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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
VARA DO TRABALHO DE GUAÍBA
RTSum 0022017-54.2016.5.04.0221
AUTOR: VALDO MARQUES DA SILVA
RÉU: HOME ENGENHARIA LTDA

Autor: Valdo Marques da Silva

Ré: Home Engenharia Ltda

SENTENÇA

Vistos etc.

O relatório é dispensado (artigo 852, i, da CLT).

I - Fundamentação

Mérito

1) Aviso prévio trabalhado. Indenização

O autor alegou que trabalhou durante todo o período referente ao aviso prévio, sem redução da carga
horária ou dos dias trabalhados, conforme previsão do art. 488 da CLT.

A ré trouxe aos autos cópia da comunicação de aviso prévio, datada de 8/7/2015, em que o autor opta pela
redução de 7 (sete) dias corridos no período do aviso prévio. Os cartões ponto apresentados demonstram
que o autor efetivamente prestou serviços para a ré até o dia 31/7/2015, não tendo prestado serviços entre
os dias 1 a 7 de agosto. Desta forma, comprova que a opção do autor foi devidamente observada.

Embora tenha impugnado os cartões-ponto, o autor não produziu qualquer prova capaz de afastar sua
validade, pelo que considero essa documentação fidedigna como meio de prova da jornada de trabalho.

Assim, improcede o pedido de indenização equivalente ao aviso-prévio.

2) Aplicação do art. 477 § 8º da CLT

O recibo de pagamento juntado pela ré (fl. 158) dá conta da quitação do valor líquido constante no termo
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de rescisão do contrato de trabalho (fls. 165/165), dentro do prazo legal a tanto, razão pela qual não incide
à espécie a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT.

Esclareço que, embora o depósito tenha sido efetuado pela empresa Porto Novo Empreendimentos, e o
autor tenha alegado desconhecer a empresa, a ré informa a existência de grupo econômico entre as
empresas o que, de qualquer sorte, não invalidaria o depósito feito tempestivamente em conta corrente do
autor.

Indefiro.

3) FGTS. Diferenças na Contratualidade

Cabe registrar, de início, que, na matéria em epígrafe, perfilho o princípio da aptidão para produção da
prova. Dessa forma, entendo que o empregador detém o ônus probatório, do qual se desincumbe com a
exibição de documentação hábil a demonstrar o correto recolhimento dos valores devidos ao fundo de
garantia do tempo de serviço.

No caso em tela, a ré não trouxe aos autos extrato completo da conta-vinculada do autor, não restando
comprovados os depósitos nos meses de setembro a novembro de 2014.

Assim, determino o recolhimento dos valores devidos ao fundo de garantia do tempo de serviço referente
aos meses de setembro a novembro de 2014 (artigo 7°, III, da CF), cujos valores devem ser apurados na
fase de liquidação.

Os valores apurados devem ser recolhidos à conta-vinculada da parte autora, pois vedado o pagamento
direto ao trabalhador, e após, liberados, mediante a expedição de alvará judicial.

4) Vale-transporte

O vale-transporte é um benefício legal destinado a custear parte da despesa de transporte do trabalhador,


conforme preleciona a Lei n. 7.418/85.

Diante da não comprovação do fornecimento de vale-transporte ao autor, condeno a parte ré ao


pagamento do valor de R$ 15,70, correspondente ao deslocamento do autor até a obra da ré, em Porto
Alegre, e seu retorno, por dia de efetivo trabalho, limitada ao mês do aviso-prévio (conforme limites do
pedido).

Não há falar em desconto da contrapartida do autor, uma vez que já efetuados os descontos no
contracheque e no TRCT.

5) Vale-refeição

O autor pleiteou o pagamento de vales-alimentação, sob alegação de que a ré fornecia almoço para os
funcionários quando da prestação de trabalho em Guaíba, e deixou de fornecê-lo na obra em Porto Alegre,
sem pagamento de qualquer outra vantagem a esse título.

O pagamento de vale-alimentação está previsto nas convenções coletivas vigentes durante o contrato, as
quais estipularam o pagamento da verba na condição de prêmio assiduidade e no montante de R$ 175,00
reais por mês ou fornecimento de cesta básica (até 31/5/2015) e de R$ 200,00 a contar de 1/06/2015.
Preveem, ainda, a contrapartida dos empregados no limite de 20%.

A ré afirmou que fornecia almoço aos empregados nas obras de Guaíba, ante a inexistência de local para
almoço nas proximidades, e que nas obras de Porto Alegre passou a fornecer cestas básicas.

Contudo, não veio aos autos comprovação do fornecimento.


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Ressalto que não houve alegação de que o autor não tenha preenchido os requisitos para percepção do
prêmio previsto no acordo coletivo.

Assim, determino o pagamento do prêmio assiduidade ao autor, conforme previsão nas normas coletivas,
a contar de fevereiro de 2015, considerando os limites do pedido e o depoimento pessoal do autor, que
informa ter trabalhado por cerca de 7 meses em Porto Alegre, recebendo almoço por aproximadamente
um mês, autorizado o abatimento da contrapartida que caberia ao autor custear, desde que já não tenham
sido efetivados os descontos nos contracheques apresentados (fls. 142/146).

6) Assistência Judiciária. Honorários de Advogado. Justiça Gratuita

O benefício da justiça gratuita, disposto no artigo 790, § 3°, da CLT, pode ser concedido a requerimento
da parte interessada ou de ofício, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo
legal, ou que declararem, sob as penas da lei, que não detêm condições de arcar com as custas do processo
sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Sendo assim, verificado o estado de pobreza da parte autora, concedo-lhe o benefício da justiça gratuita.

No tocante aos honorários de advogado, não há previsão específica na CLT.

O artigo 14 da Lei 5.584/70 ditava que na seara desta Justiça Especializada, a assistência judiciária
referida pela Lei 1.060/50 seria prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencesse o
trabalhador. Daí surgiu o entendimento reiterado de que, para concessão da assistência judiciária seriam
necessários dois requisitos: a) trabalhador hipossuficiente, com a extensão da caracterização pelo uso do
conceito do artigo 790, §3º, da CLT, após sua edição; b) outorga de credencial sindical ao advogado do
demandante.

No entanto, a Lei 1.060/50 teve os artigos 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12, e 17, expressamente revogados pelo
NCPC.

Por seu turno, o NCPC, assim disciplina, no inciso VI do parágrafo §1º, do artigo 98: "A gratuidade da
justiça compreende: (...) VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do
tradutor nomeado para apresentação de versão em português de documento redigido em língua
estrangeira".

Ademais, o artigo 99, em seu §4º, dita que "a assistência do requerente por advogado particular não
impede a concessão de gratuidade da justiça".

Desta forma, com base nos artigos 85, 98 e 99 do NCPC, condeno a parte ré ao pagamento de honorários
de advogado. Em observância ao artigo 85, §2º, IV, fixo que serão devidos no percentual 15% sobre o
valor bruto da condenação.

7) Juros e Correção Monetária

Determino a aplicação de juros e correção monetária, na forma da lei. O critério de atualização das verbas
deferidas na presente decisão deve ser aplicado e discutido na fase de liquidação, submetendo-se ao
princípio da lex tempore regit actum, não sendo o momento processual atual, cognitivo, o adequado para
fazê-lo.

II - Dispositivo

Pelos fundamentos expostos, que passam a integrar o presente dispositivo, julgo PARCIALMENTE
PROCEDENTES os pedidos formulados pela parte autora, Valdo Marques da Silva, para condenar a ré
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- indenização referente ao vale-transporte, no valor de R$ 15,70, correspondente ao deslocamento do
autor até a obra da ré, em Porto Alegre, e seu retorno, por dia de efetivo trabalho, limitada ao mês do
aviso-prévio;

- prêmio assiduidade, conforme previsão nas normas coletivas, a contar de fevereiro de 2015, autorizado o
abatimento da contrapartida que caberia ao autor custear, desde que já não tenham sido efetivados os
descontos nos contracheques apresentados.

Concedo à parte autora o benefício da justiça gratuita.

A ré é condenada, ainda, ao pagamento de honorários de advogado, fixados em 15% sobre o valor bruto
da condenação.

Determino o recolhimento dos valores devidos ao FGTS referentes aos meses de setembro, outubro e
novembro de 2014, cujos valores devem ser apurados na fase de liquidação e recolhidos à conta-vinculada
do autor. Após, deverão ser liberados, mediante a expedição de alvará judicial.

Liquidação por cálculos. Juros e correção monetária na forma da lei.

Custas pela ré no importe de R$ 40,00 (quarenta reais), calculadas sobre R$ 2.000,00 (dois mil reais),
valor provisoriamente atribuído à condenação.

As partes estão cientes da data de publicação da sentença.

Cumpra-se após o trânsito em julgado.

Nada mais.

GUAIBA, 20 de Abril de 2017

JULIETA PINHEIRO NETA


Juiz do Trabalho Titular

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