A leptospirose é uma doença febril aguda causada pela espiroqueta
Leptospira interrogans, com expressiva incidência nos países tropicais como, por exemplo, o Brasil, causando significativo impacto negativo social e econômico. Esta doença acomete praticamente todos os estados brasileiros, sendo considerado um importante problema de saúde pública. As espiroquetas são bactérias, que se subdividem em algumas espécies, como por exemplo: o Treponema (na sífilis), a Borrelia (na doença de Lyme) e a Leptospira (na leptospirose). A "Leptospira" deriva-se do grego lepos (fina) e do latim spira (enrolado). São micro-organismos aeróbicos obrigatórios, helicoidais, flexíveis e móveis, podendo permanecer vivos em solo úmido ou na água por semanas ou meses, mas, sendo necessário um hospedeiro animal para manter seu ciclo vital. Diversas espécies de mamíferos, répteis e anfíbios podem abrigar essa espiroqueta, porém, existe um em especial: os roedores, que representam seu principal reservatório, contribuinte para a disseminação da bactéria na natureza (ENGEL, 2017). Os roedores das espécies Rattus norvegicus (rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) e Mus musculus (camudongo) constituem os principais reservatórios da Leptospira. Ao se infectarem, tais animais não desenvolvem a doença e tornam-se portadores, albergando o germe nos rins, eliminando-o vivo no meio ambiente e contaminando, dessa forma, água, solo e alimentos (ENGEL, 2017). O Rattus norvegicus é o principal portador do sorovar Icterohaemorrhagiae, um dos mais patogênicos para o ser humano. Os outros animais são hospedeiros acidentais, como é o caso do ser humano e de várias outras espécies de mamíferos que se encontram na nossa proximidade (cachorro, gato, cavalo, gado, suíno e ovino). Esses animais podem se infectar de forma assintomática ou desenvolver a doença. Por esse motivo podemos caracterizar a leptospirose como uma autêntica zoonose, isto é, uma doença habitualmente encontrada em animais podendo ser transmitida ao ser humano; assim como o rato, os outros mamíferos infectados também podem eliminar a leptospirose na urina (MS, 2009). A leptospirose é capaz de penetrar por pequenas abrasões cutâneas, através de membranas mucosas (oral, faríngea e conjuntiva) ou pela inalação de gotículas microscópicas. A infecção se dá pelo contato da pele com a urina contaminada (ENGEL, 2017). Segundo Genovez, os casos de leptospirose estão diretamente relacionados a fatores ambientes, como L. interrogans sobrevive em meio úmido ou aquoso, o contato com o solo ou água contaminada em situações de inundações e enchentes torna-se algo comum, por conta da chuva, a urina dos ratos, presentes em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e a lama das enchentes. Qualquer individuo expostas as águas de enchentes pode desenvolver a doença. Os principais surtos de leptospirose ocorrem na estação chuvosa do ano, entre os meses de fevereiro e abril. A segunda circunstância é a concentração de roedores peridomiciliares, facilitando o contato do ser humano com a urina do rato. Dados do Ministério da saúde indicam que cerca de 10.987 casos de leptospirose foram confirmados entre o período dos anos de 2004 a 2006 em todo o país. Para a região Nordeste, na mesma época, foram registrados 2.346 casos, o que representa 21,3% do total de casos nacionais. . Os fatores que favorecem a propagação estar diretamente associado às questões de ordem socioambiental, a falta de infraestrutura sanitária, urbanização, coleta de lixo, precariedade das habitações e a ocupação de áreas de risco sujeitas a inundações. Evidenciam também a relação entre a doença e os fatores socioeconômicos, através da observação da maior incidência da doença nas camadas desfavorecidas da sociedade. Em decorrência do crescimento urbano nas regiões do nordeste, assim como a forma de organização socioespacial urbana, um encadeamento de problemas socioambientais se evidencia principalmente nas áreas onde vivem as populações marginalizadas. Estas, vivendo em condições precárias de habitação, não dispondo de condições financeiras, acabam se abrigando em vazios urbanos, nas margens de lagos e rios, em terrenos baldios e nas áreas de proteção ambiental, gerando espaços de elevada vulnerabilidade socioambiental, fatores esse que favorecem a propagação da leptospirose. Esta doença acomete praticamente todos os estados brasileiros, sendo considerado um importante problema de saúde pública. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento epidemiológico da leptospirose, na região Nordeste do Brasil, através de dados constantes nos relatórios de situação do Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde – MS/SVS até o ano de 2010, de domínio público, em sua página oficial.