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Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Engenharia Civil


Trabalho de Conclusão de Curso

INSPEÇÃO PREDIAL COM FOCO EM ELABORAÇÃO DE


LAUDO TÉCNICO DE VISTORIA EM EDIFICAÇÃO PÚBLICA

Autor: Rodrigo Almeida Bueno


Autor: Wendel Durans Ferreira
Orientador: Prof. DSc. Jorge A. da Cunha Oliveira

Brasília - DF
2016
i

RODRIGO ALMEIDA BUENO & WENDEL DURANS FERREIRA

INSPEÇÃO PREDIAL COM FOCO EM ELABORAÇÃO DE LAUDO TÉCNICO DE


VISTORIA EM EDIFICAÇÃO PÚBLICA

Artigo apresentado ao curso de graduação em


Engenharia Civil da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para a
obtenção de Título de Bacharel em Engenharia
Civil.

Orientador: Prof. DSc. Jorge A. da Cunha


Oliveira

Brasília
2016
ii

Artigo de autoria de Rodrigo Almeida Bueno e Wendel Durans Ferreira, intitulado


“INSPEÇÃO PREDIAL COM FOCO EM ELABORAÇÃO DE LAUDO TÉCNICO DE
VISTORIA EM EDIFICAÇÃO PÚBLICA”, apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil da Universidade Católica de Brasília, em
de Junho de 2016, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada:

__________________________________________________

Prof. DSc. Jorge A. da Cunha Oliveira


Orientador
Curso de Engenharia Civil – UCB

__________________________________________________

Prof. MSc. Luciana Nascimento Lins


Examinadora
Curso de Engenharia Civil – UCB

Brasília
2016
iii

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, que são companheiros de todas


as horas;
A minha namorada Victória que me apoia na
graduação e na vida;
Ao meu amigo Wendel, por quem tenho
tamanho respeito e gratidão.

Rodrigo Almeida Bueno

A minha mãe, que sempre está do meu lado,


me apoia e nunca desacreditou do meu
potencial;
Aos meus amigos, que sempre me apoiaram;
Ao meu amigo de projeto e de vida Rodrigo.

Wendel Durans Ferreira


iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, por nos encorajar e favorecer ao sucesso.

Ao nosso orientador, pelo empenho dedicado à elaboração deste trabalho.

Ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJDFT, por concessão do acesso ao


espaço para nosso trabalho de conclusão de curso, em especial aos setores SUMAN e COB,
pela disponibilidade, prestabilidade, incentivo e apoio no desenvolvimento.

A Universidade Católica de Brasília, pela qualidade de ensino e quadro excelente de mestres e


doutores.
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INSPEÇÃO PREDIAL COM FOCO EM ELABORAÇÃO DE LAUDO TÉCNICO DE


VISTORIA EM EDIFICAÇÃO PÚBLICA

RODRIGO ALMEIDA BUENO & WENDEL DURANS FERREIRA

RESUMO
Este trabalho tem como finalidade a elaboração de laudo técnico com base em
irregularidades e manifestações patológicas nos Edifícios Bloco A e Bloco B do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal – TJDFT, localizado em Brasília, DF. A análise
técnica se baseia em inspeção visual das áreas externas e em algumas áreas internas, que
eventualmente estiverem acessíveis à visitação.
Para a consistência das informações, são adotados os critérios da Norma de
Inspeção Predial do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São
Paulo - Ibape-SP, que recomenda a utilização da ferramenta de gerenciamento de risco
GUT, composta pela metodologia “Gravidade, Urgência e Tendência”.
Tendo em vista a ocorrência das patologias, é verificada no acervo do Tribunal
as ocasiões de projetos e reformas realizadas nos últimos 6 anos, assim como a idade
correspondente ao edifício. O acesso às informações é devidamente autorizado pelos
setores responsáveis por tais atribuições.
Após a etapa das causas e classificação das patologias, se torna possível apontar
as medidas necessárias para corrigir e prevenir que as regiões afetadas comprometam a
segurança dos usuários, do meio ambiente e do patrimônio.

Palavras-chave: Laudo Técnico. Patologia. Reforma. Inspeção Predial.


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1. INTRODUÇÃO
Cada edificação possui uma vida útil, que pode ser minorada de acordo com a
incidência de causas prejudiciais, algumas destas causas se relacionam à falta de
manutenções preventivas e corretivas. Os órgãos públicos geralmente enfrentam
grandes degradações em suas instalações devido a problemas diversos, como mão-de-
obra e materiais inadequados, mau uso, mudanças de governo ou até mesmo descaso de
seus gestores. Sendo assim, utilizam custos injustificáveis nas reformas, que por sua vez
poderiam ser evitadas à longo prazo com manutenções simples.

Segundo Neves e Branco (2009, p.12), nos países de primeiro mundo, manter o patrimônio
imobiliário em boas condições de uso é algo cultural e rotineiro. Em qualquer transação imobiliária é
obrigatório o laudo técnico para assinatura dos contratos. Nos prédios públicos pode-se verificar o
Certificado de Inspeção Predial nos quadros de avisos enquanto nos imóveis residenciais disponíveis para
venda e locação, o certificado fica atrás da porta, de forma visível para o futuro morador. Os autores
ainda citam que no Brasil, em contrapartida, as transações imobiliárias não requerem laudos técnicos, na
maioria das vezes são levadas em conta apenas as informações fornecidas pelo atual proprietário ou
intermediador da venda. Esta situação impede a avaliação das condições para negociação do valor por
parte do comprador.

Se baseando nessas eventualidades, a inspeção predial vem sendo estudada de


maneira progressiva no Brasil desde 1999, e é entendida como uma vistoria que avalia o
estado de uma edificação, através de conservação, desempenho, segurança e vida útil. A
denotação dos problemas patológicos de um edifício pode ser levantada através de
inspeções técnicas, nas quais os avaliadores apontam possíveis problemas, por meio de
avaliação visual e ensaios técnicos. Após avaliada a edificação, é desenvolvido o laudo
técnico de vistoria, que além de apontar as falhas construtivas e de uso, sugere meios
para a reparação dos problemas relatados.

A Norma de inspeção predial do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de


Engenharia de São Paulo - IBAPE-SP, é um apoio relevante para materializar o
Laudo/Parecer Técnico como proposta comercial e apresenta conceitos, diretrizes,
critérios e procedimentos utilizados no meio pericial que tem sido amplamente
difundidos pelos profissionais habilitados para executar a atividade, ou seja,
Engenheiros e Arquitetos.
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O trabalho será desenvolvido como base nas principais manifestações patológicas


encontradas na estrutura e revestimentos da edificação estudada. Sejam elas: trincas,
falhas de concretagem, infiltrações, corrosões, eflorescências, etc. O tema foi escolhido
devido a ambos terem estagiado no TJDFT em setores inerentes ao curso de engenharia
civil e termos tido contato direto com problemas em diversas edificações, portanto a
elaboração de laudo técnico é um tema de grande interesse para nós. A proposta é gerar
uma avaliação da edificação que possui idade não muito elevada, entretanto possui uso
frequente dos servidores e do público do Distrito Federal.

2. MATERIAL E MÉTODOS

De acordo com a Norma Básica de Perícias IBAPE/SP o Laudo Técnico se


caracteriza por um documento técnico elaborado por profissional habilitado para relatar
análises, conclusões, exames, vistorias e conclusões periciais.
As perícias se subdividem em:

Avaliação: Análise em que são mensurados os valores, custos ou indicações referentes


à viabilidade econômica de uma determinada intervenção.

Exame: Conclusão de fatos ou desenvolvimento de determinado processo em que sejam


relatadas as causas e consequências, tendo como foco pessoas e bens móveis. Tal
subdivisão pode levar em consideração métodos probabilísticos.

Vistoria: Conclusão de fatos ou desenvolvimento de determinado processo em que


sejam relatadas as causas e consequências. Os métodos probabilísticos também podem
ser utilizados, entretanto o foco desta é analisar objetos imóveis.

Este trabalho se enquadra na classificação de vistoria, uma vez que pretende


identificar causas e consequências das patologias da edificação em questão, em
conformidade com a Norma Ibape-SP que possui como apoio complementar as demais
Normas condizentes com o estudo em questão, como ABNT NBR 13752 Perícias de
Engenharia na Construção Civil, ABNT NBR 5674 Manutenção de Edificações e
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Norma Para Avaliação de Imóveis Urbanos do IBAPE/SP.


Na elaboração de um Laudo Técnico deve-se prezar, caso necessário, a
confidencialidade dos resultados e todas as informações técnicas recebidas pelo cliente.
Entretanto para este artigo acadêmico, foi de comum acordo (entre autores e os
respectivos setores responsáveis do TJDFT), a citação do nome do Tribunal, uma vez
que a cópia pode ser utilizada como apoio para prestar futuras manutenções.
Cabe ressaltar também que o estudo foi autorizado por documento formalizado
que dá acesso às instalações do fórum para registro minucioso das patologias assim
como acesso aos projetos em formato “dwg” ou impressos, laudos, relatórios e
pareceres que possam contribuir para o andamento do artigo.
A inspeção teve foco na abordagem de não conformidades na estrutura e no
revestimento, por conta de falta de tempo hábil e complexidade do objeto de estudo.

A seguir os dados das Edificações:

Fórum Desembargador Milton Sebastião Barbosa (Bloco A):


Praça Municipal - Bloco A - Lote 1 - Brasília - DF - 15°47'15.9"S 47°54'33.4"W.
Imóvel público utilizado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Número de pavimentos: 10
Área por pavimento: 2.030 m².
Idade do prédio: 41 anos.
Estrutura: Concreto Armado.
Revestimento da fachada: Mármore branco.

Fórum Desembargador Milton Sebastião Barbosa (Bloco B):


Praça Municipal - Bloco B - Lote 1 - Brasília - DF - 15°47'17.1"S 47°54'33.4"W.
Imóvel público utilizado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Número de pavimentos: 10.
Área por pavimento: 2.675 m².
Idade do prédio: 20 anos.
Estrutura: Concreto Armado
Revestimento da fachada: Mármore branco.

Os Blocos A e B possuem, respectivamente, 41 e 20 anos aproximados. Ambos


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são compostos por vigas e pilares de concreto armado, o Bloco mais antigo, segundo
registros, possui protensão nas lajes do 2º ao 10º pavimento.

Figura 1 – Fachada dos Edifícios Bloco A (15°47'15.9"S 47°54'33.4"W) e Bloco B


(15°47'17.1"S 47°54'33.4"W) respectivamente.
Fonte: Autores.

Metodologia de inspeção:

 Inspeção Preliminar;
 Histórico de reformas;
 Análise de projetos;
 Vistoria in loco;
 Verificação das patologias;
 Registro de dados;
 Diagnóstico com base em referências;
 Elaboração de Laudo Técnico de Vistoria.
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As vistorias em campo compreenderam o período entre os meses de Março e


Maio de 2016. O total de visitas foram 8, para verificar a área externa e interna.
Para facilitar a vistoria foi utilizada Câmera Digital Nikon D3200, Lupa com
iluminação, Paquímetro aferido Vernier Caliper 150x0,05mm, Fissurômetro
2.090.001, Planta baixa dos Blocos A e B, e planta de arquitetura do subsolo.

Figura 2 - Materiais físicos utilizados na inspeção.

Fonte: Autores.

Sistemas construtivos inspecionados:


 Estruturas de concreto armado: Pilares, Lajes e Vigas;
 Vedação e Alvenarias: Revestimentos e Fachadas;
 Impermeabilização na cobertura.

2.1 Definições

2.1.1 Patologias
O termo patologia no ramo da construção civil, faz referência a qualquer anomalia
que a estrutura ou revestimento esteja sofrendo, seja por erro humano ou por causas da
natureza.

De acordo com Souza e Ripper (2009) designa-se genericamente por patologia das
estruturas esse novo campo da Engenharia das Construções que se ocupa do estudo das
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origens, formas de manifestação, consequências e mecanismos de ocorrência das falhas


e dos sistemas de degradação das estruturas.

2.1.1.2 Principais manifestações patológicas estudadas

2.1.1.2.1 Falhas de Concretagem

Se associam aos vazios e ninhos de concretagem, que popularmente são


conhecidos como bicheiras. Esta patologia pode afetar a durabilidade e resistência das
estruturas que por sua vez podem, por consequência, sofrer deformações.
As causas mais incidentes para a falha no processo de concretagem de uma
estrutura são o lançamento e adensamento do concreto. Entretanto um erro no
detalhamento das armaduras pode congestionar as ferragens, reter a brita e deixar
apenas a argamassa se assentar, formando portanto a falha.

Segundo Valentina Figuerola (2006) as relações entre o tamanho máximo do agregado utilizado no
concreto, dimensão das peças estruturais e distâncias horizontais e verticais entre as barras de aço devem
respeitar parâmetros para que os vazios de concretagem sejam evitados.

2.1.1.2.1.1 Trinca, fissura e rachadura

Estas manifestações são as mais comumente encontradas na construção civil, são


ocasionadas por diversas causas, como recalque da fundação, deficiência na cura do
concreto, variações térmicas, concentrações de carregamentos, entre outros.
Embora aparentam ser o mesmo problema com termos diferentes, elas se diferem
de acordo com as suas aberturas.

Conforme destacam Gomide, Fagundes Neto e Gullo (2009) Fissura é uma lesão com
abertura inferior a 0,5mm, trinca é uma lesão com abertura superior a 0,5mm e inferior a
2 mm e rachadura é uma lesão com abertura superior a 2 mm.
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2.1.1.2.1.2 Carbonatação

É uma das principais causas das corrosões das armaduras de concreto armado,
tem como característica a mudança do ph do material que é inicialmente alto e varia
para um ph mais neutro que gera condições favoráveis à sua degradação.

Carbonatação é o processo pelo qual o concreto sofre a agressão do Dióxido de Carbono


presente no meio, transformando o hidróxido de Cálcio presente, em Carbonato de Cálcio mais
água, gerando a diminuição da alcalinidade da peça e a redução de volume (retração por
carbonatação) (GOMIDE; FAGUNDES NETO; GULLO, 2009)

2.1.1.2.1.3 Falhas em sistema de Impermeabilização

Objetiva a estanqueidade das estruturas que estão expostas a incidência de água,


promovendo a retenção e proteção contra a percolação da água na estrutura desejada,
gerando condições favoráveis a estabilidade do projeto. Segundo a Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT NBR 7595) “conjunto de operações e técnicas construtivas
(serviços), composto por uma ou mais camadas, que tem por finalidade proteger as construções
contra a ação deletéria de fluidos, de vapores e da umidade.” (2010, p. 5)

2.1.1.2.1.4 Empolamento de pintura

O empolamento de pintura é ocasionado pela infiltração da água pela face oposta


da parede. É basicamente o surgimento de bolhas de água onde a tinta foi aplicada,
geralmente é ocasionado pelo acúmulo de umidade ou vapor de líquidos que estão na
parte interna da parede gerando má aderência entre a tinta e a parede.

2.1.1.2.1.5 Eflorescência

São os resíduos esbranquiçados que se formam na face do concreto, argamassa,


cerâmicas e outros materiais, é ocasionado pela infiltração da água por falhas executivas
de instalação ou pela porosidade dos materiais, dissolvendo os sais do cimento e cal.
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Segundo Bauer (2000) A eflorescência é causada por três fatores de igual importância: o teor de
sais solúveis existentes nos materiais ou componentes, a presença de água e a pressão
hidrostática necessárias para que a solução migre para a superfície. As três condições devem
existir concomitantemente, pois caso uma delas seja eliminada não ocorrerá o fenômeno.

2.1.2 Classificação das Anomalias e Falhas quanto ao grau de risco

Anomalia se define como vícios construtivos, ou seja, inadequação de projetos


materiais e execução. A Falha, no entanto, trata-se de vício de manutenção, seja este
oriundo de planejamento ou de controle operacional. De acordo com a norma de
inspeção do IBAPE/SP após os itens patológicos serem registrados é necessário
classificá-los quanto ao grau risco da seguinte forma:

Tabela 1-Prioridades para manutenção

Grau de risco Descrição Recomendações


Risco predominante a saúde e a
segurança das pessoas e meio
Intervenção do local, valor
Crítico ambiente, impacto
alto.
irrecuperável, desvalorização
visível.
Risco de funcionalidade,
Intervenção a curto prazo
Regular impacto recuperável e perda de
para manutenção
desempenho pontual.
Impacto recuperável com
Intervenção a médio prazo
Mínimo pequenos prejuízos,
para manutenção
principalmente na estética.
Fonte: Siqueira et al (2009) adaptado.

2.1.3 Ferramenta GUT – Gravidade, Urgência e Tendência

A norma IBAPE apresenta como recomendação a elaboração de ordem de


prioridades a ferramenta GUT, pois mensura a importância de cada falha. A Matriz de
priorização GUT (Gravidade x Urgência x Tendência) foi proposta por Charles H.
Kepner e Benjamin B. Tregoe, em 1981 e é utilizada como recurso de qualidade para
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definir prioridades em diversos âmbitos.

Segundo Gomides (2009) “Quanto à ordem de prioridades recomenda-se que seja disposta em
ordem decrescente quanto ao grau de risco e intensidade das anomalias e falhas, apurada por
metodologias técnicas apropriadas (GUT, FMEA, etc.).”

O sistema permite alocar os recursos mais importantes, contribui para


planejamento estratégico e pode ser utilizado em assuntos diversos. No ramo da
inspeção predial a ferramenta facilita a quantificação de cada item com seus respectivos
pesos, como são representados na tabela a seguir:

Tabela 2-GUT (Gravidade, Urgência, Tendência)

GRAU GRAVIDADE PESO


perdas de vidas humanas, do meio ambiente ou do próprio
Total edifício 10
Alta ferimentos em pessoas, danos ao meio ambiente ou ao edifício 8
Média desconfortos, deterioração do meio ambiente ou do edifício 6
Baixa pequenos incômodos ou pequenos prejuízos financeiros 3
Nenhuma 1
GRAU URGÊNCIA PESO
Total evento em ocorrência 10
Alta evento prestes a ocorrer 8
Média evento prognosticado para breve 6
Baixa evento prognosticado para adiante 3
Nenhuma evento imprevisto 1
GRAU TENDÊNCIA PESO
Total evolução imediata 10
Alta evolução em curto prazo 8
Média evolução em médio prazo 6
Baixa evolução em longo prazo 3
Nenhuma não vai evoluir 1
Fonte: Gomides (2009)
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O ato da classificação requer experiência por parte do profissional habilitado, pois é


meramente interpretativo. Em caso de coincidência de pontuações acumuladas ou
facilidade na solução de determinados serviços, cabe o bom senso do inspetor para
modificar a ordem das tarefas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os sistemas construtivos relatados foram descritos como anomalias ou falhas,
com classificação do grau de risco atribuído: Grau Crítico (C), Grau Regular (R) ou
Grau Mínimo (M) e utilização da Matriz GUT para quantificação dos itens em termos
de Gravidade, Urgência e Tendência.

3.1 Estruturas de Concreto Armado

As patologias estruturais foram evidentes na Garagem do subsolo. Foram


encontradas infiltrações, carbonatações e armaduras expostas.

3.1.1 Armadura aparente – Viga

Figura 3 - Viga com armadura aparente.

Fonte: Autores.
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3.1.1.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Classificação do problema: Anomalia.

Manifestações: Armadura oxidada que se torna aparente em função do desgaste e


destacamento do cobrimento da viga. Fissuras e eflorescências também se manifestam
em pontos isolados.

Causas: No local analisado, há uma junta de dilatação entre duas edificações.


Considerando que logo acima há um espelho d’água e outras fontes de umidade, está
ocorrendo infiltração na viga que por sua vez se conduz até os pilares da proximidade
por meio de calhas. A zona de garagem possui muito gás carbônico (CO2), o dióxido de
carbono adentra nos poros do concreto, dilui-se na umidade contida na estrutura, e gera
o ácido carbônico (H2CO3), que reage com o hidróxido de cálcio (CA(OH)2) da pasta
de cimento hidratada e os agentes químicos nela contidos e gera o carbonato de cálcio,
que por sua vez consome álcalis da pasta e reduz o pH do concreto, propiciando o
processo de corrosão da armadura. Outra possível causa, seria o mal posicionamento
dos espaçadores no processo construtivo, que por sua vez diminuiria o cobrimento do
concreto.

Intervenção: Providenciar a adequada impermeabilização do espelho d’água situado


acima da garagem com manta asfáltica, assim como vedar o encontro das estruturas na
junta de dilatação com selante à base de poliuretano.
A recuperação da estrutura com dano deve ser prosseguida através da remoção
dos poluentes e sujeiras, lixamento manual ou mecânico, escarificação para remoção do
concreto desagregado, limpeza manual com escova de aço nas armaduras oxidadas e
aplicação de Primer composto por cromato de zinco para inibir a corrosão e evitar
ataques da carbonatação e de agentes externos. A sessão de concreto deve ser
reconstituída com argamassa polimérica, pois além de ser recomendada para cobrimento
de armaduras a fim de evitar corrosões, possui resistência elevada.

Risco: Regular.
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3.1.2 Eflorescência e Armadura aparente – Pilar

Figura 4 - Pilar com eflorescência.

Fonte: Autores.

3.1.2.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Classificação do problema: Falha.

Manifestações: Eflorescência consumindo grande parte do topo do pilar e armadura


oxidada aparente em função do desgaste do cobrimento.

Causas: O pilar analisado está posicionado em uma zona de dilatação, portanto há


grande possibilidade de escorrimento da água pela laje, que atinge com ocorrência o
topo do pilar e reage com os sais do cimento e a cal, provocando o fenômeno
característico de esbranquiçamento da seção (eflorescência). Como no caso anterior, a
água e os agentes químicos reagem provocando a corrosão da armadura que dilata e
diminui a aderência com o concreto. Cabe ressaltar que a garagem é um local de alta
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incidência de Gás Carbônico (CO2) proveniente dos veículos, portanto também pode
estar contribuindo para a neutralização do Ph do Concreto e consequentemente sua
degradação.

Intervenção: Assim como no evento anterior, providenciar com abrangência a


adequada impermeabilização do espelho d’água, de forma que não haja infiltração
conduzida pela laje, além de troca do material flexível da zona de dilatação poliestireno
expandido (isopor), que pode ter perdido sua função. Nas zonas sem armadura aparente
a eflorescência inicialmente deve ser removida com água, caso a eliminação não seja
alcançada, deve-se aplicar na superfície pré-molhada solução de ácido clorídrico e
finalmente, lavagem cuidadosa com água.
Na região com armadura aparente, o processo deve ser similar ao de recuperação
da viga e a aplicação poderá ser realizada à base de graute com característica fluída e de
auto nivelamento.

Risco: Regular.

Nos arquivos de projeto não foi possível encontrar a Planta de fôrma da


Garagem, entretanto a Planta baixa serviu para mapear as estruturas com patologias
incidentes de forma paralela à junta de dilatação, conforme a Figura a seguir:

Figura 5 - Planta baixa da garagem.

Fonte: Coordenadoria de Projetos e Gestão de Contratos de Obras – COB – TJDFT.


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3.1.3 Infiltração – Viga, Bloco B

Figura 6 - Impermeabilização com manta.


Fonte: Autores.

Figura 7 - Eflorescência no revestimento da viga.

Fonte: Autores.

3.1.3.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Classificação do problema: Falha

Manifestações: Infiltração de água no período chuvoso, diversas manchas de


eflorescência.

Causas: Devido à má impermeabilização nas esquadrias de aço que sustentam placas de


policarbonato, a água percola pela viga dissolvendo os sais contidos no cimento e na
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argamassa, o hidróxido de cálcio livre na pasta de cimento é diluído e levado à


superfície, reage com o dióxido de carbono e deposita o carbonato de cálcio na
superfície (material branco).

Intervenção: É necessária uma investigação sobre a porosidade dos materiais da


estrutura da viga, bem como foi executada a instalação da esquadria de aço na estrutura,
visando impermeabilizar possíveis caminhos para a percolação da água, seja pela
cobertura ou pela estrutura.

Risco: Regular

3.2 Alvenaria e revestimento

3.2.2 Fissuras na caixa de escada – Bloco A

Figura 8 - Fissura na caixa de escada bloco A.

Fonte: Autores.
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Figura 9 - Medição da abertura da fissura.

Fonte: Autores.

3.2.2.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Classificação do problema: Falha

Manifestações: Fissura gerada por recalque da fundação da caixa de escada de


emergência. É recorrente em diversos pavimentos, mesmo após realização de reforço
estrutural. A fissura encontra-se com 0,45mm de abertura.

Causas: A estrutura da fundação sofreu recalque por conta do solo argiloso saturado,
rearranjando a estrutura da escada, gerando uma movimentação de tombamento para o
sentido de “rasgamento” da estrutura.

Intervenção: Algumas fissuras analisadas apresentam espessuras compatíveis com as


medidas na época do reforço, portanto infere-se que está estável e é necessário aguardar
o rearranjo da estrutura após o reforço.

Risco: Regular
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3.2.3 Empolamento da textura

Figura 10 - Empolamento de pintura na caixa de escada bloco B .


Fonte: Autores.

Figura 11 – Poço de ventilação da antessala da escada de emergência.


Fonte: Autores.
19

3.2.3.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Classificação do problema: Falha

Manifestações: Empolamento e desplacamento do revestimento da alvenaria, com


pintura texturizada com massa PVA.

Causas: A manifestação na alvenaria, surgiu por conta de um poço de ventilação


posicionado paralelamente da caixa de escada, o qual possibilita a entrada de água da
chuva que escorre pela parede no lado posterior ao revestimento, assim por capilaridade
infiltra na alvenaria e percola até a face revestida, inicialmente gerando bolhas de água
que estouram e caem.

Intervenção: É recomendada a implementação de estrutura de vedação parcial na


entrada do poço de ventilação, e impermeabilização na face do poço o qual
aparentemente não possui qualquer tipo de impermeabilização, na parte já revestida, é
necessária a remoção da massa já aplicada com espátula, lixamento e aplicação de nova
pintura.

Risco: Mínimo
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3.2.4 Forro Infiltrado

Figura 12 – Forro com vazamento.

Fonte: Autores.

3.2.4.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Manifestações: Placas de forro mineral com manchas e deformações no 9º andar do


Bloco A.

Causas: No local analisado os tubos de dreno de ar condicionado passam por cima do


forro. O vazamento é absorvido pelas placas do forro mineral que por sua vez mancham
e se deformam.

Intervenções: Identificar os pontos de vazamento do tubo de PVC e vedá-los com


produto apropriado após o lixamento como a Massa Epóxi. Posteriormente as placas de
forro mineral danificadas devem ser substituídas.

Risco: Mínimo.
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3.2.5 Admissão da água da chuva pelas portas de acesso a cobertura, no bloco B.

Figura 12 - Porta metálica em mal funcionamento.

Fonte: Autores.

Figura 13 - Comprometimento do revestimento do teto do 9º andar e 7º andar.


Fonte: Autores
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3.2.5.1 Diagnóstico, origem, intervenção e risco.

Classificação do problema: Falha

Manifestações: Devido ao escorrimento superficial de água pela escada de emergência,


na zona entre a laje e o revestimento de gesso apresenta falta de aderência, além de
fissuras e comprometimento estético.

Causas: A frequente infiltração nas regiões da laje é motivada pela água da chuva que
passa pela porta de acesso à cobertura, percola os lances das escadas, de acordo com a
Figura 14, e danifica o revestimento que após perda de aderência, se desprende
paralelamente à laje, com maior dano em sua parte central que possui abertura de 4,4
mm.

Não foi possível verificar com propriedade o revestimento. Entretanto a análise


táctil visual permitiu identificá-lo como sendo espesso, de cor escura e consistência
úmida. Sua fácil desagregação se justifica pela idade elevada e possível inadequação em
seu método construtivo. A limpeza dos pisos também deve contribuir para o progresso
da patologia, visto que a água se concentra em um ponto de queda e vai se alojando nos
pavimentos.

Intervenção: Vedar qualquer tipo de infiltração proveniente da esquadria de acesso à


cobertura, escarificar o revestimento para comprovar sua baixa resistência, removê-lo e
aplicar reboco apropriado para teto com espessura coerente e emassamento com massa
corrida.

Risco: Mínimo

3.1 Matriz GUT

Para quantificar e definir as prioridades de cada reparo foi elaborada a Matriz


GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) que se baseia em pesos atribuídos que
posteriormente são multiplicados para a obtenção do total de pontos, conforme a tabela
a seguir:
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Tabela 3-Matriz GUT

Falha Gravidade Urgência Tendência Pontos

Caixa de escada Fissurada - Bloco A 1 1 3 3


Empolamento da pintura da caixa de
3 10 6 180
escada - Bloco B
Forros infiltrados - Bloco A 3 10 6 180
Pilar com Armadura Aparente e
6 10 8 480
Eflorescência - Garagem
Revestimento da escada comprometido por
infiltração da porta de acesso - Cobertura 6 10 8 480
Bloco A
Viga com Armadura Aparente - Garagem 6 10 6 360
Vigas com infiltração e eflorescência -
6 10 3 180
Cobertura Bloco B
Fonte: Autores.

Conforme a Tabela 4, as principais prioridades de reparo se associam ao Pilar com


armadura aparente e eflorescência, visto que implica em perda de desempenho na
edificação e tem evoluído de maneira rápida de acordo com o intervalo de visitas. A
pontuação do revestimento da escada também é igualmente representativa em função de
sua idade e alto desgaste em diversos pavimentos. Armadura aparente da viga da
garagem vem em seguida, pois possui desgaste progressivo no cobrimento em função da
infiltração.

Tabela 4 - Prioridades de reparo

Prioridade Falha Pontos


1º Pilar com Armadura Aparente e Eflorescência - Garagem 480
Revestimento da escada comprometido por infiltração da porta de
2º 480
acesso - Cobertura Bloco A
3º Viga com Armadura Aparente - Garagem 360
4º Vigas com infiltração e eflorescência - Cobertura Bloco B 180
5º Empolamento da pintura da caixa de escada - Bloco B 180
6º Forros infiltrados - Bloco A 180
7º Caixa de escada Fissurada - Bloco A 3
Fonte: Autores.
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4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Após a realização do trabalho, pode-se concluir que a Edificação Pública


necessita de manutenções preventivas para manter sua durabilidade (vida útil).
Após as visitas que serviram de estudo de caso e análise de resultados, foi
observado que alguns sistemas construtivos não recebem a devida manutenção corretiva
e preventiva. A matriz GUT possibilitou materializar através de pontuações a prioridade
de cada reparo e nenhum evento, felizmente, apresentou grau de risco crítico com risco
predominante à segurança das pessoas e do meio ambiente, entretanto todos eles
receberam pontuação 10 no item Urgência visto que estão em plena ocorrência.
A perícia se limitou visto que nem todos os setores estavam disponíveis para
análise e somente alguns sistemas construtivos estavam acessíveis. As instalações
hidrossanitárias foram inspecionadas em banheiros e sala de bombas, porém não
apresentaram nenhuma inconformidade que justificasse sua inserção no trabalho.
O trabalho permitiu a localização de anomalias que podem vir a gerar problemas
posteriores, os quais podem ser sanados com as medidas sugeridas neste trabalho.
25

Building Inspection focusing on Developing Survey Technical Report on Public


Building

Abstract:
The purpose of this document is to elaborate a technical report based on
irregularities and pathological manifestations in buildings A and B of the court of
justice of Distrito Federal – TJDFT, located in Brasília, DF. The technical analysis is
based on visual inspection of the external areas and some internal areas, which
eventually are accessible to visitors.
For the consistency of the informations, are considered the criterias of
"Building Inspection Standard of the Brazilian Institute of Reviews and Skill São Paulo
Engineering" – IBAPE-SP, that recomends the use of GUT risk management tool, made
by the methodology “Gravity, urgency and tendency”.
Given the occurrence of pathologies it is checked in the collection of the
court, details and reforms in the last six years, and the corresponding age of the
building. The access to information is duly authorized by the sectors responsible for
such assignments.
After the step of the causes and classification of pathologies, it becomes
possible to identify the necessary measures to correct and prevent the regions affected
that compromise the safety of users, the environment and property.

Keywords: Technical reports. Pathology. Reform. Building inspection.


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REFERÊNCIAS

IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo –


Norma de Inspeção Predial, 2007.

SIQUEIRA , Ailton Pessoa [et al]. Inspeção Predial – Check-up predial: Guia da boa
manutenção. 2ª ed. São Paulo: Liv. E Ed. Universitária de Direito, 2007.

SOUZA, V. C.; RIPPER, T., Patologia, recuperação e reforço de estruturas de


concreto. São Paulo: PINI, 2009

GOMIDE, T. LF; PUJADAS, F.Z.A. & NETO, J.C.F. Técnicas de Inspeção e


Manutenção Predial. São Paulo, PINI, 2006.

GOMIDE, T. LF.; FAGUNDES NETO, J.C.P. e GULLO, M. A., Normas Técnicas


para Engenharia Diagnóstica em Edificações. São Paulo: PINI, 2009.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9575:


Impermeabilização: Seleção e projeto. Rio de Janeiro, 2010.

BAUER, L. Materiais de Construção. 5 ed. rev. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

COSTA, Anderson dos Santos [et al]. Inspeção Predial: Estudo de caso de um
Edifício Residencial. Trabalho de Conclusão do Curso - Universidade do Extremo Sul
Catarinense - UNESC, Santa Catarina, 2012.
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