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Aula 6 Idolatrias e Milenarismos - Ronaldo Vainfas PDF
Aula 6 Idolatrias e Milenarismos - Ronaldo Vainfas PDF
LENARISMOS:
a resistência indígena nas
Américas
Ronaldo Vainfas
que foi opoder secular o responsável pelas tica das 'visões de mundo', das mentalida
visitas, a exemplo do Peru nos anos 1570, des, dos sistemas intelectuais, das estrutu
cujo terrilÓrio foi objeto de uma "visita ras simbólicas, mas considerar também as
general" ordenada pelo vice-rei Toledo, práticas, as expressões materiais e afetivas
Cristóbal Albornoz foi o encarregado de de que ela é totalmente indissociável"?
chefiá-Ia, "antes de tudo para extirpar a Gruzinski considera, assim, O embate
idolatria e liquidar a religião popular", E entre extirpadores e idólatras no pós<on
nada disso é de surpreender, lembrando-se quista não apenas como um confronto en
a estreita união então existente entre Mo tre "duas religiões", senão como expressão
narquia e Igreja no mundo ibérico ou, co de um conflito cultural o mais amplo pos
mo disse Boxer, "a aliança estreita e indis sível. Conflito que entrelaçava os domí
solúvel entre a Cruz e a Coroa, o trono e o nios religioso, afetivo, político, ético, ma
altar, a Fé e o Império"? terial, cotidiano, e no qual a idolatria ten
Perseguida implacavelmente pelos vi deu forçosamente a recuar, alojando-se nos
ce-reis e arcebispos, identificada com pac interstícios da sociedade colonial, despoja
tos diabólicos ou, quando menos, com su da pelo colonialismo cristão do controle
perstições pagãs, as idolatrias pareciam es integral, outrora incontestável, do espaço e
palhadas por toda a América, a corroer, do tempo.
para desespero dos colonizadores, a ordem Adotando a concepção de idolatria en
social e espiritual imposta pela conquista. quanto manifestação global de resistência
Assim, se foram os europeus que rotula cultural indígena, desenvolvi recentemen
ram de "idolatrias" as atitudes indígenas de te um esboço de classificação dessas ma
apego às suas tradiÇÕes - reiterando com nifestações idolátricas no mundo ibero
isso o estigma judaico<ristão lançado con americano, levando em conta sua morfolo
tra os "cultos gentios" - nem por isso se gia específica e as relações que mantive
deve abandonar o uso daquela expressão ram com a sociedade inclusiva. Da aplica
que, de tndo modo, encarnou a mais pro ção dos critérios acima decorreram dois
funda resistência nativa à ação deletéria do grandes tipos de idolatria, a saber: 1) ido
colonialismo. latrias ajustadas e 2) idolatrias insurgen-
4
Foi Serge Gruzinski quem, estudando o teso .
México colonial em obra recente, desen
volveu o conceito de idolatria articulado à
idéia de resistência. Antes de tudo utilizou
a express.ío para caracterizar, de fonna
abrangente, o universo cultural nativo, isto 11. Idolatrias ajustadas
é, o domínio de suas relações com o real.
"A idolatria pré-hispânica - a firmou - an Falar em idolal7ins ajustadas significa
tes d e s e r uma expressão 'religiosa', tradu referir atitudes que muito se aproximam
zia uma aproximação especificamente in das descritas por Gruzinski no México dos
dígena do mundo"; Utecia uma rede densa primeims séculos colOlúais. Refiro-me às
e coerente, consciente ou não, implícita ou práticas em que o indígena mostrava-se
explícita de práticas e saberes nos quais se apegado ao passado e à tradição sem desa
inscrevia e se desenvolvia a totalidade do fiar frontalmente quer a exploração colo
cotidiano C...). Falar de idolatria é também nial, quer o primado do cristianismo. Re
tentar - através da referência à materiali sistência cotidiana, portanto, que buscava
,
que não vê; deve ser impotente, visto que a pe&Soa de Fernão Cabral - ardiloso &e
não consegue arrancar-te às nossas mãos." nhor que parece ter atraído a seita para os
No Guairá, apesar da evangelização inten seus domínios com o fito de aumentar o
siva, a idolatria seguia fume, hostilizando &eu contingente de mão-de-obra nativa,
os jesuítas e incentivando o retomo às tra embora alega..se tê-lo feito para destruir a
dições guarani, inclusive a veneração dos ...ntidade de vez. Foi, aliás, por ter sido
ossos dos grandes xamanes.' deva&sada a posteriori pela Inquisição que
O lllumo se pode dizer do Brasil qui a Santidade de Jaguaripe dispõe boje de
nhentista, onde parece ter havido eslreita numerosas fontes para o seu estudo, docu
conexão entre a pregação dos "caraíbas" e mentação inexistente para as demais "... n
as rebeliões tupinambá contra engenhos e tidades" do Brasil quinhentista.8
mi..,ões do litoral. Às pregações xalllatÚS Pregação xamanística e guerra antico
ticas no Brasil os jesuítas deram o nome de lonialista não se combinaram, porém, so
IIsantidades", aludindo ao uespírito de san mente nas posse&Sões ibéricas da América,
tidade" que os pregadores indígenas di mas em diversas regiões do 'Novo Mundo,
ziam encarnar quando, em transe, exorta onde quer que houv=e contatos entre eu-
vam os índios para que ataca&sem os por
ropeus e índios. E o que se pode petceber,
•
prom= de que ali os índios teriam apoio certeza, a maior rebelião indígena da Amé
ram a propor ou estimular soluções arma razão pela qual o movimento foi persegui
das contra o estrangeiro. do e suas lideran� aprisionadas a mando
Assim ocorreu com as pregações de do vice-rei Toledo.u
Martin Ocelotl, no México dos anos 1530. . O breve painel das idolatrias que cha
Nascido em 1496, Ocelotl fora dos raros a mei de insurgentes parece confirmar a ne
escapar da matança ordenada por Monte cessidade de distinguir as formas pulveri
zuma, em 1519, contra os adivinhos do zadas de resistência daquelas sectárias, do
palácio que previram a queda do tlatoa"i tadas de uma estrutura organizativa mais
asteca diante dos "branros barbudos" que consistente e não raro desafiadora da or
se acercavam de Tenochtitlán. Depois da dem colonialista. Ajustadas ou insurgen
conquista, batizado Martin, dedicou-se ao tes, é certo que ambas as formas de idola
comércio e à agricultura, pois era homem tria contrariavam as expectativas do colo
de algumas posses, c manteve suas ativi nialismo, mas o faziam de modo diferente.
dades de "curandeiro e adivinho", sendo Por outro lado, o conteúdo das pregações
muito requisitado por certos membros da que animavam esses movimentos sectá
•
aristocracia indígena cooptada pelos espa rios, bem como sua morfologia específica,
nhóis. Martin Ocelotl, homem afamado pennite avançar a reflexão e introdu2ir a
por seus saberes idolátricos, talvez não problemática dos "milenarismos indíge
passasse de mais um entre tantos '�conju nas", Pois, de um modo ou de outro, as
radores" discretos que vimos marcar as idolatrias insurgentes caminharam no sen
idolatrias ajustadas, não fossem as nume tido de (re)instaurar uma nova ordem e um
rosas denúncias que lhe foram movidas por novo tempo em quase tudo opostos ao
pregar ostensivamente contra a fé católica. colonialismo europeu.
Segundo elas, Martin teimava em executar
antigos ritos proscritos pela Igreja, reunin
do vários adeptos, entre os quais alguns
"caciques" muito operosos parn o funcio
namento da ordem colonial. Foi, por isso, IV, Da idolatria ao milenarismo
julgado pelo bispo Zumárraga, que dispu
nha de poderes inquisitoriais e desterrado É de lodo impossível falar de "milena
�
na Nova Espanha, em 1537. o rismoH sem abordar o conceito de mito,
Mais abrangente do que a "seita" de sobre o que há farta literatura antropológi
Ocelotl foi o movimento peruano de Taqui ca. Convém evitar, no entanto, nos limites
Ongoy, cujo apogeu verificou-se na década de um artigo, prolongar em demasia essa
de �560. Difundido em várias províncias discussão, razão pela qual opla-se, aqui,
do Peru Cenlral através da pregação de pela definição de Mircea Eliade, talvez a
xamanes liderados por um certo Juan "menos imperreita, po r ser a mais lata": o
Chocne, o Thqui Ongoy anunciava a imi mito "conta uma História sagrada, relata
nente derrota do deus cristão dianle das um acontecimento que teve lugar no tempo
divindades ancestrais peruanas. Foi, sem primordial, o tempo fabuloso dos come
dúvida, um movimento pacífico, uma re ços"Y
sistência surda à ação da Igreja e à explo História sagrada, o mito é também, diz
ração colonial no Peru quinhentista. No Eliadc, a "história verdadeira" dos povos
entanto, as possíveis ligações entre o Taqui arcaicos, sempre protagonizada por seres
Ongoy e a resistência armada dos incas de sobrenaturais e referida a uma "criação do
Vilcos, governados por TIto CUsi, desper mundo", à t'origem das coisas e/ou da hu
taram a sanha das autoridades coloniais, manidade", Para o homem das sociedades
lOOLA.TRlAS E MOENARISM OS 35
que Eliade chama de arcaicas, aquilo que não obstante ancorados nas tradições pré
se passou ab origiJle "é suscetível de se coloniais, tais movimentos se deixaram
repetir pclo poder dos ritos". Ritualizar o impregnar, em graus variáveis, de elemen
mito é portanto (re)vivê-lo, "no sentido em tos ocidentais e cristãos. É novamente
que se fica imbuído da força sagrada e Eliade quem fornece um roteiro útil de
exallante dos acontecimentos evocados re questões para a reflexão sobre o que chama
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atualizados". de "milenarismos primitivos" -o qual será
Os milenarismos, que obviamente su doravante adotado como guia das collSide
1S
põem ritos de renovação, alicerçam-se, de rações que se seguem.
um lado, nestes "mitos de origem", que
pcnnitem reviver o tempo do sagrado (o 1.Os movime/Uos mile/laristos podem
tempo verdadeiro dos heróis). e de outro, ser cOlISiderados como 11m dese/lvolvi
nos mitos escatológicos que fazem do "fun me/Uo do cellório mítico ritual da re/lova
do mundo" o prelúdio da recriação. Trata-se ção do mUllda
da crença no "eterno retomo" ou na "per
feição dos primórdios", característica uni A expectativa da renovação do mundo é
versal de todos os milenarismos, com a um traço presente em quase todos os mile
exceção, ainda assim parcial, do milenaris narismos anticolonialistas de que se tem
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mo judaico-cristão. InscriL1 na lógica do notícia. A expulsão ou matança do eumpcu
tempo cíclico, a estrutura dos milenarismos tendeu a se confundir com o advento de
supõe que o "fim do mundo já aconteceu, uma nova era, entendido também como
embora deva reproduzir-se num futuro eterno retomo a uma idade primordial, e
mais ou menos próximo", de Salte que a não raro a conquista européia foi pcnsada e
previsão apocalíptica implica necessa ria classificada como momento de inflexão ou
mente a indicação do "recomeço". prenúncio deste roteiro cíelico.
É nesse contexto que se podem inserir No caso exemplar do México, a COSIUO
as pregaçôes que tiveram lugar na Améria, gonia nahuall indicava que a humanidade
após a conquista, ela mesma vista simulL1- havia vivido, sucumbido e renascido, su
ncamente como apocalíptica e preconi71l cessivamente, durante quatro eras (ou
dora da renovação do mundo. A ruú,a das sóis), cada qual governada por um elemen
tradiçôes e do modur vivelldi indígena foi to natural. Na primeira era, regida pcla
capaz de alimentar, nas mais variacL1S cul Terra, os homens teria m sido devorados
turas ameríndias, a crença na proximidade por jaguares- o animal-símbolo desta ida
do retomo às origens e a uma era primor de primordial-, para renascerem intactos,
dial. No caso das idolatrias insurgentes, na era do Vento, ao fim da qual sucumbi
que ritualizavam de vários modos o mile riam molestados por fortíssima tempesta
narismo ameríndio, cosmogonia e escato de mágica (um vendaval) e se veriam
logia prolongavam-se uma na outra, adqui transformados em macacos. Renascidos
rindo uma dinãmica de resistência cultural. no terceiro sol-a era do Fogo-pcreceriam
uma vez mais, desta feita no incêndio per
petrado pclo raio de TIaloe, transfonn"n
do- se aioda em pássaros, para ressurgirem
no quarto sol- e era da Agua, enfim des
V. Milenarismos indígenas truída por um dilúvio de 52 anos e pcla
metamorfose dos homens em pcixes. O
A morfologia dos milenarismos indíge quinto sol, tempo em que os mexicanos
nas afigurou-se sobremodo complexa, pois acreditavam viver quando encontraram
•
vés do maracá - diziam ser a encamaçao nas pregaÇÕC5 indígenas sobre o fun do
dos ancestrais, incumbidos de guiar seu mundo.
povo para uma nova era, tempo de abun Em certos casos, a influência da escato
dâocia e paz, que se confundia, no ""so, logia cristã não parece provável, ao menos
com um espaço específico: a "terra sem enquanto força decisiva da pregação xa
mal". O ""so exemplar é, sem dúvida, o manística. Em Martin Oceloll, por exem
caraíba da Santidade de Jaguaripe, cujo plo, o prenúncio de um "novo sol", bem
nome de batismo era Antônio, mas que como a presença do jaguar nos atributos
denominava a si mesmo de Tamanduare, dos mensageiros que comunicaram ao
dizendo que escapara do dilúvio metido no xamã a iminência do cataclisma cósmico,
olho de uma palmeira... Caraíba-mor da dizem mais respeito à era primordial da
santidade, exortava os índios para que o cosmogonia nabuatl do que ao apocalipse
seguissem, anunciando para breve um cristão, não obst.1ntc Marti n tenha passado
tempo em que os frutos cresceriam por si pelas miios dos franciscanos e recebido
na terra e as Oecbas caçariam sozinhas no alguns ensinamentos cristãos. O que so
mato. Antônio (ou Tamanduare revivido) bressai, no entanto, é a releitura que Oce-
pregava, sem dúvida, a renovação do mun 1011 fez de sua experiência com os francis
do e o retomo a uma era primordial: tempo canos, aos quais atribuiu o papel de "mons
que excluiria os portugueses, a catequese e tros devoradores" de tudo quanto havia
a escravidão. naquele tempo decadente. Assim como na
Seria possível, de fato, multiplicar ad cosmogonia tradicional teriam sido os ja
injiniJum os exemplos comprobatórios guares a pôr fim no ciclo de que eram
desses movimentos que enunciavam sua símbolo, em Ocelotl seriam os frades, me
resistêocia ao colonialismo nos termos de tamorfoseados em jaguares, os responsá
uma volta ao passado mítico, à inaugura veis pelo fim do "sol franciscano".
ção de um novo ciclo temporal. Mas creio Também no Taqui Ongoy o que parece
que esses poucos exemplos bastam para prevalecer claramente é a cosmogonia e a
ilustrar as concepções de tempo presentes escatologia tradicional dos peruanos. O
nos mílenarismos indígenas. E para confir fim do mundo se identificava com a ressur
mar e generalizar uma certa afinnaç.ão de reição dos antigos deuses ancestrais, no
Todorov segundo a qual, para os índios, "a caso as /ruacas, que, lidemdas pelas de
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profecia é memória". Pachacamac e de Títicaca, combateriam e
dorrotariam o deus crist.10 no ar. Não resta
2. A illfluência, direta ou indireta, lÚ1 dúvida queo Taqui Ongloy prenunciou um
escatologia cristã parece quase sempre novo tempo que não correspondia a ncnhu
úufubitáve/ ,na das eras anteriores da cosmogonia an
tiga do Peru. Não preconizou o retomo do
Eis um traço de dificílima comprova Sol ou do Inca, nem manteve a divisão
ção, seja porque as fontes acerca destes quatripartida do Tawa1llinsuyo, substituin
movimentos procedem majoritariamente do os primeiros pelas atividades ancestrais,
de agentes colonialislas, seja porque, de e a segunda pela dualidade costa/serra -
fato, as culturas indígenas estavam já em expressa na liderança mágica da dupla Pa
contato com o cristianismo europeu, e por chacamacmticaca. Mas nada disso penni
tanto, penneáveis aos valores ocidentais. te afmnar qualquer influência da escatolo
Além do mais, penso que só uma pesquisa gia cristã.
caso a caso seria capaz de elucidar a maior Há, no entanto, numerosos indícios de
ou menor presença da escatologia cristã que o cristianismo penetrara no universo
38 ESllJOOS IUSTÓRlCDS - 1992JJ
curandeiro. profetizava secas. Oceloll. seu nomes de santas católicas. Vários desses
nome indígena. significava jaguar: o ele líderes haviam passado pelas mãos dos
mento símbolo da era primordial na cos missionários, e absorvido, quando menos,
mogonia nabuatl; uma das fonuas de Tez os rudimentos da fé cristã. E o que dizer de
callipoca. o deus dos guerreiros astecas. Lago BeUo - o profeta Ú1dio dos senecas
luan Chocne fora Kuraca (chefe al na América do Norte setecentista - que
deão) no Peru Central. antes de tornar-se o pregava em nome de um deus comum a
líder espiritual do Taqui Ongoy. Alegava brancos e Ú1dios?
possuir o extraordinário poder de encarn.1r "Messias contra Messias": a expressão
as huacas (fato novo na religião andina). é de Maxime Haubert, e parece resumir
ser portador de espíritos que "ninguém era muito bem a luta dos xamãs ameríndios
capaz de ver'·. Chocne também dizia ser que. armal. eram homens-deuses extasia
capaz de metamorfosear-se e. a exemplo dos, que às vezes podiam voar...
das buacas. transportar-se de um lugar para
outro no ar. Como guia dos índios nesta 5. Para todos estes movimentos, o mi·
luta pela ressurreição dos antigos deuses. Iêllio está imillente, mas não será illStau
o xamã .do Taqui Ongoy advertia a todos rodo sem cataclismos cósmicos ou catás
que. se não o seguissem. seriam excluídos trofes históricas
da "nova era" - intimidação aliás genera
lizada em todos os milenarismos indíge Ultima característica. de que os milena
,
gava, como se disse, que o usol fraocisca portugueses ern trágico: seriam expulsos
no" estava no fim. Exortava os índios para da \erra, mortos, ou escravizados pelos
que o seguissem, tanto "caciques" como Ú1dios. A própria Santidade de Jaguaripe,
macehuales (camponeses), pois somente não obstante ter se instalado nos domínios
os que retomassem às tradições se pode de um senhor de engenho colonial - quem
riam salvar ou renascer. Para apre'5S3r a sabe na esperança vã de (re)encontrar o
"nova era", chegou a ordenar que seu ir parnrso tupi nas bandas do mar -, não
mão, Mixcoatl, recolhesse 3.600 pontas de deixou de ser um foco de rebeliões e fugas
flecha para combater os cristãos numa em todo o recôncavo baiano. Assim a vi
guerra mágica, ao que parece, pois Ocelotl ram, pelo menos, os potentados da Bahia,
jamais urdiu uma batalha em campo aberto à exceção de Femão Cabral, quando exigi
contra o espanhol. rnm do governador a destruição da igreja
Noutros casos, especialmente nas re de Jaguaripe. Assim pensou o próprio go
giões de fronteira, a expectativa da renova vernador Manuel Teles Barreto quando a
ção do mundo enveredou francamente pa dermiu, em 1586, como "raiz de que os
ra a luta armada, a escatologia se confundiu ramos arrebentava� e parn onde fugiam
com a "catástrofe histórica" deque nos fala todos esses índios".
Eliade. Foi o caso da rebelião liderada por
Tenamaxtle, no norte mexicano, cuja pre
gação dos profetas de "11a101" levou os
índios à destruição de povoados e igrejas •
uma " história linear' -como bem ensinam 1. M. Haubert, A vida quotidiana no Para
os antropólogos. Mas é também certo - guai no tempo dos jesuitas, Lisboa, Edição Li
10. J. Lafaye. Quet",/c",,'1 y Guadalupe. 15. Idem, ib., p. 64. para todos os itens do
Madrid. FCll. 1977. p. 59 e segs.; J. Klor de roteiro de questões.
AJba, "Martin OceJoll: dirigente dei culto c1an
16. J. Soustelle,A civilização asteca. Rio de
deslino (Nueva Espana. sigla XVI)". em David Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1988. p. 7�75; L.
Sweel e Gary B. Nash, Luduz por In su�rviven
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cio DI ltJAmerica Colonial, México. FCE. 1987.
precolombiMs, 10° edición, Madrid, Siglo XXI ,
p. 135-146; S. Gnllinski. Man·Gods in lhe Mi
1980. p. 175 e segs.
.rican Highlatuls. trad. Slanrord University
1'Ies.s. 1989. p. 38 e segs. A principal fonle para 17. A. Métraux, A religião dos tupinambás,
o esludo do caso OceloU é o 'Proceso dei SanlO 21 edição, São Paulo. Companhia Editora Nado
Oficio oootra Marin Ucelo, incHo por idolatria y nal/Edusp. 1979. p. 31 e segs.
hechioero". em Procesos de {ndios. . . • Publica 18. T. Todorov, A conquista da América; a
ciones dei Archi vo General de la Nación. 19 12· questão do outro. São Paulo, Martins Fontes.
1913. p. 17-5 1. 1983. p. 82.
1 1 . L. Millooes, "Un movimienlo nalivista
19. M. Haubert. op.cil.. p. 167.
dei siglo XVI: el Taqui Oogoy", Revista Perua
M de Cultura, Lima, nO 3:134-140, 1964, e 20. A melhor descrição da igreja da Sanlida
"Nuevos aspectos dei Taki Oogoy", Historia de, em Jaguaripe, eoamtra-se em Arquivo Na
Cultura, Lima. nO 1 : 138-140. 1965; P. Duviols, cional da Torre do Tombo (Usboa). 1.L.. proc.
"Religion y represióo eo los Andes eo los siglas 13090.
XVI y XVU . em El etnocidio a través de las
...
21. M. Haubert. op.cil.. p. 164-165.
Americas. México. Siglo XXI 1976, p. 84-94;
,