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RIO BRANCO
2010
MARCOS TARDELLE DO NASCIMENTO VASCONCELLOS
RIO BRANCO
2010
MARCOS TARDELLE DO NASCIMENTO VASCONCELLOS
BANCA EXAMINADORA:
Prof. M.Sc. Valmir Freitas de Araújo (Orientador)
Prof. M.Sc. Euzébio de Oliveira Monte
Prof. Dr. Carlos Alberto Alves de Souza
RIO BRANCO
2010
VASCONCELLOS, Marcos Tardelle do Nascimento., 2010.
VASCONCELLOS, Marcos Tardelle do Nascimento. Acre, brasileiro por opção: a
“Revolução Acreana” e suas práticas discursivas na construção de um mito. .
Rio Branco: UFAC, 2010. 51f.
CDD: 981.12
v
DEDICATÓRIA
A meu pai.
In memória.
vi
Agradecimentos
A Deus.
Pela graça de ter nascido perfeito, com condições psicomotoras para a realização de
mais essa etapa.
À família,
Pelas orações, carinho, amor e afeto. Pelo socorro nas necessidades mais
prementes. Uma menção especial à minha tia, Maria da Liberdade, às minhas irmãs,
Brenda e Bruna. Com carinho, à Sônia Melo.
Aos amigos,
Ricardo Alexandre e família, Erdejane Chaves, Herbson Sousa e Francisco Douglas.
Pela certeza de uma amizade sincera e eterna, nascida durante o curso.
Ademir Vlieger e Anderson Silva, pelos fraternos anos de convívio na república
estudantil mais família de toda a História.
Almira Rocha, a quem aprendi a amar fraternalmente. Que seja eterna a nossa
amizade.
Ulysses C. da Silva, José Jair e Joselena Figueiredo.
Aos professores,
Dr. Airton Rocha,
M.Sc. Italva Miranda,
M.Sc. Valmir Freitas,
M.Sc. Sérgio Roberto.
A todos,
Que direta e indiretamente contribuíram para o meu crescimento pessoal, intelectual,
espiritual.
Resumo
Abstract
The ideas of a homogeneous acreanidade that forms the Acre's speech founder and
the history's references of gestation are some aspects to be developed in this paper
for completing the course of history. The analysis pretends to walk through some
speeches about acreana's Revolution that would be the beginning of the acreano
people's constitution.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA.............................................................................................................v
AGRADECIMENTOS..................................................................................................vi
RESUMO....................................................................................................................vii
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................9
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47
4.1 – Revolução versus guerra...................................................................................47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................49
Apresentação
9
Inevitavelmente, e com certeza não se deseja diferente, a Análise do
Discurso permeará esse trabalho em todas as suas páginas. Mesmo naquelas em
que ele não apareça tão evidente. Aliás, é exatamente os diversos discursos da
“Revolução Acreana” ontem e hoje que materializam essa pesquisa. Nesse trabalho
tem-se a pretensão de analisar algumas das diversas obras e/ou artigos que
discursam sobre a “Revolução Acreana” no tempo passado, mas principalmente no
tempo presente.
Se o foco é a identidade um apoio fundamental para essa análise é a obra
de Zygmunt Bauman, Identidade. Bauman dará uma contribuição rica, precisa e
eloquente a esse trabalho.
O objetivo é fomentar um debate inicial que está entrando em cena somente
agora na historiografia acreana, mas também incentivar que outros possam
debruçar-se sobre o tema aprofundando-o, ampliando-o e corrigindo-o no que
se fizer necessário.
O segundo capítulo vai deter-se de uma maneira mais específica na
produção do discurso escrito e falado. O discurso oficial estará em evidência. Outra
abordagem na mesma perspectiva será o marketing discursivo que nasce a partir
das diversas conjunções oficiais de um discurso que busca no passado a glória para
firmar no presente valores, práticas e mentalidades da sociedade acreana.
Foi construída uma teia mental de tal maneira que se for perguntado a
qualquer transeunte o que mais lhe orgulha em ser acreano ou, viver no Acre, de
alguma maneira será dada por resposta o passado. Alguns, possivelmente,
responderão usando a frase “o Acre é o único estado da nação que escolheu ser
brasileiro”.
Alguns empresários locais entraram na onda do “orgulho acreano” e criaram
os slogans de suas empresas com a mesma motivação. Estes também aparecerão
por aqui na análise do discurso. Nada mais forte que ter “orgulho de ser acreano1”,
“mais acreano impossível2” ou ser “tão acreano quanto você”.
O capítulo terceiro vem com a proposta do contra-discurso construindo outro
olhar sobre a “Revolução Acreana”.
1
Este slogan pertence ao marketing da rede Supermercados Araújo que no tempo em que esta obra
foi sendo escrita passou a usar outro slogan.
2
Slogan pertencente ao Supermercado Gonçalves que deixou de utilizá-lo no período em que este
trabalho estava sendo produzido.
10
Não há nenhuma intenção de construir uma verdade, mas sim de possibilitar
uma reflexão íntima quanto ao uso do discurso e a quem ele serve.
Neste capítulo se emendará de uma forma mais conceituada o fio da meada
analítica que se constrói na análise do discurso proposto. Aqui residirá a alma do
trabalho no rumo da desconstrução e problematização do mito fundador do Acre, a
“Revolução Acreana”.
É a busca constante do papel social do historiador e/ou professor de história
que precisa compreender sua função na direção do “pensar certo”, conforme ensina
Paulo Freire. É certo que há uma filosofia de poder por detrás dessa conjuntura
discursiva, mas também é certo que sempre haverá. Já foi dito por Foucault:
“estamos todos aí para lhe mostrar que o discurso está na ordem das leis”. (2008a).
Uma breve consideração pessoal a respeito do trabalho empreendido
constará ao fim da obra no intuito de colocar um ponto, mesmo que não definitivo
nas ilações apresentadas.
11
“Inspirado na força dos revolucionários, no exemplo dos autonomistas e nos ideais
de Chico Mendes, é que estamos trabalhando.”
Governador Jorge Viana
Jornal Página 20, 19.11.2003
Capitulo I
A ideia em perseguir esta lógica analítica está na força que tem o discurso.
Força esta que vem intensificada, no caso específico deste trabalho, pela fundação
da identidade do acreano, registrando-se que nos últimos anos (2002 – 2006) este
discurso vem sendo resignificado, de modo a receber uma nova interpretação.
Isto vem sendo feito pelos diversos mecanismos que são próprios das
relações de poder que estão emitindo e recriando esse discurso. Na academia
debate-se muito quanto às relações de poder que são traduzidas a partir de um
12
discurso. Todavia, Foucault alerta que: “... se lhe ocorre ter algum poder, [o discurso]
é de nós, só de nós, que lhe advém” (2008a, p. 7).
Ora, talvez haja tratados de como se deve direcionar o olhar em torno da
questão do discurso, das relações de poder, das construções sociais de identidade,
etc. Mas é preciso compreender acima de tudo que toda a significação dada a
qualquer transmissor de discurso é ninguém menos que o conjunto social que lhe
atribui. Afinal, os ícones imagéticos que serão aqui apontados e resignificados
através de um olhar, só estão aqui pelo sentido que lhes foi atribuído. Eles não estão
nas praças para o simples embelezamento dos espaços urbanos. Estão pelo sentido
que adquirem e (re)transmitem. Pois, estas práticas discursivas constroem e
construíram nas pessoas uma teia mental de significações diversas, significações
essas que lhes permitem envolverem-se nesse processo produtivo do discurso.
É preciso aceitar que não há uma sociedade pura no sentido mais intenso do
termo. Portanto, nada que é produzido em uma sociedade está livre da sua
inevitável contaminação social. Estes ícones afirmam uma condição cultural de um
dado grupo, mas não encerram sua ideologia, valores e/ou crenças. Conforme Silva
e Silva no seu Dicionário de Conceitos Históricos, quanto ao termo ideologia há uma
compreensão que bem se assenta às discussões que se traz a partir destas ilações.
Assim, “Os estudos culturais consideram que, mesmo na indústria cultural, os meios
de comunicação de massa não expressam um único universo ideológico, mas sim
uma pluralidade de ideologias e discursos” (SILVA e SILVA, 2010, p. 206).
Não se está tratando aqui de uma ideologia que é compreendida como
dominante, ou seja, uma ocultação da realidade.
Certo ícone pode ser colocado em evidência chamando para uma
interpretação direcionada. Porém, nada pode garantir que não surgirão outras
compreensões acerca do mesmo objeto. Afirma-se, também, que assim será.
Portanto, nenhum discurso é hegemônico/dominante em si.
Não é possível postular que a compreensão de um indivíduo está unicamente
condicionada ao que se deseja que ele compreenda. Como também não se postula
a ideia de que há uma sincronia nas interpretações de um conjunto de pessoas,
simplesmente, por se enquadrarem neste conjunto. Seria absurdo, pois, negaria a
capacidade individual e inteligível de um ser humano.
Nesse sentido, as considerações que serão apresentadas condizem com um
olhar que tem aceitação cognitiva entre diversas pessoas, como também haverá
13
uma negação por parte de outras. É bom que seja assim, pois não se deseja uma
compreensão alienada, única, absoluta e dogmática. Pretende-se tão somente
evidenciar um debate que precisa acontecer.
Para melhor ilustrar essas considerações serão apresentados alguns desses
ícones, começando pelo que se apresenta na fotografia abaixo.
14
Figura 2 - Placa ao pé da escultura que homenageia os anônimos
da "Revolução Acreana". Acervo Pessoal
Esta é a placa que registra o feito. Cinco linhas cavadas em aço para
homenagear os “heróis anônimos que deram suas vidas pela causa acreana”.
Continuam anônimos. Esta escultura não resgata em nada os silêncios da
“Revolução Acreana”. Continuam tão anônimos quanto a própria escultura que
ninguém sabe o que é.
É verdade que já se passou pouco mais de um século do evento em questão.
Assim, ainda é perfeitamente possível dar voz e vez a muitos desses heróis. Alguns
relatos como que ecoam ainda hoje nas ruas, praças e ônibus destas terras. Muito
do “ouvi meu pai dizer...” não ganha crédito nem do governo, nem das instituições
de preservação da memória, e menos da academia. Quando não, chamam qualquer
transcrição de uma entrevista de História Oral e a isso direcionam seus esforços
como o máximo possível a ser feito por essas pessoas. Embora, saiba-se que a
15
História Oral não é isso. Há que se perguntar por que esta e não outra pessoa foi
evidenciada no contexto oficial dessa história?
Observe-se bem o texto abaixo, cavado em mais uma placa e afixada no
mastro da bandeira, próximo à gameleira.
18
De acordo
com esta placa, o
nome da Praça é
“Rodrigues Alves”,
em homenagem
ao presidente que
governou o país
no período de 15 de novembro de 1902 a 15 de novembro de 1906. Ou seja,
exerceu seu mandato no período do conflito entre os nordestinos e os bolivianos. Foi
Figura 4 - Placa afixada ao coreto da Praça central de Rio Branco que registra o primeiro
nome que a mesma recebeu. Acervo pessoal.
sacralizado e heroificado nesse monumento.
A mesma praça ficou popularmente conhecida como “Praça Plácido de
Castro” devido à estatueta plantada ali.
Figura 5 – Letreiro que está em baixo dos pés da estátua de Plácido de Castro erguida no governo de José
Augusto em 1964. Acervo pessoal.
Calixto/UFAC respondendo certa vez a seus alunos o que seria história. “A história é
o sucesso sucedido sucessivamente sem cessar.”
19
E, mais recentemente, a praça foi rebatizada, agora com o nome de “Praça da
Revolução”, e, claro, sem perder a oportunidade de manter vívido o nome do “herói”
para assim justificar a renomeação do espaço. Perceba-se mais um semióforo.
Há
Figura 6 - Placa que renomeia a Praça Rodrigues Alves em "Praça da Revolução CEL. PLÁCIDO DE
CASTRO". Acervo pessoal
uma nítida intenção em reelaborar a história do Acre a partir de uma nova conjuntura
identitária de um projeto de poder porque os semióforos “...são coisas providas de
significação ou de valor simbólico, capazes de relacionar o visível e o invisível”.
(CHAUÍ, 2000, p. 12). Ou seja, é só entrar no ônibus da história e reconduzir sua
20
direção, evidenciando novos personagens que aparecem como promotores de uma
“história nova” para um novo Acre. Assim, cada semióforo desse é “signo de poder e
prestígio” (CHAUÍ, 2000, p. 13).
Esse esforço de recondução da história é uma ação consciente de diversos
interesses individuais e/ou institucionais de ficar na e para a história. É uma tentativa
de se fazer, e/ou, se fazerem herói(s).
O problema está na maneira como as coisas acontecem. Está em quais
grupos e/ou pessoas tomarão este ônibus. Quem foi perguntado sobre a mudança
do nome da praça? Que esforço foi empreendido em buscar nomes e registros das
pessoas dadas como anônimas durante o conflito entre brasileiros e bolivianos?
Repete-se, insistentemente, continuam anônimos. E quem foi evidenciado por detrás
disso? Pessoas que nem sequer existiam naquele período. Pessoas que projetaram
um ideal de dominação ideológico, político e social.
O semióforo falseia um sentimento de comunhão e identidade que não existe
de fato. Não se pode compreender um conjunto social como seres passivos. É
evidente que há um projeto de conjuntura histórica implementado. Mas, da mesma
forma, não é tão claro que todos o tenham assimilado de bom grado e/ou da mesma
forma. Prova disso é este trabalho que procura olhar por outro ângulo e estabelecer
uma nova possibilidade cognitiva dessa conjuntura social. São as resistências.
Todavia, a história oficial tem consciência dessa ilustração resistente. Assim,
reage com novas construções que, inevitavelmente mexem com o orgulho e o
sentimento das pessoas. Exemplifica esse contexto o surgimento de neologismos
regionais que dizem além aos seus próprios conceitos. É o caso de FLORESTANIA
e ACREANIDADE. Estes conceitos serão abordados no capítulo 2.
Outros exemplos de semióforos são apresentados a seguir.
21
Hino Acreano
23
Figura 7 - Placa de entrega da UPA Tucumã em Rio Branco. Acervo pessoal
Observe que bem no alto da placa está escrito novembro de 1903. Uma
clara referência ao mito fundador do Acre, a “Revolução Acreana”. De novo, a
instituição governamental volta à origem para justificar seus feitos. Reconfigura a
realidade tornando suas obras em atos históricos. É uma tentativa clara de ficar para
a história mesmo que:
24
poder, assim como, e isso é o que mais lhes interessa, permanecer na história,
ocupando o seu panteão.
25
“O mito fundador acreano não se firma com a chegada de Neutel Maia no final do
século XIX; e, sim com a luta entre brasileiros e bolivianos que finda com a
assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903.”
QUEIRÓZ, Francisco Aquinei Timóteo, 2006
Capítulo II
Esse discurso tem influenciado a mídia local que reverberado pela história
oficial vem conseguindo atingir proporções nacionais. É um senador acreano que o
proclama da Tribuna Federal: “... O Acre tem essa história tão peculiar. É o único
Estado deste País que se tornou brasileiro por opção de sua gente.” (Senador
Geraldo Mesquita Júnior/PSB4 – Acre). (Grifo meu).
Ou mesmo o presidente do Senado, por ocasião da “Semana do Acre”:
4
Discurso proferido em 2003 quando o então senador estava filiado ao PSB.
5
Esta matéria foi publicada pela Agência Senado em 2005 quando o mesmo senador já estava no
PSOL.
gente, combatida pelo governo boliviano e pelo governo
brasileiro, decidiu pertencer ao Brasil”. (Grifo meu).
No contexto até aqui evidenciado há uma clara intenção de, a partir de uma
relação histórico-social de fundação do Estado do Acre, construir a identidade do
povo acreano remetendo sempre a um “passado glorioso”.
Desta feita, esse “passado glorioso” parece justificar diversas ações que
acontecem no tempo presente. Ações estas que encontram respaldo no que, nos
últimos anos, vem sendo alcunhado pelo neologismo acreanidade.
O termo aqui vem ser evidenciado para além de uma construção semântica,
ou seja, do seu significado em si, mas, sobretudo, pelo significado que evoca uma
origem aureolada e mistificada do povo acreano.
Acreanidade é uma construção negadora de acreanismo, conforme ensina
MORAIS:
É possível inferir, por meio de uma leitura histórica que os habitantes do Acre
no período “glorioso” de sua fundação não nutriam qualquer sentimento de apego
e/ou identidade ao espaço. Conforme Bastos: “A terra subornava, o senhor
oprimia...” (1940, p. 14). A leitura que o mesmo Bastos fazia do “homem acreano”
era a de um “homem sofredor, enfermo, pobre e escravizado” (idem). Ou ainda:
Nesse contexto a floresta está apresentada de forma soberana, afinal, “... nós
é que pertencemos a ela...”. É claro que a apropriação do ideal de florestania pelo
governo do Estado é feita de modo a desenhar a identidade do acreano, por isso,
acreanidade e florestania são termos complementares.
O problema se torna bem maior quando se transporta toda essa conceituação
para uma sacralização da floresta. Embora, nos termos conceituais se espere uma
harmonia entre o homem e a natureza, todavia, essa harmonia pretendida esconde
todo um processo exploratório da floresta em que quem menos ganha é o
seringueiro, o extrativista, o pequeno produtor...
Morais, caminha nessa compreensão ao escrever:
6
QUEIROZ, Francisco Aquinei Timóteo. O mito da acreanidade. Acessado em:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/02/345034.shtml a 14.03.2010 Em seu texto Queiroz
faz a seguinte definição de florestania: “...a Florestania é uma fala mítico-ideológica que se propõe a
criar símbolos identificatórios e ordenar discursos políticos, salvaguardando suas oposições.” (Grifo
meu).
realidade os maiores beneficiados não são os povos da floresta
e sim aqueles que sempre se beneficiaram das políticas
públicas estaduais...” (Morais, 2008, p. 179)
7
Segundo Alves, criador do termo, dito de uma maneira bem mais simples, florestania é ‘A cidadania
na floresta’.
identidade do acreano”. Há uma forte política de exploração da floresta que só
beneficia os grandes empresários, os grupos políticos e o mercado internacional.
Eliade ensina que “... o mito designa, ao contrário, uma ‘história verdadeira’...
extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo...”
(ELIADE, 2007, p. 7).
Nesse contexto a história do Acre tem muito de mito, pois há uma forte
tentativa de construir verdades ao ponto de sacralizar personagens e pessoas na
busca da origem do evento histórico. Esta sacralização reside na construção de uma
identidade de um povo que é brasileiro por opção, pois escolheu pertencer ao
Brasil.
Assim, a acreanidade e a florestania são construções míticas da realidade na
tentativa de direcionar o comportamento e as atitudes do povo acreano. A relação de
acreanidade traduz um conceito de civilidade que extrapola o campo do significado
em si criando alguns absurdos ufanistas até mesmo no marketing de algumas
empresas locais. Veja:
Supermercado Araújo: Orgulho de ser acreano.
Supermercado Gonçalves: Mais acreano impossível.
Fonte: www.contilnet.com.br
Todo apaixonado pelo Acre, pelo povo do Acre, pelas coisas do Acre é, de
cara, cidadão/ cidadã da República. Mas ainda terá que passar no Teste da Farinha
e se encastuar às Leis Complementares da dita cuja, que vigorarão conforme o
humor do Proclamador, no caso eu, ora!
8
Todos os grifos e ou destaques apresentados nesse texto são meus.
PRINCÍPIO 1
PRINCÍPIO 2
PRINCÍPIO 3
PARÁGRAFO ÚNICO
Capítulo III
Note que em outra ótica a “Revolução Acreana” é vista como uma rebelião.
Os heróis do Acre estão colocados sob a égide da traição, da mentira, da ambição,
do roubo, do interesse pessoal.
Mais uma vez há de se perguntar: Por que esse discurso não aparece?
Porque, no contexto atual, heroificam-se pessoas que em um passado não muito
longe foram considerados chantagistas, cheios de interesses próprios. A resposta
continua trilhando pelo caminho dos interesses particulares e pessoais. Há uma elite
que propaga esse discurso por se servir dele.
Para o foco desse trabalho outro signo discursivo que precisa ser desfeito é a
ideia de “Revolução Acreana”. Será mesmo que o evento beligerante travado entre
brasileiros no Acre e bolivianos foi mesmo uma revolução?
É importante fazer essa desconstrução, pois, como afirma Florestan
Fernandes, “a palavra revolução tem sido empregada de modo a provocar
confusões.” Não é diferente no caso da história do Acre, onde o termo revolução
aparece ardilosamente arquitetado.
Novamente Florestan Fernandes ilustra bem o sentido dessa arquitetação
discursiva do termo revolução, que tem por base:
ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. 6 ed. Trad.: Pola Civelli. São Paulo:
Perspectiva, 2007.
JENKINS, Keith. A História Repensada. Trad.: Mario Vilela. 3 ed. São Paulo:
Contexto, 2007.
FERREIRA, Edmilson. Binho Marques lança selo e carimbo dos 100 anos
de morte de Plácido de Castro. Disponível em:
http://www.agencia.ac.gov.br/index.php?
option=com_content&task=view&id=5185&Itemid=1 Acesso em: 20/01/2010
[s. n.] O Dia em que o Acre Decidiu Ser Brasileiro. Disponível em:
http://pagina20.uol.com.br/16112003/entrevista.htm Acesso em: 12/03/2010.