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Vamos estudar o Diretório?

Série Diretório da Pastoral Familiar — l

A atenção à morte de João Paulo II — o Papa da Família — e a necessidade


de abrirmos aqui o espaço para especial homenagem ao Dia das Mães foram os motivos que nos levaram a adiar a
promessa, feita na edição 3510 (l l—20/4/05), de oferecer, nesta página, um pequeno comentário, capítulo por
capítulo, sobre o Diretório da Pastoral Familiar.

Aprovado pela 42a Assembléia Geral da CNBB (2004), o texto foi enviado a Roma para a apreciação e
apoio do Pontifício Conselho para a Família. Enfim, após longa expectativa, o Diretório foi publicado
recentemente pelas EDIÇÕES PAULINAS, na Coleção DOCUMENTOS da CNBB (n° 79 da série azul).
Encontra-se disponível nas livrarias, tanto para os agentes da Pastoral Familiar quanto para as pessoas interessadas
em conhecer e aprofundar as propostas que a Igreja no Brasil faz para a complexa e desafiadora realidade familiar.

Uma motivação para o estudo


É bom que fique bem claro que nosso propósito não é o de aprofundar aqui o conteúdo do Diretório de tal
forma que os leitores se julguem dispensados do contato direto com o texto publicado pela CNBB. Pelo contrário,
nossa intenção, ao comentar tal documento, é motivar o maior número possível de pessoas — agentes da Pastoral
Familiar, grupos de casais e membros dos movimentos de espiritualidade familiar, coordenadores das diversas
pastorais, membros dos conselhos paroquiais, equipes de preparação de noivos, jovens sonhadores com um projeto
de família cristã, pais e mães de família em geral, enfim, todos os católicos
— para que possam descobrir no Diretório da Pastoral Familiar as luzes e orientações para uma ação mais eficaz
em favor da família. "Acreditar na família é construir o futuro" — apostava João Paulo II. Esta aclamação à
família, feita em discurso na festa das famílias italianas, dia 20 de outubro de 2001, por ocasião dos 20 anos da
Familiaris Consórtio, se multiplicou mais tarde em "Investir na família é construir o futuro!" Ou ainda: "Família: o
maior e o melhor investimento do milênio!". Em sua Mensagem ao IV Encontro Mundial das Famílias, em Manila,
Filipinas, em janeiro de 2003, o Papa anunciou: "A família cristã é uma boa nova para o Terceiro Milênio!" Com o
convite — "Família, torna- te aquilo que és!" — João Paulo II pediu às famílias do mundo inteiro que encontrem
de novo em si mesmas a própria verdade e a realizem no mundo.
É com esta mesma convicção que somos convidados a encarar o estudo do Diretório da Pastoral Familiar
que a CNBB quer fazer chegar às mãos de quantos estão apostando num futuro melhor para a família. É verdade
que uma leitura individual do documento pode ser interessante. Mas será melhor e mais produtiva ainda quando
feita em grupo.
O estudo em conjunto facilita a compreensão, permite o debate, ajuda a perceber detalhes não muito claros
à primeira vista e a enxergar a proposta com vários olhos e sob múltiplos aspectos. Mais ainda: o estudo em equipe
vai permitir que, na hora de traduzir as sugestões do Diretório para a vida prática, as coisas possam ser mais
facilmente concretizadas.

Diversos níveis de caminhada


Imagina-se que. entre tantos frutos que se esperam desse Diretório, um deles seja a implantação da Pastoral
Familiar nas paróquias onde ainda não existe. Outro fruto poderá ser a melhor organização ou a consolidação desta
Pastoral nos lugares em que ela foi apenas iniciada. Outro fruto, ainda, poderá ser que muita gente venha a
compreender que Pastoral Familiar vai bem além dos limites e propostas de um movimento de espiritualidade
familiar.
Através de conversas e informações de diversos agentes de pastoral — leigos, religiosos(as), padres e
bispos — pudemos constatar diversos níveis de caminhada em relação à Pastoral Familiar:

• paróquias e/ou dioceses que têm uma Pastoral Familiar bem organizada e consolidada, fruto de vários anos de
trabalho e de empenho por parte de leigos, padres, religiosos e bispos;
• paróquias e/ou dioceses em que o trabalho foi iniciado; outros passos precisam ser dados para a consolidação;
• é grande o número de paróquias e/ou dioceses em que existe bom trabalho pastoral feito por movimentos de
espiritualidade familiar, mas com os horizontes dentro do próprio movimento, sem caminhar para a implantação da
Pastoral Familiar;
• alguns padres e agentes de pastoral familiar; cheios de boa vontade até, tentam uma Pastoral Familiar a seu
modo, num horizonte menor, sem vinculação com a proposta da Pastoral Familiar da CNBB;
• parece ser grande o número de agentes de pastoral que sentem falta e estão em busca de orientação clara e segura
para a implantação da Pastoral Familiar em suas paróquias;
• outro caso, ainda, é o daqueles, padres e leigos que até então não sentiram necessidade ou não perceberam a
importância da Pastoral Familiar como resposta aos grandes desafios da realidade familiar. Estes são alguns dentre
os muitos níveis de caminhada em relação à Pastoral Familiar praticada em nossas paróquias ou dioceses.É
evidente que o Diretório da Pastoral Familiar, na medida em que for assumido e estudado em conjunto por todos
— párocos., conselhos de pastoral, coordenações das diversas pastorais e agentes da Pastoral Familiar —, vai
transformar esta pastoral, relativamente nova em nosso país, num "investimento altamente compensador", no dizer
de João Paulo II. "Quando a família vai bem, tudo vai bem; quando a família vai mal, o mundo corre perigo" —
confirma a sabedoria do povo.

Por que um Diretório?

Diversidade de práticas e orientações

Por que um Diretório? Na INTRODUÇÃO, queremos destacar alguns pontos. De início, o documento
lembra que a Pastoral Familiar, enquanto trabalho planejado e organizado, é experiência relativamente nova no
Brasil, com pouco mais de dez anos. Mas tempo suficiente para provocar muita reflexão e inúmeras iniciativas de
resposta aos desafios surgidos em torno da realidade familiar.
Os fatores que apontaram para a urgência de um Diretório para a Pastoral Familiar foram justamente as
práticas pastorais e orientações diversificadas, não só no âmbito das dioceses, mas também das paróquias,
movimentos e organizações familiares, tanto por parte dos agentes de pastoral quanto dos próprios pastores.
Exemplos dessa diversidade são as formas de preparação, para o sacramento do matrimônio, a participação dos
casais em segunda união ou dos casados só no civil, e as orientações sobre o planejamento familiar.

Oferecer diretrizes para a ação pastoral


Um Diretório se faz necessário diante de tal universo de iniciativas e ações pastorais. Há muito sente-se a
urgência de diretrizes claras e adequadas, que indiquem pistas concretas para a evangelização das famílias. O
Diretório deve ser ressaltado, levando-se em conta o papel da comunidade conjugal como princípio e fundamento
da sociedade humana.
A família cristã tem relevância singular, tanto para a Igreja quanto para a
sociedade civil. Se podemos dizer que "o futuro da humanidade passa pela família" (João Paulo II), é
indispensável que cada pessoa de boa vontade se empenhe em fortalecer e promover os valores familiares.

Iniciativas eficazes já existentes


A Pastoral Familiar busca dinamizar uma ação pastoral que brota do coração amoroso de Deus, que a todos
acolhe e a todos com amor orienta. Embora já possua uma certa estruturação e caminhada, essa Pastoral encontra-
se diante de muitos aspectos ou situações que exigem definições claras, objetivas e mais adequadas.
Como exemplos de iniciativas já existentes em diversas paróquias, e dioceses do Brasil, o Diretório cita: Encontros
para noivos; Encontros para adolescentes e jovens; Congressos e Encontros de casais, promovidos por diversos
movimentos; atendimento e orientação a famílias carentes nas zonas rurais, ribeirinhas, marginalizadas; abertura
— ainda que incipiente — aos casados só no civil e aos casais em segunda união; celebração da Semana Nacional
da Família, do dia das mães, dos pais, da criança, da mulher, da vida; Natal em família e na comunidade;
acompanhamento e apoio às famílias, aos jovens, às crianças em dificuldades; Centros de Orientação e
Atendimento Familiar; Institutos e Escolas de Família;
orientações e formação sobre o Planejamento Familiar responsável; Pastoral da Visitação e da Acolhida;. SOS
Família; Consultórios Familiares; Associações de Famílias Cidadãs, etc.
Muito ainda resta a fazer
Embora seja grande a lista do que já se faz em prol da família pelo Brasil afora, o Diretório lembra que
muito ainda resta a fazer. Por exemplo: • promover uma preparação mais adequada ao matrimônio, pois muitos
"Cursos de Noivos" estão desatualizados; a própria celebração litúrgica do matrimônio é, em alguns aspectos,
pouco aprofundada;
• divulgar, pêlos veículos de comunicação social, o matrimônio e a família cristã como lugares próprios de
felicidade e de santificação:
• oferecer às famílias um serviço de discernimento vocacional para os que as integram;
• divulgar e tornar acessíveis a todos os documentos oficiais da Igreja e o riquíssimo Magistério Pontifício sobre a
esplêndida realidade de uma família cristã:
• disponibilizar acompanhamento de qualidade a mães e pais solteiros, a adolescentes grávidas, a filhos de pais
separados ou em segunda união e famílias nascidas de uniões livres e de fato;
• atender às famílias marcadas pela violência intra-familiar, passiva e ativa, causada principalmente pelo
alcoolismo, pelas drogas e abusos sexuais — especialmente contra as crianças e adolescentes;
•prestar auxílio às famílias cujas precárias condições de vida as obrigam a grandes sacrifícios para sobreviver.

Formar agentes e promover voluntários


E preciso também, decididamente, investir na formação de agentes, em especial daqueles que se dedicam
ao aconselhamento familiar ou de casais que querem adotar crianças; também dos especialistas em bioética e em
políticas públicas familiares.
Outra proposta do Diretório é a promoção do voluntariado, para aproveitar
melhor os recursos humanos existentes nas comunidades: psicólogos, assistentes sociais, membros dos conselhos
tutelares, enfermeiros, pedagogos, médicos, advogados e outros profissionais.
Sugere-se também incentivar a colaboração das escolas, universidades e meios de comunicação social na
promoção dos valores familiares. É preciso ainda dispensar especial atenção à formação dos seminaristas, ao
acolhimento e formação das famílias reconstituídas, das famílias dos migrantes, dos viúvos, etc. Enfim, espera-se
de todos — diocese, paróquias, comunidades, famílias — uma recepção criativa do Diretório. Há situações
familiares específicas em que o Evangelho deve ser anunciado e vivido. Pistas pastorais indicadas poderão ser
assumidas, experimentadas, enriquecidas e executadas com peculiaridade e singular eficácia.

Necessidade de conhecer a situação


O capítulo í do Diretório aponta para luzes e sombras que envolvem a realidade familiar nos dias de hoje,
exigindo respostas pastorais concretas. A família, que desempenha uma função concreta e fundamental na
sociedade, e alvo de numerosas forças que a procuram desestruturar e destruir. É preciso conhecer essa realidade,
para que se possa proclamar a todos os desígnios de Deus sobre o matrimônio e a família. O Diretório se vale da
análise feita pela Exortação Apostólica Familiaris Consórtio, de João Paulo II, para mostrar os aspectos positivos e
negativos da situação familiar. Pelo lado positivo, "existe uma consciência mais viva da liberdade pessoal e maior
atenção à qualidade das relações interpessoais no matrimônio, à promoção da dignidade da mulher, à procriação
responsável, à educação dos filhos; há, além disso, a consciência da necessidade de que se desenvolvam relações
entre as famílias por uma ajuda recíproca espiritual
e material, a descoberta da missão eclesial da própria família e da sua responsabilidade na construção de uma
sociedade mais justa".
Do outro lado, o negativo, a Familiaris Consórtio afirma que "não faltam sinais de degradação preocupante
de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si, as
graves ambigüidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos: as dificuldades concretas que a família
muitas vezes experimenta na transmissão dos valores: o número crescente de divórcios: a praga do aborto, o
recurso cada vez mais freqüente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade
contraceptiva. Merece também, a nossa atenção o fato de que, nos países do assim chamado Terceiro Mundo,
faltem muitas vezes às famílias quer os meios fundamentais para a sobrevivência, como o alimento, o trabalho, a
habitação, os medicamentos, quer as mais elementares liberdades. Nos países mais ricos, pelo contrário, o bem-
estar excessivo e a mentalidade consumista, paradoxalmente unida a uma certa angústia e incerteza sobre o futuro,
roubam aos esposos a generosidade e a coragem de suscitarem as vidas humanas. A vida é muitas vezes entendida
não .como uma bênção, mas como um perigo de que é preciso defender-se". (Familiaris Consortio,6)
As mudanças sociais e sua repercussão na família
O Diretório procura mostrar como as transformações técnicas e sociais propiciam a formação de uma nova
cultura que influencia nos hábitos, valores, costumes e comportamentos, Tantas mudanças repercutem no modo de
ser e de viver da família, provocando sua desintegração, aumentando a violência dentro e fora de casa, facilitando
o divórcio e o abandono do lar. Acrescente-se a tudo isso a fragilidade das políticas sociais de trabalho, moradia,
saúde, educação, assistência e cultura; a proliferação de moradias precárias; o relativismo religioso, ético e
cultural; a migração desordenada e forçada. A família vem perdendo gradativamente sua força como fator de
integração social. Com a globalização, que reduz a distância entre os povos, os indivíduos se tornam mais
próximos e mais distantes. A globalização repercute na ética, na economia, na cultura, na religião. E ambivalente:
tanto pode reforçar o processo da unidade, servir à família, quanto contribuir para a degradação do ser humano.

O impacto do secularismo e do indiferentismo religioso sobre a família


O secularismo torna freqüente o abandono dos valores morais, gerando a desestruturação da família e uma
mentalidade anti-vida. Os meios de comunicação social destacam a violência, o hedonismo, a pornografia e o
materialismo prático, que contrariam os valores familiares e estimulam práticas antiéticas. Emergem vários
modelos de contrato nupcial, uniões livres, homossexualismo, prostituição, rompimento do vínculo conjugal ainda
nos primeiros anos de matrimônio. Crescem as chamadas "produções independentes" e o número de mães
(adolescentes) solteiras, de pais solteiros (a maioria sem responsabilidade e compromisso com a
mulher e o filho), etc.
O secularismo, que estabelece uma oposição entre os valores humanos e divinos, julga Deus supérfluo e
embaraçante. "Em conexão com este secularismo ateu, nos é proposta, todos os dias, sob as formas mais diversas,
uma civilização do consumo, o hedonismo erigido em valor supremo..." O Diretório chama a atenção para o fato
de que o comportamento pessoal fundado no secularismo ou na indiferença religiosa pode produzir — como grave
conseqüência para a sociedade e para a família — uma conduta social baseada no relativismo ético. Sem
escrúpulos, vigora, mais e mais, a ética da situação, do momento, do sentimento, frutos de um subjetivismo
exacerbado. Impera a moda do "você decide!", do "eu acho".

Diretrizes para a ação pastoral diante dos desafios


É nesta realidade desafiadora que os cristãos são chamados a ser "luz do mundo e sal da terra",
impregnando a cultura com os valores evangélicos. Diante das mudanças ocorridas na sociedade nos últimos anos
e dos conseqüentes desafios, são necessárias respostas adequadas. Cabe à Igreja defender com vigor a identidade
da família, para que não caia na tentação de se deixar dominar por pseudo-valores. Com uma adesão pessoal e
livre a Jesus Cristo e ao Evangelho, as pessoas encontrarão na família, "Igreja doméstica", o ambiente para a sua
realização plena.
Face a tamanhos desafios, tornam-se urgentes os serviços da Pastoral Familiar. Porém, o capítulo l do Diretório
termina com esta recomendação: "Haja um cuidado especial para que não se improvise uma Pastoral Familiar."

O Capítulo 2

Conceito e finalidades do Matrimônio — é o mais longo (49 páginas) e um dos mais importantes de nosso
Diretório. O breve espaço desta página não nos permite passar aos leitores um resumo que contemple todos pontos
importantes do capítulo. Acenaremos hoje para algumas idéias principais contidas em sua primeira parte,
prometendo continuar o tema "Conceito e finalidades" na próxima edição.

Obra predileta de Deus


O capítulo 2 do Diretório começa afirmando que o matrimônio e a família são a obra predileta de Deus.
Homem e mulher foram criados como efusão do amor de Deus criador. Deus amou-os infinitamente e lhes deu
uma vocação ao amor e à comunhão. A família, conseqüência dessa vocação, é dentre todas as suas obras,
a obra predileta de Deus nesse seu projeto de amor. Ela, portanto, não é criação humana, nem do Estado, nem da
Igreja. É obra de Deus. É constitutivamente ligada a natureza do homem e da mulher, para o bem e a felicidade
pessoal, da sociedade e da Igreja. Homem e mulher são vocacionados a realizar esse projeto de amor. São
chamados a uma aliança com seu Criador. Diante de tamanha proposta de amor, devem oferecer-lhe uma resposta
de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar. E preciso conhecer esse projeto de amor para que todos
queiram dele participar e possam corresponder ao sonho de Deus.

Criados para amar


Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, chamando-os à existência por amor e para
amar. Colocou-os no centro da criação, com suas diferenças e semelhanças, mas com igual dignidade. Só o ser
humano é capaz de conhecer e amar o seu Criador; é a única criatura da terra que Deus quis em si mesma; só ele é
chamado a compartilhar, pelo conhecimento e o amor, a vida de Deus. Foi criado para esta finalidade e aí reside a
razão fundamental de sua dignidade. No ser humano está impressa a imagem de Deus-Trindade, que é
essencialmente comunhão de amor, da qual o ser humano é chamado a participar.
O amor é, pois, a fundamental vocação do ser humano. A unidade da Trindade é a unidade de comunhão. Homem
e mulher são chamados a viver essa unidade numa comunhão de amor, por meio do dom sincero de si mesmos.
Jesus Cristo, por sua morte e ressurreição, introduziu nossa humanidade no seio da própria Trindade, consumando
em plenitude nossa vocação ao amor, que encontra sua significação especifica no matrimônio.

Projeto de Deus desde a criação


O Diretório insiste no fato de que o matrimônio é projeto de Deus desde a criação do homem e da mulher,
mesmo antes de ter sido elevado por Cristo à dignidade de sacramento. Por isso, enfatiza o Diretório, o
matrimônio natural tem propriedades e finalidades que são essenciais tanto para os cristãos como para os não-
cristãos.
Esta verdade sobre o matrimônio natural tem conseqüências profundas tanto para os católicos quanto para os não-
católicos. Por exemplo, os argumentos para a indissolubilidade do matrimônio em face do divórcio, a finalidade
procriativa do matrimônio, as questões relativas aos anticoncepcionais, à esterilização, à inseminação artificial, à
"clonagem" de seres humanos etc. A defesa que a Igreja faz dos valores do matrimônio cristão aplicase
inteiramente a todo matrimônio natural, porque são valores comuns a todo o gênero humano e que estão a serviço,
acima de tudo, da dignidade humana.
O Diretório cita o Código de Direito Canônico, que nos oferece um conceito simples e útil do matrimônio:
"a aliança matrimonial pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão para a vida toda é
ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e à educação da prole; esta aliança foi elevada,
entre os batizados, à dignidade de sacramento".

As finalidades do matrimônio
Não existe nenhuma instituição social ou jurídica que esteja tão estreitamente vinculada à natureza humana
e à lei natural quanto o matrimônio e a família. O matrimônio intimamente ligado ao instinto sexual, bases naturais
são a diferença de sexos e a atração física, afetiva e psicológica entre o homem e a mulher. O instinto sexual tende
satisfazer-se de forma heterossexual, tendo como resultado a procriação que perpetua e multiplica a espécie. Mais
do que uma complementação puramente biológica, a união do homem mulher consegue uma "integração"
completa — afetiva, intelectual, espiritual e vital - dos valores da virilidade e da feminilidade, os constituir uma só
carne. Os filhos são o fruto natural dessa união. São a encarnação visível da unidade do homem e da mulher,
vinculados pelo matrimonio: são "dois em um só carne". Levam, gravada na sua personalidade, a união
psicobiológica dos seus progenitores. E dessa forma a família humana se
conserva e se perpetua. Além do crescimento biológico, há também o crescimento psíquico e sociológico novo ser
nasce no grupo familiar, onde cresce e se capacita
para a sociedade. Só a geração não é suficiente. Sem a educação, a geração é um ato imperfeito. Geração e
educação são funções complementares. Ouçamos a Bíblia: "Deus criou o homem, à sua imagem e criou-os homem
e mulher; e os abençoou dizendo-lhes: Sede fecundos, multiplicai- vos, enchei a terra e submetei-a. (Gn l, 27-28.)
"Não é bom que o homem, esteja só; dar-lhe-ei uma auxiliar que lhe será semelhante. [...] Por isso deixará o
homem seu pai e sua mãe para unir-se à sua mulher, e serão os dois uma só carne." (Gn 2, 18.24.) Eis as duas
grandes finalidades do matrimônio: de um lado, a satisfação sexual, a união esponsal e o amor; e, de outro, a
geração e a educação dos filhos.
A satisfação sexual e o amor
As duas grandes finalidades do matrimônio são: de um lado, a satisfação sexual, a união esponsal e o amor;
e, de outro, a geração e a educação dos filhos. O Diretório mostra que a inclinação afetiva tem uma natural
tendência heterossexual, na qual reside a condição da complementaridade plena, tanto em sua dimensão corpóreo-
sexual, como na sua profundidade pessoal, afetiva e espiritual. A satisfação sexual é, pois, etapa de uma função
mais elevada. A pessoa é uma unidade psicossomática. Todos os aspectos, corporais e espirituais, devem ser
orientados para a comunhão plena de duas pessoas, de duas vidas. Quando se dá esta união integral, que partindo
do sexual chega até o religioso e espiritual, realmente se realiza esta comunhão da vida toda. Aí está o verdadeiro
significado do matrimônio. As dimensões ou níveis mais profundos de vivência do amor e da sexualidade não
anulam a dimensão biológica, hormonal ou erótica. Tais valores são integrados numa ordem superior, realizando a
comunhão plena do casal.

Paternidade e maternidade responsáveis


Para a Igreja o aspecto unitivo do ato conjugal está inseparavelmente unido ao aspecto procriativo, que é
fundamental para a propagação da espécie. A dimensão da fecundidade é participação na própria fecundidade de
Deus, autor da vida. Assim, a entrega corporal se torna símbolo de uma entrega mais profunda e plena: a própria
vida compartilhada para sempre. Mais do que instinto, a paternidade é uma altíssima vocação que deve ser vivida
com responsabilidade. A paternidade responsável é exercida tanto com a deliberação ponderada e generosa do
casal de ter mais um filho, como a decisão por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar
temporariamente ou por um tempo indeterminado um novo nascimento. Quanto aos métodos de regulação da
natalidade, o Diretório reafirma o ensinamento da Encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, que considera
ilícitos os métodos anticoncepcionais não naturais. "Se existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que
derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstancias exteriores, a Igreja ensina que
então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradores, para usar do matrimônio.nos
períodos infecundos e, deste modo, reguiar a natalidade sem ofender os princípios morais que acabamos de
recordar. A Igreja é coerente consigo própria quando assim considera lícito o recurso aos períodos infecundos, ao
mesmo tempo que condena sempre como ilícito o uso dos meios diretamente contrários à fecundação, mesmo que
tal uso seja inspirado em razões que podem parecer honestas e sérias." (HV, 16.)

Os métodos naturais de regulação da natalidade


A Igreja aprova e admite, por motivos sérios, como perfeitamente moral a continência periódica, os
métodos de regulação da natalidade baseados na auto-observação e o recurso aos períodos infecundos. A
justificativa é de que estes métodos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura entre eles e favorecem a
educação de uma liberdade autêntica. O Diretório, sem pretender fazer uma exposição exaustiva dos Métodos
Naturais, cita os mais conhecidos e eficazes: o Método da Temperatura Basal, o Método da Visualização da Saliva
no Microscópio e, especialmente, o Método da Ovulação Billings. Este Método é atualmente o mais usado.
Consiste na observação dos dias férteis femininos e na abstinência do ato conjugal nestes dias. Aparece como de
altíssima eficiência. Segundo o Diretório, a Organização Mundial da Saúde lhe outorga no Brasil o índice de 99%
de eficiência. Alguns centros' de planejamento familiar ensinam a combinar o Método Billings com o da
Temperatura Basal e o da Visualização da Saliva no Microscópio.utilizando um aparelho simples de uso escolar.
Este sistema confere uma segurança que se aproxima de 100% de eficácia. Com respeito ao aborto, em todos os
casos ele representa uma incoerência científica e uma incongruência ética. O ventre materno tem de ser
o lugar mais seguro para o nascituro, que tem o direito inalienável à vida.

Desafios e orientações pastorais


Como desafios, a Igreja alerta para o perigo da fecundação artificial, da clonagem e da "produção
independente", por meio da inseminação e da fecundação artificiais. O Diretório aponta, ainda, o fato de
adolescentes e jovens se iniciarem prematuramente numa sexualidade que nada tem a ver de humano e cristão; a
preservação em massa dos preservativos; os poderosos e inescrupulosos interesses econômicos em torno do
aborto. Entre as diretrizes pastorais, há sugestões como: a) oferecer orientação honesta e eficaz sobre a fecundação
responsável; b) manter a preocupação pastoral de promover e defender a vida; c) conscientizar os pais e todos os
cristãos de que os filhos são uma bênção; d) convidar assessores com formação teológica bem como cientistas e
casais cristãos bem preparados e fiéis à Igreja para colaborarem com os bispos e as coordenações pastorais; e)
desenvolver programas de difusão dos métodos naturais para o planejamento da fertilidade conjugal; f) ensinar de
forma clara a doutrina da Igreja sobre esta questão; g) denunciar a prática - generalizada do aborto no país; h)
esclarecer a questão das "células-tronco" e o seu uso para fins terapêuticos; i) outros.

A educação dos filhos


O longo capítulo 2 do Diretório — Conceito e finalidades do matrimonio — deixou claro que as duas
grandes finalidades do matrimonio são: a) a satisfação sexual, a união esponsal e o amor b) a geração e a educação
dos filhos. A primeira finalidade amplamente contemplada no capítulo 2, será retomada mais adiante. Nosso
propósito, hoje, é passar aos leitores interessados as idéias centrais das 32 páginas do capítulo 3 do Diretório da
Pastoral Familiar — A educação dos filhos -, componente da segunda finalidade do matrimônio. Educar filhos é
arte e desafio. Mas é também participação especial na obra criadora e salvadora de Deus.

Direito e dever de educar


O direito de procriar gera o direito e o dever de educar, Sem a educação a geração é um ato incompleto,
imperfeito. "Os pais são os primeiros e principais educadores, e a família, a primeira escola de virtudes." (João
Paulo II — Familiaris Consortio, 36.) O destino de toda a pessoa é ser feliz. Os pais comunicam aos filhos a vida
e, através da educação, o seu sentido último: encontrar na união eterna com Deus a sua felicidade plena. A
fecundidade do amor conjugal se prolonga na educação moral e formação espiritual dos filhos. Procriação e
educação são dimensões complementares. Esse dever educativo, fundado no sacramento do Matrimonio, é um
verdadeiro "ministério" na Igreja. A importância e o esplendor desse ministério são tão grandes que Santo Tomás
"não hesita em compará-lo ao ministério dos sacerdotes"

Dificuldades para a educação hoje


O Diretório enumera uma série de obstáculos que a realidade em que vivemos apresenta para a
concretização do direito-dever de educar os filhos de acordo com a sua dignidade humana e cristã: a) A
mentalidade corrente do "sempre levar vantagem", impregnada de práticas antiéticas, dificulta uma educação
baseada em princípios cristãos. Os pais, com seu mau exemplo, ensinam os filhos a desrespeitarem regras e
direitos que garantem o bem comum. b) A ausência do pai (e da mãe) contribui para a deficiência da educação. c)
Há pais que delegam a responsabilidade da educação dos filhos para terceiros. Transferem para instituições
educacionais, públicas ou particulares, sem conhecer a proposta pedagógica dessas instituições e, às vezes, não
acompanham a evolução formativa da criança. d) Há uma cultura que "banaliza" a sexualidade humana,
interpretando- a e vivendo-a de maneira limitada e empobrecida, reduzindo-a unicamente ao corpo e ao prazer
egoístico. e) A indústria de filmes e videogames, a Internet e muitos programas televisivos e radiofônicos com
freqüência veiculam e divulgam a violência, o crime, o terror, o erotismo e o consumismo. f) Em geral, o aparelho
de TV ocupa o lugar central da das casas. Essa "babá eletrônica" tanto educa quanto deseduca. As famílias, quase
sempre, aceitam passivamente a "manipulação subliminar" que as vão tornando vítimas dos contravalores
veiculados na TV. g) A TV e o computador podem fortalecer o individualismo que abafa o desenvolvimento dos
valores essenciais para a vida da comunidade. A TV impõe uma cultura global em prejuízo das culturas locais e
regionais.

Princípios educativos fundamentais


O Diretório aponta alguns princípios educativos: a) A educação deve ser solidária. A tarefa educacional
precisa ser assumida por pai e mãe. Os dois procurem agir juntos e falar a mesma linguagem. Um não pode dizer
um sim a um filho quando o outro já disse um não. A firmeza e a disciplina própria do homem (pai) devem se unir
à ternura e amabilidades próprias da mulher (mãe) para formar o princípio educador único. Não discutir diante dos
filhos sem a devida reserva. Os filhos têm o direito de encontrar nos pais essa solidariedade perfeita e essa unidade
completa de sentimentos. ) A psicologia mostra que até os seis anos a personalidade da criança já está formada.
Depois vai ser desenvolvida. Mostra ainda que, quando o pai se omite, muitas falhas surgem na formação dos
filhos, tanto meninos quanto meninas. c) O marido deve compreender que, se ele trabalha o dia inteiro, a esposa
também trabalha. O lar não é apenas um lugar de descanso, mas um centro formador de convivência e uma escola
dos mais altos valores. O pai, nessa tarefa, é um elemento essencial e insubstituível. d) Os filhos têm o direito de
encontrar nos pais a coerência entre as palavras e as atitudes de cada um. Pais honestos ensinam a honestidade.
Pais verdadeiros ensinam a verdade. O melhor educador é o exemplo. A melhor forma de educar é a vivência dos
pais. Com seu exemplo, os pais são os melhores mestres dos filhos.
e) Os filhos têm também o direito de que seus pais se mantenham unidos. Por outro lado, os filhos são fator de
enriquecimento da integração dos pais. f) Quem tem fé e alegria educa melhor. A fé que existe no lar arrasta, ajuda
a criar o clima de alegre serenidade e fraternidade. Incentiva o otimismo e o bom humor. g) As crianças e os
jovens devem aprender em casa as verdades fundamentais da fé. Evangelizar os filhos não é atentar contra a sua
liberda-de: é dar-lhes o melhor que se tem. A catequese paroquial não dispensa os pais de iniciar seus filhos na fé.
h) A tarefa educacional dos pais em família deve estar aberta a uma parceria com a escola, pública ou privada.

A educação afetiva e sexual


A parte final do capítulo 3 do Diretório mostra que a educação sexual e afetiva dos filhos é um dever
fundamental e irrenunciável dos pais. Nessa matéria, é melhor antecipar-se do que atrasar. A Igreja reconhece que
é uma missão nada fácil; por isso, quer contribuir nessa tarefa e apontar critérios que devem nortear os pais na
educação afetiva e sexual. E fundamental mostrar o sentido positivo da sexualidade, educar os filhos para
enxergarem o mundo, os homens e as mulheres com olhos claros e limpos.

Características do matrimônio
O Capítulo 2 do Diretório deixou claro para nós que as duas grandes finalidades do matrimônio são: 1) a
satisfação sexual, a união esponsal e o amor; 2) a geração e a educação dos filhos. Na última edição, oferecemos
aos leitores, de maneira resumida, o interessante conteúdo do Capítulo 3, a "Educação dos filhos".
Hoje, abordamos o Capítulo 4, cujo enfoque são "As características do matrimônio e o matrimônio como
sacramento". As características essenciais, que a tradição secular e o Código de Direito Canônico denominam
propriedades, são a unidade e a indissolubilidade, porque são essenciais para a realização de suas duas finalidades.
Por serem propriedades essenciais do matrimônio natural, unidade e indissolubilidade são válidas tanto para
cristãos quanto para não cristãos Mas, no matrimônio cristão, elas adquirem um vigor especial, porque são
elevadas pelo sacramento à ordem da graça. Aí a ajuda de Deus atua de forma superior.

A unidade
A unidade significa que o casamento é feito entre um homem e uma mulher. E o que também chamamos de
monogamia. Existem outras formas de união: a poligamia (união de várias mulheres com um homem); a poliandria
(união de vários homens com urna mulher); ou ainda a promiscuidade sexual. Somente a monogamia pode
estabelece uma solidariedade completa entre o casal e assegurar a igualdade fundamental à qual a mulher tem tanto
direito quanto o homem. O casamento monogâmico é o único em que os dois formam uma só entidade moral no
que diz respeito à educação dos filhos, também o único sistema em que os esposos constituem verdadeiramente
uma família, centro da vida dos dois.

A indissolubilidade
A palavra quer dizer que o matrimônio não pode ser dissolvido, que dura a vida toda, até à morte. A Igreja
não aceita — por exigência do Direito natural o divórcio ou a anulação do matrimônio. Ela somente aceita o que
chamamos de declaração de nulidade. Isso porque, se o matrimônio é válido, ele será válido para a vida toda. Mas,
se o matrimônio foi nulo, ele nunca chegou a existir. Por isso, a Igreja não anula um casamento,
mas apenas declara a nulidade, isto é, reconhece que determinado matrimônio foi inválido e, portanto, nunca
existiu. Para a Igreja não existem matrimônios anuláveis como no Direito civil brasileiro.

A questão do divórcio
Embora o divórcio seja uma realidade amparada por quase todas as legislações do mundo, inclusive no
Brasil, a Igreja sempre afirmou e sustenta que a lei civil não pode estabelecer o divórcio, porque ele é contrário
à lei natural, comum a todas as civilizações, culturas e religiões. Ele atinge a própria raiz do matrimônio, como
instituição básica da sociedade. A indissolubilidade do matrimônio é defendida por cristãos e não-cristãos. Sua
afirmação ou negação afeta a estabilidade da família, célula básica da sociedade.

O divórcio e as finalidades do matrimônio


O divórcio enfraquece e abala todas as finalidades do matrimônio. Em primeiro lugar, compromete
seriamente a estabilidade do amor conjugal. Torna-se uma solução errada para as crises conjugais. A possibilidade
do divórcio provoca as crises e o próprio divórcio. O que seria apenas uma etapa transitória acaba se
transformando em ruptura definitiva. Para quem aceita o divórcio, o filhos representam apenas uma satisfação dos
desejos de paternidade e maternidade do casal, e não um compromisso de vida. A simples perspectiva do divórcio
tende a diminuir o número de filhos. Assim, o divórcio, mesmo antes de dissolver, costuma esterilizar os lares. Se
a finalidade procriativa do matrimônio já é profundamente atingida pelo divórcio, a finalidade educativa, mais
ainda, reflete negativamente a sua influência. A educação dos filhos requer a influência e a presença do pai e da
mãe. Os filhos necessitam da experiência feliz do amor conjugal equilibrado e fiel dos pais. O divórcio desintegra
a unidade do princípio educador solidário e prejudica seriamente os filhos. As conseqüências são tais que, era
vários países, chegou-se a estabelecer uma equação de proporcionalidade entre o divórcio e a delinqüência infantil
e juvenil.

A indissolubilidade na Bíblia e no magistério da Igreja


Vimos que a indissolubilidade do matrimônio está alicerçada no Direito natural. Também a Sagrada
Escritura e a Igreja sustentam a indissolubilidade como propriedade essencial do matrimônio. O texto do Génesis
(Gn 2, 24 e os ensinamentos de Jesus Cristo estabelecem a indissolubilidade e repudiam o divórcio: "Desde o
princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por causa disto, deixará o homem seu pai e sua mãe e unir-se-á
à sua mulher e os dois serão uma só carne. O que Deus uniu, o homem não separe". Para esclarecer esse
pensamento
aos discípulos, Jesus acrescenta: "Qualquer um que repudiar a sua mulher e se casar com outra comete adultério
contra a sua primeira mulher E se a mulher repudiar o seu marido e se casar com outro, comete adultério". (Mc 10,
2-12.)

A situação dos separados e dos divorciados que contraem nova união


O Diretório cita João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, sublinhando suas palavras
cheias de firmeza e de caridade: "Exorto vivamente os pastores e toda a comunidade dos fiéis a ajudar os
divorciados (que vivem em segunda união), procurando, com caridade solicita, que eles não se considerem
separados da Igreja, podendo, e melhor, devendo, enquanto balizados, participar da sua vida. Sejam exortados a
ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de
caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito
e as obras de penitência, para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os,
mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança". (FC, 84.)

Preparação para o matrimônio


O Capítulo 5 Preparação para o matrimônio e acompanhamento à vida familiar — é dos mais interessantes
do Diretório. Como já alertamos em edições anteriores, o breve espaço desta página não nos permite passar aos
leitores um resumo que contemple todos os aspectos importantes do capítulo. Acenaremos para as idéias
principais. Na introdução ao tema, o Diretório diz que, hoje, mais do que nunca, é necessária a preparação dos
jovens para o matrimônio e para a vida familiar. A evangelização e a catequese de todos os que se preparam para o
sacramento do matrimônio é fundamental para que o sacramento seja celebrado e vivido com as devidas
disposições humanas, morais e espirituais. O Capítulo 5 segue a proposta da Familiaris Consortio, apresentando a
preparação para o matrimônio em três etapas remota, próxima e imediata. (Cf. FC, 65-66,)

Preparação remota
A preparação remota é básica. Começa na família, percorre o caminho da escola e da catequese da primeira
eucaristia e crisma. Nesse período devem ser criadas condições para que se tome possível a formação integral dos
adolescentes e jovens para a educação da afetividade e da sexualidade humana. Nos movimentos e grupos de
jovens da comunidade já devem ser oferecidos aos participantes um fundamento da preparação para o matrimônio.
A luz dos ensinamentos do Evangelho e do Magistério da Igreja, os jovens devem formar a sua consciência critica
com relação às falsas idéias veiculadas pêlos meios de comunicação social. Estes ferem a identidade do
matrimônio e da família segundo o projeto de Deus. Sem medo, colocar no seu devido lugar atitudes e
mentalidades comuns no meio social, mas contrárias à lógica do Evangelho.
Preparação próxima.
Esta normalmente coincide com o período do noivado. E momento especial para uma evangelização
peculiar e específica. Os noivos sejam orientados a descobrir que sua vocação para o amor é também vocação para
a paternidade e maternidade. Que compreendam o valor da castidade vivida antes do casamento; ela não é um fim,
mas um meio e um investimento para viverem plenamente o seu futuro amor conjugal. Simplicidade, doação
generosa, bom relacionamento, respeito, compreensão, maturidade humana e crescimento espiritual são outras
virtudes e valores a serem cultivados durante o noivado. Elemento importante dessa preparação próxima é a
realização do Encontro de preparação para a vida matrimonial (o Curso de Noivos"). Propõe-se que os noivos
participem do encontro pelo menos seis meses antes da data do casamento. O Diretório pede à Pastoral Familiar
que continue insistindo sobre a atualização dos conteúdos e a metodologia, para que os noivos recebam
ensinamentos vivos, inculturados e se tornem capazes de responder, eles próprios, aos questionamentos e
problemas.

Preparação imediata
Nesta etapa, prevêem-se primordialmente um diálogo com o sacerdote e a preparação espiritual intensa dos
noivos. Este contato dos noivos com o pároco ou o seu vigário pode ser um privilegiado momento pastoral.
Em muitos casos, este pode ser o primeiro encontro deles com a Igreja, após anos de afastamento. O Diretório
sugere o conteúdo da conversa do sacerdote com os noivos: a preparação para uma eventual confissão,
esclarecimentos sobre a indissolubilidade do matrimônio e a paternidade e maternidade responsáveis, a riqueza do
sacramento e a pertença à comunidade eclesial. As três perguntas, feitas na liturgia do matrimônio, podem ser um
meio pedagógico a ser utilizado na conversa com os noivos para conscientizar sobre o compromisso matrimonial.
Se bem respondidas, colocam as bases do compromisso matrimonial que os cônjuges assumem: o sentido
verdadeiro da liberdade (primeira pergunta), do amor (segunda pergunta) e da paternidade responsável (terceira
pergunta).

A celebração do matrimônio
O Diretório destaca a importância de uma bonita e bem preparada celebração litúrgica. A relevância do
sacramento seja demonstrada na preparação dos leitores, dos cantos, da homilia. A equipe da Pastoral Familiar
poderá acolher bem os familiares, os padrinhos, os convidados dos noivos e a comunidade. Tudo contribua para
dar um sentido profundamente religioso, comunitário e festivo a um acontecimento marcante na vida dos
participantes. A liturgia da Palavra deve situar o matrimônio na história da salvação e expressar claramente que os
noivos simbolizam o mistério da união e do amor pessoal, fecundo, total e exclusivo entre Cristo e a Igreja.
Quando as circunstâncias pastorais o permitirem, o matrimônio seja celebrado dentro da Missa, para evidenciar
que a Eucaristia é o centro e a raiz da vida cristã. É conveniente conhecer a realidade da vida dos noivos. Assim se
podem preparar melhor a homilia e as fórmulas de orações dos fiéis. Na medida em que estas forem mais ligadas à
sua vida, os noivos se sentirão mais acolhidos pela comunidade paroquial que com eles ora.

Os primeiros anos do matrimônio


O Diretório ressalta que os dez primeiros anos de vida conjugal constituem urna fase muito importante na
vida do casal. E o momento de ambos se conhecerem melhor e consolidarem a sua união. O censo de 2000
mostrou que a maior parte dos divórcios ocorre na primeira década do casamento. A Pastoral Familiar deve
acompanhar os casais nesta fase. Precisa de agentes bem preparados que consigam estreitar a amizade com os
casais novos e possam aproximá-los da comunidade eclesial. Visitas domiciliares, reuniões de grupo, retiros e
encontros, e a colaboração com outras pastorais e instituições educacionais são meios para ajudar os casais novos a
encontrar respostas aos problemas e a consolidar sua vida matrimonial.

Matrimônio caminho de santidade


Se outros capítulos do Diretório foram mostrados aqui como muito interessantes, não menos importante é o
conteúdo do Capítulo 6, O Matrimônio e a Família como caminho de santidade. A exigüidade do espaço nos
permite apontar apenas as idéias principais do capítulo.
Valor santificador do matrimônio
Pelo batismo, todos os cristãos são chamados à santidade, Cônjuges e pais cristãos devem viver
concretamente esta vocação universal à santidade nas realidades próprias da existência conjugal e familiar, "O
sacramento do matrimônio, que retoma e especifica a graça santificante do batismo, é a fonte própria e o meio
original de santificação para os cônjuges", lembra João Paulo II, na Familiaris Consórtio, Pelo sacramento do
matrimônio, os cônjuges são enxertados em Cristo, da mesma forma como se enxerta um ramo na videira; nesse
caso, a videira, infinitamente fecunda, é o próprio Cristo. Marido e esposa se tornam, no dizer do apóstolo Paulo
(Ef 5, 32), "o grande sacramento" da união e do amor fecundo entre Cristo e a sua Igreja. "O dom de Jesus Cristo
não se esgota na celebração do matrimônio, mas acompanha os cônjuges ao longo de toda a sua existência." (J.
Paulo 11FC, 56.) O casal cristão é chamado a alcançar a santidade por uma espiritualidade inserida nas realidades
concretas de sua vida conjugal: amor humano (afetividade e sexualidade), geração e educação dos filhos. oração,
vida sacramental e inserção na comunidade eclesial.

Fugir da família é fugir de Deus


O Diretório alerta para uma realidade um tanto comum em certas paróquias e comunidades: alguns casais
pensam que são tanto "mais católicos" quanto mais se engajam nas pastorais e demais serviços da paróquia e da
Igreja, descuidando de alguns de seus deveres familiares. Essa maneira de pensar sua vocação de casado, às vezes,
representa uma grave tentação que os leva a fugir dos deveres e obrigações próprios do lar. Para um casal que se
recebeu em matrimoniou, fugir da família e dos deveres inerentes a ela seria como fugir de Deus.

Crescer no amor conjugal


O amor conjugal sadio e nobre precisa crescer no mesmo ritmo que o amor a Deus. Para crescer, o amor
tem que se renovar. O Diretório cita Santo Agostinho, que diz que o amor não pode parar: se não se renova o
combustível, o fogo do amor se apaga. O crescimento do amor conjugal tem de acompanhar o crescimento da vida
interior e vice-versa. Aumentar o amor mútuo é o mesmo que dilatar o amor de Deus. O amor conjugal tem que ser
profundo e progressivo, como o amor a Deus. O Diretório lembra, ainda, que aqueles que foram chamados por
Deus para formar um lar, devem amar-se sempre com aquele amor entusiasmado que tinham quando eram
namorados ou noivos. O matrimônio, que é sacramento e vocação, não pode se abalar quando chegam as dores e
os contratempos que a vida sempre traz consigo. Aí é que o amor aprende a tornar-se mais firme. Mais ainda: a
chave da felicidade pede a luta para vencer o egoísmo pessoal, a saída do comodismo pessoal, para cooperar, com
toda a capacidade, na manutenção do lar e na educação dos filhos. Não haverá uma
autêntica felicidade e santidade, se não houver esse esforço pessoal para superar o egoísmo. O fruto mais
substancial desse amadurecimento espiritual dos pais e a lição pedagógica mais importante que devem dar aos
filhos, é a de sua união sólida e inquestionável. O primeiro dever-compromisso dos pais para com os filhos é o de
se amarem um ao outro. E não há presente maior para um filho, não há nada que lhe dê tanta segurança e
equilíbrio emocional do que perceber que os pais são apaixonados, que se amam de verdade.

A oração e a vida sacramental


Embora cada membro da família deva ter a sua vida interior, deve existir também a vida de piedade própria
da família como tal, que represente verdadeiramente a "alma" do lar. Os pais têm a missão de educar os filhos para
a oração, de ajudá-los a descobrir progressivamente o mistério de Deus e a se relacionar com ele. Elemento
fundamental e insubstituível da educação para a oração é o exemplo concreto, o testemunho de oração dos pais.
Somente rezando com os filhos, pai e mãe entram na profundidade do coração deles, deixando
marcas que os acontecimentos futuros não conseguirão apagar. "A oração reforça a estabilidade e a solidez da
família, fazendo com que ela participe da 'fortaleza de Deus". (J. Paulo II, Carta às Famílias, 4.) A vida
sacramental é indispensável para a santificação da família. Perdão mútuo e reconciliação em família, predispõem
para o momento sacramental específico na Penitência. E a Eucaristia, porém, "o centro e a raiz" da família. Ela é a
fonte própria do matrimônio cristão. Todos os sacramentos, tendo como centro a Eucaristia, são momentos
particularmente intensos de comunhão com Deus. O Diretório lembra que o Domingo, dia do Senhor, é o ponto
central da semana da família cristã. E belo ver uma família inteira, pais e filhos, participando unidos da Santa
Missa. A participação na Eucaristia é, para cada batizado, o coração do domingo.
Outros destaques do capitulo
O capítulo 6 chama atenção ainda para a escuta da Palavra de Deus e a catequese em família. Ressalta o
apoio que deve ser dado pelas famílias ao ensino religioso nas escolas. Insiste também na cultura do diálogo, pois
a comunhão familiar requer compreensão, tolerância, perdão, reconciliação. E missão da família contribuir para a
educação para o diálogo, a aceitação do diferente, o respeito mútuo, a difícil arte de saber ouvir, a abertura para o
ecumenismo, o espírito de solidariedade e do serviço. A família deve ser um laboratório dos valores da nova
civilização do amor. Família missionária, inserção na grande família-Igreja e movimentos familiares são também
temas do capítulo 6, "O Matrimônio e a Família como caminho da santidade".

Situações especiais
Nesta série de artigos sobre o Diretório da Pastoral Familiar, temos chamado a atenção dos leitores para a
relevância dos assuntos abordados em todos os capítulos desse documento que a CNBB colocou à disposição das
famílias cristãs em geral e, mais particularmente, dos pastores e de todos os agentes que atuam tanto na Pastoral
Familiar quanto nos movimentos familiares. Se todos os outros capítulos do Diretório foram mostrados aqui como
muito interessantes, não menos oportuno é o conteúdo do Capítulo 7, Situações especiais. A exigüidade do espaço
não nos permite explorar toda a riqueza contida no capítulo. Pretendemos apenas provocar o interesse pela leitura
do texto completo no Diretório da Pastoral Familiar, publicado pelas EDIÇÕES PAULINAS, Coleção
DOCUMENTOS da CNBB (n°79 da série azul).

Atenção às situações da família hoje


A atitude de quem assume o serviço a Deus e aos irmãos através da Pastoral Familiar deve ser a do Bom
Pastor que, cheio de misericórdia, vai em busca da ovelha perdida ou ferida e doente. A exemplo de Cristo, que
veio chamar, não os justos, mas pecadores, o agente da Pastoral Familiar deverá, cheio de misericórdia estar atento
às situações familiares especiais, muitas vezes de grande sofrimento, em que se encontram muitas famílias hoje.
São várias as situações de conflito que, no matrimônio e na família, constituem desafios constantes para os
pastores e agentes de pastoral. A situação é tão grave, urgente e atual, que a Comissão Episcopal para a Vida e a
Família publicou o "Guia de Orientações para Casos Especiais", editado em novembro de 2004. O Diretório
procura exemplificar os desafios com algumas situações concretas. Eis algumas delas:

Uniões de fato
Sob esse título se designa a união do homem e da mulher sem nenhum vínculo institucional público, civil
ou religioso. Convivem, mantêm um relacionamento sexual, mas ignoram, adiam ou rejeitam o compromisso
conjugal. Aliás, este é um fenômeno que cresce no mundo atual marcado pelo secularismo. Hoje, a maioria dos
jovens quer ter uma família, mas apenas uma minoria opta pelo casamento civil ou religioso. Alguns constituem
uniões de fato por motivos econômicos; alguns são condicionados ou empurrados a esta situação por razões de
extrema pobreza e ignorância. Existem os que, por medo de um compromisso sério ou por imaturidade
psicológica, temem unir-se por um vinculo estável e definitivo. Outros casais assumem essa situação por reação ao
'formalismo social" em que muitos transformaram o sacramento do Matrimônio. Com discrição, respeito e afeto,
os pastores e a comunidade eclesial procurarão permanecer próximos a essas pessoas, acompanhando-as e
ajudando- as a descobrir a essência e a beleza do matrimonio e da família segundo o plano de Deus.

Separação mantendo o vínculo conjugal


Diante de uma convivência matrimonial insustentável, há cônjuges que assumem, como remédio extremo,
a separação da vida conjugal. O Diretório diz que a Igreja deve sustentar a coragem e o heroísmo dos esposos que,
separados ou abandonados, permanecem fiéis ao vínculo contraído. Estão em comunhão com a Igreja e podem
participar dos sacramentos. Talvez, mais do que, ninguém necessitem dos sacramentos como fonte de graça para
fortalecer sua condição concreta e permanecerem abertos ao perdão, mesmo quando a reconciliação não for
possível. A comunidade eclesial é chamada a assumir o compromisso de alentar, sustentar e acompanhar os
esposos que passam por essa situação. Deve rodeá-los de estima, solidariedade, compreensão e ajuda específica.
Procurará motivá-los a dedicar parte de seu tempo a diferentes pastorais, a prestar ajuda a outras pessoas de sua
comunidade que se encontram na mesma situação e a testemunhar que é possível viver evangelicamente numa
situação tão difícil.Matrimônio canônico precedido por um divórcio civil Quando um dos cônjuges, ou ambos,
desfizeram uma união anterior, meramente civil, e procuram agora o sacramento do matrimônio, o Diretório
recomenda algumas precauções do ponto de vista pastoral: 1) suavizar o impacto no cônjuge e filhos da união
anterior; 2) oferecer esclarecimentos que justifiquem o matrimônio canônico; 3) necessidade de licença do
Ordinário (bispo) do lugar; 4) levar em consideração as obrigações decorrentes da união precedente.

Casados na Igreja, divorciados civilmente e novamente unidos por casamento civil


Esta é uma situação que se alastra cada vez mais em nossos dias. A Igreja não pode abandonar esses seus
filhos, mesmo que não possam receber os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia. O Diretório aponta
diferentes situações pastorais, que deverão ser atendidas de modo diverso. Cada caso exige um cuidado pastoral
adequado e uma atenção peculiar e personalizada. Com a atitude do Bom Pastor, os pastores e agentes devem
ajudar esses casais a participar da vida da Igreja, organizar atividades para eles e estimulá-los a educar cristãmente
os filhos e, em certos casos, facilitar o acesso ao Tribunal Eclesiástico para que seja estudada a possibilidade de
declaração da nulidade do casamento precedente.

Católicos unidos apenas no civil


A união só no civil é nula no âmbito da Igreja. Os que assim procedem, fazem-no por falta de formação
religiosa ou por outros motivos. Os agentes de pastoral devem estar em contato com tais pessoas e ajudá-las a
entender a incoerência da sua situação com a fé que professam.

Outras situações abordadas no Diretório


a) Crianças e famílias em situação de risco; b) Crianças e adolescentes desprotegidos, abandonados e em
perigo; c) Atenção aos idosos; d) Famílias de migrantes. Os leitores interessados em aprofundar tais situações
procurem consultar o Diretório da Pastoral Familiar.

Pastoral Familiar:resposta da Igreja


Nosso comentário sobre o Diretório da Pastoral Familiar chega ao seu 8° e ultimo capitulo — Pastoral
Familiar: resposta da igreja aos problemas e questões familiares —, onde se mostra que diante da importância vital
e do papel intransferível da família para a pessoa e a sociedade, a Pastoral Familiar se apresenta como uma ação da
Igreja de capital importância, e que deve ser assegurada a ela uma atenção muito especial.

Pastoral da Igreja
A atitude de quem assume o serviço a Deus e aos irmãos através da Pastoral Familiar deve ser a de Jesus
Cristo, o Bom Pastor, que caminha à frente das ovelhas, e elas o seguem porque conhecem sua voz. Faze pastoral
na Igreja, seguindo o exemplo do Bom Pastor, é agir em comunhão com ela e com o Evangelho. "Todas as
pastorais estão baseadas tanto no Magistério da Igreja como em princípios antropológicos, teológicos e
evangélicos e numa atualizada leitura da realidade. (Diretório, 446.)

A Pastoral Familiar— desafio para a Igreja


O primeiro embrião de uma Pastoral Familiar sistematizada foi o Concilio Vaticano 11. De modo
particular, com as Constituições Lumen Gentium ("Constituição Dogmática sobre a Igreja") e Gaudium et Spes
("Sobre a Igreja no Mundo Contemporâneo"), começaram-se a delinear na igreja as linhas mestras da Pastoral
Familiar. O Papa João Paulo II dedicou a esse tema o 4° Sínodo dos Bispos, o 'Sínodo das Famílias (1980) e, como
fruto desse Sínodo, promulgou a Exortação Apostólica Familiaris Consórtio (1981) — "A Missão da Família
Cristã no Mundo de Hoje". É nela que se encontra a abordagem motivadora e atualizada sobre a Pastoral Familiar.
Em âmbito de América Latina, é interessante ver como as Conferências de Medelín (Colômbia— 1968), Puebla
(México — 1979) e Santo Domingo (1992) destacaram o papel prioritário que se deve dar à Pastoral Familiar. A
Igreja concluiu a Conferência de Puebla ratificando a necessidade e a urgência de se implantar a Pastoral Familiar
em suas dioceses, como uma "prioridade da Pastoral Orgânica na América Latina". (Cf.Conclusões de Puebla,
590.) A Conferência de Santo Domingo priorizou a família e a vida como desafios de especial urgência: "E
necessário fazer da Pastoral Familiar uma necessidade básica, sentida, real e atuante". (Cf Conclusões de Santo
Domingo, 64.) Repetidas vezes estas Conclusões insistem na prioridade da Pastoral Familiar.

Pastoral Familiar no Brasil


O Diretório esclarece que, no Brasil, a Pastoral Familiar começou a sistematizar a sua caminhada própria a
partir de 1989. Antes estava vinculada ao Setor Leigos e à Pastoral da Criança. Em 1993, com a publicação do
subsídio "Pastoral Familiar no Brasil" (n. 65 da coleção Estudos da CNBB), ela começou a ganhar relevância. Em
1992, respondendo às necessidades das bases, foi criado em Curitiba o INAPAF — Instituto Nacional da Pastoral
Familiar — hoje sediado em Brasília, com a finalidade de prover a formação de agentes da Pastoral Familiar. Em
1994, a CNBB escolheu a família como tema da Campanha da Fraternidade. Com o lema "A Família, como vai?",
lançou "o olhar sobre a realidade da família" e ajudou a perceber a situação delicada em que a família se
encontrava. Os pronunciamentos do Papa — tanto nas visitas ao Brasil quanto ao se dirigir aos Bispos brasileiros
nas visitas Ad Limina —, ajudaram a Pastoral Familiar dar passos decididos. A partir do "II Encontro Mundial do
Papa com as Famílias", realizado na cidade do Rio de Janeiro (1997), os avanços foram ainda maiores. Em 1998,
surgiram os Guias "Pastoral Familiar na Paróquia" e "Preparação para a Vida Matrimonial". A partir de 1999,
iniciaram-se os Fóruns de Bioética e de Políticas Familiares. Foi erigida em Brasília, em 1999, a Secretaria
Executiva Nacional da Pastoral Familiar (SECREN).

Objetivos da Pastoral Familiar


O objetivo principal é promover, fortalecer e evangelizar a família. Dentre as principais ações. destacam-
se:
1. Formar agentes qualificados. Essa é a meta prioritária e indispensável da Pastoral Familiar. Uma formação que
dura a vida toda.
2. Oferecer, com qualidade, a formação aos noivos, suscitando-lhes singular interesse nos três estágios de
preparação: remota, próxima e imediata.
3. Acolher toda e qualquer realidade familiar.
4. Unir esforços para que a família seja, de fato, um santuário de vida. Valorizar o ser humano em todos os seus
estágios, desde a concepção até a morte.
5. Promover o fortalecimento dos laços familiares nos ensinamentos evangélicos e apontar cominhos para a
solução das crises e problemas intra-familiares.
6. Incentivar o crescimento da espiritualidade intra-familiar de diferentes maneiras,
7. Despertar a família para o seu papei educador, de escola onde se aprendem e experimentam os valores humanos
e evangélicos.
8. Despertar o sentido missionário da família. E a família que evangelizará a família!
9. Oferecer contínuo apoio aos casais e famílias das comunidades e paróquias, e reaproximar as famílias afastadas
da Igreja.
10. Promover a participação das famílias nos tempos litúrgicos mais importantes e suscitar reuniões de reflexão de
subsídios especialmente preparados para esse fim.
11. Prosseguir na articulação e na busca de apoio dos integrantes dos Movimentos, Serviços e Institutos Familiares
e de promoção e defesa da vida.

Organização da Pastoral Familiar

Sobre a organização da Pastoral Familiar a estrutura é a mesma proposta por João Paulo li na Familiaris
Consortio (n2 67 a 69) e a que é mais comumente usada pela Pastoral Familiar no Brasil. Abrange os setores "Pré-
matrimonial", "casos especiais". São, portanto, três "frentes de trabalho" ou três campos de ação organizada da
Pastoral Familiar.

Setor "Pré-matrimonial"
O setor pré-matrimonial trabalha a preparação básica das pessoas para o sacramento do matrimônio. Essa
preparação, por sua vez, pode ser dividida em três etapas: remota, próxima e imediata. Pode-se acrescentar
uma quarta tarefa do setor pré-matrimonial: a celebração do matrimônio. A preparação mais remota para o
matrimônio começa dentro da própria família. A equipe de Pastoral Familiar pré-matrimonial promoverá
encontros e reuniões de pais e lhes fornecerá publicações sobre temas familiares. Colaborará com a Catequese,
desenvolvendo temas relativos à vida familiar e ao matrimônio e ajudando-a a realizar encontros de pais dos
catequizandos. Com os grupos de preparação para a Crisma, a equipe poderá ministrar os assuntos relativos ao
sacramento do matrimônio e à família. Aos adolescentes e jovens da paróquia, poderá oferecer cursos e encontros
de educação para o amor, em colaboração com a Pastoral da Juventude. Muito oportuna também, nessa etapa
remota de preparação para o matrimônio, é a realização de encontros para namorados: muitas paróquias já
começaram fazer esse investimento pastoral, sabendo que o namoro é tempo precioso de construir.
A equipe de Pastoral Familiar pré-matrimonial de preparação próxima para o matrimônio trabalha junto aos
noivos, preparando-os para o sacramento do matrimônio e para a vida familiar cristã. Sua principal atividade é a
realização dos encontros de formação para noivos. Também a equipe de preparação imediata para o matrimônio já
é realidade em muitas paróquias. Exerce a importantíssima missão de ajudar tanto o pároco quanto os noivos e
seus familiares na preparação do casamento que está para acontecer. Muitas iniciativas podem ser realizadas nesse
momento pastoral, tais como: acompanhamento do processo matrimonial, retiros para os noivos (visando otimizar
a preparação espiritual para o sacramento), o incentivo aos noivos para a entrevista com o pároco, uma salutar
motivação para uma boa confissão antes do matrimônio e muitas outras iniciativas que sejam oportunas e
frutuosas. A Pastoral Familiar pode também prestar seus serviços na preparação da celebração do matrimônio. E
uma tarefa que pode ser feita pela Equipe de Preparação imediata para o Matrimonio em conjunto com a Equipe de
Liturgia. Os noivos devem ser preparados quanto ao sentido e aos momentos da celebração, quanto aos ritos e aos
detalhes que os compõem (leituras, cantos e músicas, escolha de fórmula de consentimento, ensaios, padrinhos,
assinaturas, etc.). Os casais da Equipe podem, no dia do casamento, responsabilizar-se pela acolhida dos noivos e
familiares e pela animação da liturgia.

Setor "Pós-matrimonial"
A ação desse setor envolve tanto os atendimentos aos casais recém-casados, aos pais de crianças pequenas,
aos pais que pedem o Batismo para seus filhos, aos pais das crianças e adolescentes que se preparam para a
primeira Eucaristia e a Crisma, quanto envolve a organização de grupos de casais e de famílias, a promoção de
encontros e de retiros para casais, a orientação em relação aos problemas familiares mais comuns, a assistência aos
casais idosos, a presença da igreja junto aos viúvos e doentes. Através do setor pós-matrimonial, a Pastoral
Familiar quer oferecer o apoio da Igreja a todos os que receberam o sacramento do matrimônio, visando á
formação de famílias cristãs para que possam exercer sua vocação e sua missão no lar, na Igreja e na sociedade. A
Pastoral familiar trabalha em conjunto com as outras pastorais e os movimentos de espiritualidade familiar. Só
esse entrosamento solidário permitirá descobrir muitas possibilidades de ação em favor de uma evangelização
mais eficaz das famílias.

Setor "Situações especiais"


O Papa João Paulo II, na Familiaris Consortio (n° 77-85), ao tratar das situações especiais, deixa bem claro
que o exemplo a ser seguido é o do Bom Pastor: "Um empenho pastoral ainda mais generoso, inteligente e
prudente, na linha do exemplo do Bom Pastor, é pedido para aquelas famílias que — muitas vezes
independentemente da própria vontade ou pressionadas por outras exigências de natureza diversa — se encontram
em situações objetivamente difíceis". (FC, 77.) Esse trabalho é tão significativo, atual e urgente, que a Comissão
Episcopal para a Vida e a Família publicou o "Guia de Orientação para Casos Especiais", editado em novembro de
2004. Entre os destinatários da ação do Setor "situações especiais", são citados: as uniões de fato, separação
mantendo a fidelidade ao vinculo conjugal, matrimônio canônico precedido por um divórcio civil, casados na
Igreja mas divorciados civilmente e novamente unidos pelo casamento civil, católicos unidos apenas no civil,
crianças e famílias em situação de risco pessoal e social, crianças e adolescentes abandonados e em perigo, a
delicada situação de muitos idosos e as famílias dos migrantes. A equipe de Pastoral Familiar que trabalha ou vai
trabalhar as "situações especiais" ou "casos difíceis" precisa de agentes bem preparados para essa missão e que
saibam agir em conjunto com outras pastorais.

Fonte: Jornal O Lutador/2005

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