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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – CAMPUS DE PARANAVAÍ

SILVIA CRISTINA VIANA

TRABALHO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA II

PARANAVAÍ
2019
SILVIA CRISTINA VIANA

TRABALHO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA II

Trabalho apresentado no curso de graduação em


História, da Unespar - Campus de Paranavaí, como
requisito parcial à obtenção da nota na disciplina de
História Contemporânea II.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Leme Batista

PARANAVAÍ
2019
1. Introdução

O livro “A Revolução Russa”, de Maurício Tragtenberg, foi publicada pela primeira


vez em 1988, as vésperas do desmoronamento da URSS, em 1991. Tragtenberg, discorre sua
obra percorrendo um longo período de tempo, pelos caminhos e descaminhos daquela
sociedade, da gênese do czarismo, anterior a revolução de 1917, passando por longos, difíceis
e tortuosos períodos que configuraram o processo histórico russo, chegando às vésperas do
definhamento. O livro está dividido em quatro capítulos, sendo o primeiro “A Rússia
imperial”, segundo “A sociedade russa pré-revolucionária”, no terceiro, temos “O processo da
Revolução Russa”, (Makhno na Ucrânia, Lenin em Moscou, Kronstadt: a revolução na
Revolução) e no quarto e último a “Conclusão”. Este ainda traz Mapas, Bibliografia e
Cronologia, nesta ordem.
É neste contexto que ele apresenta, como podemos compreender melhor o seu livro
sobre a Revolução Russa. Maurício Tragtenberg começa analisando a pré-história da
Revolução, com a Rússia Imperial, a evolução do czarismo, as rebeliões camponesas, a igreja.
Em seguida analisa a sociedade russa pré-revolucionária, no qual apresenta um quadro das
classes sociais daquele período, as tendências políticas, a Revolução de 1905 e o papel dos
partidos políticos. Na parte seguinte vem o processo da Revolução Russa, onde se trata a
instauração do regime bolchevique e a revolução camponesa na Ucrânia, a revolta de
Kronstadt, a questão sindical e a Oposição Operária de Alexandra Kollontai, os Sovietes e seu
esvaziamento pelos bolcheviques, bem como diversas questões dispostas no processo de luta
de classes na Rússia no período (ditadura do proletariado, questão nacional e colonial,
assembleia constituinte).  

2. Revolução Russa

Durante os mil anos da expansão russa no interior do país, houve uma oposição entre
os aspectos obrigatórios e voluntários da colonização, onde a mesma foi muitas vezes freada e
outras empurrada. Como centros colonizadores, temos os mosteiros que desempenharam um
papel importante, ao norte do Volga, em 1350, mas que posteriormente perderam sua
importância, menos na região do Médio Volga. Já a atividade missionária, ocorrera de forma
excepcional, antes da colonização. No século XVI, o czarismo, com a prática do despotismo,
onde utiliza o seu poder para tiranizar e oprimir, em todas as partes e de forma irrefutável. E
no século XVII, os latifundiários atuaram internamente como força colonizadora, até 1861,
com a libertação dos servos.
As novas terras, próximas as fronteiras móveis, concedidas pelo Czar aos
latifundiários, com a finalidade de povoar, aumentou o número de trabalhadores para a
exploração de minas e fábricas. As regiões de fronteiras mais avançadas, eram ocupadas pelos
colonos militares agregados ao Estado e eram empregadas como campo de caça ao
proprietário individual. O que restava ao camponês se de um lado estava o Czarismo e do
outro a servidão? Restava a fuga. Que fugia tanto da autoridade religiosa ortodoxa, como do
domínio da autoridade laica ou secular, ou seja, o Estado desprovido totalmente das questões
religiosas.
“Definidos pelas autoridades como vagabundos, sujeitos a serem caçados pelas
autoridades e integrados no serviço militar, muitos deles converteram-se em
bandidos ou rebeldes, pouco contribuindo para o processo de colonização interna,
ao passo que outros se tornaram colonizadores de fronteira, contribuindo para a
permanente avanço russo.” (TRAGTENBERG, 2007. p. 09).

Já o estilo de colonização livre, era realizada pelos cossacos do Don, considerados


“vagabundos”, provenientes de Moscou ou da Ucrânia polaca, caçador, pescador, pastor e um
explorador da estepe. Conhecidos pela coragem, bravura, força e capacidades militares.
Viviam em forma de horda, saqueavam e combatiam a população, mas também negociava
com a mesma, pescavam, praticavam a pecuária e por muito tempo desprezaram o arado,
símbolo da servidão. Os cossacos dependiam do poder central de Moscou para o comércio, o
desenvolvimento desse intercâmbio, resultou na formação de uma casta de cossacos
superiores, surgindo assim os segmentos de pobres e ricos, principalmente nas rebeliões
camponesas, onde Moscou venceu com o auxílio da oligarquia cossaca.
Em 1671 os cossacos do Don passam a serem vinculados ao czar de Moscou, sob
juramento de fidelidade. A partir do século XVIII, tornam-se agentes colonizadores e são
aproveitados na política interna pelo Estado. Assim a casta de oficiais cossacos, passam a ser
grandes latifundiários e entram no estamento da nobreza, com direitos a terem servos. Mesmo
procurando manter uma diferenciação com relação aos russos, os cossacos desenvolveram
uma relação de fidelidade para com o poder central de Moscou, mas por ocasião da revolução
de 1905, houve uma ruptura entre eles, “surgiu assim uma direita apoiada pelo czar e uma
esquerda que lutava para depô-lo.” (TRAGTENBERG, 2007. p. 11).
Com relação a colonização da Sibéria russa, até o século XVIII, essa era uma colônia
produtora de peles, mas que mudou à medida que se desenvolveu a agricultura, a indústria
madeireira e a exploração das minas. O czar, mais conhecido como Pedro o Grande, em sua
procura por minérios e rotas comerciais para a Ásia central, usou de postos de forças cossacas
para reter a pilhagem nômades. Porém a colonização seguiu de forma lenta, com a região
ocupada por servos ligados as minas, cossacos, prestadores de serviços do Estado,
camponeses fugidos de maus-tratos e sectários fugindo de perseguições religiosas.
“A Sibéria nunca conheceu o estabelecimento de uma nobreza senhorial, nem a
servidão em toda sua extensão; mas conheceu a comuna, em que a cooperação ia
da limpeza da terra a ser cultivada às várias formas de trabalho associado na
forma de mutirão.” (TRAGTENBERG, 2007. p. 11).

As terras da Sibéria pertenciam ao Estado e ao Czar, os colonos trabalhavam-na com


base no título de propriedade, mas a grande pressão sobre os recursos naturais, fez com que a
comuna tomasse diversas formas de distribuição da terra e controle da economia. A política
oficial de Pedro o Grande, era de barrar o movimento migratório em direção á Sibéria. Mas a
deportação para as minas siberianas, continuava a ser recurso regular do Estado, para pessoas
condenadas a trabalhos forçados em diversas áreas. A edificação da Sibéria foi feita, em
grande parte pelo papel dos deportados. Esses após terem suas penas cumpridas, voltavam a
Rússia e os que permaneciam não eram benquistos pelos siberianos.

“O que realmente tornou a Sibéria viável para a colonização foi a insaciável fome
de terras do camponês russo e a extensão do sistema ferroviário. [...] A grande
fome de 1891 e a construção da ferrovia transiberiana constituíram fatores de
atração populacional para a Sibéria. Apesar da Guerra Russo-Japonesa, a
população siberiana duplicou em vinte anos.” (TRAGTENBERG, 2007. p. 12).

O final do século XIX, teve um grande fluxo de colonos para a região siberiana,
devido aos fatores de atração para a Sibéria. Mas a Guerra Russo-Japonesa não impediu que a
população duplicasse. Mas no Oriente, uma emigração acontecia em escala bem maior que a
siberiana, por parte dos chineses, transformando a Manchúria em um local de luta pela
soberania russa e japonês. Esse movimento de colonização, obrigou o Estado a criar um
Departamento Especial de Colonização, multiplicando os impostos e tarifas. Assim surgiu a
nova Sibéria, sem polidez, sem controle e esgotada pelas lutas, com a Primeira Guerra
Mundial, com a Revolução e a guerra civil.

Tragtenberg, faz uma pequena descrição do Estado czarista, que traz em sua origem
elementos culturais tártaros e bizantinos, período esse que foi de 1462 a 1584, tendo sua
formação com Ivan o Grande, Basílio III e Ivan o Terrível, paralelamente vinculada as
monarquias. O termo czar, era o título atribuído ao imperador pelos russos e a águia bizantina
bicéfala adotada como símbolo de poder de Estado e de origem bizantina. Os czares se
denominavam eleitos por Deus, conceito esse que se encontra na literatura russa primitiva,
chefe do Exército e soberanos de todas as Rússias. Mesmo os tiranos e príncipes débeis, são
instituídos por Deus, e devem ser obedecidos. Todas as desgraças que se abatiam sobre a
Rússia, são atribuídos a cólera de Deus, sendo um limitador dos poderes dos príncipes.

No Século XVI, aparece o conceito de terceira Roma, pelo sentido histórico,


denomina o estado sucessor do Império Bizantino, que é legitimado nos séculos seguintes
com o czarismo ortodoxo e nacionalista. No sentido de que duas Romas caíram, a Primeira
Roma seria a própria cidade de Roma, centro do Império Romano, e a Segunda Roma a
cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino, mas a terceira não permanece de pé,
que é o Império dos czares. A queda de Constantinopla, ou seja, o Império Bizantino, para os
turcos otomanos, faz a Rússia recuperar sua independência, acelerando esse processo com
Ivan o Terrível, que modificou o exército russo, agregando elementos dos janízaros turcos.

O líder da Horda Dourada era o Khan, onde seu despotismo dependia se suas
características pessoais e militares. Tinham um conselho que limitava seu poder, formado
pelo clero, parentes consanguíneos e latifundiários. Ivan o Terrível, derrotou os Kazan e
Astrakhan, unindo-os à Rússia, tornando herdeiro do Khan tártaro.

O poder do czar era exercido tanto sobre os setores da igreja, quanto sobre as coisas
mundanas, controlando a vida de todos os súditos de forma ilimitada. Segundo Tragtenberg,
(2007. p. 14) "Não sabiam explicar por que isso sucedia – se a barbárie do povo havia
convertido o príncipe em tirano ou se o povo se tornara mais bárbaro e mais cruel em razão da
tirania do príncipe.”

De acordo com o autor, essa crueldade arbitrária do czar e o servilismo de seus


súditos, acabou por constituir algumas particularidades ao czarismo, que era um regime
bastante parecido com o absolutismo, como: A sacrossanta encarnação da autoridade do czar
nunca fora limitada, isto é, mecanismo legais ou institucionais eram inferiores ao poder do
czar. O serviço obrigatório ao Estado, inicialmente aplicada aos latifundiários, estendeu-se a
todos os súditos, especialmente no século XVIII. A terra russa era propriedade do czar. A
falta de diferenciação entre às atribuições legislativas, judiciais e administrativas.
Desenvolvimento de uma burocracia centralizada no Estado e anexada como extensão
império. A intensificação do uso da força e da arbitrariedade política no âmbito
governamental tornaram o exército um braço da gestão política do czar.

As características acima citadas, junta-se a outra da dinastia de Romanov, na


tentativa de uniformizar o grande Império russo. O soberano de Moscou, tem seus aliados
militares, transformados em súditos servidores do czar, pois a servidão nessa época, de 1480 a
1700, tornou-se elemento dominante da estrutura social. A Rússia passou por um período de
dependência a Horda Dourada, dos Mongóis, onde a mesma se encontrou totalmente
submetida com uma estrutura que ao tudo indica feudais. As imunidades e as franquias,
cresceram no século XIV, concedidas por anúncio de uma lei dos príncipes e Khans da Horda
Dourada. Em 1480, Ivan o Grande acaba com a sujeição a Horda Dourada.

Como o pedido de armistício de Novgorod, em 1467, o grande príncipe Ivan o


Grande discorria como seria a forma de domínio, um governo centralizado. Muitas pessoas
foram deportadas de Novgorod, para a fronteira ocidental, aumentando as fronteiras de
Moscou. Essa maneira de agir com os adversários, tornou-se um resquício peculiar do Estado
russo, que também instaurou um regime de terror sobre Moscou. Por ordem do czar, parte da
população foi transferida obrigatoriamente, uma política de seleção, recrutamento de
indivíduos ou famílias para prestar serviços ao Estado, temporários ou permanentes, com o
confisco de bens, mas com concessão de novas terras e direito ao comércio, onde se
instalassem. Esse tipo seleção podia afetar uma comuna inteira, obrigadas a se alistarem como
cossacos. Mas de forma voluntária não se diferenciava da obrigação de prestar serviços ao
Estado, haviam fugas, resistências. Entretanto, o Estado russo deliberava seus problemas de
colonização e manutenção das forças militares, com recursos dos incentivos fiscais.

Ivan o Grande encontrou seguidores fiéis, para os métodos e objetivos gerais da


política, que passou de forma hereditária, pai, filho e neto. E sob a direção do neto, Ivan o
Terrível, encerra-se a crise, com a derrota dos latifundiários. A aristocracia latifundiária,
desde o século XV, em seus territórios exerciam um grande poder, mesmo a serviço do
príncipe de Moscou, não eram servidores e detinham o poder de separação sem perder seus
estados hereditários. Direito esse que foi se extinguindo com Ivan o Grande e no início do
século XVI, restava a aristocracia presar serviços ao rival de seu grande príncipe, ato visto
como traição punido com confiscos de bens.

“Até a metade do século XVI era impossível ser um proprietário de terras em


caráter hereditário sem estar obrigado a prestar serviço ao príncipe de Moscou.
Também era impossível abandonar o serviço sem perder os estados hereditários.
Esse serviço ao Estado foi regulamentado em 1556 por Ivan O Terrível, que
obrigou a aristocracia fundiária à prestação de serviço militar, condição
fundamental para a posse da terra, inclusive para definir a extensão de terra
concedida pelo Estado.” (TRAGTENBERG, 2007. p. 17).

Ivan o Terrível, colocou a serviço do Estado, com a concessão de terras enquanto


durasse o serviço, sua pequena nobreza. Acabou fundando uma aristocracia para enfrentar as
necessidades militares, econômicas e colonizadoras. Tinha um corpo de novos oficiais
feudatários em Moscou, que se tornaram hereditários. Passou a usar o código de precedência
para a nomeação para os altos cargos, de acordo com a árvore genealógica e os serviços
prestados, sendo aplicado unicamente as famílias principescas. Não era considerado um
instrumento de oposição contra a ação do czar.

O maior obstáculo que o czar viu ao seu poder foi a aristocracia latifundiária, que
formaram um conselho, constituído de príncipes, submetidos a Moscou e outras famílias
latifundiárias, o Conselho dos Latifundiários, que lutou para limitar o poder do czar. Ivan o
Terrível, se destacou pela maneira feroz com que defendia o poder do Estado, reprimindo os
poderes do Conselho. A política adotada por Ivan era planejada, subordinando a antiga
aristocracia ao Estado, o que a abalou e empobreceu. Com a aristocracia dividida entre
grandes famílias, se inicia o Período das Perturbações de 1603 a 1613.

A Rússia do século XVII, tem o Conselho dos Latifundiários, reconhecido como


órgão assessor do czar, mas não capaz de frear o poder constitucional do mesmo. Os membros
passaram a serem escolhidos entre os grandes proprietários de terra, a família do czar e
pessoas de classe média, que atuavam nas finanças públicas e no corpo diplomático. Assim o
Estado volta ao controle, abrindo caminho para Pedro o Grande e sua obra, o “czar
reformista”, que reinou de 1682 a 1725.

“A crescente ampliação da burocracia estatal e a necessidade de aumentar o


controle do Estado sobre a sociedade civil russa levou à formação do
Departamento de Assuntos Secretos, vinculando à Chancelaria do czar (1655),
minando a importância do Conselho dos Latifundiários, que se convertera num
conselho ministerial indeterminado.” (TRAGTENBERG, 2007. p. 18).

As reformas empreendidas não obedeciam a nenhum plano preestabelecido, ocorriam


de maneira caótica e sob a pressão do momento, esforçavam em arrumar recrutas, mais
recursos econômicos e munições. Era uma pretensão de Pedro o Grande transformar o
czarismo em uma monarquia absoluta, aos moldes da Europa, sem ter que responder por seus
atos a ninguém. Criou um exército ao estilo ocidental, que aproximou o czarismo ao
militarismo. Diferentemente de seus antecessores Pedro o Grande, aparecia diante do povo
usando roupas militares e ou de operários e não a pompa de imperadores bizantinos. Assim
após Pedro o Grande, a Europa e Ásia, podiam contar com a Rússia, entre as grandes
potências.

Pedro o Grande, escolhia muitos de seus assessores entre as pessoas malnascidas e


estrangeiras, para desmobilizar a aristocracia latifundiária. Para a nova escala de status e os
novos colégios, os secretários eram recrutados entre homens de serviço da classe média,
pequenos proprietários de terras provinciais ou vindos de Moscou. De acordo com
Tragtenberg, Pedro o Grande “... transformou a antiga burocracia moscovita num instrumento
indispensável ao funcionamento da máquina do Estado russo.” (TRAGTENBERG, 2007. p.
20).

Segundo o autor, a terceira grande reforma administrativo-política realizado por


Pedro o Grande, foi o estabelecimento do Senado, com nove senadores, nomeados pelo
próprio czar, para em sua ausência, em incursões militares e viagens ao exterior, terem
poderes de governo quase que totais. Mas esse Senado, sofre alterações com Alexandre I, em
sua terceira reforma, assim como o Conselho de Estado e também a substituição dos colégios
por ministérios, com a liderança de um ministro nomeado pelo czar.

No século XVIII, um pequeno círculo de pessoas detinha o poder decisório supremo


na Rússia, conhecido como Supremo Conselho Secreto, Gabinete Imperial, Conferência de
Ministros ou Conselho de Estado, presidido pelo Procurador Geral. Já no século XIX, foram
criados para que as decisões fossem distribuídas entre si, o exército, ministério do Interior e
ministério da Fazenda, e conselhos imperiais, com os governadores gerais e vice-reis da
Polônia, Nova Rússia, Transcaucásia e Ásia. Após Pedro o Grande, os czares usaram
frequentemente dos órgãos colegiados.

O nível de instrução dos funcionários, sob o governo de Catarina a Grande e


Alexandre I cresceram muito entre os mais graduados. Houve um grande progresso em
relação a estrutura ultracentralizada que predominava anteriormente. A reorganização do
governo central se deu por Speranski e do cientista Paulo V, de 1802 a 1811. Speranski
estabeleceu delimitações entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, pois a falta dessa
delimitação provocou irresponsabilidade e tirania na Rússia. Direitos do Estado opostos aos
direitos dos indivíduos. As reformas, feitas com grande particularidade, para substituir o
antigo sistema, vinda de uma prática forense anglo-francesa, em 1864. Novos tribunais, foram
estabelecidos, que atuavam de maneira simples e eficiente, com juízes inamovíveis e na área
rurais era juízes eleitos e os processos eram de tramitação pública, onde todos os cidadãos
tinham acesso.

O domínio do Estado policial, que era comum ao czarismo, durante os últimos 50


anos, como controle do seu povo e também dos desmandos da sua própria burocracia de
Estado, onde o soberano é isento de qualquer limite formal ou controle jurisdicional, acabou
se estendendo sob Nicolau I, que acabou rompendo o muro de papel existente entre ele e o
povo, chegando assim, a voz do povo ao trono. Esse Estado policial, também se desenvolveu
sob Nicolau II, com a antiga política de uniformidade, política governamental, integração ao
Império de outros territórios europeus como territórios polacos e da Finlândia e governa-los
de acordo com o modelo russo ou respeitando os costumes locais.

Essa campanha centralizadora e uniformizadora, teve seu principal resultado em


1905, e em 1917, onde o processo de russificação, imposição da cultura russa sobre outras
culturas, se estendeu aos povos não-russos do Império, minando os direitos do liberais e
revolucionários russos. O patriotismo grão-russo, não foi um fenômeno superficial, que um
decreto em 1917, o fizesse desaparecer.

A emancipação dos servos veio junto com a revolução comercial, industrial e


financeira, com Alexandre I. Os ex-servos se tornaram cidadãos, mas sujeitos a impostos de
capacitação e à prestação de serviço militar, como recrutas. Esses se tornam um problema de
caráter nacional a ser cumprida pelo governo central e pelos poderes locais. Nos anos de 1860
a 1914 a Rússia é transformada pela revolução econômica. A economia russa sofre uma
rápida transformação, com o desenvolveu o transporte ferroviário, a rede telegráfica,
telefônica e o controle do Estado sobre a sociedade nacional russa. Ligada aos setores de
ponta, o Estado como grande consumidor, a indústria russa expande-se com subsídios estatais
e proteção aduaneira.

Tragtenberg, (2007, p. 26 - 27) evidência...

“O desenvolvimento russo encontrava obstáculos na burocracia. Ela impedia a


formação e desenvolvimento de uma classe capitalista forte e independente. Embora
dependesse do Estado, a burguesia russa tinha uma visão clara desses obstáculos
representados pela rotina burocrática estatal; [...] “É hora de tomarmos
conhecimento do fato de que uma indústria europeia não pode prosperar num clima
de analfabetismo e ignorância quase universal e ausência quase total de
independência econômica. É hora de compreendermos que o complexo mecanismo
de desenvolvimento industrial não pode ser dirigido a partir de um centro único”.”

Diante disso, vemos o descontentamento da população da Rússia, que mantinha suas


estruturas muito atrasadas, com relação ao resto do mundo, devido a corrupção, ao arbítrio e à
ineficiência.

A servidão teve suas origens, fundadas no costume, em normas de direito privado e


édipos governamentais, sempre sobre o amparo do Estado, aparecendo entre os séculos XVI e
XVII. Constituiu a base fundamental da sociedade russa, sem código e nenhuma legislação
que regulasse, os direitos e deveres dos senhores e servos. Com o passar do tempo o poder dos
senhores sobre os servos se ampliou, estabelecendo a servidão hereditária, essa legalmente
reconhecida e registrada.

No que tange a colonização, já mostramos a importância que teve o movimento das


populações para a história russa. As fugas de camponeses, que compreendeu um século, por
diversos motivos, como o não aceitar a submissão ao novo proprietário, a busca por terras nas
novas fronteiras, pelo sonho de acumular fortunas nas terras selvagens ou simplesmente para
aumentar o número de vagabundos. A servidão que vigorava na Rússia não estava vinculada
ao princípio feudal, como na França e na Inglaterra, onde não havia nenhuma terra sem
senhor. Diferentemente na Rússia a povoação era escassa e espalhada.

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