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I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015

Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015


UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná
CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas

Influências do PAC no setor da construção civil, no período de 2007 à


2012

Camila Possenti (Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus Cascavel)


camilapossenti@hotmail.com
Rosangela Maria Pontili (Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus Cascavel)
rpontili@yahoo.comm.br

Resumo
Este artigo propôs-se em analisar as influências do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) no setor da Construção Civil. Para tanto, fez-se uma análise estatística descritiva dos
dados da Pesquisa Anual da Construção Civil, no período de 2007 a 2012. Os resultados
encontrados demostraram o aumento na atividade econômica do setor em análise,
especialmente em relação ao crescimento de empresas ativas, do valor adicionado para o setor
e do número de trabalhadores formais. Dado que o crescimento da construção civil gera um
efeito em cadeia não observado em outros setores, sugeriu-se que o estímulo ao setor é
benéfico para a economia como um todo e pode ser utilizado como ferramenta de política
econômica.

Palavras-chave: PAC. Construção civil. Crescimento econômico.

Área Temática: 8 - Desenvolvimento Econômico, Regional, Rural e de Empreendimentos


Locais

1 Introdução

A intervenção governamental sobre a economia, através de programas sociais, ou da


participação direta na geração de produção agregada, historicamente tem sido foco de
discussões e diferenças de opiniões (MÉSZÁROS, 2011). Para os economistas clássicos,
como Adam Smith, a política laissez-faire era majestosamente superior e a intervenção do
governo levaria fatalmente a uma má alocação do capital e queda do bem-estar da sociedade
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por desestimular a competitividade, levando assim ao ócio e ao desperdício (SCHUTZ E


WALQUI, 2011).
Bentlham foi o teórico que desmistificou o governo, dizendo que ele poderia intervir
positivamente na economia, pois possuía as ferramentas para combater possíveis colapsos e
também podia ser de grande importância na minimização das desigualdades sociais e em
iniciativas que conduzissem ao aumento do bem-estar da sociedade. Como precursor da
escola neoclássica marshalliana, Stuart Mill foi grande partidário do intervencionismo como
forma de combate às externalidades negativas geradas pela política laissez-faire. Para Marx e
Engels o Estado era apenas uma marionete controlada pela classe burguesa (HUNT, 2005).
Foi a partir de 1930 que o Estado passou a ser visto com outros olhos, pois a teoria
clássica não era capaz de explicar o avassalador desemprego e a queda repentina da demanda
agregada que ocorreu naquela época. Com a Grande Depressão, segundo Heibroner (1996), a
economia não era mais considerada estável e estagnada, mas como um elevador que pode
subir e descer em um curto intervalo de tempo. Galbraith (1989) caracteriza este novo
momento como sendo uma recessão, a qual é tida como a depressão dentro da depressão. A
discussão em torno da importância do governo, na condição de intervencionista diante de
problemas de instabilidade econômica, fez com que iniciativas direcionadas para a aberta
atuação do governo na economia surgissem em diversos países do mundo.
A história da intervenção do Estado na economia brasileira foi basicamente pautada na
vertente de estabilização e crescimento econômico. Neste aspecto, o Plano de Metas de
Juscelino Kubitschek (JK), foi o responsável pela industrialização interna e pela criação da
infraestrutura que se tornou o alicerce dos planos mais audaciosos de desenvolvimento
econômico. Entretanto, a aceleração inflacionária assistida após o governo de JK minimizou
as intervenções de caráter social propulsoras do desenvolvimento setorial, direcionando,
quase que exclusivamente, as medidas do governo brasileiro na busca em conter a inflação e
estabilizar a economia.
O Estado foi determinante para ascensão econômica brasileira, bem como grande
responsável de graves crises. Segundo Baer (1996), o Milagre Econômico somente foi
possível devido à ativa intervenção governamental no período e devido ao controle de macro-
setores estratégicos. Oscilando entre políticas econômicas heterodoxas e ortodoxas, a
economia brasileira passou por grande instabilidade até a implantação do Plano Real.
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As áreas sociais e os setores estratégicos, como a construção civil, não tiveram a


atenção dos agentes econômicos devido as prioridades das pautas governamentais no período
pós 1980, fazendo com que o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), seja o plano de
desenvolvimento mais abrangente e pontualmente estruturado após a estabilidade econômica
conseguida com o Plano Real. O PAC é um projeto que visa basicamente a retomada do
crescimento brasileiro, a eliminação de gargalos que impedem o desenvolvimento, assim
como a melhoria do bem-estar econômico e social. Através, principalmente, do investimento
em infraestrutura, o Programa causou um efeito propulsor no setor da construção civil, que foi
intensificado com a criação do Plano Minha Casa Minha Vida, em 2009.
Segundo Chancon (2012), as áreas de concentração de investimento em infraestrutura,
tais como habitação e saneamento, são elementos de grande representatividade para países
como o Brasil. A melhoria nessas áreas, bem como a intensificação da atividade econômica
do setor da construção civil, influencia diretamente o nível de renda e emprego, conduzem à
queda nos índices de pobreza e ao aumento da qualidade de vida da população.
Lazzareschi (2010) destaca que graças ao desenvolvimento do PAC, os postos de
trabalho formais para o setor da construção civil sofreram uma grande expansão. Neste
aspecto, vale ressaltar que o setor da construção civil possui uma característica muito
importante para a questão social, tratando-se da incorporação de trabalhadores com baixo
nível de instrução, ou até mesmo analfabetos, no mercado de trabalho. Assim, a expansão do
setor, além de elevar o nível de renda da população, faz com que muitas famílias saiam de
condições sub humanas de sobrevivência.
Dado o exposto, o presente artigo objetiva analisar as mudanças no setor da construção
civil com os investimentos do PAC. Pontualmente, serão analisadas as variáveis: número de
empresas ativas, renda do setor (valor adicionado) e número de trabalhadores.

2 PAC: Aspectos fundamentais

Segundo Macedo (2010), o primeiro mandato petista teve uma postura ortodoxa que,
apesar de contornar a crise de 2002, não fez com que a economia crescesse. Também é
importante observar que o início do governo Lula foi marcado, de acordo com Erber (2011),
por uma extraordinária desconfiança, pois mesmo mudando seu discurso eleitoral de “ruptura
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do modelo neoliberal” para uma “transição pacífica”, a chegada de um ex-operário ao poder


encheu de incertezas o mercado. Já em seu discurso de posse, Lula destacou a necessidade de
um plano nacional de desenvolvimento apoiado em planejamento estratégico, com principais
pilares nas necessidades das grandes massas trabalhadoras, via estabilização macroeconômica.
Tal ideia veio a concretizar-se apenas no segundo mandato de Lula, com a implantação do
Programa de Aceleração Econômica (PAC). O PAC surgiu como o carro chefe da nova
postura do Estado, de reestruturação da política econômica brasileira.
Em seu lançamento, em 2007, o PAC foi apresentado como um projeto baseado no
incentivo ao desenvolvimento regional e, conforme a então ministra Chefe da Casa Civil
Dilma Roussef, o PAC propunha uma distribuição de investimentos nas diferentes regiões
brasileiras, que tornaria possível eliminar os gargalos referentes à infraestrutura que
atrasavam o crescimento da nação (ROUSSEFF, 2007).
Segundo Castro (2011), com a implantação do PAC, o governo passou a adotar uma
política econômica baseada na teoria pós-Keynesiana. Para isso, utilizou-se do investimento
de empresas estatais e da liberação de recursos públicos para projetos de infraestrutura, tendo
como intenção o incentivo a novos investimentos privados, para induzir o crescimento do
país. Uma característica macroeconômica importante foi o foco em setores de infraestrutura,
com projetos que afetavam, diretamente, a formação bruta de capital fixo e poderiam gerar
um efeito multiplicador muito elevado, no que diz respeito à indução de investimento privado.
Chacon (2012), destaca que o PAC teve uma adequada centralização na melhoria da
infraestrutura, especialmente nos setores de habitação e saneamento, considerados como
elementos essenciais para gerar crescimento. Isto porque, ações que geram incentivo ao setor
da construção civil tendem a revelar um efeito positivo nos níveis de emprego, especialmente
pelas características do setor, que costuma dar uma rápida resposta aos investimentos e é
grande gerador de empregos diretos e indiretos.
Pego e Neto (2008) destacam que o Programa foi criado com o objetivo de criar
condições macro setoriais para o crescimento do Brasil, promovendo: aceleração do
crescimento econômico, aumento do emprego e melhoria das condições de vida da população
brasileira. Isto ocorreria por meio de três medidas: incentivo ao investimento privado,
aumento do investimento público em infraestrutura e remoção de obstáculos burocráticos,
administrativos, normativos, jurídicos e legislativos ao crescimento.
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Para alcançar suas aspirações, as medidas do PAC estavam organizadas em cinco


blocos: Investimento em infraestrutura; Estímulo ao crédito e ao financiamento; Melhora no
ambiente de investimento; Desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário; Medidas
fiscais de longo prazo.
Com o investimento em infraestrutura, o programa visava minimizar os pontos de
estrangulamento que limitam o crescimento da economia, bem como reduzir os custos,
aumentar a produtividades e o investimento das empresas do setor privado. Havia, ainda, a
expectativa de reduzir as desigualdades regionais (BRASIL, 2015).
O investimento em infraestrutura estava esquematizado de modo a atingir os seguintes
setores: logística (melhoria e construção de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e
hidrovias); energia (geração e transmissão de energia elétrica, produção e extração de petróleo
e gás natural e produção de combustíveis renováveis); infraestrutura social e urbana (melhoria
das condições de saneamento, habitação e transporte urbano; criação do programa “Luz para
Todos”; aumento da oferta de recursos hídricos) (BRASIL, 2015).
Na área de logística o foco era o aumento da eficiência produtiva em setores
consolidados; a indução ao desenvolvimento em áreas de expansão de fronteira agrícola e
mineral; a redução de desigualdades regionais em áreas deprimidas; e a integração regional
Sul-Americana. No setor energético, a expansão da capacidade era o ponto primordial, pois
em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) foram criados mecanismos
para incentivar e facilitar o financiamento em geração e transmissão de energia (BRASIL,
2015).
No eixo de infraestrutura social e urbana, no que diz respeito ao saneamento, o
objetivo era promover o acesso à água, esgoto, lixo e drenagem em todas as moradias,
inclusive nas favelas. O déficit habitacional é alto e, no caso do Brasil, existem 2 tipos de
problemas ligado à habitação: o déficit quantitativo, que diz respeito ao número insuficiente
de moradias; e o déficit quantitativo, que está associado a inadequação de habitações e às
aglomerações subnormais. Nesse sentido, como medida proposta pelo PAC, tinha-se a
urbanização das favelas, inclusive a melhoria de moradias, além do Projeto Minha Casa
Minha Vida, que deveria diminuir o déficit quantitativo (BRASIL,2015).
No que se refere ao transporte urbano é à implantação e adequação que possibilitam a
mobilidade urbana, o projeto Luz para Todos objetivava expandir o número de residências
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com energia elétrica. As ações direcionadas aos recursos hídricos eram, pontualmente:
aumentar a oferta de água para consumo humano, a distribuição equilibrada com priorização
das regiões mais críticas, e a implantação de medidas de revitalização e integração, produção
e distribuição de água bruta, além de projetos de irrigação (BRASIL, 2015).
O desenvolvimento do mercado de crédito é de suma importância para que haja
desenvolvimento econômico e social e seu principal objetivo era aumentar o volume de
financiamento a longo prazo. Nesse casso, a Caixa Econômica Federal entrava como principal
agente econômico no crédito para habitação e saneamento e o BNDES assumia o estímulo aos
investimentos em infraestrutura econômica (BRASIL, 2007d).
As principais medidas para o desenvolvimento do mercado de crédito foram:
concessão, pela União, de recursos para a liberação de crédito que visassem a expansão em
saneamento e habitação; ampliação do limite de crédito do setor público para investimentos
ligados ao saneamento ambiental e habitação; criação do Fundo de Investimento em
Infraestrutura do FGTS e elevação da liquidez do Fundo de Arrendamento Residencial
(BRASIL, 2015).
O aumento do investimento dependia, essencialmente, do marco regulatório e do
ambiente de negócios e, no PAC, previa-se medidas voltadas para estimular o surgimento
deste ambiente, tais como: medidas destinadas a agilizar e facilitar a implementação de
investimentos em infraestrutura; medidas de aperfeiçoamento do marco regulatório e do
sistema de defesa da concorrência, além do incentivo à recriação da Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE) (BRASIL, 2015).
Além do exposto, salienta-se que o investimento brasileiro advém, em grande parte, do
setor privado e medidas como o aperfeiçoamento do sistema tributário e a desoneração
tributária seriam importantes para determinação do nível de investimento. O PAC incluía
diversas medidas de desoneração tributária, combinadas com ações de modernização e
agilização da administração tributária. Pontualmente, as desonerações levariam ao estímulo
do investimento na construção civil e ao aumento na aquisição de bens de capital, bem como à
promoção do desenvolvimento tecnológico nos setores da TV digital e de semicondutores.
Buscava-se, ainda, a formalização e o incentivo ao crescimento das micro e pequenas
empresas. As medidas de aperfeiçoamento da administração tributária visavam reduzir a
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burocracia, assim como modernizar e racionalizar a arrecadação de impostos e contribuições


(BRASIL, 2015).
No conjunto de ações implantadas para desoneração do sistema tributário propunha-se:
a recuperação acelerada dos créditos do PIS/COFINS em edificações; a desoneração de obras
de infraestrutura, a desoneração dos Fundos de Investimento de Infraestrutura; o programa de
incentivo ao setor da TV digital (isenção do IPI, PIS/COFINS e CIDE)i; o programa de
incentivo ao setor de semicondutores; aumento da desoneração para a produção de
microcomputadores e na compra de perfis de aço (BRASIL, 2015).
Na teoria keynesiana, a política fiscal é um dos pilares que sustentam o crescimento
econômico. O PAC possuía medidas direcionadas à sustentabilidade fiscal de longo prazo, ao
aperfeiçoamento da gestão pública, ao controle dos gastos internos, à criação de uma política
de valorização do salário mínimo, de longo prazo, bem como à instituição do Fórum Nacional
da Previdência Social (SANTOS, 2011). O Governo Federal assumia, com a implantação do
programa, o compromisso de tornar o país mais competitivo, via aumento de investimento
público e privado, elevação do nível de emprego e diminuição das desigualdades sociais e
regionais. Segundo o 6º balanço do PAC, a geração de emprego formal, graças às obras de
infraestrutura, aumentou em média 7,3%, de 2011 a 2012 (BRASIL, 2013c).
De acordo com 11º balanço do PAC, divulgado em outubro de 2010, a economia
cresceu, em média, 4,6% a.a. entre 2007 e 2010. De acordo com Santos (2013), nos anos de
2011 a 2013, o crescimento do PIB foi da ordem de 2,0% a.a.. No ano de 2010, de acordo
com o Governo Federal, o PAC foi importante para o enfrentamento da crise internacional,
pois apesar de muitos países desenvolvidos estarem apresentando taxa de crescimento
negativa, no Brasil ocorreu a expansão da formação bruta de capital fixo, progressivamente, o
que comprovava a elevação do nível de investimento do país (BRASIL, 2014b).
Os resultados do programa “Minha Casa Minha Vida” foram destacados no 11º
Balanço do PAC, entendendo-se que este programa constituiu um substancial incentivo à
economia, graças ao aumento da produção no setor da construção civil, o que elevou o nível
de emprego naquele setor. O crédito imobiliário também foi um dos responsáveis pelos bons
resultados do PAC 1 (BRASIL, 2014a).
Segundo o 6º balanço do PAC 2, divulgado em junho de 2014, já foram realizadas
95,5% das ações previstas para 2011-2014. A geração de emprego, principalmente nos setores
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diretamente ligados à área de infraestrutura, cresceu o dobro do emprego total do país, desde o
lançamento do programa em 2007. A renda do trabalhador ligado a projetos relacionados à
infraestrutura elevou-se em 10,4%, em termos reais (BRASIL, 2013c).
Segundo Mondenesi et al. (2013) a política econômica brasileira teve sua rota
delineada por rumos diferentes a partir de 2007, aproximando-se assim das formulações pós-
keynesianas. Os primeiros sinais desta transformação estariam na reorientação da política
fiscal, via aumento dos investimentos públicos, estimulado pelo PAC. Aliás, a mudança nas
políticas fiscais revela um esforço do Estado no sentido de estimular o crescimento do nível
de emprego e o crescimento da economia. Porém, as mudanças propostas na política
econômica caracterizaram-se por serem um tanto embrionárias, parciais e limitadas, o que
distanciava as iniciativas governamentais da ideologia Keynesiana inicialmente proposta.

3 Metodologia e dados

Para analisar os desdobramentos do investimento do PAC no setor da Construção


Civil, será feita uma análise estatística descritiva dos dados disponibilizados pela Pesquisa
Anual da Construção Civil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
As informações disponibilizadas por esta pesquisa serão avaliadas levando-se em
conta as subdivisões 41, 42 e 43, da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE).
Cada uma destas seções demonstra em maior ou menor grau, as influências dos investimentos
diretos e indiretos do PAC.
A seção 41 compreende as construções de maneira geral, especificamente a construção
de empreendimentos e incorporações imobiliárias, tais como imóveis residenciais, comerciais,
industriais, agropecuários e públicos (IBGE, 2014). Deste modo esta seção demonstra,
principalmente as influências das medidas ligadas ao enfretamento do déficit habitacional
adotadas no PAC, que faz parte do eixo de infraestrutura social e urbana. Capta-se, também, o
aquecimento do setor como um todo, visto que as medidas do PAC além de gerar crescimento
direto através de construção de moradias e infraestrutura, gerou também o estimulo ao
investimento privado no setor graças a expansão e acessibilidade ao crédito.

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A seção 42 compreende as obras de infraestrutura como um todo, tais como


construção e manutenção de rodovias, aeroportos, portos, metrôs, sistemas de irrigação, rede
de água e esgoto, eletricidade, gasodutos, minerodutos, instalações esportivas entre outras
(IBGE, 2014). A seção 42 demonstra a influência direta dos investimentos do PAC no setor
de Construção Civil, pois reflete a situação das empresas e empresários envolvidos
diretamente com o objetivo central do programa, que é o investimento em infraestrutura.
A divisão 43 refere-se à preparação do terreno para construção, à instalação de
materiais e equipamentos necessários ao funcionamento do imóvel e às obras de acabamento
(IBGE, 2014). Sendo assim, as variações desta divisão estão relacionadas com o início e
término das obras descritas nas divisões anteriores e podem ter sofrido a influência dos
investimentos realizados no setor da construção civil, devido à influência do PAC.

3 O Setor da Construção Civil

Canteiros de obras espalhados por todo lugar, mão de obra cada vez mais escassa,
pressão sobre o nível salarial, aumento gradativo no preço do insumo, estes são sinais
indiscutíveis que o setor da construção civil vem passando por um crescimento elevado nos
últimos anos, após um longo período de estagnação (ARAUJO JUNIOR; NOGUEIRA E
SHIKIDA, 2012).
Segundo Teixeira e Carvalho (2006) a construção civil é o setor que complementa a
base produtiva e cria externalidades positivas, seu crescimento aumenta a produtividade dos
fatores e aquece a iniciativa privada. Assim, o setor tem grande importância estratégica para a
sustentação do desenvolvimento econômico e social. O setor é considerado de importância
estratégica pelo seu tamanho e impacto na economia, devido a seus encadeamentos para
frente e para trás e sua importância indireta e induzida para o crescimento.
Com a implantação do PAC ocorreu um grande incentivo a indústria da construção
civil, ocorrendo, portanto, influencias em variáveis muito importantes da economia como
renda e demanda por mão de obra. A construção civil tem um importante papel na inclusão
no mercado de trabalho de indivíduos com baixa escolaridade. Assim, gerar emprego no
canteiro de obra é gerar renda para as classes D e C da sociedade. Empregar desde o

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analfabeto ao pós-doutor faz a indústria da construção civil ser o mais democrático dos
setores da economia.
De acordo com Miranda (2011), a indústria da construção civil não teve um “boom”
de crescimento, pois a palavra “boom” sugere um crescimento rápido e repentino. O
crescimento do setor não teve natureza especulativa, mas sim ocorreu graças a mudanças
institucionais e da própria evolução do cenário macroeconômico recente. Entre as
particularidades do setor da construção civil, está sua capacidade de crescimento mesmo que
pequena, independentemente da política econômica, mas também está no fato deste setor ser
um instrumento importante na implantação de tais políticas, pois estímulos a ele direcionados
são capazes de gerar crescimento no nível e distribuição de renda (GHINIS, 2011).
De acordo com Ghinis (2011), o dinamismo do setor está ligado, principalmente, à
oferta de mão obra a indivíduos de baixa escolaridade, que têm um nível de renda mais baixo.
Neri (2011) destaca que o crescimento do setor da construção civil, nos últimos anos, trouxe
um problema do lado da oferta de mão de obra, tanto no âmbito quantitativo como no
qualitativo.
O PAC e seus investimentos em infraestrutura, é entendido como um reconhecimento
do setor da construção civil na condição de uma peça fundamental para o desenvolvimento
econômico, bem como em relação a seu papel como propulsor para o PIB. O Presidente do
Sinduscon-SP, João Cláudio Robusti, afirma que a construção civil é a “mola para o
crescimento” e o PAC tem como um dos focos principais a melhora e instalação de
infraestrutura, o que faz com que seus investimentos e ações sejam quase que exclusivamente
voltados ao setor da construção civil (DIAS, 2007).
Dias (2007) referiu-se, ainda, à observação de Paulo Safady Simão, presidente da
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destacando que o PAC não é um plano
de desenvolvimento e sim um plano de obras, que aquece setores vitais da economia e este
incentivo seria capaz de levar ao desenvolvimento da economia. De acordo com o CBIC
(2010) a expansão de abertura de empresas formais elevou a qualidade do setor da construção
civil, o PIB setorial foi fortalecido, as condições de trabalho melhoraram com a formalidade e
a arrecadação de impostos cresceu. O aumento de investimentos em um setor específico,
devido à implantação de políticas públicas que geram investimento público e privado,
estimula a mercado, fazendo com que ocorra um aumento de demanda de novas empresas.
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No gráfico 1 tem-se o número de empresas ativas nas 3 seções do setor da construção


civil, de 2007 a 2012. Observa-se um aumento de 97,35% quando se compara o número de
empresas ativas entre 2007 e 2010. De 2010 a 2012 a expansão manteve-se em um ritmo
ainda mais acelerado, sendo que o crescimento maior foi observado entre as empresas da
seção 43. Segundo Cardoso (2013), existe uma segmentação expressiva do processo
produtivo da construção, fazendo com que inúmeras empresas possam entrar no mercado
exercendo atividades pontuais. As atividades da seção 43 atendem a todas as atividades do
setor da construção civil, mostrando, portanto, que o crescimento dos investimentos do PAC
contribui para a entrada de empresas fornecedoras de serviços para o setor.

Gráfico 1: Número de Empresas Ativas nas três seções do setor da construção civil – 2007 a 2012

Fonte: Pesquisa Anual da Construção Civil/IBGE

Ao analisar o número de empresas ativas da Seção 43 (Gráfico 2), o crescimento mais


expressivo é encontrado no número de empresas com menos de 29 empregados, o que
representa o surgimento de micro e pequenas empresas, o que caracteriza a um acesso
importante a uma renda mais elevada de diversos trabalhadores já inseridos no setor. Tal
situação é característica do setor da construção civil, devido ao baixo custo de investimentos
em infraestrutura para abertura de uma nova empresa. Isto ocorre porque, em quase sua
totalidade, a relação de trabalho é de prestação de serviços.

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Gráfico 2: Número de Empresas da Seção 43, do setor da Construção Civil – 2007 a 2012.

Fonte: Pesquisa Anual da Construção Civil/IBGE

Em 2012, o valor adicionado gerado no setor da construção civil foi de,


aproximadamente R$ 160 milhões (Gráfico 3). Tal valor teve um aumento de 154%, se
comparado com 2007, o que reflete a efetividade dos investimentos realizados no período. De
acordo com o IBGE (2014) as medidas anticíclicas foram as principais responsáveis para o
aumento da receita do setor, podendo-se destacar: a desoneração do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) na linha de materiais de construção; o aumento dos investimentos
via BNDES; a expansão do crédito imobiliário e os investimentos do PAC.
Com o PAC, o Estado não foi apenas um formulador de política econômica, mas o
responsável pela construção social do mercado de trabalho. Segundo Jardim (2014), o Estado
não somente investiu, mas também “convenceu” a iniciativa privada e os agentes econômicos
a investirem.
O setor da construção civil é intensivo em mão de obra, principalmente a não
qualificada. De acordo com o Gráfico 4, em 2007, o número de trabalhadores formais na
construção civil estava em 1.575.883 pessoas e passou para 2.814.269 indivíduos em 2012,
tendo-se observado um crescimento de 78,58% ao longo do período. O crescimento do
emprego formal é importante para o ambiente de trabalho e o aumento da arrecadação. Este
resultado corrobora com as discussões anteriores, demostrando que os investimentos do PAC

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influenciaram diretamente no nível de atividade econômica, bem como na evolução do setor


da Construção Civil.

Gráfico 3: Valor Adicionado das três seções do setor da Construção Civil (em R$) – 2007 a 2012

Fonte: Pesquisa Anual da Construção Civil/IBGE

Gráfico 4: Pessoal ocupado em 31/12 no Setor da Construção Civil – 2007 a 2012 (Empresas Formais)

Fonte: Pesquisa Anual da Construção Civil/IBGE

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4 Considerações Finais

O PAC surgiu como uma política voltada, essencialmente, para combater a falta de
infraestrutura e o déficit habitacional quantitativo e qualitativo brasileiro. Com isso, o efeito
imediato com o início do programa foi o aquecimento e crescimento do setor da construção
civil. O presente trabalho demostrou esse crescimento através da análise dos dados da
Pesquisa Anual da Construção Civil.
O crescimento da construção civil gera um efeito em cadeia não observado em outros
setores, como o acesso a renda e emprego para população mais humilde e com baixa
escolaridade, o crescimento de subsetores que fornecem insumos para o setor e o crescimento
de micro e pequena empresas, levando à acessão econômica dos indivíduos ligados a
atividade. Pode-se, assim, dizer que o estímulo ao setor é benéfico para a economia como um
todo e pode ser utilizado como ferramenta de política econômica.

Referências

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