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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

COLEGIADO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO

PROFESSOR: Nilton de Almeida Araújo

ALUNO: Demétrio Cardoso da Silva


ANÁLISE DO FILME ABDIAS NASCIMENTO

INTRODUÇÃO

Abdias Nascimento: luta e memória negra é um documentário dirigido pelo pesquisador e fotógrafo
Antonio Olavo. O filme é dirigido a partir de uma entrevista gravada com o próprio cinebiografado,
com 94 anos. Abdias Nascimento nasceu em Franca, Estado de São Paulo, em 14 de março de 1914.
O documentário segue o roteiro das palavras de Abdias Nascimento para definir a sua trajetória. Ao
discurso dele se somam imagens de arquivo e referências que vão pontuando o perfil do
documentário. Abdias Nascimento foi exilado pela ditadura militar, ficou fora do Brasil entre 1968
e 1978, regressando ao País e ingressando na vida política, com atuação direta. Chegou a ser eleito
deputado federal e senador da República e há dois anos, recebeu o título de Doutor Honoris Causa
da Universidade de Brasília.

DESENVOLVIMENTO DO DOCUMENTÁRIO

O documentário abre com a fala de Abdias Nascimento dizendo: “eu “eu não vim para trazer a
calmaria das almas mortas, das inteligências petrificas, dos que não querem fazer ondas natas
sobre as águas; eu não vim pra fazer esse tipo de trato social. Eu estava disposto a assumir o papel
de “boi de piranha”, todo mundo foge de ser esse “boi de piranha”, mas eu não fazia questão não.
se eu fosse sacrificado em benefício de meu povo, eu sou compensado de tudo, de toda a minha
vida, de minha abreugrafia... é isso mesmo, é isso mesmo que ela indica.” Já na introdução do
roteiro da entrevista, ele começa falando do seu tempo de escola, relatando as situações de
preconceitos sofridos naquele tempo e a forma como sua mãe tratava a questão e do exemplo dado
por sua mãe sobre as situações que envolvia algum tipo de violência contra os negros, até mesmo
nas questões de maus-tratos aos colegas de escola e as lições de solidariedade racial dadas por sua
mãe.

Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas dissolveu o Congresso Nacional, extinguiu os partidos


políticos e instaurou a ditadura do Estado Novo. Por distribuir panfletos de protesto contra a nova
ordem política, Abdias e mais quatro colegas foram presos e passaram 6 meses na Penitenciária Frei
Caneca. Em maio de 1938, após ser libertado, organizou, junto com Agnaldo Camargo e Geraldo
Campos, o Congresso Afro-Campineiro de Campinas. Em 1941, já em São Paulo, Abdias foi preso
novamente pelo Estado Novo, que reabriu um antigo processo dos seus tempos de Exército. Levado
para a Penitenciária de Carandiru, onde passou dois anos, fundou o Teatro do Sentenciado,
organizando um grupo de presos que dirigiam e interpretavam suas próprias criações dramáticas.

Essas ricas experiências o levariam a fundar, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), que
teve presença destacada no cenário cultural do país, abordando a estética e a identidade negra nas
artes plásticas e no teatro ao mesmo tempo que desenvolvia propostas de políticas públicas para o
povo afrodescendente, combatendo a idéia predominante de que não existia racismo no Brasil.
Entre seus inúmeros feitos, o Teatro Experimental do Negro organizou o I Congresso do Negro
Brasileiro em 1950 e transformou-se em uma iniciativa revolucionária, que buscava fazer com que
os negros não continuassem representando para a diversão dos brancos, e sim afirmassem a sua
verdadeira história, fortalecendo os valores da cultura tradicional africana.

Em 1968, em plena ditadura militar, Abdias fundou o Museu de Arte Negra com obras doadas por
artistas comprometidos com a luta contra o racismo. Mas sentindo a pressão de vários inquéritos
policiais militares (IPMs), em novembro de 1968, deixou o país às vésperas do Ato Institucional nº
5 (AI5). Ministrou aulas, palestras e conferências em várias universidades norte-americanas e
européias, sempre denunciando as práticas de racismo no Brasil.

No ano de 1977, participou do II Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas, realizado
em Lagos (Nigéria), e propôs que o encontro adotasse como recomendação ao governo brasileiro o
ensino compulsório da história e da cultura da África em todos os níveis da educação: elementar,
secundário e superior.

De volta do exílio, Abdias estava no histórico 7 de julho de 1978, quando, perante três mil pessoas,
foi lançado, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, o Movimento Negro Unificado
Contra a Discriminação Racial (MNUCDR), com um manifesto que afirmava: “O MNUCDR foi
criado para ser um instrumento de luta da comunidade negra”.

Em 1980, durante o II Congresso de Cultura Negra das Américas, realizado no Panamá, Abdias
lançou o Quilombismo, proposta de organização sócio-política que recupera a experiência histórica
das comunidades quilombolas no Brasil, nas Américas e na África e propõe o poder para o povo
negro, com a construção de uma sociedade nacional quilombista, “igualitária em todos os sentidos”,
onde haja cidadania plena e respeito às diferentes matrizes culturais dos grupos discriminados.

A partir dos anos 1980, Abdias ampliou sua atuação política, disputando eleições e ocupando cargos
executivos no governo do Rio de Janeiro. Candidatou-se a deputado federal em 1982. Ficou na
terceira suplência e assumiu o mandato em março do ano seguinte, tornando-se o primeiro deputado
a exercer o mandato defendendo os direitos dos afro-brasileiros, inclusive apresentando projetos de
lei propondo políticas públicas compensatórias para a população afrodescendente.

Pelo mesmo PDT, em 1990, então com 76 anos, é eleito suplente de senador, assumindo a cadeira
um ano depois. Deputado, senador, escritor, poeta, dramaturgo, professor emérito e Doutor Honoris
Causa em várias universidades no Brasil e no exterior, Abdias tem também um relevante trabalho
como artista plástico e sua obra compõe um rico tesouro de referências sobre a ancestralidade
africana, abrangendo a luta dos negros escravizados por liberdade, cidadania e direitos humanos.
Sua arte se insere numa visão mais ampla do desenvolvimento milenar da civilização africana em
todo o mundo, pois abarca a história do africano como autor de saberes eruditos e criador de uma
estética de profundo impacto e significado.

Reconhecido internacionalmente como uma das mais importantes personalidades brasileiras do


século XX, Abdias Nascimento tem se dedicado à missão de recuperar a dignidade humana do povo
negro e à defesa de uma identidade ideológica baseada na experiência histórica dos povos africanos
e das diásporas nas Américas, Caribe e Pacífico. Esse ícone da cultura negra no Brasil, chega aos 94
anos de existência sendo detentor de um legado de cultura e sabedoria respeitado e admirado por
muitos.

ABDIAS FALA DA FRENTE NEGRA BRASILEIRA

Abdias fala de suas experiências de luta à Frente Negra Brasileira, dizendo que alguns dos
dirigentes, desde a década de vinte, se esforçavam para articular um movimento negro, com um
projeto de reunir o Congresso da Mocidade Negra, em 1928, em São Paulo, não chegando a se
concretizar. Diz somente em 1938 ele e cinco jovens negros realizamos o I Congresso Afro-
Campineiro e, em 1950, o Teatro Experimental do Negro promoveu o I Congresso do Negro
Brasileiro, no Rio de Janeiro. No início dos anos trinta, o movimento se institucionalizou na forma
da Frente Negra Brasileira. Entre seus fundadores estavam Arlindo Veiga dos Santos e José Correia
Leite e, como movimento de massas, foi a mais importante organização que os negros lograram
após a abolição da escravatura em 1888.

A Frente fazia protestos contra a discriminação racial e de cor em lugares públicos. A Frente era
combativa nos diversos lugares que vetavam a entrada ao negro, o que lembrava muito o
movimento pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Ele hoje critica essa perspectiva.
Segundo ele, suas lembranças não são muito seguras, mas acha que o movimento ia além das
reivindicações citadas, considera que não podia se envolver profundamente na ação, pois estava
servindo o exército, cujo regulamento disciplinar proibia qualquer participação em atividades
sociais e políticas, por isso sua participação era mais simbólica e espiritual. Ele lembra de O Clarim
da Alvorada, o jornal que transcrevia notícias e artigos do movimento que Marcus Garvey, o grande
negro jamaicano, desencadeara nos Estados Unidos sob o lema da Volta à África.

Apesar da barreira da língua, da pobreza dos meios de comunicação, a Frente Negra Brasileira
permanecia alerta a todos os gestos emancipacionistas acontecidos em outros países. Foi uma
vanguarda com o objetivo de preparar o negro para assumir uma posição política e econômica na
representação do povo brasileiro ao Congresso Nacional. Por isso, o movimento se espalhou de São
Paulo para outros Estados com significativa população negra, a exemplo da Bahia, Pernambuco,
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão. Era o chamado Estado Novo ou a
ditadura de Getúlio Vargas, instaurada em 1937, fechou a Frente Nacional Brasileira juntamente
com todos os partidos políticos da época. Segundo ele, a Frente teve seus problemas internos de
orientação e liderança, o que considera como bom índice de vitalidade. O dirigente Arlindo Veiga
dos Santos se achava ligado ao Movimento Patrianovista, de orientação de direita, enquanto José
Correia Leite se filiava ao pensamento socialista. Tal polarização levaria inevitavelmente ao
fracionamento que ocorreu. Entretanto, não creio que o fato teve qualquer ligação ou influência com
o Partido Comunista.

DESTAQUES DO DOCUMENTÁRIO

Com muita clareza, Abdias Nascimento tem um discurso sereno, equilibrado, linear, colocando os
temas numa ordem cronológica. Uma fala de fundo segue um roteiro de retrospectiva história, com
imagens ilustrativas sobre os fatos históricos em que esteve envolvido Abdias Nascimento. Em
segundo momento, o documentário se aproxima do homem por trás do mito e encontra na figura de
Abdias um interlocutor de jeito simples e sinceridade absoluta. Abdias é indagado sobre os
possíveis erros políticos sobre às causas da justiça racial e liberdade de expressão. Neste ponto, o
entrevistado para, faz uma pausa para pensar no assunto, e depois reflete: Errei?

A edição procura respeitar estes momentos de respiração do entrevistado e preserva imagens


valiosas, nas quais Abdias numa atitude dosada de ingenuidade observa com um rápido olhar de
desejo uma tigela que lhe é servida, cheia de torresmo. Ele se mostra um homem racional e sensato,
censurando a ideia do petisco, em razão da gravação está em curso. A voz de alguém da equipe soa
como uma liberação, avisando que a cumbuca até ficou bonita no enquadramento e que não
atrapalha em nada a filmagem. O personagem arremata: "Ficou bonita no quadro, mas vai ficar
melhor ainda na boca". Momentos assim revelam os traços mais humanos e sintetizam a opção por
uma narrativa leve e despojada. Ele passa a impressão de se estar diante de uma conversa informal
com uma pessoa comum, mas grande demais para caber naquele espaço de documentário.

A RELAÇÃO COM SÔNIA MENDONCA

Pode-se perceber uma profunda relação em torno da associação de classe que se constituiu, por
excelência, como representação do movimento ruralista, a se destacar a Sociedade Nacional de
Agricultura (SNS). Pode-se perceber a formação do Estado republicano na sua concepção de
construção e dinâmica de funcionamento, apresentando um histórico em torno do surgimento e do
desenvolvimento da Sociedade Nacional, certa representatividade das entidades justificadas pela
autora em função de seu caráter nacional, do seu pioneirismo na conjuntura e de sua efetiva
expressão política. A autora demonstra com clareza os conflitos de interesses das diferentes frações
da classe dominante no interior do aparelho de Estado, na disputa pela formulação das políticas
públicas e na definição das agências capazes de implementá-las. Coloca no centro como objeto de
estudo a história dos interesses das frações agrárias nacionais dominantes, porém não hegemônicas,
que significavam aquelas frações desvinculadas do complexo cafeeiro paulista. A autora analisa um
momento importante no processo de constituição da chamada hegemonia durante a Primeira
República, na medida em que a criação e consolidação do MAIC contribuiu para a sedimentação de
uma ideologia do bloco dominante no poder. Ela constrói seus argumentos através de um estudo da
gênese do MAIC e da composição de seus quadros. A autora procura mostrar que os interesses que
se amontoavam por detrás daquele processo são os mesmos da representação.

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