que estão sujeitas à morte, e
esta é o salário do pecado (Rm 5.12-14). Todos os homens, por natureza, se acham sob a
condenação, e portanto necessitam da redenção que Jesus Cristo providenciou. As crianças de modo
algum constituem uma exceção a esta regra (Jo 3.3, 5; Ef 2.3; 1Jo 5.12).
1. Que nomes a Bíblia dá ao pecado? (Jó 15.5; 33.9; Sl 32.1, 2; 55.15; 1Jo 3.4).
28
2. Existe algum caso na Bíblia em que a palavra mal significa algo mais além de pecado? Se
a resposta for sim, quando? (Ex 5.19; 2Rs 6.33; 22.16; Sl 41.8; 91.10; Pv 16.4).
3. A Bíblia ensina com toda clareza que o ser humano é pecador desde o nascimento? (Sl
51.5; Is 48.8).
Para revisão:
Para evitar confusões, torna-se necessário distinguir entre o pacto da redenção e o pacto da
graça. Ambos se acham tão intimamente conectados, que às vezes são considerados como um só.
Não obstante, o primeiro é o fundamento eterno do segundo.
1.1. As bases bíblicas do mesmo. É evidente que o plano da redenção foi incluído no
decreto eterno de Deus (Ef 1.4; 3.1; 2Tm 1.9). Cristo nos fala das promessas que lhe foram feitas
antes de vir ao mundo, e nos fala reiteradamente de um mandato que recebeu do Pai (Jo 5.30, 43;
6.38-40; 17.4-12). Cristo, indubitavelmente, é a cabeça do pacto (Rm 5.12-21; 1Co 15.22). No
Salmo 2.7-9, lemos a menção das partes deste pacto e a promessa. No Salmo 40.7, 8, o Messias
expressa sua solicitude em fazer a vontade do Pai ao oferecer-se como sacrifício da redenção (Hb
7.22). Fiador é alguém que toma sobre si as responsabilidades de outro. Cristo tomou o lugar do
pecador, a fim de levar sobre si o castigo proveniente do pecado e cumprir os mandatos da lei em
lugar de seu povo. Ao fazer isso, ele veio a ser o segundo Adão (1Co 15.35), um espírito
vivificante. Para Cristo, este pacto era um pacto de obras, e ele cumpriu os requisitos do pacto
original, mas para nós ele é o fundamento do pacto da graça. Seus benefícios se limitam aos eleitos.
Somente estes obtêm a redenção e herdam a glória que Cristo mereceu para os pecadores.
a. O Pai exigiu que o Filho tomasse a natureza humana com suas fraquezas atuais, ainda que
sem pecado (Gl 4.4, 5; Hb 2.10, 11, 14, 15; 4.15), e que se sujeitasse à lei a fim de cancelar seu
castigo e merecer a vida eterna para os eleitos (Sl 40.8; Jo 10.11; Gl 1.4; 4.4, 5). E, então, para que
aplicasse seus méritos a seu povo pela obra renovadora do Espírito Santo e assim assegurar a
consagração de suas vidas a Deus (Jo 10.28; 17.19-22; Hb 5.7-9).
29
b. O Pai prometeu ao Filho que lhe prepararia um corpo (Hb 10.5), o ungiria com o
Espírito Santo (Is 42.1; 61.1; Jo 3.34) e o sustentaria em sua obra (Is 42.6, 7; Lc 22.43). Portanto,
que o livraria do poder da morte e lhe daria um lugar a sua destra (Sl 16.8-11; Fp 2.9-11), lhe daria
poder para enviar o Espírito Santo para a formação de sua igreja (Jo 14.26; 15.26; 16.13, 14),
reuniria e guardaria os eleitos (Jo 6.37-39, 40, 44, 45) e lhe daria uma descendência numerosa (Sl
22.27; 72.17).
2.1. As partes. Deus é a primeira parte deste pacto. Ele estabelece o pacto e determina a
relação em que a segunda parte manterá com ele. Não é fácil decidir quem é esta segunda parte. A
opinião mais corrente entre as igrejas reformadas é que aqui se trata do pecador eleito em Cristo.
Este pacto pode ser visualizado de diferentes prismas.
2.2. As promessas e os pré-requisitos do pacto. Cada pacto tem duas partes: oferece certos
privilégios, e impõe certas obrigações.
a. As promessas do pacto. A principal promessa do pacto, que inclui todas as outras, está
contida nestas palavras repetidas com muita freqüência: “Serei o teu Deus e o Deus de tua
descendência depois de ti” (Gn 17.7; Jr 31.33; 32.38-40; Ez 34.23-25, 30, 31; 36.25-28; Hb 8.10;
2Co 6.16-18). Esta promessa inclui todas as outras, tais como a promessa de bênçãos temporais, da
justificação, do Espírito de Deus e da glorificação final na vida eterna (Jó 19.25-27; Sl 16.11;
73.24-26; Is 43.25; Jr 31.33, 34; Ez 36.27; Dn 12.2, 3; Gl 4.4, 5; Tt 3.7; Hb 11.7; Tg 2.5).
b. Os pré-requisitos do pacto. O pacto da graça não é o pacto das obras e não requer
nenhuma obra com o fim de obter méritos. Não obstante, ele contém pré-requisitos e impõe ao
homem certas obrigações. Ao cumprir os pré-requisitos do pacto, o homem não lucra nada em si,
mas se coloca naquele lugar no qual Deus lhe comunicará bênçãos prometidas. É preciso notar
ainda que os próprios pré-requisitos já foram prometidos de antemão, de forma que Deus dá ao
homem tudo aquilo que também requer dele. O que Deus nos pede é isto:
(1) Que aceitemos pela fé o pacto e suas promessas, e assim passemos a viver a vida do
pacto; e
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(2) Que desde o início desta nova vida, nascida em nós, nos consagremos a Deus numa
nova obediência.
O pacto da graça difere do pacto das obras no fato de que tem um Mediador. Cristo é o
Mediador do novo pacto (1Tm 2.5; Hb 8.6; 9.15; 12.24). É o Mediador não só no sentido de que
intervém entre Deus e o homem para buscar a paz e persuadi-los a ela, mas também no sentido de
que tem poder absoluto para fazer tudo quanto seja necessário para alcançar a paz. Como nosso
Fiador (Hb 7.22), Jesus toma nossa culpa, quita a punição do pecado, cumpre a lei e restabelece a
paz.
2.4. A membresia neste pacto. Os adultos podem ser parte deste pacto considerado como
um acordo legal somente pela fé. Mas, ao exercer sua fé e entrar nele, passam a ter acesso à
comunhão da vida. Significa que, pela fé e imediatamente, entram na vida plena deste pacto. Os
filhos dos crentes, por sua vez, ao nascerem, entram neste pacto como um acordo legal. Não
obstante, isto não significa que, ao mesmo tempo, entram na comunhão da vida, nem garantem que
um dia entrarão nela. As promessas de Deus nos dão certa segurança de que a vida oriunda do pacto
se manifestará neles, e, enquanto não demonstrarem o contrário, podemos presumir que já possuem
esta nova vida. Seja como for, é necessário que os maiores aceitem as responsabilidades do pacto de
maneira voluntária, e que façam uma genuína confissão de sua fé. Do contrário, serão considerados
como transgressores do pacto. Portanto, é possível, a partir do supramencionado, que pessoas não
regeneradas se encontrem temporariamente dentro do pacto como um acordo legal, porém não
numa relação vital com o mesmo (Rm 9.4). Tais pessoas são reconhecidas como filhas do pacto e
estão sujeitas a seus requisitos e participam de seu mistério. Recebem as bênçãos comuns do pacto e
é possível que ainda sejam participantes de algumas operações especiais do Espírito Santo. Não
obstante, se carecem de verdadeira fé e não aceitam as responsabilidades correspondentes, serão
julgados como transgressores do pacto.
31
e garante bênçãos naturais e temporais que são absolutamente necessárias para se concretizar o
pacto da graça. (3) O pacto com Abraão e sua descendência marca seu verdadeiro estabelecimento.
Assinala o princípio da administração do pacto no Antigo Testamento, a qual se acha limitada a
Abraão e a seus descendentes. A fé nos é revelada eminentemente como seu pré-requisito essencial,
e a circuncisão é seu selo. (4) O pacto no monte Sinai é essencialmente o mesmo pacto feito com
Abraão, porém desde então abrange toda a nação de Israel e vem a ser um pacto nacional. Ainda
quando imprima muita ênfase no cumprimento da lei, não podemos dizer que se trata de uma
renovação do pacto das obras feito com Adão.
A lei só aumentou o conhecimento do pecado (Rm 3.20) e veio a ser um mestre que nos
conduz a Cristo (Gl 3.24). A Páscoa foi adicionada como um segundo sacramento. (5) O novo pacto
que nos foi revelado no Novo Testamento (Jr 31.31; Hb 8.8, 13) é essencialmente o mesmo pacto
do Antigo Testamento (Rm 4; Gl 3). Este pacto, porém, agora rompe as barreiras do particularismo
e se torna universal, no sentido de que suas bênçãos se estendem a toda pessoa e nação. Suas
bênçãos agora são mais completas e espirituais, e o batismo e a ceia do Senhor tomam o lugar dos
sacramentos do Antigo Testamento.
Para revisão:
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16. Por que podemos chamá-lo um testamento?
17. Onde encontramos a primeira revelação do pacto?
18. Qual era sua natureza com Noé?
19. Que diferença há entre o pacto com Abraão e o pacto no monte Sinai?
20. Que caracteriza a dispensação neotestamentária do pacto?
21. Qual é a posição de Cristo no pacto da graça?
22. Os adultos podem ser membros do pacto?
23. Como as crianças vêm a tornar-se membros de tal pacto?
24. Que esperamos delas?
25. As pessoas não-regeneradas podem ser membros do pacto?
1.1. Jesus. Este nome é o equivalente grego do nome hebraico Josué (Js 1.1; Zc 3.1) ou
Jesua (Ed 2.2). Ele se deriva da palavra hebraica que significa salvar, e designa Cristo como
Salvador (Mt 1.21). Dois tipos de Cristo, no Antigo Testamento, receberam este mesmo nome, a
saber, Josué, filho de Num, e Josué, filho de Josadaque.
1.2. Cristo. O termo Cristo é o equivalente, no Novo Testamento, do hebraico Messias, que
significa o ungido. Segundo o Antigo Testamento, os profetas (1Rs 19.6), os sacerdotes (Ex 29.7) e
os reis (1Rs 19.1) eram ungidos com óleo, o qual simboliza o Espírito Santo. Este ungüento assinala
que haviam sido separados para suas respectivas tarefas, e se achavam qualificados para exercer as
mesmas. Jesus Cristo foi ungido pelo Espírito Santo para seu tríplice ofício de profeta, sacerdote e
rei. Pelo prisma histórico, esta unção ocorreu quando ele foi concebido pelo Espírito Santo e
quando foi batizado.
1.3. Filho do Homem. Este título, ao ser aplicado a Cristo, se deriva de Daniel 7.13. É um
nome que Jesus geralmente aplica a si próprio, e que outros raramente o usam. Ainda quando
contenha uma indicação da natureza humana de Cristo, à luz de sua origem histórica, nos direciona
para seu caráter super-humano e seu futuro regresso nas nuvens do céu com glória e esplendor (Dn
7.13; Mt 16.27, 28; 26.24; Lc 21.27).
1.4. Filho de Deus. Cristo recebeu o título de Filho de Deus em diversos sentidos. Foi
chamado assim porque é a segunda pessoa da Trindade, e portanto é Deus (Mt 11.27), mas também
porque ele é o Messias eleito (Mt 24.36), e porque seu nascimento se deveu à obra sobrenatural do
Espírito Santo (Lc 1.35).
1.5. Senhor. Os contemporâneos de Jesus às vezes usavam este título em referência a Jesus
como uma forma de expressar cortesia, justamente como usamos o vocábulo senhor. Pouco depois
da ressurreição de Cristo, este título adquiriu um significado especial muito mais profundo. Em
algumas passagens, ele designa Cristo como o Soberano e Governante da igreja (Rm 1.7; Ef 1.17),
e em outros ocupa o mesmo lugar que ocupa o nome de Deus (1Co 7.34; Fp 4.4, 5).
2. As naturezas de Cristo. A Bíblia nos apresenta Cristo como um ser dotado de duas
naturezas: a divina e a humana. Grande é este mistério da piedade, ou, seja, que Deus tenha se
manifestado na carne (1Tm 3.16).
33
2.1. As duas naturezas. Uma vez que muitos atualmente negam a divindade de Cristo, é
necessário enfatizar as provas bíblicas da mesma. Algumas passagens veterotestamentárias nos
remetem diretamente à doutrina (Is 9.6; Jr 23.6; Mq 5.2; Ml 3.1). No Novo Testamento, as provas
são muito abundantes (Mt 11.27; 16.16; 26.63-64; Jo 1.1, 18; Rm 9.5; 1Co 2.8; 2Co 1.1-3; Ap
19.16). Nenhum dos que aceitam a existência de Cristo nega sua humanidade. Aliás, o único
detalhe da divindade que muitos lhe outorgam é possuir ele uma humanidade perfeita. Seja como
for, há provas sobejas da humanidade de Cristo. Ele fala de si mesmo como um homem (Jo 8.40), e
outros o denominam assim (At 2.22; Rm 5.15; 1Co 15.21). Cristo tinha os elementos essenciais de
uma natureza humana, a saber, corpo e alma (Mt 26.26, 38; Lc 24.39; Hb 2.14). Além disso, ele se
achava sujeito às leis ordinárias do desenvolvimento humano (Lc 2.40, 52), e às necessidades e
sofrimentos humanos (Mt 4.2; 8.2; Lc 22.44; Jo 4.6; 11.35; 12.27; Hb 2.10, 18; Hb 5.7, 8). Não
obstante, a despeito de ser um homem real, Cristo não tinha pecado. Não pecou, nem podia pecar
(Jo 8.46; 2Co 5.21; Hb 4.15; 9.14; 1Pe 2.22; 1Jo 3.5). Era necessário que Cristo fosse às vezes Deus
e homem. Somente como homem podia ser nosso substituto, e como tal sofrer e morrer; e somente
como homem sem pecado podia pagar pelos pecados de outros. Mas era somente como Deus que
ele podia dar a seu sacrifício um valor infinito e levar sobre si a ira de Deus, para assim livrar outros
dela (Sl 40.7-10; 130.3).
2.2. As duas naturezas unidas em uma só pessoa. Cristo tinha uma natureza humana, porém
não era uma pessoa meramente humana. A Pessoa do Mediador é o Filho do Deus imutável. Na
encarnação, Cristo não se transformou numa pessoa humana, nem tampouco adotou para si uma
personalidade humana. Cristo assumiu, além de sua natureza divina, uma natureza humana. Esta
natureza humana não chegou a desenvolver uma personalidade independente, mas se personificou
na Pessoa do Filho de Deus. Ao tomar esta natureza humana, a Pessoa do Mediador era às vezes
divina e humana, ou, seja, Deus e homem, possuindo todas as qualidades essenciais às naturezas
divina e humana. Cristo tem consciência divina e humana, juntamente com uma vontade divina e
humana. Este é realmente um mistério que não podemos conceber. As Escrituras ensinam
claramente esta unidade na pessoa de Cristo. É sempre a mesma pessoa que fala, seja expressando
feitos divinos ou humanos (Jo 10.30; 17.5; cf. Mt 27.46; Jo 19.28). Igualmente, às vezes ações e
atributos humanos nos são apresentados como obra da Pessoa de Cristo em sua divindade (At 20.28;
1Co 2.8; Cl 1.13, 14). Atributos e ações divinos são às vezes imputados à pessoa de Cristo sob um
nome que designa sua humanidade (Jo 3.13; 6.62; Rm 9.5).
2.3. Alguns erros importantes contra esta doutrina. Na igreja primitiva, os ebionitas e os
alogianos negavam a divindade de Cristo. Nos dias da Reforma, também os socinianos negavam
essa verdade; e hoje os unitários e modernistas [bem como os russelitas] também a negam. E assim
encontramos na igreja primitiva o caso de Ário que negou totalmente a divindade de Cristo e falava
dele como um semi-deus. Ao contrário, Apolinário não reconheceu sua plena humanidade e
afirmava que o Logos divino ocupou o lugar do espírito humano em Cristo. Nestório e seus
seguidores negavam a unidade das duas naturezas em uma só pessoa; e Êutico e seus discípulos não
chegaram a distinguir entre as duas naturezas na forma devida.
Para memorização:
34
1. Em que sentido Josué, o sumo sacerdote (Zc 3.8, 9), e Josué, filho de Num (Hb 4.8),
eram tipos de Cristo?
2. O que nos ensinam as seguintes passagens acerca da unção de Cristo? (Sl 2.2; 45.7; Pv
8.23; Is 61.1).
3. Que atributos divinos a Bíblia atribui a Cristo? (Is 9.6; Pv 8.22-31; Mq 5.2; Jo 5.26;
21.17); que obras divinas ele fez? (Mc 2.5-7; Jo 1.1-3; Cl 1.16, 17; Hb 1.1-3); que honras
divinas ele recebeu (Mt 28.19; Jo 5.19-29; 14.1; 2Co 13.13).
Para revisão:
1. Quais são os títulos de Cristo mais importantes? Que significa cada um deles?
2. Que elementos se acham inclusos na unção de Cristo? Quando aconteceu?
3. De que se derivou o título Filho do Homem? O que ele expressa?
4. Em que sentido o título Filho de Deus se aplica a Cristo?
5. Que diferentes significados encontramos na palavra Senhor ao ser aplicada a Cristo?
6. Que provas bíblicas temos da humanidade e da divindade de Cristo?
7. Qual é a natureza da pessoa de Cristo: divina e humana, ou humana e divina?
8. Como podemos provar, pelas Escrituras, a unidade da Pessoa de Cristo?
9. Quais são os principais erros sobre a Pessoa de Cristo?
Com freqüência usamos os termos estado e condição de maneira distinta. Ao falarem dos
estados de Cristo, usamos o termo estado em um sentido mais preciso, denotando a relação que ele
manteve e ainda mantém com respeito à lei. Nos dias de sua humilhação, Cristo foi Servo sob a lei;
em sua exaltação, ele é Senhor acima da lei. Portanto, é natural que estes dois estados contenham
diferentes condições de vida, as quais estudaremos nas diferentes fases desses estados.
1. O estado de humilhação. Nele, Cristo se despojou da majestade divina que era sua como
Soberano do universo e assumiu uma natureza humana, tomando a forma de servo. O supremo
Legislador se sujeitou aos requerimentos e maldição da lei (Mt 3.15; Gl 3.13; 4.4; Fp 2.6-8). Este
estado de humilhação nos é apresentado sob várias fases:
1.2. Os sofrimentos de Cristo. Com freqüência falamos dos sofrimentos de Cristo como se
fossem limitados a suas agonias finais. No entanto, isso é falso. Sua vida inteira foi entremeada de
sofrimento. Foi a vida de um servo em relação àquele que é o Senhor dos senhores, e uma vida em
meio aos pecados em relação àquele que em si mesmo não conheceu o pecado. Satanás o tentou, os
seus o aborreceram e seus inimigos o perseguiram. Os sofrimentos de sua alma foram ainda mais
intensos que os de seu corpo. Ele foi tentado pelo diabo, oprimido por um mundo de iniqüidade que
o rodeava, e afligido pelo peso do pecado que repousava sobre ele, foi “homens de dores, que sabe
o que é padecer” (Is 53.3).
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1.3. A morte de Cristo. Quando falamos da morte de Cristo, referimo-nos a sua morte física.
Cristo não morreu em conseqüência de um acidente, nem nas mãos de um assassino, mas sob uma
sentença judicial, e foi contado com os perversos (Is 53.12). Ao sofrer a morte sob o castigo
romano da crucifixão, ele sofreu uma morte maldita, levando sobre si nossa própria maldição (Dt
21.23; Gl 3.13).
1.4. O sepultamento de Cristo. Pode parecer-nos que a morte na cruz foi a fase final de seus
sofrimentos. Jesus não declarou: “Está consumado”? Estas palavras se referem a seu sofrimento
ativo; ele, porém, continuou ainda sofrendo. Seu sepultamento foi também parte de sua humilhação,
e da qual, como Filho de Deus, tinha plena consciência. A volta do homem ao pó é parte do castigo
em decorrência do pecado (Gn 3.19). O fato de o Salvador ter que descer ao túmulo é também parte
de sua humilhação (Sl 16.10; Hb 2.27, 31; 13.34, 35). E essa humilhação destruiu nosso terror
proveniente do túmulo.
1.5. Sua descida ao Hades. As palavras do Credo Apostólico, “desceu ao hades”, são
passíveis de diversas interpretações. Os romanistas dizem que ele desceu ao Limbus Patrum, onde
se encontram os santos do Antigo Testamento, para dar-lhes liberdade; os luteranos ensinam que,
entre sua morte e sua ressurreição, Cristo desceu ao Hades [inferno] para pregar e celebrar ali sua
vitória sobre os poderes das trevas. Possivelmente, nos encontramos diante de uma expressão
figurada que denota: (1) que ele sofreu as agonias do inferno no jardim e na cruz, e (2) que, com sua
morte, ele entrou em sua mais profunda agonia e humilhação (Sl 16.8-10; Ef 4.9).
2.1. A ressurreição. A ressurreição de Cristo não consistiu de uma mera reunião de corpo e
alma, mas, de um modo especial, em que sua natureza humana, tanto o corpo como a alma, foi
restabelecida em sua beleza e força originais, e soerguida a um nível ainda muito mais excelente.
Ao contrário de todos os que haviam ressuscitado antes dele, Cristo se ergueu com um corpo
espiritual (1Co 15.44, 45). Por esse motivo, ele foi chamado “as primícias dos que dormem” (1Co
15.20) e “o primogênito dos mortos” (Cl 1.18; Ap 1.5). A ressurreição de Cristo tem um tríplice
significado: (1) Foi uma declaração da parte do Pai de que Cristo havia cumprido as exigências da
lei (Fp 2.9). (2) Simbolizou a justificação, regeneração e ressurreição final dos crentes (Rm 6.4, 5,
9; 1Co 6.14; 15.20-22). (3) Foi a causa de nossa justificação, regeneração e ressurreição (Rm 4.25;
5.10; Ef 1.20; Fp 3.10; 1Pe 1.3).
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nos lugares celestiais, e a ascensão nos assegura que temos um lugar reservado nos céus (Ef 2.6; Jo
17.24).
2.3. Sua posição à destra de Deus. Após a ascensão, Cristo se assentou à destra de Deus (Ef
1.20; Hb 10.12; 1Pe 3.22). A expressão, destra de Deus, não pode ser tomada em sentido literal,
mas é uma figura a indicar o lugar que Cristo ocupou em sua glória e poder. Durante este período
em que ocupa a destra de Deus, Cristo governa e protege sua igreja, dirige o curso do universo para
o bem de sua igreja e intercede por seu povo sobre o fundamento de seu sacrifício completado.
2.4. Seu regresso físico e visível. A exaltação de Cristo alcança seu clímax quando ele
regressar para julgar os vivos e os mortos. Sua segunda vinda será física e visível (At 1.11; Ap 1.7).
Que Jesus Cristo voltará como Juiz, é evidente à luz de muitas passagens (Jo 5.22, 27; At 10.42; Rm
2.16; 2Co 5.10; 2Tm 4.1). Não conhecemos o momento de sua segunda vinda. Ele voltará para
julgar o mundo e completar a salvação de seu povo. Esta será a vitória final de sua obra redentora
(1Co 4.5; Fp 3.20; Cl 3.4; 1Ts 4.13-17; 2Ts 1.7-10; 2.1-12; Tt 2.13; Ap 1.7).
Para memorização:
1. O que nos diz o Antigo Testamento sobre a humilhação de Cristo? (Sl 22.6-20; 69.7-9;
20.21; Is 52.14, 15; 53.1-10; Zc 11.12, 13).
2. Qual é o valor especial das tentações de Cristo no que se refere a nós? (Hb 2.18; 4.15;
5.7-9).
3. Como a Bíblia prova que o céu é um lugar, mais que uma mera condição? (Dt 30.12; Js
2.11; Sl 139.8; Ec 5.2; Is 66.1; Rm 10.6, 7).
Para revisão:
37
14. Como Cristo voltará, e qual é o propósito de seu regresso?
A Bíblia nos indica que Cristo tem um tríplice ministério, e nos fala dele como Profeta,
Sacerdote e Rei.
1. O ministério profético. O Antigo Testamento prediz que Cristo viria como profeta (Dt
18.15; cf. At 3.23). Jesus mesmo fala de si como profeta (Lc 18.33), e alega que traz uma
mensagem do Pai (Jo 8.26-28; 12.49, 50; 14.10, 24); prediz o futuro (Mt 24.3.35; Lc 19.41-44) e
fala com autoridade singular (Mt 7.29). Portanto, não surpreende que o povo o reconhecesse na
qualidade de profeta (Mt 21.11, 46; Lc 7.16; 24.19; Jo 6.14; 9.40; 9.17). Um profeta é alguém que
recebe revelações divinas por meio de sonhos, visões e mensagens verbais, e que as transmite ao
povo verbalmente ou mediante ações proféticas visíveis (Ex 7.11; Dt 18.18; Nm 12.6-8; Is 6; Jr 1.4-
10; Ez 3.1-4, 17). Sua obra pertence ao passado, ao presente e ao futuro. Uma de suas tarefas mais
importantes foi a de interpretar para o povo os aspectos morais e espirituais da lei. Cristo foi profeta
desde o Antigo Testamento (1Pe 1.11; 3.18-20). Portanto foi profeta quando esteve na terra e
continuou essa obra pela operação do Espírito Santo sobre os apóstolos, depois da ascensão (Jo
14.26; 16.12-14; At 1.1). Mesmo agora seu ministério profético continua através da pregação da
Palavra e da iluminação espiritual comunicada aos crentes. Esta é a única função que a teoria
moderna reconhece em Cristo.
2. Seu ministério sacerdotal. O Antigo Testamento ainda prediz que o Redentor que viria
seria sacerdote (Sl 110.4; Zc 6.13; Is 53). No Novo Testamento há apenas um livro no qual Cristo é
chamado sacerdote: a carta aos Hebreus; ali, porém, encontramos este título reiteradas vezes (3.1;
4.14; 5.5; 6.20; 8.1). Não obstante, há outros livros que fazem referência a sua obra sacerdotal (Mc
10.45; Jo 1.29; Rm 3.24, 25; 1Co 5.7; 1Jo 2.2; 1Pe 2.24; 3.18). Enquanto o profeta representa Deus
diante do povo, o sacerdote representa o povo diante de Deus. Por isso, ambos eram mestres; mas,
enquanto o primeiro ensinava a lei moral, o segundo transmitia ao povo a lei cerimonial. Além
disso, os sacerdotes tinham o privilégio especial de chegar-se a Deus e de falar e agir em lugar do
povo. Hebreus 5.1 nos ensina que o sacerdote era escolhido dentre os seres humanos para ser seu
representante, que era escolhido por Deus e agia diante dele em prol dos homens, e oferecia dons e
sacrifícios pelos pecados. Ao mesmo tempo, ele intercedia pelo povo.
A obra sacerdotal de Cristo foi de certo modo especial: oferecer sacrifício pelo pecado. Os
sacrifícios do Antigo Testamento eram tipos que assinalavam a via para o grande sacrifício de
Cristo (Hb 9.23, 24; 10.1; 13.11, 12). Daí Cristo ser chamado “o Cordeiro de Deus” (Jo 1.29) e
“nossa páscoa” (1Co 5.7). O Novo Testamento nos fala claramente da obra sacerdotal de Cristo em
muitas passagens (Mc 10.45; Jo 1.29; Rm 3.24, 25; 5.6-8; 1Co 5.7; 15.3; Gl 1.4; Ef 5.2; 1Pe 2.24;
3.18; 1Jo 2.2; 4.10; Ap 5.12). As referências são ainda mais freqüentes na carta aos Hebreus (5.1-
10; 7.1-28; 9.11-15, 24-28; 10.11-14, 19-22; 12.24; 13.12).
Além de oferecer o grande sacrifício pelos pecados, Cristo, como sacerdote, intercede
também por seu povo. Ele é chamado nosso Advogado, por dedução, em João 14.16 e,
explicitamente, em 1 João 2.2. O termo Advogado [parakletos] significa “alguém que é chamado a
ajudar, um advogado, alguém que defende a causa de outro”. No Novo Testamento, Cristo é
chamado nosso intercessor (Rm 8.34; Hb 7.25; 9.24; 1Jo 2.1). Sua obra intercessória tem por base
seu sacrifício, e não se acha limitada, como alguns pensam, à intercessão em oração. Cristo
apresenta a Deus seu sacrifício, e sobre essa base solicita bênçãos espirituais para seu povo, os
defende das acusações de Satanás, da lei e da consciência, obtém perdão para todas aquelas
38
acusações que são justas, e santifica sua adoração e serviço pela mediação do Espírito Santo. Sua
obra intercessória é limitada em seu caráter, já que se refere somente aos eleitos de Deus, porém
inclui todos os eleitos, quer já sejam crentes ou os que vivem ainda em incredulidade, mas que virão
crer (Jo 17.9, 20).
3. O ministério régio. Como o Filho de Deus, Jesus Cristo desfruta por natureza do
domínio universal de Deus. Em distinção a este domínio universal, falamos agora da majestade que
lhe foi conferida em seu ministério de Mediador. Esta majestade é de duas classes: seu domínio
espiritual sobre a igreja, e seu domínio do universo.
3.1. Sua majestade espiritual. A Bíblia nos fala dela em muitos passos (Sl 2.6; 132.11; Is
9.6, 7; Mq 5.2; Zc 6.13; Lc 1.33; 19.38; Jo 18.36, 37; At 2.30-36). A majestade de Cristo é sua
soberania régia sobre seu povo. Nós a chamamos espiritual porque tem a ver com um reino
espiritual estabelecido nos corações e vidas dos crentes, tem fins espirituais, os quais busca, ou,
seja, a salvação dos pecadores; e sua administração é também espiritual através da Palavra de Deus
e do Espírito Santo. Seu exercício abarca o congregamento, o governo, a proteção e
aperfeiçoamento da igreja. Tanto este governo quanto os limites do mesmo recebem, no Novo
Testamento, os nomes reino de Deus e reino dos céus. Em seu sentido estrito, somente os crentes,
membros da igreja invisível, são cidadãos deste reino. No entanto, o termo reino de Deus às vezes é
usado num sentido mais amplo, incluindo todos os que vivem onde o evangelho é proclamado,
mesmo aqueles que ocupam um lugar na igreja visível (Mt 13.24-30, 47-50). O reino de Deus, por
um lado, é uma realidade espiritual e presente nos corações e vidas dos homens (Mt 12.28; Lc
17.21; Cl 1.18); por outro lado, é também uma esperança futura, que terá lugar até a segunda vinda
de Cristo (Mt 7.21; Lc 22.29; 1Co 15.20; 2Tm 4.18; 2Pe 1.11). Este reino futuro será, em sua
essência, o mesmo reino que o atual, ou, seja, o governo de Deus estabelecido e reconhecido nos
corações dos homens. Mesmo assim será diferente, já que será um reino visível e perfeito. Há quem
opine dizendo que o reino de Cristo cessará em sua segunda vinda, mas a Bíblia nos diz mui
claramente que o reino de Cristo é eterno (Sl 45.6; 72.17; 89.36, 37; Is 9.6; Dn 2.44; 2Sm 7.13, 16;
Lc 1.33; 2Pe 1.11).
3.2. Seu domínio universal. Depois de sua ressurreição, Cristo disse a seus discípulos:
“Toda autoridade me é dada no céu e na terra” (Mt 28.18). Esta mesma verdade se repete em 1
Coríntios 15.27 e Efésios 1.20-22. Esta autoridade não deve ser confundida com a majestade
original de Cristo como Filho de Deus, ainda quando tem a ver com o mesmo domínio. Esta
autoridade dada a Cristo tem a ver com aquela majestade concedida a ele em sua capacidade de
Mediador da igreja. É como Mediador que Cristo agora guia o destino dos indivíduos e das nações e
controla a vida do mundo inteiro e a faz sujeita a seus propósitos redentores. Portanto, ele protege a
igreja dos perigos a que se acha exposta no mundo. Esta majestade de Cristo continuará até que ele
tenha alcançado plena vitória sobre todos os inimigos do reino de Deus. Quando tal obra for levada
à completude, então Cristo devolverá esta majestade ao Pai (1Co 15.24-28).
Para memorização:
39
Para estudo adicional:
1. O que nos ensinam as passagens sobre a natureza da obra de Cristo como profeta? (Ex
7.1; Dt 18.18; Ez 3.17).
2. Que tipos de Cristo nos são indicados no Antigo Testamento? (Jo 1.29; 1Co 5.7; Hb 3.1;
4.14; 8.3-5; 9.13, 14; 10.1-14; 13.11, 12).
3. Que ensinos aprendemos sobre o reino de Deus? (Jo 3.3, 5; 18.36, 37; Rm 14.17; 1Co
4.20).
Para revisão:
2.1. Dar satisfação a Deus. Tem-se afirmado com freqüência que o propósito essencial,
porém exclusivo, da redenção foi despertar o pecador, influenciá-lo e volvê-lo para Deus. Mas tal
idéia é errônea, porque, se uma pessoa ofende outra, deve-se fazer restituição não à pessoa do
ofensor, mas do ofendido. Isto significa que o propósito primordial foi reconciliar Deus com o
pecador. A reconciliação do pecador com Deus pode ser descrita como um segundo propósito.
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2.2. Foi uma redenção mediante substituição. Deus poderia ter exigido do pecador uma
expiação pessoal, mas este não teria sido capaz de oferecê-la. Em vista disso, Deus ordenou que
Cristo tomasse o lugar do pecador como seu vigário ou substituto. Cristo, como nosso
representante, expiou o pecado da humanidade, levou sobre si a pena do pecado e cumpriu todos os
requerimentos da lei. Por essa razão, falamos da redenção como sendo um sacrifício vicário ou por
substituição. Neste caso, o ofendido, Deus mesmo, proveu a expiação. Os sacrifícios
veterotestamentários eram apenas figura da obra redentora de Cristo que havia de ser feita (Lv 1.4;
4.20, 31, 35; 5.10, 16; 6.7; 17.11). Sabemos que nossos pecados foram levados sobre Cristo (Is
53.6), que ele os carregou sobre si (Jo 1.29; Hb 9.28) e deu sua vida pelos pecadores (Mc 10.45; Gl
1.4; 1Pe 3.18).
Para memorização:
Para revisão:
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1. Qual foi a causa motriz da redenção?
2. Por que a redenção se fez necessária?
3. Qual foi o propósito primordial da redenção?
4. Que diferença há entre a redenção pessoal e por substituição?
5. Como a redenção foi tipificada no Antigo Testamento pela substituição de Cristo?
6. Que provas temos disto nas Escrituras?
7. Que diferença há entre a obediência ativa e passiva de Cristo?
8. Qual é o efeito de cada uma delas?
DA OBRA REDENTORA
O estudo da obra redentora realizada por Cristo é seguido, naturalmente, por uma discussão
sobre a aplicação desta redenção nos corações e vidas dos pecadores mediante a operação especial
do Espírito Santo. Antes disso, trataremos, num breve capítulo, das operações gerais do Espírito
Santo, tal como se pode ver na graça comum.
1. Natureza da graça comum. Quando falamos da graça comum, queremos dizer duas
coisas: (a) as operações do Espírito Santo, pelas quais, sem renovar o coração, ele exerce tal
influência moral no homem, que restringe o pecado, mantém a ordem na vida social e promove a
justiça civil; ou (b) as bênçãos gerais que Deus comunica a todos os homens, sem qualquer
distinção, como bem lhe agrada. Em distinção dos arminianos, mantemos que a graça comum não
capacita o pecador a realizar qualquer bem espiritual, nem tampouco a votar-se para Deus com fé e
arrependimento. Ela pode ser resistida pelo homem, e é sempre resistida, em maior ou menor grau;
não afeta mais que o aspecto externo da vida social, civil, moral e religiosa. Ainda quando Cristo
morreu com o único propósito de salvar os eleitos, no entanto toda a raça humana, inclusive os
impenitentes e os réprobos, derivam grandes benefícios de sua morte. As bênçãos da graça comum
podem ser consideradas como um resultado indireto da obra expiatória de Cristo.
2. Meios da graça comum. É possível distinguirmos vários meios: (a) O mais importante
de todos é a luz da revelação divina em geral. Sem este, todos os demais meios de graça seriam
impossíveis e ineficazes. Ela ilumina a todos os homens e serve de guia à consciência natural. (b)
Os governos humanos também servem a este propósito. Segundo nossa constituição, eles são
instituídos para refrear as tendências para o mal e promover a boa ordem e a decência. (c) A
opinião pública é também um bom meio na medida em que esteja em harmonia com a lei de Deus.
Exerce uma profunda influência sobre os homens sensíveis para o juízo da opinião pública. (d)
Finalmente, o castigo e a recompensa divinos servem também para manter a boa moral no mundo.
Com freqüência, os castigos refreiam os feitos pecaminosos dos homens, e as recompensas lhes
impulsionam a fazer o que é bom e justo.
3. Efeitos da graça comum. Os seguintes efeitos podem ser atribuídos à operação da graça
comum: (a) O aprazamento da execução da sentença de morte no homem. Deus não executou a
sentença de morte contra o pecador imediatamente, mas lhe deu tempo para o arrependimento (Rm
42
2.4; 2Pe 3.9). (b) O pecado é refreado na vida dos indivíduos e das nações. A corrupção que entrou
na vida humana pelo pecado é restringida e não se lhe permite completar sua obra destruidora (Gn
20.6; 31.7; Jó 1.12; 2.6). (c) O homem ainda possui algo do senso da verdade, da moralidade e
certas formas de religião (Rm 2.14, 15; At 17.22). (d) O homem natural ainda é capaz de realizar o
bem natural ou a justiça civil, obras que externamente estão em harmonia com a lei divina, a
despeito de que são destituídas de valor espiritual (2Rs 10.29, 30; 12.2; 14.3; Lc 6.33). (e) Todos os
homens recebem de Deus numerosas bênçãos imerecidas (Sl 145.9, 15, 16; Mt 5.44, 45; Lc 6.35,
36; At 14.16, 17; 1Tm 4.10).
1. A luta geral do Espírito Santo com os homens (Gn 6.3; Is 63.10; Rm 1.28).
2. A restrição do pecado (Gn 20.6; Sl 105.14).
3. Boas obras da parte do não-regenerado (2Rs 10.30; Lc 6.33; Rm 2.14, 15).
4. Bênçãos imerecidas a todos os homens (Sl 145.9; Mt 5.44, 45; 1Tm 4.10).
1. Quais são os três aspectos da graça comum sobre os quais nossa igreja põe ênfase
especial?
2. Como Mateus 21.26, 46 e Marcos 14.2 mostram a influência restringente da opinião
pública?
3. Como Romanos 1.24, 26, 28 e Hebreus 6.4-6 provam a graça comum?
Para revisão:
1. A vocação. A vocação pode ser em geral definida como o ato da graça de Deus pelo qual
ele convida os pecadores a aceitarem a salvação que é oferecida em Jesus Cristo. Pode ser tanto
interna como externa.
1.1. A vocação externa. A Bíblia fala ou se refere a esta em várias passagens (Mt 28.19;
24.14; Lc 14.16-24; At 13.46; 2Ts 1.8; Jo 5.10). Consiste na apresentação e oferecimento da
salvação em Cristo aos pecadores, juntamente com uma terna exortação à aceitação de Cristo
mediante a fé para a obtenção do perdão dos pecados e a vida eterna. Segundo esta definição, ela
contém três elementos chamados (a) uma apresentação dos feitos e idéias do evangelho; (b) um
convite ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo; (c) uma promessa de perdão e salvação. A
promessa é sempre condicional: só se pode esperar seu cumprimento mediante fé e arrependimento
genuínos.
1.2. A vocação universal. A vocação externa é universal no sentido em que vem a todos os
homens a quem se prega o evangelho. Não se limita a nenhuma idade nem nação nem a qualquer
classe de homens e é feita ao degenerado do mesmo modo que é feita ao eleito (Is 45.22; 55.1; Ez
43
3.19; Jl 2.32; Mt 22.2-8, 14; Ap 2.17). Naturalmente, esta vocação, por vir de Deus, é de grande
significação. Na realidade ele chama os pecadores, deseja ternamente que aceitem o convite e com
toda sinceridade promete vida eterna aos que se arrependem e crêem.
1.3. A vocação formal (Nm 23.19; Sl 81.13-16; Pv 1.24; Is 1.18-20; Ez 18.23; 33.11; Mt
23.33; 2Tm 2.13). Na vocação externa, Deus mantém sua exigência ao pecador. Se a pessoa não
aceita o chamado, então também rejeita a exigência divina e assim aumenta sua culpa. Este é
também o meio ensinado pelo qual Deus congrega os eleitos de todas as nações da terra (Rm 10.14-
17) e deve ser considerado como uma bênção para os pecadores, ainda que pode vir a ser uma
terrível maldição (Is 1.18-20; Ez 3.18, 19; Am 8.11; Mt 11.20-24; 23.37). Finalmente, ela serve
também para justificar a condenação dos pecadores. Caso desprezem o oferecimento da salvação,
sua culpa se torna ainda mais clara (Jo 5.39, 40; Rm 3.5-6-19).
1.4. A vocação interna. Ainda que distingamos dois aspectos na vocação divina, ela é
realmente una. A vocação interior outra coisa não é senão a vocação externa efetivada pela
operação do Espírito Santo. Ela sempre se dirige ao pecador através da Palavra de Deus,
cuidadosamente aplicada pela operação do Espírito Santo (1Co 1.23, 24). Em distinção da vocação
externa, ela é chamada poderosa, cujo resultado é a salvação eterna (At 13.48; 1Co 1.23, 24). Além
disso, ela é uma vocação sem arrependimento ou mudança de atitude da parte de Deus, e nunca é
eliminada de nós (Rm 11.29). A pessoa chamada será salva com toda certeza. O Espírito opera
mediante a pregação da Palavra de Deus, persuadindo de um modo eficaz; portanto, a pessoa
chamada atende a voz de seu Deus. Ela se dirige à boa compreensão do ouvinte, que é iluminada
pelo Espírito Santo para que o indivíduo esteja ciente dela. Sempre encaminha a um final infalível.
É um chamado à comunhão com Jesus Cristo (1Co 1.9); à benção herdada (1Pe 3.9); à
liberdade (Gl 5.13); à paz (1Co 7.13); à santidade (1Ts 4.7); à esperança (Ef 4.4); à vida eterna
(1Tm 6.12) e ao reino e glória de Deus (1Ts 2.12).
2.1. Sua natureza. A palavra regeneração não é usada sempre no mesmo sentido. Nossa
Confissão de Fé a usa em um sentido bem amplo, o qual inclui até mesmo a conversão. Neste ponto
de nosso estudo, ela tem um significado mais estrito e denota o feito divino pelo qual se implanta no
homem o princípio da nova vida, o qual governa a disposição da alma santificada. Em seu sentido
mais amplo, ela designa também o novo nascimento, ou, seja, a primeira manifestação da nova vida.
É uma mudança fundamental na vida e no governo da alma, portanto afeta o homem por inteiro
(1Co 2.14; 2Co 4.6; Fp 2.13; 1Pe 1.8), a qual é efetuada num só instante, e não mediante um
processo gradual, como a santificação. É através dela que passamos da morte para a vida (1Jo 3.14).
É uma obra secreta e inescrutável de Deus que jamais é percebida diretamente pelo homem, mas
que pode ser conhecida somente por seus efeitos.
2.2. Seu autor. Deus é o Autor da regeneração. A Escritura a apresenta como obra do
Espírito Santo (1Jo 1.3; At 16.14; Jo 3.5-8). Em contraste com os arminianos, afirmamos que ela é
uma obra exclusiva do Espírito Santo, e não parcialmente uma obra também do homem. Na obra de
regeneração não há qualquer cooperação entre o homem e Deus, como ocorre na conversão. A
regeneração, no sentido mais estrito do termo, é a implantação da nova vida na alma, por isso é uma
obra direta e imediata do Espírito Santo. É uma obra criativa, um milagre divino, pelo qual o
evangelho não pode ser usado como instrumento neste sentido. É verdade que Tiago (1.18) e Pedro
(1.23) parecem provar que a pregação do evangelho é usada como instrumento na regeneração, mas
estas passagens se referem à regeneração em um sentido mais amplo, incluindo o novo nascimento
44
e seus frutos. Neste sentido mais inclusivo, a regeneração é sem dúvida efetuada pela
instrumentalidade da Palavra.
2.3. Seu lugar e necessidade na ordem da salvação. A Escritura não deixa dúvida quanto à
necessidade absoluta da regeneração, antes a afirma em termos os mais claros (Jo 3.3, 5, 7; 1Co
2.14; Gl 6.15). Isto se deduz do fato de que somos por natureza mortos em nossas culpas e pecados,
e devemos ser dotados com uma nova vida espiritual para podermos desfrutar do favor divino e da
comunhão com Deus. A questão que às vezes se suscita é esta: o que vem primeiro, a vocação ou a
regeneração? É possível dizer que no caso dos adultos a vocação externa precede ou coincide com a
regeneração, no sentido mais estrito. A regeneração, como implantação da nova vida, precede à
vocação interna, mas a vocação interna precede a regeneração em seu sentido mais amplo, ou, seja,
no novo nascimento. Encontramos esta ordem indicada no caso da conversão de Lídia (At 16.14).
“Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos
escutava [vocação externa]; o Senhor lhe abriu o coração [regeneração em seu sentido estrito] para
atender [vocação interna] às coisas que Paulo dizia.”
1. A vocação é obra de uma pessoa da Trindade, ou das três? (1Co 1.9; 1Ts 2.12; Mt 11.28;
Lc 5.32; Mt 10.20; At 5.31, 32).
2. A palavra regeneração é empregada na Bíblia? (Tt 3.5; Jo 3.5, 7, 8; 2Co 5.17; Ef 2.5; Cl
2.13; Tg 1.18; 1Pe 1.23).
3. O texto de Tito 3.5 prova que somos regenerados pelo batismo? Caso a resposta seja sim,
como você o explicaria?
Para revisão:
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XX. CONVERSÃO
ARREPENDIMENTO E FÉ
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3.1. Diferentes classes de fé. A Bíblia nem sempre fala da fé no mesmo sentido. Ela fala da
fé histórica, que consiste numa aceitação intelectual da veracidade das Escrituras, sem qualquer
resposta moral ou espiritual. Esta classe de fé não tem real interesse pela verdade, nem a leva a
sério (At 26.27, 28; Tg 2.19). Também se fala da fé temporal, a qual abraça as verdades da religião
por um impulso da consciência e uma excitação dos afetos, porém não está arraigada num coração
regenerado. Chama-se fé temporal (Mt 13.20, 21), porque não tem um caráter permanente e não
persiste quando vem a provação e perseguição (cf. Hb 6.4, 6; 1Tm 1.19, 20; 1Jo 2.19). Menciona-se
ainda uma fé milagrosa, ou, seja, a convicção que uma pessoa tem de que ocorrerá um milagre a seu
favor (Mt 8.11, 13; 17.30; Mc 6.17, 18; Jo 11.22, 40; At 14.9). Esta fé pode ou não ser
acompanhada de uma fé verdadeira e salvífica. Finalmente, a Bíblia não só menciona, mas também
enfatiza a necessidade da fé salvífica, a qual tem sua sede no coração e se arraiga na vida
regenerada. Sua semente é plantada na regeneração, e floresce na forma de uma fé ativa. Pode ser
definida como uma convicção positiva, operada no coração pelo Espírito Santo, acerca da
veracidade do evangelho, e uma sincera confiança nas promessas de Deus em Cristo.
3.3. Segurança da fé. Os metodistas afirmam que o crente tem certeza de que é filho de
Deus, porém isso não significa salvação infalível, já que se pode cair da graça. O ponto de vista
correto é que a verdadeira fé, incluindo a confiança em Deus, traz o senso de segurança que pode
variar em grau. Esta segurança não é uma posição permanente do crente; já que este nem sempre
vive na plenitude da vida de fé, e nem sempre desfruta do senso de suas riquezas espirituais. Pode
ser perturbado por duras incertezas, e portanto é exortado a cultivar sua própria segurança (2Co
13.5; Hb 6.11; 2Pe 1.10; 1Jo 3.19). É possível fazer isso por meio da oração, da meditação sobre as
promessas de Deus e pelo desenvolvimento de uma genuína vida cristã.
47
5. A fé milagrosa (Mt 17.20; At 14.9, 10).
6. Cristo como objeto da fé salvífica (Jo 3.16; 6.40; Hb 6.11; 2Pe 1.10).
Para revisão:
XXI. JUSTIFICAÇÃO
1. Natureza e elementos da justificação. A justificação pode ser definida como o ato legal
pelo qual Deus declara justo o pecador sobre a base da perfeita justiça de Jesus Cristo. Não é um
ato ou processo de renovação, como o são a regeneração, a conversão e a santificação, e não afeta a
condição, mas o estado do pecador. Ela difere da santificação em vários aspectos: a justificação se
concretiza fora do pecador, diante do tribunal de Deus, removendo a culpa do pecado, e é um ato
completo, de uma vez e para sempre; enquanto a santificação se concretiza no homem, removendo a
imundícia do pecado, e é um processo contínuo, que dura a vida inteira. Distinguimos dois
elementos na justificação, a saber:
1.1. O perdão dos pecados sobre a base da justiça de Jesus Cristo. O perdão concebido se
aplica a todos os pecados: passados, presentes e futuros. Portanto, não pode ser repetido (Sl 103.12;
Is 44.22; Rm 5.21; 8.1, 32-34; Hb 10.14). Não significa que não necessitemos de orar mais pelo
perdão, pois a consciência do pecado fica mais aguda do que nunca, criando o senso de separação e
repulsa ao pecado, e em razão da debilidade humana se faz necessário buscar reiteradamente a
consoladora certeza do perdão (Sl 25.7; 32.5; 51.1; Mt 6.12; Tg 5.15; 1Jo 1.9).
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1.2. A adoção como filhos de Deus. Na justificação, Deus adota os crentes como seus
filhos, os põe na posição de filhos e dá a todos eles o direito de o chamarem de Pai, inclusive o
direito à herança eterna (Rm 8.17; 1Pe 1.4). Esta adoção legal dos crentes deve ser distinguida de
sua adoção moral mediante a regeneração e a santificação. O primeiro aspecto se acha definido em
João 1.12, 13; e o segundo, em Romanos 8.15, 16. Em Gálatas 4.5 aparece o primeiro; ambos, em
Gálatas 4.5, 6, respectivamente.
Como explicação deste quádruplo aspecto da justificação, pode-se afirmar que num sentido
ideal a justiça de Cristo já se aplica aos crentes, no conselho da redenção, e portanto é desde a
eternidade; mas não é isto que a Bíblia quer dizer quando fala da justificação do pecador. Devemos
distinguir entre o que foi decretado no conselho eterno de Deus e o que é concretizado no curso da
história.
Devemos precaver-nos contra o erro dos romanistas e dos arminianos, os quais afirmam
que o homem é justificado sobre a base de sua própria justiça inerente, ou por sua própria fé. Nem a
própria justiça do homem, nem sua própria fé pode ser base de sua justificação. Esta repousa tão-
somente na justiça perfeita de Jesus Cristo (Rm 3.24; 10.4; 2Co 5.21; Fp 3.9).
49
2. A justificação pela fé, não pelas obras (Rm 3.28; 4.5; Gl 2.16).
3. A justificação e o perdão dos pecados (Sl 32.1, 2; At 13.38, 39).
4. A adoção de filhos e herdeiros da vida eterna (Jo 1.12; Gl 4.4, 5).
5. A justificação baseada na justiça de Cristo (Rm 3.21, 22; 5.18).
Para revisão:
1. Que é a justificação?
2. Em que ela se distingue da santificação?
3. Que elementos ela compreende?
4. Até onde os pecados são perdoados na justificação?
5. Por que os crentes devem continuar orando pelo perdão?
6. O que a adoção de filhos inclui?
7. Podemos falar de justificação desde a eternidade e mediante a ressurreição de Cristo?
8. Como a fé se relaciona com a justificação?
9. Qual é o ponto de vista arminiano?
10. Quais as objeções que se apresentam contra esta doutrina?
11. Como você as responderia?
A santificação não consiste numa mera supressão do que já foi abandonado na regeneração,
mas implica fortificar, acrescentar e intensificar a nova vida. Ela consta de duas partes: a supressão
das contaminações e corrupção da natureza humana (Rm 6.6; Gl 5.24) e o desenvolvimento gradual
da nova vida de consagração a Deus (Rm 6.4, 5; Cl 2.12; 3.1, 2; Gl 2.19). Posto que ela ocorre no
coração do ser humano, afeta naturalmente toda sua vida (Rm 6.12; 1Co 6.15, 20; 1Ts 5.23).
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2. O caráter imperfeito da santificação nesta vida. Ainda quando a santificação afeta
todas as partes da pessoa crente, no entanto o desenvolvimento espiritual dos crentes permanece
imperfeito durante toda sua vida. Temos que lutar contra o pecado enquanto vivermos (1Rs 8.46; Pv
20.9; Tg 3.2; 1Jo 1.8). A vida do crente se caracteriza por uma luta constante entre a carne e o
espírito. Inclusive os melhores crentes têm que confessar seus pecados (Jó 9; 3.20; Sl 32.5; 130.3;
Pv 20.9). Em todas estas citações achamos os crentes orando pelo perdão (Sl 51.1, 2; Dn 9.16), ou
exortados a buscá-lo (Mt 6.12, 13; Tg 5.15) e lutando para alcançar uma perfeição mais profunda
(Rm 7.7, 26; Gl 5.17; Fp 3.12, 14). Esta verdade é negada pelos chamados perfeicionistas, os quais
afirmam que o ser humano pode alcançar a santidade plena nesta vida. Eles se fixam no fato de que
a Bíblia ordena aos crentes que sejam perfeitos (Mt 5.48; 1Pe 1.16; Tg 1.4) e fala de alguns como já
perfeitos (Gn 6.9; Jó 1.8; 1Rs 15.14; Fp 3.15), bem como na declaração de que aquele que é nascido
de Deus não peca (1Jo 3.6, 8, 9, 15, 18). Mas o fato de que temos que nos esforçar para alcançar a
perfeição não prova que alguns já sejam perfeitos. Além disso, o termo perfeito nem sempre
significa uma pessoa completamente isenta de pecado. Noé, Jó e Asa foram chamados perfeitos,
porém sua história demonstra claramente que não eram absolutamente sem pecado. E o apóstolo
João quer dizer ou que o novo homem não peca, ou que os crentes não vivem no pecado. Notemos
bem que o mesmo declara: “Se dissermos que não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos e
não há verdade em nós” (1Jo 1.8).
Fora dos círculos reformados, esta doutrina não encontra aceitação. Afirma-se que ela é
contrária às Escrituras, as quais nos advertem contra a apostasia (Hb 2.1; 10.26) e exorta os crentes
a continuarem no caminho da salvação (Mt 24.13; Cl 1.23; Hb 3.14) e ainda nos apresenta casos de
51
apostasia (1Tm 1.19, 20; 2Tm 2.17, 18; 4.10). Tais exortações e advertências parecem presumir a
possibilidade de queda, e em alguns casos parecem prová-la plenamente como um fato consumado.
Estas advertências, porém, apenas provam que Deus opera usando meios e quer que a pessoa
coopere na obra da perseverança. Não há prova de que os apóstatas mencionados na Bíblia
realmente eram crentes (Rm 9.6; 1Jo 2.19; Ap 3.1).
1. Você consegue extrair alguma conclusão das seguintes passagens acerca do tempo em
que obtemos a santificação completa? (Fp 3.21; Hb 12.23; Ap 4.5; 21.27).
2. Que partes do ser humano são afetadas pela santificação? (Jr 31.34; Fp 2.13; Gl 5.24; Hb
9.14).
3. Que significa perfeito nas seguintes passagens? (1Co 2.6; 3.1, 2; Hb 5.14; 2Tm 3.16).
Para revisão:
1.1. Significados distintos deste termo no Novo Testamento. Geralmente indica uma igreja
local, quer ou não reunida para o culto (At 5.11; 11.26; Rm 16.4; 1Co 11.18; 16.1). Às vezes a
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expressão “a igreja que está em sua casa” se refere a alguma igreja domiciliar ou grupo de crentes
que se reuniam em lugar privado (Rm 16.5, 23; 1Co 16.19; Cl 4.15); mas, no sentido mais geral,
indica todo o corpo de crentes, no céu e na terra (Ef 1.22; 3.10, 21; 5.23; Cl 1.18-24).
1.2. O sentido do termo igreja. Os romanistas diferem dos protestantes com respeito à
natureza essencial da igreja. Aqueles crêem que ela indica uma organização externa e visível que
consiste dos sacerdotes, juntamente com os bispos, arcebispos, cardeais e o papa. Os protestantes
romperam com este conceito externo e buscaram o sentido de igreja numa comunhão invisível e
espiritual dos santos. A igreja, em sua natureza essencial, inclui os crentes de todas as idades e a
ninguém mais. É o corpo espiritual de Jesus Cristo, no qual não há lugar para os não-crentes.
2.1. A igreja militante e a triunfante. A igreja que existe atualmente na terra é a militante,
porque é chamada e atualmente se acha empenhada numa guerra santa. A que está no céu é a
triunfante, já que trocou a espada pela palma da vitória.
2.2. A igreja invisível e a visível. Esta distinção se aplica à mesma igreja que se acha sobre
a terra, a qual é invisível no que se refere a sua natureza espiritual, de modo que é impossível
determinar com exatidão quem lhe pertence ou não. No entanto, ela se faz visível na profissão de fé
e conduta de seus membros; pelo ministério da Palavra, os sacramentos e em sua organização e
governo externo.
3. A igreja como organismo e como instituição. Esta distinção se aplica somente à igreja
visível. Ela se caracteriza, como organismo, pela vida de comunhão dos crentes e por sua oposição
ao mundo; como organização, por seus ofícios, administração da Palavra e dos sacramentos, e por
certas formas de governo eclesiástico.
4. Definições da igreja. A igreja invisível pode ser definida como a companhia dos eleitos,
chamados pelo Espírito de Deus, ou simplesmente comunhão espiritual dos crentes; e a visível pode
ser definida como a comunidade ou conjunto dos que professam a mesma e verdadeira fé,
juntamente com seus filhos. É preciso ter em conta que a membresia de uns e de outros não é
exatamente igual.
5.1. Seus atributos. Estes são três: (1) Sua unidade. Segundo os romanistas, esta unidade
consiste de uma imponente organização mundial; mas, para os protestantes, é a unidade espiritual
do corpo de Jesus Cristo. (2) Sua santidade. Os romanistas fazem a santidade da igreja consistir em
seus santos dogmas, seus preceitos morais, seu culto e sua disciplina; mas os protestantes fazem a
santidade radicar nos próprios membros da igreja como santos em Cristo, isto é, santos em
princípio, ao serem eles possuidores da nova vida que está destinada a ser perfeitamente santa. (3)
Sua catolicidade. Roma faz deste ponto uma pretensão especial, porque sua igreja está espalhada
por toda a terra e tem maior número de membros que todas as denominações evangélicas juntas. Os
protestantes declaram, porém, que unicamente a igreja invisível de Cristo é realmente a igreja
católica, porque ela inclui todos os crentes de todas as idades e de todos os países.
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5.2. Suas marcas ou características externas. Enquanto os atributos pertencem
principalmente à igreja invisível, as marcas ou sinais pertencem à igreja visível e servem para
distinguir a verdadeira igreja da falsa. Estas também são três.
a. A pregação genuína da palavra de Deus. Este é o sinal mais importante da igreja (1Jo
4.1-3; 2Jo 9). Não significa que a pregação tenha de ser perfeita e absolutamente pura, mas deve ser
verdadeira quanto aos fundamentos da religião cristã, e que há de exercer uma influência
controladora quanto à fé e prática.
Para revisão:
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XXIV. GOVERNO E AUTORIDADE DA IGREJA
Cristo é a cabeça da igreja e a razão de toda sua autoridade (Mt 23.10; Jo 13.13; 1Co 12.5;
Ef 1.20-23; 4.11, 12; 5.23, 24). Ele governa a igreja, não pela força, mas por sua Palavra e pelo
Espírito. Todos os oficiais da igreja se acham revestidos com a autoridade de Cristo e eles mesmos
devem submeter-se ao controle de sua Palavra.
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o caráter de uma assembléia maior. Os representantes imediatos dos fiéis, que formam os conselhos,
são representados por um número limitado nos presbitérios, e estes, por sua vez, são representados
nos sínodos [e estes, por sua vez, na Assembléia Geral].
4.2. Autoridade governamental. Deus é um Ser amante da ordem e deseja que todas suas
coisas na igreja sejam feitas decentemente e com ordem (1Co 14.33, 40). Por esta razão se proveu
de regras acerca dos assuntos da igreja e deu autoridade à igreja para tornar efetivas as leis de Cristo
(Jo 1.15-17; At 20.28; 1Pe 5.2). Isto inclui autoridade para o exercício da disciplina (Mt 16.19;
18.18; Jo 20.23; 1Co 5.2, 7, 13; 2Ts 3.14, 15; 1Tm 1.20; Tt 3.10). O propósito da disciplina na
igreja é duplo. Em primeiro lugar, é cumprir a lei de Cristo com à admissão e exclusão de
membros, e promover a edificação espiritual dos próprios membros, assegurando sua obediência às
leis de Cristo. Se há membros espiritualmente enfermos, a igreja deve buscar sua cura; porém, se
fracassar neste empenho, tem que eliminar os membros contagiados. Deve expor os pecados
públicos, mesmo quando não haja acusação formal; no caso de pecados privados, deve insistir na
aplicação da regra dada em Mateus 18.15-18.
4.3. Autoridade para o ministério da misericórdia. Cristo enviou seus discípulos não só a
pregar, mas também a curar toda classe de enfermidades (Mt 10.1, 8; Lc 9.1, 2; 10.9, 17). Entre os
cristãos primitivos havia os que possuíam o dom de cura (1Co 12.9, 10, 28, 30). Este dom especial
terminou com a era apostólica. Desde então o ministério da misericórdia se limitou ainda mais ao
cuidado dos pobres exercido pela igreja. O Senhor deixou exortações sobre esta tarefa (Mt 26.11;
Mc 14.7). A igreja primitiva praticou certa comunhão de bens, de modo que não se permitia que
alguém tivesse falta no tocante às necessidades da vida (At 4.34).
Mais tarde se nomearam sete homens “para servirem às mesas”, ou, seja, para proverem
uma distribuição mais eqüitativa do que era trazido para os pobres (At 6.1-6). Depois disto, os
diáconos são mencionados reiteradamente (Rm 16.1; Fp 1.1; 1Tm 3.12). Põe-se forte ênfase em dar
ou recolher coletas para os pobres (At 29.20; 1Co 16.1, 2; 2Co 8.13-15; 9.1, 6, 7; Gl 2.10; 6.10; Ef
4.28; 1Tm 5.10, 16; Tg 1.27; 2.15, 16; 1Jo 3.17).
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1. Que Cristo é a cabeça da igreja (Ef 1.22, 23; Cl 1.18).
2. Os sinais especiais do apostolado (1Co 9.1, 2; 2Co 12.12).
3. O ofício de presbítero ou bispo (At 14.23; 1Tm 3.1; Tt 1.5).
4. A função docente de alguns presbíteros (1Tm 5.17; 2Tm 2.2).
5. O ofício de diácono (1Tm 3.10).
6. O caráter espiritual da obra dos presbíteros (At 20.28; 1Pe 5.2, 3).
7. Autoridade para o exercício da disciplina (Mt 18.18; Jo 20.23).
1. Que homens, além dos doze e Paulo, são intitulados apóstolos? (At 14.4, 14; 1Co 9.5, 6;
2Co 28.23; Gl 1.19).
2. Quem é intitulado evangelista na Bíblia? (At 2.18; 2Tm 4.5).
3. Que curso de disciplina se indica com respeito a pecados privados em Mateus 18.15, 17?
Para revisão:
E OS SACRAMENTOS EM GERAL
1. A Palavra de Deus e o Espírito Santo. Ainda que a expressão meios de graça tenha um
significado mais amplo, contudo é usada aqui para designar os meios que a igreja emprega de um
modo direto. Quando nos referimos aqui à Palavra de Deus, não nos referimos à Segunda Pessoa da
Trindade, ou, seja, Cristo, que em João 1.1 é chamado o Verbo; nem à palavra criativa mencionada
no Salmo 33.6, mas à Palavra de Deus escrita na Bíblia e proclamada pela igreja (1Pe 1.25). Ela é
chamada a palavra da graça, e por isso é o mais importante dos meios de graça. Ainda que sua
ênfase principal esteja na pregação, também pode ser trazida aos homens por outros meios. No lar,
na escola, mediante o diálogo, literatura religiosa [hoje a mídia]. A Palavra de Deus se torna efetiva
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como meio de graça tão-somente pela operação do Espírito Santo. A Palavra por si só não é
suficiente para operar a fé e a conversão, mas é um instrumento necessário. Ainda quando o Espírito
Santo possa fazê-lo, geralmente ele não opera fora da Palavra de Deus. E a pregação da Palavra
frutifica pela operação do Espírito Santo.
2. As duas partes da Palavra, como meio de graça. Estas são a lei e o evangelho. A lei,
como meio de graça, serve ao propósito de levar os homens à convicção de pecados (Rm 3.20),
tornando-os conscientes de sua incapacidade para responder às exigências da lei. E, assim, ele é seu
autor para levá-los a Cristo (Gl 3.24). Em segundo lugar, ela constitui também regra de fé para os
crentes, lembrando-lhes seus deveres e guiando-os pela vereda da vida e salvação.
3.2. A Palavra serve para gerar e fortificar a fé, enquanto os sacramentos só podem
fortificá-la, não gerá-la.
3.3. A Palavra é para o mundo inteiro, enquanto os sacramentos são exclusivamente para os
crentes e sua descendência.
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sacramentos, sem qualquer razão bíblica para isso, adicionando a confirmação, a penitência, a
ordem, o matrimônio e a extrema unção.
3.2. Aqueles apontam para frente, para o sacrifício de Cristo que havia de vir; enquanto os
neotestamentários apontam para trás, para o sacrifício plenamente consumado.
3.3. Aqueles não proporcionavam ao recipiente uma medida tão rica de graça espiritual,
como o fazem os sacramentos neotestamentários.
1. A lei é também uma regra de conduta para os crentes neotestamentários? (Mt 5.17-18;
Rm 13.10; Ef 6.2; Tg 2.8-11; 1Jo 3.4; 5.3).
2. Você provaria que os sacramentos se destinam somente aos crentes e sua descendência?
(Gn 17.10; Ex 12.43-45; Mc 16.16; At 2.39; 1Co 11.28, 29).
3. Que disputa surgiu na igreja primitiva sobre a circuncisão? (At 15; Gl 2.3-9).
Para revisão:
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XXVI. BATISMO CRISTÃO
Cristo instituiu o batismo após sua ressurreição (Mt 28.19; Mc 16.16) e incumbiu seus
discípulos de batizarem os que se tornassem discípulos, “no nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”, ou, seja, no nome da Trindade. Ainda quando ele não se propusesse a prescrever uma
fórmula, a igreja escolheu as palavras da instituição. A fórmula atual está em uso desde o princípio
do segundo século. Os protestantes consideram legítimo o batismo ministrado por um ministrado do
evangelho devidamente autorizado pela igreja e no nome do Deus Triúno. Os romanistas,
considerando o batismo como absolutamente indispensável à salvação, permitem que o mesmo seja
ministrado, em caso de risco de morte, por alguém que não seja sacerdote, particularmente por
parteiros.
2.1. O batismo de adultos. O propósito do batismo visava aos adultos e seus filhos. Nas
palavras da instituição, Jesus, indubitavelmente, tinha em mente o batismo dos adultos, em primeiro
lugar, pois com estes é que os discípulos podiam começar seu trabalho missionário. Sua instituição
implica que o batismo tinha de ser precedido por uma profissão de fé (Mc 6.16). No dia de
Pentecostes, os que receberam a Palavra pregada por Pedro foram batizados (At 2.41; cf. 8.37;
16.31-34). A igreja deve exigir uma profissão de fé de todos os adultos que solicitam o batismo.
Quando se faz essa profissão de fé, ela deve ser aceita pela igreja como válida e fiel, a menos que
existam boas razões para se pôr em dúvida a sinceridade do professante.
2.2. O batismo infantil. Os batistas negam o batismo infantil, porque as crianças não podem
exercer fé, e porque no Novo Testamento não existe nenhum mandato de batizar crianças, nem
apresenta um só exemplo desse gênero de batismo. Não obstante, isto não prova que o mesmo não
seja bíblico.
a. A base bíblica para o batismo infantil. O batismo infantil não se baseia diretamente em
alguma passagem bíblica, mas numa série de considerações. O pacto feito com Abraão era de
60
caráter espiritual, ainda que também tivesse um aspecto nacional (Rm 4.16, 18; Gl 3.8, 9, 14). Este
pacto ainda está em vigor, e em essência é o mesmo novo pacto da atual dispensação (Rm 4.13-19;
Gl 3.15-18; Hb 6.13-18). As crianças participavam das bênçãos do pacto, recebiam o sinal da
circuncisão e eram reconhecidas como parte da congregação de Israel (2Co 20.3; Jl 2.16). No Novo
Testamento, a circuncisão foi substituída pelo batismo, como sinal e indicação de ingresso no pacto
(At 2.39; 1Co 2.11, 12). O novo pacto é apresentado na Escritura como mais generoso do que o
antigo (Is 54.13; Jr 31.34; Hb 8.11), e portanto dificilmente excluiria as crianças. Isto é igualmente
improvável em vista dos textos bíblicos (Mt 19.14; At 2.39; 1Co 7.14). Além disso, lemos que
famílias inteiras foram batizadas, e é pouco provável que em tais famílias não houvesse nenhuma
criança (At 16.15; 16.33; 1Co 1.16).
1. Os seguintes textos bíblicos provam que os discípulos não usavam a fórmula trinitária no
batismo? (At 2.38; 8.16; 10.48; 19.5).
2. Como é possível comparar o significado espiritual do batismo com o da circuncisão? (Dt
30.6; Jr 4.4 com At 2.38; 22.16).
3. Você pode provar que a circuncisão foi abolida no Novo Testamento? (At 15; Gl 2.3; 5.2,
3; 5.22, 23; 6.12, 13).
Para revisão:
61
11. Que pontos de vista existem acerca do fundamento do batismo infantil?
12. Qual deles deve ser preferido, e por quê?
13. Como o batismo infantil pode ser um meio de graça?
A Ceia do Senhor foi instituída por ocasião da Páscoa, pouco antes da morte de Jesus (Mt
14.22, 25; Lc 22.19, 20; 1Co 11.23-25). O novo sacramento estava unido, em sua parte essencial,
com a degustação da Páscoa. O pão que se comia juntamente com o cordeiro foi consagrado para
um novo uso, e da mesma forma o vinho do terceiro cálice, que se chama o cálice da bênção. O pão
partido simbolizava o corpo traspassado do Senhor, e o vinho, seu sangue derramado. O ato
material de comer e beber significava uma apropriação espiritual dos frutos do sacrifício de Cristo;
e o sacramento inteiro é um constante memorial de sua morte redentora.
1. A Ceia do Senhor como sinal e selo. Como todo sacramento, a Ceia do Senhor é, antes
de tudo, um sinal. Não só quanto aos elementos visíveis do pão e do vinho, mas na própria ação de
participar dela. É uma representação simbólica da morte do Senhor (1Co 11.26) e simboliza a
participação do crente no Cristo crucificado e na vida e força que procedem do Redentor ressurreto.
Além disso, é um ato de profissão de fé da parte dos que participam. Com este ato, expressam sua fé
em Cristo como seu Salvador e sua homenagem a ele como Rei. A Ceia do Senhor, porém, mais que
um símbolo, é também um selo daquilo que significa, e uma promessa de sua realização. Imprime
nos crentes a segurança de que são objeto do grande amor de Cristo revelado em sua submissão a
uma morte amarga e ignominiosa, e é uma garantia de que todas as promessas do pacto, bem como
todas as riquezas do evangelho, são suas; não só em esperança, mas como possuidores atuais delas.
2. A presença de Cristo na Ceia do Senhor. Esta questão tem sido largamente debatida e
constitui ainda a maior diferença de opinião entre os cristãos. Quatro pontos de vista merecem nossa
consideração.
2.1. O ponto de vista romanista. A igreja romana concebe a presença de Cristo na Ceia do
Senhor em um sentido físico. Com base nas palavras de Jesus, “Isto é o meu corpo”, afirmam que o
pão e o vinho são transformados ou transubstanciados no corpo e no sangue de Cristo, ainda que
continuem com a aparência e sabor de pão e vinho. Entretanto, esta opinião é suscetível de diversas
objeções:
a. Estando Jesus ainda na carne, diante de seus discípulos, não podia dizer que tinha seu
corpo em sua própria mão;
b. A Escritura fala do pão como pão, depois da suposta mudança (1Co 10.17; 11.26-28); e
c. É contrário ao sentido comum crer que o que parece ter, e tem, o sabor de pão e vinho
seja realmente sangue e carne.
2.2. O ponto de vista luterano. Os luteranos afirmam que, mesmo quando o pão e o vinho
permaneçam tais como são, a pessoa inteira de Cristo, com seu corpo e sangue, está presente em,
sob e junto com esses elementos [chama-se consubstanciação]. Quando Cristo tinha o pão em sua
mão, ele segurava seu corpo juntamente, e portanto podia dizer: “Isto é o meu corpo.” Todo aquele
que recebe o pão, recebe o corpo de Cristo, seja ele crente ou não. Esta opinião forjada não se afasta
muito da doutrina romanista, e atribui às palavras de Jesus o significado pouco natural de “isto
62
acompanha meu corpo”. Além do mais, requer a noção impossível de que o corpo, não só o espírito
de Cristo, é onipresente.
2.3. O ponto de vista zwingliano. Zwinglio negava a presença física de Cristo na Ceia do
Senhor, porém admitia que ele se acha espiritualmente presente nos elementos, em virtude da fé dos
crentes. Algumas de suas afirmações, contudo, parecem indicar que também via nisto um selo ou
promessa do que Deus faz para os crentes em Cristo.
2.4. O ponto de vista calvinista. Calvino adotou uma posição intermédia: ensinou que a
presença de Cristo na Ceia do Senhor, em vez de física e local, é de caráter espiritual; distinguindo-
se de Zwinglio, pôs mais ênfase no significado mais profundo do sacramento; viu nele um selo e
promessa do que Deus faz para o crente, antes que uma simples promessa de consagração a Deus,
por parte do crente. As virtudes e efeitos do sacrifício de Cristo na cruz estão presentes de um modo
espiritual, e são transmitidos aos crentes pelo poder do Espírito Santo.
3. As pessoas para quem a Ceia do Senhor é instituída. A Ceia do Senhor não foi
instituída para todos indistintamente, mas tão-somente para os crentes que compreendem seu
significado espiritual. As crianças que ainda não atingiram a idade do discernimento não estão aptas
para participarem dela. Mesmo os verdadeiros crentes podem achar-se em tal condição espiritual,
que não podem tomar dignamente seu lugar à Mesa do Senhor, e devem, portanto, examinar-se
cuidadosamente antes de fazê-lo (1Co 11.28-32). Os incrédulos se acham naturalmente excluídos da
Ceia do Senhor. A graça que se recebe no sacramento não difere da que se recebe por meio da
Palavra. O sacramento intensifica, porém, a eficácia da Palavra e a medida da graça recebida. O
desfruto de seus benefícios espirituais depende da fé do participante.
Para revisão:
63
10. Para quem a Ceia do Senhor foi instituída?
11. Quem deve ser excluído da Mesa do Senhor?
E ESTADO INTERMEDIÁRIO
2.1. A idéia moderna do Sheol-Hades. A idéia que mais prevalece atualmente é que, ao
morrerem, os santos e os ímpios, igualmente, descem a um lugar intermédio ao qual o Antigo
Testamento chama Sheol, e o Novo, Hades. Não é um lugar de recompensa, nem de castigo, mas
um lugar onde todos participam da mesma sorte. Uma mansão triste, onde a vida não passa de um
pálido reflexo da vida sobre a terra, um lugar de consciência debilitada, de inatividade entorpecida,
onde a vida perde seus interesses e a vontade de viver se converte em tristeza. Mas isso não passa
de representação pouco espiritual do Hades. Se os termos Sheol e Hades se referem a um lugar ao
qual descem tanto os santos quanto os ímpios, como tal lugar seria objeto de advertência aos ímpios
(Sl 9.17; Pv 5.5; 7.27; 9.18; 15.24; 23.14)? E como a Escritura poderia falar da ira de Deus ardendo
nesse lugar (Dt 32.22)? Foi desde o Hades que o rico ergueu seu olhar (Lc 16.23), e é chamado
“lugar de tormento” (v. 28). É, pois, muito preferível presumir que as palavras Sheol e Hades nem
sempre são usadas nas Escrituras no mesmo sentido; mas às vezes significam o túmulo (Gn 43.28;
Sl 16.10); outras vezes, o estado ou condição dos mortos expressa como um lugar (1Sm 2.6; Sl
89.48), enquanto outras vezes se usa esta expressão para referir-se ao castigo eterno (Dt 32.22; Sl
9.17; Pv 9.18).
2.2. O purgatório, o limbus patrum e o limbus infantum. Segundo a igreja romana, as almas
daqueles que são aperfeiçoados ao chegar a morte são admitidas no céu (Mt 25.46; Fp 1.23), porém
aqueles que não são totalmente ímpios, ao chegar a morte – e esta é a condição da maioria dos
crentes –, entram em um lugar de purgação chamado purgatório. A duração de sua permanência ali
varia segundo cada caso individual, e pode ser interrompida pelas orações, boas obras e missas
pagas por amigos ou parentes piedosos. Esta doutrina não conta com o apoio da Escritura.
64
a. O limbus patrum é outro lugar onde, segundo os romanistas, os santos do Antigo
Testamento estiveram detidos até que Cristo os libertasse entre sua morte e sua ressurreição.
b. O limbus infantum é a suposta morada de todas as crianças que morrem sem o batismo.
Estas ficam ali sem qualquer esperança de libertação, certamente sem sofrer nenhum tipo de
castigo, porém excluídas das bênçãos celestiais.
2.3. O sono das almas. A idéia de que, através da morte, as almas caem num estado de
repouso inconsciente foi defendida por várias seitas em épocas passadas e é hoje a doutrina favorita
dos irvingitas da Inglaterra, dos russelitas e dos adventistas. Citam, em seu endosso, as frases da
Escritura que expressam a morte como sendo um sono (Mt 9.24; AT 7.60; 1Ts 4.13), ou onde
parece afirmar-se que os mortos estão inconscientes (Sl 6.5; 30.9; 115.17; 146.4). Mas os primeiros
textos se referem à morte como um sono, em virtude da semelhança que há entre o corpo morto e o
que dorme, e os últimos tratam simplesmente de insistir no fato de que os mortos não podem tomar
parte nas atividades do presente mundo; em contrapartida, fala-se dos crentes que desfrutam de uma
vida consciente imediatamente após a morte (Lc 16.19-31; 24.43; 2Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9).
2.5. A teoria de uma segunda prova. Alguns teólogos sustentam a idéia de que os que
morrem em seus pecados terão outra chance de aceitar a Cristo depois da morte. Ninguém perecerá,
dizem eles, sem que se ofereça uma chance favorável de se conhecer e aceitar a Jesus Cristo. Para
isso apelam para passagens como Efésios 4.8, 9; 1 Coríntios 15.24, 28; Filipenses 2.9, 11;
Colossenses 1.19, 20; 1 Pedro 3.19; 4.6. Estes textos, porém, não provam semelhante idéia. Em
contrapartida, a Escritura apresenta o estado dos crentes depois da morte como sendo fixo, que não
pode ser alterado (Ec 11.3; Lc 16.19-31; Jo 8.21, 24; 2Pe 2.4, 9; Jd 7, 13). Seu juízo depende do que
fizeram estando na carne (Mt 7.22, 23; 10.32, 33; 25.24-36; 2Co 5.2, 10; 2Ts 1.8).
65
Para estudo adicional:
1. O que as seguintes passagens ensinam sobre a morte? (1Co 15.55-57; 2Tm 1.10; Ap
1.18; 20.14).
2. As seguintes passagens ensinam a doutrina do purgatório? (Is 4.4; Mq 7.8; Zc 9.11; Ml
3.2; Mt 12.32; 1Co 13.15).
3. A promessa de Jesus ao bandido moribundo se harmoniza com a doutrina do sono das
almas? (Lc 23.43).
Para revisão:
O Novo Testamento nos ensina claramente que a primeira vinda de Cristo será seguida por
uma segunda vinda. Jesus se referiu a sua volta mais de uma vez (Mt 24.30; 25.19; 26.64; Jo 14.3).
Os anjos chamaram a atenção dos apóstolos para este fato no dia da ascensão (At 1.11), e as
epístolas falam reiteradamente do mesmo (Fp 3.20; 1Ts 4.15, 16; 2Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28).
1.1. A vocação dos gentios. O evangelho do reino deve ser pregado a todas as nações antes
que Cristo volte (Mt 24.14; Mc 13.10; Rm 11.25). Isto significa que todas as nações hão de ser de
tal modo evangelizadas, que o evangelho virá a ser um poder na vida das pessoas, um sinal e
vocação para que todos se decidam.
66
1.3. A grande apostasia e a grande tribulação. A Bíblia ensina reiteradamente que no fim
dos tempos haverá grande desfalecimento da fé. A iniqüidade crescerá e o amor de muitos esfriará
(Mt 24.12; 2Ts 2.3; 2Tm 3.1-7; 4.3, 4). A maldade clamará ao céu e trará como resultado uma
terrível tribulação, “como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá
jamais” (Mt 24.21). Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas serão
abreviados por causa dos eleitos.
1.5. Sinais e milagres. A Bíblia também se refere a sinais prodigiosos que marcarão o
princípio do fim. Haverá guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, os quais serão o princípio
daquelas dores que terão como conseqüência o renascimento deste universo; haverá grandes sinais
no céu, porque os poderes dos céus serão abalados (Mt 24.29, 30; Mc 13.24, 25; Lc 21.25, 26).
2. A segunda vinda. Depois desses sinais, o Filho do Homem será contemplado por todos,
vindo nas nuvens do céu.
2.1. O tempo de sua vinda. Alguns crêem que a vinda de Cristo será iminente, e que pode
ocorrer agora mesmo, ou a qualquer momento. A Bíblia, porém, ensina que os acontecimentos e
sinais referidos previamente devem preceder sua volta. Do prisma de Deus, a segunda vinda está
sempre próxima (Hb 10.25; Tg 5.9; 1Pe 4.5), mas ninguém pode determinar o momento exato, nem
os anjos, nem mesmo o Filho do Homem (Mt 24.36).
2.2. A maneira de sua vinda. A mesma pessoa de Cristo voltará. Ele já veio espiritualmente
no dia de Pentecostes, porém voltará fisicamente e poderá ser visto por todos (Mt 24.30; 26.64; At
1.11; Tt 2.13; Ap 1.7). Ainda que vários sinais precederão sua vinda, no entanto ela ocorrerá de um
modo inesperado e surpreenderá a muitos (Mt 24.37-44; 25.1-12; 1Ts 5.2, 3; Ap 3.3). Além disso,
será uma vinda triunfante e gloriosa. As nuvens do céu serão sua carruagem (Mt 24.30). Os anjos
serão sua guarda real (2Ts 1.7). Os arcanjos serão seus arautos (1Ts 4.16). Os santos de Deus serão
seu glorioso cortejo (1Ts 3.13; 2Ts 1.10).
2.3. O propósito de sua vinda. Cristo voltará para introduzir a era futura, o eterno estado de
todas as coisas, e o fará através de dois eventos prodigiosos: a ressurreição e o juízo final (Jo 5.25-
29; At 17.31; Rm 2.3-16; 2Co 5.10; Fp 3.21; 1Ts 4.13-17; 2Pe 3.10-13; Ap 20.11-15; 22.12).
3. A questão do milênio. Alguns crêem que a segunda vinda de Cristo será precedida ou
seguida por um milênio.
3.1. O pós-milenismo. Esta teoria ensina que a segunda vinda de Cristo seguirá o milênio.
Este virá durante a dispensação evangélica em que estamos vivendo agora, e no final Cristo
aparecerá. Espera-se que o evangelho venha a ser no fim muito mais efetivo que no presente, e
produzirá um período de justiça, paz e bênçãos espirituais mui profusas. Em nossos dias, alguns
ainda esperam isto como o grande resultado de um simples processo natural de evolução da
humanidade. Toda esta idéia, no entanto, não se ajusta ao que a Bíblia nos afirma a respeito da
grande apostasia que sobrevirá nos últimos dias.
67
3.2. O pré-milenismo. Cristo, em sua volta, restabelecerá sobre a terra o reino de Davi, e
reinará em Jerusalém ao longo de mil anos. Esta teoria se baseia em uma interpretação literal dos
profetas e de Apocalipse 20.1-6. Toma o reino de Deus como um reino terreno e nacional, enquanto
o Novo Testamento o apresenta como sendo espiritual e universal, um reino que justamente agora
se acha em existência (Mt 11.12-28; Lc 17.21; Jo 18.36, 37; Cl 1.13). O Novo Testamento ignora
completamente semelhante reinado temporal de Cristo, porém fala de seu reinado celestial (2Tm
4.18) e eterno (2Pe 1.11). Além disso, a teoria tenta apoiar-se numa única passagem (Ap 20.1-6), a
qual apresenta uma cena no céu, e não faz menção dos judeus, nem de um reino nacional e terreno,
nem da Palestina como um lugar onde Jesus reinará.
“3.3. O amilenismo. Os amilenistas entendem o milênio como sendo uma figura do reino
presente de Cristo e dos santos no céu (análogo a Ap 6.9, 10). A primeira ressurreição (Ap 20.5) se
refere à vida de cristãos que morreram e que estão com Cristo no céu, ou à vida em Cristo que
começa com o novo nascimento espiritual (Rm 6.8-11; Ef 2.6; Cl 3.1-4). Satanás foi preso através
do triunfo de Cristo em sua crucifixão e ressurreição (Jo 12.31; Cl 2.15).” (Extraído da Bíblia de
Estudo de Genebra, sobre o livro do Apocalipse, p. 1524.)
Para memorização:
1. Como você explicaria as passagens que falam da vinda e Cristo como próxima? (Mt
16.28; 24.34; Hb 10.25; Tg 5.9; 1Pe 4.5; 1Jo 2.18).
2. Quem são os falsos cristos ou anticristos dos quais a Bíblia fala? (Mt 24.24; 1Jo 2.18).
3. Que você responderia à idéia de que a segunda vinda de Cristo pertence ao passado, uma
vez que ele já voltou em espírito? (Jo 14.8-18).
Para revisão:
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XXX. RESSURREIÇÃO, JUÍZO FINAL
E ESTADO ETERNO
1.1. O caráter da ressurreição. A Escritura nos ensina a esperar uma ressurreição física,
semelhante à ressurreição de Cristo. A redenção em Cristo inclui o corpo (Rm 8.23; 1Co 6.13-20).
Esta classe de ressurreição é claramente ensinada (1Co 15; Rm 8.11). Incluirá os justos e os ímpios,
respectivamente; mas só para aqueles é que será um ato de libertação e de glória. Para estes a
reunião de alma e corpo terá como resultado o castigo da morte eterna.
2. O juízo final. A doutrina da ressurreição nos conduz diretamente ao juízo final. A Bíblia
fala da vinda deste juízo em termos que não deixam dúvida (Sl 96.31; 98.9; Ec 3.17; 12.24; Mt
25.31-46; Rm 2.5-10; 2Co 5.10; 2Tm 4.1; 1Pe 4.5; Ap 20.11-14).
2.1. O Juiz e seus oficiais. Cristo, como Mediador, será o Juiz (Mt 25.31, 32; Jo 5.27; At
10.42; 17-31; Fp 2.10; 1Tm 4.1). Esta honra é conferida a Cristo como recompensa por sua obra
redentora. Os anjos serão seus auxiliares (Mt 13.41, 42; 24.31; 25.31) e os santos terão também
participação em sua obra judicial (1Co 6.2; Ap 20.4).
2.2. Quem será julgado. Segundo a Bíblia, é evidente que cada indivíduo da raça humana
terá que comparecer perante o trono do juízo (Ec 12.14; Mt 12.36, 37; 25.32; Rm 14.10; 2Co 5.10;
Ap 20.14). Há quem pense que os justos serão excetuados, mas isto contraria Mateus 13.30, 4-43,
49; 25.31-36; 2 Coríntios 5.10. Afirma-se com toda clareza que os demônios também serão julgados
(Mt 8.29; 1Co 6.3; 2Pe 2.4; Jd 6).
2.3. O tempo do juízo. O juízo final será naturalmente no fim do mundo e seguirá
imediatamente a ressurreição dos mortos (Jo 5.28, 29; Ap 20.12, 13). A duração do juízo não pode
ser determinada. A Bíblia fala do dia do juízo, mas isso não significa, necessariamente, que será um
dia de 24 horas. Nem tampouco há base para assegurar, com os pré-milenistas, que será um dia de
mil anos.
2.4. A norma do juízo. A regra pela qual os santos e os ímpios serão julgados será, sem
dúvida, a vontade revelada de Deus. Os gentios serão julgados pela lei natural revelada em suas
consciências; os judeus, pela revelação veterotestamentária; e os que tiveram acesso à mais plena
revelação do evangelho serão julgados por sua luz (Rm 12.2); Deus dará a cada um o que ele
merece.
69
3. O estado eterno. O juízo final terá como propósito manifestar e fixar claramente o
estado final de cada pessoa.
3.1. A condição final dos ímpios. Os maus serão consignados a um lugar de castigo
chamado inferno. Há quem negue que o inferno seja um lugar e o considera meramente como uma
condição; a Bíblia, porém, ao descrevê-lo, emprega termos de caráter local. Por exemplo, ela nos
fala de fornalha acesa (Mt 13.42), lago de fogo (Ap 20.14, 15) e de prisão (1Pe 3.19). E todos estes
são termos de caráter local. Neste lugar, os ímpios viverão totalmente privados do favor divino,
experimentarão uma existência de infindável conturbação, sofrerão penas positivas em seu corpo e
alma, e estarão sujeitos aos tormentos da consciência, angústia e desespero (Mt 8.12, 13; Mc 9.47,
48; Lc 16.23, 28; Ap 14.10; 21.8). Haverá graus em seu castigo (Mt 11.22-24; Lc 12.47, 48; 20.47).
É evidente que seu castigo será eterno. Há quem negue isto, porque as palavras originais traduzidas
por eterno e por sempre podem significar simplesmente um longo período de tempo. No entanto,
este não é o significado corrente de tais palavras, e não há razão para pensar que tenham tal
significado ao serem aplicadas ao castigo futuro dos maus. Além disso, usam-se termos que
confirmam a idéia de castigo interminável (Mc 9.43, 48; Lc 16.25).
3.2. O estado final dos justos. O estado final dos crentes será precedido pelo
desaparecimento do presente mundo e o estabelecimento de uma nova criação. Não será uma nova
criação no sentido estrito do termo, mas uma renovação da presente criação (Sl 102.26, 27; Hb
12.26-28). O céu será a morada eterna dos crentes. Há quem pense que o céu é simplesmente uma
condição; mas a Bíblia o apresenta claramente como um lugar (Jo 14.2; Mt 22.12, 13; 25.10-12).
Os justos, porém, não herdarão apenas o céu, mas também toda a nova criação (Mt 5.5; Ap 21.1-3).
O prêmio dos justos é descrito como vida eterna, o que significa não apenas vida sem fim, mas vida
em toda sua plenitude, sem qualquer imperfeição e transtorno próprios da presente existência. Esta
plenitude de vida será desfrutada em comunhão com Deus que realmente é a essência da vida eterna
(Ap 21.3). Ainda quando todos desfrutarão de bênção perfeita, haverá também graus nos deleites
celestiais (Dn 12.3; 2Co 9.6).
Para revisão:
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6. Que prova há na Bíblia do juízo?
7. Quem será o Juiz e quem o auxiliará?
8. Quem será julgado?
9. Quando será o juízo final e quanto durará?
10. Por qual norma os homens serão julgados?
11. Em que consistirá o estado dos ímpios?
12. Como você provaria que ele será interminável?
13. A nova criação será inteiramente nova, ou será uma renovação da antiga?
14. Qual será a recompensa dos justos?
71
SUMÁRIO DE DOUTRINA CRISTÃ
Autoria
Louis Berkhof
Tradução e adaptação
Valter Graciano Martins
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