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Márcia da Silva Costa

TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico no


entendimento das desigualdades na sociedade brasileira

Márcia da Silva Costa*

Este texto resgata o debate teórico-conceitual que envolve o tema da informalidade, em essên-
cia, aquele das relações de dominação que favoreceram a acumulação capitalista no país. A
partir dos dados da PNAD 2006, também é analisada a distribuição da força de trabalho
ocupada. Quem são os informais e como eles se distribuem? Qual o seu perfil de renda e de
escolaridade? Os achados corroboram os argumentos analíticos que entendem a informalidade
como um problema estrutural básico na sociedade brasileira. Seu crescimento assevera o
quadro histórico de desigualdade e pobreza que marcou seu padrão de desenvolvimento. Ainda
que a economia volte a crescer, haverá um considerável contingente de trabalhadores que, a
menos seja beneficiado com políticas educacionais consistentes, jamais terá a possibilidade de
ser incorporado pela economia regulada.
PALAVRAS-CHAVE: trabalho informal, trabalho precário, desigualdade.

INTRODUÇÃO com uma política de pleno emprego. A constitui-


ção de um mercado formal de trabalho, que, no auge
As instituições do mercado de trabalho no do período de crescimento econômico, a década de
Brasil jamais alcançaram universalmente as mas- 70, atingiu apenas 50% da população economica-
sas trabalhadoras e constituíram um conjunto mente ativa empregada no meio urbano (Pochmann,
muito pobre de direitos. Desde muito cedo, dos 2002, 2006a), conviveu pari passu com a expansão
primórdios da formação de um mercado de traba- de todo um complexo de formas de trabalho infor-
lho livre no país, parcela considerável da popula- mal em pequenas empresas urbanas de fundo de

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ção ativa, sobretudo a de cor, jamais conseguiu se quintal, no campo, e nas inúmeras e precárias for-
incorporar ao mercado de trabalho e, num momento mas de trabalho autônomo e doméstico, cujos pa-
subsequente, já sob os auspícios de uma econo- drões de contratação e assalariamento passavam ao
mia industrial, a regulamentação desse mercado largo da legislação trabalhista e social e de qualquer
deixou também de fora os trabalhadores rurais e possibilidade de representação coletiva.
muitas categorias de trabalhadores urbanos. As Essa realidade se agrava sobremaneira na
mudanças institucionais e econômicas da socie- década de 1990 com as mudanças estruturais na
dade brasileira, nas quatro décadas de crescimen- economia e nas instituições do mercado de traba-
to deslanchadas pela política de substituição de lho. A abertura econômica e as privatizações pres-
importações, concretizaram-se sem lograr ampliar sionaram o processo de reestruturação produtiva
o padrão de renda-consumo e bem-estar da popu- sistêmica, sobretudo no setor secundário, de modo
lação e sem qualquer compromisso mais sólido a afetar não apenas o nível do emprego, mas tam-
bém a sua qualidade, com a flexibilização dos vín-
* Doutora em Sociologia. Professora e Pesquisadora do
Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ad- culos e dos regimes de trabalho. Com o desempre-
ministração da Universidade Federal da Paraíba.
Centro de Ciências Sociais Aplicadas - Campus I. João go em massa, a década de 1990 presenciou a eli-
Pessoa, PB - Brasil. marciakosta@hotmail.com minação de cerca de 3,3 milhões de postos de tra-

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balho formais na economia (Mattoso, 1999), coa- pregados e o contingente do crescimento da PEA
dunada às diversas experiências de subcontratação para os quais a economia não gerou novos postos
(crescimento das pequenas firmas com baixo nível de trabalho? Para a grande maioria dos trabalhado-
de capitalização, trabalho autônomo, cooperativas res demitidos, o desemprego significou a exclusão
de fachada), que foram fatores decisivos no fenô- do mundo dos empregos registrados e legalmente
meno da desestruturação do mercado de trabalho protegidos (Cardoso et al, 2006; Chahad, 2006) e,
e da ampliação da informalidade no país. para muitos dos novos entrantes, sobretudo para
A queda no nível do assalariamento formal os jovens pouco instruídos, a informalidade é o
entre 1980, período de arrefecimento do desempe- horizonte que se abre (Frigotto, 2004; Ramos et al,
nho econômico que pressionou o abandono da 2005; Hasenbalg, 2003; Sanzone, 2003). A popu-
política de substituição de importações, e o ano 2000 lação passou predominantemente a encontrar sua
pode ser visualizada na proporção das ocupações fonte de renda no mercado de trabalho informal,
abertas no período: 57% delas não tinham carteira com suas mais variadas formas de trabalho autô-
de trabalho assinada. No mesmo período, a taxa de nomo, ambulante, temporário, irregular, precário.
precarização do mercado de trabalho, considerada A imagem mais fidedigna do significado desses in-
como a soma das ocupações por conta própria, dos dicadores é aquela do crescimento no período do
sem remuneração e do total dos desempregados, número de trabalhadores nas ruas dos grandes cen-
cresceu de 34,1% para 40,4% da PEA (Pochmann, tros urbanos vendendo de tudo: roupas, alimen-
2002). Essa realidade é ainda mais assombrosa se tos, produtos importados da China, uma atividade
consideramos o desemprego oculto pelo desalento. acompanhada por uma economia, também subter-
Entre 1992 e 2001, há um crescimento explosivo de rânea, composta de redes de pequenas e médias
70% no número da desocupação oculta pelo desa- firmas clandestinas que intermediam trabalho bara-
lento, sendo esse um fenômeno que atinge mais to, muitas vezes em condições quase escravas, para
intensamente os mais jovens e as famílias da massa firmas capitalistas de grande porte. Da mesma ma-
popular urbana formada pela baixa classe média, neira, foi notório o crescimento do número de anti-
operários e demais trabalhadores populares e em- gas atividades jamais reconhecidas como trabalho
pregados domésticos (Quadros, 2003). regular ou regulamentado: guardadores de carro nas
No âmbito institucional, com os sindicatos ruas, catadores de lixo, outdoors humanos ambu-
na retranca, avançaram as iniciativas de lantes, carregadores de feira, trabalhadores domés-
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flexibilização dos direitos do trabalho: o medo do ticos casuais, etc. Essa nova informalidade urbana,
desemprego passou a coagir muito mais brutalmen- que se expande em modalidades diversas de ativi-
te a capacidade organizativa dos trabalhadores. As- dades, contribuindo para uma heterogeneidade ain-
sim, a participação dos empregados formais caiu de da maior do mercado de trabalho, tem como marca
53%, em 1991, para 45%, em 2000. Em a precariedade das condições de trabalho e de vida,
contrapartida, o grau de informalidade que era de a negação dos princípios mais elementares de cida-
36,6% em 1986, aumentou para 37,6%, em 1990, e dania, a perpétua reprodução da pobreza e das de-
para 50,8%, em 2000 (Sabadini; Nakatani, 2002; sigualdades sociais.
Cacciamali, 2000. Não é mera casualidade, portan- Este texto é produto preliminar de uma pes-
to, que os arranjos informais de emprego se ampli- quisa mais ampla, de natureza qualitativa, cujo
aram e se diversificaram com as experiências de objetivo é conhecer as condições de trabalho e de
desverticalização e enxugamento da típica organi- vida dos trabalhadores de rua da capital de um
zação fordista do trabalho através de iniciativas di- estado do nordeste brasileiro. Nele, procuro resga-
versas de subcontratação e das demissões em mas- tar o debate teórico-conceitual que envolve o tema
sa nas grandes empresas. da informalidade. Esse debate, hoje mais contro-
Para onde, então, se deslocaram os desem- verso, ressalta a própria confusão conceitual que o

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termo evoca, devido à complexidade dos arranjos institucional de uma economia tipicamente capi-
produtivos que se manifestam à base de um talista e regulada. O debate sobre a informalidade
imbricamento muito maior entre o formal e o in- surge dessa noção de subdesenvolvimento, para
formal. Essa discussão é tratada nas duas seções explicar o fenômeno da não-inserção dos estratos
do artigo que se seguem a esta introdução. Logo menos favorecidos da população no processo pro-
em seguida, e como forma de operacionalizar dutivo em contextos nos quais o assalariamento
empiricamente o conceito, é analisada, a partir dos era pouco generalizado (Silva, 2003). Na época,
dados da PNAD 2006, a distribuição da força de ele se dividia em duas correntes centrais: uma de
trabalho ocupada no país, segundo sua forma de base estruturalista e outra de extração marxista.
inserção na atividade produtiva. Quem são os in- A corrente estruturalista era representada
formais e como eles se distribuem no agregado dos pelas reflexões da chamada Teoria da Moderniza-
trabalhadores ocupados? Qual o seu perfil de ren- ção, segundo a qual o subdesenvolvimento seria
da e de escolaridade? Os achados de pesquisa ali decorrência de uma desvantagem no valor relativo
trabalhados corroboram os argumentos analíticos das trocas econômicas entre o centro desenvolvi-
que entendem a informalidade como um proble- do e a periferia, sobretudo em relação à economia
ma estrutural básico na sociedade brasileira. Seu externa. Os países da América Latina, cujos mo-
crescimento na década de 90, a reboque das trans- delos de industrialização foram centrados na polí-
formações econômicas e institucionais, assevera o tica de substituição de importações, contavam com
quadro de desigualdade e pobreza que historica- um nível de acumulação muito baixo para fazer
mente marcou o desenvolvimento do país. Ainda frente aos requisitos da moderna produção indus-
que a economia retome o ritmo de crescimento, ha- trial. Daí a expansão de firmas e empreendimentos
verá um considerável contingente de trabalhadores modernos, tipicamente capitalistas, concomitante
que, a menos seja beneficiado com políticas educa- à proliferação e recriação das formas tradicionais
cionais, jamais será incorporado pela economia re- de produção e de relações de trabalho. Essa cor-
gulada. Mais que isso, sem reformas estruturais rente, que tinha como principais expoentes os eco-
profundas, sobretudo no regime de relações de tra- nomistas da CEPAL,1 concebia a estrutura econô-
balho e na estrutura fundiária, a retomada do cres- mica da região de uma perspectiva dual, marcada
cimento e uma possível ampliação do emprego re- pela presença de um setor de subsistência ou in-
gulado, como vem sendo timidamente registrado formal, caracterizado pela baixa densidade de ca-

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nos últimos 5 anos, muito dificilmente ou apenas pital, pelo precário nível técnico de produção e
de forma bastante limitada podem contribuir para pela baixa produtividade, convivendo com um
uma reversão da enorme informalidade e do qua- setor moderno, de avançado padrão tecnológico,
dro de desigualdades econômicas e sociais do país. economicamente mais capitalizado e dinâmico.
Essa interpretação analítica do funcionamen-
to da economia a partir de uma lógica polarizada
O DEBATE DOMINANTE SOBRE A INFORMA- da coexistência, no seio de uma mesma socieda-
LIDADE NOS ANOS DE 1960-1970 de, do arcaico e do avançado, porém de forma de-
sarticulada, vai dar corpo à chamada Teoria da
A informalidade foi inicialmente discutida Marginalidade. Ela explica o problema da integração
nas décadas de 1960 e 1970, no bojo das interpre- e não-integração através da idéia de um desajuste
tações da realidade dos países subdesenvolvidos ou uma inadequação (de indivíduos, regiões, ati-
da América Latina e da África, cujos projetos de vidades econômicas) a um “padrão normal, tido
modernização pela via da industrialização deixa- 1
Comissão Econômica para a América Latina e Caribe.
vam de incorporar vastos segmentos produtivos e Para uma breve apreciação das principais contribuições
dos teóricos da Cepal ao pensamento econômico latino-
do mercado de trabalho ao ordenamento americano ver, por exemplo, Furtado (1985, 1998).

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como inerente e próprio de uma caracterização blema do subdesenvolvimento na América Latina,


genérica e abrangente de cultura industrial” em cujo vórtice está parcela significativa da popula-
(Kovarick, 1975, p.47). O excedente de mão de obra, ção excluída da distribuição da riqueza, foi alvo de
predominantemente advinda das áreas rurais, que crítica da outra grande corrente interpretativa, de
não conseguia inserir-se na esfera da produção base marxista. Essa corrente pensava o problema
capitalista organizada e hegemônica, constituía um da não-integração da perspectiva das contradições
segmento à parte, não-funcional ao padrão de acu- do próprio modelo de acumulação capitalista con-
mulação subjacente ao modelo de industrialização, solidado sob a égide da industrialização: da pers-
portanto, à margem do sistema. Sua incorporação pectiva das contradições da estrutura de classe e
dependeria das adequações, sobretudo no âmbito das relações de poder. Esse corpo teórico alternati-
das qualificações e das concepções culturais, aos vo, sistematizado num conjunto de idéias
requisitos de uma sociedade industrial. construídas em torno da chamada Teoria da Depen-
Nos prognósticos desses teóricos, o proble- dência, concebia o subdesenvolvimento não como
ma do subdesenvolvimento seria paulatinamente um estágio anterior do desenvolvimento, mas como
resolvido à medida que a expansão monopolista produto de uma inserção subordinada e dependente
das firmas capitalistas (o padrão normal) incorpo- dos países da região no sistema capitalista mundi-
rasse o contingente de indivíduos desajustados, al. Uma subordinação que articula interesses de clas-
excluídos do processo de modernização. O pres- se ou grupos específicos internos com os interesses
suposto subjacente era o das etapas históricas dis- de classe ou grupos do capital estrangeiro. Por essa
tintas, no sentido de que os países em desenvolvi- lógica, o desenvolvimentismo da política de substi-
mento deveriam percorrer a trilha do progresso já tuição de importações foi capaz de gerar excedente
percorrida pelos países desenvolvidos. Sob essa econômico absorvido pelo exterior e pelas elites na-
crença, o setor atrasado tenderia a diminuir ou cionais, mas que não foi absorvido internamente
desaparecer, alçado, como subproduto, pela dinâ- pelas massas da população (Oliveira, 2003;
mica de crescimento do setor moderno e pela polí- Kovarick, 1975; Silva, 2003; Theodoro, 2004).
tica do pleno emprego. Notadamente, essa era uma A crítica basilar dessa corrente às teses da
visão eurocentrada, segundo a qual o arcaico ou o modernização como marginalidade, e que vai
tradicional é pensado como atravancador do de- buscar seu fundamento na lei geral da acumulação
senvolvimento, e não como parte integrante da capitalista de Marx, sustenta que o problema da
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cultura e da identidade nacional, um desenvolvi- marginalidade e da informalidade, nas economias


mento nos moldes do progresso idealizado pela subdesenvolvidas, decorre não de uma condição
cultura estrangeira (Kovarick, 1975; Cacciamali, de inadequação de parte do sistema (o arcaico) a
1983). Com base nessa concepção, a aposta na ex- seu padrão normal de funcionamento (o moderno);
pansão das firmas monopolistas deixava de fora ao contrário, é resultado de um modo de
dos planos de governo ou de sociedade o fomen- acumulação capitalista, estruturado sob uma lógica
to, em moldes mais adequados à realidade e aos de dominação das relações de produção, portanto
interesses autóctones, de atividades produtivas de classe, que gera seu próprio excedente de
não-capitalistas, mas importantes para a geração trabalho: um exército industrial de reserva que vai
de renda e para a sobrevivência de muitos indiví- buscar seu meio de sobrevivência fora do domínio
duos. O modelo de desenvolvimento eurocentrado das relações capitalistas modernas e que é, sim,
pressupunha a mercantilização de todas as esfe- funcional e rentável àquele padrão de acumulação,
ras da vida econômica e considerava como arcai- posto que é fator de barateamento e disciplinamento
cas, subdesenvolvidas e periféricas todas as formas da força de trabalho. Nas palavras de Francisco de
de trabalho e consumo não-mercantis (Silva, 2003). Oliveira (2003, p.32), na crítica mais visceral ao
Essa visão dicotômica e funcionalista do pro- mainstream do pensamento econômico da época:

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veu Cacciamali, bebendo da fonte das teses da


... a oposição na maioria dos casos é tão somente organicidade, “se insere e se amolda aos movimen-
formal: de fato, o processo real mostra uma
simbiose e uma organicidade, uma unidade de tos da produção capitalista, modificando sua com-
contrários, em que o chamado moderno cresce e posição e seu papel à medida que se modifica e se
se alimenta da existência do atrasado [...] o sub-
desenvolvimento é uma produção da expansão expande aquela produção” (1983, p.27).
do capitalismo. (grifos do autor)
Esse movimento de expansão do trabalho
informal teve impacto decisivo no setor de servi-
Por outro lado, a crença dos estruturalistas
ços, tradicionalmente mais passível, em determi-
na capacidade de incorporação da força de traba-
nados ramos, para a proliferação das atividades
lho marginalizada nas atividades propriamente
informais. Ampliaram-se, assim, os ramos e ativi-
capitalistas, à medida que o capitalismo expandia
dades dos serviços de: apoio à produção e à
seu domínio oligopolista para todas as esferas da
comercialização industrial (armazéns, ambulantes,
produção, encontrava um limite na própria capa-
as diversas atividades de reparação de carros, ele-
cidade de o sistema absorver força de trabalho, por
trodomésticos, representantes autônomos, etc.),
conta mesmo do estágio de evolução das forças
aqueles destinados às unidades de consumo das
produtivas. A análise comparativa com a trajetória
famílias, aqui incluído o emprego doméstico, e aos
de desenvolvimento dos países do norte leva ao
indivíduos; os serviços sociais; motoristas de táxi,
argumento de que a industrialização tardia da
caminhoneiros, e inúmeros outros trabalhadores
América Latina se deu sob uma base técnica avan-
por conta própria.
çada, portanto, capital-intensiva, poupadora de
Levando em conta o padrão de industriali-
trabalho, incapaz de operar, como o fez nas pri-
zação brasileiro, notadamente as formas
meiras formas históricas de desenvolvimento da
institucionais com as quais esse padrão se conso-
indústria (o sistema manufatureiro e a grande in-
lida no campo das relações de trabalho, o trabalho
dústria), no sentido de universalizar o trabalho
informal pode ser conceituado como aquele não-
assalariado (Kovarick, 1975; Oliveira, 2003).
regulamentado pelo ordenamento legal do traba-
Nesse sentido, o debate sobre a informalidade
lho no país, sobre o qual, inclusive, a sociedade
nos países subdesenvolvidos nasce da análise do
construiu sua política de seguridade social. E, nes-
próprio modelo de desenvolvimento na região, este
se último aspecto, o fenômeno da não-integração
centrado numa industrialização capital-intensiva,
foi ainda mais pernicioso: além de fraca, a inter-

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que gera pouco emprego e é incapaz de absorver
venção do Estado na criação de políticas e meca-
força de trabalho coadunada com o padrão de cres-
nismos de proteção social atingia apenas os traba-
cimento demográfico. A rápida urbanização expe- lhadores formalmente reconhecidos pela relação
rimentada nas décadas de 60 e 70 impulsionou o salarial, um tipo de incorporação social a que San-
fluxo migratório de indivíduos que não foram ab- tos (1979) chamou de cidadania regulada, aquela
sorvidos pela atividade capitalista organizada, onde adquirida unicamente pelos indivíduos enquadra-
prevalece o trabalho regulamentado e formal. Ela dos na estrutura ocupacional definida e reconhe-
se expandiu, tomando o espaço das atividades tra- cida pelo Ministério do Trabalho. Essa base
dicionais, mas foi incapaz de gerar empregos na institucional alimentou todo um conjunto de va-
mesma proporção dos que destruiu ou dos que a lores na sociedade brasileira que associava tudo o
sociedade necessitava. O caminho naturalmente que não constituísse trabalho formal (desempre-
seguido foi o da ampliação e mesmo o da criação go, formas de trabalho precário e instável) à
de novas modalidades de trabalho informal ou o marginalidade.
desemprego. É esse excedente de mão de obra, “que No entanto, o entendimento da lógica da
se auto-emprega para sobreviver” e vai dar origem integração ou não-integração ao padrão que aquele
ao setor informal, numa lógica que, como escre- ordenamento estabelece, e de todas as suas

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consequências sociais (e culturais) no que concerne a importância política e econômica alcançada nos
ao problema da pobreza e da distribuição de ren- países democráticos. Não vingou, entre nós, a no-
da, só pode ser alcançado quando consideramos ção de conciliação política baseada na negociação
as características histórico-estruturais do desenvol- autônoma de interesses entre grupos organizados.
vimento do capitalismo no país. Colocando de Por outro lado, o marco legal incorporava
outra forma, como se estruturaram as relações de os trabalhadores de forma limitada por duas fren-
dominação? Lembrando do que nos ensinou Darcy tes: em primeiro lugar, porque a legislação de di-
Ribeiro (2006, p.23), as evidências das contradi- reitos mínimos e de sindicalização deixava de fora
ções de classe mais básicas e enraizadas na nossa a grande massa dos trabalhadores rurais que, à
sociedade se encontram “no sistema institucional, época, constituíam absoluta maioria da força de
notadamente a propriedade fundiária e o regime trabalho no país, e os servidores públicos;4 em
de trabalho – no âmbito do qual o povo brasileiro segundo, porque grande parcela dos trabalhadores
surgiu e cresceu constrangido e deformado”. É para urbanos não gozou do status do emprego regula-
uma breve reflexão sobre essas contradições estru- mentado e sobre o qual o Estado definia as políticas
turais que me volto agora, mais especificamente de seguridade social. Portanto, também não vingou
para o âmbito do regime de trabalho. entre nós a noção de uma política macroeconômica
É impossível entender o processo recente pautada na geração de demanda agregada advinda
de ampliação dos regimes de emprego informais e dos esforços para garantir o quase pleno emprego.
precários no Brasil sem caracterizarmos, ainda que Com sindicatos controlados e a maioria dos
brevemente, a origem e as características da trabalhadores não auferindo direitos, o crescimen-
institucionalização do mercado de trabalho no to econômico realizou-se sem uma associação di-
país.2 A lei nacional, a Consolidação das Leis do reta com o aumento do padrão de renda-consumo
Trabalho (CLT), promulgada em 1943, definiu os e bem-estar da população e sem qualquer compro-
direitos individuais básicos de proteção ao traba- misso mais sólido com uma política de pleno em-
lhador e a estrutura da representação de classe ain- prego (pautada na estabilidade). Ao contrário, como
da hoje vigentes no país. Resultado das pressões originalmente argumentou Francisco de Oliveira,
do movimento trabalhista de desde finais do Sé- certo desemprego estrutural foi benéfico ao tipo de
culo XIX, a CLT respondia à necessidade de in- acumulação escolhido e funcional à geração de um
corporação política dos trabalhadores urbanos da mercado de trabalho de baixíssima remuneração,
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indústria nascente que, em face de seu poder de espaço de proliferação das inúmeras formas de tra-
organização, constituíam potencial de ameaça aos balho subterrâneo e precário. Em outras palavras,
planos de desenvolvimento do Estado. Os sindi- a massa trabalhadora não participou do processo
catos foram reconhecidos, mas o Estado tomou para de crescimento e da acumulação de capitais, de
si o completo controle administrativo e político de maneira que não houve efetiva redistribuição dos
suas atividades. A contrapartida veio pela imposi- ganhos de produtividade da economia. Adicione-
ção legal às empresas de reivindicações trabalhis-
tas elementares, objeto de décadas de luta.3 As- no, remuneração obrigatória da hora extra, descanso de
final de semana e férias remunerados, condições de sa-
sim, no Brasil, o Estado assumiu o papel central lubridade e proteção contra acidentes de trabalho, entre
outros.
na regulação e mediação dos interesses de empre- 4
Até os anos 70, quando se acentuaram os conflitos no
gados e empregadores. A barganha coletiva não teve campo, os trabalhadores rurais ficaram submetidos às
leis do mercado e da milícia dos seus patrões, sem a
2
cobertura de direitos legais. Essa foi uma forma de com-
As reflexões deste e dos dois parágrafos abaixo são mais pensar a perda do poder político-econômico das oligar-
profundamente desenvolvidas em Costa (2005, 2006). quias primário-exportadoras. Da mesma maneira que os
3
A CLT consolidava um conjunto de leis arbitrando o uso servidores do serviço público ficaram submetidos aos
do trabalho na indústria nascente e restringindo a liber- vieses da burocracia patrimonialista e clientelista do Es-
dade de contratação das empresas: limitação da jornada tado. Um estatuto de direitos e deveres próprio foi ape-
de trabalho em 48 horas, proibição do trabalho de me- nas instituído em 1990, mas garantindo a soberania do
nores de 14 anos, regulamentação do trabalho femini- Estado na definição dos termos do trabalho.

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se a isso a inexistência de um sistema amplo de benefícios do crescimento e ampliando os bolsões


regulação coletiva que tivesse por base a garantia de de pobreza. É nesse sentido que, comparativamente
direitos cidadãos (campo de atuação de um Estado à realidade da institucionalização do mercado de
de Bem Estar responsável pela universalização de trabalho e das políticas de bem estar dos países
direitos sociais básicos) e temos um quadro de for- desenvolvidos, o Brasil jamais conseguiu criar uma
te heterogeneidade estrutural das condições de tra- classe média ampla com poder de consumo (Oli-
balho e emprego, restringindo o poder de veira, 2003; Hasembalg, 2003; Costa, 2005;
abrangência da legislação trabalhista e de seguridade Mattoso, 1996).5
social. Essa realidade é profundamente agravada nos A acumulação capitalista no Brasil (o cresci-
anos de 1990, com o emprego informal superando mento do setor moderno da economia) muito se
as estatísticas do emprego formal. beneficiou das formas arcaicas de relações de traba-
A incorporação limitada dos trabalhadores lho no campo (o setor atrasado). De um lado, a me-
ao projeto político de expansão do capitalismo no canização-capitalização da agricultura aconteceu com
país respondia à necessidade de as elites agrárias e o domínio latifundiário das terras produtivas, ex-
industriais criarem um exército industrial de reser- pulsando-se ou proletarizando-se camponeses,
va, funcional à disciplina da força de trabalho e à muitas vezes, sob regimes de trabalho semiescravo.
manutenção de seu baixo padrão de remuneração. De outro, é na base da superexploração de trabalho
Esse exército foi alimentado, principalmente, pela barato que a produção agrícola, ainda hoje susten-
população que fluía do campo para as cidades. Sem táculo das divisas cambiais do país, vai subsidiar
mudanças profundas que reconfigurassem a estru- a industrialização urbana (fortemente dependente
tura fundiária altamente concentradora, e limitan- de endividamento externo) e o baixo custo de re-
do ou impedindo o conflito de classe, o Estado produção da força de trabalho. As desigualdades
favorecia a acumulação capitalista à custa da ampli- desse padrão de crescimento, no entanto, foram
ação das desigualdades de classe e de um crescente marcadamente regionais, com o dinamismo eco-
processo de concentração de renda. É importante nômico e a formalização dos empregos, embora
ressaltar, nesse aspecto, que o debate sobre a jamais de forma universal, mais acentuados no
informalidade, a despeito de sua heterogeneidade, centro-sul do país. O norte e o nordeste se desta-
sobretudo nas formas de rendimento, foi sempre cam com a predominância das formas mais precá-
associado ao tema da pobreza, dado que parcela rias e desprotegidas de relações de trabalho: traba-

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significativa de seu universo provém das camadas lho não-registrado, trabalho por conta própria, ser-
pobres da população. O problema maior, então, se viços domésticos, mão de obra familiar sem remu-
encontra, como atentaram Portes e Castells (1989), neração, boias frias e elevada desocupação. É nes-
não necessariamente na informalidade em si, que é sas regiões, e mais especificamente no Nordeste bra-
uma forma específica de relações de produção, mas sileiro, que a informalidade e a insegurança que ela
na forma como a sociedade distribui sua riqueza. representa mais se associam à condição de pobreza
Se a expansão e modernização industrial
brasileira do pós-1930, sobretudo a dos anos 1950 5
Essa mobilidade social foi vivida, sobretudo, pelos traba-
lhadores do campo, que foram alçados à condição de
e 1960, com a vinda das multinacionais, permitiu trabalhadores manuais semi ou não-qualificados nos
centros urbanos. A esse respeito, Francisco de Oliveira
uma elevada mobilidade social, ela permitiu tam- (2003) argumenta que a intensa mobilidade do período
bém, e contraditoriamente, uma enorme diferenci- obscurece o fato de que os salários (um dos caminhos
centrais da distribuição de renda) tomavam como base o
ação das ocupações e dos salários, impedindo que custo de subsistência do trabalhador, não os ganhos de
produtividade da moderna indústria, por onde se pode-
se mudasse a desigualdade da estrutura de classe ria realizar uma efetiva redistribuição de renda. Para uma
análise da imutabilidade da estrutura de classe e do pa-
no país. Empregos e salários tornaram-se variáveis drão de desigualdade, a despeito do crescimento acelera-
extremamente flexíveis de ajuste econômico, ex- do da economia no chamado período do milagre econô-
mico e das reformas pós-redemocratização do país ver,
cluindo parcela considerável da população dos por exemplo, Costa (2003); Henriques (2000).

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TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

e indigência da população.6 Essa realidade, portan- incentivos técnicos e econômicos, mas, sobretu-
to, não pode ser entendida fora da perspectiva que do, numa de suas funções sociais mais básicas,
contempla a enorme concentração fundiária e um essa massa vem para as cidades e não encontra o
caldo de cultura fortemente autoritário, herança de emprego condigno e as condições de infraestrutura
uma economia colonial agroexportadora centrada no urbana adequadas. Poderíamos citar pelo menos
trabalho escravo. três consequências imediatas dessas transforma-
Assim, ainda que a industrialização induzida ções: 1) o crescimento desordenado das favelas nos
pela intervenção planejada do Estado através das centros urbanos; 2) a inserção desses indivíduos
agências de desenvolvimento regional (SUDENE e no mercado de trabalho de forma precária, irregu-
SUDAM), nas décadas de 1960 e 1970, tenha fo- lar (mesmo no mercado formal, basta pensarmos o
mentado o processo de urbanização e a ampliação caso dos trabalhadores da construção civil) e in-
dos empregos formais, sobretudo nas regiões me- formal; e 3) o acirramento da competição entre os
tropolitanas e nas cidades de médio porte, essa próprios trabalhadores, de modo a reiterar a con-
expansão é contra-arrestada por pelo menos três dição de barateamento e disciplinamento da força
fenômenos estruturais fundamentais: 1) pelas in- de trabalho urbana.7
cessantes ondas migratórias de camponeses expro- Esse é o pano de fundo histórico-estrutural
priados de seus meios de produção, expulsos da a subsidiar a construção de uma noção de
terra pela expansão da mecanização e industriali- informalidade que mais fielmente explica as con-
zação da agricultura latifundiária (o moderno tradições de classe no país e a origem mesma da
agrobusiness) e pela seca; 2) pelo baixo dinamis- informalidade; uma informalidade muitas vezes
mo econômico da própria industrialização da re- imiscuída nas redes da criminalidade. Ela se agra-
gião que, ao fomentar a instalação de subsidiárias va sobremaneira nos últimos vinte anos, com as
(fornecedoras de matéria prima e insumos produ- transformações da chamada acumulação flexível.
zidos com mão de obra barata) das empresas
sediadas no sudeste-sul do país, permitiu, na rea-
lidade, uma maior concentração da acumulação A NOVA INFORMALIDADE
capitalista, cabendo ao Nordeste uma posição su-
bordinada e dependente em relação à centraliza- As mudanças econômicas e institucionais
ção do poder político-econômico nas regiões mais do capitalismo após os anos 80, centradas nas
CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010

desenvolvidas (Oliveira, 1977, p.3). Esse baixo ideias da empresa enxuta e da flexibilização, com
dinamismo econômico, combinado à velha cultu- a desregulamentação dos mercados de trabalho,
ra política coronelista-patrimonialista e a um cres- fizeram mudar também o foco analítico do proble-
cente exército industrial de reserva vindo do cam- ma da informalidade, tornando muito mais com-
po, irá limitar ou diretamente reprimir as iniciati- plexa e confusa a tarefa de interpretação e defini-
vas de organização coletiva do trabalho, caminho ção conceitual para a questão. Luiz Machado da
mais legítimo pelo qual seria possível expandir os Silva (2003) argumenta sobre a inespecificidade e
direitos trabalhistas e cidadãos. sobre a banalização da noção de informalidade
A massa de indivíduos vinda do campo, nesse novo contexto. Segundo sua análise, entre
expulsa pela falta de terra para produzir e pela os anos 1950 e 1970, o debate teórico, ainda que
ausência do Estado, não apenas na questão dos acalorado por perspectivas em conflito, era apoia-
6
Levantamento da pesquisa Mapa do Fim da Fome da
Fundação Getúlio Vargas (Jornal do Brasil, 10/07/2001) 7
A lista das mazelas sociais do padrão de desenvolvimen-
mostra que 29,3% da população brasileira vivem abaixo to da sociedade brasileira é infindável e autorreproduzível:
da linha da indigência, recebendo uma média mensal ao lado do desemprego e da ausência ou insuficiência da
percapita inferior a R$80,00 ou cerca de US$ 33,00/mês. ação do estado nas áreas mais elementares (saúde, edu-
Essa proporção salta para 50% da população nos estados cação, habitação, infraestrutura urbana de saneamento,
do nordeste brasileiro, nos dando uma mostra das seguro desemprego, etc.) crescem os bolsões de pobreza
disparidades socioeconômicas regionais do país. e a violência e criminalidade urbana.

178
Márcia da Silva Costa

do num conjunto de pressupostos compartilhados ginal sobre as formas de inserção das massas
em torno da questão: a indústria como polo dinâ- desfavorecidas no processo produtivo e sobre a ló-
mico da economia; um padrão específico de gica de dominação a elas subjacentes vai cedendo
regulação das relações de trabalho; a expectativa lugar a um discurso economicista e determinista
de uma eventual universalização dos direitos per- sobre os necessários ajustes para que o país alcance
tinentes àquele padrão de regulação (a ampliação os parâmetros econômicos da competitividade in-
do assalariamento); e um ideal como meta de ple- ternacional, a despeito dos elevados custos sociais
no emprego. do novo receituário de política econômica. Numa
A partir dos anos 80, esse debate é transfor- sociedade como a brasileira, que jamais conseguiu
mado como reflexo das transformações do capita- expandir o assalariamento, a retórica se concentra-
lismo e do crescimento do desemprego. As mudan- va no anacronismo e na disfuncionalidade da legis-
ças analíticas do problema da informalidade pas- lação trabalhista, ainda proveniente da era Vargas.
sam a se dar: 1) em torno da perda da centralidade Para muitos analistas do emprego, para os empre-
e do dinamismo do setor secundário, ao menos sários, para o governo e para algumas lideranças
no tocante à sua capacidade de gerar emprego, pro- sindicais, aquela legislação não acompanhava o
duto de uma reestruturação produtiva que abala passo das transformações econômicas e produti-
os próprios fundamentos da relação salarial, ca- vas necessárias ao ajuste competitivo do país. O
bendo destacar as experiências da subcontratação; caminho da “modernidade” passava pelas agressi-
e 2) em torno da crescente importância do setor vas reformas no âmbito das privatizações, da previ-
terciário na absorção da força de trabalho, este tra- dência, da desregulamentação dos mercados pro-
dicionalmente menos regulado e mais precário. Ain- dutivos e de trabalho. Nesse último, a saída, então,
da segundo Silva, nesse novo contexto, dissemi- era flexibilizar os estatutos que, segundo eles, one-
nam-se as análises preocupadas em entender o pro- ravam o custo do trabalho e inviabilizavam a gera-
cesso de fragmentação e das diferenciações nas for- ção de empregos. Esse discurso legitimava uma ten-
mas e conteúdos do trabalho e seus efeitos sobre a dência, que vinha se acentuando, de informalização
estratificação social. No entanto, o tema da integração da própria economia.
e não-integração, ou da inserção dos trabalhadores Assim, ganhava muito mais relevância o
no processo de produção e distribuição da riqueza, aspecto jurídico-institucional que permeia a no-
continua como pano de fundo, ainda que essa ques- ção de informalidade, sendo ela normalmente de-

CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010


tão-chave da teoria da marginalidade tenha sua ver- finida como um contraponto da formalidade, aque-
são contemporânea nas expressões exclusão social, la das relações de trabalho reguladas pelo padrão
vulnerabilidade, precariedade. de assalariamento típico da empresa capitalista. O
Por outro lado, se, no debate anterior, a foco da questão se deslocava, então, da aposta
informalidade era associada à periferia do capitalis- político-ideológica num projeto de universalização
mo, ao problema do subdesenvolvimento, à pers- de direitos pela via do compromisso com o em-
pectiva de integração social pelo padrão de prego regulado e de longo prazo, para aquela de
assalariamento, aparecendo como forma atípica, uma sociedade do emprego possível, não como
como condição transitória, no debate dos anos 80, meta social, flexível, desvinculado, temporário e
na esteira das transformações de um capitalismo de baixo custo. Ainda recorrendo às reflexões de
globalizado, essa informalidade se generaliza e se Silva (2003), essa mudança remetia ao conteúdo
apresenta também como um problema dos países propriamente político do conflito social, o que quer
desenvolvidos, e o próprio padrão de assalariamento dizer, na linha do que estou argumentando, que
passa a ser questionado através da pura perdia força o embate político em torno das refor-
desregulamentação e (ou) da regulamentação em mas estruturais efetivamente voltadas para os inte-
patamar inferior. É nesse sentido que o debate ori- resses das massas trabalhadoras; em contrapartida,

179
TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

ganhava força o discurso da desregulamentação. de informacional: a individualização do trabalho.


Em termos empíricos, no Brasil, o movimen- Essa individualização possibilita a descentralização
to de consolidação da economia organizada e do das tarefas para qualquer lugar e sua coordenação
trabalho formal sofre significativa inflexão na dé- através de redes interativas de comunicação em tem-
cada de 1980, asseverando as desigualdades es- po real. Tal possibilidade técnica permite que as
truturais. Seu retraimento será ainda mais acentua- empresas ponham em marcha estratégias de
do, e presenciamos mesmo a sua reversão a partir subcontratação, consultoria, redução do quadro fun-
da década de 1990, como decorrência dos ajustes cional e produção sob encomenda, utilizando regi-
econômicos “pró-mercado” implementados pelos mes de emprego flexíveis, autônomos, informais,
governos Collor de Melo e Fernando Henrique Car- configurando arranjos produtivos que obscurecem
doso, em especial a abertura econômica e as ainda mais as fronteiras entre o formal e o informal.
privatizações de empresas estatais. A reestruturação As consequências sociais das transforma-
produtiva, então deslanchada pelas empresas, re- ções organizacionais e tecnológicas da típica em-
dundou num fenômeno de demissão em massa ja- presa capitalista foram diretamente sentidas no
mais vivido na história da industrialização do país. aumento do desemprego, com impactos decisivos
O desenvolvimento e a incorporação de equipamen- na expansão e na criação de novas modalidades
tos automatizados e de novos métodos de organiza- de trabalho informal, na redução ou retirada das
ção e gestão do trabalho aceleraram o processo de contrapartidas sociais dos empregos ofertados e
racionalização assentado na desverticalização e na na ampliação da heterogeneidade das condições
emergência de sistemas de subcontratação de pro- de trabalho, de renda e de vida da população. To-
dutos e serviços. A terceirização, nas grandes em- davia, seu impacto mais negativo se deu sobre o
presas, sob a lógica de uma nova divisão internaci- poder de organização e ação coletiva do trabalho
onal do trabalho, organizada com base numa pro- em todas as esferas: na barganha econômica, na
fusão de pequenas firmas, muitas delas trabalhan- organização social e na influência política (Silva,
do em redes, constituiu-se numa das estratégias 2003; Portes et al, 1989; Castells, 2001; Ramalho;
centrais de redução dos custos do trabalho que, de Santana, 2003; Laranjeira, 1998; Antunes, 2000).
uma perspectiva agregada, traduziu-se na substitui- Ademais, os novos fenômenos da organiza-
ção de empregos regulares e com certo padrão de ção da produção e do trabalho nos chamam a aten-
conquistas por empregos precários, temporários, ção para um problema social global de muito mai-
CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010

muitas vezes não-regulamentados (Mattoso, 1997; or alcance. Como nos lembra Castel (1998), refle-
Deddeca, 1997; Boito Jr, 1999; Pochmann, 2002). tindo sobre a realidade francesa, mas que muito
Com a quebra das fronteiras advinda das fa- bem traduz o comportamento das empresas em
cilidades da tecnologia da informação e das todas as partes: tão problemático quanto o desem-
desregulamentações, as empresas têm muito mais prego é a degradação do paradigma do emprego
mobilidade para buscar recursos e trabalho onde tradicional, base, inclusive, de sustentação dos
eles se mostrem economicamente mais vantajosos. programas de seguridade social do Estado. Mais
Tornam-se muito mais complexas as relações e arti- que isso, e esse é um argumento também encon-
culações entre grandes firmas e pequenos negócios trado em Silva (2003, 1996): as consequências das
espalhados pelo mundo e, entre elas, e os trabalha- transformações no mundo do trabalho são senti-
dores por conta própria, os da produção domésti- das não apenas no campo da produção e distri-
ca, os cooperados, muitas vezes articulados por buição da riqueza (ou da pobreza, como ironiza
puros intermediadores de força de trabalho, sob esse autor), mas elas são mais problemáticas por
condições que reeditam relações pré-capitalistas de seus efeitos destrutivos no campo de um ideal (e
produção. Castells (2001, p.285-286) nos fala de efetivo mecanismo) de socialização em que o traba-
uma transformação fundamental na era da socieda- lho (nos moldes do paradigma do emprego tradi-

180
Márcia da Silva Costa

cional) aparece como principal elemento de no cálculo racional dos empresários, vale a pena
integração social, o campo onde foram construídas sonegar e ludibriar, porque os custos de uma even-
as identidades coletivas que direcionaram o pró- tual descoberta e punição são compensados pelos
prio conflito de classe e no qual os indivíduos ganhos decorrentes da sonegação. Em outras pala-
encontram um sentido de pertencimento. Castel vras, quero dizer que as recentes estratégias de acu-
atenta para a perda da função integradora da em- mulação do capital se beneficiam, também, da to-
presa, a grande unidade da economia. Se hoje ela lerância e da falta de controle do Estado para ex-
ostenta o grande símbolo da competição e do suces- pandir e recriar diversas modalidades de opera-
so, ostenta também o papel de uma máquina de ção não-regularizada de suas atividades, reiteran-
vulnerabilizar e de excluir: o emprego, e o emprego do uma tendência secular de burla ao ordenamento
com direitos e benefícios conquistados pela barga- jurídico, prejudicial não apenas aos trabalhadores
nha política, estão deixando de ser a referência. informais, mas a todo o conjunto da sociedade,
O ponto-chave dessa questão, e certamente posto que o Estado tem não apenas a sua base
Castel e Silva encontraram subsídio analítico nas tributária reduzida, mas também a sua própria ca-
reflexões originais de Karl Polanyi (1980), é que o pacidade de regulamentar a economia (Portes et al,
problema da integração e da coesão social não pode 1989; DIEESE, 1997; Silva, 2003).
ser entregue exclusivamente à empresa, que atua, Se, de fato, no Brasil, a terceirização da eco-
evidentemente, pela lógica da competitividade e nomia permitiu a afluência de uma fração minúscula
do mercado. Esse papel é essencialmente do Esta- de profissionais qualificados oriundos dos estratos
do, o lócus da política, a quem cabe minimamente médios (Silva, 2003), grande parte da nova
primar pelo interesse coletivo e pela paz e bem informalidade, e sobre a qual se debruça o debate
estar social. Nesse campo, todavia, uma vez retra- contemporâneo, provém de um contingente majori-
ída a participação política dos trabalhadores e uma tário de trabalhadores advindo de grupos sociais
vez retraídos os movimentos de esquerda no mun- pauperizados, sobretudo por conta da ausência de
do, entra em cheque o poder do Estado para regu- qualificação e recursos, e que se insere em condições
lamentar a atividade produtiva e o seu papel soci- de trabalho das mais precárias, configurando, nas
al. No caso do Estado brasileiro, como discute palavras desse mesmo autor, “o nicho dos recursos
Mattoso (1997, p.39), sua adequação subordinada de sobrevivência de um exército de reserva estagnado
às condições da nova ordem ditada pelos agentes em expansão com perspectivas cada vez mais reduzi-

CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010


financeiros internacionais acelerou o processo de das de reintegração econômica” (Silva, 2003, p.170).
“desestruturação e de redução de sua capacidade Vejamos, então, que categorias de trabalhadores cons-
de planejamento, financiamento, fiscalização, tituem essa informalidade e como ela se distribui.
apoio à competitividade e à distribuição de renda”.
A retração dos direitos do trabalho é pro-
duto, também, de pressão empresarial não apenas AINDA A VELHA DUALIDADE: a apreensão
para que os governos adotem políticas neoliberais empírica da informalidade
de desregulamentação dos mercados, mas também
para um maior afrouxamento de seus controles e Já comentamos sobre as dificuldades encon-
de sua função fiscalizadora. É nesse sentido que tradas pelos estudiosos na tarefa de elaboração de
boa parcela do crescimento da informalidade e da um conceito para a informalidade, tendo em conta
precariedade do trabalho dos anos 90 pode ser o atual contexto de complexificação das redes da
explicada pela redução e ou evasão, por parte das atividade econômica e das formas de inserção dos
empresas, do cumprimento dos encargos trabalhis- trabalhadores no processo produtivo. Portes et al
tas e sociais, e isso, no Brasil, em muito se deve (1989) argumentam sobre a importância de enten-
aos baixos custos da ilegalidade. Por esse critério, dermos a economia informal a partir do processo

181
TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

histórico de sua constituição em cada contexto da inserção dos indivíduos na atividade produtiva,
específico. Por outro lado, a economia informal não isso significa que a noção de trabalho informal é
pode ser considerada um eufemismo para a po- muito fortemente pensada como contraponto ao
breza, devido à sua elevada heterogeneidade: há ordenamento que regulou as relações de trabalho e
muito dinamismo na economia informal e ela é a seguridade social no país. O paradigma dominan-
geradora de elevado nível de renda para muitos te, inclusive aquele que fundamenta a produção de
empreendedores informais. Todavia, a noção de informações estatísticas que intentam gerar evidên-
pobreza não pode ser entendida apenas pelo crité- cias empíricas, é aquele que compreende a
rio de renda (ou insuficiência de renda), pois ela informalidade pelo método da negação: é informal
também está relacionada ao consumo ou ao acesso o que não é regulado “pelas instituições da socieda-
a serviços, como qualidade da moradia, acesso à de em um ambiente legal e social no qual atividades
educação, políticas de saúde coletiva, enfim, à similares são reguladas” (Portes et al., 1989). O
noção de direitos e de cidadania. Esses aspectos contraponto é, portanto, no Brasil, o leque de direi-
remetem às escolhas políticas de uma sociedade e tos que a CLT assegura, não apenas no campo indi-
aos mecanismos que ela socialmente engendra para vidual, como limite à jornada, salário mínimo, di-
distribuir sua riqueza. E esse é essencialmente o reito a férias e ao descanso remunerado, 13º salário,
campo do conflito político de classe.8 entre outros, mas, sobretudo, no campo da repre-
Nas seções iniciais deste artigo, buscou-se tra- sentação coletiva, que assegura que os termos do
zer à tona as características estruturais da expansão do trabalho sejam acordados politicamente entre pa-
capitalismo no Brasil, como forma de destacar um ele- trões e trabalhadores, não submetidos à livre nego-
mento de peso para o entendimento da informalidade ciação individual cujo parâmetro exclusivo é o mer-
que, em nossa realidade, sim, andou muito de mãos cado. Por outro lado, como já discutido, foi central-
dadas com a questão da pobreza: esse elemento foi o mente pela via do trabalho formal que o Estado bra-
baixo nível (ou abrangência) do assalariamento (pelas sileiro assegurou políticas de seguridade social.
razões ali aventadas) e de regulação da atividade eco- Em termos operacionais, o desafio de
nômica. No entanto, esse assalariamento foi não ape- conceituar e categorizar o trabalho informal se tor-
nas restrito como também se realizou sob um padrão na tanto maior porque os novos e diversificados
muito baixo de distribuição de renda (salários e welfare arranjos produtivos tornam ainda mais comple-
state). É por isso que as noções de formal e informal xas as interconexões entre o formal e o informal, e
CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010

perdem um pouco o sentido quando o foco de análise isso quase põe por terra as abordagens dualistas.
é a pobreza ou a distribuição de renda, ainda que o Essa confusão afeta, como argumenta Vianna
informal seja muito fortemente sinônimo de pobreza (2006), a própria produção das estatísticas oficiais
urbana para uma vasta camada de indivíduos que não que procuram evidenciar as transformações con-
tiveram acesso à educação. Daí Silva falar da impor- temporâneas de um capitalismo globalizado. A
tância do aspecto jurídico-institucional no entendi- heterogeneidade e a mutabilidade das situações de
mento da informalidade no país e da importância de trabalho desafiam a construção de instrumentos
se definir o foco de análise, de forma a se tomar em adequados à apreensão das próprias mudanças no
consideração “as diferentes dimensões da vida econô- mundo do trabalho, e, ainda que essa apreensão
mica que põem em questão diferentes categorias de seja adequada, sua produção empírica será sempre
trabalhadores” (1996, p.28). um retrato parcial da realidade e embute, natural-
No campo especificamente aqui abordado, o mente, as concepções dominantes.9
9
8
Nas sociedades capitalistas de tradição democrática, há No início dos anos de 1990, a PNAD - Pesquisa Nacional
dois grandes mecanismos centrais de distribuição de ren- por Amostra de Domicílios ampliou as questões de seu
da: os salários e os serviços públicos (welfare state). Quan- questionário como forma de melhor apreender as trans-
to mais abertos à participação política das massas traba- formações no mundo do trabalho, relacionadas à temática
lhadoras funcionarem esses dois mecanismos, menos da informalidade, mas essa revisão não modificou o ca-
desigualmente será distribuída a riqueza. ráter de dualidade subjacente ao conceito (Vianna, 2006).

182
Márcia da Silva Costa

Cabe, portanto, ao pesquisador especificar Tabela 1 - Brasil: distribuição dos ocupados por sexo
em 2 0 0 6 %
que variáveis e categorias são as mais adequadas
Ocupados Homens Mulheres
para responder aos seus objetivos de pesquisa. Com
Formais 45 46 43
o fim de operacionalizar empiricamente o conceito Informais 55 54 57
aqui discutido e apresentar dados agregados que Total de Ocupados(1) 100 58 42
nos deem uma dimensão da informalidade e do Fonte: IBGE/PNAD 2006.
Trabalhadores ocupados de 10 ou mais anos na semana de referência
perfil de seus trabalhadores no Brasil, considera- (1) Exclusive empregadores
se como informal, conforme sua agregação por po-
Tabela 2 - Brasil: distribuição da PEA por sexo
sição da ocupação, os seguintes grupos de trabalha- em 2 0 0 6 %
dores: empregados sem carteira, doméstico sem car- Total Homens Mulheres
teira, conta própria, trabalhadores na produção para PEA 100 100 100
(1)
o próprio consumo, trabalhadores na construção O c u p a do s 9 2 9 4 89
formais 41 43 38
para o próprio uso e os não-remunerados.
informais 51 50 51
Os trabalhadores informais representavam, Desocupados 8 6 11
em 2006, 55% dos trabalhadores ocupados, sen- Informais + Desocupados 59 57 62
do sua grande maioria, 57%, constituída de mu- Fonte: IBGE/PNAD 2006.
Trabalhadores ocupados de 10 ou mais anos na semana de referência
lheres. Elas, por sua vez, estavam inseridas em (1)
Inclusive empregadores
menor proporção (43%) do que os homens (46%)
no mercado de trabalho formal, confirmando, uma Tabela 3 - Brasil: ocupados e informais por
contribuição à Previdência em 2006 %
vez mais, a tendência de inserção das mulheres Não contribui
Contribui para
no mercado de trabalho em condições mais precá- Previdência
para
Previdência
rias que a dos homens. Se tomarmos a proporção
Informais 11 89
dos informais sobre a População Economicamente (1)
Total de ocupados 49 51
Ativa (PEA) e agregarmos a parcela dos desocupa- Fonte: IBGE/PNAD 2006.
dos, teremos que a informalidade salta para assus- T(1)rabalhadores ocupados de 10 ou mais anos na semana de referência
Inclusive empregadores
tadores 59%. Em outras palavras, praticamente
60% da população economicamente ativa no país destaque os empregados sem carteira (32%) e os
não usufrui dos direitos legais relacionados ao tra- trabalhadores por conta própria (38%). Eles
balho, realidade que vem se juntar à elevada pro- representavam 18% e 21%, respectivamente, do

CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010


porção dos que não contribuem para a previdên- total de ocupados em 2006, justamente, segundo
cia social – 89% entre os informais –, o que agrava o que reclama a literatura, as principais formas de
ainda mais a condição de instabilidade e insegu- inserção para onde se deslocaram os
rança econômica e social dos brasileiros. Do total desempregados após a reestruturação da economia.
de trabalhadores ocu-
pados, apenas 49% Tabela 4 - Brasil: distribuição dos trabalhadores informais por posição na
ocupação e sexo em 2006 %
contribuem para a pre-
Total Homens Mulheres
vidência. As Tabelas Posição na ocupação 100 56 44
1, 2 e 3 resumem as Empregados sem carteira 32 22 10
estatísticas. Doméstico sem carteira 10 0,6 9
Se olharmos Conta própria 38 26 12
para a distribuição Trabalhadores na produção para o próprio consumo 8 3 5

dos trabalhadores T ra b a lh a do re s n a c o n s tru ç ã o pa ra o p ró p rio u s o 0 ,3 0 ,2 0


Não-remunerados 11 5 6
informais por sua
Fonte: IBGE/PNAD 2006.
posição na ocupação Trabalhadores ocupados de 10 ou mais anos na semana de referência
Exclusive empregadores
(Tabela 4), ganham

183
TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

A última pesquisa do IBGE sobre a a população mais educada, principalmente a mais


informalidade urbana no país, realizada em 2003, jovem, enfrentando oportunidades de emprego de-
parece corroborar tal argumento.10 Lá se constata terioradas no mercado de trabalho (Hasenbalg; Sil-
que 88% das unidades produtivas do setor infor- va 2003; Fantasia; Voss, 2004). De fato, os dados
mal eram formadas por trabalhadores por conta pró- da PNAD 2006 confirmam que mais anos de estu-
pria, sendo que a sua mais absoluta maioria, 93%, do podem significar uma melhor inserção no mer-
não possuía constituição jurídica e era composta cado de trabalho: o grosso das pessoas ocupadas
(80%) por apenas um trabalhador. Em dez anos, de no mercado de trabalho informal possui baixo ní-
1993 a 2003, registrou-se um crescimento de 11% vel de instrução. Em números mais específicos, a
no número desses microempreendimentos, boa Tabela 5 nos mostra que 42% dos trabalhadores
parte deles (32%) concentrado no comércio e nos informais possuem até 4 anos de estudos, sendo
serviços de reparação e outra parcela considerável que praticamente 30% deles sequer chegaram a
(18%) na construção civil. concluir o ensino fundamental, estando no que
Voltando à nossa tabela da distribuição dos hoje comumente se considera como numa situa-
informais por posição na ocupação, é também dig- ção de analfabetismo funcional. As proporções dos
no de nota a proporção (11%) dos não-remunera- trabalhadores com até 4 anos de estudo e abaixo
dos dentre os trabalhadores informais, representando desse nível entre os formais é de 16% e 9%, res-
6% dos trabalhadores ocupados em 2006 (essa pro- pectivamente. Na subida da escala, pode-se verifi-
porção chegou a 9% em 1996). Eles normalmente car que uma proporção significativa dos trabalha-
se concentram nas atividades realizadas por mem- dores formais (40%) possui entre 9 e 11 anos de
bros da família ou amigos, majoritariamente mulhe- estudos ou o 2º grau incompleto. Em sua absoluta
res, e representam 5,54% da força de trabalho sem maioria, 60%, os trabalhadores informais sequer
rendimentos monetários no total da PEA. A Tabela concluíram o primeiro grau ou o antigo ginasial. A
não mostra, mas no que respeita a outra categoria diferença é ainda mais considerável entre os que
das mais tradicionais do trabalho informal, a dos possuem mais de 12 anos de estudo. Apenas 6%
trabalhadores domésticos, em sua mais absoluta dos informais se encontram nesse nível de instru-
maioria representada pelas mulheres, 73% não têm ção contra 19% entre os formais.
registro em carteira, o que nos dá uma dimensão do Pressionado pelas demandas de um padrão
quanto essa categoria de trabalhadores permanece de competitividade internacional, o Brasil se de-
CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010

alijada da cobertura de direitos, mesmo tendo um para, nos anos 90, com o desafio de elevar o
estatuto diferenciado, e ainda mais flexível, que o
dos demais trabalhadores privados. Tabela 5 - Brasil: d istribu ição d os trabalhad ores
Um elemento essencial para abrir oportuni- ocu p ad os p or grau d e instru ção em 2006 %
Grau d e Instru ção Formais Informais
dade de inserção menos precária dos trabalhadores
Sem instrução e menos de 1 ano 3 13
na atividade produtiva, seja no mercado de traba-
Até 3 anos 6 15
lho formal seja no informal, é o nível educacional Fundamental completo 8 14
do trabalhador. Há um consenso universal sobre o 1o grau incompleto 11 18
fato de que a educação atua como um fator que in- 1o grau completo 10 10
flui no status da ocupação, muito embora, com a 2o grau incompleto 40 22
reestruturação do capital no final do milênio, seja 2o grau completo 3 1
Mais de 12 anos de estudo 19 6
forte a tendência a um desacoplamento entre a es-
Sem declaração 0,5 0,5%
trutura educacional e a estrutura ocupacional, com Total 100 100
Fonte: IBGE/PNAD 2006.
10
IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho Trabalhadores Ocupados de 10 ou mais anos na semana de
e Rendimento, Economia Informal Urbana 2003. Dis- referência
ponível em: <www.ibge.gov.br>. Exclusive empregadores

184
Márcia da Silva Costa

baixíssimo nível de instrução de sua força de tra- cacionais e de qualificação, jamais será incorpora-
balho, produto da também baixíssima prioridade do pela economia formal.
da educação básica no modelo de desenvolvimen- No que respeita à renda, podemos visualizar,
to por substituição de importações. Estamos, por- na Tabela 6, que consideráveis 65% dos trabalha-
tanto, procurando enfrentar esse desafio com um dores informais auferem até um salário mínimo de
atraso de pelo menos 50 anos em relação à trajetó- rendimento mensal; essa proporção entre os for-
ria de outras sociedades mais desenvolvidas. mais é de 24%. Boa parcela dos trabalhadores for-
Destarte, é sabido que, nos últimos anos, tem se mais, 40%, está concentrada na faixa de salários
registrado uma elevação dos anos de estudos da que vai de um a dois salários mínimos. A propor-
força de trabalho, reflexo dos esforços das políti- ção dos trabalhadores informais nessa faixa de salá-
cas públicas no sentido de reduzir o enorme défi- rios é de apenas 21%. Todavia, é ainda mais signi-
cit educacional do país. No entanto, a melhora ficativo que 25% dos homens e 40% das mulheres,
educacional da força de trabalho também vem se dentre os trabalhadores informais, se encontrem na
dando por outra via que, de uma perspectiva faixa de rendimentos de até meio salário mínimo.
macrossocial, passa a exigir do Estado políticas As estatísticas não nos falam da riqueza das parti-
consistentes e coordenadas de qualificação e segu- cularidades, mas, provavelmente, esse significativo
ro desemprego. No campo dos empregos formais, contingente de trabalhadores compõe os estratos de
com a reestruturação produtiva da economia, a ele- pobreza e indigência que caracterizam as modalida-
vação dos anos de estudo da força de trabalho for- des de atividade informal cotadas como condição
temente traduziu uma sólida tendência de as em- de pura alternativa de sobrevivência, onde se en-
presas estabelecerem como um de seus critérios contra a categoria dos trabalhadores de rua, objeto
básicos de contratação a exigência de, pelo menos, da etapa da análise qualitativa desta pesquisa. No
o 1º grau de instrução (8 anos de estudo), o que, momento, as estatísticas apenas nos mostram que a
em muitos casos, implicou a dispensa de traba- categoria dos trabalhadores por conta própria con-
lhadores de meia idade e baixa escolarização, que centra o agregado de trabalhadores informais nas
dificilmente retornam a exercer suas qualificações duas pontas da escala salarial: 47% dos que auferem
num emprego formal (Cardoso; Comin; Guimarães, até meio salário mínimo pertencem a essa categoria.
2006; Chahad, 2006). Sendo cada vez mais seleti- Subindo na escala, 68% dos informais que auferem
vos os critérios de contratação das empresas (em de 2 a 3 SM e 71% dos que recebem de 3 a 5 SM

CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010


muitos segmentos a exigência mínima passa a ser também pertencem ao agregado dos trabalhadores
o 2º grau completo), maior ainda passa a ser o exér- por conta própria. Esses números nos dizem da
cito industrial de reserva consti-
tuído de trabalhadores semi ou Tabela 6 - Brasil: Distribu ição d os ocu p ad os p or faixa d e salário e sexo
em 2006 %
não-qualificados, que buscam mei-
Faixa d e rend a em Fo r m a is Informais
os de sobrevivência no trabalho Salário Mínimo(1)
Total Homem Mulher Total Homem Mulher
informal. Ainda que a economia Até meio SM 1 1 1 31 25 40
retome o ritmo de crescimento al- Mais de meio a 1 SM 23 18 31 34 33 35
cançado nas décadas de 1960 e Mais de 1 a 2 SM 40 41 40 21 24 16
1970, e ainda que seja consisten- Mais de 2 a 3 SM 13 15 11 6 8 4
te a ampliação dos empregos for- M a i s de 3 a 5 S M 1 2 1 3 1 0 5 6 3
Mais de 5 a 10 SM 2 2 2 1 1 0
mais, como vem sendo registrado
Mais de 10 a 20 SM 3 3 2 1 1 0
desde 2003 (IPEA, 2007), haverá
Mais de 20 até 50 SM 1 1 0 0 0 0
um considerável contingente de Fonte: IBGE/PNAD 2006. Ocupados de 10 ou mais anos na semana de referência na
trabalhadores que, a menos que atividade principal.
Valor do Salário Mínimo Oficial: R$ 415,00
seja beneficiado com políticas edu- Exclusive empregadores

185
TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

importância desses trabalhadores na estatística da informalidade e ela é, por definição, o reino do não-
informalidade e da enorme heterogeneidade de suas direito, o que presenciamos, no campo da sociabili-
situações de renda e de trabalho. As Tabelas 6 e 7 dade, é uma degradação quase que generalizada da
apresentam as estatísticas. segurança dos indivíduos; uma insegurança vivida
no emprego, na renda,
Tabela 7 - Brasil: Distribu ição d os trabalhad ores informais p or faixa d e salário e na seguridade social,
p osição na ocu p ação em 2006 % na representação do tra-
Faixa d e rend a em Ou tros emp regad os Trabalhad or d oméstico
Conta p róp ria balho (Mattoso, 1996),
Salário Mínimo(1) sem carteira sem carteira
Até meio SM 32 21 47
mas também na capa-
Mais de meio a 1 SM 50 14 36 cidade de planejamen-
Mais de 1 a 2 SM 42 6 52 to, na possibilidade de
Mais de 2 a 3 SM 31 1 68 garantir a refeição do
Mais de 3 a 5 SM 29 0 71 dia, no porvir.
Mais de 5 a 10 SM 38 0 61
Mais de 10 a 20 SM 30 0 70
Mais de 20 até 50 SM 25 0 75
Fonte: IBGE/PNAD 2006. Ocupados de 10 ou mais anos na semana de referência por rendimento na
À GUISA DE CON-
atividade principal CLUSÃO: mais
(1)
Valor do Salário Mínimo Oficial: R$ 415,00
Exclusive empregadores regulação, mais
Estado
A concentração dos trabalhadores informais
nas faixas de salário mais baixas, de meio até 1 No momento em que concluo este texto, as
salário mínimo, parece confirmar aquela velha pro- celebrações por parte do poder público, no Brasil,
posição de que o nível educacional tem efeito so- de uma retomada, a partir de 1999 e, sobretudo,
bre o padrão de rendimento ou a forma de inser- depois de 2002, dos empregos com carteira, ainda
ção do indivíduo no mercado de trabalho. Parece que positivas, mais se assemelham a retóricas ante
confirmar, também, o argumento de que a o enorme déficit nos números da inserção econô-
informalidade anda de mãos dadas com a pobreza mica e social historicamente registrados no país.
no nosso país, realidade que se agrava pela ausên- Se, de fato, a informalidade vem se retraindo (Bra-
cia ou insuficiência do Estado no campo do provi- sil, 2008; IPEA,2007; Pochmann, 2006; Chahad,
CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010

mento dos serviços públicos e sociais. Ainda que 2006), há uma forte dependência da solidez do
sejam restritos o assalariamento e o baixo o pa- crescimento econômico. Mas esse crescimento,
drão de renda da força de trabalho, produto das como consequência do atual estágio tecnológico e
desigualdades estruturais já discutidas, esses nú- das estratégias de organizar o processo produtivo,
meros nos dizem da importância do vínculo for- parece não guardar mais a forte relação positiva
mal de trabalho não apenas no campo dos direitos com o nível de emprego que registrou em décadas
individuais, mas no da capacidade política de re- passadas. Por um lado, caberia distinguir, como
versão daquelas desigualdades. Eles corroboram, sugere Chahad (2006), em que medida aquela re-
como fizeram outras pesquisas sobre a mesma rea- tomada se deve a uma maior formalização da eco-
lidade em regiões específicas do país (Jakobsen et nomia, devido às políticas de incentivo, inclusive
al, 2000; Filgueiras et al, 2004), o grau de precari- decorrentes de maior flexibilização dos direitos do
edade da inserção produtiva de um número cres- trabalho, e de fiscalização do Estado; e em que me-
cente de trabalhadores brasileiros. dida ela provém de aumento genuíno dos empre-
Se a noção de flexibilidade que acompanha gos. Por outro, é importante ter em mente a ten-
as mudanças no regime de emprego tradicional vem dência acima comentada: os atuais parâmetros de
incorporando, cada vez mais, um sentido de contratação das empresas deixam de fora, sem se-

186
Márcia da Silva Costa

quer ter a possibilidade de concorrer, um vasto rais, marca de um padrão de acumulação


exército industrial de trabalhadores semi ou não- concentrador de renda e perpetuador da pobreza.
qualificados, esses ainda mais dependentes de Enfrentar tais problemas requer mudanças profun-
políticas públicas. Temos, assim, que crescimento das naquelas desigualdades estruturais, e isso ne-
econômico, per se, não é sinônimo de mais empre- cessariamente passa pelo embate político do con-
go formal ou de distribuição de renda.11 flito de classe, adverso, nos últimos governos, para
Voltando à nossa reflexão inicial, a diminu- os trabalhadores.12 Nesse embate cabe ressaltar a
ta redução da informalidade (o IPEA, na análise questão do papel do Estado, de sua responsabili-
dos números da PNAD, registrou uma queda de dade pela condução dos destinos da sociedade,
2,37 pontos percentuais entre 2002 e 2006) não sobretudo no que remete à institucionalização de
decorre de efetivas mudanças estruturais no regi- mecanismos democráticos que possibilitem que o
me de relações de trabalho, na estrutura fundiária, próprio conflito se dê de forma menos desequili-
ou mesmo no regime tributário do país. Ao con- brada. E aqui cabe destacar a importância da regu-
trário, a política de estabilização da economia vem lamentação do mercado de trabalho e das políticas
se pautando ainda mais contundentemente no for- públicas no campo do planejamento econômico e
talecimento dos interesses do capital financeiro e da cidadania. Em outras palavras, a informalidade
do capital agroexportador de bens primários: o é um problema social, portanto de interesse públi-
primeiro pouco comprometido com a produção e co. Ela demanda do Estado políticas que primem
a geração de empregos; o segundo, ora apoiado na por um sistema de distribuição de renda mais
mecanização ora na superexploração do trabalho, equitativo, apoiado no princípio da universalização
continua a reproduzir as formas arcaicas de rela- de direitos e por intervenções que limitem a ga-
ções de produção ainda prevalecentes no campo nância das empresas, uma vez que delas provém
(o caso do etanol é emblemático). É nesse sentido grande parte das mudanças que ora prescindem
que a retomada do crescimento e uma possível am- do trabalho, ora o explora de forma abjeta. O forta-
pliação do emprego regulado muito dificilmente ou lecimento dos movimentos sociais e do trabalho
apenas de forma bastante limitada podem contri- tem relação direta com o fortalecimento desse po-
buir para uma efetiva diminuição do vergonhoso der de intervenção.
quadro de desigualdade social (e a informalidade é
a sua face mais perversa) e dos sofrimentos a que

CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010


seus trabalhadores se submetem. (Recebido para publicação em janeiro de 2009)
(Aceito em maio de 2009)
A desocupação, o subemprego, o trabalho
informal, o emprego regulamentado, mas de
baixíssimos salários e poder de barganha, são pro- REFERÊNCIAS
blemas centrais na sociedade brasileira e estão no
âmago de suas profundas desigualdades estrutu- ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio so-
bre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo:
Boitempo, 2000.
11
De outra perspectiva, argumenta no mesmo sentido: BOITO Jr., Armando. Política neoliberal e sindicalismo no
segundo sua análise, entre 1992 e 2005, o crescimento Brasil. São Paulo: Ed. Xamã, 1999.
do PIB real foi de 44%, superior ao crescimento da PEA
(32%), ao total do pessoal ocupado (25,6%) e muito BOYER, Robert. Capital-labour relations in OCDE
acima do crescimento do emprego formal (17,8%). Em countries: from the fordista golden age to contrasted
suas palavras: “o maior crescimento da PEA, relativa- national trajectories. In: CAPITAL, the State and Labour:
mente ao total de pessoal ocupado, explica por que tem a global perspective. Tokyo: United Nations University
havido crescimento contínuo do desemprego aberto e Press,1995.
da informalidade do trabalho. O maior crescimento do
total de pessoal ocupado, por sua vez, do que o emprego
12
formal é indicativo que os empregos protegidos pela le- Para uma análise contundente de como se tem configu-
gislação trabalhista e previdenciária, os chamados “bons” rado as forças políticas no Brasil após a avalanche de
empregos, tem crescido bem menos do que as ocupa- medidas neoliberais das últimas duas décadas ver, por
ções informais, precárias, atípicas, ou desprotegidas” exemplo: Oliveira (2005), Cardoso (2003), Boito Jr (1999),
(Chahad, 2006, p.47). Mattoso (1997).

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TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

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TRABALHO INFORMAL: um problema estrutural básico...

INFORMAL LABOR: a basic structural problem LE TRAVAIL INFORMEL: un problème


in the understanding of inequalities in Brazilian structurel basique pour comprendre les
society inégalités dans la société brésilienne

Márcia da Silva Costa Márcia da Silva Costa

This paper rescues the theoretical- Ce texte reprend le débat théorique et


conceptual debate that involves the theme the conceptuel à propos du thème de l’informalité en
informality, in essence, that of dominance tant que tel, le débat sur les liens de domination
relationships that favored the capitalist qui ont favorisé l’accumulation du capital dans le
accumulation in this country. Starting from the data pays. A partir des données du PNAD 2006, on y
of PNAD 2006, the distribution of the busy fait également une analyse de la distribution de la
workforce is also analyzed. Who are the informal force de travail active. Qui sont ces informels et
ones and how are they distributed? Which income comment sont-ils répartis ? Quel est le profil de
and education profile do they have? These leurs revenus et de leur scolarisation ? Les résultats
discoveries corroborate the analytical arguments corroborent les arguments de l’analyse qui
that understand the informality as a basic structural considèrent l’informalité comme un problème
problem in Brazilian society. Its growth asserts the structurel de base dans la société brésilienne. Son
historical picture of inequality and poverty that augmentation confirme le cadre historique
marked its development pattern. Even if the d’inégalité et de pauvreté qui a marqué son modèle
economy grows again, there will be a considerable de développement. Même si l’économie reprenait,
contingent of workers that, unless benefitted with il y aurait toujours un grand nombre de travailleurs
solid educational policies, will never have the qui, à moins d’être bénéficiaires de politiques
possibility of being incorporated in the regulated éducatives solides, n’auraient jamais la possibilité
economy. d’être intégrés dans l’économie formelle.
KEYWORDS: informal labor, labor precariousness, MOTS-CLÉS: travail informel, travail précaire, inégalité.
inequality.
CADERNO CRH, Salvador, v. 23, n. 58, p. 171-190, Jan./Abr. 2010

Márcia da Silva Costa - Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro -
IUPERJ. Professora e pesquisadora do Departamento de Administração da Universidade Federal da Paraíba e
do Programa de Pós-Graduação em Administração da mesma Universidade, desenvolvendo pesquisas na
área do trabalho e organizações. Suas mais recentes publicações, são: COSTA, M. S. Reestruturação Produtiva
e Trabalho na Indústria Têxtil Brasileira. In: NEVES, Jorge Alexandre Barbosa; FERNANDES, Danielle
Cireno; HELAL, Diogo Henrique (Org.). Educação, trabalho e desigualdade social. 1ª ed. Belo Horizonte:
Editora Argvmentvn, 2008. COSTA, M. S. Relações de trabalho e regimes de emprego no Canadá e no Brasil:
RAE Eletrônica, v. 6, n. 2, p. 1/16-29, 2007. COSTA, M. S.; MATIAS, Karla; GODIM, Cibelle. Mercado de
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