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PATOLOGIAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

1 - INTRODUÇÃO

Os problemas patológicos, salvo raras exceções, apresentam manifestação externa característica, a


partir da qual se pode deduzir qual a natureza, a origem e os mecanismos dos fenômenos envolvidos,
assim como pode-se estimar suas prováveis conseqüências.

Os problemas patológicos só se manifestam após o início da execução propriamente dita, a última etapa
da fase de produção. Em relação à recuperação dos problemas patológicos, HELENE (1992) afirma que
"as correções serão mais duráveis, mais efetiva, mais fáceis de executar e muito mais baratas quanto
mais cedo forem executadas". (p. 23)

A demonstração mais expressiva dessa afirmação é a chamada "lei de Sitter" que mostra os custos
crescendo segundo uma progressão geométrica. Dividindo as etapas construtivas e de uso em quatro
períodos correspondentes ao projeto, à execução propriamente dita, à manutenção preventiva efetuada
antes dos primeiros três anos e à manutenção corretiva efetuada após surgimento dos problemas, a
cada uma corresponderá um custo que segue uma progressão geométrica de razão cinco, conforme
indicado na figura 1.

Fig. 1 - Lei de evolução de custos (SITTER, apud HELENE 1992).

Toda medida extraprojeto, tomada durante a execução, incluindo nesse período a obra recém-
construída, implica num custo 5 (cinco) vezes superior ao custo que teria sido acarretado se esta medida
tivesse sido tomada a nível de projeto, para obter-se o mesmo "grau" de proteção e durabilidade da
estrutura. Um exemplo típico é a decisão em obra de reduzir a relação a/c do concreto para aumentar a
sua durabilidade e proteção à armadura. A mesma medida tomada durante o projeto permitiria o
redimensionamento automático da estrutura considerando um concreto de resistência à compressão
mais elevada, de menor módulo de deformação, de menor deformação lenta e de maiores resistências à
baixa idade. Essas novas características do concreto acarretariam a redução das dimensões dos
componentes estruturais, economia de fôrmas, redução de taxa de armadura, redução de volumes e
peso próprio, etc. Essa medida tomada a nível de obra, apesar de eficaz e oportuna do ponto de vista da
durabilidade, não mais pode propiciar alteração para melhoria dos componentes estruturais que já foram
definidos anteriormente no projeto.

Segundo SITTER apud HELENE (ibid. p. 25), colaborador do CEB — Comité Euro – internacional du
Béton — formulador dessa lei de custos amplamente citada em bibliografias específicas da área, adiar
uma intervenção significa aumentar os custos diretos em progressão geométrica de razão 5 (cinco), o
que torna ainda mais atual o conhecido ditado popular "não deixes para amanhã o que podes fazer
hoje", por cinco vezes menos.
CÁNOVAS (1988) diz que:

"a patologia na execução pode ser conseqüência da patologia de projeto,


havendo uma estreita relação entre elas; isso não quer dizer que a patologia de
projeto sendo nula, a de execução também o será. Nem sempre com projetos de
qualidade desaparecerão os erros de execução. Estes sempre existirão, embora
seja verdade que podem ser reduzidos ao mínimo caso a execução seja
realizada seguindo um bom projeto e com uma fiscalização intensa". (p. 111)

Como se nota, o processo de execução é muito importante quando se trata de prevenção de patologias
no concreto armado.

Como revela os quadros a seguir, as maiores incidências de danos são atribuídas à etapa de execução.

Amapá Amazonas Maranhão Pará Rondônia Roraima Amazônia


Origem dos Danos
% % % % % % %

Planejamento/projeto 100,00 20,41 30,43 30,31 50,00 100,00 29,96


Materiais - 16,33 - 4,68 - - 5,39
Execução - 42,85 36,96 38,84 50,00 - 38,79
Usos Previsíveis - 4,08 21,74 20,11 - - 18,32
Usos Imprevisíveis - 16,33 10,87 6,06 - - 7,54
Total 0,43 10,56 9,92 78,23 0,43 0,43 100,00

Tabela 1 – Distribuição das origens, por estado, das manifestações patológicas constatadas (ARANHA e
DAL MOLIN 1976 – 1993)

Número De Causas Tipo de obra


País
Casos
P M E U N R C I H

Inglaterra 510 49 11 29 10 1
Alemanha 1570 40 15 29 9 7
Romênia 432 38 23 20 11 8
Bélgica 3000 49 12 24 8 7
Dinamarca 601 37 25 22 9 7
Iugoslávia 117 34 22 24 12 8
França 10000 37 5 51 7 68 18 14
Espanha 586 41 13 31 11 3 57 20 12
Brasil 527 18 7 52 13 24 19 26 12

Tabela 2 – Origem das manifestações patológicas em diversos países (Carmona Filho & Marega e
Bueno, apud ARANHA & DAL MOLIN, 1994) Causas: P = projeto, M = materiais, E = execução, U =
utilização, N = naturais. Tipo de obra: R = residencial, C = comercial, I = industrial, H = hidráulica.
Segundo ARANHA e DAL MOLIN (1994):

"as falhas de execução das estruturas podem ser de todo tipo, podendo estar
vinculadas à confecção, instalação e remoção das fôrmas e cimbramentos;
corte, dobra e montagem das armaduras e dosagem, mistura, transporte,
lançamento, adensamento e cura do concreto, todas elas relacionadas,
principalmente, ao emprego de mão-de-obra desqualificada ou falta de
supervisão técnica". (p. 24)

2 - CONCEITOS

2.1 – PATOLOGIA

Conforme HELENE :

"a patologia pode ser entendida como a parte da engenharia que estuda os
sintomas, os mecanismos, as causas e origens dos defeitos das construções
civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema".
(op. cit. p. 19)

Para SOUZA e RIPPER (1998), designa-se genericamente por Patologia das Estruturas "um novo
campo da Engenharia das Construções que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação,
conseqüências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas de degradação das estruturas."
(p. 14)

2.2 - DESEMPENHO

Conforme SOUZA e RIPPER, "por desempenho entende-se o comportamento em serviço de cada


produto, ao longo da vida útil, e a sua medida relativa espelhará, sempre, o resultado do trabalho
desenvolvido nas etapas de projeto, construção e manutenção." (ibid. p. 17)

2.3 – VIDA ÚTIL

O Código Modelo MC–90 do CEB – FIP ( * ) , apud ARANHA e DAL MOLIN (1994), estabelece que:

"as estruturas de concreto devem ser projetadas, construídas e operadas de tal


forma que, sob as condições ambientais esperadas, elas mantenham sua
segurança, funcionalidade e a aparência aceitável durante um período de tempo,
implícito ou explícito, sem requerer altos custos imprevistos para manutenção e
reparo." (op. cit. p. 19)

Segundo SOUZA e RIPPER, "por vida útil de um material entende-se o período durante o qual as suas
propriedades permanecem acima dos limites mínimos especificados." (op. cit. p. 17)

Para ANDRADE, (1992) vida útil "é aquela durante a qual a estrutura conserva todas as características
mínimas de funcionalidade, resistência e aspectos externos exigíveis". (p. 23)
2.4 – DURABILIDADE

Segundo COLLEPARDI, M.:

"a durabilidade de uma estrutura de concreto armado é a capacidade da


estrutura manter as suas características estruturais e funcionais originais pelo
tempo de vida útil esperado, nas condições de exposição para as quais foi
projetada".

NEVILLE, (1997) diz que para o concreto ser considerado durável:

"é essencial que as estruturas de concreto desempenhem as funções que lhe


foram atribuídas, que mantenham a resistência e a utilidade que delas se
espera, durante um período de vida previsto ou, pelo menos, razoável. Portanto,
o concreto deve poder suportar o processo de deterioração ao qual se supõe
que venha a ser submetido." (p. 481)

2.5 – TERAPIA

À terapia cabe estudar a correção e a solução desses problemas patológicos (HELENE, 1992). Para
obter êxito nas medidas terapêuticas, é necessário que o estudo precedente, o diagnóstico da questão,
tenha sido bem conduzido.

As medidas terapêuticas de correção dos problemas tanto podem incluir pequenos reparos localizados,
quanto uma recuperação generalizada da estrutura ou reforços de fundações, pilares, vigas e lajes. É
sempre recomendável que, após qualquer uma das intervenções citadas, sejam tomadas medidas de
proteção da estrutura, com implantação de um programa de manutenção periódica.

3 - GÊNESE DA PATOLOGIA DE ESTRUTURAS

Das estruturas em geral, e em particular das estruturas de concreto, espera-se uma completa
adequação às finalidades a que se destinam, sempre levando em consideração o binômio segurança -
economia.

Salvo os casos correspondentes à ocorrência de catástrofes naturais, em que a violência das


solicitações, aliada ao caráter marcadamente imprevisível das mesmas, será o fator preponderante, os
problemas patológicos tem suas origens motivadas por falhas que ocorrem durante a realização de uma
ou mais das atividades inerentes ao processo genérico a que se denomina de construção civil, processo
este que pode ser dividido, em três etapas básicas: concepção, execução e utilização.

Em nível de qualidade, exigi-se, para a etapa de concepção, a garantia de plena satisfação do cliente, de
facilidade de execução e de possibilidade de adequada manutenção; para etapa de execução, será de
garantir o fiel atendimento ao projeto, e para a etapa de utilização, é necessário conferir a garantia de
satisfação do utilizador e a possibilidade de extensão da vida útil da obra.

Conforme SOUZA e RIPPER :

"o surgimento de problema patológico em dada estrutura indica, em última


instância e de maneira geral, a existência de uma ou mais falhas durante a
execução de uma das etapas da construção, além de apontar para falhas
também no sistema de controle de qualidade próprio a uma ou mais atividades".
(op. cit. p. 23)
3.1 – CONCEPÇÃO (projeto)

Várias são as falhas possíveis de ocorrer durante a etapa de concepção da estrutura. Elas podem se
originar durante o estudo preliminar (lançamento da estrutura), na execução do anteprojeto, ou durante a
elaboração do projeto de execução, também chamado de projeto final de engenharia.

SOUZA e RIPPER (ibid., p. 24) constataram que os responsáveis, principalmente, pelo encarecimento
do processo de construção, ou por transtornos relacionados à utilização da obra, são as falhas
originadas de um estudo preliminar deficiente, ou de anteprojetos equivocados, enquanto as falhas
geradas durante a realização do projeto final de engenharia geralmente são as responsáveis pela
implantação de problemas patológicos sérios e podem ser tão diversas como:

a. Elementos de projeto inadequados (má definição das ações atuantes ou da combinação mais
desfavorável das mesmas, escolha infeliz do modelo analítico, deficiência no cálculo da estrutura
ou avaliação da resistência do solo, etc.);
b. Falta de compatibilização entre a estrutura e a arquitetura, bem como com os demais projetos
civis;
c. Especificação inadequada de materiais;
d. Detalhamento insuficiente ou errado;
e. Detalhes construtivos inexeqüíveis;
f. Falta de padronização das representações (convenções);e
g. Erros de dimensionamento.

3.2 – EXECUÇÃO (construção)

A seqüência lógica do processo de construção civil indica que a etapa de execução deva ser iniciada
apenas após o término da etapa de concepção, com a conclusão de todos os estudos e projetos que lhe
são inerentes. Suponha-se, portanto, que isto tenha ocorrido com sucesso, podendo então ser
convenientemente iniciada a etapa de execução, cuja primeira atividade será o planejamento da obra.

Iniciada a construção, podem ocorrer falhas das mais diversas naturezas, associadas a causas tão
diversas como falta de condições locais de trabalho (cuidados e motivação), não capacitação profissional
da mão-de-obra, inexistência de controle de qualidade de execução, má qualidade de materiais e
componentes, irresponsabilidade técnica e até mesmo sabotagem.

Nas estruturas, vários problemas patológicos podem surgir. Uma fiscalização deficiente e um fraco
comando de equipes, normalmente relacionados a uma baixa capacitação profissional do engenheiro e
do mestre de obras, podem, com facilidade, levar a graves erros em determinadas atividades, como a
implantação da obra, escoramento, fôrmas, posicionamento e quantidade de armaduras e a qualidade do
concreto, desde o seu fabrico até a cura.

A ocorrência de problemas patológicos cuja a origem está na etapa de execução é devida, basicamente,
ao processo de produção, que é em muito prejudicado por refletir, de imediato, os problemas sócio-
econômicos, que provocam baixa qualidade técnica dos trabalhadores menos qualificados, como os
serventes e os meio-oficiais, e mesmo do pessoal com alguma qualificação profissional.

3.3 – UTILIZAÇÃO (manutenção)

Acabadas as etapas de concepção e de execução, e mesmo quando tais etapas tenham sido de
qualidade adequada, as estruturas podem vir a apresentar problemas patológicos originados da
utilização errônea ou da falta de um programa de manutenção adequado.

Ainda segundo SOUZA e RIPPER (ibid., p. 27), os problemas patológicos ocasionados por uso
inadequado podem ser evitados informando-se aos usuários sobre as possibilidades e as limitações da
obra, descritos abaixo, por exemplo:
a. Edifícios em alvenaria estrutural – o usuário (morador) deve ser informado sobre quais são as
paredes portantes, de forma que não venha a fazer obras de demolição ou de aberturas de vãos
– portas ou janelas – nestas paredes, sem a prévia consulta e a assistência executiva de
especialistas, incluindo, preferencialmente, o projetista da estrutura;
b. Pontes – a capacidade de carga da ponte deve ser sempre informada, em local visível e de
forma insistente.

Os problemas patológicos ocasionados por manutenção inadequada, ou mesmo pela ausência total de
manutenção, tem sua origem no desconhecimento técnico, na incompetência, no desleixo e em
problemas econômicos.

Exemplos típicos, casos em que a manutenção periódica pode evitar problemas patológicos sérios e, em
alguns casos, a própria ruína da obra, são a limpeza e a impermeabilização das lajes de cobertura,
marquises, piscinas elevadas e "play-grounds", que, se não forem executadas, possibilitarão a infiltração
prolongada de águas de chuva e o entupimento de drenos, fatores que, além de implicarem a
deterioração da estrutura, podem levá-la à ruína por excesso de carga (acumulação de água).

Segundo ARANHA & DAL MOLIN (1994), os procedimentos inadequados durante a utilização podem ser
divididos em dois grupos: ações previsíveis e ações imprevisíveis ou acidentais. Nas ações previsíveis,
podemos compreender o carregamento excessivo, devido a ausência de informações no projeto e/ou
inexistência de manual de utilização. No caso das ações imprevisíveis temos: alteração das condições
de exposição da estrutura, incêndios, abalos provocados por obras vizinhas, choques acidentais, etc.

4 - CAUSAS DOS PROCESSOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DURANTE A


CONSTRUÇÃO

4.1 – INTERPRETAÇÃO DO PROJETO

Há ocasiões em que se tem um bom projeto e a estrutura está perfeitamente calculada e, no entanto,
encontramos defeitos em obra que, analisados, indicam que houve erros da parte dos desenhistas que
passaram as plantas de projeto para plantas de execução, por parte dos armadores que fizeram uma má
interpretação das plantas etc. Na verdade, nos passos intermediários entre o projeto em si e a execução,
podem ser introduzidos erros evitáveis, quando se faz uma revisão e comprovação muito meticulosa
para retificar o que for necessário antes do início da obra.

RIPPER, E. (1996) aponta que:

"em casos de dúvidas ou falhas de projeto, o responsável da obra deve


consultar o projetista, porque somente este sabe o objetivo do elemento
construtivo em questão. Em casos excepcionais, se for difícil a consulta ou por
falta de tempo, só um engenheiro pode tomar as providências necessárias,
conhecendo como trabalham os diversos componentes do concreto armado e da
estrutura, e somente ele pode saber que medidas devem ser tomadas. Mas o
engenheiro da obra deve decidir somente quando estiver absolutamente seguro
da solução do problema". (p. 17)

Um bom exemplo são os defeitos nas plantas de armação, com o emprego de escalas insuficientes ou
como conseqüência de substituição de plantas claras por listas de armações confusas, realizadas em
obra e, em geral, deficientes. É fundamental pensar que as plantas vão ser interpretadas em obra, por
pessoal diferente ao do projeto e que a falta de clareza pode ocasionar erros lamentáveis.
4.2 – FÔRMAS E ESCORAMENTOS

O uso de fôrmas convencionais de madeira ou metal faz com que junto as superfícies do concreto
forme-se uma camada de pasta e argamassa com qualidade inferior as camadas internas do concreto
devido a elevada relação água/cimento.

Essas fôrmas podem ocasionar efeitos indesejáveis no concreto, que podem afetar sua própria estrutura
produzindo vazios, alvéolos, ondulações, deformações, ou efeitos que podem afetar seu aspecto,
produzindo mudança de coloração que enfeiam concretos que tem que ficar aparentes. Para CÁNOVAS
(op. cit., p. 130-131) esses efeitos indesejáveis podem ser resumidos nos seguintes:

a. Grupos de cavidades em forma de ninhos de pedras, devidos à segregação, má compactação


ou fugas de nata através das juntas da fôrma;
b. Destacamentos por aderência do concreto à fôrma;
c. Deformações por deficiência no alinhamento da fôrma; e
d. Deformação da fôrma sob a carga do concreto fresco etc.

Além das causas de patologia, anteriormente citadas, existem outras decorrentes de execução e que
podem ser consideradas como conseqüência de falta de fiscalização na limpeza; emprego de fôrmas
sujas e com restos de argamassa ou pasta de usos anteriores; a não verificação de sujeira quando se
vai concretar, colocando janelas na parte inferior das fôrmas de pilares; o não umedecimento ou falta de
desmoldantes nas superfícies das fôrmas etc.

A garantia de que uma estrutura ou qualquer peça da construção seja executada fielmente ao projeto e
tenha a forma correta depende principalmente da exatidão das fôrmas e do escoramento.

GEYER & GREVEN (1999) objetivando propor uma alternativa a este problema, aplicam um método de
drenagem do concreto através das fôrmas, chamado Método das Fôrmas Drenantes.

RIPPER, E. (op. cit., p. 18-21) diz que para se conseguir rigidez das fôrmas e obter um concreto fiel ao
projeto, são necessárias as seguintes precauções:

Pilares

Deve-se prever contraventamento segundo duas direções perpendiculares entre si (geralmente é feito só
em uma direção). Devem ser bem apoiadas no terreno em estacas firmemente batidas ou nas fôrmas da
estrutura inferior.

É necessário cuidado na fixação dos contraventamentos, onde se erra muito, aplicando-se somente um
ou dois pregos. Os contraventamentos podem receber esforços de tração e por este motivo devem ser
bem fixados com bastante pregos nas ligações com a fôrma e com os apoios no solo.

No caso de pilares altos, prever contraventamento em dois ou mais pontos de altura. Em


contraventamentos longos prever travessas com sarrafos para evitar flambagem (ver figura 2).
Fig. 2 – Escoramento das fôrmas das colunas. (RIPPER, E. 1996 – p. 19)

Deixar na base dos pilares uma janela para limpeza e lavagem do fundo (isto é muito importante).

No caso de pilares altos, deixar janelas intermediárias para concretagem em etapas.

Vigas e lajes

Deve-se verificar se as fôrmas tem as amarrações, escoramentos e contraventamentos (escoras laterais


inclinadas) suficiente para não sofrerem deslocamentos ou deformações durante o lançamento do
concreto.

As distâncias máximas de eixo a eixo são as seguintes:

a. Para gravatas: 0,6 a 0,8 m


b. Para caibros horizontais das lajes: 0,5 m
c. Entre mestras ou até apoio nas vigas: 1 a 1,2 m
d. Entre pontaletes das vigas e mestras das lajes: 0,8 a 1 m
Cuidado especial nos apoios dos pontaletes sobre o terreno para evitar o recalque e, em conseqüência,
flexão nas vigas e lajes. Quanto mais fraco o terreno, maior a tábua, ou, melhor ainda, duas tábuas ou
pranchas, para que a carga do pontalete seja distribuída em uma área maior.

Nas fôrmas laterais das vigas (principalmente no caso de vigas altas) a das paredes (muros de arrimo,
cortinas) não é suficiente a armação com escoras verticais e horizontais, ancoradas através do espaço
interior das fôrmas com arame grosso ou ferro redondo fino, é necessário prever também um bom
escoramento lateral com mãos francesas entre a parte superior da escora vertical e a travessa do
pontalete ou contra o piso ou terreno, conforme o caso. Nas paredes altas deve-se prever mãos
francesas em diversas alturas. Este escoramento lateral inclinado evita um empenamento das fôrmas
sob pressão do concreto fresco e garante um perfeito alinhamento da peça.

Assim se evitam as desagradáveis "barrigas" ou superfícies tortas.

Nas vigas de grandes vãos deve-se prever contraflechas que, quando não indicadas no projeto, podem
ser executadas com cerca de 1/300 do vão.

Juntas nas fôrmas

As juntas entre tábuas ou chapas compensadas devem ser bem fechadas para evitar o vazamento da
nata de cimento que pode causar rebarbas ou vazios na superfície do concreto. Estes vazios deixam
caminho livre à penetração de água, que ataca a armadura, no caso de concreto aparente.

Fig. 3 – Juntas das fôrmas e posição das tábuas. (RIPPER, E. 1996 – p. 20)

O fechamento dessas juntas se faz geralmente com papel de sacos de cimento ou jornais, um
procedimento não muito eficiente. É mais eficiente o fechamento das juntas com massa plástica (mesmo
de qualidade inferior) ou com mata-juntas. É importante colocar as tábuas com o lado do cerne voltado
para o interior das fôrmas para evitar que as juntas se abram quando essas tábuas empenam por efeito
da umidade ou exposição ao sol.

Recomenda-se fazer o fechamento das juntas somente pouco antes da concretagem porque, quando
expostas por muito tempo às intempéries e ao sol, as fôrmas começam a sofrer deformações, as juntas
se abrem e esse fechamento se desprende, perdendo-se esse serviço.

Por esse motivo, as mata-juntas são mais seguras e para um serviço nobre deve-se assumir esse custo
adicional.

Exemplificação das falhas construtivas mais comuns relacionadas diretamente às fôrmas e aos
escoramentos convencionais:

a. Falta de limpeza e de aplicação de desmoldantes nas fôrmas antes da concretagem, o que


acaba por ocasionar distorções e "embarrigamentos" natos nos elementos estruturais (o que
leva à necessidade de enchimentos de argamassa maiores dos que os usuais e,
consequentemente, à sobrecarga da estrutura);
b. Insuficiência de estanqueidade das fôrmas, o que torna o concreto mais poroso, por causa da
fuga de nata de cimento através das juntas e fendas próprias da madeira, com a conseqüente
exposição desordenada dos agregados;
c. Retirada prematura das fôrmas e escoramentos, o que resulta em deformações indesejáveis na
estrutura e, em muitos casos, em acentuada fissuração;
d. Remoção incorreta dos escoramentos (especialmente em balanços, casos em que as escoras
devem ser sempre retiradas da ponta do balanço para o apoio), o que provoca o surgimento de
trincas nas peças, como conseqüência da imposição de comportamento estático não previsto em
projeto (esforços não dimensionados).

4.3 – DEFICIÊNCIAS NAS ARMADURAS

Os problemas patológicos causados por deficiências ou erros na colocação das armaduras são das mais
diversas ordens e, lamentavelmente, ocorrem com freqüência muito elevada.

As deficiências que podem ser apontadas como as mais freqüentes são:

i. Má interpretação dos elementos de projeto:

a. que, em geral, implica na inversão do posicionamento de algumas armaduras ou na troca de


uma peça com as de outra; e
b. Defeitos nas plantas de armação, emprego de escalas insuficiente ou substituição de plantas por
listas de armações confusas já comentadas.

ii. Insuficiência nas armaduras:

a. Como conseqüência de irresponsabilidade, dolo ou incompetência, com implicação direta na


diminuição da capacidade resistente da peça estrutural;

iii. Qualidade das armaduras:

a. Nas obras com estrutura de responsabilidade e nas obras de grande porte em geral deve-se
tomar de cada remessa de aço e de cada bitola dois pedaços de barras de 2,2 m de
comprimento (não considerando 200 mm da ponta da barra fornecida) para ensaios de tração e
eventualmente outros ensaios. Isso é necessário para verificação da qualidade do aço, em vista
de haver muitos laminadores que não garantem a qualidade exigida pelas normas que serviram
como base para os cálculos.

iv. Posicionamento das armaduras:

a. Mau posicionamento das armaduras, que se pode traduzir na não observância do correto
espaçamento entre as barras (em lajes isto é muito comum), como se vê na figura 4, ou no
deslocamento das barras de aço de suas posições originais, muitas vezes motivado pelo trânsito
de operários e carrinhos de mão, por cima da malha de aço, durante as operações de
concretagem – o que é praticamente comum nas armaduras negativas das lajes (ver figura 5) e
poderá ser crítico nos casos de balanço. O recurso a dispositivos adequados (espaçadores,
pastilhas, caranguejos) é fundamental para garantir o correto posicionamento das barras da
armadura; e
Fig. 4 – Espaçamento irregular em armaduras de lajes

Fig. 5 – Armadura negativa da laje fora de posição

b. Concentração de armaduras em nós ou outros pontos singulares, o que impede não apenas que
sejam corretamente posicionadas, mas que seja realizada a concretagem de maneira correta
nessas zonas.

Cobrimento

Qualidade do cobrimento

Cobrimento de concreto insuficiente, ou de má qualidade, o que facilita a implantação de processos de


deterioração tal como a corrosão das armaduras, ao propiciar acesso mais direto dos agentes agressivos
externos. Também neste caso torna-se indispensável o recurso aos espaçadores;
Fig. 6 – Figura de espaçadores de plástico (Catálogos da Coplas Ind. de Plásticos)

Espaçamento mínimo

A norma brasileira indica que qualquer barra da armadura, inclusive de distribuição, de montagem e
estribos, deve ter cobrimento de concreto pelo menos igual ao seu diâmetro, mas não menor que:

a)para concreto revestido com argamassa de espessura mínima de 1 cm:

- em lajes no interior de edifícios: 0,5 cm

- em paredes no interior de edifícios: 1,0 cm

- em lajes e paredes ao ar livre: 1,5 cm

- em vigas, pilares e arcos no interior de edifícios: 1,5 cm

- em vigas, pilares e arcos ao ar livre: 2,0 cm

a. para concreto aparente:

- no interior de edifícios: 2,0 cm

- ao ar livre: 2,5 cm

c) para concreto em contato com o solo: 3,0 cm

- se o solo for rochoso, sob a estrutura deverá ser interposta uma camada de concreto simples, não
considerada no cálculo, com o consumo mínimo de 250 kg de cimento por metro cúbico e espessura de
pelo menos 5 cm.

d) para concreto em meio fortemente agressivo: 4,0 cm


Para cobrimento maior do que 6 cm deve-se colocar uma armadura de pele complementar, em rede,
cujo cobrimento não deve ser inferior aos limites especificados neste item.

Medidas especiais – Além do cobrimento mínimo, deverão ser tomadas medidas para aumento de
proteção da armadura se o concreto for sujeito à abrasão, a altas temperaturas, a correntes elétricas ou
a agentes fortemente agressivos, tais como ambiente marinho e agentes químicos.

Conforme HELENE, (1986) "um bom cobrimento das armaduras, com um concreto de alta
compacidade, sem ‘ninhos’, com teor de argamassa adequado e homogêneo, garante, por
impermeabilidade, a proteção do aço ao ataque de agentes agressivos externos". (p. 4)

Dobramento

O dobramento das barras sem atendimento aos dispositivos regulamentares, fazendo com que o aço
venha a "morder" o concreto, provocando seu fendilhamento por excesso de tensões trativas no plano
ortogonal ao de dobramento.

A escolha do diâmetro do "pino" de dobramento das barras de aço é muito importante para não fragilizá-
la na região dobrada. As barras são fornecidas para serem dobradas seguindo as condições da Norma
Brasileira ABNT - NBR 6118 (NB – 1/78), indicada na tabela a seguir.

BITOLA DIÂMETRO ( ) DOS PINOS DE DOBRAMENTO (mm)

(mm) CA 25 CA 50 CA 60

3,4 20

4,2 25

5,0 30

6,0 36

6,3 25 32

7,0 42

8,0 32 40 48

9,5 57

10,0 40 50

12,5 50 63

16,0 64 80

20,0 100 160

22,0 110 176

25,0 125 200

32,0 160 256

Tabela 3 – Diâmetro dos pinos de dobramento. (Catálogo da Belgo Mineira)


Ancoragem

Deficiências nos sistemas de ancoragem, com utilização indevida de ganchos (na compressão, por
exemplo), que, muitas vezes, só vêm a introduzir estados de sobretensão (como já se referiu, para o
caso do dobramento). Outra situação falha é a registrada com a não observância do correto
comprimento de ancoragem, necessário para redução, ao mínimo, dos esforços transferidos ao concreto.
Em ambos os casos, o resultado será o surgimento de um quadro fissuratório que, algumas vezes,
poderá trazer conseqüências bastante graves;

Nos casos normais de concretos estruturais correntes, o comprimento de ancoragem de barras lisas se
situa em torno de 50 a 60 vezes o diâmetro da armadura e 35 a 50 vezes o diâmetro da armadura no
caso de barras com ganchos.

Geralmente a dobragem das barras se executa antes da conclusão das fôrmas (na obra ou fora da obra)
impossibilitando assim tirar medidas exatas no local. Nestes casos pode acontecer que o comprimento
das barras cortadas e dobradas não tenha o comprimento necessário para a ancoragem correta,
independentemente do fato de ficar numa viga ou coluna. Nestes casos é rigorosamente necessário
prever armadura suplementar de ancoragem. Estas barras suplementares, da mesma bitola das barras a
serem ligadas aos apoios, devem ter uma sobreposição com estas barras não menor do que 50 vezes o
diâmetro, deve avançar no apoio conforme descrito, dobrando com aproximadamente 40 cm a 90 cm
dentro da coluna ou viga de apoio.

Insiste-se em recomendar que neste ponto as decisões devem ser submetidas ao projetista ou pelo
menos a um engenheiro familiarizado com as normas.

Se o comprimento das armaduras superiores sobre apoios for insuficiente, podem produzir-se fissuras;
por isso, caso haja vãos curtos, é recomendável prolongar a ferragem em forma de barra contínua em
todo o vão.

Fig. 7 – Armadura curta. Disposição incorreta. Fig. 8 – Armadura prolongada. Disposição correta.

Por último, é conveniente que os ganchos estejam rodeados de uma massa grande de concreto e por
isso é recomendável incliná-los para a parte interna das peças.

Emendas

As deficiências nos sistemas de emenda, que, para além daquelas já referidas para as ancoragens,
podem surgir também como resultado da excessiva concentração de barras emendadas em uma mesma
seção, e por utilização incorreta de métodos de emenda.

As emendas de barras devem ser projetadas respeitando-se todas as dimensões de comprimento de


transpasse e cobrimento, sem colocar mais emendas que as que figuram em planta, e as que sejam
indicadas pelo engenheiro responsável. É recomendável que as emendas fiquem afastadas das zonas
nas quais a armadura trabalha com sua carga máxima, e que sejam sempre fixadas por estribos que
assegurem sua posição e aderência.

As emendas podem ser realizadas por transpasse ou por solda.

Se a espessura do concreto em torno da emenda não for suficiente, podem ocorrer efeitos patológicos,
ao não poder ser transmitido o esforço de uma barra para outra por falta de concreto; por isso,
recomenda-se que o valor mínimo desse recobrimento não seja inferior a duas vezes o diâmetro das
barras. Da mesma forma é preciso ter certeza de que a concretagem é realizada adequadamente nas
zonas em que foram realizadas as emendas.

Quando as barras tiverem diâmetros superior a 32 mm é aconselhável recorrer ao emprego de emendas


por meio de luvas metálicas.

As emendas com luvas são excelentes, mas bastante dispendiosas.

4.4 – ERROS NA CONCRETAGEM

O concreto é um material que responde muito bem quando é tratado adequadamente; entretanto, é um
material que pode sofrer muito desde o seu nascimento e pelo resto da vida, não sendo de se estranhar
que termine adoecendo num prazo mais ou menos curto.

A falta de uniformidade no concreto, conseqüência da falta de análises freqüentes do cimento,


agregados, umidade dos mesmos etc., pode ser prevista ao dosar o concreto; entretanto existe uma
série de erros de execução que pode diminuir ainda mais as resistências e ocasionar falta de
uniformidade na mistura, com o aparecimento de trincas, fissuras, vazios, bolhas, desprendimentos, etc.
A maior parte dos erros e descuidos no concreto correspondem as fases de aplicação e cura do mesmo.

Não cabe aqui falar da maior ou menor qualidade de um concreto feito em obra com relação ao pré-
misturado em centrais. Há casos de concretos muito bons e muito maus, procedentes das duas origens
assinaladas. Os concretos são bons quando são feitos cuidadosamente e ninguém duvida que qualquer
construtor possa fazer um concreto péssimo com ingredientes de primeira qualidade ou, pelo contrário
um concreto extraordinário; tudo depende do cuidado que se tenha.

Já aconteceram falhas importantes em concretos procedentes de centrais, por apresentarem torrões de


argila em sua massa; outras vezes, foi preciso demolir uma parte de uma estrutura, uma vez que a
central havia enviado um concreto de 200 kg/m3 de cimento, em lugar de um de 20,00 MPa de
resistência etc.

Existem centrais muito boas e de grande garantia e outras, felizmente em menor número, que fornecem
concretos muito variáveis.

Por outro lado, é conveniente assinalar que a responsabilidade que a central tem sobre a qualidade do
concreto, termina com a sua entrega em obra, e pode acontecer que um bom concreto se transforme em
deficiente por causa das operações realizadas, e alheias a quem o dosou, transportou e entregou.

Vamos estudar, em seguida, a influência do lançamento, compactação, cura etc. nas propriedades do
concreto.

Lançamento do concreto

Quando se encomenda um concreto, especifica-se a resistência característica, consistência e tamanho


máximo de agregado; portanto, aceita-se o concreto caso cumpra com o pedido e se recusa em caso
contrário; o que é inadmissível é "melhorá-lo" em obra devido aos grandes inconvenientes que tem
qualquer modificação que se pretenda realizar em campo.

A adição de água ao concreto, além de estritamente necessária, repercutirá numa redução de suas
resistências mecânicas, em um aumento da retração hidráulica e, no perigo de ataque por agentes
agressivos, tanto de tipo físico como químico, ou seja, numa diminuição de sua durabilidade.

A água, como já vimos, é o elemento que mais influência perniciosa pode ter sobre um concreto, sendo a
causa de uma infinidade de efeitos patológicos, tanto por excesso, como por falta.
É preciso ajudar a massa de concreto a penetrar em todos os pontos da fôrma, e que seja compactado
adequadamente, e isso é especialmente difícil quando as fôrmas apresentam geometria complexas e o
concreto é de consistência seca.

CÁNOVAS admite que "não se deve lançar um volume maior de concreto que aquele que possa ser
compactado de forma eficaz". (op. cit., p. 128)

Quando se concretam peças altas é muito freqüente que a parte superior das mesmas esteja formada
por um concreto mais fluido pelo efeito da água e da pasta que se eleva ao compactá-lo. Devido a esse
fenômeno a parte superior da peça apresenta menor resistência que o resto da mesma. Esse efeito pode
ser remediado, empregando-se nas últimas camadas um concreto de consistência mais seca do que o
resto da peça.

Conforme descrito nos passos a seguir, RIPPER, E., indica que "a liberação do lançamento do concreto
pode ser feita somente depois da verificação pelo engenheiro responsável ou encarregado das fôrmas,
armadura e limpeza." (op. cit., p. 32-33)

a. A verificação das fôrmas: se estão em conformidade com o projeto, se o escoramento e a rigidez


dos painéis são adequados e bem contraventados, se as fôrmas estão limpas, molhadas e
perfeitamente estanques a fim de evitar a perda da nata de cimento. Para limpar peças altas
(pilares, paredes, muros de arrimo etc.) devem existir janelas nas bases das fôrmas, verificando-
se se o fundo das peças está bem limpo; isto é muito importante para uma boa ligação do
concreto com a base (muitas vezes uma camada de serragem de madeira pode isolar
completamente a peça das bases);
b. Verificação da armadura: bitolas, quantidades e posição das barras de acordo com o projeto, se
as distâncias entre as barras são regulares, se os cobrimentos satisfazem as condições de
projeto, etc.;
c. Antes do lançamento do concreto, o armador precisa verificar se não houve deslocamento da
armadura, principalmente nas lajes e marquises; e
d. Antes e durante o lançamento do concreto, as plataformas de serviço deverão estar dispostos de
modo a protegerem as armaduras de deformações e deslocamentos.

O concreto deverá ser lançado logo após o amassamento, não sendo permitido entre o fim deste e o fim
do lançamento um intervalo maior do que uma hora. Com o uso de retardadores de pega, o prazo pode
ser aumentado de acordo com as características e dosagem do aditivo. Em nenhuma hipótese pode-se
lançar o concreto com pega já iniciada.

Para manter a homogeneidade do concreto, conforme norma brasileira, a altura de queda livre não pode
ultrapassar 2m. Nos casos onde a altura de queda livre é maior do que as mencionadas pelas normas
RIPPER, E., recomenda que:

"para evitar o ricochete de agregados na queda da massa sobre o fundo da


peça, que pode resultar em desagregação do concreto, aplica-se por uma janela
na base da fôrma uma camada de argamassa de cimento e areia 1:1 com
aproximadamente 2 cm de espessura, que servirá como amortecedor da queda
e como envolvimento dos agregados, que caem antes da argamassa do
concreto, por serem mais pesados". (ibid., p. 33-34)

O lançamento se faz em camadas horizontais de 10 cm a 30 cm de espessura, conforme se trate de


lajes, vigas ou muros.

Durante o lançamento inicial do concreto nos pilares e paredes, um carpinteiro deve observar a base da
fôrma, se a junta entre a fôrma e o concreto existente não penetra nata de cimento, que pode prejudicar
a qualidade do concreto na base destes elementos da estrutura. Em caso de acontecer este vazamento
de nata de cimento, deve-se aplicar papel molhado (sacos de cimento) para impedir a continuação do
vazamento.
Adensamento

A finalidade do adensamento do concreto, também conhecido como compactação, é alcançar a maior


compacidade possível do concreto. O meio usual de adensamento é a vibração.

Quando o concreto é recém colocado na fôrma, pode haver um volume de bolhas de entre 5 % a 20 %
do volume total. Os volumes maiores em concretos de alta trabalhabilidade e os menores nos concretos
mais secos, com menor abatimento. A vibração tem o efeito de fluidificar o componente argamassa da
mistura diminuindo o atrito interno e acomodando o agregado graúdo tentando diminuir o chamado efeito
parede (fig. 9). A vibração expele-se quase todo o ar aprisionado, mas, normalmente, não se consegue a
expulsão total desse ar.

Segundo COUTINHO apud HELENE (1986):

"por efeito parede entende-se a movimentação de argamassa para junto de


superfícies contínuas limites que restringem o concreto, tais como fôrmas e
armaduras. Essa movimentação só pode ser conseguida à custa do
empobrecimento da massa do interior do concreto". (op. cit. p. 23)

A vibração deve ser aplicada uniformemente em toda a massa do concreto, pois de outra forma, partes
estariam pouco adensadas e outras poderiam estar segregadas devido ao excesso de vibração.

No uso de vibradores de imersão, eles devem ser introduzidos na massa de concreto em posição vertical
ou pouco inclinada, para não prejudicar o funcionamento dos mesmos mas nunca com inclinação maior
do que 45º em relação à vertical. A duração de vibração depende da plasticidade do concreto,
garantindo uma boa mistura de agregados, mas deve-se evitar uma duração longa demais, que pode
provocar uma desagregação do concreto.

Fig. 9 – Efeito parede (COUTINHO, apud HELENE, 1986)


CÁNOVAS afirma que "uma vibração mal feita pode ocasionar problemas no concreto os quais
aparecerão com sintomas patológicos diferentes, embora os mais freqüentes sejam os ninhos de pedras
e bolhas". (op. cit., p.129)

Às vezes, o vibrador não costura as camadas subjacentes, como requer a boa técnica de seu emprego;
nesse caso, cria-se uma interface entre camadas, de característica pouco uniforme e, em geral, fraca,
por estar formada pela argamassa que sobrenadou ao ser vibrada a camada inferior, e ao agregado que
foi para o fundo da nova capa que está sendo lançada.

Ainda CÁNOVAS adverte que:

"um efeito indesejável que também pode acontecer durante a vibração mal
efetuada é a perda de aderência do concreto com as armaduras; outro erro,
também freqüente, é colocar água no concreto, pensando que, embora o
concreto piore com água, pode melhorar com a vibração. Os que assim atuam
conseguem concretos muitos estratificados, com excesso de pasta na superfície
e camadas inferiores de muito má qualidade". (ibid., p. 129-130)

A baixa qualidade no processo de adensamento do concreto traz como conseqüência a diminuição da


resistência mecânica, aumento da permeabilidade e porosidade e falta de homogeneidade da estrutura.

Juntas de concretagem

O ideal, em toda construção de concreto, é que a concretagem seja contínua. Na prática isso é
impossível de conseguir, salvo exceção, e nas obras são muitas as juntas construtivas que é preciso
deixar, por ter que continuar no dia seguinte, em virtude do término da jornada de trabalho, ou por mal
tempo, na época de fortes chuvas, falta de materiais, pouca definição da obra, suspensão da mesma etc.
mas, além dessas interrupções, acontece que uma parte dessas juntas pode ser necessária para evitar
que se produzam fissuras de retração.

São dois os problemas que podem apresentar as juntas de concretagem e que podem ser causas de
patologias; um é a escolha da zona onde vai ser feita a junta, e outro o tratamento a lhe ser dado.

Não é costume dar muita atenção à localização da junta, principalmente porque essa é uma solução
improvisada em obra e está geralmente, nas mãos de encarregados ou operários que pouco conhecem
da distribuição de esforços nas estruturas. As juntas de concretagem são tão importantes que é
obrigatório que estejam previstas.

Quando não contém no projeto e devem ser realizadas, devem ser feitas nos lugares aprovados pelo
engenheiro responsável pela obra;

Como orientação, DIAS, E. M., (1990) indica os seguintes locais para execução de juntas:

a. Pilares: Alguns centímetros abaixo do topo, antes da junção com a viga;


b. Vigas: No meio do vão ou no terço médio;
c. Lajes armadas em uma só direção e de pequeno vão: localizadas no meio e na direção normal
ao vão. Se localizadas na direção do vão, devem posicionar-se no terço médio da laje;
d. Lajes armadas nas duas direções: dispor a junta no terço médio (para ambos os vãos); e
e. Junta entre laje e a viga: é necessário garantir uma boa ligação e se necessário, utilizar
armaduras adicionais para absorverem as tensões de corte.

As juntas criadas por interrupção da concretagem em suportes inclinados devem ser transversais ao eixo
do elemento, e dispor de armaduras de costura adequadas para que absorvam os esforços cortantes em
sua superfície (figura 10).
Fig. 10 – Juntas de concretagem em suportes inclinados.(CÁNOVAS, 1988)

O tratamento a ser dado a junta também é importante. Antes de realizar a união dos concretos na junta,
é preciso prevenir os efeitos de retração e, para isso, esperar o tempo suficiente para que a peça
concretada tenha se deformado livremente.

A superfície da junta deve ser tratada, adequadamente, para que a descontinuidade construtiva que a
junta cria, não se traduza em descontinuidade estrutural. A primeira medida a ser adotada é empregar,
de ambos os lados da junta, concretos idênticos.

Antes de reiniciar-se o lançamento, deve-se remover da superfície do concreto endurecido a nata de


cimento e fragmentos soltos e limpá-la bem. Não pintar a área de contato com nata de cimento, um
costume errado e prejudicial para uma boa ligação das duas partes, porque forma uma película alisante
e isolante. Quando a interrupção entre as duas concretagens é bastante prolongada, recomenda-se
aplicar uma fina camada de argamassa de cimento-areia 1:1 imediatamente antes da retomada da
concretagem.

Quando se trata de peças grandes ou essenciais numa estrutura, ou quando se trata de uma ligação
entre o concreto existente de uma construção velha e concreto novo, a junta deve ser tratada com um
adesivo específico à base de epóxi.

Cura do concreto

Segundo NEVILLE, "a cura é a denominação dada aos procedimentos a que se recorre para promover a
hidratação do cimento e consiste em controlar a temperatura e a saída e entrada de umidade para o
concreto". (op. cit. p. 325)

Para DIAS, "a cura tem como objetivo manter a água de mistura do concreto no seu interior, até a
completa hidratação do cimento". (op. cit., p. 270)

Mais especificamente, o objetivo da cura é manter o concreto saturado, ou o mais próximo possível de
saturado, até que os espaços da pasta de cimento fresca, inicialmente preenchidos com água, tenham
sido preenchidos pelos produtos da hidratação do cimento até uma condição desejável. No caso do
concreto das obras, quase sempre a cura é interrompida bem antes que tenha ocorrido a máxima
hidratação possível.

Para conseguir um bom concreto, é necessário não só que este seja bem dosado, bem colocado e bem
compactado, como também que, durante o tempo de pega e endurecimento do mesmo, o ambiente em
que se encontre possua condições adequadas de temperatura e umidade para que as reações de
hidratação se realizem com toda a normalidade e sem criar tensões internas que possam ocasionar
efeitos patológicos que se apresentarão, normalmente, em forma de fissuras superficiais ou profundas,
ou em diminuições notáveis das resistências mecânicas.
Como a umidade e a temperatura agem como catalisadores das reações de hidratação, a cura terá como
finalidade principal evitar que falte água ao concreto e que a temperatura seja a adequada durante os
primeiros dias que compreendem a pega e o primeiro endurecimento.

Os motivos que levam à fissuração do concreto ou a que ele não atinja suas resistências ou as atinja
tardiamente, são as seguintes:

— Temperatura do ar superior à massa do concreto;

— Baixa umidade relativa do ar; e

— Superfícies de concreto expostas a vento seco e quente.

De qualquer forma, é conveniente insistir em que os métodos de cura por meio de molhagem, freqüentes
no verão, em lugares ensolarados, não são suficientes, a não ser que se cubram os elementos
estruturais com sacos que fiquem constantemente molhados. A cura com água deve ser contínua e durar
pelo menos sete dias, embora seja preferível chegar aos vinte e oito dias.

Se a cura com água é feita adequadamente, podem ser evitados problemas que afetarão a estabilidade
volumétrica e as resistências mecânicas do concreto.

O não atendimento da cura acarreta diminuição da resistência final do concreto e possibilidade de


aparecimento de fissuras na estrutura.

O rigor na realização do processo de cura está diretamente ligado ao clima regional, devendo ser
bastante cuidadoso em climas quente, seco e com vento.

Desforma e descimbramento

Para realizar a desfôrma e o descimbramento dos elementos estruturais é preciso esperar que o
concreto tenha uma resistência adequada para suportar, por si próprio, a ação do seu peso e mais as
das sobrecargas que existam sobre ele.

Os fundos de vigas, cimbres e apoios devem ser retirados sem vibração ou golpes na estrutura,
recomendando-se que, quando os elementos sejam de certa importância, sejam empregadas cunhas,
caixas de areia etc., para conseguir uma descida uniforme dos apoios.

São muito freqüentes as falhas produzidas como conseqüência de descimbramento com cargas
superiores às estimadas ou quando o concreto ainda não atingiu o endurecimento e resistências
adequadas nas datas previstas, devido à influência de baixas temperaturas ou emprego de cimentos
inadequados.

Quando estão sendo descimbradas estruturas que tem balanços, é preciso planejar muito bem o
descimbramento e tomar precauções nos vãos próximos aos mesmos; assim, é fundamental proceder à
eliminação dos pontaletes nos vãos internos e posteriormente ir tirando os pontaletes de fora para
dentro, evitando assim fortes rotações no balanço e possíveis fissuras junto à seção de engastamento do
mesmo.

É muito importante não eliminar prematuramente os pontaletes nas fôrmas de escadas, especialmente
quando são circulares e estão fixadas unicamente no início e no fim.

Nos encontramos freqüentemente com obras que tem um ritmo de construção muito rápido e os meios
de escoramentos não são suficientemente abundantes para acompanhar este ritmo construtivo.

Essa falta de meios auxiliares pode ser objeto de falhas importantes porque, para seguir concretando, é
preciso começar a eliminar elementos dos andares inferiores e é possível que o concreto não esteja em
condições de suportar sozinho.
Se não tiver sido usado cimento de alta resistência inicial ou aditivos que acelerem o endurecimento, a
retirada das fôrmas e do escoramento não deverá dar-se antes dos seguintes prazos:

Local da desfôrma e descimbramento Duração (dias)


Faces laterais 03
Retirada de algumas escoras 07
Faces inferiores, deixando-se algumas escoras bem encunhadas 14
Desfôrma total, exceto item abaixo 21
Vigas e arcos com vão maior do que 10 m 28

Tabela 4 – Idade de desfôrma e descimbramento (RIPPER, E. 1996 – p. 37)

4.5 – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO EM GERAL

O material mais utilizado em estruturas é o concreto armado, entendendo-se como tal a mistura íntima
de cimento, agregados, água, eventualmente aditivos e o aço que vai constituir a fibra ou nervo de que o
concreto necessita para ser um material estrutural completo.

A patologia do concreto armado está, portanto, relacionada à patologia dos seus componentes que
deverão reunir uma série de características que impeçam a ocorrência, a curto prazo, de defeitos mais
ou menos graves no concreto.

Segue-se a apreciação de alguns dos casos mais comuns de utilização incorreta de materiais de
construção:

a) utilização de concreto com fck inferior ao especificado, quer no caso de encomenda errada ou de erro
no fornecimento de concreto pronto, quer por erro em concreto virado na própria obra;

b) utilização de aço com características diferentes das especificadas, quer em termos de categorias,
quer de bitolas;

c) assentamento das fundações em camadas de solo com capacidade resistente — ou características,


de uma maneira geral — inferior à requerida;

d) utilização de agregados reativos, instaurando, desde o início, a possibilidade de geração de reações


expansivas no concreto, e potencializando os quadros de desagregação e fissuração do mesmo;

e) utilização inadequada de aditivos, alterando as características do concreto, em particular as


relacionadas com resistência e durabilidade; e

f) dosagem inadequada do concreto, seja por erro no cálculo da mesma, seja pela utilização incorreta de
agregados, do tipo de cimento ou de água.

Cimentos

O armazenamento adequado do cimento é essencial para garantir a conservação de suas boas


qualidades e evitar possíveis alterações em suas propriedades que possam ocasionar problemas nos
concretos com eles fabricados.

Para conservar o cimento devem ser tomadas precauções: o local deve estar completamente seco e
contar com estrado de madeira feito com tábuas grossas, 20 a 30 cm acima do solo. A pilha não deverá
ser constituída de mais de 10 sacos, salvo se o tempo de armazenamento for no máximo 15 dias, caso
em que poderá atingir 15 sacos.

Devem ser evitadas as correntes de ar, principalmente em climas úmidos.

A característica fundamental predominantemente no momento de escolher um determinado tipo de


cimento é a durabilidade do concreto fabricado com ele; isso obriga a um conhecimento do tipo de obra
que vai ser realizada e do ambiente no qual exercerá sua função. No ANEXO 1, consta a classificação
dos cimentos nacionais elaborada pela ABNT.

Agregados

Os agregados empregados na fabricação de concreto não devem ser reativos com o cimento e ser
suficientemente estáveis diante da ação dos agentes externos com os quais vão estar em contato na
obra.

Os agregados devem estar isentos de substâncias prejudiciais, como corrosões, argila, matéria orgânica
etc., que diminuam sua aderência à pasta de cimento ou que prejudiquem as reações de pega e
endurecimento do concreto.

Os limites dessas substâncias encontram-se indicados no ANEXO 2.

Os agregados não devem reagir com o cimento dando lugar a produtos expansivos que possam criar
tensões internas na massa de concreto, que alterem ou diminuam as resistências mecânicas ou
durabilidade dos mesmos.

Os agregados diferentes deverão ser depositados em plataformas separadas, de modo que não haja
possibilidade de se misturarem com outros agregados ou com materiais estranhos que venham
prejudicar sua qualidade; também no manuseio deverão ser tomadas precauções para evitar essa
mistura.

Água

Do ponto de vista patológico, o emprego no amassamento do concreto de águas não potáveis e não
recomendadas pela prática, pode criar problemas a curto e longo prazos.

Embora possam provocar efeitos patológicos no concreto massa, as águas que contêm impurezas,
dentro de certos limites, não têm importância e inclusive podem nem aparecer; não acontece o mesmo
com as águas utilizadas no concreto armado, onde a existência de cloretos pode provocar corrosões
importantes de armaduras além de manchas e eflorescências superficiais.

Se o emprego de águas não adequadas no amassamento de concretos é prejudicial, o problema se


torna mais grave na cura dos concretos, em virtude de sua mais ou menos constante renovação.

As águas devem ser analisadas quando não se conheçam antecedentes de sua utilização e bom
comportamento e no caso de haver dúvidas quanto à sua idoneidade.

A qualidade da água tem um papel importante: impurezas contidas na água podem influenciar
negativamente a resistência do concreto ou causar manchas na sua superfície, ou, também, resultar em
corrosão da armadura. Por essas razões, deve-se dar atenção à qualidade da água para amassamento
e para cura do concreto.

A água de amassamento não deve conter matérias orgânicas indesejáveis nem substâncias inorgânicas
em teores excessivos. Os limites dessas substâncias e impurezas encontram-se indicados no ANEXO 3.
Aditivos

Conforme NEVILLE, A. M.:

"um aditivo pode ser definido com um produto químico que, exceto em casos
especiais, é adicionado à mistura de concreto em teores não maiores do que 5
% em relação à massa de cimento durante a mistura ou durante uma mistura
complementar antes do lançamento do concreto, com a finalidade de se obterem
modificações específicas, ou modificações das propriedades normais do
concreto". (op. cit., p. 251)

O motivo do grande crescimento do uso dos aditivos é a capacidade de proporcionar ao concreto


consideráveis melhorias físicas e econômicas. Essas melhorias incluem o uso em condições nas quais
seria difícil ou até impossível usar concreto sem aditivos. Eles também tornam possível o uso de uma
grande variedade de componentes na mistura.

Os aditivos embora nem sempre baratos, não representam necessariamente um custo adicional porque
podem resultar economias, como, por exemplo, no custo do trabalho necessário para o adensamento, na
possibilidade de redução do teor de cimento ou na melhoria da durabilidade sem outras providências.

Deve se lembrar que, embora usados corretamente, sejam benéficos para o concreto, os aditivos não
são um remédio para a falta de qualidade dos ingredientes do concreto, para proporções não adequadas
da mistura, ou para despreparo da mão de obra para transporte, lançamento e adensamento.

Os aditivos podem ser classificados de diversas maneiras. A classificação dos aditivos e suas
características encontram-se no ANEXO 4.

Como normas gerais no emprego de aditivos podemos salientar as seguintes:

a. Sempre que possível deve-se evitar o emprego de aditivos, recorrendo ao uso de materiais,
dosagem, fabricação, posta em obra e cura corretas para conseguir concretos com as
propriedades desejadas.
b. Quando seja necessário empregar aditivos por motivos particulares, nunca utilizá-los sem
realizar ensaios prévios e sem um controle rigoroso de sua dosagem:
c. É preciso procurar aditivos de boa qualidade e dos quais se tenham referências, ou seja, que
estejam provados na prática, desconfiando dos fabricantes que fornecem aditivos que só
possuem vantagens e servem para tudo. Os aditivos costumam apresentar efeitos secundários
que é preciso conhecer e controlar, pois os prejuízos que possam ocasionar talvez sejam
maiores que as vantagens que podem trazer.
d. Os aditivos escolhidos devem ser protegidos adequadamente. Se em forma de pó devem ser
conservados em lugares secos evitando a possível formação de torrões por efeito da umidade,
bem como a alteração de suas propriedades; quando em estado líquido devem ser protegidos do
calor e agitados antes de usar para evitar que as sedimentações produzidas tirem a
uniformidade do aditivo.
e. É preciso, ao empregá-los, assegurar-se de que estão dentro de seu prazo de validade.
f. É preciso tomar as precauções indicadas pelo fabricante no caso, pouco freqüente, de serem
tóxicos.
g. É preciso evitar os erros que possam ter origem na confusão de tanto por cento a tanto por mil,
por exemplo.
h. Serão tomadas precauções para que a repartição do aditivo em toda a massa de concreto seja
uniforme pois a falta de homogeneidade pode ocasionar efeitos indesejáveis.
i. Pode existir incompatibilidade de alguns tipos de aditivos com o aglomerado empregado; assim,
um aditivo que dá bom resultado com determinado tipo de cimento, não o dá com outro, isso
reforça a necessidade de realizar ensaios prévios em laboratório antes de optar pelo emprego de
um determinado aditivo.
j. Não esquecer que um mau concreto não pode converter-se em bom, pelo emprego de aditivos.

O emprego de vários aditivos num mesmo concreto pode ocasionar também importantes problemas
devido as incompatibilidades em sua mistura.
Armaduras

As barras empregadas como armaduras em concreto armado não devem apresentar defeitos
superficiais, fissuras nem bolhas. A fim de evitar possíveis erros que ocasionariam efeitos patológicos, é
recomendável empregar em obra o menor número possível de diâmetros diferentes e, que esses
diâmetros, entre si, se diferenciem o mais possível. Isso pois, quando for previsto o emprego de barras
de aço com qualidades diversas (diâmetro), deverão ser tomadas as necessárias precauções para evitar
a troca involuntária.

As barras de aço deverão ser convenientemente limpas de qualquer substância prejudicial à aderência,
retirando-se as escamas eventualmente destacadas por oxidação.

Antes e durante o lançamento do concreto, as plataformas de serviço deverão estar dispostas de modo a
não acarretarem deslocamentos das armaduras.

As barras de espera deverão ser devidamente protegidas contra a oxidação; ao ser retomada a
concretagem deverão elas ser perfeitamente limpas de modo a permitir boa aderência.

Por fim, a execução das obras deverá ser a mais cuidadosa a fim de que as dimensões, a forma e a
posição das peças e, as dimensões e posição da armadura obedeçam às indicações do projeto com a
maior precisão possível.

4.6 – CONTROLE DE QUALIDADE DE EXECUÇÃO

Sendo a última, esta é, talvez, a maior de todas as causas relacionadas com falhas na construção, posto
que, se existir controle de qualidade adequado, as causas relacionadas anteriormente, na sua grande
maioria, terão substancialmente reduzidas as possibilidades de virem a ocorrer, ou, pelo menos, terão
atenuadas suas conseqüências, em termos do quadro patológico resultante.

Na Tabela 5, indica-se as operações que devem ser controladas, devendo entender-se que aquelas
citadas no quadro são as principais e de caráter geral, podendo, consequentemente, existir algumas
outras e, inclusive, essas indicadas serem suprimidas por outras, de acordo com o caráter particular da
obra.

Fase de controle de execução Operações que se controlam


a. Revisão das plantas de projeto e de obra;
b. Comprovação de betoneiras, vibradores, equipamentos
de transporte, fôrmas para os corpos de prova, medidas
de Segurança etc;
c. Andaimes e cimbras;
d. Fôrmas e moldes;
Antes da concretagem e. Dobramento, transpasse e posição de armaduras;
f. Previsão de juntas;
g. Previsão de concretagem em tempo frio;
h. Previsão de concretagem em tempo quente;
i. Previsão de concretagem sob chuva.

a. Preparo, transporte e lançamento do concreto;


b. Adensamento do concreto;
c. Juntas;
Durante a concretagem d. Concretagem em tempo frio;
e. Concretagem em tempo quente;
f. Concretagem sob chuva.

Posterior a concretagem a. Cura;


b. Retirada de escoramento e desfôrma;
c. Flechas e contraflechas;
d. Acabamento de superfícies;
e. Transporte e colocação de peças pré-fabricadas;
f. Previsão das ações mecânicas durante a execução;
g. Reparação de defeitos superficiais.

Tabela 5 – Fases de controle de execução (CÁNOVAS, 1988 – p. 95)

É assim uma questão fundamental, um ponto de máxima importância, a de que, de forma a se diminuir a
possibilidade de deterioração precoce da estrutura, se tenha, durante toda a fase de execução da obra, a
assistência de um engenheiro tecnologista e se preste total obediência às Normas, no que diz respeito à
composição e confecção do concreto.

A limpeza inadequada dos equipamentos antes do uso para transporte do concreto, pode provocar
contaminações ao mesmo, proporcionando queda da resistência ou manchas.

Durante o uso destes equipamentos no processo de concretagem deve-se tomar o cuidado de lavá-los
periodicamente com jatos de água, a fim de evitar a formação de películas de argamassa endurecida em
sua superfície. A água utilizada na lavagem não deve permanecer no interior do equipamento.

5 – PROCESSOS FÍSICOS DE DETERIORAÇÃO COM ÊNFASE A EXECUÇÃO

5.1 – FISSURAÇÃO

Para SOUZA e RIPPER:

"as fissuras podem ser consideradas como a manifestação patológica


característica das estruturas de concreto, sendo mesmo o dano de ocorrência
mais comum e aquele que, a par das deformações muito acentuadas, mais
chama a atenção dos leigos, proprietários e usuários aí incluídos, para o fato de
que algo de anormal está a acontecer". (op. cit., p. 57)

Na época do ano em que a temperatura ambiente mantém-se elevada, é freqüente o aparecimento de


fissuras ou trincas no concreto.

As práticas modernas de construção, com exigências de altas resistências iniciais, desfôrma em


pequenas idades, concretos bombeados e outras, tornaram a trinca ou fissura um assunto mais comum
do que era há algum tempo.

Não há duvida de que ocorriam menos trincas na época em que se usavam concretos com menores
consumos de cimento, abatimentos menores e empregava-se mais tempo no adensamento e
acabamento durante uma concretagem.

É certo que seja quase impossível executar um concreto totalmente livre de algum tipo de fissura, mas
existem medidas para reduzir sua ocorrência ao mínimo possível.

É interessante observar que, no entanto, a caracterização da fissuração como deficiência estrutural


dependerá sempre da origem, intensidade e magnitude do quadro de fissuração existente, posto que o
concreto, por ser material com baixa resistência à tração, fissurará por natureza, sempre que as tensões
trativas, que podem ser instaladas pelos mais diversos motivos, superarem a sua resistência última à
tração.
Portanto, ao se analisar uma estrutura de concreto que esteja fissurada, os primeiros passos a serem
dados consistem na elaboração do mapeamento das fissuras e em sua classificação, que vem a ser a
definição da atividade ou não das mesmas (uma fissura é dita ativa, ou viva, quando a causa
responsável por sua geração ainda atua sobre a estrutura, sendo inativa, ou estável, sempre que sua
causa se tenha feito sentir durante um certo tempo e, a partir de então, deixado de existir).

Classificadas as fissuras e de posse do mapeamento, pode-se dar início ao processo de determinação


de suas causas, de forma a poder-se estabelecer as metodologias e proceder aos trabalhos de
recuperação ou de reforço, como a situação o exigir. É necessário sempre muita atenção e competência,
pois uma análise malfeita pode levar à aplicação de um método de recuperação ou de reforço
inadequado e, caso não sejam eliminadas as causas, de nada vai adiantar tentar sanar o problema, pois,
neste caso, ele ressurgirá, e até mesmo poderá vir a agravar-se.

Além do aspecto antiestético e a sensação de pouca estabilidade que apresenta uma peça fissurada, os
principais perigos decorrem da corrosão da armadura e da penetração de agentes agressivos externos
no concreto.

Devido a isso a NBR - 6118 (NB – 1/78), subitem 4.2.2, considera fissuração como nociva quando a
abertura das fissuras na superfície do concreto ultrapassa os seguintes valores:

o 0,1 mm para peças não protegidas, em meio agressivo;


o 0,2 mm para peças não protegidas, em meio não agressivo; e
o 0,3 mm para peças protegidas.

5.1.1 – Fissuras do concreto no estado plástico

A utilização de métodos inadequados ou negligência podem afetar, durante a fase de execução da obra,
a qualidade do concreto.

No estado plástico o concreto pode apresentar fissuras devidas à deficiências ou descuido na execução.
O deslizamento do concreto em rampas de escadas com grande inclinação, os movimentos de uma
forma mal projetada ou mal fixada, os deslocamentos de armaduras durante a compactação do concreto
etc., figuram entre os motivos mais freqüentes de fissuração por falhas na execução.

As fissuras que ocorrem antes do endurecimento do concreto podem ser também do resultado de
assentamentos diferenciais dentro da massa do concreto (sedimentação) ou retração da superfície
causada pela rápida perda de água enquanto o concreto ainda está plástico. Elas podem ser devidas a
combinação de endurecimento superficial com sedimentação interior. Outra causa de fissura nessa fase
pode ser a movimentação das fôrmas ou do leito do concreto numa fundação.

Como exemplo deste tipo de fissuração, abordaremos alguns casos mais típicos deste sintoma.

5.1.1.1 – Retração Plástica

Quando a água se desloca para fora de um corpo poroso não totalmente rígido, verifica-se uma
contração. No concreto geralmente ocorre esse tipo de deslocamento de água, desde o estado fresco
até idades mais avançadas.

Logo após o adensamento e acabamento da superfície do concreto, pode-se observar o aparecimento


de fissuras na sua superfície, facilmente eliminadas pela passagem da colher de pedreiro ou por
revibração.

Esta retração plástica, é devida a perda rápida de água de amassamento, seja por absorção das fôrmas,
ou dos agregados, seja por evaporação.

A intensidade da retração plástica é influenciada pela temperatura, pela umidade relativa ambiente e
pela velocidade do vento. No entanto, a perda de água por si mesma não permite prever a retração
plástica; depende muito da rigidez. Pode haver fissuração se a quantidade de água perdida por unidade
de área for grande e maior do que a água que sobe à superfície por efeito da exsudação. NEVILLE,
afirma que "impedindo-se completamente a evaporação depois do lançamento do concreto, elimina-se a
fissuração". (op. cit. p. 424)

Deve ser lembrado que a evaporação aumenta quando a temperatura do concreto for muito mais alta do
que a temperatura ambiente: em tais circunstâncias, pode ocorrer retração plástica mesmo que seja alta
a umidade relativa do ar. Portanto, é melhor proteger o concreto contra o sol e contra o vento, lançar e
iniciar a cura o mais cedo possível. Deve-se evitar lançar o concreto em um subleito seco.

Conforme RIPPER, E.:

"para temperaturas do ar e do concreto a 32º C, umidade relativa de 10% e


velocidade do vento de 40 Km/h, o grau de evaporação é 50 vezes maior do que
quando a temperatura do ar e do concreto for de 21º C, a umidade relativa de
70% e não haja vento. Mesmo quando são usados os mesmos materiais,
proporções, métodos de mistura, manuseio, acabamento e cura as trincas
podem ocorrer ou não, dependendo apenas das condições do tempo". (op. cit. p.
42)

As medidas para reduzir a evaporação da água na superfície do concreto consistem em:

a. Baixar a temperatura do concreto durante os dias quentes:

o resfriando a água de amassamento;


o estocando os agregados à sombra;
o protegendo as fôrmas e o próprio concreto do sol; e
o lançando o concreto durante os períodos mais frios do dia.

a. Reduzir a velocidade do vento na superfície do concreto:

o construindo barreiras para o vento com madeira, plástico ou vegetação.

a. Manter a umidade do concreto:

o proteger a superfície do concreto caso haja atraso entre o lançamento e o acabamento;


e
o aspergir água sobre o concreto acabado logo desapareça o brilho, que indica a secagem
superficial.

Geralmente as fissuras aparecem com uma distribuição caprichosa e cortando-se entre si. As vezes
existem regiões nas quais se apresentam concentrações de fissuras formando "teias" que podem ser
oriundas da maior concentração nestas regiões de pasta de cimento, que secará mais rapidamente do
que o resto da superfície.

Fig.11 – Fissuras de retração plástica do concreto (RIPPER, 1996)


As fissuras não seguem linhas determinadas, mas se ramificam ou apresentam sinuosidade, por
ocorrerem quando o concreto não apresenta praticamente resistência e, que vão se adaptando ao
contorno dos agregados, pois não os podem atravessar.

São fissuras mais freqüente em superfícies de pavimentos, lajes, e em todos os elementos de grande
área ou volume.

O fenômeno pode ser também significativo quando a pega é retardada, como em tempo frio ou pelo uso
de aditivo retardador.

5.1.1.2 – Assentamento Plástico do Concreto

Após o lançamento do concreto, os sólidos da mistura começam a sedimentar, deslocando a água e o ar


aprisionado. A água aparece na superfície (exsudação) e a sedimentação continua até o endurecimento
do concreto.

A fissuração por assentamento do concreto ocorre sempre que as armaduras e os agregados impedem a
livre sedimentação do concreto, obrigando-o a separar-se, surgindo fissuras no concreto plástico.

As fissuras formadas pelo assentamento do concreto acompanham o desenvolvimento das armaduras, e


provocam a criação do chamado efeito de parede, que pode formar um vazio por baixo da barra,
reduzindo a aderência desta ao concreto. Se o agrupamento de barras for muito grande, as fissuras
poderão interagir entre si, gerando situações mais graves, como a de perda total de aderência.

CÁNOVAS, adverte que "a união de pilares a vigas corre riscos se, uma vez concretados os pilares, e
não se espera algumas horas antes de concretar as vigas, para permitir que o concreto fresco dos
pilares assente". (op. cit., p. 222)

Fig. 12 – Fissuras de assentamento plástico (HELENE, 1992)

E importante também considerar que, em termos de durabilidade, fissuras como estas, que
acompanham as armaduras, são as mais nocivas, pois facilitam, bem mais que as ortogonais, o acesso
direto dos agentes agressores, facilitando a corrosão das armaduras.

As medidas preventivas consistem em:

o produzir misturas mais secas, mais densas, com menor abatimento possível;
o fazer um bom adensamento; e
o evitar uma execução muito rápida do concreto.

5.1.1.3 – Movimentação de Fôrmas e Escoramentos

Os recalques do subleito ou mau escoramento das fôrmas podem causar trincas no concreto enquanto
na fase plástica.
Tais movimentos podem ser causados por:

o deformação das fôrmas, por mau posicionamento, por falta de fixação inadequada, pela
existência de juntas mal vedadas ou de fendas, etc.;
o inchamento da madeira devido à umidade ou perda de pregos; e
o devido ao uso impróprio ou excessivo dos vibradores.

Fig. 13 – Fissura causada por movimentação da fôrma (RIPPER, 1996)

As medidas preventivas consistem em:

o compactar suficientemente o subleito; e


o projeto adequado de fôrmas e escoramentos.

5.1.1.4 – Retração Hidráulica

A retração hidráulica, após a pega, é devida à perda por evaporação de parte da água de amassamento
para o ambiente, de baixa umidade relativa. A retração após a pega manifesta-se muito mais lentamente
do que a retração plástica.

A retração hidráulica, tanto no concreto quanto em argamassas ou pastas de cimento, manifesta-se


imediatamente após o adensamento do concreto, se não forem tomadas providências que assegurem
uma perfeita cura, ou seja, se não for impedida a evaporação da água do concreto.

Principais fatores que influem na retração são os seguintes:

a. Finura do cimento (a retração é aproximadamente, proporcional a finura) e dos


elementos mais finos do concreto;
b. Tipo do cimento (a retração pode variar de uma até três vezes conforme o tipo de
cimento). Existe um teor ótimo de gesso para se obter a retração mínima. Os álcalis, os
cloretos e, de um modo geral, os aditivos aceleradores aumentam a retração;
c. Teor de água: a retração é aproximadamente proporcional ao volume absoluto da pasta;
d. Consumo de cimento;
e. Tipo de granulometria dos agregados: as areias finas aumentam a retração. Quanto
maior for o módulo de elasticidade dos agregados, tanto maior será a reação por eles
oposta a retração; e
f. Umidade relativa e período de conservação.

Em geral, as recomendações para minimizar estas fissuras envolvem o emprego da mínima relação
água/cimento (a/c) possível, consumos não elevados de cimento, misturas com teor adequado de
argamassa, execução cuidadosa da cura, sem que o concreto fique sujeito a ciclos de secagem e
umedecimento.
Concretos dosados com excesso de areia apresentam retração maior do que misturas semelhantes com
teores normais.

As medidas preventivas para reduzir a retração hidráulica consistem em:

a. usar o menor teor de água de amassamento possível;


b. maior teor de agregado graúdo possível;
c. cura adequada do concreto; e
d. armaduras de pele quando as peças forem altas.

Observa-se que quando a cura do concreto é bem feita, a retração só se iniciará quando a cura for
interrompida, idade em que o concreto terá sua resistência à tração aumentada, e assim quando
surgirem as tensões de tração devidas à retração, o concreto já poderá apresentar resistência à tração
superior às tensões oriundas da retração, não ocorrendo portanto o fissuramento.

Fig.14 – Fissuras causada por retração hidráulica (HELENE, 1992)

5.1.1.5 – Retração Térmica

O cimento ao se hidratar, gera uma quantidade de calor por kg variando conforme a composição do
mesmo. Em tempo frio, o calor liberado na hidratação do cimento atua favoravelmente, não ocorrendo o
mesmo em regiões ou épocas quentes pois o seu efeito pode ser negativo, sendo recomendável a
utilização de consumos baixos de cimento e o emprego de cimentos de baixo calor de hidratação, ou
seja, pobres em silicatos e aluminato tricálcico, ou ainda, o emprego de cimentos pozolânicos ou de alto
forno. Isso, quando se tratar de concretagens de elementos de grande volume e, nos que, predomine a
superfície sobre o volume.

Se o calor produzido durante a hidratação, não poder ser eliminado facilmente, as peças concretadas
permanecerão quentes, e portanto, dilatadas durante certo tempo, que poderá ser grande face a baixa
condutibilidade do concreto (aproximadamente 0,003 cal / cm . seg. ºC).

Por ocasião do resfriamento do concreto, este irá se contrair dando origem à tensões de tração,
aparecendo fissuras nos lugares onde estas tensões ultrapassarem a resistência à tração do concreto.

A influência que o calor gerado na hidratação do cimento pode ter na formação de fissuras, devido
principalmente à baixa condutibilidade do concreto, faz com que exista um gradiente térmico entre o
interior da massa e as superfícies, dando lugar a um esfriamento das camadas externas e,
consequentemente, retração das mesmas, enquanto o núcleo está ainda quente e dilatado.

CÁNOVAS, afirma que "em geral, sempre que a diferença entre a temperatura ambiente e a do núcleo
seja superior a 20 ºC, é de se esperar que se produzam fissuras." (ibid. p. 219)

A falta ou construção defeituosa de juntas de dilatação dará lugar a fissuras se o concreto não puder
resistir, devido ao seu módulo de deformação que origina a mudança de temperatura.
Conforme VENUAT (1976), as principais precauções a tomar para limitar este tipo de retração são as
seguintes:

a. Escolher um cimento de baixo calor de hidratação (baixo teor do aluminato tricálcico ou


cimento com adições, etc.)
b. Consumo moderado de cimento e consequentemente granulometria de concreto bem
estudada.
c. Escolha de um agregado com alto módulo de deformação e por conseguinte pouco
deformável.
d. Refrigeração do concreto a ser utilizado na obra (e também dos materiais constituintes).
e. Utilização de moldes de pequena condutibilidade térmica (aço por exemplo).

5.1.2 – Fissuras do concreto endurecido

As fissuras no concreto endurecido podem se produzir em decorrência de vários aspectos, entre eles,
defeitos na execução.

Em muitas ocasiões, as fissuras do concreto endurecido aparecem quase simultaneamente à atuação da


ação normal a que está submetido, enquanto que, em outras, podem aparecer de maneira muito
diferenciada; pode ocorrer que o concreto ou o aço estejam sofrendo durante muito tempo uma ação
prejudicial de tipo mecânica ou química, e a enfermidade não apresente sintomas externos durante
meses e até anos.

Em consolos e dentes Gerber mal executados, nos quais o apoio não funciona adequadamente, tem-se
um engastamento que dá lugar a um momento cujo braço é muito curto e, portanto, produz grandes
esforços, que podem fissurar o consolo ou a viga que se apoia sobre ele.

Fig. 15 – Fissuras em consolos (HELENE, 1992) Fig. 16 – Fissuras em dentes Gerber (HELENE, 1992)

Nos balanços em que se produziu um deslocamento para baixo das armaduras negativas, durante a
concretagem, aparecerão fissuras de flexão na parte superior.
Fig. 17 – Fissuras produzidas por deslocamento das armaduras (CÁNOVAS, 1988)

Nos pilares, aparecem fissuras verticais ou ligeiramente inclinadas, se durante a execução ocorreu má
colocação, insuficiência e deslocamento dos estribos. Estas fissuras são, neste caso, um sintoma
bastante perigoso.

Fig. 18 – Fissuras produzidas por deslocamento dos estribos (HELENE, 1988)

Podem também aparecer fissuras paralelas às armaduras longitudinais das vigas, quando a
compactação do concreto não foi boa, ou quando, devido a pequena distância entre barras, o concreto
não pôde passar entre elas.

Fig. 19 – Fissura na face inferior da viga (LIMA, J. M., 1999)


Nas construções de concreto armado, as armaduras se encontram invariavelmente a alguns centímetros
da superfície, normalmente a 1 cm (cobrimento). Se a armadura está em contato com o ar e água, oxida-
se. Sendo o volume do óxido produzido pela corrosão mais ou menos oito vezes maior do que a do
metal do qual procede, serão criadas fortes tensões no concreto, fazendo com que o mesmo se rompa
por tração, apresentando fissuras que seguem as linhas das armaduras principais e inclusive a dos
estribos se a corrosão for muito intensa.

5.2 – DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO

Para SOUZA e RIPPER, desagregação é:

"a própria separação física de placas ou fatias de concreto, com perda de


monolitismo e, na maioria das vezes, perda também da capacidade de
engrenamento entre os agregados e da função ligante do cimento. Como
conseqüência, tem-se que uma peça com seções de concreto desagregado
perderá, localizada ou globalmente, a capacidade de resistir aos esforços que a
solicitam. (op. cit., p. 71)

A desagregação do material é um fenômeno que freqüentemente pode ser observado nas estruturas de
concreto, causado pelos mais diversos fatores, ocorrendo, na maioria dos casos, em conjunto com a
fissuração.

5.2.1 – Desagregações devido as reações expansivas no concreto

Na fabricação do cimento, acrescenta-se gesso ao clínquer no moinho. Esse gesso acrescentado reage
antes das vinte e quatro horas com parte do aluminato tricálcico formando etringita; a outra parte do
aluminato fica livre para reagir caso, posteriormente, encontre sulfatos, seja nos agregados ou nas águas
com as quais o concreto vai entrar em contato, produzindo mais etringita que é expansiva, mas numa
fase em que o concreto já está endurecido e, portanto, provocará efeitos patológicos que aparecerão na
forma de rachaduras, fissuras e, posterior desintegração do concreto.

A RAA (reação álcali-agregado) pode ser resumida como um tipo de degradação que afeta ao concreto
através de um fenômeno de expansão. A expansão é causada pela reação química que se processa
entre certos tipos de agregados e os álcalis de Sódio (Na) e de Potássio (K) existentes no cimento
Portland, e cuja intensidade depende dos produtos formados pela reação.

Em escala microscópica, as conseqüências da expansão devido à RAA podem apresentar-se como


microfissuras e descolamento do agregado, e sob o ponto de vista volumétrico, o desenvolvimento de
esforços e decorrentes fissuras no concreto.

Os sulfatos presentes em soluções aquosas, (Ex. efluentes industriais) ou mesmo em solos, atacam
estruturas de concreto promovendo uma destruição progressiva do material. A velocidade com que
ocorre este ataque depende de alguns fatores que se dividem em dois tipos principais:

o Características do meio agressivo; e


o Propriedades do meio agredido.

Alguns dos fatores mais importantes são apresentados em seguinte:

a. Concentração, tipo de sulfato e PH da solução, solo ou água subterrânea;


b. Mobilidade da água subterrânea;
c. Adensamento, tipo e teor de cimento, tipo de agregado, fator água/cimento e regime de
cura do concreto;
d. Processo construtivo; e
e. Congelamento; em regiões frias, o efeito conjunto de congelamento e ataque de sulfatos
promove uma severa agressividade ao concreto.
A degradação do concreto por ataque de sulfatos envolve basicamente três processos:

a. Difusão dos íons sulfato através da matriz, controlada pela porosidade e permeabilidade do
material;
b. Reações entre íons sulfato e certos constituintes do cimento hidratado (CH, C3A.CS.H18 ) para
formar produtos expansivos (etringita e gipsita); e
c. Fissuração da matriz, que conduz à perda de resistência e desintegração.

Para prevenir ou mesmo postergar o problema, geralmente procura-se especificar tipos especiais de
cimento (baixo teor de C3A ou adição de microssílica, escória de alto-forno e pozolanas em geral) para o
caso de ataques por sulfato e reduzir a porosidade do material através de uma redução drástica da
relação água/cimento ou adição de microssílica. Este último procedimento vale tanto para ataque por
cloretos quanto sulfatos.

Os fatores endógenos (ou de produção) associados com o processo de produção do concreto (seleção
dos materiais, dosagem, amassamento e cura) tem influência na expansão do concreto por ataque dos
sulfatos são necessariamente:

a. Tipo de cimento:

- composição química

- superfície específica

b. Tipo de agregado:

- forma e granulometria

- composição mineralógica

c. Dosagem:

- relação a/c

- conteúdo de cimento

- teor de argamassa

d. Cura:

- duração

- temperatura

Da mesma forma, nos casos de corrosão das armaduras, em que o concreto se desagrega quando do
aumento de volume das barras de aço, ou ainda quando acontecem as reações álcali-agregado e de
sulfatos, que resultam em processo de desagregação bastante acelerado.
Fig. 20 – Destacamento do concreto devido à corrosão das armaduras (LIMA, J. M., 1999)

5.2.2 – Desagregações devido à movimentações da fôrma

Ressaltam-se em particular, neste aspecto, os casos de criação de juntas de concretagem não previstas,
por deslocamento lateral das fôrmas (ver Figura 21.a), ou de fuga de nata de cimento pelas juntas ou
fendas das fôrmas, como mostrado na Figura 21.b, provocando a segregação do concreto, com sua
conseqüente desagregação, na maioria dos casos acompanhada de fissuração. Qualquer um destes
casos implicará o surgimento de quadros patológicos, já definidos, com o surgimento de fissuras no
elemento estrutural, por enfraquecimento deste elemento em virtude da formação da junta de
concretagem forçada e, normalmente com a adesão bastante prejudicada, ou com o enfraquecimento do
próprio concreto, em virtude da fuga da nata de cimento.

Fig. 21 – Destacamento do concreto devido à movimentações da fôrma (SOUZA e RIPPER – 1998)


5.2.3 – Desagregações devido à corrosão do concreto

Em geral para HELENE (1986), "pode-se definir corrosão como a interação destrutiva de um material
com o ambiente, seja por reação química ou eletroquímica". Sendo genérica, esta definição será válida
para qualquer tipo de material.

Em oposição ao processo de corrosão do aço das armaduras, que é predominantemente eletroquímico,


a do concreto é puramente química e ocorre por causa da reação da pasta de cimento com
determinados elementos químicos, causando em alguns casos a dissolução do ligante ou a formação de
compostos expansivos, que são fatores deteriorantes do concreto.

O processo de corrosão do concreto depende tanto das propriedades do meio onde ele se encontra,
incluindo a concentração de ácidos, sais e bases, como das propriedades do próprio concreto.

O concreto, quando de boa qualidade, é um material bastante resistente à corrosão, embora também
possa vir a sofrer danos quando em presença de alguns tipos de agentes agressores. Já o concreto de
má qualidade, ou seja, o concreto permeável, muito poroso, segregado ou confeccionado com materiais
de má qualidade ou impuros, é facilmente atacável por uma série de agentes.

Pode-se classificar a corrosão do concreto segundo três tipos, dependendo das ações químicas que lhe
dão origem: corrosão por lixiviação; corrosão química por reação iônica; e corrosão por expansão.

a. A corrosão por lixiviação consiste na dissolução e arraste do hidróxido de cálcio


existente na massa de cimento Portland endurecido (liberado na hidratação) devido ao
ataque de águas puras ou com poucas impurezas, e ainda de águas pantanosas,
subterrâneas, profundas ou ácidas, que serão responsáveis pela corrosão, sempre que
puderem circular e renovar-se, diminuindo o pH do concreto. Quanto mais poroso o
concreto, maior a intensidade da corrosão. A dissolução, o transporte e a deposição do
hidróxido de cálcio Ca(OH)2 (com formação de estalactites e de estalagmites) dão lugar
à decomposição de outros hidratos, com o conseqüente aumento da porosidade do
concreto que, com o tempo, se desintegra. Este fenômeno que ocorre no concreto é
similar à osteoporose do esqueleto humano, e pode levar, em um espaço de tempo
relativamente curto, o elemento estrutural atacado à ruína. É o processo de corrosão
que ocorre com mais freqüência.

Fig. 22 – Lixiviação do concreto (LIMA, J, 1999)

b. A corrosão química por reação iônica ocorre em virtude da reação de substâncias


químicas existentes no meio agressivo com componentes do cimento endurecido. Esta
reação leva à formação de compostos solúveis, que são carreados pela água em
movimento ou que permanecem onde foram formados, mas, nesse último caso, sem
poder aglomerante. Os principais íons que reagem com os compostos do cimento são o
magnésio, o amônio, o cloro e o nitrato.
c. Na corrosão por expansão ocorrem reações dos sulfatos com componentes do cimento
(como foi comentado), resultando em um aumento do volume do concreto que provoca
sua expansão e desagregação. Os sulfatos encontram-se presentes em águas que
contém resíduos industriais, nas águas subterrâneas em geral e na água do mar, sendo
que os sulfatos mais perigosos para o concreto são o amoníaco (NH4)2S02 , o cálcico,
CaSO4 o de magnésio, MgSO4 e o de sódio. Na2SO4.

Qualquer processo de corrosão deve ser imediatamente interrompido ainda no seu início, pois sua
continuidade, além de enfraquecer a estrutura, dará origem à fissuração, à corrosão das armaduras e a
desagregação do concreto e, em estágio mais evoluído, torna economicamente impraticável a
recuperação da estrutura.

5.3 – CARBONATAÇÃO DO CONCRETO

5.3.1 – A carbonatação

Nas superfícies expostas das estruturas de concreto, a alta alcalinidade, obtida principalmente à custa
da presença do hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) liberado das reações de hidratação, pode ser reduzida
com o tempo. Essa redução ocorre, essencialmente, pela ação do CO2 presente na atmosfera e outros
gases ácidos, tais como S02 e H2S. Esse processo, denominado carbonatação do concreto, ocorre
lentamente, segundo a reação principal:

Ca(OH)2 + C02  CaCO3 + H20

O pH de precipitação do CaCO3 é cerca de 9,4 (à temperatura ambiente), o que altera, substancialmente,


as condições de estabilidade química da capa ou película passivadora do aço. Sendo, portanto, um
fenômeno ligado à permeabilidade aos gases, deve ser estudado quanto à composição ideal do
concreto, de modo a reduzir o risco e a velocidade de carbonatação.

5.3.2 – A influência da relação a/c

A carbonatação superficial dos concretos é variável de acordo com a natureza de seus componentes,
com o meio ambiente (rural, industrial, ou urbano) e com as técnicas construtivas de transporte,
lançamento, adensamento, cura etc. Como conseqüência, a profundidade de carbonatação é de difícil
previsão e também variável dentro de amplos limites.

As profundidades de carbonatação aumentam, inicialmente, com grande rapidez, prosseguindo mais


Ientamente e tendendo assintoticamente a uma profundidade máxima. Essa tendência ao
estacionamento do fenômeno pode ser explicada pela hidratação crescente do cimento, que aumenta,
gradativamente, desde que haja água suficiente, a compacidade do concreto. Alie-se a isso, a ação dos
produtos da transformação que também colmatam os poros superficiais, dificultando o acesso de CO2,
presente no ar, ao interior do concreto.

Tendo a relação água/cimento um papel preponderante na permeabilidade aos gases, é natural que
tenha grande influência na velocidade de carbonatação.

Segundo GREGER (1969), apud HELENE (1986): "a profundidade de carbonatação de concretos com
relação água/cimento de 0,80, 0,60 e 0,45, em média, está na relação 4:2:1, independentemente da
natureza da atmosfera a que estejam expostos". O mesmo autor ressalta que a carbonatação pode ser
º
cerca de 10 vezes mais intensa em ambientes climatizados (U.R.  65ºC e temperaturas de 23 C) do que
em ambientes úmidos, devido à diminuição da permeabilidade do CO2 no concreto por efeito da
presença de água.
A figura 23 apresenta os resultados da observação de SORETZ, apud HELENE (1986), realizada numa
série de concretos de boa qualidade, constituídos de agregados normais.

Fig. 23 – Variação da profundidade de carbonatação com o tempo e com a relação a/c (SORETZ, apud
HELENE,1986)

Num concreto de boa qualidade, bem adensado e curado, a carbonatação se dá superficialmente só


tendo importância nos pontos em que a armadura esteja muito próxima à superfície do concreto.

5.3.3 – Espessura de carbonatação

Em relação a determinação da profundidade de carbonatação, um método comum e simples consiste em


tratar uma superfície recém rompida de concreto com uma solução de fenolftaleína em álcool diluído. O
Ca(OH)2 adquire uma cor rosa enquanto a parte carbonatada não se altera; com o prosseguimento da
carbonatação da superfície recém exposta, a cor rosa desaparece gradativamente. O ensaio é rápido e
fácil de ser executado, mas deve ser lembrado que a cor rosa indica a presença de Ca(OH)2 mas não
necessariamente a ausência total de carbonatação. Na verdade, o ensaio com fenolftaleína é uma
indicação do pH (cor rosa para pH maior do que cerca de 9,5) mas não faz distinção entre um pH baixo
causado por carbonatação ou por outros gases ácidos. O ensaio com fenolftaleína não pode ser usado
com cimentos aluminosos, pois, esses cimentos não contém cal livre. As técnicas de laboratório, que
podem ser usadas para esse tipo de cimento, que determinam a profundidade de carbonatação incluem
análise química, difração de raios X, espectroscopia por infravermelho e análise termogravimétrica.
Fig. 24 – Variação da profundidade de carbonatação – ensaio com fenolftaleína (HELENE, 1986)

5.3.4 - Como melhorar a proteção ?

Um estudo realizado por pesquisadores da UFRGS lança algumas luzes sobre a influência das adições
no processo químico da carbonatação dos concretos. Mesmo sem chegar a conclusões definitivas, o
trabalho permite estabelecer comparações entre concretos que recebem pequenas doses de cal,
microssílica e cinzas volantes.

Esses pesquisadores perceberam que o grande responsável pelo estabelecimento da velocidade de


carbonatação é o fator água/cimento, já que define a porosidade. Em relação as adições estudadas,
todas reduziram a velocidade de carbonatação, atenuando diferentemente o fenômeno em cada situação
específica. Em particular, a cal, deve ser mais bem avaliada, em função do desempenho apresentado
pela argamassa adicionada de cal. É possível pensar que, sendo a cal o objeto da carbonatação, o
aumento desse reagente na unidade de volume promove mais intensamente a reação a um nível mais
superficial, limitando a profundidade de carbonatação. A cal atua com um densificador, diminuindo
naturalmente a porosidade, o que pode explicar o aumento na resistência, apesar de um maior fator a/c.

Já o Método de Fôrmas Drenantes, apresentado por GEYER & GREVEN (op. cit.), consiste no
revestimento interno das fôrmas com um material absorvente e drenante, com o intuito de após o
lançamento do concreto, drenar parte da água ali existente próxima as superfícies, portanto, promover
uma redução da relação água/cimento superficial, com isto, diminuir a porosidade e permeabilidade,
aumentar a dureza e resistência e, melhorar a aparência na superfície do concreto, impedindo ao mesmo
tempo a saída das partículas finas (cimento, agregados miúdos).

Ensaios de carbonatação foram realizados comparando-se um concreto convencional com fôrmas de


madeira com o mesmo concreto executado com Fôrmas Drenantes.

Gráfico 1 – Profundidade de carbonatação (GEYER & GREVEN, 1999)


O Método de Fôrmas Drenantes e a influência das adições no concreto, visão melhorar as qualidades
superficiais do concreto, apontando uma utilização cada vez maior com vistas a concretos mais
resistentes e duráveis.

5.4 – CORROSÃO DAS ARMADURAS

Nas obras de concreto armado e especialmente naquelas que se situam nas proximidades do mar, em
atmosferas salinas, ou em lugares muito úmidos e com atmosferas contaminadas, é muito freqüente o
aparecimento de fissuras devido à corrosão das armaduras.

A corrosão dos aços no concreto armado tem dois inconvenientes importantes: produzir desagregações
no concreto e diminuir a seção resistente das barras.

Por corrosão propriamente dita entende-se o ataque de natureza preponderantemente eletroquímica,


que ocorre em meio aquoso. A corrosão acontece quando é formada uma película de eletrólito sobre a
superfície dos fios ou barras de aço. Esta película é causada pela presença de umidade no concreto,
salvo situações especiais e muito raras, tais como dentro de estufas ou sob ação de elevadas
temperaturas (> 80ºC) e em ambientes de baixa umidade relativa (U.R.< 50%). Este tipo de corrosão é
também responsável pelo ataque que sofrem as armaduras antes de seu emprego, quando ainda
armazenadas no canteiro. É o tipo de corrosão que o engenheiro civil deve conhecer e com a qual deve
se preocupar. É melhor e mais simples prevení-la do que tentar saná-la depois de iniciado o processo.

A corrosão pode se apresentar de formas diversas. Em geral são classificadas pela extensão da área
atacada. Os tipos de corrosão mais freqüentes são: generalizada, localizada, por pite e fissurante (figura
25).

Fig. 25 - Morfologia da corrosão (ANDRADE, 1992)

O concreto armado, além de apresentar características mecânicas muito amplas, tem demonstrado
possuir uma durabilidade adequada para a maioria dos usos a que se destina. Esta durabilidade das
estruturas de concreto armado é o resultado natural, da dupla natureza, que o concreto exerce sobre o
aço: por uma parte, o cobrimento de concreto é uma barreira física, e por outra, a elevada alcalinidade
do concreto desenvolve sobre o aço uma camada passiva que o mantém inalterado por um tempo
indefinido.
A alcalinidade do concreto é devida principalmente ao hidróxido de cálcio que se forma durante a
hidratação dos silicatos do cimento e aos álcalis que geralmente estão incorporados como sulfatos, no
clínquer. Estas substâncias situam o pH da fase aquosa contida nos poros em valores entre 12,6 e 14,0,
isto é, no extremo mais alcalino da escala de pH. A estes valores de pH e em presença de uma certa
quantidade de oxigênio, o aço das armaduras encontra-se passivado, isto é, recoberto de uma capa de
óxidos transparentes, compacta e contínua que o mantém protegido por períodos indefinidos, mesmo em
presença de umidade elevada no concreto.

A função do cobrimento de concreto é, além da proteção ao ataque de agentes agressivos externos


(contidos na atmosfera, em águas residuais, águas do mar, águas industriais, dejetos orgânicos, etc.), a
de proteger essa capa ou película protetora da armadura contra danos mecânicos e, ao mesmo tempo,
manter sua estabilidade.

Conforme HELENE (1986):

-
"o agente agressivo mais comum é o cloreto (íon Cl ) que pode ser adicionado
involuntariamente ao concreto, a partir de aditivos aceleradores de
endurecimento, agregados e águas contaminadas ou até a partir de tratamento
de limpeza (como, por exemplo, o ácido muriático, que é o HCl impuro)". (op. cit.
p. 16)

As normas limitam o conteúdo de cloretos totais no concreto fresco, em relação a massa de cimento (%),
conforme Tabela 6. Tal conteúdo depende de parâmetros como:

a. tipo e quantidade de cimento;


b. relação a/c;
c. conteúdo de umidade;
d. agressividade do meio;
e. adensamento;
f. cura; etc.

Portanto, há dificuldade de ser estabelecido um limite seguro abaixo do qual não haveria possibilidade
de despassivação da armadura de aço.

Segundo ANDRADE (1992), um valor médio aceito, geralmente, para o teor de cloreto é de 0,4% em
relação a massa de cimento ou 0,05% a 0,1% em relação a massa de concreto.

-
Teor Limite de Cl para concreto armado
NORMA
(% em relação a massa de cimento)
EH – 88 0,40
pr EN – 206 0,40
BS – 8110/85 0,20 – 0,40*
ACI – 318/83 0,15 – 0,30 – 1,00**
* O limite varia em função do tipo de cimento
** O limite varia em função da agressividade ambiental

Tabela 6 – Teor limite de cloretos (ANDRADE, 1992)

Os cloretos se apresentam, no concreto, sob três formas distintas:

a. parte dos cloretos fica ligada ao aluminato tricálcico (C3A) e formam principalmente, o
cloroaluminato de cálcio, conhecido por sal de Friedel (C3A.CaCl 2.10H20), incorporando-
se às fases sólidas do cimento hidratado;
b. outra porção é adsorvida na superfície dos poros; e
c. uma terceira parte é dissolvida na fase aquosa dos poros, formando os cloretos livres
que são perigosos ".

Nas regiões em que o concreto não é adequado, ou não recobre, ou recobre deficientemente a
armadura, a corrosão torna-se progressiva com a conseqüente formação de óxi-hidróxidos de ferro, que
passam a ocupar volumes de 3 a 10 vezes superiores ao volume original do aço da armadura, podendo
2
causar pressões de expansão superiores a 15 MPa ( 150 kgf/cm )

Essas tensões provocam, inicialmente, a fissuração do concreto na direção paralela à armadura


corroída, o que favorece a carbonatação e a penetração de CO2 e agentes agressivos, podendo causar
o lascamento do concreto.

Fig. 26 – Lascamento do concreto devido a expansão da armadura (HELENE, 1986)

Essa fissuração acompanha , em geral, a direção da armadura principal e mais raramente a direção dos
estribos, a não ser que estes estejam na superfície. Deve-se considerar que os estribos, geralmente,
estão na direção perpendicular ao maior esforço de compressão, o que pode impedir a fissuração
profunda do elemento de concreto. Estribos na região central de uma viga podem fissurar o concreto na
face inferior, mas dificilmente o farão na região junto aos apoios, normalmente, o que se observa em
estribos é o lascamento direto do concreto, sem fissuras iniciais.

Considerando-se a dificuldade natural que impede o cobrimento adequado de armaduras, principalmente


de lajes — pois cobrem grandes áreas, são finas e durante a concretagem constituem a "pista" de
movimentação do pessoal e dos equipamentos — são nesses componentes estruturais que se nota, em
geral, mais rapidamente, o início da corrosão. Em pilares e vigas, o primeiro indício, geralmente, não é
dado pela armadura principal, mas sim pelos estribos, que por vezes se apoiam diretamente sobre as
fôrmas, sem cobrimento suficiente. No entanto, sob más condições "construtivas", a corrosão iniciar-se-á
nos locais mais quentes e mais úmidos e onde o risco de condensação seja maior. O processo é
nitidamente visível, pois os produtos de corrosão têm, predominantemente, coloração vermelho-marrom-
acastanhada e, sendo relativamente solúveis, "escorrem" pela superfície do concreto, manchando-o.

Para SHAFFER (1971) & CAIRONI (1977) apud HELENE (ibid. p. 6) na maioria das vezes, completando
o quadro patológico conforme figura abaixo, aparecem manchas marrom-avermelhadas na superfície do
concreto e bordas das fissuras.
Fig. 27 – Deterioração progressiva devida à corrosão das armaduras (HELENE, 1986)

Como se vê, a corrosão das armaduras é um processo que avança de sua periferia para o seu interior,
havendo troca de seção de aço resistente por ferrugem. Este é o primeiro aspecto patológico da
corrosão, ou seja, a diminuição de capacidade resistente da armadura, por diminuição da área de aço.
Associada a esta troca, surgem, no entanto, outros mecanismos de degradação da estrutura.

a. perda de aderência entre o aço e o concreto, com alteração na resposta da peça


estrutural às solicitações às quais está submetida;
b. desagregação da camada de concreto envolvente da armadura. Tal fato acontece
porque, ao oxidar-se, o ferro vai criando o óxido de ferro hidratado (Fe203 nH2O), que,
para ocupar o seu espaço, exerce uma pressão sobre o material que o confina da ordem
de 15 MPa, suficiente para fraturar o concreto. Para se ter uma idéia do que esta força
representa, refira-se que a expansão volumétrica das barras de aço, quando sob
corrosão, pode significar aumento correspondente a dez vezes o seu volume original; e
c. fissuração, pela própria continuidade do sistema de desagregação do concreto. Neste
caso, como em qualquer caso em que haja fissuração, o processo é agravado, pois o
acesso direto dos agentes agressivos existentes na atmosfera multiplicam e aceleram a
corrosão, combinando situações de ataque localizado com outras de ataque
generalizado. As fissuras formadas acompanham o comprimento das armaduras.

Do que foi exposto, fica a idéia de que, para que não exista corrosão, será necessário e suficiente que:

a. pH do concreto seja claramente indicador de solução básica, ou seja, entre 12,6 e 14 no


interior do concreto (carbonatação controlada);
b. Qualidade do cobrimento garantido por um concreto de boa qualidade para que os
agentes agressivos (cloretos, em especial) não atinjam a armadura; e
c. Espessura do cobrimento de concreto adequado que possibilite uma proteção adequada
as armaduras;

Isto tudo equivale a dizer que um concreto deverá ser compacto, com fissuração controlada, sendo a
espessura física e a composição da camada de cobrimento das armaduras dimensionadas em função do
estado de tensão da peça e da agressividade do meio ambiente.
Assim, aspectos como o controle da porosidade e da permeabilidade do concreto, a manutenção da
peça sob estado de tensões de serviço dentro dos limites estabelecidos, a escolha correta das bitolas
das barras da armadura principal, o bom detalhamento, a cuidadosa execução das peças e a proteção
adicional das superfícies do concreto por pintura surgem como fatores primordiais e de cuja observância
dependerá a redução ou não da possibilidade de ocorrência de corrosão nas barras da armadura.

Da mesma forma, fica entendido que, como conseqüência do próprio processo, a corrosão não
acontecerá em concretos secos nem em saturados (no primeiro caso, falta o eletrólito; no segundo, o
oxigênio). Por outro lado, as estruturas mais sujeitas a corrosão são as expostas à ação alternada de
molhagem e secagem, em particular se esta água for dotada de grande concentração de cloretos.

Não é excessivo insistir no fato de que um bom concreto é a melhor proteção contra a corrosão das
armaduras, devido à sua alcalinidade e que a proteção será tanto maior quanto mais rico em cal for o
cimento, e maior a espessura do cobrimento do concreto sobre as barras da armadura.

5.5 – PERDA DE ADERÊNCIA

A perda de aderência é um efeito que pode ter conseqüências desastrosas para a estrutura, e pode
ocorrer entre dois concretos de idades diferentes, na interface de duas concretagens, ou entre as barras
de aço das armaduras e o concreto.

O concreto estrutural é executado com armadura de aço, a ligação entre os dois materiais é de
considerável importância com relação ao comportamento estrutural, incluindo-se fissuração devida à
retração e aos efeitos térmicos às primeiras idades. A ligação se origina principalmente do atrito e da
aderência entre o aço e o concreto e ao intertravamento mecânico, no caso de barras deformadas. A
ligação pode também ser favorecida pela retração do concreto em relação ao aço.

Em uma estrutura, a resistência da ligação se deve outros fatores além das propriedades do concreto.
Entre eles se incluem a geometria da armadura tal como a espessura do cobrimento da armadura. O
estado da superfície do aço é outro fator. A presença de ferrugem na superfície do aço, desde que bem
aderente ao aço, melhora a ligação de barras lisas e não prejudica a ligação de armaduras dobradas. O
revestimento por galvanização ou com resina epóxi prejudica a resistência da aderência.

A perda de aderência entre dois concretos de idades diferentes ocorre quando a superfície entre o
concreto antigo e o concreto novo estiver suja, quando houver um espaço de tempo muito grande entre
duas concretagens consecutivas e a superfície de contato (junta de concretagem) não tiver sido
convenientemente preparada, ou quando surgirem trincas importantes no elemento estrutural.

A perda de aderência entre o concreto e o aço ocorre por causa de:

a. corrosão do aço, com sua conseqüente expansão;


b. corrosão do concreto, em função da deterioração por dissolução dos agentes ligantes;
c. assentamento plástico do concreto;
d. dilatação ou retração excessiva das armaduras, cuja principal causa são os incêndios
(cargas cíclicas podem dar efeitos semelhantes);
e. aplicação, nas barras de aço, de preparados inibidores da corrosão (perda parcial ou
total de aderência, em casos extremos).

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