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A LEGISLAÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO
MUNICIPAL
Plano Diretor e alguns de seus instrumentos reguladores:
Zoneamento e Operações Urbanas Consorciadas

C
om tantas discussões sobre as Isso não é diferente no que diz respeito ao mento das cidades, bem como a harmonia
Operações Urbanas e projetos de planejamento do espaço físico e desenvol- entre eles.
restauração de áreas degradadas, vimento das cidades. Seguindo o estabelecido na nova
como é o bairro da Luz, achamos que se- Na década de 60, vários movi- legislação, a câmara municipal de São Pau-
ria de grande interesse escrever uma maté- mentos sociais se organizavam para criar lo institui, em 13 de Setembro de 2002, seu
ria simples, que elucidasse o emaranhado um instrumento que conduzisse o início do Plano diretor, a Lei Municipal 13.430. Pre-
de leis e intervenções das quais a cidade crescimento das cidades, com a preocupa- visto, também, nessa legislação municipal
de São Paulo tem sido palco nos últimos ção de que isso fosse feito de maneira orde- estava a determinação de que alguns itens
meses. Dando um passo além, podemos nada. Se eles tivessem tido sucesso, talvez importantes, como o zoneamento da cida-
mostrar como questões tão longe do nos- hoje o perfil das nossas grandes cidades de, por exemplo, fosse revisado, o que está
so dia-a-dia na verdade estão mais perto poderia ser diferente e melhor. O fato é sendo feito agora em 2009.
do que pensamos. O trem que pegamos, que, em linhas gerais, essa luta foi deixada De maneira geral, a melhor com-
o prédio onde trabalhamos, o restaurante de lado durante os governos militares. A preensão que se tem de um Plano Diretor é
onde comemos; todos esses itens da nos- retomada do assunto se deu timidamente que ele seja o instrumento básico da políti-
sa vida diária são regidos por leis: onde e no final da década de 80 com a promulga- ca de desenvolvimento do Município. Sua
como devem ser construídos, quais os fa- ção da nova Constituição Brasileira, mas principal finalidade é orientar a atuação do
tores importantes para seu funcionamento só veio a ser alvo de sérias discussões nos poder público, e da iniciativa privada, na
e como a integração de tudo isso melhora anos 90. O fruto tardio de todas essas dé- construção dos espaços urbanos e rurais e
a qualidade de vida dos cidadãos. Quem cadas de discussões resultou, em 10 de ju- na oferta dos serviços públicos essenciais,
sabe, conhecendo melhor tudo isso, você lho 2001, na Lei 10.257, conhecida como visando assegurar melhores condições de
se sinta motivado a participar de maneira o “Estatuto das Cidades”, que regulamenta vida para a população.
mais ativa na melhoria da sua cidade. os Artigos 182 e 183 da Constituição Fe- Mas, em uma cidade como São
deral, estabelecendo diretrizes gerais da Paulo, cuja extensão territorial, diversida-
O que é Plano Diretor? política urbana e outras providências. O de geográfica e histórica é imensa, o Plano
Capítulo II, Artigo 4º, item 3 trata especifi- Diretor ficaria inviável se abordasse todos
A história do Brasil está recheada camente do Plano Diretor, dando-lhe uma os itens reguladores necessários. Assim,
de acontecimentos complicados e de gran- grande responsabilidade, a de reger todos foi necessária sua desmembração em pla-
des confrontamentos políticos e sociais. os processos de crescimento, desenvolvi- nos menores, delimitados geograficamen-

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te. Esses planos são chamados de Planos em local adequado até que pudessem ser
Regionais Estratégicos e, segundo rege o despachados para seu destino final, surgem
Plano Diretor de São Paulo, constituem primeiramente as hospedarias de imigran-
suas partes complementares, sendo, por te e, mais tarde, a ferrovia, que passou a
isso, instrumentos determinantes das ações interligar o Porto de Santos à capital e ao
dos agentes públicos e privados no territó- interior. Na cidade de São Paulo, a Estação
rio em cada Subprefeitura. Foi instituído, da Luz, no bairro de mesmo nome, foi o que é um incentivo à interação entre o po-
então, que seria responsabilidade de cada destino da maioria dos imigrantes embar- der público e privado para a promoção de
subprefeitura estabelecer seu Plano Regio- cados em trens em Santos. No sentido in- um crescimento municipal ordenado e que
nal Estratégico, atendendo aos dispositivos verso fluía o café. atenda às prerrogativas de harmonia entre
já estabelecidos pelo Plano Diretor do Mu- No início do século XX, a prospe- o aumento das edificações e o bem-estar da
nicípio. ridade da área logo foi evidente. A Luz tor- população.
Assim, seguindo o estabelecido nou-se um local aprazível; a atual Avenida Para o mercado imobiliário cor-
no Plano Diretor, a câmara municipal apro- Tiradentes era um arborizado boulevard e porativo esses dois pontos, o zoneamento e
vou, em 25 de agosto de 2004, a Nova Lei os paulistanos freqüentavam o Jardim da as operações urbanas consorciadas, talvez
de Zoneamento Municipal, a Lei 13.885. Luz nos finais de semana. representem os aspectos mais importantes
Nesta ficaram estabelecidas as normas Entretanto, o desenvolvimento do do Estatuto das Cidades para reger o cres-
complementares ao Plano Diretor Estra- bairro e de toda a cidade trouxe no bojo os cimento e desenvolvimento de um mercado
tégico, com a regulamentação dos Planos fatores de sua degradação. O bairro foi per- comercial que contribua não apenas com o
Regionais Estratégicos das Subprefeituras, dendo importância e a população começou crescimento urbano em si, mas com a pros-
bem como a disposição do parcelamento, a se dirigir para as zonas sul e oeste. Até peridade da cidade e de seus habitantes.
disciplina e ordenação do uso e ocupação hoje se ouvem histórias sobre como as epi-
do solo do município de São Paulo. demias típicas da época, como varíola, có- Vejamos cada um deles.
Outros aspectos contemplados no lera e tifo, também passaram a afugentar a
Estatuto das Cidades dizem respeito a ou- aristocracia da região. Quem não tinha para 1. Zoneamento
tros tipos de problema. Em algumas cida- onde ir ia ficando por lá mesmo. Com isso, O zoneamento é um instrumento
des do Brasil, cujo maior exemplo talvez houve um aumento do número de cortiços, tradicional de planejamento urbano que
seja mesmo São Paulo, esse crescimento prostituição e, mais tarde, o comércio de abrange todo o território do município e
em épocas passadas promoveu o desloca- drogas. Com isso, a utilização da ferrovia que procura regular o uso, ocupação da
mento de população e centros comerciais declinou e perdeu sua antiga função. terra por parte dos agentes de produção do
para outras áreas, resultando em abandono Foi pensando em problemas como espaço urbano, tais como as construtoras,
de propriedades, possibilitando invasões e este que o Estatuto das Cidades estabele- incorporadoras, proprietários de imóveis e
degradação. Um dos maiores exemplo dis- ceu as Operações Urbanas Consorciadas, o próprio Estado.
so é o bairro da Luz, na região central de
São Paulo.
Com a abolição dos escravos em
1888, os grandes fazendeiros do interior,
principalmente os cafeicultores, passaram
a ter que contratar mão de obra para as la-
vouras. Com a escassez de força de traba-
lho local, a solução foi trazer imigrantes.
Estes vinham principalmente da Europa e
do Japão. Com o aumento do número de
indivíduos chegando todos os dias no Por-
to de Santos e a necessidade de abrigá-los

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Ele divide a cidade em zonas te-
oricamente homogêneas dentro das quais
as mesmas diretrizes espaciais, ou seja,
de “uso e ocupação” são aplicadas. Essas
diretrizes limitam-se, normalmente, a esti-
pular índices máximos relativos à taxa de
ocupação, índice de aproveitamento máxi-
mo das propriedades, número máximo de
pavimentos e afastamentos frontais e la-
terais, assim como os usos permitidos em
cada uma das zonas.
Didaticamente, as leis de zonea-
mento restringem o tipo de estrutura a ser
construída em um dado local com base
em:

• Função, ou Uso: as diferentes zonas li-


mitam uma dada área da cidade para certo
tipo de estrutura. As zonas normalmente nada área. Por exemplo, ruas próximas a A finalidade deste novo zonea-
são divididas em residenciais, comerciais, grandes shopping centers e arranha-céus mento promulgado em 2004 foi quebrar o
industriais ou mistas. As zonas mistas per- podem ficar congestionadas por causa do “engessamento” das regras em vigor, ade-
mitem o uso simultâneo para residencial grande número de pessoas que entram e quando a disciplina do uso e ocupação do
e comercial, e eventualmente o industrial saem deles. Para isso, uma comissão téc- solo às diferentes situações regionais exis-
desde que de baixa incomodidade para a nica da prefeitura determina medidas que tentes numa cidade de 10,5 milhões de ha-
região. amenizam o impacto desses edifícios na bitantes como é São Paulo. Assim, adequar
vizinhança. edifícios antigos às novas regras ficaria
• Limites construtivos, tais como Taxa de Assim, conforme as caracterís- mais fácil.
ocupação e coeficiente de aproveitamen- ticas básicas das regiões, as zonas de uso Para o setor comercial, 3 aspectos
to: diferentes zonas limitam o número de são criadas. No caso de São Paulo, a Lei de beneficiam as novas construções:
pavimentos que as estruturas podem ter. Zoneamento classifica as zonas em tipolo-
Tal limite surge da divisão entre o coefi- gias como, por exemplo, Zona Exclusiva- a) A criação das chamadas Zonas de Cen-
ciente de aproveitamento máximo estipu- mente Residencial (ZER) ou Zona Mista tralidade: A prefeitura identificou áreas na
lado para uma região e a taxa de ocupação (ZM), enquanto os graus de adensamento cidade que já mantinham tradição de uso
do lote urbano definido para ela, ambas determinam os tipos - Zona Mista de Bai- misto, residencial e comercial, e oficia-
determinadas pelo instrumento legal. xa Densidade (ZM-1) ou Zona Exclusiva- lizou novas regras que respeitassem esse
mente Residencial de Média Densidade uso, mas que garantissem proteção às par-
• Gabarito: corresponde à limitação efeti- (ZER-2), entre outros. Com isso, existem tes residenciais. Assim, avenidas como a
va do tamanho das construções (expressa, 15 tipologias subdivididas em 25 tipos de Brigadeiro Faria Lima podem ter ao longo
normalmente, em números absolutos), que zonas de uso. Essas tipologias de zonas, de seu eixo grandes edificações comer-
limita a altura da construção. por sua vez, formam três grandes grupos: ciais, ao passo que adentrando mais ao
I) macrozonas de proteção ambiental, II) de bairro há predominância de residências. O
• Número de ocupantes: as várias zonas estruturação e qualificação urbana e III) o objetivo é descentralizar pontos centrais de
limitam a construção das edificações, ba- das zonas especiais, que podem ocorrer em comércio e serviços básicos, evitando os
seadas no número de habitantes ou tra- todo o território do município. Veja os deta- grandes deslocamentos da população para
balhadores que ocupariam uma determi- lhes na Tabela “As Novas Zonas de Uso”. a área central da cidade. Têm prioridade,

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metrô irá gerar um grande desenvolvimen-
As novas zonas de uso to para a área.

1. Macrozona de Proteção Ambiental b) Cada tipo de zona tem coeficientes de


ZMp zona mista de proteção ambiental aproveitamento próprios, de acordo com as
características da área. Em toda a cidade,
ZPDS zona de proteção e desenvolvimento sustentável
existem três tipos de coeficientes de apro-
ZLT zona de lazer e turismo
veitamento: o básico (1 e 2 vezes a área
ZERp zona exclusivamente residencial de proteção ambiental do lote), o máximo (subdivididos em 4 ta-
ZEP zona especiais de preservação manhos: 1, 2, 2,5 e até 4 vezes a área do
terreno) e o mínimo, para que a proprieda-
ZCPp zona centralidade polar de proteção ambiental
de não deixe de prestar sua função social.
ZCLp zona centralidade linear de proteção ambiental
Esses valores foram fixados pelo Plano
2. Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana Diretor Estratégico (PDE) e pelos Planos
Regionais Estratégicos das Subprefeituras
ZER - 1 zona exclusivamente residencial de densidade demográfica baixa (PREs), que estabeleceram os limites má-
ZER - 2 zona exclusivamente residencial de densidade demográfica média ximos desses coeficientes, sempre obser-
ZER - 3 zona exclusivamente residencial de densidade demográfica alta vando as regras gerais definidas pelo PDE,
e não alteraram os limites básicos. Com
ZPI zona predominantemente industrial
isso, o poder público tem como equilibrar
ZM - 1 zona mista de densidades demográfica e construtiva baixas
melhor a ocupação do território e tornar
ZM - 2 zona mista de densidades demográfica e construtiva médias a verticalização (construção de prédios)
ZM - 3a zona mista de densidades demográfica e construtiva altas mais harmônica com as características de
ZM - 3b zona mista de densidades demográfica e construtiva altas
cada bairro, fazendo melhor uso da infra-
estrutura existente em cada região. Áreas
ZCPa zona centralidade polar de densidades demográficas e construtiva médias
compreendidas nas regiões de Operações
ZCPb zona centralidade polar de densidades demográficas e construtiva altas Urbanas Consorciadas ou Áreas de inter-
ZCLa zona centralidade linear de densidades demográficas e construtiva médias venção Urbana, poderão ter um coeficiente
ZCLb zona centralidade linear de densidades demográficas e construtiva médias de aproveitamento de 4.
zona centralidade linear destinada à localização das atividades de comércio e
ZCLz - I c) Incentivo à criação de áreas abertas ao
serviços de baixa densidade
público dentro do condomínio. Em uma ci-
zona centralidade linear destinada à localização das atividades de serviços de
ZCLz - II dade tão cheia de prédios como São Paulo,
baixa densidade
há espaço para que os edifícios sejam mais
ZOE zona de ocupação especial “cidadãos”. Para incentivar a utilização
pública de áreas particulares, o zoneamen-
3. Zonas Especiais
to prevê benefícios aos empreendedores
ZEPAM zona Especial de Preservação Ambiental que adotarem essas medidas. A idéia é que
se espalhem pelo município mais prédios
ZEPEC zona Especial de Preservação Cultural
com acesso livre no piso térreo, para for-
ZEPAG zona Especial de Produção Agrícola e de Extração Mineral
mação de galerias ou praças públicas. Um
ZEIS zona Especial de Interesse Social dos exemplos mais conhecidos do que a
Fonte: Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano
Prefeitura pretende incentivar é o Conjun-
portanto, o comércio e os prestadores de em andamento hoje é o desenvolvimento to Nacional, na Avenida Paulista. Lá, todo
serviços. Um dos grandes exemplos disso da região da Vila Sônia, onde o terminal de o andar térreo é aberto aos pedestres, que

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têm acesso a lojas, restaurantes e cinemas. coeficiente básico estabelecido para aque- operação urbana consorciada como “o con-
Lotes que ocuparem uma ou mais le lote, respeitado o limite do coeficiente junto de intervenções e medidas coordena-
esquinas e liberarem o térreo para ativida- máximo. O zoneamento estabelece, ainda, das pelo Poder Público municipal, com a
des não-residenciais e para circulação de que se o empreendimento abrir no mínimo participação dos proprietários, moradores,
pedestres precisarão adotar apenas o recuo metade da área do terreno para uso públi- usuários permanentes e investidores priva-
de frente obrigatório. Nas faces laterais e co, poderá aumentar gratuitamente a área dos, com o objetivo de alcançar, em uma
de fundos, o recuo proporcional à altura construída do imóvel em 50% do espaço área, transformações urbanísticas estrutu-
só será exigido a partir dos 12 metros. O liberado. Essa regra, como a do Conjunto rais, melhorias sociais e a valorização am-
atendimento à taxa de ocupação (limite Nacional, só vale para lotes com no míni- biental”.
imposto à projeção do prédio no terreno) mo duas frentes. O terreno deve ter, no mí- Ainda dentro das áreas de Opera-
também está liberado, mantendo-se ape- nimo, 2.500 m² de área, e a parte liberada à ções Urbanas Consorciadas, existem locais
nas a obrigatoriedade de atendimento da utilização dos munícipes deverá ser regis- com definição diferenciada, chamadas de
taxa de permeabilidade do solo. Com isso, trada em Cartório e não poderá ser fechada Áreas de Intervenção Urbana, que são áreas
o empreendimento ganha uma espécie de ou ocupada posteriormente. ao longo dos eixos das linhas de transporte
“bônus” e obtém o direito de aumentar, em público coletivo, cujo objetivo é qualificar
metade da área liberada para circulação de 2. Operações Urbanas estas áreas e seu entorno a fim de obter
pedestres no térreo, a área a ser construída recursos para aplicação na implantação e
gratuitamente. Assim, se o edifício tiver, por O Artigo 32 do Estatuto das Ci- melhoria das linhas de transporte público,
exemplo, 1.000 m² de livre acesso público, dades prevê a elaboração de lei municipal delimitadas por:
sua área poderá ser aumentada, sem pagamen- específica, baseada no plano diretor, para
to de outorga onerosa, em até 500 m² de área delimitar as áreas de aplicação de opera- 1. Faixas de até 300 metros de cada lado
construída, que se somam gratuitamente ao ções urbanas consorciadas. O texto define dos alinhamentos do sistema de transporte
público coletivo de massa;

2. Círculos com raio de até 600 metros ten-


do como centro as estações do transporte
metroviário ou ferroviário.

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OPERAÇÕES URBANAS EXISTENTES
1) FARIA LIMA
10 2) ÁGUA BRANCA
15 3) CENTRO
2 12
4) ÁGUA ESPRAIADA
7 11 5 5) RIO VERDE / JACÚ
3
OPERAÇÕES URBANAS PROPOSTAS
1 9
6) VILA SÔNIA
6 7) VILA LEOPOLDINA
8) DIAGONAL NORTE
13
9) DIAGONAL SUL
10) CARANDIRU / VILA MARIA
4
11) CELSO GARCIA
12) AMADOR BUENO
14 13) SANTO AMARO
14) PÓLO DESENVOLVIMENTO SUL
15) TERMINAL LOGÍSTICO FERNÃO DIAS
* A Operação Urbana Terminal Logístico Fernão
Dias não foi prevista na Lei n° 13.885/04
Fonte: Imagem concedida pela Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano

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Segundo o Plano Diretor, ficaram contingente construtivo e populacional, o
delimitadas áreas para as novas Operações plano diretor fixa áreas nas quais o direi-
Urbanas Consorciadas: Diagonal Sul, Dia- to de construir poderá ser exercido acima
gonal Norte, Carandiru-Vila Maria, Rio do coeficiente de aproveitamento básico
Verde-Jacú, Vila Leopoldina, Vila Sônia adotado, mediante contrapartida a ser pres-
e Celso Garcia, Santo Amaro e Tiquati- tada pelo beneficiário, aumentando o coe- Coeficiente de aproveitamento = 1

ra, além das existentes Faria Lima, Água ficiente de aproveitamento de 1 para 2 a 4,
Branca, Centro e Águas Espraiadas. Veja dependendo da região. Esse procedimento
os mapas do que já está sendo feito, o que é conhecido como Outorga Onerosa, deter-
será feito em breve e as demais localidades minado pelo Estatuto das Cidades.
onde existem projetos, mas que ainda não
foram iniciadas obras. Veja as ilustrações ao lado.
Um grande diferencial dessas áre-
as de Operação Urbana é que o coeficiente Essa contrapartida, anteriormente
de aproveitamento pode chegar a 4 vezes citada, é normalmente feita em dinheiro. O
a área do terreno, mediante pagamento da modo como esse pagamento é feito tam-
Outorga Onerosa. O objetivo é garantir que bém deve ser determinado na legislação Coeficiente de aproveitamento = 2 a 4
grandes edifícios possam ser edificados em municipal. No caso de São Paulo, a con- Compra dos CEPACs para uso da
Outorga Onerosa
áreas com infra-estrutura desenvolvida. trapartida deve ser paga ao Poder Público
Um ponto muito importante a se observar pelo proprietário do imóvel, em espécie ou zados no Mercado de Balcão Organizado
aqui é que se por um lado a legislação visa em Certificados de Potencial Adicional de da BOVESPA; os editais dos leilões são
melhorar a ocupação de áreas com boa in- Construção, conhecidos como CEPACs. publicados no Diário Oficial da Cidade
fra-estrutura, por outro ela também visa a Cada CEPAC equivale a determinado va- de São Paulo e em jornal de grande circu-
qualidade de vida da população local. As- lor de m² para utilização em área adicional lação; 2) ou no mercado secundário, por
sim, é importante verificar se há estoque de construção ou em modificação de usos e meio de corretoras de valores.
disponível para essa compra. Muitas zonas parâmetros de um terreno ou projeto. As áreas passíveis de aplicação
em São Paulo já atingiram o máximo de Os CEPAC podem ser adquiri- de outorga onerosa são as Áreas de Inter-
construções que o Plano Estratégico Re- dos de duas maneiras: 1) em leilões reali- venção Urbana, as Áreas de Operações Ur-
gional permitia.

2.1 – A questão da Outorga Onerosa

O Estatuto das Cidades prevê o


que se chama de coeficiente de aproveita-
mento básico, ou seja, a relação entre a área
edificável e a área do terreno, ou a quanti-
dade máxima de m² que podem ser constru-
ídos numa determinada propriedade.
No caso de São Paulo, esse coe-
ficiente de aproveitamento básico é de 1.
Assim, se um terreno tem 3 mil m², a área
máxima que poderá ser construída é, tam-
bém, 3 mil m².
Para compensar essa limitação,
em áreas que podem concentrar mais

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banas aprovadas por leis específicas e as mistas e uma nova zona, a de “centralidade tragem do terreno), mediante pagamento
zonas de uso cujo coeficiente de aproveita- linear” (centros dos bairros) onde o coefi- de taxa (outorga onerosa).
mento máximo for maior que o básico. ciente de aproveitamento básico - aquele
Atualmente São Paulo tem emi- sobre o qual não é necessário pagar taxas 6. Teatro e cinema: centros de compras ou
tido CEPACs para as áreas de Operação à Prefeitura para construir mais - é de 2 shoppings com área construída superior a
Urbana das Águas Espraiadas e da Faria (duas vezes o tamanho do lote) e o máximo 30 mil metros quadrados serão obrigados a
Lima. (quando é preciso pagar), de 4. ter pelo menos uma sala de cinema e uma
de teatro com capacidade para no mínimo
PROPOSTA DE REVISÃO DO 3. Megacondomínios: condomínios que 250 pessoas cada uma.
PLANO DIRETOR tiveram terrenos muito grandes terão de
ser desmembrados em dois ou três outros 7. Postos de gasolina: o plano permite pos-
Como previsto no Plano Diretor, condomínios, subdividindo o terreno com tos de gasolina acoplados a supermercados e
foi estabelecido um prazo para que ocor- ruas públicas. hipermercados, contanto que as bombas fi-
resse uma revisão do seu conteúdo. O as- quem a 20 metros das atividades comerciais.
sunto, porém, está sendo alvo de grandes 4. Anistia branca: imóveis com área cons-
discussões. Veja os pontos principais da truída acima do permitido poderão reque- 8. Usucapião: o executivo deverá outor-
nova proposta. rer regularização mediante contrapartida gar àquele que, até 30 de junho de 2001,
urbanística, com um instrumento chama- residia em área urbana de até 250 metros
1. Proteção ambiental: no plano atual, as do Termo de Compensação Urbanística quadrados, de propriedade pública, por 5
áreas de proteção ambiental da cidade são (TCU). Atualmente, isso só é possível por anos, ininterruptamente e sem oposição,
divididas em três subtipos: de proteção in- meio de anistias que são projetos aprova- título de Concessão de Uso Especial para
tegral, de uso sustentável e de conservação dos na Câmara. Fins de Moradia.
e recuperação. Na revisão, essas três viram
sete, uma delas denominada zona mista. 5. Escolas: os estabelecimentos de ensino, 9. Direito de superfície: a Prefeitura fica
Isso quer dizer que o novo plano irá prever a título de incentivo da Prefeitura, poderão autorizada a conceder o direito de super-
vários tipos de ocupação dessas áreas. ter prédios que ultrapassem o CA máximo fície dos seus terrenos e imóveis, o que
da cidade, chegando, em alguns casos a inclui a terra em si, o subsolo e o espaço
2. Zonas mistas: o plano cria subzonas CA 6 (área construída de seis vezes a me- aéreo.

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10. Verticalização: as chamadas Áreas de da cidade para aplicação dos instrumentos vos estes interdependentes e subordinados
Intervenção Urbana (AIU) serão as únicas previstos no Estatuto da Cidade; às diretrizes do Plano Diretor Estratégico
onde será possível ultrapassar coeficiente vigente, cuja concepção e aplicação inte-
de aproveitamento máximo estabelecido 2. A Prefeitura da Cidade de São Paulo, gradas são fundamentais para a sua revisão
pelo zoneamento, mediante pagamento de extrapolando os limites legais da revisão e futura elaboração de adequadas Normas
taxa, permitindo construções gigantescas. do Plano Diretor Estratégico, simplesmen- de Uso e Ocupação do Solo, como legal-
Em todas as outras, as construtoras podem te propôs um novo Plano, o qual suprimiu mente previsto e não cumprido pelo Execu-
evoluir do coeficiente de aproveitamento importantes elementos do desenvolvimen- tivo, o que por si só invalida o projeto en-
básico (geralmente 1) para o máximo (teto to urbano que já foram conquistados, com caminhado à Câmara (esse ponto fica mais
4), mediante pagamento de taxa. Delimita- significativos retrocessos nos aspectos so- complicado com a questão das Operações
das em mapas anexados à revisão do Plano ciais e culturais do Plano vigente, como as Urbanas, que estão sendo aprovadas. A da
Diretor, essas áreas são aquelas que passa- alterações das Zonas Especiais de Interesse Nova Luz foi em 26/03/2009).
rem por grande intervenção da Prefeitura, Social (ZEIS) ou a retirada da importante
como a construção de parques lineares ou figura dos Planos de Bairro, entre outros; 5. A Prefeitura da Cidade de São Paulo
grandes estruturas de transporte. Geral- procedeu de forma pouco democrática,
mente, ficam ou no centro ou nas áreas 3. Este novo Plano coloca praticamente desde a apresentação do Projeto até o en-
centrais dos bairros. todo o território urbano sujeito à venda de caminhamento para a Câmara Municipal,
áreas construídas superiores às atualmen- retrocedendo no processo de discussão e
Os que estão contra o conteúdo da revisão te permitidas, liberando sem controle a gestão participativa, através de audiências
estão contestando da seguinte maneira: verticalização e adensamento ao sabor do públicas absolutamente carentes de infor-
interesse puramente imobiliário, desconsi- mação, de tempo para qualquer manifesta-
1. A Prefeitura da Cidade de São Paulo derando seus reflexos na evidente ausência ção pública consistente.
não cumpriu o determinado no Art. 293 de sustentabilidade ambiental de nossa ci-
do Plano Diretor Estratégico vigente, que dade; Seja qual for o desfecho que a re-
estabelece os limites legais de sua própria visão do Plano Diretor terá, o importante é
revisão, restrita apenas à adequação das 4. A Prefeitura da Cidade de São Paulo não que toda a sociedade se mobilize e participe
ações estratégicas do Plano Diretor, com apresentou nenhum Plano de Habitação, de das discussões. O interesse é de todos. n
possíveis acréscimos de áreas do território Transportes e Circulação Viária, dispositi- Com a colaboração da Soluções Consultoria
www.solucoesconsultoria.com.br

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