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2008 / 2009
Introdução 2
O percurso de Le Corbusier e a
4
luz
9
2.1 As primeiras experiências
14
2.2 O Purismo e as preocupações
higienistas
2.3 A revisão dos princípios modernos
15
2.4 O pós-guerra e as novas
experiências
A luz no convento de La
Tourette
3.1 O objecto e a paisagem 21
3.2 O volume 22
3.3 O vazio 23
O culto
5.1 Igreja 29
5.2 Serviços do culto 30
Tons de luz 32
Conclusão 33
36
Bibliografia
1
Introdução no qual o ser humano não possui
qualquer tipo de controlo mas apenas o
Ao longo da história da arquitectura, o seu usufruto. Deste modo nasce a
homem criou e desenvolveu mecanismos “simbologia” ideológica da luz, a sua
e métodos para se adaptar ao ambiente adoração.
natural. Estes mecanismos, sob a forma Com os desenvolvimentos tecnológicos e
de construções, reflectem a capacidade científicos, fruto do desenvolvimento
racional do homem na procura de uma racional do homem, a luz natural foi
adaptação, a mais equilibrada possível, sendo entendida como um dado
com a envolvente natural. adquirido, como uma fonte inesgotável à
Ao analisarmos a história do escala do Homem e neste sentido foram-
desenvolvimento do homem se desvanecendo as suas propriedades
apercebemo-nos que a sua relação com o simbólicas. Nos finais do século XIX,
ambiente não se assume como um dado inícios do século XX, a ciência atribui à
adquirido pois manifesta-se tão variável luz natural propriedades físicas
quanto as características naturais e essenciais ao bom funcionamento do
geográficas. Embora cada caso seja corpo humano, transformando assim a
específico, é possível identificarmos luz numa ferramenta essencial à vida
elementos comuns praticamente em humana.
todos eles, tendo em conta as diversas Esta alteração conceptual acaba por
componentes naturais que interferem transportar para segundo plano as
directamente na vida do homem e nas características simbólicas da relação do
suas várias actividades relacionadas Homem com o grande astro substituindo
directamente com a envolvente natural. os valores sentimentais e emocionais
Podemos considerar que a luz natural, pelos valores físicos e racionais.
proveniente do Sol, se define como um Le Corbusier, um dos principais
elemento comum a todas elas. impulsionadores do movimento moderno
Este elemento comum, necessidade do século vinte, assume-se inicialmente
básica do ser humano, é tratado das mais nesta corrida pelos valores funcionais da
variadas formas consoante as suas luz e da sua influência na vida humana
especificidades. O tratamento da luz nos defendendo questões essenciais para uma
países Nórdicos é desenvolvido em melhoria das condições de vida. A luz,
função do seu clima, procurando como elemento essencial à vida humana
aumentar os seus rendimentos e por sua vez às suas actividades, surge
energéticos, uma vez que a sua geografia enquanto elemento que estabelece a
proporciona um reduzido índice de relação entre a obra humana e a natureza
iluminação natural. Em contrapartida, exterior e adquire um importante papel
nos países Equatoriais, o tratamento da no desenvolvimento conceptual das
luz natural nas construções é obras e projectos.
desenvolvido no sentido de reduzir a Tendo consciência do muito que já foi
abundante iluminação solar. escrito e dito sobre este autor, este
Embora a luz natural se considere uma trabalho procura através de uma análise
necessidade básica para a vida, nem geral entender o percurso de Le
sempre o homem a identificou com tanta Corbusier através da sua relação com a
naturalidade, uma vez que esta luz iluminação natural tendo como objectivo
intensa proporciona não só vida ao entender os métodos utilizados e
homem, como a toda a natureza que o desenvolvidos ao longo da sua obra.
envolve e por sua vez alimenta os novos Fazendo uma síntese dos principais
desenvolvimentos. A luz transforma-se projectos e obras através da evolução dos
então num elemento Divino e Superior,
2
diferentes modos de iluminação natural e
dos respectivos tipos de vão.
3
1 2
Fig.1 - Convento de Ema, Galuzzo. Jeanneret, 1911
Fig.2 - Corte tipo. Convento de Ema. Jeanneret, 1911
3
Fig.3 - Apartamentos 25 rue Franklin. A. Perret, 1903-04
Fig.4 - Planta apartamentos 25 rue Franklin. A. Perret, 1903-04
5 6
Fig.5 - Desenho do vão do transepto, Catedral de Oran. A. Perret, 1908-12
Fig.6 - Vista da construção, Catedral de Oran. A. Perret, 1908-12
Le Corbusier e a luz criando cheios e vazios (fig. 5). A
aplicação desta técnica resulta num
2.1 As primeiras experiências rendilhado que permite assim controlar a
iluminação natural quer na sua qualidade
Na primeira viagem que dedicou ao quer na intensidade.
estudo arquitectónico, Jeanneret desloca- Perret demonstra a Jeanneret o seu
se ao norte de Itália. Em Florença visita interesse pela iluminação natural
o convento de Ema, em Galuzzo (fig. 1), associada as inovações tecnológicas e
identificando a capacidade de adaptação materiais manifestando a importância do
de dois modos distintos de habitar o processo da investigação histórica
espaço arquitectónico, o individual e o constante. O edifício habitacional de
colectivo relacionados através de um 1902 (fig. 3), com vários pisos no
edifício único. A relação do indivíduo número 25bis na Rue Franklin onde
com a natureza e com a comunidade é Jeanneret trabalha durante o seu período
reflectida na ligação entre o claustro e a de estadia em Paris é um dos primeiros
cela e por sua vez com um espaço reflexos do interesse de Perret por
“exterior” privado (fig. 2). questões relacionadas com a iluminação
natural e da sua relação directa com os
Despertada esta sede de novos diversos programas associados.
conhecimento, Jeanneret em 1908, deixa Primeiramente Perret faz uma distinção
La Chaux-de-Fonds na procura da nova do programa em função da sua relação
verdade arquitectónica e parte em como exterior. As zonas de serviços com
campanha em direcção a Paris com o permanência reduzida localizam-se no
objectivo de enriquecer e actualizar a sua extremo oposto ao Alçado principal. As
cultura arquitectónica, artística e zonas comuns e privadas, sala de estar,
cultural. Em Paris Jeanneret é recebido quartos, assumem-se numa relação
por August Perret, grande conhecedor franca com o exterior através de grandes
das técnicas construtivas do ainda vãos. Ainda no sentido de proporcionar
recente betão armado. Trabalhando cinco uma maior intensidade de luz natural,
horas diárias, Jeanneret preenche o Perret recua parte do perímetro da
restante tempo diário estudando. Perret, fachada, permitindo aumentar a
apologista do estudo insiste para que incidência da luz natural na profundidade
Jeanneret estude matemáticas e do lote (fig.4). Neste bloco de habitações
estruturas dedicando especial atenção urbanas, Perret desenvolve os primeiros
aos escritos racionalistas de Eugène princípios da cobertura acessível, embora
Viollet-le-Duc. Um dos primeiros estes resultem possivelmente das normas
trabalhos em que Jeanneret participa sob urbanísticas no que diz respeito à relação
a alçada de Perret foi a Catedral de Oran, com as construções contíguas. A
um edifício religioso ainda dentro de supressão da cobertura inclinada resulta
uma tradição vernacular mas sustentado no recuo sucessivo dos limites dos pisos
por materiais e técnicas modernas(fig. 6). superiores.
Neste edifício Perret desenvolve (pela Através de Perret, Jeanneret aprende
primeira vez) uma técnica inovadora, também as técnicas do betão armado
embora com antecedentes históricos associado ao conhecimento das
identificados, que vai ser repetidamente estruturas modulares tendo por princípio
aplicada noutras suas obras. Esta os conhecimentos dos elementos
inovação consiste no preenchimento dos arquitectónicos e das proporções
vãos com elementos de betão aligeirados características da cultura clássica.
e prefabricados desenhados através da
sobreposição de formas geométricas
4
7 8
9.1
9
Fig. 7 - Desenho de Le Corbusier, Palais de Bois. Paris. 1924.
Fig. 8 - Desenho da comparação espacial entre a construção tradicional e a proposta por Le Corbusier. 1924
Fig. 9 - Edificio em Michaelerplatz, Viena. Adolf Loos, 1909-11.
Fig. 9.1 - Oficina de aprendizes no edificio em Michaelerplatz. Adolf Loos, 1910.
10.1
10
Fig. 10 - Fábrica de turbinas da AEG, Berlim. Peter Behrens,1910.
Fig. 10.1 - Vista interior da fábrica AEG, Berlim. Peter Behrens,1910.
11 11.1
Fig. 11 - Fábrica Fagus, Alfeld an der Leine. Walter Gropius,1911.
Fig. 11.1 - Vista interior da fábrica Fagus, Berlim. Walter Gropius,1911.
Tomando conhecimento através de arquitectura alemã assim como as
documentos científicos protagonizados novidades tecnológicas e culturais
por um fotógrafo desconhecido, através (fig.11).
da medição das diferentes intensidades
de luz num espaço interior, torna-se A Alemanha encontrava-se num
aficionado dos rasgos horizontais percurso de acentuada ascensão
paralelos ao horizonte. Jeanneret afirma tecnológica, tendo como principal
que a janela corrida (fig. 7), que precede objectivo a criação de modelos
o pano de vidro ilumina melhor que as adaptáveis aos usos quotidianos e aos
janelas verticais: processos produtivos modernos tendo em
“ A tabela diz o seguinte: “uma conta os “ideais artísticos” que
superfície igual de vidro, uma sala preenchem as diversas disciplinas. Em
iluminada por uma janela corrida que Junho de1910 assiste ao congresso da
vence o vão entre duas paredes Deutscher Werkbund em Berlim, e em
contíguas (…) comporta duas zonas de Novembro começa a trabalhar no estúdio
iluminação: uma zona 1, muito de Peter Behrens (fig. 10).
iluminada; uma zona 2, bem iluminada. Nesta curta estadia pela Alemanha
Por outro lado, uma sala bem iluminada Jeanneret visualiza e experimenta a
por duas janelas verticais, entre as quais evolução da tecnologia aplicada nos
existe um vão, comporta 4 zonas de processos construtivos da arquitectura,
iluminação: a zona 1, muito iluminada nomeadamente através da aplicação de
(dois sectores bem pequenos); a zona 2, materiais recentemente desenvolvidos. O
bem iluminada (um sector bem ferro e o vidro apresentam-se como os
pequeno); a zona 3, mal iluminada (um principais dinamizadores desta evolução,
sector grande); a zona 4, escura (sector através da possibilidade do
grande). A tabela acrescenta: “Expor preenchimento dos vãos, cada vez
quatro vezes menos a placa fotográfica maiores e com uma expressão material
na primeira sala.”1 (fig. 8) cada vez menor. O vidro apresenta-se
com dimensões mais generosas e com
Numa célebre discussão com Perret, que características mais resistentes.
defende a janela vertical por se
aproximar da posição natural do homem, Um dos teóricos principais do
Jeanneret assume a sua preferência pelo movimento Werkbund, Herman
conforto visual do rasgo horizontal Muthesius, escreveu: “Muito mais
permitindo uma iluminação natural mais elevado que o material é o espiritual;
homogénea e suave. muito mais alto que a função, o material
e a técnica, ergue-se a Forma. Estes três
Em 1910, já depois de ter saído de Paris aspectos materiais podem estar
para um retiro em La Chaux-de-Fonds, impecavelmente resolvidos mas se a
Jeanneret parte para a Alemanha com o Forma não estiver viveríamos ainda num
objectivo de fazer um levantamento mundo embrutecido”2
sobre as artes decorativas daqueles
países. Esta encomenda de L`Eplatenier Contudo a primeira observação
oferece a Jeanneret a possibilidade de consciente de Jeanneret acerca do
visitar edificios escolares, fábricas e fenómeno da iluminação natural é
oficinas com uma arquitectura efectuada aquando da sua viagem ao
contemporaea (fig. 9), permitindo-lhe Oriente em 1911, na qual ele regista
conhecer os principais autores da
2
Cf. Ideias y Formas, Curtis, William. 1987.
1
Precisions, Le Corbusier, 2004. p. 66 p. 31
5
12 13
Fig. 12, 13 - Santa Sofia, Istambul.Viagem ao Oriente.1911
14
15 16
Fig.14 Vila de Adriano, Viagem ao Oriente.1911
Fig.15,16 Mesquita verde, Viagem ao Oriente.1911
17 18
19 20
Fig.17,18,19,20 Acrópole de Atenas, Viagem ao Oriente.1911
novas sensações proporcionadas pela aponta o modo como a luz incide na
arquitectura tradicional característica do colunata do Partenon desfragmentando a
clima mediterrânico. Nesta viagem ele massa do volume e atribuindo-lhe um
observa com muita atenção os tipos de sentido de transparência através da
composição utilizados nas soluções leitura da sobreposição dos planos.
arquitectónicas dos edifícios, quer Esta transparência determinada pela
através dos jogos volumétricos (fig. 12) planta é fruto de uma hierarquia de
na relação entre eles ou simplesmente enquadramentos visuais5 aos quais se
pelas características que a massa atribuem cargas sensoriais distintas e
edificada atribui ao espaço interior desse modo caracterizações diferentes.
(fig.13). Nas ruínas da Vila de Adriano
(fig. 14) em Itália, Jeanneret observa e Le Corbusier, identifica nos principios
regista o modo como a luz natural e a sua de Choisy a dupla possibilidade de
sombra definem o contexto espacial observação da obra arquitectónica. O
proporcionado pelo inverso do volume objecto, visto do exterior, é enquadrado
(cavidade, segundo Rasmussen). Na numa envolvente especifica. As suas
mesquita verde em Istambul (fig. 15), superfícies permitem uma leitura da
associa o jogo dos sucessivos volumes a totalidade através dos jogos entre cheios
uma sequência temporal no percurso do e vazios, entre superfícies iluminadas e
tempo, como câmaras de superfícies em sombra.
“descompressão” que nos preparam para “ Na acrópole de Atenas, os templos que
a entrada sucessiva no templo. Esta se inclinam uns para os outros para
sequência sensorial é transmitida através constituir um ambiente que o envolve
da altura determinada pelo vazio do facilmente. O mar que compõe com as
volume (fig. 16) e por consequência por arquitraves etc.” 6
um tipo de luz distinta entre cada um dos
espaços. Jeanneret reconhece então que a Do seu interior, inversamente, são-nos
leitura do espaço construído é efectuada apresentados campos de visão
através da relação entre matéria e o seu específicos, através dos vãos (intervalos
vazio preenchido pela luz ou pela sua entre colunas) entre elementos
ausência. 3 arquitectónicos que definem a superfície
Na passagem por Atenas na sua viagem exterior.
ao oriente Le Corbusier analisa “A planta procede de dentro para fora;
cuidadosamente a composição espacial o exterior é o interior resultado de um
do expoente clássico, quer na relação interior. Os elementos arquitectónicos
entre os volumes construídos (fig. 17), são a luz e a sombra, a parede e o
quer na relação entre estes e a paisagem espaço. O homem vê os objectos da
envolvente (fig. 18). A superfície do arquitectura com os seus olhos a 1,70m
Partenon determina o tipo de relação do solo.” 7
entre o construído e o exterior (fig. 19).
A planta estabelece a hierarquia entre Após um processo de formação inicial,
elementos espaciais construídos ou o orientado por L`Eplatenier e com base na
vazio entre eles4. Nos seus desenhos observação da natureza, Jeanneret
(fig. 20) , entende que no processo de
aprendizagem é fundamental a
3
El viage de Oriente, Jeanneret, Ch.-Edouard.
1993. p. 91.
4 5
Refiro-me à implantação dos volumes, à Desenhos de Choisy do partenon p. 409
6
organização do programa de cada um deles, ao Por uma arquitectura, Le Corbusier. 1994.
condicionamento do percurso que determina os p.133
7
campos de visão. idem. p.127
6
21
22
23
Fig.21 - Villa Jeanneret, La Chaux-de-Fonds. C. Jeanneret,1912.
Fig.22 - Comparação entre a Villa Jeanneret e as casas patio Romanas.C. Jeanneret,1912.
Fig.23 - Estudio de trabalho de C.Jeanneret,1912.
24
26
25
Fig.24 - Sistema estrutural tipo Dom-Ino. C. Jeanneret,1914-15.
Fig.25 - Esquisso da casa junto ao mar para Paul Poiret. 1916.
Fig.26 - Desenho do interior da casa para Paul Poiret. 1916.
27
28 29
Fig.27 - Maison Schwob, La Chaux-de-Fonds. C. Jeanneret,1916.
Fig.28 - Vista interior da Maison Schwob. C. Jeanneret,1916.
Fig.29 - Vista interior da Maison Schwob. C. Jeanneret,1916.
observação dos conhecimentos Neste período, associado as experiencia
empíricos. A Vila Jeanneret (fig. 21) com os vários elementos que compõem o
projectada após o regresso da viagem ao raciocínio projectual, Jeanneret
oriente de 1911, tendo como cliente a experimenta novas noções espaciais, a
própria família, é o seu primeiro sua maioria influenciadas por
laboratório, no qual são criadas as experiencias vivenciadas nas suas
primeiras experiências arquitectónicas anteriores viagens. O jogo entre os
tendo como base os conhecimentos da vazios volumétricos que define cada um
sua formação teórica e pratica associados dos espaços do programa, influenciado
aos conhecimentos recolhidos nas suas pelas teorias de Raumplan de Adolf
viagens. O tema da luz tem aqui especial Loos, é explorado em sintonia com a
destaque na composição do espaço relação entre os diversos programas e o
interior enquanto caracterizador principal seu exterior. Nos esquissos da Vila para
do programa a que se destina. O tipo de Paul Poiret (fig. 25) destaca-se uma sala
iluminação explorada por Jeanneret, é comum com duplo pé direito enquanto
variável em função do programa espaço principal (fig. 26) do programa
espacial. As diversas salas comuns no habitacional assumindo uma relação
piso de entrada, interligadas, são franca com o exterior através de vãos
caracterizadas por uma luz homogénea envidraçados também com altura dupla.
que varia segundo a orientação solar do A casa Schwob de 1916 (fig. 27) , em La
espaço e do tipo de vão (fig. 22). Esta Chaux-de-Fonds, ilustra bem o exemplo
variação de luminosidade provoca na do carácter experimental que se cruzava
leitura do espaço interior uma noção de no processo de desenvolvimento
unidade através do contraste entre os profissional de Jeanneret. A iluminação
planos que o definem, iluminados ou natural explorada através das diversas
pouco iluminados (fig. 23). relações entre interior e exterior acentua
a caracterização funcional que cada
O início da primeira Grande Guerra espaço serve. Embora ainda muito
coincide com o início da independência próxima dos princípios construtivos
da actividade profissional de Jeanneret. tradicionais baseados na sobreposição de
Em 1914, influenciado pelo ambiente de massa, este edifício procura já explorar
mudança cultural e geográfico as vantagens de um método construtivo
característico de um período de guerra, no qual é preenchido o vazio entre os
põe em prática os conhecimentos diversos elementos estruturais. Este
adquiridos nas anteriores experiências método construtivo permite a Jeanneret
profissionais e desenvolve uma tipologia criar diferentes tipos de vão consoante o
construtiva associada às novas maior ou menor preenchimento dos
tecnologias. Este modelo com o nome de vazios estruturais (fig. 28).
Dom-Inó (fig. 24), representava a Podemos observar no vão com dupla
sistematização do processo construtivo. altura da sala de estar comum o principio
A estrutura, assumida enquanto da parede de vidro climatizada (fig. 29)
esqueleto composto por pilar e viga, que Le Corbusier vai desenvolver
suporta as várias lajes que compõem o posteriormente nos grande edifícios de
programa. O entendimento do esqueleto escritórios.
enquanto elemento independente permite
a libertação do compromisso directo No início de 1917 Jeanneret instala-se
entre a organização interior do espaço e a definitivamente em Paris. Com o
sua composição exterior. contacto de Max Dubois inicia
actividade como assessor de uma
companhia dedicada a trabalhos
7
30 31
Fig. 30 - Cubo branco,1918 Ch. Jeanneret.
Fig. 31 - Composição, 1919 Ch. Jeanneret.
32 33
Fig. 32 - Natureza morta. Ch. Jeanneret,1919.
Fig. 33 - Natureza morta. Ch. Jeanneret,1920.
relacionados com o betão armado. Da composição (fig. 31) à escolha da
Mantendo uma vida dupla entre o cor, passando pela geometrização dos
trabalho para subsistir, ocupa os períodos elementos representados (fig.32),
pós-laborais no estudo e Jeanneret e Ozenfant propunham uma
desenvolvimento de projectos, pinturas e filtragem dos conhecimentos da história
teorias. A guerra continuava ainda com associando-os aos novos elementos
um destino incerto influenciando assim comuns, nomeadamente aos novos
os potenciais clientes a não arriscar em processos tecnológicos e aos novos
novas edificações. elementos sociais e culturais (fig. 33).
Em 1918 Jeanneret põe em prática um . “O purismo quer conceber claramente,
desejo que guardava desde os tempos de executar lealmente, sem perdas;
infância, o sonho de ser pintor (fig. 30). abandonar as concepções confusas, as
Este sonho é reavivado quando conhece execuções someras, imprecisas (…) A
o pintor Amédée Ozenfant, um citadino arte está ante tudo na concepção. A
de Paris bem relacionado no ambiente técnica não é mais que uma ferramenta,
artístico e cultural. Este pintor, muito modesta ao serviço da concepção”.8
interessado nos vários métodos de
expressão artística e cultural, assume um “Através da aplicação dos elementos
particular interesse pela pintura moderna, primários, da eleição dos objectos-tema
nomeadamente pela crítica ao cubismo seleccionados, através de uma sintaxe
que se assumia como a primeira grande regulada pelas leis do espaço pictórico,
vertente anti-historicista no mundo das o purismo experimenta (tenta) uma arte
artes. Jeanneret atraído por este espírito feita de constantes plásticas que se
crítico inicia uma série de actividades em afastam das convenções, que se dirige,
conjunto com o seu novo amigo e perante tudo, à propriedades universais
companheiro. Entre elas a escrita é a que dos sentidos e do espírito.”9
obtêm maior destaque permitindo-lhes
explorar teoricamente as controvérsias Os elementos arquitectónicos, fruto de
apresentadas pelos movimentos artísticos uma estilização material e conceptual,
anteriores e por consequência apresentar apresentam um novo modo de
novas questões e até novas soluções entendimento do objecto arquitectónico.
relacionadas com as novas tecnologias. Contrastando com o método tradicional,
Um dos principais trabalhos desta dupla os novos modelos de construção
de artistas consiste num conjunto de propostas procuram resplandecer o
escritos, nos quais é discutida a situação “rigor científico”, quer através das suas
artística da época, nomeadamente, o superfícies planas que definem o
movimento cubista. Nestes conjunto de volume, quer pelo rigor do detalhe
escritos teóricos, com o nome de “Après construtivo que responde exactamente à
le Cubism”, apresentavam-se críticas ao função que cumpre.
processo criativo marcado pela sua A cor, procurando responder com a
alienação face ao conhecimento da mesma exactidão “científica”, é tomada
história das artes. Neste sentido por Le Corbusier como uma ferramenta
procuravam através da reflexão auxiliar que complementa a leitura
apresentar novas soluções artísticas que sensorial do objecto criado.
visavam valorizar os processos
representativos da época não
menosprezando de modo algum os
8
conhecimentos empíricos que preenchem Acerca del purismo, A. Ozenfant; Jeanneret,
a cultura dos homens ao longo da Ch.. 1994. p. 47
história humana. 9
Idem. p. 93
8
34
37
35 36
Fig. 34 - Perspectiva do primeiro modelo da casa Citrohan. Ch. Jeanneret,1920.
Fig. 35 - Casa Citrohan. Ch. Jeanneret,1920.
Fig. 36 - Casa Citrohan. Ch. Jeanneret,1922.
Fig. 37 - Maquete da casa Citrohan. Le Corbusier,1922.
38 39
41 42
40
Fig. 38 - Complexo habitacional Immueubles-Villas. Ch. Jeanneret,1922.
Fig. 39 - Perspectiva do interior do Complexo Immueubles-Villas,1922.
Fig. 40 - Corte transversal da casa para o pintor Ozenfant. Le Corbusier,1922.
Fig. 41 - Casa para o pintor Ozenfant, Paris. Le Corbusier,1920.
Fig. 42 - Vista interior da casa para Ozenfant, Paris. Ch. Jeanneret,1920.
2.2 O Purismo e as preocupações apresenta em 1922 uma reformulação do
higienistas conceito Citrohan (fig. 37) através da
elevação do volume da habitação. O
Em 1920 é lançado o primeiro número volume, suportado por um embasamento
da revista “L´Espirit Nouveau” composta composto por pilotis, liberta parte da
por artigos de vários intervenientes do superfície de implantação, garantindo
ambiente cultural Parisiense procurando assim uma superfície exterior protegida
apresentar questões relacionadas com o da intempérie mas iluminada pelo sol
contexto artístico associado à (fig. 36).
envolvência social. Numa pesquisa
sequencial da sabedoria arquitectónica
surge o heterónimo Le Corbusier O período pós guerra invoca novas
procurando reflectir os mais variados condições sociais associadas aos novos
temas. desenvolvimentos tecnológicos e
culturais. Os princípios desenvolvidos
Em 1922, já instalado em Paris com seu anteriormente no modelo Citrohan e no
primo e sócio Pierre Jeanneret, projecta e sistema Dom-Ino dão origem a um
constrói um grande número de vilas e complexo habitacional colectivo. Como
casas nas quais desenvolve o repertório um aglomerado de habitações com
de soluções que anuncia e ao mesmo jardins próprios os Immeubles-Villas
tempo divulga, enquanto premissas para (fig. 38) assumem uma variação vertical
as novas bases da arquitectura moderna na tipologia da cidade jardim. O espaço
sintetizadas mais tarde pelos “cinco exterior privado e iluminado pela luz
pontos para uma nova arquitectura”. solar (fig. 39), manifesta-se numa das
O primeiro esboço da casa Citrohan de principais incidências de Le Corbusier na
1920 (fig. 34), evidência a vontade de Le problemática da habitação. Neste
Corbusier em sistematizar o processo projecto explora não só a organização do
construtivo. A articulação entre as espaço interior das habitações
potencialidades construtivas do betão individuais através das combinações
armado e o programa da habitação é entre cheios e vazios mas também
explorada através do jogo de cheios e através da sua relação com um espaço
vazios (fig. 35). O vazio, ou espaço exterior, habitavel.
principal, é subdividido em altura através
de um mezanino, enquanto os cheios se Neste mesmo ano Le Corbusier inicia o
sobrepõem em altura. O espaço principal projecto para o seu colega Ozenfant
relaciona-se com o exterior através de (fig. 40), voltando a explorar a tipologia
um vão de dupla altura preenchida com dos ateliês. A sua localização permitia
vidro, que define por completo a face explorar os anteriores princípios
interior do volume. O invólucro da aplicados na casa Citrohan, embora fosse
habitação, composto por um volume necessário ajusta-los a uma implantação
regular de dois pisos, assenta no solo e é com apenas duas fachadas livres. As
coroado por um terceiro piso recuado orientações Norte e Este permitiram a
denominado de solarium. Este terceiro aplicação de grandes painéis de vidro
piso, permitindo a criação de um espaço sem a preocupação da luminosidade
exterior na habitação, permite a demasiado intensa. O programa é
indidencia directa da luz solar. composto por uma zona de serviços no
Este modelo permite a Le Corbusier piso térreo, uma zona de habitação no
estudar novos problemas e deste modo primeiro piso e por um espaço de
criar novas soluções. Sem se afastar dos trabalho com dupla altura no segundo.
princípios iniciais, Le Corbusier Neste espaço de criação, Le Corbusier
9
43 43.1
Fig.43 Pavilhão de L`Esprit Nouveau. Le Corbusier,1925.
Fig.43.1 Planta da habitação tipo. Immueubles-Villas. Le Corbusier,1922.
44
10
45
46
47 48
49
50
11
51 52 53
56
54 55
Fig.54 Suite.
Fig.55 Corredor de acesso aos quartos.
Fig.56 Cozinha, Villa Savoye. Le Corbusier, 1929.
iluminada; uma zona 2, bem iluminada. Por momento de passagem entre o exterior
outro lado, uma sala iluminada por duas natural e o interior construído, criando
janelas verticais, entre as quais existe um um espaço exterior coberto:
vão, comporta quatro zonas de iluminação: “lembro-me das colunatas de São Pedro,
a zona 1, muito iluminada (dois sectores
em Roma, que sustentam nada e que
bem pequenos; a zona 2: bem iluminada (um
sector pequeno); a zona 3: mal iluminada
alimenta a nossa retina com a forma
(um sector grande; a zona 4, escura (um adorável do cilindro.”16
sector grande). A tabela acrescenta: Expor 4
vezes menos a placa fotográfica na 1º O entendimento do sistema estrutural
sala.”15 independente enquanto unidade, que dá
origem ao segundo ponto na medida em
Deste processo de autocrítica surge em que liberta da fachada todas as funções
1929 a Ville Savoye (fig.51) como estruturais. Definindo no exemplo da
“produto acabado” fruto de um resumo Vila Savoye a leitura de um
das suas práticas e teorias. A soma dos paralelepípedo assente num conjunto de
vários princípios assume uma rigorosa cilindros. Este sistema de pilotis,
função na definição do espaço permite a le Corbusier justificar os
construído e por consequência determina próximos dois pontos: a fachada livre,
o modo como a construção se relaciona independente nas funções estruturais
com a envolvente natural. permite o desenho de uma janela
Esta obra determina por consequência o horizontal em toda a periferia do
resumo dos cinco pontos (fig.57), volume. Esta separação entre fachada e
desenvolvidos por Le Corbusier e estrutura dá por sua vez origem à planta
apresentado nos vários números da livre, deixando aos muros divisórios
revista L´Espirit Nouveau e apenas as funções espaciais. O quinto
posteriormente no livro Vers Une ponto procura compensar a ocupação do
Architecture. Com o objectivo de construído compensando-o na sua
determinar um padrão tipo, aplicável cobertura17, respondendo assim ao
tanto na escala da habitação singular problema do espaço exterior privado
como na escala urbana, os “cinco (fig.53).
pontos” definem as bases projectuais
com as quais Le Corbusier trabalha ao No interior a luz inunda o espaço com
longo da sua carreira. intensidade, através de janelas
O primeiro dos pontos, que consiste na horizontais nos diversos compartimentos
elevação do volume através de um periféricos, clarabóias na cobertura nos
embasamento de pilotis, permite um espaços centrais e janelas de vão
menor índice de construtivo no piso completo orientadas para o terraço
térreo, criando em simultâneo uma interior. O tratamento do espaço assim
separação física e visual entre o como a luz que o caracteriza varia
construído e o natural e garantindo consoante o tipo de ocupação. Enquanto
iluminação natural no piso térreo, a cozinha se assume como uma
composto pelos serviços. Como se de verdadeira “máquina de cozinhar”
um pórtico se tratasse, o piso térreo é (fig.56), cheia de reflexos brancos
recuado em quase todo o seu perímetro monocromáticos e metalizados, as zonas
permitindo o acesso automóvel até á mais íntimas (fig.54) são caracterizadas
entrada principal protegida pelo volume por uma luminosidade igualmente
da habitação (fig.52). Através deste
16
elemento Le Corbusier materializa um idem. p. 58
17
Este principio tem inicio no primeiro esboço
da casa Citrohan, e possivelmente influência de
15
Precisions. Le Corbusier. 2004. p. 66 Perret no edifício 25bis na Rue Fraklin.
12
58
57
Fig.57 Principios aplicados no projecto da Villa Savoye . Le Corbusier.
Fig.58 Cores aplicadas na Villa Savoye . Le Corbusier, 1929
13
59 60
Fig.59 Palácio do Centrosoyus, Moscovo. Le Corbusier, 1929.
Fig.60 Ilustração do método de ventilação mecanizado. Le Corbusier, 1930.
61 62
Fig.61 Rua urbana semi-coberta, Norte de África.
Fig.62 Rua urbana semi-coberta, Norte de África.
63
64 65
Fig.63 O brise soleil, Torre para Argel. Le Corbusier, 1938.
Fig.64 Projecto Ponsik, Argel. Le Corbusier 1930-32.
Fig.65 Projecto Ponsik, Argel. Le Corbusier 1930-32.
67
66
68
Fig.66 Perspectiva interior do Arranha-céu no bairro da Marina, Argel. Le Corbusier 1930-32.
Fig.66 O brise soelil e o movimento do sol. Le Corbusier 1930-32.
Fig.68 Loggias no convento Simon Petra no Monte Athos, Grécia.
acentuando ou difundindo a sua percebe que a evolução do conhecimento
presença enriquecendo o conjunto dos se dá quando se cruzam os
elementos que caracterizam a obra de conhecimentos empíricos com as novas
arquitectura. tecnologias. Era então necessário
misturar o velho com o novo, o universal
e o regional.
2.3 Revisão dos princípios modernos Le Corbusier identifica na arquitectura
tradicional as origens de um dos métodos
Tendo já sido anteriormente classificado de Perret, o da “parede perfurada”.
como inimigo o falso historicismo, agora Composta através da organização de
era a vez da falsa modernidade. Le elementos simples que formam um
Corbusier tinha como principio a padrão regular, assume-se como método
reafirmação dos valores que lhe tinham construtivo que combina duas funções
guiado desde o início com L`Eplatenier, distintas, a ventilação e o controlo da
mas adequando as formas e os conceitos iluminação excessiva.
à nova realidade do Pós-guerra. O problema da iluminação em excesso já
Na década de vinte, Le Corbusier tinha sido identificado. A casa Baizea em
desenvolveu pacientemente uma vasta Túnez revelava as possibilidades que o
gama de novas soluções arquitectónicas, sistema Dom-Ino combinado com a
construtivas e conceptuais (fig. 59), que “planta livre” proporcionava através da
o tinham direcionado muito para além do criação de uma galeria exterior que
rigor purista (fig.60). garante o sombreamento no perímetro do
edifício20.
Assim como Alvar Allto, no inicio dos
anos trinta, Le Corbusier dá inicio à Diluindo a luz intensa, os Brise-Soleil
investigação sobre as coincidências entre canalizavam as vistas, dando a todo o
o rigor moderno e os conceitos edifício uma facha representativa
arquitectónico-artísticos provenientes (fig.63), marcada pela leitura da
dos conhecimentos antigos. profundidade através da composição
A procura das constantes, afirmada em mutável das sombras. Os apartamentos
“Vers une Architecture”, continuava Ponsik de 1933 (fig.64), desenhados para
agora com menos preocupação que a Argélia, mostravam como um edifício
nunca pela imagem formal de uma alto podia combinar as fachadas de vidro
arquitectura industrial, fruto de uma (fig.65) com o painel de lâminas
relação directa com as evoluções protectoras, semelhante nos princípios da
tecnológicas. parede perfurada mas com uma escala
Em 1931 Le Corbusier visita Marrocos e sob dimensionada. A escala deste
a Argélia (fig.61), cativado pela elemento, que filtra a luz solar, é
harmonia existente entre as pessoas, os determinada em função da sua
edifícios e a paisagem, assim como pelo localização geográfica (fig.67),
engenho da tradição vernácula no permitindo assim responder um a
tratamento dos materiais locais e dos excesso de incidência da luz natural no
métodos característicos dos climas interior do construído. Nestas primeiras,
quentes. As casas baixas misturavam-se Le Corbusier assume este novo elemento
com a envolvente natural utilizando arquitectónico de controlo da luz
pátios sombreados, orifícios de enquanto elemento independente
ventilação e iluminação, espessos muros associado à “fachada livre” destacando-
de barro e uma cuidadosa orientação se do volume principal (fig.66).
para evitar a luz intensa e o calor
(fig.62). Nesta análise Le Corbusier 20
Ideias y Formas, Curtis, William. 1987. p. 117
14
69
70 70.1
70.2
Fig.69 Pintura com formas biomórficas. Le Corbusier 1942.
Fig.70, 70.1 Escultura de J. Savina projectada por Le Corbusier. 1943
Fig.70.2 Le Corbusier com esculturas de J. Savina. 1943.
A torre para Argel, de forte textura, era a encantadora ou decepcionante, o alegre
chave das fachadas com Brise-Solei do gozo da luz ou o frio da escuridão,
Pós-guerra construídas posteriormente quietude do quarto iluminado ou
em Marselha e Chandigarh. angustiado quarto repleto de zonas
“E assim, por esta simples diferença nas sombrias, entusiasmo ou depressão, (…)
condições imperativas, é como aparece que afectam a nossa sensibilidade por
um estilo arquitectónico “norte africano. meio de uma sequência de impressões
(…) Recordemos os vazios marroquinos, das quais não podemos escapar.” 23
feitos de claustras21de tijolo dispostos
em profundidade como maços de cartas: “Luz sobre formas, intensidade luminosa
na mesma consequência plástica e específica, volumes sucessivos, actuam
arquitectónica que se consegue sobre nosso ser sensível, provocam
aplicando as técnicas modernas. sensações físicas, fisiológicas, que os
Unidade, estilo regional…”22 (fig.68) sábios registavam, descreveram,
clarificaram, especificaram.”
A profundidade dos Brise-Solei era
calculada para evitar o sol assim como o “Meçam qual a importância capital do
calor intenso do verão, mas deixando lugar onde abrirão uma janela. Vigiem o
passar os raios de sol no inverno (fig.67). modo pelo qual esta luz é recebida pelas
A composição resulta numa subtil paredes da divisão. Na verdade
mescla de opacidade e transparência, de desenrola-se aqui um grande jogo
carácter massivo composto por planos arquitectónico, aqui adquirem apoio as
flutuantes, conseguindo uma riqueza impressões arquitectónicas decisivas.”
adicional através da aplicação de cores
vivas nos planos verticais das varandas
privadas.
No desenvolvimento do elemento Brise 2.4 O pós-guerra e as novas
Soleil, é possivel identificar as várias experiências
fases evolutivas, tanto a nível técnico
como funcional. Este elemento, Em 1944 começa uma colaboração com
inicialmente proposto apenas para o Josef Savina na criação de robustas
controlo da luz solar, transforma-se num esculturas de madeira policromada
espaço exterior coberto habitado. baseadas nas formas biomórficas das
Podemos entender esta ambição de Le suas pinturas e desenhos (fig.69). As
Corbusier, de garantir um contacto peças individuais eram talhadas
mínimo com a natureza exterior, como toscamente deixando visíveis as marcas
uma vontade de aproximação do do escopo. As vastas superfícies destas
habitante à natureza envolvente. esculturas puseram em manifesto o valor
das texturas rugosas, que encontrariam o
Respondendo ao rigor técnico dos anos seu equivalente nos acabamentos do
vinte, Le Corbusier procura ripostar com betão à vista e do tijolo tosco das últimas
uma arquitectura palpável aos nossos obras24 .
sentidos, com textura, cor e uma
luminosidade repleta de contrastes. Esta transposição de formas em ideias, e
“Ritmo, diversidade ou monotonia, de ideias em formas, põe de manifesto
coerência ou incoerência, surpresa uma imaginação capaz de dar
extraordinários saltos analógicos entre
21
Refiro-me as paredes perfuradas compostas
23
por composições geométricas entre elementos Precisions, Le Corbusier. 1930. p. 84
24
construtivos simples como tijolos. Ideias y Formas, Curtis, William. 1987. p. 16
22
Precisions, Le Corbusier. 1930. p.
15
71 72 73
Fig.71 Fábricas Duval, Saint Die. Le Corbusier 1946-51.
Fig.72 Brise Soleil. Le Corbusier 1946-51.
Fig.73 Brise Soleil mecanizados. Le Corbusier 1946-51.
74
Fig.74 Basílica de La Sainte-Baume, Marselha. Le Corbusier 1948.
76
75
77 78
Fig.75 Unité d`Habitation, Marselha. Le Corbusier 1946-52.
Fig.76 Ocupação do brise soleil, Unité d`Habitation. Le Corbusier 1946-52.
Fig.77 Corte de dois apartamentos contíguos, Unité d`Habitation. Le Corbusier 1946-
Fig.78 Cobertura habitada, Unité d`Habitation, Marselha. Le Corbusier 1946-52.
figuras e imagens. Segundo a autora “Uma medida harmónica à escala
Flora Samuel, Eduard Sekler mostrou humana aplicável universalmente à
como os perfis de Composition, Spirale arquitectura e à mecânica.”25 (fig.72)
logarithique de 1929, evoluíram
gradualmente, ao longo dos anos, para Mais uma vez assistimos à procura de
um tema completamente diferente num um “equilíbrio” entre o conhecimento
campo artístico distinto: a escultura de desenvolvido através da experiencia e a
madeira Totem dos finais dos anos sua adaptação aos processos produtivos
quarenta(fig.70). O artista descrevia contemporâneos, inspirada
assim esta maneira de utilizar e reutilizar possivelmente pelos princípios dos
as figuras. templos gregos, objectos de tipificação
“ Le Corbusier leva em si e consigo em constante evolução. O Modulor,
ideias de natureza plástica que enquanto escala padrão, procurava
remontam a dez, quinze, vinte anos atribuir uma inter-relação entre os
atrás, ou mais: trata-se de croquis, de diversos elementos arquitectónicos que
esboços que preenchem os caixotes da constituem um espaço construído e o
sua casa, e dos quais leva alguns quando Homem que o habita. Le Corbusier
sai de viajem, de maneira que o contacto gostava de citar Albert Einstein, que lhe
entre uma etapa nova e outra anterior se disse que “o sistema torna difícil o mau e
produz de forma instantânea”. fácil o bom”.
Este procedimento de misturar
recordações funcionava também nos Em 1948, Le Corbusier desenvolve um
seus edifícios, constituindo parte projecto que consiste num lugar sagrado
essencial do seu poder para transformar em Saint-Baume (fig.74), com um
os precedentes numa ordem nova.” itinerário através da paisagem natural
que culminava numa gruta subterrânea
Mais uma vez, podemos observar no iluminada zenitalmente através de fossos
percurso de Le Corbusier o processo de de luz. A basílica, projectada para ser
autocrítica aplicado aos elementos esculpida dentro da rocha mais do que
arquitectónicos desenvolvidos construída sobre ela. O esquema foi
anteriormente. desenvolvido autonomamente das
condições do exterior, anulando
Por volta de 1946, Le Corbusier recebe quaisquer vistas. O espaço interior
um encargo por parte de um industrial de iluminado através de “artérias” de luz
Saint-Dié, para construir uma fábrica de especialmente desenhadas remonta-nos
chapéus. A fábrica Duval (fig.71), é uma para as influências egípcias. É uma
simples caixa rectangular com uma torre “Promenade Architectural” percorrendo
de escadas e uma reticula estrutural o interior da Rocha desde a sua entrada
interna. Os Brise-Soleil, estavam na “caverna” até ao seu final, abrindo-se
adossados às fachadas como uma espécie de repente para uma luz ofuscante e para
de gradeamento (fig.73). As superfícies o distante mar. O movimento, contudo,
de betão deixavam-se à vista ou então oferece não apenas uma experiência
pintadas de cores vivas. Pela primeira espacial. Le Corbusier recria aqui a
vez Le Corbusier experimenta um novo experiência sobre a qual tinha escrito
sistema proporcional chamado de antes, na sua viagem ao Oriente,
“Modulor”. imaginando o sacerdote emergindo do
escuro adytum do Partenon no topo da
25
Modulor II. Le Corbusier. 1983. p.120
16
79 80
Fig.79 Perspectiva Sul / Este, Capela de Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp. Le Corbusier 1950-
Fig.80 Perspectiva Norte / Oeste, Capela de Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp. Le Corbusier 1950-
81 82
Fig.81 Planta e cortes, Capela de Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp. Le Corbusier 1946-51.
Fig.82 Implantação, Capela de Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp. Le Corbusier 1946-51.
83 84
Fig.83 Parede Sul da Capela de Ronchamp vista do interior.
Fig.84 Vista do Altar orientado a Oeste.
85 86
Fig.85 Entrada de luz zenital da capela lateral Norte.
Fig.86 Entrada de luz zenital da capela lateral Este.
Acrópolis, encarando o horizonte argilas, nas são decalcadas as impressões
montanhoso de Attica: digitais do seu molde. Esta relação é
“No interior mistério e crepúsculo…e no identificada por Le Corbusier na sua
exterior pessoas vivas”.26 viagem ao Oriente, na qual observa com
atenção as olarias tradicionais e os seus
Em 1952, na Unité d´Habitation em métodos de fabrico.29
Marselha (fig.75), marcou com toda a
sua força tanto a filosofia urbanística do Estando a basílica de Saint-Baume,
arquitecto como os novos recursos direccionada para o culto da natureza, da
tectónicos. arquitectura da “gruta” cravada na
Este bloco habitacional procura reunir os montanha, Alexander Tzonis considera
estudos sobre o funcionamento da que Ronchamp está direccionada para a
vivência em comunidade (fig.77), escultura, crescendo à superfície,
seguindo uma lógica rigorosa de meios e submetendo a arquitectura envolvida
métodos, protegendo o escasso e pela paisagem. Assim como na Unité de
dispendioso terreno urbano, oferecendo a Marselha, na concepção de Ronchamp,
todos uma orientação solar favorável e Le Corbusier recruta muitos dos
permitindo a todos os habitantes o precedentes que foram
benefício do espaço exterior privado subsequentemente fundidos.30
(fig.76).
“No seu jogo entre formas, o arquitecto A Capela de Nôtre-Dame-du-Haut
utiliza a luz como uma substância real a (fig.79), orientada segundo tradição
qual ajuda a animar os edifícios com ocidental, localiza-se no cume de um
uma vida permanente. Se no exterior a monte isolado na localidade de
luz atinge violentamente os pilares ou os Ronchamp próximo da fronteira Suíça,
Brise-Soleil, no interior é manipulada erguendo-se sobre a implantação de um
com infinita subtileza. (…).”27 antigo templo gótico dedicado ao culto
da peregrinação e destruído pela guerra.
A preferência de Le Corbusier pela Le Corbusier responde do mesmo modo
utilização do material construtivo na sua essa celestial função. O seu acesso
pureza de concepção, transforma o tosco desenvolve-se através de um percurso
ou natural, num valor estético, através fortemente marcado pela relação visual
das marcas e dos veios das cofragens da paisagem envolvente com a Capela
como se se tratassem das marcas de um criando diferentes leituras da sua unidade
formão, como nas esculturas de Savina. ao longo do trajecto (fig.82). No acesso
O betão “Brut” (fig.78), demonstrava-se directo ao recinto da sua implantação, a
extraordinariamente sensível à luz e à vegetação natural encobre o complexo
sombra, e podia ser moldado conferindo criando assim um efeito de surpresa que
a todo o edifício uma força heróica como se dilui com o surgir de uma nova
a do Templo de Paestum ou outra ruína perspectiva da Capela de Ronchamp:
antiga. O betão em bruto era então “Pintura, arquitectura, escultura são o
pensado enquanto material de origem fenómeno único de natureza plástica ao
natural, assim como a pedra28, mas com serviço da pesquisa poética na qual,
um método construtivo próprio das
26
Le Corbusier & the Architecture of
Reinvention, Benton, Tim. 2003. p. 169
29
El viage de Oriente, Jeanneret, Ch.-Edouard.
27
Le Corbusier, Choay, Françoise. 1960, p. 22 1993. p. 76
28 30
Ideias y Formas, Curtis, William. 1987. Le Corbusier, The Poetcis of Machine and
p. 172 Metaphor, Tzoni, Alexander. 2001. p. 26
17
88
87
Fig.87 Contacto entre a parede Sul, a parede Este e a cober-
Fig.88Alçado e corte, composição das aberturas da parede
90
89
Fig.89Parede Sul iluminada a partir do inte-
Fig.90 Vista a partir do Altar
estas, são capazes de libertar o momento sensação de “gravidade” num jogo de
poético”.31 equilíbrios entre massas pesadas, no
interior procura evidenciar todo um
O volume é composto por um conjunto conjunto de sensações expressas através
de paredes curvas brancas aparentemente de uma luz dramática que enfatiza as
espessas que suportam uma cobertura de sensações experimentadas no exterior.
betão à vista também definida pela sua Do exterior, a cobertura curva invertida
curvatura invertida (fig.81). Três torres de betão aparente apoiada sobre os
em forma de domes e direccionadas em muros aparentemente irregulares
anglos diferentes são erguidas sob a transporta-nos para a velha questão do
forma de periscópios captando diferentes jogo entre os volumes e as suas sombras.
tipos de luz (fig.85). Do seu interior (fig.90), é possível
Três pequenas capelas, completamente imaginar o interior de um templo
separadas da nave, integram serviços primitivo composto por volumosas e
simultâneos. Estas três capelas têm uma pesadas rochas naturais por entre as
iluminação natural muito especial; elas quais, irregularmente esculpidas,
estão cobertas com meias cúpulas penetram raios de luz hipnotizantes. John
(domes) chegando dos quinze aos vinte Alford estabelece em 1958 uma relação
metros, recebendo luz de três direcções comparativa entre a capela de Ronchamp
(fig.80). A luz que cai na vertical sobre e os túmulos neolíticos da ilha Britânica.
os altares é muito diferente daquela que Nesta comparação explora a noção
ilumina a nave (que é mais fraca em espacial dos templos, que no caso de
intensidade) e serve para acentuar as Ronchamp se distância dos modelos
formas pouco ortodoxas. provenientes da tradição clássica, pela
Uma figura da Nossa Senhora (fig.84), sua imponência e escala. Ao contrário
colocada num vão que rompe a parede disso, Ronchamp enquadra-se quase na
Este, sobre o altar, surge em contra-luz, tipologia do espaço “residual”
não nos permitindo entender mais do que proveniente da composição entre os
uma simples silhueta, ilustrando possível vários elementos arquitectónicos.
a tradicional noção da “aparição” da As torres de iluminação, na sua forma
Virgem Maria. curva, correspondem à verdade espacial
As aberturas perfuradas na parede Sul interior, albergando entre os seus
(fig.83), assumem diferentes proporções contornos convexos a sacristia, o
(fig.88), através da espessura da parede e confessionário e o baptistério, cada um
das proporções do vão, contribuindo para deles com uma luminosidade própria que
o efeito plástico geral, sendo providas depende da orientação e da altura de
com vidro, colorido e incolor. cada uma delas.
Na ligação entre a cobertura e as paredes
Sul e Este existe um rasgo contínuo que O jogo de sensações é explorado por Le
é preenchido por uma luz tangente que Corbusier através da linguagem
ilumina o tecto curvo de betão aparente, arquitectónica, muito próximo da
realçando não só a sua materialidade escultura, assim como pela composição e
como a leitura dos diferentes elementos controlo da luz interior conferindo à
arquitectónicos que determinam o leitura entre o exterior e o interior uma
espaço. Enquanto no exterior Le carga dramática muito expressiva. Numa
Corbusier procura transmitir uma entrevista que deu em 1961, Le
Corbusier explicou:
“Emoções vêem daquilo que cada um vê,
31
L´Oeuvre Complete, Le Corbusier.1952-57, isto é, volumes dos quais o corpo sente
p. 11 através da impressão ou pressão das
18
paredes nele próprio, e depois através Do mesmo modo que Le Corbusier
da luminosidade proporcionada em responde a um problema, suscita uma
termos de densidade ou em termos de nova questão. A diferença entre o
delicadeza dependendo dos lugares isto conhecimento tecnológico e a sua prática
está directamente relacionado”. 32 encaminha Le Corbusier na procura de
uma solução para o problema criado.
Desta análise, podemos concluir que Le O “pan de verre” surge enquanto novo
Corbusier desenvolve as questões da problema, causado quer pela excessiva
arquitectura, durante os anos vinte, tendo exposição solar quer pela ineficiência
sempre presente a relação directa entre o dos sistemas mecânicos previstos,
“construído” e as condições naturais e encaminha Le Corbusier na procura de
geográficas, nomeadamente a luz uma solução viável, tanto a nível
natural. A janela horizontal, que rasga o económico como tecnológico. A solução
muro em duas folhas, é composta pelos proposta, os Brise Soleil, resulta na
diversos elementos que constituem a utilização de um elemento exterior que
função do vão, do cortinado, elemento tem como função principal reduzir a área
que permite o controlo da luz natural, ao de incidência directa da luz solar
balcão, sob o vão e é composto por mantendo os anteriores princípios,
elementos de carácter técnico e funcional fachada preenchida apenas por um “pan
tais como radiadores e arrumos. No seu de verre”. Esta solução, que resulta do
conjunto trata-se de um muro complexo, somatório entre o volume principal do
denso, que contém funções edifício e o seu “quebra sol”, resulta
tradicionalmente sobrepostas. Substitui posteriormente numa solução mista
assim a “robustez” das construções através da ocupação do Brise Soleil
tradicionais pela leveza dos planos enquanto espaço exterior.
optimizados, respondendo às diversas Le Corbusier, nos anos vinte, procura
funcionalidades do muro através de uma responder às deficiências da arquitectura
inovação conceptual, o rasgo horizontal. criando correctivos sensoriais através da
Contudo neste modelo de abertura ainda cor nas superfícies que compõem o
é possível identificar resíduos que espaço habitado reformulando os
subsistem da concepção tradicional, do conceitos arquitectónicos provenientes
vazio e do maciço. do passado.
A relação de Le Corbusier com a luz
Atento às inovações técnicas existentes natural, nas obras desta década, procura
ao seu dispor Le Corbusier responde à responder ainda às exigências ditas
falta do vazio exterior, afirmado nos “higienistas”, tendo como ponto de
Immeubles-Villas, compensando na partida a máxima salubridade possível.
relação visual entre o interior e o Nos anos trinta, empenha-se em perceber
exterior. A remoção total do muro a relação entre a evolução tecnológica,
suscita um problema de natureza térmica dos métodos e materiais de construção
justificado através de teorias de base utilizados, e as constantes
científicas aplicadas a conhecimentos arquitectónicas que se foram
tecnológicos. A supressão da parede dá desenvolvendo ao longo da história da
lugar a um invólucro hermético e arquitectura. Na referência dos modelos
transparente, o “pan de verre”, tradicionais, maioritariamente dos países
controlado por processos mecânicos. quentes no Norte de África, Le Corbusier
identifica diversos modelos de relação
entre o construído (arquitectura) e a luz
natural.
32
Cf. Le Corbusier - Choay, Françoise. 1960.
p. 45
19
Durante a sua carreira, é possível
identificarmos a procura de Le Corbusier
por um conhecimento consistente
baseado na experiencia. Esta pesquisa,
inicialmente explorada através da relação
entre a função e a luz natural
correspondente, é reformulada aquando
da problemática da luz em excesso,
implicada por uma consciencialização da
relação física e psicológica do indivíduo
com o espaço construído a habitar.
20
91
93
92
Fig.91 Implantação do Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette.
Fig.92 Primeiro esquema do convento, implantação, orientação e contacto com o solo. 1953.
Fig.93 Convento de Thoronet.
94 95 96
21
97 98
1
2
99
Fig.97 Corte transversal Este / Oeste.
Fig.98Axonometria pelo I. Xénakis. Claustro em cruz e rampa exterior.
Fig.99 Planta de cobertura. 1- Igreja; 2- Serviços conventuais.
100 101
22
103
102
23
104 105
106
Fig.104 Átrio dos noviços.
Fig.105 Entrada dos visitantes.Parlatório.
Fig.106 Corte transversal Este/ Oeste.
107 108
109
24
1 2 3 4 5
110
111
112 113
Fig.110 Planta da Cela tipo.1-corredor; 2- lavatório; 3-dormitório; 4-estudo;5-vanranda
Fig.111 Corte longitudinal da Cela.
Fig.112 Corte longitudinal do corredor.
Fig.113 Corte transversal da cela.
114 114.1
Fig.114, 114.1 Perspectivas do interior das celas. 1956.
25
2 2
2
1
3
1 4
119
Fig.119 Planta piso de entrada Este.1- Bibliotecas; 2-Salas de aula; 3-Oratório; 4-Parlatório
120 120.1
122
121
Fig.121 Desenhos de pormenor dos “panos de vidro” das salas de estudo de estudo.
Fig.122 Fig. Composição rítmica dos “panos de vidro”. Iannis Xenakis, 1955.
junto à porta de entrada (fig.117) e à entrada também a biblioteca e a sala dos
porta de comunicação com a varanda. noviços estabelece uma relação com o
Deste modo Le Corbusier garante a exterior (interior do complexo) através
possibilidade de um isolamento dos painéis de betão e vidro. Esta
completo, no interior ou no exterior da localização, imediatamente inferior às
cela, realizando todavia uma renovação celas, é essencial para garantir um fácil
do ar melhorando a climatização e acesso a partir das celas e também para
higiene do ambiente. Este sistema de garantir uma iluminação constante de
ventilação em associação às diversas norte.
funções do vão é apresentado por Le
Corbusier como a “Pan de verre”. Esta O acesso a estes espaços de estudo é
composição, composta por planos de efectuado através de um corredor
iluminação, planos de atravessamento e periférico com diferentes larguras e
planos de ventilação é organizada em iluminado através de um rasgo horizontal
função do espaço que serve e respeitando contínuo, semelhante ao aplicado no
as dimensões do Modulor. corredor das celas. Este corredor altera a
O plano de iluminação, ocupando a sua localização, do perímetro exterior,
maior superfície do conjunto, é colocado contornando a biblioteca e a sala dos
na parte superior do conjunto garantindo noviços, para o interior, garantindo às
iluminação directa sobre a secretária. A salas de aula na ala Sul e Oeste uma
metade inferior do conjunto é opaca maior incidência da luz natural através
recebendo sob o vão de iluminação o da sua relação com o exterior do
sistema de aquecimento mecânico. complexo.
A porta, com altura total do conjunto, é
composta por um plano de vidro na
metade superior e opaco na inferior, 4.3 Oratório
aumentando a superfície permeável à
luz. Sobre o lado Este, próximo da entrada e
No lado oposto, também com altura total acessível a partir da sala de estudo dos
do conjunto, o ventilador natural com noviços, encontra-se o oratório (fig.123).
metade da largura do vão de Do exterior visualizamos uma pirâmide
atravessamento é na sua totalidade irregular assente sobre um cubo, por sua
opaco. A relação entre os ventiladores vez apoiado em dois septos em betão
que comunicam com o corredor de armado e cruzados (fig.124). O interior
acesso e os que comunicam com a loggia do oratório é um espaço simples: uma
exterior é assimétrica, garantindo assim sala com um altar em frente à porta de
um maior varrimento diagonal de entrada (fig.126), coberto pelo vazio da
circulação de ar. pirâmide e com um rasgo vertical, do
pavimento ao tecto orientado a sul,
fazendo a transição entre um espaço
4.2 Espaços de estudo comum com uma luminosidade
abundante e este, com um carácter mais
A sala de estudo dos noviços e a reservado e com uma luz concentrada.
biblioteca (fig.120), orientadas para o Um espaço geométrico simples
interior do pátio, ocupam o vértice enriquecido pela luz natural que rasga a
sudeste interior, e são caracterizadas por penumbra do vazio da pirâmide
uma iluminação maioritariamente difusa concentrando a luz na parede em frente
propicia aos longos períodos de leitura e ao altar, iluminando de cima a imagem
ao processo de conservação dos manuais de “Cristo” enquanto o resto do espaço é
de estudo. Assim como no átrio de iluminado por reflexão uma vez que a
26
123 124
125
126 127
Fig.126 Vista doÁtrio principal.
Fig.127 Corte transversal pelo Átrio principal e Refeitório.
128
4
1
3 2
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129
Fig.128 Vista do Refeitório.
Fig.129 Vista do Refeitório.
Fig.130 Planta piso de entrada dos monges. 1-Átrio; 2-Sala do Capítulo; 3- Refeitório; 4-Igreja.
profundidade e orientação da clarabóia habitual intenção expressivamente
impede que a luz entre directamente no poética.
interior.
Nas paredes paralelas ao altar, no vértice O átrio principal (fig.127), relacionado
entre estas e a que funciona como fundo, directamente com o cruzamento das
encontram-se dois estreitos rasgos condutas de circulação do piso “térreo”,
verticais preenchidos por portadas funciona como um elemento de
opacas e coloridas que cumprem a descompressão espacial através do
função de ventilar o espaço interior. Não contraste entre vazios assim como pela
se assumindo como elementos sua relação com o exterior. Este espaço
propositados para a iluminação, estes amplo determina o centro da comunidade
dois vãos acentuam o efeito visual da assumindo-se como ponto de passagem
parede de fundo do altar, uma vez que a “obrigatório” para o refeitório, para a
sua altura coincide com a linha superior sala do capítulo e para a igreja, as
da mancha de luz zenital proveniente da principais actividades comuns.
cobertura. A cobertura inclinada (fig.126), na
largura da conduta que liga com a igreja,
No convento de La Tourette o jogo sábio determina um acréscimo de
condiciona a luz como uma autêntica luminosidade directa na superfície
matéria da construção: o betão, por si só vertical. Com a forma de um triângulo
anónimo e mal valorizado na maior parte preenchido pelos padrões ondulatórios,
dos casos devido à sua duvidosa esta manobra permite garantir uma
execução, conquista-nos através do sábio iluminação directa na profundidade do
uso da luz, transmitindo uma espaço do átrio.
extraordinária vitalidade através da
textura característica do material e dos
elementos de confrangem.
4.5 Refeitório
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131
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28
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4
1
3 2
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139 140
Fig.139 Corte longitudinal Oeste
Fig.140Corte transversal Norte / Sul.
141 142
3 1 2
143
Fig.141 Corte longitudinal Este / Oeste.
Fig.142 Corte transversal Sul / Norte.
Fig.143 Planta Igreja. 1-Altar; 2-Coro; 3-Plateia; 4-Sacristia; 5-Cripta.
sol, estabelecendo assim uma relação natural, acentuando a ideia de passagem.
entre o espaço sagrado e o cosmos. Caminhamos à cota do terreno sendo-nos
Sobre as baias laterais do coro dois sugerido a profundidade da terra, através
rasgos horizontais atravessam da ausência de luz natural e da reduzida
obliquamente a espessura das paredes dimensão do espaço.
Norte e Sul iluminando de cima as No final do corredor, uma explosão de
partituras dos frades empenhados no arquitectura. Forma, cor e luz, são
canto. combinados através de um complexo
conjunto de regras que procuram
provocar no observador uma reacção
5.2. Serviços do culto específica no campo das emoções.
O piso acompanha o terreno natural
Invisível mas perceptível, da igreja, e ascendendo sucessivamente em relação
sob os canhões de luz esconde-se um ao ponto de entrada. Cada uma das suas
espaço excepcional, com uma forte plataformas constitui por sua vez um
intensidade espacial, a Cripta (fig.140). altar iluminado zenitalmente.
Criada para receber os altares nos quais Sete altares são projectados contra um
os frades noviços recitam diariamente a muro pintado de amarelo e vermelho e
liturgia, é um espaço ao qual se acede contra um outro inclinado e pintado de
através de um percurso autónomo, preto. No lado oposto, uma parede de
tortuoso, difícil: um percurso iniciático. betão à vista que ora se inclina ora se
Entra-se primeiro na sacristia, curva para o interior. O tecto, horizontal
directamente do corredor principal, antes e pintado de azul, è recortado pela
da entrada para a igreja. O espaço superfície curva e é perfurado por três
divide-se em dois através da diferença de canhões de luz que vertem do céu luzes
cotas e de alturas. À cota da igreja, a coloridas pelas superfícies cónicas. O
zona de apoio à liturgia, a luz é Branco, localizado mais a Este, o
concentrada pelas “mitraillettes” vermelho, ao centro e apontado para
definindo faixas de luz paralelas que receber luz de Sul, o terceiro, pintado de
contrastam com a superfície de betão preto localiza-se a Oeste. Durante o
escura. O tecto, amarelo, e o elemento percurso do dia observamos o
vertical que separa a igreja da sacristia, movimento e a intensidade da luz em
vermelho, acentuam a intenção de Le cada um deles banhando o espaço de cor.
Corbusier ao utilizar a projecção da Luz
enquanto calendário solar. Este sistema Esta luz também ilumina a igreja, através
permite sistematicamente iluminar de três aberturas correspondendo aos
directamente a sacristia e a igreja nos canhões e cujo pavimento se inclina para
solstícios de verão, inundando o espaço o interior do volume da cripta ocupando
com luz colorida por tons quentes. a parte superior até à linha do eixo
determinado pelas entradas de luz.
Na cota inferior, sob a sacristia, uma luz Na parede Este um rasgo vertical que vai
difusa distante reflecte-se pela superfície do pavimento até ao tecto quebra o
até se perder na escuridão do corredor, perímetro do muro da igreja com uma
sob a igreja, que liga a sacristia à cripta. fresta de luz intensa.
Entramos agora num corredor escuro, Todas estas fontes, à excepção do rasgo
animado pela presença das túnicas horizontal no alçado Oeste, criam o
brancas dos frades ao longo de uma das efeito do transporte da luz até na parte
paredes passando sob a igreja, baixa da igreja, deixando a parte superior
atravessando um espaço angustiante, imersa numa vaga obscuridade (fig.139).
quase na totalidade isolado da luz
30
145
144
Fig.144 Vista do coro a partir do altar. periodo matinal.
Fig.145 Vista do altar.
147
146
31
148 149
150 151
Fig.148. Vista da Cripta a partir do Coro da Igreja.
Fig.149 Vista da Cripta a partir da plateia da Igreja.
Fig.150 Vista sobre os “canhões de luz”.
Fig.151 Vista da Cripta.
154
152 153
Fig.152 Parede inclinada que separa a Sacristia da Igreja
Fig.153 Vista do altar., periodo matinal
Fig.154 Vista do altar, meio do dia.
Tons de luz Esta dualidade de luz e cor é comparável
a uma grande sinfonia de doze horas, na
A policromia, que adquire um papel qual os instrumentos (fontes de Luz)
importante na definição da qualidade cujo timbre (cor) soa a própria harmonia
espacial da igreja, não é um dado (intensidade e direcção da luz) durante o
adquirido do projecto uma vez que é desenrolar do dia.
estudada directamente no local. As cores,
que constituem as pinceladas vigorosas e
vitais na textura do betão à vista, são
colocadas, essencialmente na
correspondência dos pontos de luz
natural, e distribuídas com moderação.
40
Idem. p.145
32
Conclusão luz e acentuando o contraste entre planos
ou ainda pela caracterização através da
No primeiro período Le Corbusier está atribuição de qualidades sensoriais por
empenhado em desenvolver condições intermédio da cor. A pintura é então
de habitabilidade tendo em conta os entendida por Le Corbusier como uma
ideais de vida modernos relacionados importante ferramenta de pesquisa do
directamente com o desenvolvimento equilíbrio da composição, na relação
técnico. Neste sentido preza o tempo e o entre cheios e vazios, entre claro e
espaço para a cultura possibilitado pelo escuro.
“facilitismo” da máquina. Mais tempo Deste modo, Le Corbusier, constata que
para a razão. os ideais proclamados sobre as novas
Este período, caracterizado pelos ideias arquitectónicas modernas não
princípios higienistas do inicio do século podem ser formulados apenas sobre os
é determinado por Le Corbusier pela princípios ideológicos mas também
procura de uma luminosidade ideal. Esta através da compreensão dos
luminosidade é explorada inicialmente conhecimentos históricos e da sua
pela relação entre interior e exterior na constante reinvenção.
qual se reflectem os princípios de relação
com a envolvente. Contudo, a ampla A luz, para Le Corbusier, enquanto
relação com o exterior cria fragilidades princípio fundamental no
térmicas que intervêm na relação entre o desenvolvimento da obra arquitectónica,
espaço construído e o seu habitante. Le torna-se num dos principais objectos de
Corbusier rapidamente se apercebe que estudo. Ao longo da sua carreira cria
os desenvolvimentos tecnológicos por si novos problemas que vão sendo
só não respondem às ambições resolvidos através das soluções já
provenientes das possibilidades técnicas experimentadas anteriormente mas
sendo para isso necessário a criação de sofrendo alterações técnicas. Deste modo
mecanismos que fazem a transição entre Le Corbusier cria uma base de dados que
os novos conhecimentos e os já lhe permite criar novas composições
estabelecidos. espaciais com elementos já
determinados.
Ao dedicar-se ao estudo da percepção
visual através da pintura, Le Corbusier Ao percorrermos o interior do convento
cria um mecanismo de relações entre o de La Tourette apercebemo-nos das
objecto e a sua imagem visual. Através distinções que Le Corbusier faz na
da cor torna-se possível a atribuição de caracterização tipológica do espaço, não
qualidades ao objecto, qualidades essas só através da escala dimensional mas
que não são inerentes ao objecto mas ao acima de tudo pelo modo como a luz
observador. Deste modo Le Corbusier natural invade o interior. Esta
cria um método que procura relacionar caracterização é estabelecida de vários
directamente o observador com o seu modos. Considerando a caracterização de
objecto. A aplicação da cor em um espaço individual, por exemplo uma
determinados planos na Villa Savoye em cela individual, é possível identificar
1929, funciona como correctivo das uma ocupação espacial em função do
características espaciais arquitectónicas, tipo de actividades que se desenvolvem e
uma vez que ao manter um rasgo que por sua vez estão interligadas ao tipo
horizontal em todo o perímetro da que luz natural que dá vida ao espaço.
habitação a luz excessiva em alguns Podemos ainda criar relações entre
compartimentos é dominada pelo espaços diferentes. O contraste entre a
cromatismo, reduzindo a intensidade da luz diluída do corredor de acesso e a
33
entrada escura na cela cria um momento profunda ausência de luz em contraste
de transição através do contraste entre a com outras, nas quais a luz se concentra.
luz e a sua ausência. Este contraste, que Identificamos assim dois princípios
funciona ora como elemento de essenciais no modo como Le Corbusier
compressão ora de descompressão do trabalha com a iluminação natural. Numa
espaço construído através da leitura que abordagem inicial, o carácter funcional
os nossos sentidos fazem do vazio, através do controlo da iluminação natural
resulta numa das principais técnicas de e das suas qualidades reforçando a
composição e caracterização espacial de funcionalidade do espaço físico que
Le Corbusier. serve. O segundo princípio, que consiste
Alterando significativamente a sua na marcação da dinâmica espacial, é
qualidade e intensidade, a luz natural é desenvolvido através dos diversos
projectada no interior do edifício através contrastes espaciais e por sua vez pelos
dos diferentes tipos de vão diferentes modos de iluminação. Esta
correspondendo cada um deles a uma dinâmica é especialmente identificada na
tipologia espacial. O vão horizontal à transição dos serviços do convento para
altura do olhar, que corresponde aos a igreja. O conjunto de serviços que
percursos de acesso às zonas mais determina o convento é literalmente
intimas do programa conventual, cria rasgado por uma luz abundante que se
através da intensidade da luz a sensação mistura com a paisagem envolvente
de privacidade, de silêncio e enquanto a igreja parece mergulhar numa
concentração contrastando deste modo profunda escuridão marcada
com as salas de aula, iluminadas pontualmente pela luz natural. Este
abundantemente através das grandes contraste, propositado, pretende criar um
superfícies de vidro divididas pelos brise efeito sensorial de dramatismo através do
soleil verticais, criando assim uma contraste entre abundância e ausência.
atmosfera de actividade que acompanha Este efeito, idêntico ao explorado no
o ritmo da natureza. oratório, procura através do contraste
A luz natural, no entanto, não se define caracterizar sensorialmente cada um dos
apenas pelas suas características espaços.
funcionais, assumindo em determinados Este contraste, entre luz abundante e
momentos um carácter mais dramático e quase ausência de luz, provoca um efeito
cenográfico. A passagem da sala dos de descoberta das entradas de luz através
noviços para o Oratório, não sendo a da adaptação da retina óptica à
principal, é aquela onde o contraste é luminosidade reduzida do interior da
maior. A transição de um espaço com igreja. Após esta adaptação apercebemo-
uma luz homogénea, propícia para o nos que o espaço interior é perfurado
estudo, para um espaço fechado em si, pela luz de diversos modos e orientações
com uma iluminação zenital que se criando distintos tipo de iluminação que
concentra num plano frontal sem vistas variam na sua intensidade e tipo. Cada
para o exterior, transporta-nos para uma um dos pontos de luz responde a uma
atmosfera de isolamento, de marcação espacial específica sendo todos
concentração e meditação. Le Corbusier eles unificados num todo, através do
cria assim um cenário, através do jogo vazio prismático da igreja. Esta
entre a luz natural e o vazio do volume caracterização, entendida pelo jogo entre
acentuando o carácter expressivo do os tipos de vãos e as superfícies com
espaço construído pelo modo como a luz textura que são iluminadas, transforma o
reflecte nas superfícies rugosas espaço geométrico da igreja numa
mantendo determinadas zonas numa composição com uma forte componente
dramática.
34
Podemos então considerar o convento de determinante na relação que Le
La Tourette como um mecanismo Corbusier estabelece entre o interior
construído que serve os princípios e os (vazio de um volume) e o exterior
rituais da vida monástica procurando o (volume).
contacto máximo com a natureza “A arquitectura é o jogo sábio, correcto
envolvente. A luz, enquanto elemento e magnifico dos volumes reunidos sob a
natural primário, funciona como elo de luz.”41
ligação e relação entre as diversas
componentes espaciais do programa Le Corbusier, determina então que a
criando contrastes através das suas composição é fundamental, uma vez que
intensidades e tipos provocando no a luz natural é um dado adquirido,
observador habitante sensações atribuindo rigor as sensações
espaciais. transmitidas pela obra de arquitectura.
A relação entre interior e exterior no “A arquitectura é um facto de arte, um
convento de La Tourette é explorada fenómeno de emoção, exterior às
através dos diversos factores questões da construção, além delas. A
intervenientes no edificado. A orientação construção é para sustentar; a
do complexo, justificada pelo máximo arquitectura é para emocionar. (…)
rendimento da energia solar, assume-se Arquitectura consiste nas “relações”, é
como princípio fundamental para um “pura criação do espírito”.42
funcionamento rigoroso dos programas
que constituem o todo. Ao longo da sua carreira, experimenta e
Associado à relação do edificado com a cria elementos arquitectónicos que
luz natural, a implantação manifesta-se procuram agir directamente na leitura
através da organização programática. A espacial, transportando o observador
inclinação do terreno, que determina para o campo da emoção, através das
diferentes cotas de acesso, é reflectida na sensações provocadas pela composição
estratificação vertical dos diversos espacial. O controlo da luz natural,
programas. Na cota intermédia, os resulta numa combinação cuidada entre a
programas que constituem o ritual do matéria construída, as formas lidas pelas
estudo. superfícies dos volumes.
35
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