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CURSO ON-LINE – ECONOMIA P/ AFRFB 2009 209

PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI

Aula 7 de Economia

AFRFB

Nobres alunos (as),

Iniciamos hoje a nossa sétima e última aula de Economia para o concurso de


Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil.

Trataremos nesta aula de dois pontos do edital. O primeiro refere-se à


economia intertemporal, que procura demonstrar o comportamento dos
consumidores, em termos de consumo e poupança, ao longo da sua vida. Derivado
deste estudo encontra-se o tema pertinente ao nível de endividamento de uma
nação que, a fim a teoria da economia intertemporal, demonstra a restrição a que o
orçamento do governo esta passível diante de políticas que visem o aumento dos
gastos públicos.

O segundo ponto refere-se ao modelo de crescimento econômico – Modelo


de Solow, que procura demonstrar dentro do contexto de longo prazo, como os
fatores relacionados ao estoque de capital, ao crescimento popupalcional e ao
progresso técnico, impacto o desenvolvimento de um país.

Gostaria de ressaltar que acredito fortemente na paresença de uma questão


na prova de economia que terá como base esta aula, especialmente sobre o ponto
que aborda o crescimento econômico dos países.

Um abraço e boa aula a todos!

Francisco

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Economia Intertemporal

Os consumidores ao decidirem o quanto consumir de sua renda (Y), estão


automaticamente fazendo uma escolha de quanto irão poupar, uma vez que a
renda, conforme verificamos na aula 1, é igual ao consumo mais a poupança Y =
C + S.

A partir da abordagem da economia intertemporal, consumidores passam a


considerar que as suas decisões quanto a consumo e poupança devem ser
realizadas pensando não só no presente, mas também no futuro.

Como agora as decisões dos consumidores leva em consideração o tempo,


podemos dizer que, no caso do consumo, quanto maior for este no presente,
menor será o nível de poupança, resultando assim em um menor consumo no
futuro, devido à pequena poupança acumulada ou, as vezes, uma despoupança
no período presente. A necessidade da realização de um empréstimo para
aumentar o consumo no presente resultará em pagamento de juros no futuro, o
que provocará a diminuição do consumo agora no futuro.

A descrição acima reflete o pensamento do economista Irving Fisher, que


procurou examinar como consumidores ditos racionais, realizam suas escolhas
intertemporais, ou seja, como estes alocam seus recursos na forma de poupança
e consumo ao longo do tempo, tendo como restrição o somatório de sua renda
entre os dois períodos de sua vida. Trata-se do que também chamamos de
orçamento intertemporal, por agora considerar mais de um período.

Para simplificarmos este entendimento, vamos examinar a escolha de um


consumidor que vive entre os períodos 1 e 2.

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A estruturação do modelo

Imaginemos que no período 1 o consumidor receba uma renda Y1,


consumindo dessa renda, C1. Considerando que no período 1 o consumo é
menor do que a renda (C1 < Y1), podemos afirmar que o consumidor terá uma
poupança S1.

S1 = Y1 - C1

Com a poupança gerada no período 1, o consumo no período 2 será


representado pela renda do período 2 (Y2) adicionado da poupança acumulada do
período 1 (S1), sempre lembrando que esta é remunerada por uma devida taxa de
juros.

Assim, o consumo no segundo período será:

C2 = S1 *(1 + r) + Y2 , sendo “r” a taxa de juros.

Substituindo S1 por (Y1 – C1), chegamos a :

C2 = (Y1 – C1) * (1+ r) + Y2

Separamos de um lado o consumo nos períodos 1 e 2 e, do outro lado, a


renda nos períodos 1 e 2. Dessa expressão, chegamos ao total do consumo no
presente, que é representado pela renda no primeiro período (Y1) mais a renda
do segundo período (Y2), trazida a valor presente, ou seja, descontada por uma
determinada taxa de juros.

C1 + C2 / (1 + r) = Y1 + Y2 / (1+ r)

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A equação acima relaciona o consumo nos dois períodos à renda dos


mesmos dois períodos. Trata-se da forma padrão de interpretação da restrição
intertemporal do consumidor.

Podemos ainda caracterizar a restrição orçamentária do consumidor conforme


o gráfico abaixo:

C2

Y1 (1+ r) + Y2 E Restrição
orçamentária do
C2’ Consumidor.

C
Y2=C2

C2’’
B
A C1

C1’ Y1=C1 C1’’


Y1 + Y2 / (1+ r)

O gráfico acima demonstra as combinações de renda e consumo que o


consumidor pode optar nos períodos 1 e 2. Perceba que no ponto A o consumidor
utiliza para consumo toda a sua renda no período 1, adicionando ainda a sua renda
no período 2. Esta renda, para que esteja disponível no presente, torna-se passível
de desconto pela taxa de juros, uma vez que se trata de uma renda que só será
recebida no futuro. É o caso típico de quem faz um financiamento de automóvel sem
ter em mãos todo o dinheiro para a realização de uma compra à vista.

Diferentemente, no ponto B, o consumo no presente (C1) é maior que a renda


presente (Y1). Neste ponto o consumidor também realiza empréstimos, mas não no
valor total de sua renda.

Já no ponto C, o consumidor consome exatamente a sua renda tanto no


período 1 como no período em 2, não fazendo dívidas, nem sequer poupando.

Finalmente, a partir do ponto D o consumidor passa a poupar, consumindo no


período 1 (C1) menos que a sua renda (Y1). O resultado da poupança é remunerado

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pela incidência de juros. Finalmente, no ponto E, o consumidor poupa toda a sua


renda no período 1, sendo o seu consumo no período 2 representado por toda a
sua poupança em 1, mais a sua renda no período 2 (Y2).

Observe que a variável relevante para a decisão do maior ou menor consumo


no presente ou no futuro é representada pela inclinação da restrição intertemporal,
representada pelo parâmetro (1 + r), que mede a inclinação da restrição
orçamentária.

Diante desta informação, depreendemos que a medida em que as taxas de


juros aumentam, maior é o desestímulo para o aumento do consumo no presente,
estimulando, por conseqüência, a poupança e um maior consumo no futuro.

C2

Y1(1+r) +Y2
E Nova restrição
orçamentária do
C2’ Consumidor

Y2=C2
C

C2’’
B
A C1

C1’ Y1=C1 C1’’


Y1 + Y2/(1+r)

Desse entendimento, segundo Fisher, conclui-se que o consumo não é


dependente apenas da renda corrente, mas sim de todos os recursos que o
consumidor pode auferir ao longo de sua vida.

Esta interpretação vai de encontro (contraposição) ao postulado por


Keynes, que afirmava que o consumo é dado apenas em função da renda
corrente, em nada impactando no seu resultado a renda futura a ser auferida
pelos consumidores.

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Percebe-se que a proposição de Fisher esta diretamente vinculada a atual


estrutura de financiamento a que o consumidor dispõe na economia, especialmente
pelo aumento do consumo no presente por conta do grande acesso a crédito que
este dispõe. Em períodos de grande inflação, onde não existia a facilidade de
mensuração dos juros futuros, o entendimento de Fisher era em muito afetado.

A restrição ao consumo imposta pelo aumento dos tributos

Verificamos em aula anterior que os tributos interferem diretamente no que


chamamos de renda disponível, que é representada pela renda recebida pelos
consumidores (famílias) excluindo-se os tributos recolhidos aos cofres do
governo.

A partir desta informação, verificamos que a restrição orçamentária do


consumidor é alterada, passando a ser considerada a renda disponível ao invés da
renda bruta.

C1 + C2 / (1 + r) = (Y1 – T1) + (Y2 – T2) /(1 + r),

sendo:

(Y1 – T1) a renda disponível no período 1; e


(Y2 – T2) a renda disponível no período 2.

As preferências dos consumidores

Conforme verificado, os consumidores possuem preferências distintas entre


maior consumo no presente ou no futuro. Quando os consumidores optam por
consumir no presente mais do que a sua própria renda, eles necessitam realizar
empréstimos, pagando juros. De forma contrária, quando o consumo presente é

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menor do que a renda presente, os consumidores acumulam poupança, podendo


ter um maior consumo no futuro.

As preferências dos consumidores são representadas, em economia, pelo


que chamamos de curvas de indiferença. Estas mostram as diferentes
combinações de consumo, no primeiro e segundo períodos, que levam a igual
satisfação do consumidor. Quanto mais altas as curvas de indiferença, maior a
satisfação dos consumidores.

C2

I2

I1

C1

Obs: Ressalta-se que diferentes curvas de indiferença nunca podem se tocar,


pois acabaríamos por ter um mesmo nível de satisfação (preferência), para curvas
de indiferença diversas. Trata-se do que chamamos em microeconomia de princípio
da transitividade.

Da mesma forma que o consumidor tem suas preferências de consumo


representadas por curvas de indiferença, ele também tem o que chamamos
anteriormente de restrição orçamentária, representada pelo máximo de consumo
que este consegue obter dada a renda obtida entre dois períodos.

A relação entre as preferências dos consumidores, que são distintas para


cada um destes, e a restrição orçamentária a que estes estão passíveis, leva ao
chamado ótimo do consumidor.

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O Ponto ótimo de decisão do Consumidor – O Ótimo do Consumidor

O consumidor irá otimizar a sua renda no ponto em que a sua restrição


orçamentária tangencia a curva de indiferença mais alta possível.

C2 O consumidor esta no seu maior


nível de satisfação ao escolher o
ponto “A”, em que a restrição
orçamentária atinge a curva de
A
C2* I3 indiferença mais alta. Este ponto
é chamado de ponto de
I2
tangência.
I1

C1

C1*

Aumentos na Renda

Na existência de aumentos da renda dos consumidores, seja no primeiro


período, seja no segundo, deslocam a restrição orçamentária para direita, podendo
alterar o consumo de bens tanto no primeiro quanto no segundo período.

C2
Restrição orçamentária com o aumento da
renda. O consumo no primeiro e no
segundo período podem tanto aumentar
quanto diminuir, sendo levado em conta
para essa decisão, as preferências dos
consumidores.
B
C2**
A
C2* I3 Restrição orçamentária antes do
aumento da renda.
I2

C1* C1** C1

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A Taxa Marginal de substituição – TmgS

No ponto “A”, ponto de otimização do consumidor, dado a sua restrição


orçamentária, a inclinação da curva de indiferença é exatamente igual à inclinação
da restrição orçamentária.

A inclinação da restrição é advinda das taxas de juros incidentes nas decisões


de consumo entre o presente e o futuro. Podemos representá-la a partir da restrição
orçamentária do consumidor pela equação “(1 + r)”.

Vejamos a fórmula para nos relembrarmos:

C2 = (Y1 – C1) * (1 + r) + Y2

A inclinação da curva de indiferença é também chamada de taxa marginal de


substituição (TMgS). Perceba que quanto maior a taxa marginal de substituição
(maior os juros), maior será o interesse do consumidor em substituir consumo
presente por consumo futuro.

TMgS = (1 + r)

Pode-se entender que o consumidor escolherá o seu consumo ideal para os


períodos presente e futuro, quando a Taxa Marginal de Substituição for exatamente
igual a “(1+ r)”.

A Restrição aos empréstimos

Sempre que falamos a respeito da teoria da escolha intertemporal, levamos


em conta o fato de que consumidores podem aumentar o seu consumo no presente
(primeiro período) além da renda recebida no mesmo período. Para que fosse

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possível um consumo maior no período 1 do que a renda no mesmo período (C1 >
Y1), dissemos que o consumidor realizava empréstimos, pagando por isso uma taxa
de juros “r”.

Numa situação em que o consumidor não possa tomar empréstimos para


cobrir o seu consumo adicional no primeiro período, este possui o seu consumo
limitado à renda recebida no primeiro período, de forma que C1 ≤ Y1.

Para uma situação como esta, podemos dizer que o consumo presente
dependerá somente da renda corrente, dado a impossibilidade de financiamento do
consumo além daquele permitido pela sua renda atual.

Vejamos como ficaria o gráfico de um consumidor com restrição de crédito.

C2 O consumo em 1
(C1) é limitado à
renda em 1 (Y1).
A
I1

C1
C1 = Y1

Assim, findada essa nossa primeira análise, vamos a um bom exemplo para
fixarmos o aprendizado:

(AFPS/MPAS – ESAF/2002) Considere a restrição orçamentária de um consumidor


num modelo de dois períodos: C1 + C2/(1 + r) = Y1 + Y2/(1 + r), onde C1 = consumo
no período 1; C2 = consumo no período 2; Y1 = renda no período 1; Y2 = renda no
período 2; r = taxa de juros. Considerando que as preferências do consumidor
quanto à alocação do consumo ao longo do tempo sejam representadas por curvas
de indiferença convexas em relação à origem, é correto afirmar que

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a) um aumento na renda no primeiro período não altera o consumo no segundo


período, independentemente da estrutura de preferências do consumidor.
b) no equilíbrio, o consumo será tal que taxa marginal de substituição intertemporal
seja igual a “r”.
c) se o consumidor é poupador no primeiro período, um aumento na taxa de juros
aumenta o consumo no período 2.
d) independentemente de o consumidor ser poupador ou devedor no primeiro
período, uma elevação nas taxas de juros reduz o consumo nos dois períodos.
e) a ausência de um sistema de poupança e empréstimo não altera o bem-estar do
consumidor, desde que ele respeite a sua restrição intertemporal.

Vejamos as opções:

a – Verificamos que com a ocorrência do aumento da renda, o consumidor pode


alterar as suas preferências, seja consumido mais no primeiro período ou no
segundo.
Opção incorreta

b – Temos que tomar muito cuidado com esse tipo de questão. Vimos que a taxa
marginal de substituição (TMgS) é representada pela expressão (1 + r), sendo “r” a
taxa de juros vigente tanto para a realização de empréstimos como para a formação
de poupança. No ponto onde a curva de indiferença tangencia a restrição
orçamentária, a TMgS = (1 + r).
Opção incorreta

c- Se o consumidor é poupador no primeiro período, é porque ele consome no


período 1 (C1) menos que a sua renda na mesmo período (Y1). S1 = Y1 – C1.
Quando ocorre um aumento nas taxas de juros, maior será a remuneração sobre a
sua poupança, fazendo com que no período 2 seu consumo seja ainda maior.
Opção correta

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d- De acordo com a explicação acima, se o consumidor é poupador no primeiro


período, uma elevação nos juros irá levar o consumidor a consumir mais no segundo
período, acabando por derrubar a afirmativa da questão.
Opção incorreta.

e – É evidente que um sistema de poupança e empréstimo altera o bem estar do


consumidor. Se ele deseja adquirir bens e serviços além do que sua renda permite
no primeiro período, ele pode realizar empréstimos, aumentando, por conseqüência,
o seu bem-estar. Um aumento dos juros, conforme dissemos na letra “c”, tende a
aumentar o seu consumo no futuro, aumentando o bem-estar do consumidor.
Opção incorreta.

Gabarito: letra c

O Modelo do Ciclo de Vida

Com a hipótese adotada por Fisher de que as decisões de consumo dos


indivíduos eram baseadas não somente da renda corrente, mas sim na renda obtida
nos dois períodos de sua vida, revolucionou-se o entendimento keynesiano, o qual
afirmava, conforme vimos, que o consumo era dado tão somente em função da
renda corrente.

De forma a testar o modelo apresentado por Fisher, Franco Modigliani


procurou demonstrar que a renda varia muito ao longo do tempo e que a poupança
familiar permite aos indivíduos deslocar renda de períodos em que esta é mais alta
para períodos em que é mais baixa.

Para Modigliani, um dos maiores problemas para as pessoas é a


aposentadoria, já que, com esta, ocorre uma grande queda nos rendimentos. Para
se prepararem para a aposentadoria, os indivíduos poupariam, procurando assim
suavizar o seu consumo ao longo de toda uma vida.

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O modelo apresentado leva em consideração o fato de que o consumidor


iniciará a sua vida profissional com uma riqueza igual a (R). O mesmo consumidor
viverá T anos até a sua morte, esperando ganhar Y até aposentar-se em Z anos.

Diante de todo esse limite temporal e da necessidade de ajustar o seu


consumo ao longo da vida, afirma Modigliani, o consumidor passa compor o seu
consumo da seguinte forma:

C = (R + ZY)/T, reescrevendo a função teríamos,

C = R/T + ZY/T

Considerando que os indivíduos imaginem viver mais 50 anos (T),


trabalhando mais 30 anos, chegaríamos a seguinte função consumo:

C = 0,02R + 0,6Y
Fica claro que o consumo, segundo Modigliani, dependerá de uma parcela da
riqueza tida inicialmente pelos consumidores, adicionada de uma parcela advinda
da renda recebida ao longo de sua vida profissional.

A hipótese da Renda Permanente

Uma terceira hipótese que contrapõe a teoria keynesiana do consumo é


devida Milton Friedman. Também formulada a partir das constatações de Fisher, a
teoria da renda permanente afirma que a experiência profissional adquirida ao longo
da vida modifica a renda de forma aleatória e temporária ao logo da própria vida.

Para Friedman a renda dos consumidores é dividida numa renda dita


permanente (Yp), e em uma dita renda transitória (Yt).

Y = Yp + Yt

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A renda permanente, conforme o próprio nome diz, seria aquela recebida


pelos consumidores de forma regular, ao longo de suas vidas. Já a renda transitória
é aquela recebida em momento especifico da vida, sem que seja contínua.

Pode-se melhor explicar a composição da renda proposta por Friedman


afirmando que a renda permanente é a média das rendas ao longo da vida,
enquanto a renda transitória é o desvio em torno da média, podendo ser positiva ou
negativa.

Um exemplo de renda permanente é o próprio salário liquido recebido ao


longo de um ano de trabalho. Já o exemplo de renda transitória pode ser aquela
referente à sobra de renda proveniente de uma diminuição da tributação sobre o
salário feita pelo governo.

De acordo com a teoria Friedmniana, o consumo depende principalmente


da renda permanente, uma vez que os consumidores usam seus ativos – poupança
- e passivos adicionados – empréstimos - para que possam manter constante o
consumo.

Com o entendimento dado por Friedman, chegamos a seguinte função


consumo:
C = ß*(Yp), sendo:
ß o percentual da renda destinada ao consumo;
Yp = renda permanente.

Consumo e Expectativas

Conforme verificamos, os modelos de escolha intertemporal são baseados no


conceito de que o consumo não é dependente tão somente da renda corrente.
Segundo Fisher, em sua teoria de escolha intertemporal, os consumidores decidem

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o quanto consumir hoje em função da renda recebida tanto no período atual (período
1) quanto no que receberão de renda no futuro (período 2).

Como os consumidores não conhecem exatamente o valor de suas rendas no


futuro, procuram trabalhar diante de expectativas.

As expectativas dos consumidores seriam racionais, de forma a que todas as


informações disponíveis a estes sejam usadas para que prevejam o futuro.

De forma simples, afirma-se que os indivíduos, com base nas informações


presentes, nivelam seu nível de consumo, alterando-os quando diante de novas
informações. Eventos inesperados impactam diretamente sobre o nível de consumo.
Perceba o caso de indivíduos que tenham os seus salários compostos apenas de
parte fixa e que, ao fim do ano, são surpreendidos com uma parte variável bem
polpuda. Em situações como esta, os indivíduos tendem a aumentar o seu consumo.

Diferentemente de situações imprevisíveis de aumentos na renda, segundo


Friedman, ao se considerar que os indivíduos são racionais, situações previsíveis de
aumentos transitórios na renda não levariam ao aumento do consumo.

Os entendimentos da teoria da renda permanente levam a interpretações


sobre os impactos de uma política fiscal expansionista adotada pelo Governo. Um
caso comum seria a aprovação por parte do Governo de medidas que estimulem o
consumo, por exemplo, através de uma política de diminuição dos impostos a ser
implementada no ano vindouro.

De acordo com o modelo da renda permanente e, considerando as hipóteses


das expectativas racionais, o resultado sobre o consumo, diante da diminuição da
carga tributária sobre a renda, seria nula, uma vez que os consumidores entendem
que o governo tomará outras medidas no futuro., formando poupança a partir da
política de estímulo adotada pelo governo. Essa poupança se forma pelo simples
fato de que os consumidores sabem que, no futuro, a perda de arrecadação será

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recompensada pelo aumento da carga tributária, que impactará em maior medida a


renda dos consumidores.

A restrição intertemporal do governo

O governo, assim como as famílias, também realiza escolhas intertemporais


de alocação entre consumo e renda. No entanto, o consumo governamental é
chamado de gastos governamentais (G), enquanto a renda do governo é
representada pelos tributos pagos pela sociedade (T). Assim, de forma simples,
podemos dizer que sempre que o governo mais gasta do que arrecada (G > T), ele
precisa realizar empréstimos para cobrir o Déficit Público.

Em cada ano que o governo realiza gastos maiores que a sua arrecadação,
ele necessita de novos empréstimos, fazendo com que o somatório de déficits de
ano após ano componham o que chamamos de Dívida Pública.

O aumento dos gastos governamentais e o estímulo à Renda

Conforme as análises do modelo IS-LM para uma economia aberta, o


resultado de um aumento dos gastos governamentais sobre a economia pode ter
diversos efeitos, devendo ser levando em consideração, a priori, o regime de taxa de
câmbio adotado.

Não obstante a este informação, sabemos que, de forma generalizada,


estímulos fiscais, seja com o aumento dos gastos do governo, seja com a diminuição
dos tributos, tendem a elevar o nível de renda da economia.

O efeito multiplicador se dá primeiramente sobre o consumo, que é


estimulado pelo ciclo de gastos iniciados pelo governo.

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A grande questão que ronda esta interpretação econômica é aquela derivada


de estudos da escolha intertemporal das famílias, em especial as referentes às
hipóteses do modelo de Ciclo de Vida de Modigliani e da Renda Permanente de
Friedman.

Para estes economistas, os consumidores estão preocupados com o


planejamento dos seus gastos ao longo de toda a vida. Trata-se da preocupação
com a sua Previdência. Da mesma forma, os consumidores procuram realizar seus
gastos em função de suas rendas permanentes, sendo as variações transitórias,
interpretadas como um desvio aleatório - positivo ou negativo -, da própria renda
recebida.

Dessa interpretação deriva-se o que chamamos de Equivalência Ricardiana,


que procura verificar os impactos de uma política fiscal expansionista ou
contracionista sobre o crescimento da renda, diante da lógica dos consumidores
quanto ao futuro.

A Equivalência Ricardiana e a restrição orçamentária do governo

Na visão Ricardiana, os aumentos dos gastos governamentais ou a própria


diminuição da tributação – geradores de déficit e dívida - em nada geram impactos
sobre o crescimento da renda da economia.

Esta hipótese define-se no fato de que os consumidores são preocupados


com o futuro (com a sua previdência), de forma que o aumento do endividamento
do governo será compensado pelo aumento dos tributos no futuro.

Para David Ricardo1, o governo, ao diminuir os tributos cobrados, teria uma


visão de curto prazo, já que, no futuro, os impostos a serem cobrados deverão ser
suficientes para pagar a dívida contraída e mais a parcela devida na forma de juros.

1
Influente economista do século XIX.

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De forma simplificada, poderíamos dizer que variação negativa nos tributos hoje (-
∆T) seria compensada por uma variação positiva no futuro, adicionada dos juros
pagos pelo endividamento no presente (1 + r) (+ ∆T).

Com a interpretação dada pela visão ricardiana, conclui-se que uma redução
nos impostos, financiada pelo aumento da dívida pública, deixaria o consumo
inalterado, com as famílias poupando o acréscimo de renda agora disponível para
pagar, no futuro, o aumento dos impostos.

É importante destacar que o não estímulo ao consumo se deve ao fato de o


governo, no futuro, aumentará a carga tributária para pagar o endividamento
contraído no presente. De forma diversa, caso a diminuição dos tributos no presente
fosse acompanhada de uma diminuição dos gastos no futuro, de forma que o
excedente de arrecadação seja utilizado para o pagamento das dívidas, os
consumidores se sentiriam realmente com mais renda, aumentando o seu consumo
hoje.

A partir destas informações é possível inferir a chamada restrição


orçamentária do governo.

Sabendo que no período 1 o governo arrecada T1 tributos, realizando gastos


(G1), e que no futuro, período 2, ele arrecada T2 e realiza gastos (G2), e ainda que
o governo pode, no primeiro período, contrair empréstimos no presente para
financiar seus gastos e no segundo período pagar o seu déficit com o aumento da
arrecadação, chegamos as seguintes fórmulas e a derivação da restrição
orçamentária de uma nação:

• Déficit no período 1 (D1) = G1 – T1, sendo G1 > T1 (1)

para pagar a sua dívida e realizar gastos no futuro, o governo deve aumentar os
tributos no período 2;

• T2 = (1+ r) D1 + G2 (2)

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substituindo (1) em (2) e re-arranjando os termos chegamos à restrição intertemporal


do governo;

T1 + T2 / (1 + r) = G1 + G2 / (1 + r)

A interpretação da restrição intertemporal do governo é a de que o somatório


da arrecadação tributária deve ser igual ao total de gastos realizados nos períodos
atual e futuro.

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Exercícios:

63 - (AFC/STN – ESAF/2000) Considere o consumo das famílias e os gastos do


governo num modelo de escolha intertemporal de dois períodos: presente e futuro.
Suponha que as decisões de consumo das famílias possam ser expressas a partir
da seguinte equação, também conhecida como restrição intertemporal das famílias
num modelo de dois períodos: C1 + C2/(1 + r) = (Q1 – T1) + (Q2 – T2)/(1 + r), onde ,
para i = 1,2, Ci = consumo no período i, Qi = produção no período i, Ti = impostos no
período i, e r = taxa real de juros. Suponha ainda que o governo se depare com a
seguinte restrição orçamentária intertemporal: G1 + G2/(1 + r) = T1 + T2/(1 + r),
onde para cada i = 1,2, Gi = gastos do governo no período i. Podemos então afirmar
que

a) um corte nos impostos no presente tem maiores efeitos no consumo futuro, caso
esse corte não seja acompanhado por alterações no padrão de gastos do governo.
b) um corte nos impostos no presente com certeza altera o consumo presente,
independente de alterações no padrão de gastos do governo no presente e no
futuro.
c) um corte nos impostos no presente atua no modelo de escolha intertemporal
como no modelo keynesiano; o consumo é estimulado pelo aumento da renda
disponível.
d) se o governo corta os impostos no presente sem que ocorram alterações no
padrão dos seus gastos, presente e futuro, tanto o consumo presente quanto futuro
ficam inalterados.
e) um corte nos impostos não causa alterações no consumo, já que, em um modelo
de escolha intertemporal, o consumo é exógeno.

64 – (AFRF/SRF – ESAF/2002) Considere a seguinte equação, também conhecida


como restrição orçamentária intertemporal de um consumidor num modelo de dois
períodos: C1 + C2/(1 + r) = (Y1 – T1) + (Y2 – T2)/(1 + r), onde Ci = consumo no
período i (i = 1,2); Yi = consumo no período i (i = 1,2); r = taxa real de juros; Ti =
impostos no período i (i = 1,2). Com base nesse modelo, é correto afirmar que

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a) as restrições de crédito pioram a situação do consumidor, independente de sua


estrutura de preferências intertemporal.
b) se vale a equivalência ricardiana, um aumento em T1 reduz o consumo no
período 1.
c) se o consumidor é poupador, um aumento na taxa real de juros eleva o consumo
no segundo período.
d) no equilíbrio, o consumidor irá escolher consumir nos dois períodos quando a taxa
marginal de substituição intertemporal for igual a zero.
e) se Ti = 0 (i = 1,2), a restrição orçamentária intertemporal apresentada se reduz à
função consumo keynesiana.

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Gabarito Comentado:

Questão 63: letra “d”

Trata-se do próprio conceito de expectativas racionais desenvolvido em aula. Se os


consumidores entendem que o corte de impostos no presente ensejará o aumento
dos impostos no futuro, de forma a compensar a perda de arrecadação, os
consumidores não modificam o seu padrão de consumo no presente, tornando a
política fiscal inócua no objetivo de estímulo do emprego e da renda.

Questão 64: letra “c”

De fato o aumento das taxas de juros para o consumidor poupador aumenta o seu
consumo no futuro, uma vez que este terá maior disponibilidades de recursos diante
do rendimento obtido com o aumento dos juros.

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Crescimento no Longo Prazo. O modelo de Solow. O papel da Poupança, do


crescimento populacional e das inovações tecnológicas sobre o crescimento.
“A regra de Ouro”.

O chamado crescimento econômico pode ser definido como o aumento


contínuo do Produto Interno Bruto – PIB e do PIB per capita, ou seja, o PIB por
pessoa.

Crescimento no Longo Prazo

A relação entre poupança (trata-se da poupança vista nas contas


nacionais) e a acumulação de capital (o estoque de capital também das contas
nacionais), permitem aos economistas caracterizar a forma do crescimento do
produto de uma economia. Trata-se pois do famoso modelo de Robert Solow.
Para estudarmos este modelo, precisaremos nos voltarmos à análise inicial do
comportamento do produto (PIB) de uma economia em um determinado período
de tempo. Para isso começamos representando a chamada função de produção.

A Teoria da Produção

Os princípios da Teoria da Produção constituem peças fundamentais para


a análise dos preços do emprego dos chamados fatores produção, assim como
da alocação destes entre os diversos usos alternativos na economia, o que por si
só caracteriza o PIB desta mesma economia.

Podemos dizer que a Teoria da Produção desempenha dois papéis


extremamente importantes:

• serve de base para a análise das relações existentes entre a produção de


bens e serviços e custos de produção destes bens: numa economia moderna,

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cuja tecnologia e os processos produtivos evoluem diariamente, o relacionamento


entre a produção e os custos de produção é muito importante na análise da
Teoria da Formação dos Preços dos bens e serviços;

• serve de apoio para a análise da procura das firmas com relação aos
fatores de produção que utiliza. Para produzirem bens, as empresas dependem
da disponibilidade de fatores de produção.

Conceitos básicos da teoria da produção

Produção

É a transformação dos fatores de produção adquiridos por empresas em


uma economia com fins de geração de produtos para a venda nos diversos
mercados. É importante ressaltar que o conceito de produção não se refere
apenas aos bens físicos e materiais mas também a serviços, como transportes,
intermediários financeiros, comércio e outras atividades.

Fatores de produção

São os fatores utilizados em um processo produtivo. Dentre estes, temos:

• Fator Terra, representa o local onde produtos e serviços são produzidos2;


• Fator Capital3, representado pelas máquinas e equipamentos disponíveis
para a produção;
• Fator Trabalho, que nada mais é que a mão de obra disponível para o
processo produtivo; e
• Fator Tecnologia, que define o grau tecnológico da produção,
melhorando, à medida que este aumenta, o processo produtivo.

2
É o conceito utilizado na economia para referenciar o local em que bens e produtos são fabricados e
posteriormente vendidos.
3
Em economia, capital não é representado pelas aplicações financeiras, mas sim pelas disponibilidades de
máquinas e equipamentos utilizadas no processo de produção.

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Função de Produção

As empresas, ao decidir o que, como, e quanto produzir, na medida das


respostas advindas do mercado consumidor, variam a quantidade utilizada dos
fatores de produção, para com isso variar a quantidade produzida do produto. A
função produção representante do crescimento econômico mede a relação entre
o produto a partir da quantidade utilizada dos fatores de produção.

A função produção, assim definida, admite sempre que as empresas estejam


utilizando a maneira mais eficiente de combinar os fatores e, conseqüentemente,
obter a maior quantidade produzida do produto. Todavia, a fim de que as
empresas possam realizar esse tipo de ação da maneira mais eficiente, elas
precisam utilizar determinado processo de produção.

Uma vez que o processo de produção é a técnica por meio da qual um ou


mais produtos serão obtidos a partir da utilização de determinadas combinações
de fatores de produção, se este for um processo simples, teremos um único
produto; quando, a partir da combinação dos fatores, for possível produzir mais
de um produto, teremos um processo de produção múltiplo ou uma produção
múltipla.

A função produção indica, portanto, o máximo de produto que se pode


obter em uma economia com as quantidades de fatores disponíveis, uma vez
escolhido o processo de produção mais conveniente.

É possível representar a função produção, analiticamente, da seguinte


maneira:

q= f (x1, x2, x3, ..., xn)

"q" é o produto da economia;

x1, x2, x3, ...,xn identificam as quantidades utilizadas de diversos fatores,


respeitado o processo de produção mais eficiente escolhido.

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Importante observar que:

• a função de produção é um fluxo de produto e de insumos, ao longo de


um dado período de tempo (semana, mês, ano).

• a função de produção supõe um dado nível tecnológico. Alterações


tecnológicas podem provocar mudanças nas combinações dos fatores de
produção e conseqüentemente do produto. (trata-se do que veremos mais
a frente referente ao progresso tecnológico).

O gráfico abaixo é uma boa representação de uma função de produção:

q
q= f (x1, x2, x3, ..., xn)

(x1, x2, x3, ..., xn)

Costuma ser comum, especialmente em provas de concursos, a


representação da função de produção, ou simplesmente produção “Y”, a partir da
composição de apenas dois insumos, trabalho, no qual utiliza-se a letra “L”, e o
capital, representado pela letra “K”.

Y = 3K 2L, sendo os números 3 e 2 constantes positivas associadas aos


fatores de produção.

Muitas vezes os fatores de produção utilizados são acompanhados de


expoentes diferentes de “1”. Exemplo: Y = 4K0,5L0,5

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Fatores fixos e fatores variáveis: O curto e longo prazo na análise


econômica da produção

A análise econômica considera dois tipos de relações entre a quantidade


produzida do produto e a quantidade utilizada dos fatores.

Na função de produção alguns fatores são fixos e outros variáveis. Este


tipo de relação identifica o que a teoria denomina de curto prazo. A explicação
embasa-se na idéia de que alguns fatores não podem ser alterados em curto
espaço de tempo. Assim, é como dizermos que no curto prazo o fator capital (K) é
fixo, enquanto o fator trabalho (L) pode ser alterado a qualquer momento do
processo produtivo, bastando para a empresa apenas resolver contratar mais
mão-de-obra de um dia para outro.

Vejamos o caso da uma função de produção acima, partindo do estoque de


capital como sendo fixo e no valor igual a 25.

0,5
Y = 4x 25 x L
0,5
Y = 20 x L

Obs: Não se esquecendo de que qualquer número elevado a meio é a mesma coisa que a
raiz quadrada deste número.

Mudanças na produção no curto prazo serão derivadas somente pela


variação na quantidade do fator trabalho empregado no processo produtivo.

Diferentemente, no longo prazo todos os fatores da função de produção


são variáveis, voltando ao exemplo dado anteriormente.

Y = 4K0,5L0,5

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Análise de Curto Prazo (A Hipótese de existência de Fatores Fixos e


Variáveis na Função de Produção)

Tomemos uma função de produção com três fatores, sendo dois fixos,
capital (K) e a tecnologia utilizada no processo produtivo (T), e o fator variável
trabalho (L).

Y = f ( L, K , T ) , sendo K , T representados como sendo fixos através da


barra superior sobre as letras.

A representação do gráfico desta função de produção é:

Y
Y = f ( L, K , T )
2
Y
A produção, composta dos fatores
1
Y fixo capital K e tecnologia T , e
do fator variável trabalho L ,
aumenta a medida em que é
incorporado mais trabalho.

L1 L2 L

Conceitos de Produção, Produtividade média e Produtividade marginal

A Produção é representada pela totalidade de bens e serviços produzidos


na economia durante um determinado período de tempo. Esta produção pode ser
decomposta de acordo com o número de insumos utilizados no processo
produtivo.

Na análise de curto prazo verificamos que o insumo variável era aquele


representado pelo fator mão-de-obra, que pode ser utilizado para se calcular a

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chamada Produtividade média do trabalho, representada pela produção


econômica dividida pelo número de trabalhadores utilizados no processo produtivo.

Pr odução(Y )
Pme(L) =
quant .de .trabalhadores( L)

A Produtividade média pode ser obtida para os demais fatores de produção,


tal como a Pme do Capital (K).

Pr odução(Y )
Pme(K) =
quant .de .capital (Y )

Um conceito pertinente à análise da produção é aquele conhecido como


Produtividade marginal (Pmg). Este procura demonstrar qual será o resultado
sobre a Produção decorrente do aumento de uma unidade adicional de fator de
produção. Perceba a sutiliza! Não estamos falando de Produtividade média (Pme),
que conforme vimos acima é o resultado da Produção dividida pelo número de
unidades utilizadas de determinado fator de produção (Ex: Pme (L)).

O conceito da Produtividade marginal é mais estrito, ou seja, se o processo


produtivo utiliza 10 unidades de mão-de-obra é produz 1000 unidades em uma
economia, em quanto este será aumentado caso eu aumente em 1(um) o número de
trabalhadores. É o conceito de Produto na margem, ou seja, variei só uma unidade,
em quanto ele irá acrescentar em termos de produção?

A definição matemática da Produtividade marginal é feita da seguinte


maneira:

ΔY
Pmg = , sendo ΔY representado pela variação da Produção diante da
ΔL
variação de uma unidade do fator trabalho ΔL .

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Os Rendimentos Marginais na Produção

A análise da Produtividade marginal está intimamente ligada com o


rendimento obtido pelos fatores de produção dentro do processo produtivo. Esta
questão e suas conseqüências podem ser demonstradas pelo que chamamos de
Lei dos Rendimentos Marginais. Esta é assim enunciada:

Aumentando-se a quantidade do fator de produção variável,


permanecendo fixa a quantidade dos demais fatores (análise de curto prazo), a
produção inicialmente crescerá a taxas crescentes; a seguir, depois de certa
quantidade utilizada do fator variável, passaria a crescer a taxas decrescentes;
continuando o incremento da utilização do fator variável, a produção total
tende a decrescer.

Conforme exemplo de Vasconsellos (2002, pág. 124), podemos melhor


compreender o significado dos Rendimentos Marginais.

“Consideremos a atividade agrícola, tendo como fator fixo a área cultivada e como
fator variável a mão-de-obra. Com o aumento da produção, no início ela cresce
substancialmente, porque tem poucos trabalhadores para muita terra. Aumentando o
número de trabalhadores, e se a área permanece a mesma, chega-se a um ponto
em que a produção continua crescendo, mas a taxas decrescentes, em virtude do
excesso de trabalhadores. Teoricamente, pode-se chegar a um ponto em que a
absorção de mais um trabalhador provocará queda na produção.” (Pmg trabalho
negativa). Negrito nosso

Para uma visualização ainda mais clara dos chamados Rendimentos


Marginais Decrescentes, analisemos a tabela abaixo, representativa da atividade de
produção:

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Tabela Ilustrativa

Produtividade
Terra Mão - de- obra Produtividade média da
Produto Total Marginal da
fator fixo fator variável Mão - de- Obra
Mão-de-Obra
10 1 6 6,0 6
10 2 14 7,0 8
10 3 24 8,0 10
10 4 32 8,0 8
10 5 38 7,6 6
10 6 42 7,0 4
10 7 44 6,2 2
10 8 44 5,4 0
10 9 42 4,6 -2

Verifica-se que de início podem ocorrer rendimentos crescentes, isto é, os


acréscimos de utilização do fator variável provocam incrementos na produção.
Observa-se que, a partir da quarta unidade de mão-de-obra incluída no processo
produtivo, começam a surgir os rendimentos decrescentes, com a produção ainda
crescendo, mas a taxas decrescentes. A oitava unidade, associada a 10 unidades
do fator fixo terra, maximiza o produto (44 unidades). Veja que a Produtividade
Marginal desta oitava unidade é nula, sendo que, daí por diante, cada unidade do
fator variável mão-de-obra, associada às 10 unidades do fator fixo terra, passa a
ser ineficiente, ou seja, as suas produtividades marginais tornam-se negativas,
diminuindo a produção ao invés de aumentá-la.

A representação da tabela acima pode ser exposta de acordo como gráfico


que se segue4:

4
O gráfico calculado é a o resultado da análise de variáveis discretas e não contínuas, conforme na
tabela utilizada. Procuramos dar um “alisamento” nas curvas de Produção, Produtividade média e
Produtividade Marginal.

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Y
(Produção)
Produção (Y)
44

32
24

Quantidade de
Trabalhadores (L)
Y
(Produção)
Produtividade

10 Marginal (Pmg)

8
Produtividade Média
(Pme)

Quantidade de
3 4 8
Trabalhadores (L)

Conforme pode ser observado, a curva do produto da economia


inicialmente cresce a taxas crescentes, isto devido ao fato de que a Produtividade
marginal (Pmg) é crescente até a terceira mão-de-obra adicional. A partir do
quarto trabalhador a Pmg começa a cair (não negativa), mas aumentando de
qualquer forma a produção total. Até a oitiva unidade de mão-de-obra a Pmg é
positiva. A partir deste ponto a Pmg torna-se decrescente, diminuindo inclusive a
produção total.

Em termos gráficos vemos que quando a curva de Pmg cruza a curva de


Pme, esta última atinge seu valor máximo, o que é facilmente percebido quando
analisada a tabela acima.

A análise antecedente deixa claro que:

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• o formato das curvas do produto total e das produtividades é explicado pela lei
dos rendimentos decrescentes

• essa lei é tipicamente um fenômeno de curto prazo, com pelo menos um fator
de produção fixo (no caso o fator capital (K)). Se no exemplo anterior a
quantidade do fator capital (k) fosse variável, o produto total teria um
comportamento completamente diferente. Desta maneira, saímos da análise de
curto prazo e entramos na análise de longo prazo, o que nos leva à análise do
crescimento e desenvolvimento econômico.

Voltando pois à análise do modelo de Solow, passamos agora aos


entendimentos que norteiam o modelo que procura explicar o crescimento
econômico das nações.

O modelo de Solow

O modelo de crescimento de Solow mostra como a poupança, o


crescimento populacional e o progresso tecnológico afetam o nível do produto da
economia e o seu resultado no longo prazo. Uma adequada subdivisão do modelo
se faz necessária de forma a melhor deglutirmos os conceitos existentes. Para
isso, separaremos cada destes tópicos para melhor situarmos o estudo do
crescimento econômico de um país.

O modelo de Solow é conhecido como teoria neoclássica do crescimento,


sendo que esta afirma que o PIB per capita de um país cresce porque a melhoria
tecnológica leva a realização de investimentos por empresas, a partir da
poupança disponível (lembra-se da relação das contas nacionais entre poupança
e investimento?), que acaba por promover o aumento do estoque de capital por
hora de trabalho. Veja que o aumento do estoque de capital por si só já é uma
modificação da teoria da produção de curto prazo, em que apenas o estoque de

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mão de obra era variável. Vamos então a apresentação do modelo, considerando


a noção da função de produção desenvolvida no início da aula.

Iniciamos nossa abordagem afirmando que o total da população e a


quantidade de trabalhadores disponível para trabalhar é o mesmo, ok? Desta
informação podemos afirmar que o produto por trabalhador é igual a Y/L, sendo
esta representada pelo símbolo “y”. Um novo e importante conceito e ser
introduzido refere-se ao chamado estoque de capital (K) por unidade de
trabalhador (L), sendo este chamado de “k”. Sendo assim, temos:

Produto por trabalhador = Y / L = y;


Capital por trabalhador = K / L = k

Por oportuno nos voltamos ainda à função de produção e ao gráfico


representativo desta, destacado no início da aula.

A função de produção em análise parte de uma tecnologia inicialmente


constante, sendo esta representada da seguinte forma:

Y = f ( L, K ) ) , sendo L o estoque de trabalhadores (quantidade de

trabalhadores e K o estoque de capital.

Se realizarmos a divisão da função de produção acima destacada pelo


estoque de mão de obra, teremos a seguinte nova função:

Y L K
= f ( ; ) = y = f (1; k )
L L L

Como o numero “um” é uma constante, em nada impacta o resultado da


equação, de tal forma que teremos de forma simplificada a seguinte função de
produção:

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y = f (k )

A representação do gráfico desta função de produção é:

y= Y/L

y = f (k ) )
2
y
O eixo vertical mede o produto
y1
per capita (y) enquanto o eixo
horizontal mede o capital por
trabalhador (per capita).

k1 k2 k = K/L

O gráfico bem como a equação da função de produção acima estruturada,


demonstram que o produto per capita varia positivamente em função da proporção
do estoque de capital por unidade de trabalhador. Perceba que para valores mais
altos da relação de capital por trabalhador, maior será o produto, sendo esta
proporção de aumento cada vez menor. Esta situação demonstra a mesma noção
aprendida por nós relativa a produtividade marginal. Neste caso não é o estoque de
capital que está constante, mas sim a tecnologia associada ao processo produtivo,
mesmo sendo este capital intensivo.

A relação entre poupança e investimento de uma economia e o modelo


de Solow

A análise do modelo de Solow parte de uma economia simplificada (sem


governo), de tal forma que o produto será repartido entre consumo e investimento.

y = c + i (1)

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Ainda nos mesmos moldes, temos que as decisões de consumo representam


uma fração da renda, sendo o restante desta destinada à acumulação de poupança.
Tem-se assim que:

c = (1 – s)y (2)

Substituindo (2) em (1), temos:

y = (1 – s)y + i

y = y – sy + i

sy = i, ou seja, o investimento de uma economia é igual à taxa de poupança


gerada a partir do produto econômico.

Relembrado que a função de produção de uma economia y = f(k), podemos


afirmar que i = sf(k), ou seja, que o investimento também será uma fração do
produto da economia. Vejamos isso graficamente:

y= Y/L

y = f (k )
)
y2
Consumo per capita

y 1
i = sf (k ) )

Investimento per capita

k1 k2 k = K/L

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Perceba que pelo próprio gráfico é possível fazer a separação do produto per
capita entre investimento por trabalhador e consumo por trabalhador.

Um dos principais componentes do investimento de uma economia é a


formação de estoque de capital, sendo este mesmo estoque diminuído na medida
em que ocorre a sua depreciação.

Assim sendo, afirmamos que as alterações no estoque de capital da


economia “Var K” serão necessariamente igual ao valor dos investimentos
realizados, menos a depreciação do estoque de capital, sendo esta depreciação
constante e representada pela letra “d”, e a taxa de depreciação do estoque de
capital por “dK”.

Var K = i – dK

Reagrupando os termos e sabendo que a poupança é igual ao investimento,


temos a seguinte equação que demonstra a variação do estoque de capital de uma
economia:

Var K = sY – dK

Perceba novamente que estamos trabalhando com as variáveis do estoque


de capital “K” e do produto “Y”. Se quisermos seguir a mesma linha de raciocínio
implementada anteriormente, torna-se necessário dividirmos este dois termos da
equação novamente pela quantidade de trabalhadores “L”. Sendo assim, temos:

Var K Y K
=s −d
L L L Procure guardar muito bem está fórmula.
Com ela são resolvidas boa parte das
Var k = sy - dk questões matemáticas de prova sobre o
modelo de Solow

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O Estado Estacionário de uma economia no Longo Prazo

O estoque de capital é definidor do nível de produto de uma economia. Sua


variação provoca por conseqüência o crescimento econômico ao longo do tempo. É
até mesmo por isso que se define que países que são intensivos em capital ao invés
de mão de obra, dentro da produção de bens e serviços, são considerados países
mais ricos e desenvolvidos.

Conforme vimos, o estoque de capital é afetado por dois fatores: o


investimento e a depreciação. O primeiro deles corresponde aos gastos de
empresas com a compra de novas máquinas e o segundo refere-se ao desgaste das
máquinas e equipamentos já existentes, tendendo assim a reduzir o estoque de
capital.

O que nos falta apenas é demonstrar que a depreciação do capital por


trabalhador, representada por “dk” na fórmula acima, cresce a taxa constante, ou
seja, na medida que cresce o estoque de capital por trabalhador “k”, cresce também
a depreciação do estoque de capital já existente. Isto pode ser visto pelo seguinte
gráfico abaixo:

dk (depreciação do
capital)
dk

k (capital por trabalhador)

Pela análise do gráfico, verificamos que quanto maior o nível de estoque


de capital por trabalhador, maior também será a depreciação do capital. Diante
disto pode-se afirmar que o chamado “Estado Estacionário” é aquele em

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que a variação positiva do investimento “sy” é exatamente igual à


depreciação do capital por trabalhador “dk”, ou seja, a variação do estoque
de capital é igual a zero.

Vejamos isso graficamente:

No gráfico a se analisar, destacamos o crescimento do investimento per


capita, que nada mais é do que a expressão “sy”. A junção dos gráficos que
demonstram o crescimento da depreciação do estoque de capital “dk” e do
crescimento do investimento per capita, esta disposto abaixo. Destaca-se apenas
que como esta nova curva (a do investimento per capita) é sempre uma fração
constante do produto per capita, eLa possui a mesma inclinação da função de
produção feita por nós anteriormente, sendo apenas inferior à função de
produção.

Investimento
e depreciação

dk
O Estado Estacionário é
2
A sy
i representado pelo ponto A do
gráfico ao lado, em que o valor da
i1
depreciação do estoque de capital
é exatamente igual ao
investimento de uma economia.
k1 k* k2
k = K/L

O que se pode concluir sobre o Estado Estacionário? Se uma economia


encontra-se no estado estacionário, nele esta permanecerá; segundo, se uma
economia não se encontra no Estado Estacionário, para este Estado Estacionário
ela irá.

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Se vocês repararem no gráfico acima verão o seguinte: No nível de estoque


de capital per capita igual a “k1”, o investimento é superior a depreciação, de tal
forma que a economia convergirá para o Estado Estacionário. No mesmo sentido,
caso o estoque per capita de capital seja igual a “k2”, a depreciação estará por
exceder o investimento da economia, reduzindo assim o estoque de capital até o
nível do Estado Estacionário.

Para finalizar este tópico inicial, cabe ressaltar que toda esta análise se deu
em um contexto em que a tecnologia, ou também chamada de progresso
tecnológico, manteve-se constante. Daqui em diante levaremos em consideração os
pontos que interferem diretamente no resultado da análise até agora realizada, quais
sejam os referentes ao papel da poupança, do crescimento populacional e das
inovações tecnológicas sobre o crescimento, abordando ainda o conceito referente a
"A regra de ouro" do crescimento econômico.

Apenas para fim de consolidarmos os conceitos desenvolvidos, passamos a


resolução de uma questão presente no segundo concurso para Auditor Fiscal da
Receita Federal em 2002.

(AFRF/SRF – ESAF/2002) Considere os seguintes dados para o modelo de


crescimento de Solow: k = estoque de capital por trabalhador; Δ = taxa de
depreciação; y = produto por trabalhador; s = taxa de poupança. Sabendo-se que y =
k0,5, Δ = 0,1 e s = 0,4, os níveis de k e y no estado estacionário serão,
respectivamente:

a) 16 e 4;
b) 16 e 8;
c) 4 e 16;
d) 4 e 8
e) 4 e 12

Resolução:

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Essa questão exige do candidato apenas a mera aplicação da fórmula que define o
chamado Estado Estacionário. A partir desta é apenas fazer a manipulação dos
número e se chegar ao resultado.

Var k = sy - Δk

Como no Estado estacionário “sy” é igual a “Δk”, temos:

0,4.k0,5 = 0,1.k

Para que não necessitemos fazer qualquer tipo de matemática a mais,


podemos simplesmente testar cada uma das opções, encontrando a igualdade a
partir da letra “a”.

Gabarito: letra “a”

O efeito do aumento da Poupança sobre o crescimento econômico

Uma das recomendações mais comuns na economia é que para que ocorra
um aumento do crescimento econômico, via aumento do investimento por exemplo,
seria através do aumento da taxa de poupança.

Supomos por exemplo que ocorra um aumento da taxa de poupança,


passando de s1 para s2, sendo s2 > s1.

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investimento
dk
B C
s2y
O novo Estado Estacionário é
A
i2 s1y representado pelo ponto C do
gráfico ao lado, em que o valor da
i1
depreciação do estoque de capital
é exatamente igual ao
investimento de uma economia.
k* k2 k = K/L

Verifica-se assim que o aumento da taxa de poupança de s1 para s2 eleva os


investimentos. No ponto B do gráfico o investimento da economia é superior à
depreciação, fazendo assim aumentar o estoque de capital. No longo prazo a
economia caminha para o novo Estado Estacionário “C”, em que o investimento
volta a ser igual à taxa de depreciação do capital, pontos em que o estoque de
capital e a produção são maiores.

Desta análise podemos tirar algumas conclusões sobre a relação entre


poupança e estoque de capital partir do modelo de Solow:

• Se a taxa de poupança é alta, a economia terá um grande estoque de capital


e um nível de produto elevado; se a taxa de poupança é baixa, a economia
terá um pequeno estoque de capital e um nível de produto reduzido;

• a poupança maior leva a um crescimento mais rápido de forma temporária até


o atingimento do novo estado estacionário. Considerando que o aumento da
poupança não é contínuo, não é possível que esta economia mantenha
eternamente um alto nível de crescimento.

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Essa última interpretação é lógica no sentido de que a depreciação do capital


é constante enquanto o aumento da poupança não. Sendo assim, torna-se
necessário um grande esforço poupador apenas para manter o estoque de capital
constante.

A Regra de Ouro

Poderíamos querer saber qual seria o nível ótimo de acumulação de capital


per capita que maximiza o bem-estar de uma sociedade a partir da definição de um
Estado Estacionário? Esta é a pergunta que define a chamada Regra de Ouro, em
que o administrador público procura obter a maximização das possibilidades de
consumo de uma sociedade, buscando para isso um nível de acumulação de capital
que o permita atingir este objetivo. Trata-se na verdade da idéia subjacente de que
quanto maior o parque fabril de uma economia, leia-se acumulação do próprio
capital, maior será a oferta de consumo à sociedade.

Para determinarmos o consumo per capita ideal, partimos deste mesmo


consumo a partir do Estado Estacionário. Lembrando da equação de uma economia
simplificada, temos:

y = c + i; (3)

c = y – i (4)

lembre-se que no Estado Estacionário a variação da acumulação de capital é


igual a zero, ou seja, o investimento será exatamente igual a taxa de depreciação.

Var k = sy – dk, como var k = 0; sy = dk, sendo sy igual ao investimento


per capita.

Sendo o investimento igual à depreciação do capital no Estado Estacionário,


teremos a seguinte equação:

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c = f(k) – dk

Diz a fórmula que o consumo será maximizado quanto maior for a diferença
entre o produto e a taxa de depreciação.

Vale assim relembrar o seguinte: O produto de uma economia simplificada é


destinado ao consumo e ao investimento (y = c + i). Na análise do Estado
Estacionário que define a Regra de Ouro, o investimento é igual à depreciação, de
tal maneira que ao se substituir “i” por “dk” na equação acima e isolar o consumo
“c”, este será maximizado na medida em que maior for a diferença entre o produto e
a depreciação.

Os efeitos do crescimento populacional

Conforme tivemos oportunidade de verificar o investimento aumenta o


estoque de capital per capita (sy) enquanto a depreciação o reduz (dk). Nos importa
agora saber qual é o impacto do crescimento populacional sobre o estoque de
capital per capita.

O crescimento populacional age negativamente no estoque de capital por


trabalhador uma vez que a simples conta de divisão entre estoque de capital e
quantidade de trabalhadores tem o seu denominador aumentado. Agora, então, para
calcularmos a variação do estoque de capital por trabalhador, temos que levar em
conta o sinal negativo do crescimento sobre a mesma variação de estoque,
passando assim a ter a seguinte nova expressão:

Var k = sy – (d +n)k, sendo “n” a taxa de crescimento da população;

A fórmula acima mostra que o investimento aumenta “k”, enquanto a


depreciação e o crescimento populacional diminuem “k”. Pode-se imaginar o termo
(d+ n)k como definindo o investimento de equilíbrio, que é a quantidade necessária
de investimento para se manter constante o capital por trabalhador (ou seja, trata-se

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de uma situação em que a variação do estoque de capital será igual a zero),


incluindo nesse investimento não só a depreciação do capital existente – que é igual
a “dk” – como também o investimento necessário para proporcionar capital aos
novos trabalhadores “nk”.

Nesta nova condição passamos a ter o seguinte novo equilíbrio no Estado


Estacionário:

investimento

(d+ n)k

A sy
i2

No novo Estado Estacionário


i1
deve ser adicionado o
crescimento da população “n”.

k1 k* k2
k = K/L

Imaginemos agora que ocorra um crescimento populacional. Qual será o


impacto sobre o Estado Estacionário, ou seja, qual será o impacto do estoque de
capital por trabalhador?

O efeito da elevação do crescimento populacional (de n1 para n2) altera o


Estado Estacionário, uma vez que ocorre uma redução do estoque de capital por
trabalhador (k1 para k2). Podemos verificar isto através do gráfico abaixo.

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investimento (d+ n2)k

(d+ n1)k

A sy
i1
O crescimento populacional
diminui o estoque de capital por
trabalhador.

k2 k1 k = K/L

Esta situação permite que se conclua que em economias de países que


apresentam altas taxas de crescimento populacional tendem a apresentar
baixos níveis de capital por trabalhador e, conseqüentemente, de produto e
renda.

Os efeitos do progresso tecnológico

O progresso tecnológico tende a tornar os trabalhadores mais eficientes,


especialmente devido ao seu aprimoramento na realização do trabalho. É como se
estes trabalhadores adquirissem capacitação adicional por meio de mais educação
(produzem de forma mais eficiente, e mesmo que tenham menos capital, levam o
processo produtivo e consequentemente a economia, ao efetivo crescimento
econômico).

Diante desta afirmação imaginemos agora que a função de produção padrão


utilizada por nós anteriormente passe a incorporar a eficiência gerada pelo
progresso tecnológico, refletida assim na maior capacidade produtiva do trabalhador.
Dessa maneira a função de produção que era expressa por Y = f(K,L), passa a ser
expressa por:

Y= f (K,Le)

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A letra “e” é a definição do progresso tecnológico que leva ao aumento da


eficiência do trabalho, que reflete o nível de conhecimento da sociedade sobre
técnicas e métodos de produção, que se refletem na melhoria da eficiência do
trabalho.

No caso da função de produção, os aumentos da eficiência do trabalho


funcionam como se houvesse aumentos da força de trabalho “L”. Seguindo exemplo
de Mankiw, temos que o progresso tecnológico faz com que a eficiência do trabalho
cresça a uma taxa constante “g”. Assim, se g = 0,02, cada unidade de trabalho
torna-se 2% mais eficiente a cada ano, levando, por conseqüência, ao aumento do
produto nos mesmos 2% (sem a necessidade efetiva de aumento do número de
trabalhadores).

Ainda segundo o mesmo autor, essa forma de progresso tecnológico é


chamada de incorporadora de trabalho e “g” é a taxa de progresso tecnológico
incorporador de trabalho. Como a força de trabalho L está crescendo à taxa “n” e a
eficiência de cada unidade de trabalho cresce à taxa “g”, o número de unidades de
eficiência Le cresce à taxa (n + g).

A nossa análise da economia continua da mesma maneira que ocorria


quando examinamos o crescimento populacional. O que se altera novamente é tão
somente a equação que mostra a variação do estoque de capital “k”:

Var k = sy – (d + n + g)k

Tem-se assim que a variação do estoque de capital é igual ao investimento


menos o que definimos por investimento de equilíbrio (d + n + g)k.

Umas das explicações mais importantes do modelo de Solow recai


justamente no fato de que o progresso tecnológico tende a aumentar o padrão de
vida de um país, uma vez que aumenta o produto gerado por cada trabalhador,
mesmo que um menor nível de capital per capita.

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O resíduo de Solow

O progresso tecnológico não altera tão somente a eficiência do trabalho. Na


prática o progresso tecnológico altera positivamente toda a função de produção, de
tal maneira ao aumentar as produtividades individuais de cada dos fatores, capital e
trabalho, ocorre também a melhoria da produtividade total dos fatores. Trata-se
assim da melhoria na utilização dos fatores, mesmo que estes individualmente não
sejam alterados.

Imaginemos então que ocorra um crescimento de 1% na produtividade dos


fatores capital e trabalho, aumentando assim as suas respectivas eficiências, e que
a produtividade total cresça acima deste patamar. Este crescimento adicional é
chamado de Resíduo de Solow, pois refere-se a parte não explicada do
crescimento da produtividade total. O próprio resíduo é considerado como um
progresso técnico uma vez que altera o resultado da produção.

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Exercícios:

65 - (AFRF/SRF – ESAF/2002) Com relação ao modelo de Solow, é incorreto afirmar


que
a) o estado estacionário que maximiza o consumo é aquele definido pela
denominada “regra de ouro”.
b) a taxa de poupança determina a quantidade do estoque de capital por trabalhador
e, portanto, o nível do produto por trabalhador no estado estacionário.
c) quanto maior a taxa de poupança, maior o bem-estar da sociedade.
d) o estado estacionário pode ser considerado como um equilíbrio de longo prazo.
e) somente o progresso tecnológico explica o crescimento de longo prazo.

66 – (AFRF/SRF – ESAF/2003) Com relação ao modelo de crescimento de Solow,


é correto afirmar que, no equilíbrio de longo prazo:
a) quanto maior for a taxa de depreciação, maior será o estoque de capital por
trabalhador.
b) a taxa de crescimento do produto por trabalhador é igual à taxa de depreciação.
c) quanto maior for a taxa de poupança, maior será o consumo por trabalhador.
d) quanto maior for a taxa de crescimento populacional, maior será o estoque de
capital por trabalhador.
e) quanto maior a taxa de poupança, maior será o estoque de capital por
trabalhador.

67 – (Consultor/Senado Federal – CESPE/2002) Com base no modelo de


crescimento econômico proposto por Robert Solow, julgue os itens a seguir.
a) Ignorado o efeito do progresso técnico, o estado estacionário pode ser
determinado pelo ponto em que o montante de poupança é apenas suficiente para
cobrir a depreciação do estoque de capital existente.
b) Ainda ignorando o efeito do pregresso técnico, uma mudança na razão entre a
poupança nacional e produto não irá provocar uma mudança permanente na taxa de
crescimento econômico.
c) A taxa de poupança afeta o nível de produto por trabalhador a longo prazo.

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d) O resíduo obtido após a subtração das fontes identificáveis de crescimento


econômico é, na grande maioria dos casos, insignificante, e decorre,
fundamentalmente, de mudanças na produtividade total dos fatores.
e) O modelo proposto por Solow explica o fenômeno da convergência nos níveis de
renda entre países pobres e ricos, observada ao longo dos últimos 50 anos.

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Gabarito Comentado:

Questão 65: letra “c”

A maximização do bem-estar é definido pela regra de ouro, em que o consumo é


maximizado. Considerando que na análise do modelo de Solow a renda da
economia se divide em consumo e poupança, quanto maior for o consumo ( ou taxa
de consumo) menor terá que ser a poupança 9taxa de poupança).

y=c+s
c=y-s

Em relação as demais alternativas, fazemos os seguintes comentários:

a) A maximização do consumo é obtida no Estado Estacionário definido pela Regra


de Ouro, que inclusive é a própria noção de maximização do bem-estar.

b) Conforme vimos a taxa de poupança determina o estoque de capital per capita,


determinando também, por conseqüência, o estoque de produto per capita.

d) O Estado Estacionário é considerado o equilíbrio de longo prazo.

e) No longo prazo, de fato somente o progresso tecnológico explica o crescimento


de longo prazo, especialmente porque o crescimento via aumento da poupança não
pode ser contínuo e também porque o progresso tecnológico de fato permite a amior
eficiência produtiva por parte dos trabalhadores.

Questão 66: letra “e”

Conforme verificamos, quando ocorre um incremento na taxa de poupança,


maior tende a ser a variação do estoque de capital e conseqüentemente maior será
o estoque de capital por trabalhador.

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Var k = sy – dk

a) Quanto aos demais comentários, quanto maior for a taxa de depreciação, menor
será o estoque de capital por trabalhador.

b) A taxa de crescimento do produto per capita é dependente da taxa de


crescimento do estoque de capital menos a taxa de depreciação.

c) Quanto maior for a taxa de poupança menor será o consumo por trabalhador.

d) Quando ocorre um aumento da taxa de crescimento populacional, menor tende a


ser o estoque de capital por trabalhador.

Questão 67: C,C,E,E,E

a) A assertiva reflete exatamente o equilíbrio no estado estacionário, em que a


variação do estoque de capital per capita é igual a zero.
b) Na ausência de progresso técnico, conforme vimos, a mudança na taxa de
poupança pode até levar inicialmente a economia ao aumento do produto e do
estoque de capital per capita. Não obstante, esta mudança não será permanente.
c) A taxa de poupança altera apenas o nível de estoque de capital per capita, sendo
somente o progresso técnico o definidor do nível de produto no longo prazo.
d) O resíduo de Solow é derivado das fontes não identificáveis de crescimento
econômico, tal como o estoque de capital e de mão de obra. Este resíduo, conforme
destacado, pode ter grande representatividade no crescimento econômico.
e) O modelo não explica a convergência mas sim a divergência, uma vez que para
os países que apresentaram maior progresso técnico, maiores foram os níveis
sustentados de crescimento econômico.

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