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História
pelosde
EUA”
1964 foi
A verdade: americanos ajudaram os conspiradores, mas os autores e
atores do golpe foram brasileiros.
Por Maurício Horta
access_time4 out 2018, 21h18
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Mas o ano de 1961 trouxe as atenções dos EUA para cá. Em 1959, Fidel
Castro venceu a Revolução Cubana. O movimento causava preocupação por
causa de investimentos americanos na ilha, mas não chegava a ser uma grande
ameaça geopolítica. Fidel ainda não tinha se convertido ao comunismo. Era
apenas um líder nacionalista que derrubara o ditador Fulgêncio Batista (1952-
1959). Chegou mesmo a posar para foto com o então vice-presidente Richard
Nixon, numa viagem aos EUA, quatro meses depois da revolução.
Por tudo isso, é tentador afirmar que o golpe foi orquestrado pelo governo
americano. Mas quem geriu a conspiração contra Jango não foram os EUA.
Foram civis e militares brasileiros que desde os tempos de Getúlio combatiam
o que chamavam “populismo”. “Nem as direitas eram manipuladas pelo
imperialismo norte-americano, nem as esquerdas, pelo ouro ou pelo dedo de
Moscou”, escreve o historiador e ex-guerrilheiro Daniel Aarão Reis, da UFF.
“Jargões de época, de considerável eficácia propagandística, não dão conta da
autonomia política de que dispunham as forças antagônicas.”
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Dizer que os atores do golpe foram nacionais, claro, não significa ignorar a
simpatia com que os americanos viam os conspiradores [leia abaixo]. Eles
bancaram projetos de desenvolvimento em Estados governados por opositores
de Jango, acenaram apoio a qualquer golpe que derrubasse esquerdistas,
financiaram o complexo Ipês-Ibad, mantiveram um intercâmbio militar e
prepararam uma megaoperação de apoio ao golpe – que acabou não sendo
posta em prática porque os generais brasileiros derrubaram Jango antes
mesmo do previsto.
Assim, a ajuda americana acabou não sendo decisiva para o golpe. Mas, se os
quartéis não tivessem conseguido derrubar Jango por conta própria, já tinham
um irmão com quem contar. Dificilmente o falcão do Norte apreciaria que a
crise do governo Goulart continuasse a se agravar. Afinal, como o presidente
americano Nixon diria mais tarde para o general Médici, numa visita oficial
aos EUA em 1971, “para onde o Brasil for, o resto da América Latina irá”.
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(Gil Tokio/Pingado/Reprodução)
Apoio automático
Em março de 1964, o coordenador da Aliança para o Progresso, Thomas C.
Mann, reuniu-se com todas as autoridades do governo americano envolvidas
com América Latina. Do encontro saiu a Doutrina Mann: os EUA apoiariam
qualquer governo, desde que fosse anticomunista. O New York
Times questionou se a doutrina não seria carta branca para militares golpistas.
Mann respondeu: “cada caso é um caso”.
–
(Gil Tokio/Pingado/Reprodução)
(Gil Tokio/Pingado/Reprodução)
Financiamento à oposição
Em 1962, o embaixador Lincoln Gordon e o presidente Kennedy concordaram
em não derrubar Jango – mas, por via das dúvidas, mantiveram a carta
golpista no baralho. O ano era de eleições legislativas, e os americanos
liberaram uma enxurrada de dólares para políticos brasileiros de oposição. A
verba teria ajudado mais de 200 candidatos ao Senado, Câmara Federal e
Assembleias Estaduais.
(Gil Tokio/Pingado/Reprodução)
Intercâmbio militar
Militares brasileiros e americanos iniciaram um convívio próximo ainda em
1944, quando o Brasil enviou a Força Expedicionária à Itália. Centenas foram
estudar na Escola das Américas, centro de treinamento dos EUA no Panamá, e
no National War College. Em 1962, os EUA enviaram ao Rio como adido
militar Vernon Walters, veterano da 2ª Guerra, que chegou a dividir quarto
com o futuro presidente Castelo Branco.
(Gil Tokio/Pingado/Reprodução)
Propaganda
Os EUA foram financiadores de primeira ordem do complexo oposicionista
Ipês-Ibad, que produzia propaganda anticomunista e contra Jango no rádio, na
TV, no cinema e na imprensa. Também distribuía livros para oficiais e
projetava filmes doutrinadores em quartéis, bases, escolas e navios. Só em
1963, foram realizadas 1.706 projeções.
(Gil Tokio/Pingado/Reprodução)
Este post é parte do dossiê “21 mitos sobre a Ditadura Militar”, que pode ser
lido na íntegra aqui.