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Curso: Ciências Sociais

Disciplina: Antropologia II
Período: 2° segundo 2018/2
Professora: Dra. Fabiana Jordão Martinez
Aluno: Antonio Domingos Dias

Padrões de Cultura
BENEDICT, Ruth

Catalão
Setembro - 2018
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A Ciência do Costume

A antropologia ocupa-se dos seres humanos como produtos da vida em


sociedade. Fixa a sua atenção nas características físicas e nas técnicas
industriais, nas convenções e valores que distinguem uma comunidade de
todas as outras que pertencem a uma tradição diferente. Õ que distingue â
antropologia das outras ciências sociais é o incluir o seu campo, para escudar
cuidadosamente, sociedades que não são a nossa sociedade. Para os seus
fins qualquer norma social de casamento e de reprodução tem tanto significado
como aquelas que nos são próprias, mesmo que seja a dos Dyalcs do Mar, e
não tem qualquer possível relação histórica com a da nossa civilização. (p. 13).

Ora o costume não tem sido considerado assunto de grande


importância. O funcionamento íntimo do nosso cérebro, eis o que nos parece
constituir a única coisa digna de estudo, o costume, temos tendência para
pensar, é conduta na sua forma mais vulgar. De facto, o contrário é que é
verdade. (p.14).

A Herança da Criança

Todo aquele que nasce no seu grupo delas partilhará com ele, e todo
aquele que nasce num grupo do lado oposto do globo adquirirá a milésima
parte dessa herança. Nenhum outro problema social nos cabe mais
forçosamente conhecer do que este do papel que o costume desempenha na
formação do indivíduo. Enquanto não pudermos compreender es suas leis e as
suas variedades, os principais fatos que complicam a vida humana continuarão
a ser para nós ininteligíveis. (p. 15).
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A nossa falsa perspectiva

A antropologia foi, por definição, impossível enquanto estas distinções,


entre nós próprios e o primitivo, nós próprios e o Bárbaro, nos próprios e o
pagão, nos dominaram o espirito. Foi necessário começar por atingir aquele
grau de afinamento intelectual em que já não pomos a nossa crença em
contraste com a superstição do nosso vizinho, foi necessário saber reconhecer,
isto é o sobrenatural, devem ser consideradas sob o mesmo ângulo, aquelas
como a nossa própria, para que tal impossibilidade desaparecesse. (p. 16).

A civilização Ocidental, devido a circunstâncias históricas fortuitas, teve


uma expansão mais vasta do qualquer outro grupo locai até hoje conhecido.
Estandardizou-se por sobre a maior parte do globo e fomos, pois, levados a
aceitar uma crença na uniformidade da conduta humana e que noutras
circunstâncias não teria surgido. (p. 17).

O homem primitivo nunca considerou o mundo viu a humanidade como


se fosse um grupo, nem fez causa comum com a sua espécie. Desde inicio foi
um habitante de uma província que se isolou, por meio de altas barreiras. Quer
se tratasse de escolher mulher ou de cortar uma cabeça, a primeira distinção
que fazia, e a mais importante, era entre o seu próprio grupo humano e os fora
do grémio. O seu grupo e todos os seus modos de comportamento, eram
únicos. (p. 20).

O estudo de culturas diferentes tem ainda outro alcance muito


importante sobre o pensamento e o comportamento de hoje em dia. A vida
moderna pôs muitas civilizações em contato íntimas, e no momento presente a
reação dominante a esta situação é o nacionalismo e o snobismo racial. Nunca,
mais do que hoje, a civilização teve necessidade de indivíduos bem
conscientes do sentido de cultura, capazes de verem objetivamente o
comportamento socialmente condicionado de outros povos sem temor e sem
recriminação. (p. 23).
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O Homem Moldado pelo Costume não pelo Instinto

Aprende todo o conjunto de feições culturais da sociedade que adotou, e


o grupo dos seus verdadeiros progenitores não desempenha em tudo isto
qualquer papel. O mesmo se passa em grande escala quando populações
inteiras se desembaraçam da sua cultura tradicional em duas ou três gerações
e adotaram os costumes de um grupo estrangeiro. (p. 25).

O reconhecimento que daqui deriva em política moderna é que não há


qualquer fundamento no argumento de que podemos confiar as nossas
conquistas espirituais e culturais a quaisquer plasmas germinais especiais
hereditários. Na nossa civilização Ocidental a liderança passou, em diferentes
períodos, sucessivamente para os Hamitas, para o subgrupo Mediterrâneo da
raça branca e finalmente para os Nórdicos. (p. 27).

No pensar social é necessário um conhecimento de diferentes formas de


cultura, e este livro ocupa-se deste problema da cultura. Como acabamos de
ver, forma do corpo, ou raça, é separável de cultura, e, para o fim que temos
em vista, tal conceito pode ser posto de parte, exceto em certos pontos em que
por qualquer razão especial passe a ser relevante. (p. 29).
Uma revista de qualquer grupo envolve indivíduos provenientes de
grupos heterogêneos opostos, com padrões diferentes, diferentes objetivos
sociais, relações familiares e moralidade. A inter-relação destes grupos é
demasiadamente complicada para a avaliarmos com o necessário por menor.
Na sociedade primitiva, a tradição cultural é suficientemente simples para que o
saber de cada adulto a abranja, e os modos de proceder e a moral do grupo
ajustam-se a. um padrão geral bem definido. (p. 30).
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A Diversidade das Culturas

Era cristão e pioneiro entre os seus na cultura de pêssegos e alperces


de regadio, mas ao falar dos xamãs que, vira ele com os seus olhos, se tinham
transformado em ursos durante a dança dos ursos, as mãos tremiam-lhe e a
voz vibrava de emoção. Era uma coisa extraordinária a energia do seu povo
nos tempos antigos. Mais do que tudo gostava de falar do que o deserto lhes
dava como alimentos. Tratava cada planta que arrancava, com amor e com
uma segurança absoluta da sua importância. Nesses tempos o seu povo tinha
comido da “saúde do deserto”, dizia ele, e ignorava tudo a respeito de latas de
conserva e do que se vendia nos talhos. (p. 33).
O curso da existência e a pressão do ambiente, para não falar da
facúndia da imaginação humana, proporciona um número incrível de
orientações possíveis, todas as quais, aparentemente, permitem que sejam
adaptadas por uma sociedade. Há os esquemas da propriedade, com a
hierarquia social que se pode associar ao que se possui, há coisas materiais e
as complicadas técnicas correspondentes, há todas as facetas da vida sexual,
da paternidade e do culto dos antepassados, há as associações ou os cultos
que podem estruturar a sociedade, há as trocas económicas, há os deuses e
as sanções sobrenaturais. (p. 35).

Necessidade de Ama Seleção


Numa sociedade a técnica é inacreditavelmente desdenhada,
mesmo naqueles aspectos da vida que parecem necessários para garantir a
sobrevivência; em outra tão simples como ela, os aperfeiçoamentos técnicos
são extraordinariamente complexos e admiravelmente adequados a cada
situação. Uma erige uma enorme superestrutura cultural sobre a adolescência,
outra, sobre a morte, outra ainda, sobre a vida futura. (p. 36).
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O caso da adolescência é particularmente interessante, já porque está


em foco na nossa civilização, já porque sobre ele dispomos de informações
suficientes relativas a outras culturas. Entre nós toda uma vasta bibliografia de
estudos psicológicos pôs em relevo a inevitável inquietação do período da
puberdade. (p. 37).
Os factos fisiológicos claros da adolescência são, pois, principalmente,
interpretados socialmente, mesmo onde eles são postos em relevo. Mas uma
revista das instituições de puberdade torna evidente uma coisa: a puberdade é
no ponto de vista fisiológico, uma coisa diferente no ciclo vital do macho e da
fêmea. Se o aspecto cultural acompanhasse o aspecto fisiológico, as
cerimónias no caso das raparigas seriam a mais fortemente caracterizadas do
que no dos rapazes, isso, porém, não é o que se dá. (p. 38).
As cerimónias de puberdade das raparigas, fundamentadas nas ideias
que se associam ao mênstruo, são facilmente convertíeis no que, do ponto de
vista do indivíduo em questão, é o comportamento exatamente oposto. Há
sempre dois aspectos possíveis do sagrado, ele pode ser uma fonte de perigos
ou uma fonte de bênçãos. (p. 41).
Passados anos, depois de ser mulher feita, começam os tempos
agradáveis de namoricos casuais e irresponsáveis que ela prolongará tanto
quanto possa até ao momento em que é considerada já capaz de casar.
Nenhuma manifestação social reconhece expressamente a sua puberdade,
nem mudança de atitude nem expectativa. Tudo se passa como se a sua
timidez de pré-adolescente continuasse durante alguns anos. (p. 42).
A guerra é, vemo-nos forçados a admitir, mesmo perante o lugar enorme
que ocupa na nossa civilização, um aspecto associal. No caos que se seguiu a
Segunda Grande Guerra Mundial, todos os argumentos que lio decorrer dela se
apresentavam para explicar o alto preço da coragem, do altruísmo, dos valores
espirituais, soavam desagradavelmente a falso. Guerra, na nossa civilização, é
o melhor exemplo dos excessos de destruição até que pode conduzir o
desenvolvimento de uma feição culturalmente escolhida. (p. 44).
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Costumes Relacionados com o Casamento


A guerra não é um caso isolado. Em todas as partes do mundo e em
todos os níveis de complexidade cultural é possível encontrar exemplos da
elaboração presunçosa e, afinal de contas, associai de uma feição da cultura.
(p. 44).
Algumas religiões consideram moderadamente tabu o incesto. A
despeito das restrições feitas, pode haver um número considerável de
mulheres com que um homem pode casar. Em outras o grupo que é tabu,
alarga-se, em virtude de uma ficção social, de modo a incluir grande número de
indivíduos que não tenham quaisquer antepassados comuns discerníveis, e a
escolha de uma consorte é consequentemente excessivamente limitada.
(p. 45).
A geração antecedente da nossa civilização defendeu a prostituição, e
nunca os louvores da monogamia foram tão fervorosos como nos grandes
tempos dos bairros da lanterna vermelha às portas. As sociedades justificam
sempre as fórmulas tradicionais favoritas. Quando estas são excedidas e se
recorre a alguma nova forma de comportamento suplementar, presta-se preito
à fórmula tradicional como se este não existisse. (p. 47).

Entretecimento de Feições Culturais


Mesmo feições muito especiais intervêm nesta espécie de validação,
como, por exemplo, a forma particular de móbil económico que surge no nosso
sistema particular de posse de bens individuais. É esta uma motivação
especialíssima, e há provas de que mesmo na nossa geração está a sofrer
fortes modificações. Seja, porém como for, não temos de tonar confuso o
problema discutindo-o como se tratasse de uma questão de valores de
sobrevivência biológica. (p. 48).
À diversidade das culturas resulta não apenas da facilidade com que as
sociedades elaboram ou repudiam aspectos possíveis da existência, É devida
ainda mais a um complexo entretecimento de feições culturais. A forma final de
qualquer instituição tradicional vai como dissemos, muito além do impulso
humano original. Em grande parte esta forma final depende do modo como
esta feição se fundiu com outras de diferentes campos da experiência. (p. 49).
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Certas tribos da América do Sul e da Sibéria fazem a mesma distinção,


ainda que a manifestem de maneiras diferentes. Não utilizam a habilidade
artística para servir a religião. Em vez, pois, de buscarmos fontes da expressão
artística em um assunto localmente importante, a religião, como os velhos
críticos de arte por vezes têm feito, devemos antes investigar até que ponto
arte e religião mutuamente se interpenetram, e as consequências de tal
interpenetração para a arte e a religião. (p. 50).

Casamento e Igreja
Semelhantemente, na nossa própria civilização a independência da
igreja e do sacramento do matrimónio está historicamente averiguada, e, no
entanto o sacramento religioso do matrimónio ditou, durante séculos,
transformações tanto no comportamento sexual como na igreja. Em culturas
em que isto se dá a íntima associação do casamento com a transferência da
riqueza pode obliterar completamente o facto de o casamento ser
fundamentalmente uma questão. (p. 55).
O casamento deve, em cada caso, ser interpretado como em relação
com outros aspectos da cultura com que sofre assimilação, e não devíamos
cair no erro de pensar que casamento se pode nos dois casos interpretar pelo
mesmo conjunto de ideias. Devemos contar com os diferentes componentes
combinados na mesma feição resultante. (p. 56).
A atual elevada posição que a mulher ocupa nos países cristãos não é
mais uma «consequência» do cristianismo do que o era a associação da
mulher com tentações demoníacas, de Orígenes. Estas interpenetrações de
aspectos culturais surgem e desaparecem, e a história da cultura é em elevado
grau uma história da sua natureza, destinos e associações. (p. 56).

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