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PENAL BRASILEIRO
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo conhecer os principais aspectos da teoria do professor
alemão Günther Jakobs, denominada Direito Penal do Inimigo, a fim de analisar criticamente
manifestações da referida teoria no direito penal pátrio. A primeira parte traz uma visão da
teoria de Jakobs, destacando conceitos e bandeiras do Direito Penal do Inimigo. Em seguida,
serão apresentadas críticas à referida teoria, finalizando com a demonstração de manifestações
do Direito Penal do Inimigo, na Legislação Penal brasileira.
1. INTRODUÇÃO
A sociedade tem como característica marcante o poder de mutação das relações sociais.
Esse dinamismo social tem como consequência a geração de conflitos que vão se modificando
durante o tempo, por motivações diversas. Dentre os motivos que geram, na atualidade,
mudanças significativas na sociedade estão: de um lado o poder estatal e de outro o poder
econômico, que transformam as relações sociais através de uma tensão entre o agir de acordo
com o que o Estado estabelece e as necessidades exigidas pela lei do consumo. Essas
necessidades aguçam no indivíduo desejos muitas vezes inalcançáveis, criando verdadeira
cobiça, desvirtuando sua conduta, o que leva a delinquência. Surge então, por parte do Estado,
o dever de coibir as transgressões pela tentativa da conscientização de uma identidade,
chamada de identidade normativa. Para os transgressores dessa identidade existe o Direito
Penal, contudo, para a teoria de Jakobs, a aplicação desse direito deve ser diferenciada em
relação a dois tipos distintos de sujeitos: o cidadão e o inimigo.
O Direito Penal do Inimigo é uma teoria criada pelo doutrinador, catedrático emérito
de Direito Penal e Filosofia do Direito na Universidade de Bonn, Alemanha, o Professor
Günther Jakobs, o qual propõe a diferença de tratamento para o cidadão e para o inimigo. Este
merece tratamento mais rígido, com a flexibilização do princípio da legalidade e da supressão
de garantias penais, pois representa uma ameaça à sociedade, não gozando do status de pessoa,
enquanto àquele seriam asseguradas todas as garantias penais e liberdades.
O presente trabalho tem como objetivo conhecer a teoria de Jakobs, destacando
principalmente os seus conceitos de cidadão e inimigo, suas bases jurídico-filosóficas, bem
como relacionar e analisar as principais características da teoria, no intuito de proporcionar
uma base teórica que possibilite a análise crítica de algumas manifestações do Direito Penal
do Inimigo, inseridas na legislação penal brasileira. A primeira parte será dedicada ao
conhecimento panorâmico da teoria de Günther Jakobs, notadamente conceitos, base jus
filosóficas e características. Posteriormente, serão apresentadas críticas às manifestações do
Direito Penal do Inimigo, existentes na legislação brasileira e sua inviabilidade no Estado
Democrático de Direito, pois inconciliável com princípios assegurados na Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.
A teoria do Direito Penal do Inimigo foi utilizada por Günter Jakobs nos anos 80 do
século passado, contudo seu desenvolvimento teórico e filosófico foi robustecido a partir dos
anos 90, tendo ganhado maior destaque depois de 2001 com a onda de ataques terroristas pelo
mundo.
Em sua teoria, Jakobs, defende a existência de dois tipos distintos de indivíduos: o
primeiro tipo seria aquele que pratica reiteradamente crimes, causando danos irreparáveis e
graves, prejudicando toda a sociedade e negando a soberania do Estado, o inimigo. Para estes,
o Direito Penal não pode ser aplicado nos mesmos termos que seria a um criminoso comum,
sob pena de ser ineficaz, pois esse tipo não proporciona segurança para o meio onde
estabelece suas relações. O segundo tipo, o denominado cidadão, é aquele indivíduo que pode
até delinquir, contudo, tem a capacidade de entender a transgressão e retornar ao convívio
social, demonstrando conhecimento e (re) integração ao sistema normativo. Nesse sentido,
segundo a teoria, devem existir dois tipos de Direito Penal, um voltado para o cidadão e outro
voltado para o inimigo.
A teoria de Jakobs foi apresentada inicialmente nos anos iniciais da década de 80, do
século passado, contudo seus fundamentos jus filosóficos encontram base em teóricos
contratualistas, como: Russeau, Fichte, Hobbes e Kant, para os quais não podem usufruir dos
benefícios do Estado, aqueles que infringem o contrato social.
Para Russeau, deixa de fazer parte do Estado, todo aquele
que agride o direito da sociedade. O indivíduo que transgride não pode ser visto como cidadão
(citoyen), mas como uma ameaça, um inimigo (ennemi). Semelhante é o argumento de Fichte
que exclui dos direitos de cidadão que, por vontade ou imprudência, abandona o contrato
civil. Para Jakobs, essas ideias apresentam um conceito muito radical, quando distingue
cidadãos de direitos e inimigos. Hobbes destaca que será tratado como inimigo todo aquele
que pratique alta traição, não retirando do criminoso comum seu papel de cidadão. A ideia
kantiana é que todos estão autorizados a proceder de modo hostil, contra aquele que não se
deixou coagir ao estado de civilidade. A partir das teorias contratualistas, Jakobs, aproxima-se
das ideias de Hobbes e Kant, no ponto em que admitem a existência de tratamento desigual
para um determinado tipo de indivíduo.
Influenciado também pela teoria de Luhmann, Jakobs desenvolveu a corrente
dogmática denominada de funcionalismo sistêmico. Para Jakobs, o Direito Penal tem suas
próprias regras e está determinado pela função que cumpre no sistema social, sendo um
sistema autônomo, autorreferente e autopoiético, dentro do sistema mais amplo da sociedade.
Sob esta ótica, a conduta será considerada como comportamento humano voluntário causador
de um resultado evitável, violador do sistema, frustrando as expectativas normativas e
gerando uma penalidade para o violador. A teoria jakobiniana aborda a pena em dois
aspectos: coação e segurança. A pena coação tem como destinatário o cidadão, tendo valor
pedagógico, enquanto que a pena segurança visa à prevenção especial e produz fisicamente
algo.
De forma sintética, a teoria proposta por Jakobs, apresenta essas características principais
que apontam a incidência do chamado de Direito Penal do inimigo.
O apelo midiático encontra facilmente respaldo na sociedade, uma vez que esta se
encontra coagida e amedrontada pela violência generalizada e a sensação de insegurança
causada pelas falhas na segurança pública, de modo que um agigantamento do poder punitivo
permite uma falsa sensação de maior proteção.
Zaffaroni alerta para os efeitos danosos de se aplicar os preceitos do direito penal do
inimigo, os quais são aplicados na América Latina: “[...] quase todo o poder punitivo latino-
americano é exercido sob a forma de medidas, ou seja, tudo se converteu em privação de
liberdade sem sentença firme, apenas por presunção de periculosidade [...].” (Zaffaroni, 2007,
p. 70). O autor ainda demonstra estatisticamente a ineficácia dessas medidas, uma vez que
aproximadamente ¾ dos presos latino-americanos estão submetidos a medidas de contenção
apenas por suspeita (prisão ou detenção privativa), e desses, quase 1/3 será absolvido.
(Zaffaroni, 2007).
Por fim, não obstante consoante à teoria de Jakobs as medidas de contenção serem
perfeitamente compatíveis com o Estado de Direito, segundo Zaffaroni, o poder é dinâmico e
facilmente ampliável de modo que o Estado de Direito acabaria sendo absorvido pelo Estado
absoluto que inexoravelmente surgiria. Nesse sentido, explica o autor:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime
disciplinar diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da
sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da
pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1º O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2º Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações
criminosas, quadrilha ou bando (BRASIL, 2003).
5. CONASIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
FARACHE, Jacob Arnaldo Campos. O inimigo no Direito Penal: uma breve exploração da
obra de Eugenio Raúl Zaffaroni. Conteúdo Jurídico. Brasília - DF: 06 fev. 2009. Disponível
em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.22999&seo=1>. Acesso em: 22
mai. 2018.
IEMINI, Matheus Magnus Santos. Direito penal do inimigo: Sua expansão no ordenamento
jurídico brasileiro. In: Âmbito Jurídico. Rio Grande, XIII, n. 75, abr 2010. Disponível em: <
http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7619
>. Acesso em 22 mai 2018.
RIBEIRO. Bruno de Morais. Defesa social e direito penal do inimigo: visão crítica. Rio de
Janeiro: Lumen Júris, 2011.
ROSA, Patrícia Rodrigues. Análise crítica da teoria do direito penal do inimigo frente ao
paradigma de estado democrático de direito. In: Âmbito Jurídico. Rio Grande, XVI, n. 113,
jun 2013. Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12929
>. Acesso 20 mai. 2018.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. O inimigo no direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 2007