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Resenha

Texto: “O Iluminismo como mistificação das massas” (Theodor Adorno)

Adorno escreve em seu texto algo, que em partes, dá uma idéia geral sobre a Indústria
Cultural de seu ponto de vista: “A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos
autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente”. A
partir dessa frase podemos ter uma idéia do conceito que Adorno tinha a respeito
da Indústria Cultural. De acordo com o texto vemos que a religião objetiva teve
uma perda de apoio, os resíduos pré-capitalistas se dissolveram, a técnica e a
especialização deram lugar ao um caos cultural, ou seja, a cultura contemporânea
em tudo conferia um ar de semelhança.

O homem havia perdido a sua autonomia. Em conseqüência disso, a


humanidade estava cada vez mais se tornando desumanizada. Em outras palavras,
podemos dizer que Adorno presenciava uma geração de homens doentes, talvez
gravemente. O domínio da razão humana, que no Iluminismo era como uma
doutrina, passou a dar lugar para o domínio da razão técnica.  Os valores humanos
haviam sido deixados de lado em troca do interesse econômico. O que passou a
reger a sociedade foi a lei do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar
esse ritmo e essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que não
conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava a mercê dos
dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade. Nessa corrida pelo
ter, nasce o individualismo, que, segundo ele, é o fruto de toda essa Indústria
Cultural. Do mesmo modo que os habitantes iam aos centros em busca de trabalho
e de diversão, como produtores e consumidores, as unidades de construção se
cristalizavam sem solução de continuidade em complexos bem organizados. O
homem tinha um modelo de cultura onde havia uma falsa identidade cultural do
universal e do particular. A Cultura exercia uma grande força sobre a massa, os
dirigentes não estavam mais tão interessados em escondê-la, a sua autoridade se
reforçava quanto mais brutalmente era reconhecida. O cinema e o rádio não tinham
mais necessidade de serem empacotados como arte.

Segundo Adorno “O contraste técnico entre poucos centros de produção e


uma recepção difusa exigiria, por força das coisas, organização e planificação da
parte dos detentores. Os clichês seriam causados pelas necessidades dos
consumidores: por isso seriam aceitos sem oposição. Na verdade é por causa desse
círculo de manipulações e necessidades derivadas que a unidade do sistema torna-
se cada vez mais impermeável... A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da
própria dominação, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena.”

Analisando os nossos dias de hoje e a nossa “Indústria Cultural” vemos uma grande
semelhança com os comentários de Adorno ou ainda podemos dizer que Adorno
parecia viver os nossos dias de hoje. Vemos novelas como Malhação e outras mais,
lançarem modas entre os jovens, fazendo suas cabeças e os tornando de certa
forma, alienados. Vemos também certas ideologias sendo “impostas” de uma
maneira sutil através de novelas, principalmente; e outros programas transmitidos
em nossas TV’s.
A necessidade, que talvez pudesse fugir ao controle central, já está reprimida pelo
controle da consciência individual. Esta situação torna todos os ouvintes e
receptores iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas de
vários canais e estações de rádio. A TV tenta impor a sua ideologia que, para eles,
deve ser a correta e a respeitada, onde a massa deve se sujeitar as suas ordens e
manifestações. Não somente as novelas, mas os filmes, teatros, músicas, tudo tem
sido, de alguma maneira, rotulado por eles mesmos, mostrando em sua maioria a
mesma ideologia, mensagem ou manifestação.

A Indústria Cultural deve ser rápida quanto ao seu trabalho, deve se


apressar em satisfazer os verdadeiros consumidores, para que a sua esfera na
sociedade de massas não seja submetida a uma série de “limpezas”.

Segundo Adorno, na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto


negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e
programada exploração de bens considerados culturais. Um exemplo disso, dirá
ele, é o cinema. O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora
se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria
Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial
moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia
dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema. Desde o começo é possível
perceber como terminará um filme, quem será o “mocinho” e se dará bem, quem
será o vilão e esquecido, a idéia e enredo geral está presente em todos os filmes e
também podemos encontrar algo nas músicas também, a música em que o ouvido
acostumado consegue, desde os primeiros acordes, adivinhar a continuação e
sentir-se feliz quando ela ocorre. Sabemos que, o mundo inteiro é forçado a passar
pelo crivo, pela aprovação da indústria cultural.

A atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural de hoje


não tem necessidade de ser explicada em termos psicológicos. Os próprios
produtos, desde o mais típico, o filme sonoro, paralisam aquelas capacidades pela
sua própria constituição objetiva. Eles são feitos de modo que a sua apreensão
adequada exige, por um lado, rapidez de percepção, capacidade de observação e
competência específica, e por outro é feita de modo a vetar, de fato, a atividade
mental do espectador, se ele não quiser perder os fatos que rapidamente se
desenrolam à sua frente. Adorno critica e muito a sociedade cultural de hoje. Aos
olhos dele tudo é igual e sem conteúdo (ou com o mesmo conteúdo sempre). É
tudo feito para dominar a sociedade, estereotipar tudo e manter tudo igual.

É importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural,


não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O
homem é tão bem manipulado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão
do trabalho. Portanto, o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará,
fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante.
A Indústria Cultura, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara
as mentes para um esquema que é oferecido pela indústria da cultura – que
aparece para os seus usuários como um “conselho de quem entende”. O
consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher. É a lógica do
clichê. Esquemas prontos que podem ser empregados indiscriminadamente só
tendo como única condição a aplicação ao fim a que se destinam. Nada escapa a
voracidade da Indústria Cultural. 
Fica claro portanto a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a
percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de
opinião. Ela é a própria ideologia.  Os valores passam a ser regidos por ela. Até
mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura. 

É importante frisar que a grande força da Indústria Cultural se verifica em


proporcionar ao homem necessidades. Mas, não aquelas necessidades básicas para
se viver dignamente (casa, comida, lazer, educação, e assim por diante) e, sim, as
necessidades do sistema vigente (consumir incessantemente). Com isso, o
consumidor viverá sempre insatisfeito, querendo, constantemente, consumir e o
campo de consumo se torna cada vez maior. Nesse sentido, o universo social, além
de configurar-se como um universo de “coisas” constituiria um espaço
hermeticamente fechado. E, assim, todas as tentativas de se livrar desse sistema
estão condenadas ao fracasso. Mas, a visão “pessimista” da realidade é passada
pela ideologia dominando, e não por Adorno. Para ele, existe uma saída, e esta,
encontra-se na própria cultura do homem: a limitação do sistema e a estética.
Segundo ele, a antítese mais viável da sociedade selvagem é a arte. A arte, para
ele, é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser
autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria Cultural o
homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar,
sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita.
Além disso, para Adorno, a Indústria Cultural não pode ser pensada de maneira
absoluta: ela possui uma origem histórica e, portanto,  pode desaparecer.

Por fim, podemos dizer que Adorno conseguiu interpretar o mundo em que
viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da
ideologia da Indústria Cultural, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e
a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as
imperfeições humanas estão na própria história da humanidade. É preciso que
esses remédios cheguem a consciência de todos, pois, só assim, é que
conseguiremos um mundo humano e sadio.

Felipe Candido Marchiori – R.A. 0686261

Turma: Publicidade e Propaganda (noturno)

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