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DIPLOMACIA APLICADO

PORTUGUÊS

Texto: A leitura dos jornais nos torna estúpidos? (fragmento)

1 O nome não me era estranho. Eu já o vira de relance em algum jornal ou revista. Mas não me interessei. Aquele nome, para
mim, não passava de um bolso vazio. Eu não tinha a menor ideia do que havia dentro dele. Sou seletivo em minhas leituras.
Leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas eu me comporto da mesma forma como me comporto diante de uma mesa
de bufê: provo, rejeito muito, escolho poucas coisas. Concordo com Zaratustra: “Mastigar e digerir tudo — essa é uma maneira
suína.” (...)
2 Jornais são refeições, bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso. Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach
estava certo ao afirmar que “somos o que comemos“, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo, os
jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer, eles serão iguais àquilo que leram.
3 Faz tempo que parei de ler jornais. Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando meus
olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos
jornais. Muita coisa importante e deliciosa acontece sem virar notícia, por não combinar com o gosto gastronômico dos leitores.
Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações. Parei de ler os jornais, não por não gostar de
ler mas precisamente porque gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos: leio
bovinamente, vagarosamente, como quem pasta... ruminando. O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio, mas
naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo
todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de
Schopenhauer.
4 Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés
no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, frequentemente, a
função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre
sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida —
o leitor se livra do trabalho de pensar.
(Rubem Alves. Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001.)

Questão 01
Julgue os itens seguintes, considerando o sentido do texto e a correção gramatical.

I. No período “Jornais são refeições, bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso.” (2º parágrafo), o termo
“bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso” funciona como aposto explicativo do nome “refeições”.
II. O autor do texto faz apologia da ideia de que as pessoas deveriam ler como se fosse um ato gastronômico, em que, diante
das opções, elas provariam tudo, rejeitariam muito e escolheriam pouca coisa.
III. Para adequar à norma culta o trecho “Diante de jornais e revistas eu me comporto da mesma forma como me comporto
diante de uma mesa de bufê:” (1º parágrafo), ele deveria ser reescrito da forma seguinte: Diante de jornais e de revistas,
comporto-me da mesma forma como comporto-me diante de uma mesa de bufê.
IV. Em “Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações” (3º parágrafo), o pronome
demonstrativo “isto”, o qual funciona, no trecho, como objeto direto, foi empregado incorretamente, visto que é anafórico e
retoma a informação contida em “Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando meus
olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido
pelos jornais.”, do mesmo parágrafo.

Questão 02
Julgue os itens seguintes, considerando o sentido do texto e os aspectos linguísticos e gramaticais.

I. O período “Pensar não é ter as informações” (4º parágrafo) é composto por subordinação e apresenta apenas duas orações.
II. O sentido do período “Ler, só ler, é parar de pensar.” (3º parágrafo) não seria alterado, caso ele fosse reescrito como
Apenas ler é parar de pensar ou Ler, apenas, é parar de pensar.
III. O vocábulo “quem”, no período “E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender
a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer.” (3º parágrafo), é um pronome relativo sem
antecedente e introduz oração subordinada adjetiva restritiva.

IV. Em “Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, frequentemente, a função de tornar
desnecessário o pensamento.” (4º parágrafo), os adjetivos “meticulosa”, “detalhada” e “desnecessário” foram
empregados com a mesma função sintática.
DIPLOMACIA APLICADO
Questão 03
Julgue os itens seguintes, considerando as ideias contidas no texto.

I. Segundo o autor, há dois tipos de leitura e de leitores: a leitura “suína”, feita pelos que leem rapidamente, sem questionar as
notícias; e a leitura “bovina”, pelos que fazem uma leitura “meticulosa e detalhada das informações”.
II. O autor afirma que a leitura dinâmica que faz dos jornais tem a finalidade de não excluí-lo das rodas de conversa.
III. No segundo parágrafo, o autor faz uso de duas figuras de linguagem ao referir-se aos jornais. Num primeiro momento, vale-
se da metáfora, enfocando as notícias, em “Jornais são refeições”; depois, emprega a prosopopeia, referindo-se aos editores
do jornal, em “os jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores”.
IV. Pode-se inferir da leitura do texto que a seleção de notícias feita pelo jornal acostuma os leitores a uma leitura superficial e
rápida que os desobriga de pensar sobre os temas lidos, tornando-os cada vez mais estúpidos, o que já é indicado pelo título.

Questão 04
Considerando os aspectos morfossintáticos do texto, julgue os seguintes itens.

I. No trecho “As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos” (terceiro parágrafo), há três
termos modificadores do substantivo “notícias”: dois adjuntos adnominais e um predicativo do sujeito.
II. Em “É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer.” (4º parágrafo), a palavra
“que” é pronome relativo e exerce função sintática de sujeito.
III. A palavra “excluído” é acentuada segundo a regra das paroxítonas, também usada para acentuar a palavra “suína”.
IV. No terceiro parágrafo, os termos “pelo espírito da leitura dinâmica”, em “Leio, sim, movido pelo espírito da leitura
dinâmica”, e “pelos jornais”, em “mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos jornais”, exercem a
mesma função sintática.
DIPLOMACIA APLICADO
GABARITO:

1. CEEC
2. ECCE
3. ECEC
4. EEEC

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