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Patricia Santos Hansen realiza atualmente o projeto “Os primeiros livros infantis brasileiros. Análise da li
teratura cívico-pedagógica de ficção” (Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Biblioteca Nacional,
Brasil) (hansenwagner@gmail.com).
Artigo recebido em 20 de julho de 2009 e aprovado para publicação em 27 de agosto de 2009.
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ao norte do Brasil, o qual, segundo seu filho e biógrafo Paulo Coelho Netto, foi ad
quirido pela Livraria Francisco Alves, que nunca o publicou.
É curioso que América, provavelmente o primeiro livro de educação cívi
ca em prosa de ficção escrito para crianças brasileiras, de autor conhecido como
era Coelho Netto, venha sendo até hoje ignorado nos estudos que tratam da lite
ratura infanto-juvenil, da história da educação e outros temas afins. Mas é possí
vel supor algumas razões que, somadas, levaram a tal esquecimento.
Em primeiro lugar, deve-se considerar a circulação relativamente restrita
do livro em termos de espaço e tempo pois, publicado pela Editora Bevilacqua &
C. no Rio de Janeiro em 1897, ele teve somente uma edição. Mesmo assim, deve-se
ressaltar que desta edição de 1897 foram impressos pelo menos três milheiros, com
algumas diferenças entre os volumes. Essa única edição de América contrasta com
as muitas edições de outros livros de Coelho Netto, especialmente os destinados ao
público infanto-juvenil escritos em co-autoria com Olavo Bilac e publicados pela
Francisco Alves, como é o caso de Contos pátrios e A pátria brasileira.
Em segundo lugar, provavelmente como decorrência da sua reduzida
circulação, o livro deixou poucos vestígios em biografias, memórias e outros ma
teriais de que se servem os pesquisadores. Este fato, somado a um título que bem
pode ter despistado possíveis interessados na literatura cívica ou infantil, termi
nou por condenar América ao esquecimento.
Entretanto, se é possível imaginar os motivos que mantiveram o livro
desconhecido até hoje, causa estranheza o silêncio dos contemporâneos em rela
ção à iniciativa de Coelho Netto em um momento em que tanto se clamava por
uma literatura infantil “nacional”. Explicito melhor as razões dessa estranheza
citando alguns acontecimentos anteriores à publicação de América.
Em 1890 Sílvio Romero publicou A História do Brasil ensinada pela bio
grafia de seus heróis, livro de “ensino cívico” dirigido às “classes primárias”, que
foi prefaciado por João Ribeiro. Nessa ocasião, Ribeiro chamou a atenção para a
total falta de acordo sobre “que coisa” era a “instrução cívica”, ressaltando o cará
ter inovador do gênero narrativo-biográfico eleito por Romero para promover o
civismo. No início do texto, Ribeiro afirma desejar somente tornar público seu
“depoimento de um patriota que se regozija em ver os seus grandes conterrâneos
descerem à escola como Paul Bert, Sarmiento, Benjamin Franklin, Andrés Bello
e falarem às crianças para mais de perto falarem ao futuro”. Porém, logo em se
guida, concluía baseando-se numa disgressão bastante bem informada a respeito
da matéria e da legislação em vários países do mundo:
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É importante reter aqui o elogio de Ribeiro a Sílvio Romero, por este ter
inovado no método de efetuar o ensino cívico. Na falta de uma definição sobre o
quê ou como deveria ser tal ensino, Romero investiu no gênero narrativo-bio
gráfico, ressaltando o exemplo dos “heróis” da História do Brasil.
No mesmo ano de 1890, José Veríssimo chamou a atenção para a “indife
rença patriótica” dos livros de leitura existentes no Brasil:
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Libânio serve de pretexto para que o autor coloque em pauta uma das
questões mais problemáticas para a construção da “comunidade política imagi
nada” (Anderson, 1981) no Brasil da passagem do século XIX para o XX, a in
corporação de ex-escravos e seus descendentes, superando os preconceitos ali
mentados pelas teorias racistas então em voga.
De acordo com Benedict Anderson, é no “companheirismo profundo e
horizontal” que se baseia a concepção moderna de nação, apesar das desigualdades
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que existem em todas elas. A “fraternidade é que torna possível, no correr dos últi-
mos dois séculos, que tantos milhões de pessoas, não só matem, mas morram vo
luntariamente por imaginações tão limitadas” (Anderson, 1981: 16).
A construção dos laços de solidariedade entre ricos e pobres, brancos e
não brancos, portanto, era a tarefa mais difícil a ser enfrentada por aqueles que
pretendiam contribuir para fazer do Brasil uma nação, e da nacionalidade brasi
leira uma identidade.
Em América, são as figuras antagônicas de Libânio e Castro que protago
nizam o evento-chave do livro, momento dramático que serve para esclarecer ine
quivocamente as regras que vigoram do “portão para dentro” do colégio-utopia.
O capítulo intitulado “A afronta” narra uma briga entre Libânio e Cas
tro durante o recreio, em que o diretor é chamado a intervir pelos outros alunos:
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Uma das tarefas a que se propunham os livros cívicos, em sua maior par
te, era a de fixar o calendário das festas nacionais instituídas pelo novo regime.
Neste sentido, a lição sobre o Treze de Maio apresenta-se como complementar a
outra, a do Vinte e um de Abril.
O menino Renato, novato na escola e ainda ignorante de algumas práti
cas da vida coletiva que só poderiam ser aprendidas em sua passagem por aquele
local de socialização, encontra com o professor naquele dia sem saber a razão de
ser feriado:
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Notas
1. As exceções têm concentrado sua aten Coelho, mudou-se com seis anos para o
ção em Através do Brasil de Olavo Bilac e Rio de Janeiro. Fez faculdade de Direito e,
Ma nu el Bom fim. Cf. Bo telho (1998), em São Paulo, apoiou as ideias aboli
Santos e Oliva (2004), Lajolo (1992 e 2000) cionistas e republicanas. Concluiu os estu
e Lajolo e Zilbermann (1996 e 2006). dos em 1885 e voltou ao Rio, onde acompa-
nhou José do Patrocínio na campanha abo-
2. Acerca da repercussão do livro francês, licionista. Em 1890 casou-se com Maria
há in for ma ções so bre sua ven da gem, Gabriela Brandão, filha do educador Al
edi ções e adap ta ções para ci ne ma e berto Olympio Brandão, com quem teve
televisão na Wikipedia em <http://fr. wi 14 filhos. Atuou como professor, político,
kipwdia.org/ Le_Tour_de_France_par_ romancista, contista, crítico, teatrólogo,
deux_enfants>, além do artigo dedicado a memorialista e poeta. Na imprensa, tra
ele por Ozouf (1997) na famosa coleção di balhou nos jornais Gazeta da Tarde e a
rigida por Pierre Nora. A respeito do Cuore Cidade do Rio. É o fundador da Cadeira nº
vale destacar alguns estudos mais recentes 2 da Academia Brasileira de Letras. Foi
sobre a carreira extremamente exitosa do nomeado para o cargo de secretário do Go
livro entre leitores brasileiros desde a sua verno do Estado do Rio de Janeiro e, no
tradução por João Ribeiro em 1891, como ano seguinte, diretor dos Negócios do Es
os de Gontijo (2008) e Bastos (2004). tado. Em 1892, foi nomeado professor de
3. Analisei as clivagens entre Porque me história da arte na Escola Nacional de
ufano de meu país e outros textos da lite Belas Artes e, mais tarde, professor de
ratura cívica brasileira na primeira parte literatura do Ginásio Pedro II. Em 1910,
de minha tese de doutorado intitulada professor de história do teatro e literatura
Brasil, um país novo: literatura cívico-peda dramática da Escola de Arte Dramática,
gógica e a construção de um ideal de infância sendo logo depois diretor do esta be
brasileira na Primeira República. lecimento. Na política foi eleito deputado
federal pelo Maranhão em 1909, reeleito
4. Henrique Maximiano Coelho Netto em 1917. Participou da Liga de Defesa
(1864-1934) nasceu em Caxias no Ma Nacional desde o início. Cultivou prati
ranhão. Filho do português Antônio da camente todos os gêneros literários e foi,
Fonseca Coelho e da índia Ana Silvestre por muitos anos, o escritor mais lido do
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Brasil. Em 1928, foi eleito Príncipe dos menino, afastando-o dessa influência
Prosadores Brasileiros, num concurso “desmoralizadora”, na visão de muitos. Es-
realizado pelo O Malho. te assunto, porém, é tabu na literatura cívi
ca brasileira. É a total exclusão da sexua
5. No “Extrato do Catálogo da Livraria lidade na representação da masculinidade
Francisco Alves”, impresso em alguns li presente nestes textos, mesmo nas formas
vros da editora na década de 1930 para mais sutis, que parece servir para inspirar
divulgar entre os leitores outros livros do o seu controle. Em contrapartida, a valo
mesmo gênero, a tradução de João Ribeiro rização do colégio interno, como lugar de
para o livro de Edmondo de Amicis era isolamento do menino em um universo
vendida com o título Coração. Educação exclusivamente masculino, é uma cons
Cívica. tante. Cf. Hansen (2007: 206).
6. Agradeço a Rafael Aragon Guerra que, a 8. Utilizo o conceito de “cultura escolar”
respeito do inusitado desta personagem seguindo a abordagem de Julia (2001: 10),
feminina de Coelho Netto, me sugeriu que como “um conjunto de normas que defi
ela poderia estar relacionada às repre nem conhecimentos a ensinar e condutas a
sentações femininas da república estuda inculcar, e um conjunto de práticas que
das por Maurice Agulhon (1979 e 1989) permitem a transmissão desses conheci
para o caso da França e por José Murilo de mentos e a incorporação desses comporta
Carvalho (1990) no Brasil. Acredito que mentos; normas e práticas coordenadas a
esta intuição está correta, e enriquece a finalidades que podem variar segundo as
análise do texto a interpretação dessa per épocas (finalidades religiosas, sociopolí
sonagem que parece combinar elementos ticas ou simplesmente de socialização).
alegóricos com a concepção da mãe como Normas e práticas não podem ser anali
educadora, papel feminino que começava a sadas sem se levar em conta o corpo pro
ser defendido por vários agentes sociais da fissional dos agentes que são chamados a
época. Nessa mesma perspectiva, é pos obedecer a essas ordens e, portanto, a uti
sível também pensar que o autor de Améri lizar dispositivos pedagógicos encarrega
ca tenha procurado acentuar algumas dos de facilitar sua aplicação, a saber, os
ideias que atravessam o texto, escolhendo professores primários e os demais profes
nomes significativos para as diversas per sores. Mas, para além dos limites da escola,
sonagens, como é o caso de Renato, que pode-se buscar identificar, em um sentido
significa renascido, e reforça a pretensão mais amplo, modos de pensar e de agir
de formação de um homem novo repre largamente difundidos no interior de nos
sentada pela trajetória do protagonista. sas sociedades, modos que não concebem a
Apro vei to tam bém para agra de cer as aquisição de conhecimentos e de habili
excelentes sugestões dos pareceristas de dades senão por intermédio de processos
signados pela Estudos Históricos para a lei formais de escolarização”.
tura deste artigo, as quais procurei incor
porar na versão final. 9. Cf. a respeito o estudo de Carvalho
(1990: 55-73).
7. Além do “perigo” de infantilização ou
efeminação representado pela excessiva 10. Segundo Eni P. Orlandi (1993: 12-14),
influência materna, havia também a preo discursos fundadores são aqueles que “vão
cupação com a sexualidade do menino. nos inventando um passado inequívoco e
Sujeitos no âmbito privado à presença de empurrando um futuro pela frente e que nos
criadas, muitas vezes ex-escravas, negras dão a sensação de estarmos dentro de uma
ou mulatas, o colégio interno era a solução história de um mundo conhecido: diga ao
para resguardar e promover a virilidade do povo que fico, quem for brasileiro siga-me,
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libertas quae sera tamen, independência ou 11. De acordo com Baczko (1985: 342), a
morte, em se plantando tudo dá etc. São Utopia de Thomas Morus estabeleceu um
enunciados que ecoam (…) e reverberam duplo paradigma. No aspecto literário
efeitos de nossa história em nosso dia-a-dia, apresenta-se como “narrativa de uma via
em nossa reconstrução cotidiana de nossos gem imaginária ao cabo da qual o narrador
laços sociais, em nossa identidade histórica. descobre uma Cidade até então desco
(…) O que o caracteriza como fundador (…) nhecida e que se distingue por instituições
é que ele cria uma nova tradição, ele de que o narrador faz uma pormenorizada
re-significa o que veio antes e institui aí uma
descrição.” Já enquanto “paradigma espe
memória outra. (…) Cria tradição de
cífico do imaginário social”, a utopia é “re
sentidos projetan- do-se para frente e para
trás, trazendo o novo para o efeito do per presentação de uma sociedade radical
manente. Instala-se irrevogavelmente. É mente outra, situada no algures definido
talvez esse efeito que o identifica como por um espaço-tempo imaginário; repre
fundador: a eficácia em produzir o efeito do sentação que se opõe à da sociedade real,
novo que se arraiga no entanto na memória existente hic et nunc, bem como aos seus
permanente (sem limite). Produz desse males e vícios”. É desse paradigma do ima-
modo o efeito do familiar, do evidente, do ginário social que penso aproximar-se
que só pode ser assim”. América.
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Paulo: Ática, 1996. sica de Alves & Comp, 1890.
Resumo
Escrito por Coelho Netto e publicado em 1897 pela Editora Bevilacqua & C.,
América foi provavelmente o primeiro livro de educação cívica em prosa de
ficção escrito por um autor brasileiro. Seguindo um modelo que se tornou
célebre com o estrondoso sucesso de Coração, de Edmondo de Amicis, América
não teve a mesma acolhida do romance italiano e nem mesmo de outros livros
brasileiros do gênero, como, por exemplo, Através do Brasil. Este artigo tem
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Abstract
América, written by Coelho Netto and published in 1897 by Editora
Bevilacqua & C., was probably the first civic book in prose fiction written by
a Brazilian author. Following the model that became notorious with the
extraordinary success of Heart, by Edmondo de Amicis, América did not
achieve in Brazil a comparable fame with the Italian novel neither with other
Brazilian civic books such as Através do Brasil, for example. This article
discusses some of the main topics of the book and analyses features that
enable us to read América as a kind of republican utopia for children.
Key words: education, civism, nationalism, children’s literature, Coelho
Netto
Résumé
Écrit par Coelho Netto et publié em 1897 par l’Editora Bevilacqua & C.,
América est probablement le premier livre d’éducation civique écrit en prose
de fiction par un auteur brésilien. Dans le sillage d’un modèle devenu célèbre
par le succès éclatant de Le livre coeur d’Edmondo de Amicis, América n’a pas
eu le même retentissement du roman italien, ni d’ailleurs celui d’autres
ouvrages brésiliens du genre, comme, par exemple, Através do Brasil. Cet
article discute quelques-uns des thèmes du livre et analyse des aspects qui
permettent de le lire comme une sorte d’utopie républicaine adressée aux
enfants.
Mots-clés: éducation, civisme, nationalisme, littérature enfantine, Coelho
Netto
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