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O papel dos especialistas na construção do Direito: instituições jurídicas, conflito e justiça

(PONTO 01)

O SISTEMA BRASILEIRO DE JUSTIÇA: EXPERIÊNCIA RECENTE E FUTUROS DESAFIOS


INTRODUÇÃO

1) Nunca na história do Brasil, juízes e promotores alcançaram tanta evidência (o auge) como nos tempos
modernos, tudo isso graças às prerrogativas concedidas pela Constituição Federal de 1988, inclusive com

influências sobre a ordem econômica e a agenda política.

2) Segundo o autor, cabe questionar a quem pertence a titularidade da independência conquistada pelo
Ministério Público ou, no âmbito do Judiciário, se é possível almejar o direito à última palavra de um poder

que controle de modo quase total o acesso aos seus quadros (FARIA, 2004).

3) A legitimidade das instituições que compõem o sistema de justiça brasileiro é informada pelo fato de
ser valores como a independência e a autonomia funcional superiores a outros princípios com os quais

deveriam se compor, como o da eficiência administrativa, transparência decisória (accountability) e


equilíbrio das finanças públicas.

4) As questões ganharam importância a partir do momento em que promotores e procuradores deram

início às gravações clandestinas e escutas ilegais, com o objetivo de formular denúncias criminais contra
pessoas do alto escalão dos poderes republicanos, e membros do Judiciário se opuseram às reformas

estruturais (reforma previdenciária e revogação de direitos advindos do funcionalismo público).

5) Opinião pública:
a) O Judiciário é moroso e inepto prestador de serviço público;

b) O Executivo encara o orçamento geral como um aparato insensível ao equilíbrio das finanças públicas e

suas crescentes despesas de custeio comprometeram as políticas de ajuste fiscal, colocando em risco a
estabilidade monetária;

c) O Judiciário e o MP são acusados pelo Legislativo de exorbitar em suas prerrogativas e interferir no


processo legislativo (judicialização da vida administração e econômica).

6) Objetivos do texto:

a) Apontar o descompasso entre a concepção arquitetônica do Judiciário/MP e a realidade


socioeconômica em que atuam;

b) Discutir a judicialização da vida política e econômica, demonstrando como o protagonismo de juízes e

promotores numa sociedade desigual tornaram o sistema de justiça vulnerável a tentativas de intervenções
externas (justificativas: combate à corrupção, racionalização jurisprudencial e imposição do controle

externo);
c) Avaliar as transformações qualitativas nas leis, provocadas pela integração dos mercados de insumos

sobre o sistema de justiça.


O “SISTEMA DE JUSTIÇA” NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

1) A crise do sistema de justiça se traduz pela ineficiência com que os poderes vêm desempenhando suas
funções básicas:

a) Instrumental: o Judiciário e o MP são o principal local de resolução de conflitos.


b) Política: Exercem um papel decisivo como mecanismo de controle social, fazendo cumprir direitos e

obrigações contratuais, reforçando estruturas vigentes de poder e assegurando a integração da sociedade.

c) Simbólica: disseminam um sentido de equidade e justiça na vida social, socializam as expectativas dos
atores na interpretação da ordem jurídica e calibram os padrões vigentes de legitimidade na vida política.

2) A ineficiência decorre da incompatibilidade estrutural entre a arquitetura dos tribunais e do Ministério

Público e a realidade socioeconômica sobre a qual têm de atuar.


– Questão histórica: o Judiciário sempre foi organizado como um sistema burocratizado de procedimentos

escritos e a intervenção judicial ocorria após a violação de um direito substantivo e sua iniciativa ficaria a

cargo dos lesados (princípio da inércia).


– Problema desse modelo: é incompatível com o Brasil, pois nega o princípio da igualdade formal, impede

o acesso de parcelas significativas da população aos tribunais e compromete a efetividade dos direitos
fundamentais (aumento do desemprego, violência e criminalidade urbana desafiadoras da ordem

democrática).

3) Os movimentos sociais emergiram entre os anos de 1970 e 1980 procurando ampliar o acesso dos
segmentos marginalizados da população ao MP e ao Judiciário, já que a CF88 propiciou diversas

demandas judiciais para o reconhecimento de novos direitos (moradia) e outros já consagrados (reforma

agrária).
– Resultado: impossibilidade de conduzir os processos a uma solução definitiva e coerente com outras

ações idênticas, dentro de prazos razoáveis (a atuação formalista dos tribunais retarda as decisões
terminativas e desloca o foco para questões meramente procedimentais – fazer da atividade-fim de

promotores e juízes um trabalho de Sísifo – referência ao mito grego).

A “JUDICIALIZAÇÃO” DA POLÍTICA E DA ECONOMIA

1) Há uma crescente dificuldade para expedir sentenças coerentes e que assegurem obediência à lei.

– A magistratura não pode deixar sem resposta os casos que lhes são submetidos, independentemente de
sua complexidade técnica e de suas implicações econômicas, políticas e sociais. Segundo Dworkin (1997),

nos hard cases, os juízes não têm outra opção senão inovar, usando o próprio julgamento político.

– Não basta estabelecer o que é certo ou errado com base na lei, pois é necessário também assegurar a
concretização dos objetivos substantivos previstos em lei. Além disso, o Judiciário e o MP não dispõem de

meios próprios para implementar suas sentenças e pareceres (falta de recursos materiais e investimentos
públicos).

– Judiciário e MP são constantemente acusados de abandonar o princípio da neutralidade e de fazer

política, exorbitando suas funções e invadindo áreas que não são de sua alçada.
2) Quanto maior a discricionariedade dos governantes, menor a certeza jurídica.
– Fato: parte da corporação judicial começou a pressionar os diferentes setores da administração pública

com o objetivo de criar condições necessária para a implementação de direitos socioeconômicos previstos
na CF88.

– Resultado: diante da desídia de juízes e promotores diante das consequências macroeconômicas de suas
decisões e do desconhecimento legal de economistas, passaram a ganhar corpo as propostas de criação

do controle externo sobre a magistratura e de ampliação do número de mecanismos processuais de

proteção antecipada do Executivo contra demandas que os cidadãos possam ajuizar contra ele (ex.: ADC,
ADI e SV).

– Tribunais e MP passaram a recorrer a critérios de justiça comutativa ao apreciar e julgar as ações judiciais

resultantes do despertar de determinados setores sociais para o reconhecimento de seus direitos de


cidadania. A formação de juizados especiais para a resolução de pequenos conflitos de massa libera os

tribunais para a resolução de conflitos de maior complexidade técnico-jurídica.

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