Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN 2595-1041
04 CAFÉ FILOSÓFICO
darmos conta da complexidade que significa avançar na reflexão sobre a ética e seus
DIRETOR DE IDENTIDADE desdobramentos na contemporaneidade. contínuo deste campo vital para
INSTITUCIONAL DA PUCPR A segunda dimensão diz respeito à regionalização e à internacionalização dos projetos a sociedade. E, por outro lado, A n a F l á vi a
Fabiano Incerti do ICF. Ainda que sejam movimentos iniciais, conseguimos levar uma edição do engajar-se na concretização dessas
Café Filosófico para o campus de Londrina da PUCPR e realizamos uma parte do reflexões em consonância com os
Átrio dos Gentios na Católica de Santa Catarina. Duas experiências riquíssimas, valores que garantam os direitos
GERENTE DE IDENTIDADE
que demonstram tanto nossa maturidade em chegar a novos territórios quanto
INSTITUCIONAL DA PUCPR
nossa capacidade de ampliar as experiências de percepção, escuta e diálogo, na humanos mais plenos, em última
instância a “vida em abundância”.
11
José André de Azevedo medida em que nos abrimos a outras formas de ver e entender a realidade. Sobre
a internacionalização, trouxemos a Curitiba, para o Ciclo de Conferências, dois Dessa forma, fazer permear a ÁTRIO DOS GENTIOS
ANALISTA DE PROJETOS DA ÁREA dos maiores intelectuais da atualidade: Michel Maffesoli e Gilles Lipovetsky. Com a práxis da ética no interior da A n a F l á vi a
DE IDENTIDADE INSTITUCIONAL presença e a provocação feita por eles, nos inserimos como Universidade no que há Universidade, ampliando seu raio
DA PUCPR de melhor do que se está debatendo e publicando acerca das teorias pós-modernas,
de extensão além dos seus muros,
que buscam entender a humanidade numa sociedade global e hiperconectada. Além
Douglas Borges Candido deles, recebemos também Enrico Simonato, codiretor do Museu do Sudário de Turim pela vivência de toda a comunidade
e um dos maiores especialistas no assunto, para a abertura da exposição internacional, da PUCPR.
ANALISTA DE PROJETOS DO INSTITUTO Quem é o Homem do Sudário?, um sucesso de público e crítica que recebeu a visita de mais
20 CICLO DE CONFERÊNCIAS
REVISÃO E EDIÇÃO DOS TEXTOS
o Caderno Ciência e Fé, a coleção de livros e o site.
Fabiano Incerti Que com as páginas que se seguem você possa perceber que os novos tempos exigem A n a F l á vi a e D o ug l as
José André de Azevedo um debate amplo e sério sobre a ética e a sociedade que queremos para o futuro B org es C a n d i d o
Douglas Borges Candido próximo. Certamente, serão nossas experiências coletivas e nossas decisões pessoais
Jelson Roberto de Oliveira que, insistimos, devem se pautar em relações humanas e sociais as quais, além de não
Rodrigo de Andrade anularem as diferenças, marquem definitivamente nossa nova forma de ser e de agir
Camila Rosa no mundo.
Elen Denise Schmitz
Boa leitura! 500 ANOS DE
30 REFORMA LUTERANA
DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO
ÍNDICE
Doma Design Jef f er s on Z ef er i no
CAFÉ FILOSÓFICO
tas e gerar provocações sobre o Santaella, por sua vez, propõe a te no Brasil está justamente aí: a República”.
modo como agimos. Embora o origem cultural de cada socie- gente tem uma desconfiança. Se
Ana Flávia
ACEITA UM CAFÉ?
Como nas mesas de cafés com Filosófico da Livraria Cultura de Inspirado neste legado, o Café Fi- fico da PUCPR levantou a ques-
amigos, em que surgem inúmeros São Paulo, fundado em agosto de losófico promovido pelo Instituto tão “Somos todos corruptos?”,
questionamentos despretensiosos, 1997 por Olgária Matos, professo- Ciência e Fé (ICF) da Pontifícia buscando favorecer o debate em
acredita-se que desde a Antigui- ra de Filosofia da Universidade de Universidade Católica do Para- torno da relação entre “ética e
dade o modelo de conversa que São Paulo (USP), e pela jornalista ná (PUCPR) tem se consolidado o ‘jeitinho’ brasileiro”. Além da
traz filosofia à mesa seja realida- Sônia Goldfeder. Assim como o como espaço de reflexão acerca honra de receber Renato Janine
de. Historicamente, o “Café Filo” aroma do café fresquinho se espa- do impacto ético-filosófico no co- Ribeiro, Luiz Felipe Pondé e Ma-
tem origem em 1992, com encon- lha ganhando admiradores, o for- tidiano. Iniciado em 2013, o pro- ria Lucia Santaella para aborda-
tros organizados por Marc Sautet mato também se espalhou, dando jeto do ICF já contou com a par- rem o tema, a edição desse ano
(1947-1998) no Café des Phares, origem a inúmeros encontros filo- ticipação de inúmeros intelectuais teve o prazer de realizar um de
em Paris, que tinham como obje- sóficos pelo país. Merece destaque da atualidade, como Oswaldo seus três encontros na cidade de
tivo popularizar a filosofia e pro- o projeto iniciado por Renato Ja- Giacóia, Scarlett Marton, Vladi- Londrina, sendo a primeira vez
mover a reflexão sobre questões nine Ribeiro, em 2003, promovi- mir Safatle e Leandro Karnal. que o ICF realizou um Café Fi-
existenciais. do pelo Instituto da Companhia Seguindo a tradição de eleger um losófico fora de Curitiba.
No Brasil, a iniciativa de Sautet Paulista de Força e Luz (CPFL) e assunto anual para conduzir as
motivou o surgimento do Café transmitido pela TV Cultura. reflexões, em 2017 o Café Filosó-
Ciência e Fé da PUCPR e a FTD ressalta que todo esse conhecimento seram o quadro da autonomia, da sa sociedade é uma sociedade que o desafio de um político. O que eu dos sobre o Irmão Francisco, primeiro superior geral
Educação promoveram uma edição do mundo acaba por nos pregar uma autossuficiência da razão e, com isso, reconhece que, de alguma forma, falo me compromete com o risco de dos Irmãos Maristas.
especial do Café Filosófico em vir- peça, pois nos damos conta de que da morte de Deus. Por outro lado, há há mais aprendizado nas quietudes e morrer, com a minha moral, com a
tude da formação dos pastoralistas quanto mais pensávamos saber, me- uma corrente de pensadores desse no silêncio do que no palavrório que minha história. Isso é a verdade que
do Grupo Marista. Contando com nos sabemos, na verdade. Isso revela mesmo século que se empenharam tudo fala, mas nada comunica”. retorna ao sujeito”, e ao qual os polí-
a presença de pratas da casa para o primeiro paradoxo da história do em demonstrar que a razão não é Para Fabiano Incerti, inspirado no ticos demonstram-se pouco, ou qua-
o debate – Bortolo Valle e Fabiano pensamento humano, isto é, o con- autossuficiente, que ela não pode pensamento de Michel Foucault, a se nada, interessados.
Incerti, professores do Programa de flito entre a nossa ânsia de conheci- por si mesma dar conta de todas as separação feita entre razão e espi- Citando o caso dos padres do de-
Pós-Graduação em Filosofia da PU-
CPR –, o evento abordou o tema Fi-
mento e a impossibilidade de poder-
mos abarcar a totalidade do mundo.
questões. Representantes dessa se-
gunda forma de ver as coisas foram
ritualidade teria sido um momento
cartesiano, a saber, a separação do
serto, aqueles que abandonavam as
cidades para fazer uma experiência BORTOLO
losofia e Espiritualidade. Segundo o filósofo, “há um dispara- Ludwig Wittgenstein e Simone Weil, sujeito pensante, autossuficiente, da mais profunda da ascese e da es- Val l e
As provocações iniciais se deram em te entre aquilo que nós podemos e por exemplo. própria vida. Essa separação possi- piritualidade, Fabiano demonstra
torno da pergunta “O que é a filo- aquilo que nós conseguimos fazer”. Partindo de Wittgenstein, Borto- bilitou tamanha liberdade e auto- como eles levaram a filosofia de Sê-
sofia?”. É possível respondermos a O segundo ponto destacado por lo visa demonstrar a face limitada nomia à razão que formulamos dis- neca, Marco Aurélio, Epicteto, en-
essa questão? Diante de tantos pen- Bortolo é a existência de uma espé- da razão e dos discursos científicos cursos científicos para dar conta de tre outros, para a tradição cristã e
sadores que dedicaram suas vidas cie de mitologia do pensamento na que não podem dizer tudo sobre o questões que estão em outra esfera potencializaram esses saberes. “Eles Filósofo brasileiro, é professor do Programa
na busca por respondê-la, teríamos, qual afirma que somos governados mundo – ou melhor, que não dizem da vida humana e não descritas pe- potencializaram a experiência do de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia
enfim, encontrado uma resposta? por duas capacidades antagônicas. coisas realmente substanciais para a las ciências. exercício espiritual, a experiência da Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Todavia, conforme destaca Fabiano, verdade, a experiência da ascese, e Formado em Filosofia pela PUCPR, possui
Para Bortolo Valle, com seus quase De um lado, a que permite ao ser vida –, Bortolo cita um pensamento
houve momentos em que espirituali- transformaram isso em um caldo tão
30 anos de experiência como profes- humano conhecer, ou seja, a razão; do filósofo austríaco que tem por ob- mestrado e doutorado pela Pontifícia Univer-
dade e filosofia não eram coisas dis- interessante e tão consistente que é
sor de Filosofia, essa pergunta ainda de outro, o conhecimento das ver- jetivo demonstrar essa face limitada
tantes e distintas, “eram coisas que o que bebemos até hoje em muitas
sidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Com
lhe continua sem resposta, porque dades outras, capacidade que esta- da razão. Assim diz o pensamento: aconteciam no mesmo núcleo, no fontes da espiritualidade cristã”. Um enfoque em Wittgenstein e Simone Weil, os te-
“se alguém souber o que é filosofia, ria voltada ao campo da fé. Diante “Mesmo que a ciência resolva todos mesmo momento. Na medida que se detalhe interessante sobre os padres mas de seus estudos mais atuais estão voltados
a filosofia está morta, pois ela é jus- dessa divisão, indaga-se: “A razão é os problemas do mundo, o problema era filósofo, se era alguém espiritual. do deserto, ressalta, “é que eles não para a mística nesses pensadores. É autor de
tamente esse espaço de busca”. E, in- autossuficiente? Só ela nos dá o co- da vida ficará por ser resolvido”. A Fazer filosofia era fazer espiritualida- deixavam o mundo porque queriam Wittgenstein: a forma do silêncio e a forma da palavra.
fluenciado por Platão, afirma ainda nhecimento? Podemos conhecer de ciência, representada no Ocidente de. Estou me referindo propriamen- se afastar dele. Pelo contrário, eles
que a filosofia é “aquilo que sempre uma outra forma que não pela ra- pela razão, é a busca pelo “como” te ao período da Antiguidade grega, queriam compreendê-lo”. E a per-
buscamos, mas nunca, de fato, alcan- zão?”. Bortolo destaca ainda que “se das coisas, ao passo que a vida é a Antiguidade pagã”. Conceitos como gunta derradeira feita por Fabiano é:
çamos”. olharmos para a evolução da filoso- busca pelo “que’”. Esse “que” repre- mística, espiritualidade e exercícios espiri- “Agora, quem de nós, vivendo onde
Segundo Bortolo, a história do fia, do pensamento, da razão, vere- senta o mistério da vida, que oculta- tuais existiram antes mesmo do cris- a gente vive, compreende o que está
Ocidente é a história da vivência e mos o lento, porém, gradual proces- -se à razão e faz parte daquilo que tianismo. A maioria desses termos acontecendo?”. Essa nossa falta de PÚBLICO ATINGIDO - 100
da experiência de um limite que se so de distanciamento de Deus, pois não pode ser dito em teorias cientí- foram retomados pelo cristianismo compreensão do mundo seria carac-
traduz na ânsia da busca em com- à medida que vamos acrescentando ficas; é o inefável. É aí que faz todo e ressignificados em seus contextos. terizada por uma carência de asce- Acadêmicos de 8
Vê-se aí a nítida influência do pen- tismo e de cultivo da espiritualidade? outras instituições
preender cada vez mais o mundo conhecimento racional, vamos dei- sentido, afirma Bortolo, a última
que nos cerca. Igualmente, defende xando de lado aquilo que seria enig- proposição do Tractatus, de Wittgens- samento pagão nas práticas e dou- Fica a dúvida. Alumni (egressos) 10
Bortolo, somos seres marcados pelo mático, desconhecido”. Cada vez tein: “Daquilo que se pode falar, de- trinas do cristianismo primitivo. Mas Enfim, concordando com Bortolo
“o que podemos entender por espiri- sobre a questão do silêncio, Fabiano Colaborador Marista 17
medo. Medo do desconhecido, da- mais a razão tenta dar conta dos ele- ve-se falar claramente. Mas daquilo
quilo que nos foge a previsibilidade e mentos enigmáticos da vida. Quan- que não se pode falar, nós devemos tualidade no mundo grego?” Segun- defende que além de não sabermos Comunidade 15
ao controle, e que só cessa “quando do assim o faz com sucesso, distan- nos calar”. A ciência, esta área do do Fabiano, “a espiritualidade era silenciar, também há o problema
isso que me compromete com a vida; de não sabermos ouvir. “A filosofia, Estudante PUCPR 47
transformamos o desconhecido em cia-se das coisas que eram explicadas saber que tem por natureza falar cla-
era um modo de ser, um modo de a religião e acho que também a es- Professor PUCPR 3
algo conhecido. Quando consegui- pela abertura ao transcendente. ramente, não atinge o conhecimento
existir; era você adaptar o seu modo piritualidade, deixaram a escuta em
mos fazer esta transformação, nós No século XX, filósofos como do Ser. Ela não dá conta do inefável.
de ser a uma estética de ser”. A es- segundo plano. Somos muito da pa-
nos sentimos em casa, ficamos bem, Kierkegaard, Schopenhauer, Marx, É justamente aí que temos a passa- piritualidade alcança seu mais pro- lavra e pouco da escuta”.
PUBLICAÇÕES
traduzindo as discórdias em concórdias?”.
Nesse sentido, Mosé afirma que a discórdia que per-
MARÇO
meia as relações sociais e pessoais é identificada como
um dos pontos da crise civilizatória: “se a gente qui- Lançamento do boletim Inspirados pelo propósito do projeto
ser sair dessa situação, é urgente resgatar essa noção “De olho nas juventudes” Átrio dos Gentios, bem como pelo tema
de partilhar, de coexistir, de hospedar”. Mergulhando pelo Observatório das da edição, o bate-papo ocorrido na
novamente na história da humanidade, a filósofa apon- Juventudes. A primeira
tarde do dia 12 de setembro de 2017,
ta duas formas de civilização: a piramidal, egípcia, que edição traz como tema a
“Mortalidade juvenil no no TUCA, propôs uma conversa entre
dá contornos retos, limites e ordem; e a do círculo, de
origem grega, que integra e permite a manutenção do Brasil”. as juventudes e pessoas que vivenciam e
movimento mesmo tendo limites. Para ela, a atual crise atuam em contextos de invisibilidades
civilizatória caracteriza-se justamente pelo limiar entre e vulnerabilidades. A proposta foi
a pirâmide e o círculo, ou seja, atualmente não há um MAIO proporcionar um momento de encontro
sistema definido, não se opera em nenhum dos dois sis- no qual os jovens puderam dialogar
temas: “estamos no meio, estamos exatamente na tran- Lançamento do livro Mística, a partir de diferentes experiências
sição de um modelo piramidal para um modelo circu- sabedoria e autoridade no século
lar, que me parece muito mais amplo, mas vivemos o de vida e vislumbrar possibilidades
XIX | Essa obra que traz
caos dessa transição e é urgente que a gente se posicione estudos sobre o primeiro
para a construção de uma cultura da
nesse processo”, diz Mosé. Superior Geral dos Irmãos hospitalidade em nossas cidades.
Em suma, o estabelecimento de parâmetros éticos que Maristas é resultado de
apontem para novos modelos sociais e culturais funda- dois anos de pesquisa do
dos no encontro, no diálogo e na cooperação é o cami- Laboratório de Estudos
nho que garantirá a continuação da humanidade. Não Irmão Francisco, realizado
BATE PAPO
existem respostas prontas para essa crise civilizatória, em parceria entre o Instituto ÁTRIO – BATE PAPO
apenas possibilidades que dependem da responsabilida- Ciência e Fé da PUCPR e o JOVEM
de dos indivíduos que pensem coletivamente. Ao mes- Memorial Marista do Grupo
mo tempo em que o individualismo tem influenciado PÚBLICO ATINGIDO - 89
Marista.
JOVEM
os problemas sociais anteriormente citados, é a ação Acadêmicos de 5
individualizada aliada ao senso de coletividade que outras instituições
será capaz de ajudar na desconstrução desses contex- Alumni (egressos) 1
tos de intolerância e preconceito com o diferente. Uma AGOSTO Colaborador Marista 13
nova ética que tenha por pressuposto tais características
emergirá não de modelos preconcebidos, mas do exer-
cício cotidiano de atitudes que visem à construção de
Lançamento do boletim
“De olho nas juventudes”
CRÔNICA DE PROTAGONISMO Comunidade 8
Estudante PUCPR 59
uma cultura da hospitalidade e da coexistência entre os (2ª edição) pelo Observatório
mais diferentes povos, culturas e religiões do planeta. Professor PUCPR 3
das Juventudes. Em sua Antes que qualquer palavra fosse pronunciada, aquele cenário se
segunda edição, traz como encarregou de dizer algo. Os jovens que ocupavam o palco, as duas mo-
tema “Um panorama do ças que vestiam o símbolo de sua causa e o senhor que calçava sandálias,
Hospitalidade não é aquela primeira ensino superior no Brasil”. antecipavam em cena a mensagem de coexistência que seria trazida pelos ELENCO
hospitalidade que adora receber alguém testemunhos de vida que lá seriam ditos. O lugar de protagonismo onde
todos viam e eram vistos, ouviam e eram ouvidos, formava um símbolo
em casa e mostrar nossa casa, mostrar nossa
comida, e mostrar nossa cultura; é um ato AGOSTO
vivo de denúncia contra as invisibilidades e de anúncio de uma outra “TIO” MAURÍCIO
forma possível de vivermos juntos.
de acolhimento, mas é um ato de acolhimento Quando a palavra se tornou audível, as histórias ali contadas falavam de (Maurício Alves Pereira)
de alguém que se amolda a esse lugar. vidas dedicadas a trazer luz àqueles que foram colocados sob as cortinas
Dossiê Átrio dos Gentios da indigência. As tragédias narradas nada tinham de ficção, relatavam as Membro da Pastoral do Menor há mais de 20 anos, tra-
O que fazer quando o desafio é realmente | Após a realização da 1ª dores de uma gente sem lugar, cuja esperança lhes foi tolhida. balha junto à população de rua de Belo Horizonte, em
do diferente, da diferença, das diferenças? edição do Átrio dos Gentios Minas Gerais, especialmente com crianças e jovens. É
“Tocar aqueles que ninguém toca faz nascer a justa indignação que mo-
na PUCPR, em abril de 2016, fundador da Associação Casa Madre Tereza de Calcutá,
NILTON BONDER o Instituto Ciência e Fé lança
tiva a atuação”, disse o sábio tio à jovem que passou a construir casas
quando viu a ganância retirar até as paredes de quem já nem possuía que atua com crianças, jovens e mulheres em situação de
um dossiê que compila as teto. A experiência de quem doou toda uma vida e a sede juvenil de vulnerabilidade. Também é autor do livro O beijo de Deus,
reflexões realizadas naquele transformação contracenavam numa linda dança de saberes, embalada um relato de experiência da sua vivência junto ao povo
momento e convida pelo mesmo sentimento que pulsava uníssono em seus corações: compai- de rua.
ÁTRIO – JOINVILLE ÁTRIO – CURITIBA à continuidade do debate. xão e empatia.
PÚBLICO ATINGIDO - 220 PÚBLICO ATINGIDO - 630 Como num solo magistral, o veterano fazia ecoar suas grandes questões:
Acadêmicos de 75 Acadêmicos de 53
Que sinal somos? O que estou fazendo no mundo? Olhar para quem PAULA GODOY E ANA CHEN
outras instituições outras instituições DEZEMBRO sofre e perguntar: O que podemos fazer juntos? Mais do que estatísticas,
é preciso celebrar vidas. voluntárias da ONG TETO
Alumni (egressos) 0 Alumni (egressos) 65 De repente, o prelúdio de um “gran finale” parece despontar em meio ao
Publicação do documento Há 10 anos no Brasil, a TETO é uma organização in-
Colaborador Marista 12 Colaborador Marista 82 trágico enredo. Um roteiro cujo desfecho se tornará ato por meio de ato-
referencial da Área ternacional presente na América Latina e no Caribe que
res dispostos a protagonizar fora dos palcos, enquanto contracenam com
Comunidade 88 Comunidade 99 Identitária intitulado Ação trabalha pela defesa dos direitos de pessoas que vivem nas
personagens que ganharão vida em sua companhia. Um script capaz de
267 Evangelizadora Marista na favelas mais precárias e invisíveis, diminuindo sua vulne-
Estudante PUCPR 41 Estudante PUCPR dar sentido a arte da vida real e que ao fechar das cortinas possibilitará
Educação Superior. rabilidade por meio do engajamento comunitário e da
Professor PUCPR 4 Professor PUCPR 64 repetir as palavras do senhor de sandálias: “nunca tirei ninguém da rua,
saímos juntos”. mobilização de jovens voluntários.
“Fico à espera dos e-mails com a programação, pois há variedade temática e grande
qualidade dos profissionais que participam dos eventos.”
“Eu achei os temas abordados muito pertinentes ao momento que estamos vivendo, tanto
no âmbito político quanto filosófico. É uma maneira de sermos levados a refletir mais
profundamente sobre as mudanças de paradigmas da sociedade contemporânea, porém
com aportes e contribuições de estudiosos, pesquisadores em filosofia. É uma ótima
oportunidade para o diálogo da academia com o público universitário e leigo.”
“Temas bem relevantes, entretanto, por ir como comunidade geral ainda sinto que as
abordagens científicas ficam bem acadêmicas. Se realmente a ideia é aproximar a
comunidade dos projetos precisa-se pensar um plano de aproximação efetiva e linguagem.
A apresentação sobre o Sudário conseguiu isto, as outras passaram mais longe.”
“Os convites do ICF da PUC para participar de eventos sobre questões da atualidade
são momentos felizes. Encontramos amigos. Degustamos o café e a filosofia. Entramos
mergulhados numa atualidade opaca. Retornamos trazendo uma espécie de ‘cesta básica
espiritual e intelectual’ com a qual alimentamos nossas conversas domésticas.”
Considerado um dos maiores so- Trump, a própria insatisfação na aquilo que foi elaborado no sécu-
ENTREVISTA COM ciólogos da atualidade e especia- Itália contra o Matteo Renzi ou o lo 18. Já a ética pode ser definida
lista da pós-modernidade, Michel interesse pela Le Pen na França, como particular, tribal. Cada co-
MICHEL MAFFESOLI Maffesoli articulou sobre ética e todos estão ligados diretamente munidade tem a sua ética, pode-
novos tempos na PUCPR, no mês com a insatisfação de cada povo mos até exemplificar que a máfia
por Lais de abril. O francês, que faz parte em relação ao oficial. também tem ética, mas não tem
Capriotti do corpo docente da Universida- moral.
de Paris-Descartes, já escreveu Não podemos dizer que é neces-
mais de 90 livros sobre sociologia O senhor acredita que o Es- sariamente uma mudança no mo-
e é reconhecido pelo seu conceito tado Islâmico e seus segui- delo ético, mas sim que estamos
de neotribalismo. dores perpetuam essa mes- aprendendo o modelo ético. A so-
Em conversa sobre um novo mo- ma linha de pensamento? ciedade está aprendendo a passar
delo de ética na pós-modernida- Não, nós não podemos misturar de uma moral geral para a convi-
de, Maffesoli afirma acreditar a linha de pensamento do Estado vência com éticas que são parti-
que está acontecendo uma tran- Islâmico com os demais. É uma culares, comunitárias. E acredito
sição de Era, e consequentemen- forma de crença diferente nesse que esse seja o grande problema
te da maneira como a sociedade momento. atual, passar do geral para essa
está pensando. Durante três séculos a moderni- particularidade. Precisamos nos
dade descartou o Sagrado. Do adaptar a essas pequenas éticas, o
século 17 em diante aconteceu o que pode demorar cerca de cinco
Na década de 1980, o se- que chamamos de desencantamento décadas para ser concluído, mas
nhor passou a utilizar o ter- do mundo, ou seja, o descarte do só será possível com o tempo.
mo “neotribalismo” para Sagrado. Para o Estado Islâmi-
se referir às novas relações co esse desejo do Sagrado acaba
entre os indivíduos pós-mo- se expressando de uma maneira O que o senhor acha sobre
dernos. Olhando para o ce- perversa e que se tornou san- a PUCPR promover eventos
CICLO DE CONFERÊNCIAS
nário atual, onde pululam guinária, gerando as ações que sobre ética para a comu-
grupos fundamentalistas e vemos atualmente. Mas não po- nidade acadêmica? Qual a
ideias sectaristas, pode se demos afirmar que isso se dá ao importância desse assunto
dizer que Donald Trump e fato da insatisfação com o oficial na construção de um profis-
Marine Le Pen, por exem- daquele povo. sional?
plo, representam vetores Eu entendo a universidade como
Os provocantes debates sobre a nado pela transição entre a mo- ral que ampara a possibilidade de pos” e queremos compartilhar de agregação de um confu- um lugar onde se aprende a pen-
possibilidade de “Uma Ética para dernidade e a pós-modernidade. um “comunitarismo” na contem- com você, caro leitor, o que cada so descontentamento social Diante disso, os paradigmas sar. Acredito que para pensar
os novos tempos”, tema do Ciclo Tal transição caracteriza a passa- poraneidade. Em qualquer lugar um deles pensa sobre essa ques- com o projeto civilizacional éticos dos pensadores mo- corretamente é preciso justamen-
de Conferências de 2017, propôs gem da moral à ética. Enquanto que as pessoas estejam, sentem tão. Para esse debate, contamos moderno? dernos ainda se sustentam te pensar. É próprio da universi-
o desafio de rever a forma como a moral foi um projeto dos mo- indignação com problemas de or- também com a presença de dois Existem épocas de transições na ou seria necessário um novo dade, o objetivo principal desse
pensamos e agimos no mundo dernos e caracterizava-se pela sua dem econômica, política e social. renomados professores brasilei- nossa sociedade. Esses espaços modelo aplicado à pós-mo- ambiente. O ponto de partida
contemporâneo. Em um cenário universalidade, a ética é própria O que isso representa, defende ros. Debatendo o tema com Maf- duram em média cinco décadas, dernidade? é sempre cumprir a vocação da
global marcado por fundamen- da pós-modernidade, onde agora o filósofo, se não expressar que fesoli, tivemos Juremir Machado, e um desses espaços está entre Existe uma distinção entre moral universidade e só depois de pro-
talismos, crises políticas, sociais e os grupos ou, na típica expressão compartilhamos de um fundo coordenador da Pós-Graduação a modernidade e a pós-moder- e ética. Modernidade é a mo- vocar os alunos a pensarem sobre
econômicas, nos vemos impelidos de Maffesoli, as “tribos” decidem moral para determinadas ques- em Comunicação da PUCRS, e nidade. É então que avistamos ral, pós-modernidade é a ética. assuntos da sociedade é que po-
a questionar nosso papel como sobre o seu modo de agir. tões que não se restringem a local para o debate com Gilles Lipovet- os valores modernos chegando É muito importante que a gente demos discutir política, economia
agentes de transformação e de Já para o filósofo Gilles Lipovet- ou momento histórico? sky, o professor César Candiotto, ao fim enquanto os valores pós- não confunda essas duas coisas, e tudo que move o mundo. Então,
ressignificação da realidade. sky, teórico da hipermodernida- Esses dois grandes intelectuais um dos maiores especialistas do -modernos ainda não estão com- pois a maioria das pessoas toma acredito que eventos onde pro-
Para muitos intelectuais, em espe- de, apesar do individualismo que estiveram na PUCPR para de- pensamento de Michel Foucault pletamente aceitos na sociedade. um pelo outro. movem o pensamento e a troca
cial o sociólogo Michel Maffesoli, a sociedade contemporânea sus- bater sobre as possibilidades de no Brasil. A curadoria do projeto Essa lacuna de tempo existe, é um A moral é aquilo que é geral, de cultura são fundamentais para
enfrentamos o vácuo proporcio- tenta, há um plano de fundo mo- “Uma Ética para os novos tem- foi do professor Fabiano Incerti. vácuo. Nesses momentos existe aplicado em qualquer lugar, em a provocação do pensar e assim
uma espécie de oposição entre a qualquer época. Um bom exem- poder iniciar uma construção
sociedade oficial e a extraoficial. plo é o direito dos homens, tudo profissional.
500 ANOS DA REFORMA bonequinho de Martinho Lutero. Em suas mãos, traz dois símbolos emblemáticos de
seu tempo: a pena que representa a razão e a Bíblia que representa a fé.
A empresa admite que o pequeno Playmobil de Lutero tem como intuito as celebrações
LUTERANA do 500º aniversário das “95 teses sobre o poder e a eficácia da indulgência”, mas
pelo que tudo demonstra, ele acabou se tornando um ícone. Em menos de 72 horas
do seu lançamento o brinquedo já havia esgotado.
Je f f e r s o n Z e f e r i n o *
ECOLOGIA INTEGRAL
PUCPR. O projeto buscou envolver acadêmico, averiguando as contri- alteridade e cuidado, na qual o hu-
lideranças das igrejas ligadas à cami- buições originais a serem dadas pelos mano e o planeta são, antes de um
nhada ecumênica local, organismos indivíduos inseridos nesses âmbitos, problema a resolver, a obra divina a
e entidades afins, contando com a bem como conhecendo e potenciali- ser contemplada na esperança ativa,
E ECUMENISMO
colaboração altamente qualificada zando as iniciativas já existentes. dialógica e comunial.
de docentes da PUCPR e de insti- A pluralidade religiosa e cultural
tuições acadêmicas vinculadas aos constitui-se na ambiência onde se
organizadores. tece o empenho ecumênico atual.
* Integra a Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e coordena a ação pastoral das instituições
I r. R a q u e l d e F á t i m a C o l e t * educacionais vicentinas da Província de Curitiba. Bacharel, mestre e doutoranda em Teologia pela PUCPR.